Ele pode ser a primeira escolha desse Draft, mas vai
continuar sendo igual ao Principe Encantado do Shrek2
Finalmente voltamos com nosso especial de férias da NFL 'A Offseason'. Para quem perdeu os primeiros capítulos, a idéia é explicar como funciona a offseason da NFL, quais as 'etapas', o que acontece e quais tipos de regras regulam esse período. A gente já comentou sobre o CBA, o acordo entre Liga e atletas que está sendo discutido e está causando um risco real de greve, e o Celo falou sobre os Free Agents. Agora eu venho falar do terceiro e mais interessante a meu ver, o draft.
Nos EUA, o esporte universitário é coisa muito séria. A grande maioria das universidades americanas possuem equipes de vários esportes, principalmente futebol americano, e essas equipes competem entre si num enorme torneio chamado NCAA. A NCAA a gente vai explicar mais pra frente, talvez um outro dia, mas basicamente é um torneio no qual todas as universidades são organizadas em conferências e jogam num sistema de tabela e de classificação bem complexos, até que os dois times com melhor campanha ao final se enfrentam no BCS, a grande final universitária do futebol americano.
O assunto lá é sério porque o esporte universitário é tratado quase como um esporte profissional, ele é rigido por regras bastante rígidas (As universidades não podem oferecer NENHUM tipo de compensação aos atletas, por exemplo) e os jogadores são tratados como astros. A organização, a estrutura e a visibilidade são profissionais (alguém aqui imagina a Globo interrompendo a programação pra passar a final do futsal do Economiadas?), e a diferença entre os dois é apenas que os jogadores não são - nem podem ser - remunerados em nível colegial. Mas o nível de investimento é altíssimo e as competições são levadas a sério, as rivalidades entre universidades conseguem ser mais intensas do que a grande maioria das rivalidades entre franquias profissionais e os jogos passam freqüentemente na TV. E como um esporte altamente organizado, a passagem dos jogadores para o esporte profissional também é, e essa passagem é feita através do Draft.
Eu acho o Draft um dos momentos mais interessantes da offseason - e talvez de toda a temporada - porque, primeiro, ele é a principal ferramenta usada pelos times para conseguir jogadores. A free agency é uma, mas as opções dela são limitadas por contratos, Franchise Tags, e muitas vezes simplesmente porque os melhores jogadores podem resolver passar o resto da carreira em um time só, ou pelo menos o seu auge. Assim, o Draft é a melhor chance de você conseguir um jogador novo e, você espera, talentoso. Mas a maior graça do Draft é o fato de que no meio de uma grande ciência que não é exata - existe ciência mais inexata do que o esporte? - essa é a ciência mais imprevisível de todas. O Draft é onde times são criados, e uma boa decisão no Draft pode definir o futuro de uma franquia. O que teria acontecido se, em 1998, o Colts tivesse pego Ryan Leaf com a primeira escolha e deixado Peyton Manning para o Chargers? E se o 49ers tivesse pego Aaron Rodgers ao invés de Alex Smith em 2005? O que teria acontecido se os outros 31 times da Liga tivessem escolhido Joe Montana antes que ele caísse até o final da terceira rodada? E com Tom Brady, até cair para a sexta?
Por isso tudo um Draft é uma ciência inexata. O esporte universitário é ótimo, quase profissional, mas é um jogo que, na prática, tem várias diferenças em relação ao jogo da NFL, e não estou me referindo às regras, e sim ao estilo. Um grande jogador no College pode não render na NFL, e um Zé ninguém que era terceiro reserva de uma universidade pequena pode acabar virando um grande craque. Existem, é claro, muitas coisas a serem consideradas que contribuem para a escolha de um jogador, muitas coisas que podem ser observadas ou até medidas, mas também envolve muita coisa que ninguém consegue prever e de repente a verdade está lá chutando nossa canela e todo mundo percebe que estava errado. Num mundo onde o Jamarcus Russell foi a primeira escolha do Draft e o Miles Austin não foi draftado, não é difícil entender o que eu quero dizer.
O Draft também é a forma que a maioria dos times escolhe pra se montar. E o formato do Draft da NFL ajuda. No Draft, o time que teve a pior na temporada anterior tem direito à primeira escolha do Draft. O time que teve a segunda pior, ganha a segunda escolha no Draft. E por ai vai até que o campeão tem a última escolha da rodada. Na segunda rodada, a ordem se repete, e segue esse padrão até o final da sétima e última rodada, onde o atual campeão escolhe o chamado Mr Irrelevant. Ou seja, os times que estão no fundo do poço e querem recomeçar geralmente são os times que vão terminar com as piores campanhas da Liga, e assim vão ter o direito a uma escolha alta. E geralmente é isso que times em reconstrução buscam, uma escolha alta para pegar um jogador capaz de ser um diferencial dentro de campo que seja uma peça central na sua reconstrução. Cada time, naturalmente, adota a sua estratégia própria, independentemente da escolha. Alguns preferem pegar jogadores de uma certa posição carente no time, outros pegam o melhor disponível. Exemplo rápido aqui é o Saint Louis Rams, um time que tava em franca reconstrução e, nesse Draft que passou, tinha a primeira escolha. Eles estavam entre escolher o melhor jogador, Ndamukong Suh, e o QB Sam Bradford. A opção do time foi por Bradford por causa da sua posição.
Por isso tudo, a gente percebe a importância do Draft como uma forma de conseguir estrelas ou montar um time. Mas tem também a parte técnica do Draft. Primeiro de tudo, para um jogador ser declarado elegível para o Draft, ele precisa ter saído do colegial há pelo menos dois anos. Geralmente um jogador que vai para a NFL via Draft é alguém que jogou na NCAA, ou seja, jogou pela sua universidade. Esse jogador precisa ter, como eu disse, dois anos desde que saiu do colegial, mas não necessariamente precisa ter passado esse tempo na faculdade, ele pode ir jogar em alguma Liga que não a NFL, como a AFL, ou Arena Football League. Um jogador também não é obrigado a passar apenas dois anos sem ir para o Draft, muitos optam por passar os quatro anos de faculdade jogando na NCAA para só entrar no Draft ao fim da faculdade, caso do Andrew Luck, por exemplo.
Um jogador draftado por um time não está oficialmente jogando naquele time, ele ainda precisa assinar um contrato para que isso aconteça. E ele não é obrigado a isso, ele pode simplesmente optar por não assinar com o time que o draftou. No entanto, se ele não assinar o contrato, não pode assinar com nenhum outro clube essa temporada, ele pode fazer o que quiser da vida durante esse tempo mas é proibido de assinar um contrato com um time que não seja esse. Caso ele continue sem assinar o contrato, no Draft seguinte ele pode entrar novamente na rotação para ser escolhido, e ai ele só poderá assinar um contrato com o time que o selecionou nesse segundo Draft. Se ao final da sua segunda temporada sendo draftado ele não tiver assinado contrato com o time que o draftou, ele vira um Free Agent e está livre para negociar com quem quiser. Fora esses casos, os outros Free Agents calouros são aqueles que passaram pelos sete rounds sem serem escolhidos por ninguém. Nesse caso, eles viram Unrestricted Free Agents e podem negociar com quem quiser.
Temos também que falar da questão financeira do Draft. Quando falei do CBA, eu falei que ela determina um teto salarial para todos os times. E através de um cálculo bem complicado que envolve o número de escolhas e a rodada das escolhas de Draft que cada time possui, uma parcela desse teto é destinada aos times para assinarem seus calouros. Para dar um exemplo rápido, em 2008 o Chiefs (12 escolhas totais) teve mais de oito milhões para isso, e o Browns (cinco escolhas) menos de dois milhões. Uma vez estabelecida essa parcela, cada time pode negociar livremente com os jogadores que draftou e oferecer os contratos que quiser, desde que o total dos contratos não ultrapasse esse total. Geralmente os salários são negociados de acordo com a posição e rodada na qual os jogadores foram escolhidos, e também a posição na qual eles jogam. Esse negócio fica a critério do time e do jogador, e o contrato dos calouros Free Agents que eu citei acima não contabilizam para essa parcela dos calouros.
Por fim, é importante falar de como os times se preparam para o Draft. Uma vez que um jogador se declara ou é declarado elegível para o Draft, os times vão começar a levá-lo em consideração quando foram montar sua estratégia para o Draft. Para saber quais jogadores draftar, um time vai contar com as informações dos seus olheiros que viram os jogos desses jogadores na NCAA, não apenas do rendimento, mas de coisas como mecânica de arremesso, mobilidade, reconhecimento das jogadas, inteligência e outras coisas que podem ter um peso maior na NFL do que na NCAA. Mas outro instrumento importante é o chamado Draft Combine. O Combine é quando os calouro se juntam para realizar testes de ordem física ou mental na frente de técnicos e olheiros de cada um dos 32 times, para que possam ser melhor avaliados. Um jogador não é obrigado a participar de nenhuma das atividades e também pode escolher quais atividades participar, mas é uma boa chance de tentar melhorar ou solidificar sua posição no Draft e também uma recusa de participar de algum teste pode ter um impacto negativo sobre esse jogador. De certa forma, os times usam esse dia pra melhor avaliarem os jogadores nos quais tem interesse e também para tentar descobrir novos jogadores que valeriam a pena serem melhor observados. Entre as atividades realizadas nesse Combine estão as famosas Bench Press, onde o jogador precisa fazer quantas repetições ele agüentar com um supino de 225 libras (102kg), ou a corrida das 40 jardas, onde o jogador precisa correr 40 jardas no menor tempo possível pra medir velocidade e explosão, como também outras como medir a altura do salto, 'driblar' cones ou fazer exercícios de movimentação lateral.
Com tudo isso dito, chegando em Abril os times já tem seus nomes e sua estratégia pronta para o Draft. Uma vez acabado o Draft, o comum é os times assinarem o mais rapidamente possível os jogadores e colocá-los para treinar para poder pegar melhor o estilo de jogo da NFL, se livrarem dos vícios do College e começarem a se desenvolver. Muitas coisas além de talento e habilidade física contribuem para o sucesso de um jogador no Draft, inclusive o trabalho da Franquia que o Draftou, mas nada contribui tanto para o sucesso de uma Franquia como um bom Draft.
Esse ano o Draft está correndo um risco por causa do CBA, que aliás precisa ser fechado até o fim de hoje (quinta) para que não tenhamos uma greve. Embora haja a proposta de adiar o prazo, nada foi concretizado e assim que tivermos novidades vamos trazer aqui no Blog, então fiquem ligados. Aproveitem para nos seguir no twitter também. Em caso de dúvidas podem perguntar nos comentários ou nos mandar um Email, e até a próxima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário