Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

8 motivos para se animar com a temporada 2017 da MLB




Como você talvez tenha ouvido recentemente, o TM Warning está de volta!

E para meu primeiro post de retorno, eu estava em dúvida se iria fazer um de MLB ou de NBA. Acabei decidindo por MLB por um simples motivo: eu já tenho TRÊS colunas gigantes de NBA prontas para as próximas semanas, e como a MLB começou no último domingo, me parece justo falar um pouco de baseball antes de entrarmos nos playoffs da NBA - época que o basquete vai dominar por aqui.

Então com a temporada ainda cedo demais para tirar conclusões ou fazer qualquer tipo de análise, vamos fazer o contrário: passar rapidamente por alguns pontos de interesse da temporada, e que você pode usar para acompanhar a MLB ao longo do ano. São 162 jogos de temporada, e histórias é o que não vai faltar.

E se você é um leitor antigo que está com saudade dos textos enormes e analíticos, e está decepcionado e/ou preocupado que esse texto foge um pouco desse padrão, não se preocupe: minha ideia nesse começo de retorno é experimentar com formatos e periodicidades diferentes, e para ter semanas com textos gigantes talvez tenhamos que ter semanas com formatos mais curtos e rápidos. Ainda vamos ver. Mas só digo o seguinte: textos gigantes estão vindo por ai.

Então sem mais delongas...

8 Motivos para se animar com a temporada 2017 da MLB


1. A melhor cobertura da MLB

O baseball tem crescido cada vez mais no Brasil, e cada ano parece que a cobertura da Major League Baseball por aqui atinge um novo nível. O que não é de se surpreender: cada vez mais interessados surgem, e é natural que o nível de cobertura vá aumentando conforme mais pessoas e empresas buscam alcançar esse ritmo de crescimento. Nos últimos anos tivemos cada vez mais transmissões televisivas, livros publicados (inclusive o meu favorito, Moneyball), mais blogs e sites especializados, e uma qualidade cada vez maior por parte do público.

Esse ano não é exceção. Para começar, tem algo inédito aqui no Brasil, um trabalho único e extremamente extensivo: estou falando, claro, do Guia da Temporada 2017 da MLB, projeto em formato de e-book que eu lancei junto do Vinicius Veiga, do Casa do Beisebol, e do Erlan Valverde, do Segunda Base. É um guia de mais de 200 páginas que tem tudo que você pode querer saber sobre a temporada 2017, e mais: tem um preview de cada um dos 30 times da MLB, resumo da temporada 2016, textos contando a história do esporte, e muito mais. O livro é um excelente companheiro para se ter ao longo dessa temporada, disponível na Amazon em formato e-book por 19,99.

Além disso, temos hoje muitos blogs de alta qualidade. Eu já citei dois hoje, que são os meus favoritos: o ótimo Segunda Base, tradicional já no mercado, e o novo (mas com experiência de sobra) Casa do Beisebol, ambos com muita qualidade e um acompanhamento excelente para a temporada. Mas não são os únicos: tem vários outros sites e blogs bons, e muitos outros perfis nas redes sociais dedicados a seguir uma liga, um time e até mesmo um bom jogador. Não importa qual seja seu estilo ou sua preferência, seu time ou seu gosto, você vai achar alguma cobertura que se encaixe com o que procura.

E se você está chegando agora e quer conhecer mais, e saber como acompanhar o esporte, não tem problema. Deixo aqui dois textos que vão te ajudar não só a entender as regras e o funcionamento de uma partida, mas também a entender as estatísticas usadas no esporte, e vai te dar uma introdução a esse mundo extremamente interessante das estatísticas avançadas:

Entendendo o jogo de baseball - Um detalhamento para quem está chegando agora e quer entender não só as regras, mas como é o funcionamento de um jogo de baseball;

Baseball e as estatísticas - Um passo a passo explicando a origem e o funcionamento das principais estatísticas avançadas que você encontra disponíveis no baseball hoje

Aproveitem, porque é um momento muito bom para ser fã desse esporte no Brasil.


2. A explosão ofensiva

Se você gosta de bons ataques, jogos com placares altos e muitos Home Runs, ninguém vai te julgar. É muito normal -  a própria MLB sabe desde sempre que nada atrai mais fãs e mais audiência do que placares altos e jogos movimentados.

E se for o caso, eu tenho boas notícias para você.

A verdade é que os ataques da MLB foram minguando aos poucos desde que tiveram seu auge histórico na famosa Era dos Esteroides, no final dos anos 90/começo dos anos 2000, época um tanto quanto controversa na qual a MLB deu seus jeitinhos para facilitar o uso de PEDs pelos seus jogadores, o que resultou em uma geração de jogadores extremamente musculosos e longevos que rebatiam 50 HRs por ano. Com o passar do tempo, o antidoping da MLB foi ficando mais sério, o jogo começou a dar um ênfase maior em defesa e arremessos, e aos poucos as pontuações dos jogos foram caindo cada vez mais, enfim atingindo seu ponto mais baixo em 2014, a 8.13 corridas por jogo.

Até que algo interessante aconteceu. Veja o gráfico abaixo, que mostra a evolução de corridas por jogo nos últimos 11 anos...



Começando em 2015 e dando um salto ainda maior em 2016, os ataques começaram a voltar. E quer saber o principal motivo por trás dessa reviravolta?



É isso mesmo que você viu: não só os HRs da MLB voltaram a aumentar, mas eles atingiram em 2016 um nível ainda superior a 2000, o auge absoluto da Era dos Esteróides. Em 2016 foram rebatidos mais Home Runs do que em qualquer outro momento da história do esporte, eles ajudaram a impulsionar essa retomada dos ataques explosivos na MLB.

Tem alguns motivos para isso ter acontecido, e eu espero com o tempo começar a mostrar a vocês quais são eles. Mas por enquanto, basta dizer o seguinte: os ataques estão voltando com muita força, e vai ser muito interessante ver se essa tendência continua em 2017.


3. Uma nova geração

Ao final da temporada 2016, uma tendência engraçada, que já vinha se desenhando nos últimos anos, parecia se consolidar de uma vez por todas. O AL MVP foi Mike Trout (mais daqui a pouco), de apenas 25 anos, e o NL MVP foi Kris Bryant, de 24. Entre os finalistas de ambos os prêmios, também tivemos Mookie Betts, de 23 anos, terminando em segundo na AL, e Corey Seager, de 22, terminando em terceiro na NL. Manny Machado, de 24 anos, e Nolan Arenado, de 25, foram os quintos colocados.

Entre os arremessadores, dois dos três melhores da NL em 2016 (e os dois líderes em fWAR) foram jovens de 24 anos, Noah Syndergaard e o falecido Jose Fernandez. O líder da AL em ERA foi Aaron Sanchez, também com 24 anos.

A verdade é que a MLB está vendo um movimento sem precedentes na sua história na direção de grandes talentos e estrelas cada vez mais jovens. Os jogadores parecem estar chegando cada vez mais preparados e avançados das ligas menores e até do Draft, e os times estão parecendo perceber isso cada vez mais. Veja o gráfico abaixo:




O motivo é difícil de precisar exatamente: a redução contínua do uso de PEDs reduziu o número de jogadores mais velhos sobrevivendo de doping; o avanço das estatísticas avançadas tornou mais fácil identificar (e de forma mais confiável) jovens talentos no Draft e nas categorias de base; um melhor aproveitamento desses talentos (até em termos físicos) com métodos cada vez mais modernos de condicionamento, desenvolvimento físico e medicina esportiva; o influxo cada vez maior de jogadores estrangeiros; e por que não, talvez até mesmo uma geração excepcionalmente talentosa de novos jogadores.

E esse influxo também tem efeitos muitos positivos sobre a competitividade da liga: não só temos mais bons jogadores, como isso significa que é mais fácil e mais rápido para um time se reconstruir, e isso também tem aumentado a variância das performances dos times ao longo da temporada, tornando a liga ainda mais competitiva. Entre isso, um aumento no nível de jogo, e a chegada de cada vez mais estrelas carismáticas, o efeito é dos mais positivos para quem acompanha o esporte.


4. Mike Trout

Qualquer esporte, em qualquer época, vai ter seus grandes talentos - jogadores que entrarão para a história do esporte. Recordistas, Hall of Famers, ou simplesmente jogadores extremamente memoráveis. O baseball não é exceção, e sempre é importante valorizar aquilo que temos enquanto podemos.

Mike Trout, no entanto, vai um passo além. Em parte por não ser um jogador midiático, e em parte por jogar em um time horrível, mas Trout não recebe o valor que merece. Esqueça ser o melhor jogador do baseball na atualidade, o que Trout é desde sua primeira temporada completa nas grandes ligas em 2012: o CF do Angels talvez seja o melhor jogador de todos os tempos.

Não acredita em mim? Mas a verdade é que nenhum jogador com a idade de Trout nunca foi tão bom quanto ele na história do esporte. Em 5 temporadas, esses são os números de Mike Trout na carreira: 168 wRC+, e 47.7 fWAR. O único outro jogador em 120 anos de história do baseball que conseguiu atingir essas marcas aos 24 anos foi... ninguém! Nunca aconteceu! O que ele está fazendo é sem precedentes na história do esporte.

Um outro exemplo, cortesia de um dos meus autores favoritos, o grande Jonah Keri, em sua fantástica coluna anual sobre os 50 jogadores mais valiosos da MLB:



Essa é uma comparação entre os primeiros anos completos da carreira de Mike Trout com os cinco primeiros anos da carreira do lendário Willie Mays. Em outras palavras, nos seus cinco primeiros anos, Mike Trout tem sido praticamente igual a Mays, que é amplamente considerado um dos 3 melhores rebatedores da história do esporte... e Trout é TRÊS ANOS mais novo do que Mays era, jogando em uma época muito mais competitiva.

Então você pode discordar da minha afirmação sobre Trout ser talvez o melhor jogador da história da MLB, mas não deixe isso fechar seus olhos para o que ele está fazendo, e para a história sendo escrita diante dos seus olhos. Aproveite enquanto pode esse jogador que, na sua curta história na MLB, não está devendo nada para as maiores lendas desse esporte. Não é sempre que temos a chance de ver algo assim. E considerando que jogadores da MLB normalmente tem seu auge em torno dos 27 anos, é muito provável que ainda não vimos o melhor de Mike Trout.


5. O possível surgimento de uma nova dinastia

O Jogo 7 da World Series de 2016 não foi só um dos maiores jogos da história desse esporte, e o final perfeito para uma das suas melhores World Series. Foi também a coroação de uma temporada fantástica do Chicago Cubs, que já tinha dado mostras de se tornar uma potência em 2015, mas deu um salto ainda maior em 2016. Foram 103 vitórias, disparado a maior marca da temporada, e com uma mistura impressionante: segundo melhor ataque da liga, a quarta melhor rotação, e uma defesa que não só foi a melhor da MLB como foi uma das melhores da história do esporte. Embora isso nem sempre aconteça - na verdade, é mais exceção do que regra - a verdade é que a World Series de 2016 coroou aquele que realmente era o melhor time.

E o que é realmente assustador é que esse time do Cubs, além de excelente e dominante, ainda é extremamente jovem. Seu MVP, Kris Bryant, tem 24 anos. Anthony Rizzo, sua segunda estrela, tem 27. Seu campo interno é complementado pelos muito promissores Javier Baez, de 24 anos, e Addison Russell, de 23. Kyle Schwarber, que perdeu o ano de 2016 quase inteiro mas é um excelente rebatedor, e Willson Contreras, possível catcher do futuro, tem 24. O time até mesmo conta com uma ótima categoria de base apesar de todas as promoções, liderado por Ian Happ. É um excesso gigante de jogadores jovens, ao ponto de que o Cubs está até tendo problemas para colocar todos esses jovens talentos em campo ao mesmo tempo.

Em outras palavras, não é só que o Cubs tenha conseguido ser bom durante um ano, mas eles também fizeram isso com um elenco jovem e que ainda jogará junto por um bom tempo. Muitos times são campeões e depois se desmancham com saídas, ou veem seus principais nomes decaírem com a idade, mas Chicago ainda possui a grande maioria desses jovens jogadores sob contrato por mais bons anos, e dada a pouca idade desse núcleo o mais provável é que eles ainda MELHOREM com a idade antes de decair. E se Chicago conseguir usar esse excesso (positivo) de jovens talentos para cobrir as áreas que não são tão jovens do seu time (rotação, principalmente), com a manutenção e evolução esperada desse núcleo, podemos não estar apenas olhando para um campeão em uma temporada histórica, mas por uma nova dinastia na MLB.


6. O ótimo estado das franquias do esporte

Se você acompanha a NBA, você sabe que a liga tem muitas franquias que estão em uma situação muito ruim. Times que não tem bons talentos para o presente, mas também não tem muita perspectiva de melhora com jovens talentos, complementados por uma diretoria de competência questionável - times como Orlando, Nets ou Kings, por exemplo. Na NFL também temos essas franquias que são quase uma piada, como o 49ers ou o Jets. Não são apenas times ruins, mas franquias que parecem presas à estaca zero.

Mas, interessantemente, na MLB isso parece estar em um bom momento. Você sempre, em qualquer liga, vai ter times bons e times ruins, mas os times ruins da MLB não parecem estar tão presos e sem perspectiva como os da NBA ou NFL. Os piores times da liga - como Philadelphia, San Diego, Atlanta, Brewers e White Sox - são aqueles que possuem alguns dos melhores sistemas de base da MLB, e portanto estão no começo de uma reconstrução mas já com boas perspectivas de sucesso - não são times presos e sem futuro.

Os piores times nesse sentido são aqueles que estão presos na mediocridade, como Los Angeles Angels ou Arizona Diamondbacks, times que estão presos no meio da tabela sem perspectiva de melhora, mas mesmo esses não são times horríveis: são times com superestrelas e bons jogadores que com um pouco de sorte podem sonhar com uma vaga nos playoffs. Não é que TODOS os times da liga estejam bem ou em uma boa trajetória, mas nenhum parece ser um modelo de estagnação no fundo do poço, uma piada recorrente para quem acompanha o esporte.

Existe mais de um motivo para isso: o maior sucesso de jogadores jovens (ponto 3) ajuda muito times em reconstrução, pois torna mais seguro e mais valioso os jovens prospectos; uma nova leva de executivos mais analíticos e menos presos às tradições levou a uma melhora no nível coletivo das diretorias ao redor da liga; e talvez pela estrutura financeira nova da MLB times estão com menos medo de aceitar engolir derrotas por alguns anos enquanto acumula prospectos e prepara uma reconstrução. Qualquer que seja o motivo, é um bom sinal para a Major League Baseball e para suas perspectivas de médio prazo.


7. Um esporte com cada vez mais emoção

Baseball é um esporte que tem uma das tradições mais estúpidas da história dos esportes: a ideia de que mostrar algum tipo de emoção dentro de campo é um insulto ao esporte e à sua história. Eu acho que a ideia de que você não pode se divertir jogando o esporte que gosta é uma das coisas mais contraditórias possíveis, já que esporte é para ser divertido, mas é como o baseball viveu por muitos anos. Se algum jogador parasse tempo demais para admirar um Home Run, ou comemorasse de maneira "imprópria" uma jogada, os adversários logo começavam uma briga ou o arremessador adversário jogaria uma bola nele.

Esse tipo de tradição foi perpetuada em parte porque o baseball sempre foi e se orgulhou de ser (muitas vezes, em detrimento próprio) um esporte "separado" dos fãs, onde as pessoas "de dentro" conheciam como o jogo era e se viam como responsáveis por mantê-lo puro - quem leu ou assistiu Moneyball sabe do que estou falando. Como ele era feito é a forma que DEVIA ser feito, ou pelo menos era como seguia o raciocínio.

Felizmente já faz algum tempo que isso começou a mudar. Embora o esporte ainda esteja apenas começando a dar seus passos para eliminar esse tipo de coisa, já é notável a evolução, e até mesmo a própria MLB parece estar empenhada em deixar o jogo mais relaxado e divertido nesse sentido, ficando cada vez mais estrita e sem medo de dar punições a jogadores que começam brigas ou desentendimentos. Isso também foi bastante ajudado por uma nova geração que chegou no baseball, tanto de jogadores (cada vez mais jovens, como já foi dito) como de dirigentes, que não carregam em si esse "compromisso" de manter o jogo "puro" - especialmente se puro significar "sem diversão".

E talvez o principal fator que começou a mudar o esporte foi o influxo cada vez maior de jogadores latinos. A tradição de não permitir emoções ou manifestações pessoais dentro de campo sempre foi uma tradição norte-americana (muitas vezes dos jogadores mais... como dizer isso de forma delicada? Brancos), mas os jogadores recém-chegados da América Latina não tiveram esse tipo de formação. Para eles, o esporte é uma diversão, e é assim que se comportam - fazendo jogadas imprevisíveis e criativas, mostrando suas emoções, gritando e comemorando, e em geral se tornando jogadores muito mais relacionáveis para os torcedores comuns.

O jogador que melhor simbolizava isso, infelizmente, era José Fernandez, o arremessador do Miami Marlins morto ano passado, e um dos meus heróis no esporte. Um refugiado cubano que chegou a estar preso e teve que mergulhar em alto mar para salvar a vida da própria mãe, Fernandez foi até hoje o jogador que mais pareceu se divertir em um campo de baseball que eu já vi na vida, alguém que tinha uma animação e um entusiasmos tão genuínos e sinceros por estar livre e podendo jogar baseball  que era impossível não ficar contagiado.

Fernandez comemorava suas boas jogadas, ria dos seus lances mais incríveis, ria e vibrava quando seus ADVERSÁRIOS faziam uma jogada empolgante, e comemorava Home Runs como se tivesse acabado de ganhar uma World Series, e não ligava para o que os outros pensassem. Fernandez era uma bola de alegria e empolgação que fazia o esporte valer muito mais a pena, e tão genuíno que isso contagiava colegas e adversários igualmente - inclusive muitos que, em outros momentos da carreira, teriam sido os que iriam tirar satisfação com alguém que mostrasse tanta emoção em campo. Fernandez pode ter partido de forma trágica e prematura, mas mais do que o talento fantástico, mais do que os arremessos impossíveis, essa alegria sempre será seu legado para o esporte, para fãs, colegas, técnicos e cartolas.

E isso só faz bem para o esporte. Embora sempre tenha aquela parcela conservadora da torcida que ache isso um absurdo e uma quebra do "decoro" do esporte, existe uma parte muito maior que sabe o quão isso é bom para injetar nova vida em um esporte que parecia "morto" em muitos momentos dos últimos 20 anos. Hoje jogadores estão começando a poder se expressar e se divertir muito mais em quadra, e os torcedores e fãs podem se identificar muito mais com esses seres humanos do que com as máquinas de rebater que o baseball queria vender. A transformação e "libertação" ainda não está completa, claro, e ainda terá seus percalços. Mas ela está fazendo o baseball caminhar em uma direção muito melhor do que antes.


8. Baseball é um esporte muito divertido

Sim, sim, eu sei - o baseball ainda enfrenta bastante preconceito por pessoas que o consideram um esporte "chato", E eu entendo alguns dos motivos: é um esporte lento, onde cada confronto demora vários arremessos, tem muitas pausas nas trocas de entrada ou arremessador, e costuma demorar mais de duas horas. As principais reclamações vem da falta de dinamismo nas partidas, com um jogo que evolui lentamente, e os lances mais empolgantes são muito mais pontuais.

Mas esse ritmo lento, esse jogo que vai parando mesmo durante um confronto, é parte do que torna o baseball tão legal: como ele é um jogo que se desdobra lentamente, isso significa também que é o jogo mais fácil para quem assiste acompanhar o que está acontecendo. E não digo isso no sentido de "tem mais tempo para ir no banheiro", mas sim que essa cadência nos permite acompanhar melhor o que cada jogador está pensando, como está se ajustando, a cada momento. Baseball as vezes funciona como um jogo de probabilidades: com a contagem 0-2, o arremessador é mais provável de lançar uma bola fora da zona de strike para induzir o rebatedor (que por sua vez precisa proteger a zona de strike e não sofrer o strikeout) a ir para uma rebatida ruim... mas o rebatedor também sabe disso. Qual a melhor forma de atacar? Como o rebatedor pode se defender?

O jogo de baseball é composto de milhares de pequenos fatores que mudam essas probabilidades em uma direção ou outra, e ver isso se desdobrando ao longo do jogo é um dos fatores mais legais do esporte: para um arremessador, é importante não cair em um padrão (e se tornar previsível), então ele precisa . E o ritmo lento e candenciado do esporte nos permite acompanhar essas mudanças, acompanhar os desenvolvimentos em tempo real, e nos imergir realmente não só no que está acontecendo, mas no que está por trás do que está acontecendo.. E não é como se o esporte tivesse falta de jogadas atléticas ou impressionantes - é só procurar qualquer vídeo de highlights do Andrelton Simmons, Mike Trout ou Kevin Kiermeyer no YouTube - e essa mistura entre os dois momentos do esporte, o lento e cadenciado com o explosivo e dinâmico, é o que torna o esporte tão atraente.

Além disso, a natureza individual e repetitiva do esporte tem uma outra vantagem: produz as melhores estatísticas. A natureza extremamente individual do baseblal - o confronto entre arremessador e rebatedor, cada jogada sendo isolada em si mesma, etc - é perfeita para isolar cada fator do jogo e consolidar isso em números e análises, e não só a amostra é gigantesca (162 jogos) como pela natureza de repetição do baseball você vê cada situação específica um alto número de vezes, o que te da uma amostra grande o suficiente para tornar as estatísticas significativas, como também consegue quebrá-las em níveis muito pequenos, cada vez menores, para entender o que está acontecendo em quadra. Existe um motivo para a revolução analítica pela qual vários esportes passam ter se originado no baseball.

Então sim, pode ser que baseball realmente não seja o esporte para você, que tenha tentado e desistido. Não tem problema. Mas se não for o caso, você realmente deveria dar uma chance. Existe um número altíssimo de fatores contribuindo para um esporte cada vez mais divertido, cada vez mais empolgante, e as vezes as pessoas não se aproximam disso por um preconceito ou ideia preconcebida.

2 comentários:

  1. Cara, não vou comentar no twitter porque não quero me restringir a 140 caracteres. Bom, texto bem diferente mesmo. Como também sou economista, gosto demais dos textos mais analíticos que esmiúça as estatísticas. Dito isso, o formato deste texto também me agradou; aliás, vou fazer o melhor elogio que posso fazer do texto: a leitura me fez ter mais vontade de assistir baseball. Sério, às vezes deixo para começar a assistir baseball lá por junho ou julho, quando a temporada começa ficar mais "quente", já começa a ficar claro quem são os times que estarão brigando pelos palyoffs. Mas assisti a todos os jogos que foram transmitidos na TV neste fim de semana (não assino league pass). E curti muito. Outro aspecto que gostei: só comecei acompanhar baseball no fim de 2010 (tinha me impressionado demais com a empolgação dos americanos pela final do Estadual Universitário da Flórida no meio de 2010, quando estava fazendo um curso na Universidade da Flórida e pensei: deve ser legal e comecei a assistir) e pegar as regras é relativamente fácil, apesar de trabalhoso. Mas gostei da dica de texto sobre estatísticas (acho que não acompanhava o blog em 2012) e, principalmente, da análise de algumas das regras seculares não escritas e como isso tem se mudado (aliás, isso daria uma coluna). Enfim, novo formato, algumas promessas de cenas para os próximos capítulos (aguardo ansiosamente o texto explicando as razões da explosão ofensiva da liga, principalmente considerando o tanto de arremessador excepcional que tem por aí) e o mais importante, minha experiência com baseball ficou mais prazerosa no curto prazo (no longo, entender mais do esporte é que garante esse aumento de satisfação).

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    1. Hahaha que bom que teve um impacto positivo em você, fico feliz de ler isso e da mais animo para continuar. Qualquer d[uvida estou sempre a disposição. Abraçø!

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