Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Recolhendo os cacos: NFL Divisional Round

Super Kap dando o troco no Panthers


Para participar do nosso mailbag, ou seja, enviar uma pergunta/comentário/dúvida/tópico de debate para ser respondida aqui no blog e no Esporte Interativo, é só mandar um email para tmwarning@hotmail.com com o título "Mailbag" que ele pode aparecer por ai. Forma de tornar isso mais interativo e próximo dos leitores. Então participem! O tema do próximo será playoffs, então aproveitem para enviar seus emails!


No próximo bimestre, começaremos uma série chamada Sports Mythbusters. A idéia é bem simples, pegar clichês, mitos ou lugares comuns dos esportes americanos e colocá-los a prova. Então estamos aceitando sugestões, e qualquer mito, frase comum, chavão ou coisa assim dos esportes que vocês querem ver testada e comprovada (ou ao contrário, que quer ver desmentida) podem mandar que vamos analisar os melhores. Mais uma chance de vocês sugerirem nossas pautas. Podem mandar emails com as sugestões para tmwarning@hotmail.com, para o twitter @tmwarning, ou simplesmente colocar nos comentários quando der na telha.
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Semana passada, tivemos que correr um pouco para conseguir cobrir tudo que a NFL estava nos oferecendo. Então falamos rapidamente da rodada de Wild Card que tinha passado, e fizemos dois previews para os jogos do final de semana, para falar dos jogos de sábado e dos jogos de domingo. Ta tudo ai para você ler e pensar "o que, esse animal achou que o Colts ia ganhar?! No que ele estava pensando?!" (em minha defesa, foi a primeira vez em nove anos que a segunda rodada dos playoffs não teve uma zebra de pelo menos 4 pontos. Eu quis apostar em uma zebra, e apostei na que tinha Andrew Luck e enfrentava a pior defesa).

Mas deixando isso tudo no passado (btw, ainda estou 6-2 nos playoffs!), e deixando as duas finais de conferências que foram um presente dos céus ainda no futuro (sério, se um fã de NFL imparcial fosse escolher as Finais de Conferência ideais em Setembro, ele escolheria essas duas), vamos dar uma olhada em alguns fatores importantes ou interessantes que chamaram minha atenção nos jogos (um tanto decepcionantes) desse final de semana. Já aviso também que vou dar mais espaço aos times eliminados e ao que rolou de importante no jogo em si do que nas coisas que os times podem carregar para o futuro, porque essas últimas terão um espaço maior nos previews da rodada.

Em tempo: Somos um blog moderno que temos uma página no facebook agora! Entrem lá e curtam nossa página, vamos usá-la para informar de quaisquer novidades (bem como posts novos, promoções, avisos, etc) e postar coisas mais rápidas ou curtas que não teriam espaço aqui no blog.


New Orleans Saints 15 vs 23 Seattle Seahawks


Jogando como uma zebra

Quando seu time entra em uma partida com um spread de +8, isso é um sinal seguro de que poucas pessoas esperam que você ganhe. Na hora de criar um spread, os modelos de Vegas criam uma simulação de quantas vezes um time deve vencer uma dada partida, e quanto menor a chance de um "azarão" vencer um dado jogo, maior vai ser o seu spread. Um spread de +8 indica que os modelos de Vegas esperam que você vença seu jogo apenas 25.8% do tempo, e a realidade pode ser ainda mais complicada: na história da NFL, apenas 18.3% dos times que foram zebras por exatos 8 pontos conseguiram vencer suas partidas. Desde 2004 (quando as regras começaram a mudar e favorecer o jogo aéreo), as porcentagens tem sido mais favoráveis, mas ainda abaixo do esperado: apenas 12 dos 58 times desfavorecidos por oito pontos conseguiram vencer suas partidas, 20.7%.

Claro, você não precisa ser um especialista em estatística ou em Vegas para saber que o Saints era uma grande zebra nessa partida. O Seahawks foi provavelmente o melhor time da temporada regular, terminando #1 em DVOA por uma larga margem, 20 pontos percentuais na frente do Saints (um respeitável quarto lugar). Além disso, o Saints ainda tinha que jogar em Seattle, que possui a maior home-field advantage da NFL desde que abriu o Century Link Field, um lugar extremamente barulhento com uma torcida fanática. Considerando ainda que o Saints não terminou tão bem a temporada regular (caindo para 7th em DVOA ajustado), era claro que o Seahawks ia ser o franco favorito.

A questão é que quando você está em uma situação tão desfavorável, você tem que saber que sua margem de erro é muito menor. Você tem chance de vencer, sempre, mas para isso você não só precisa ter um bom plano de jogo e tudo mais, você também precisa executar isso de forma muito mais eficiente do que normalmente, evitando todo tipo de erros e dando a menor janela possível para seus adversários tirarem vantagem. Eles já estão em vantagem em relação a você, então você tem que fazer de tudo para evitar criar ainda mais.

E foi exatamente isso que o Saints não fez, e foi isso que custou ao time o jogo. O plano de jogo da equipe, quando começou a partida, era bem claro (e foi, inclusive, o que eu disse no preview): correr bastante com a bola para encurtar as descidas, controlar o relógio e não expor Drew Brees a excelente secundária de Seattle. Sean Payton até incluiu um truque interessante: alinhar seu ataque em muitas formações de apenas um WR (uma formação que o time quase nunca usa, mas que times como SF e Arizona tiveram muito sucesso contra Seattle) para neutralizar a secundária do adversário e forçar um CB (em geral Richard Sherman) e ficar marcando um TE próximo da linha. E na verdade o Saints executou muito bem seu plano de jogo, correndo para 106 jardas só no primeiro tempo, controlando o relógio e deixando Brees lançando pouco.

Mas não importa o quão bom for seu plano de jogo, você não vai conseguir vencer um time como o Seahawks em casa cometendo tantos erros e dando tanta margem para seu adversário aproveitar. A primeira campanha do Saints terminou com Mark Ingram soltando um screen pass que deveria ser para uma conversão de 3rd down tranquila, e em seguida, Thomas Morstead deu um punt de 16 (não, sério, 16) jardas que deu a Seattle a bola na linha de 40 jardas do campo de ataque, que rendeu ao Hawks um FG... depois que o safety de NO recebeu uma falta pessoal de 15 jardas em uma 3rd and 11. A campanha seguinte, New Orleans fez um bom trabalho movendo a bola e chegando no campo de ataque, mas o kicker Shayne Graham errou um FG de 45 jardas (mais sobre isso em um minuto). Depois de outro FG de Seattle, o Saints recuperou a bola... e duas jogadas depois, Mark Ingram sofreu um fumble recuperado por Seattle na linha de 24 jardas do campo de ataque, dando ao Seahawks uma ótima posição de campo mais uma vez. Dessa vez, Marshawn Lynch aproveitou e transformou isso em um touchdown para fazer 13-0 Seahawks. Algumas campanhas depois, New Orleans chegou na linha de 29 do campo de ataque... para tentar e falhar em converter uma quarta descida. Seattle aproveitou e anotou mais um FG para deixar em 16 pontos a diferença no intervalo, um buraco enorme para voltar fora de casa, em um tempo ruim, contra a melhor secundária da NFL.

No segundo tempo, New Orleans colocou a cabeça no lugar, parou de cometer erros e esse foi um dos motivos que levou o time a conseguir voltar para o jogo, mas o buraco que o time tinha cavado para si mesmo acabou sendo grande demais. Entre o FG errado, o punt e o fumble que renderam a Seattle ótima posição de campo, são 13 pontos que você deixa de ganhar ou dá de presente para seu adversário (e isso sem contar a boa posição de campo após errar o FG ou falhar na conversão de quarta descida). Em um jogo contra uma defesa tão boa, em que você sabe que precisa de cada ponto e oportunidade a seu favor, você não pode cometer tantos erros e esperar sair com a vitória. E mesmo depois que o time improvavelmente conseguiu reagir e recuperar a bola nos segundos finais, o jogo acabou, é claro, com um erro grosseiro do time: Drew Brees fez grande jogada para acertar um passe para Marques Colston faltando 5 segundos, o que significa que o time teria uma última chance de conseguir um Hail Mary da linha de 35 jardas do campo de ataque para tentar empatar o jogo. Só que Colston esqueceu de sair pela lateral para parar o relógio, e ao invés disso tentou um passe lateral horrível que acabou com as chances da equipe de vez. É o tipo de erro mental que destrói um time, e esse aconteceu logo no momento decisivo.

E a verdade é que esse festival de erros do Saints, que deram diversas oportunidades para Seattle, na verdade esconderam um jogo bem ruim do Seahawks (ofensivamente, pelo menos) que poderia ter levado a uma derrota. Russell Wilson teve apenas 9/18 passes para 108 jardas, números péssimos, e até a corrida final de Marshawn Lynch o ataque terrestre conseguiu apenas 4.2 jardas por corrida (não ruim, mas não ótimo). Era tudo que o Saints queria quando se preparou para essa partida, e poderia ter levado a um resultado diferente se o time visitante conseguisse se controlar e se ater a um jogo mais eficiente. Você pode cometer alguns erros quando é o favorito, mas é difícil demais ganhar um jogo tão desfavorável se você continua dando chances ao adversário. E foi por isso que o Saints perdeu.

Dificuldades técnicas

Um outro ponto que acabou muito custoso ao Saints nessa partida foi, bem, o trabalho do seu técnico.  Eu gosto muito do Sean Payton como técnico, acho ele um dos melhores da NFL e um dos grandes motivos pelos quais o Saints voltou aos playoffs em 2013, mas o trabalho dele nesses playoffs deixou muito a desejar. Ele quase custou ao seu time a partida contra o Eagles com algumas decisões incompreensíveis (a mais maluca talvez fosse correr com a bola em uma 3rd and 11 próximo de FG range quando ainda faltavam 13 minutos no relógio e o time estava apenas 6 pontos na frente. A corrida não chegou em FG range, o time foi para o punt, e o Eagles eventualmente viraria a partida aproveitando essa burrice), mas contra o Seattle a margem para erro era ainda menor e portanto suas decisões acabaram custando ainda mais caro.

Você poderia questionar também se foi uma boa idéia Payton segurar tanto o braço de Drew Brees até o jogo já estar 16-0 - ele não lançou uma bola que passou da linha de scrimmage até o segundo quarto, e só lançou uma bola para um não-RB na mesma altura - mas além desses detalhes, o que chamou minha atenção foi como ele lidou com situações complicadas de quarta descida.

A primeira foi o já mencionado FG errado por Graham. Na situação, o Saints estava enfrentando uma 4th and 4 na linha de 27 jardas do campo de ataque, o que nos da um FG de 45 jardas. Claro, em um vácuo, o FG era a decisão comum. É uma distância confiável para um bom kicker, e é difícil converter uma 4th and 4 contra uma defesa tão boa quanto a do Seahawks, então você pode garantir os pontos - ainda que a 4th Down Calculator indique que você tem mais a ganhar tentando a conversão. O problema é que o jogo não acontece em um vácuo, e sim em um estádio onde estava chovendo e ventando muito, e o pior, ventando contra o chute de Graham. Esse mesmo vento já tinha influenciado o punt de 16 jardas do Morstead, e portanto era claro que a chance de acertar um FG dessa distância era muito menor nessas condições, o que faria a tentativa de conversão ser a decisão lógica (ainda mais considerando que um FG errado da ao adversário uma posição de campo melhor). Mas Payton, normalmente muito agressivo, decidiu chutar, e o chute de Graham não tinha a menor chance de entrar desde o momento que saiu do chão.

Pouco depois, no segundo quarto, o Saints se viu em situação semelhante. 4th and 4 na linha de 29 jardas do campo do Seattle, um FG de 47 jardas. Dessa vez, Payton tentou a conversão e não o FG, e Michael Bennett (o melhor jogador em campo) pressionou um arremesso ruim de Brees que acabou incompleto. Eu realmente não tenho nenhum problema com essa conversão: o time perdia por 13 (então precisava do máximo de pontos possíveis contra uma ótima defesa), as condições não eram favoráveis a um chute, e o 4th Down Calculator indica que você tem mais a ganhar indo para a conversão (e isso antes de levar em conta o quão difícil seria tirar a vantagem no segundo tempo contra a defesa do Seahawks). Então foi uma boa decisão. A questão é que se você acha o FG vantajoso para 45 jardas contra o vento, porque você vai achar um FG de 47 jardas A FAVOR do vento pior? Claro, a situações eram diferentes, mas se tem uma que faz mais sentido ir para o chute é a segunda. As situações eram diferentes, por isso digo que ele fez certo em tentar a conversão, mas só torna a primeira ainda mais inexplicável (e custosa).

Por fim, Payton teve outra decisão em 4th down para tomar no final da partida. Faltando 4 minutos e perdendo por 8, o Saints teve uma 4th and 15 da linha de 30 jardas do campo do Seattle. O FG seria de 48 jardas e sem dúvida ajudaria o Saints em sua busca pela virada, e uma conversão de 15 jardas contra essa defesa sem dúvida tem uma chance de sucesso muito pequena, de forma que não era a melhor opção. O FG seria o mais simples... de novo, se não fosse o vento. O vento voltou muito forte no quarto período, e mais uma vez estava contrário ao chute de Graham. 48 jardas com vento é um chute extremamente difícil, e Graham já tinha errado um em condições pouco menos desfavoráveis. A chance do FG entrar, embora seja difícil precisar, com certeza era muito baixa - tanto que assim que o FG foi chutado, ele já desviou para muito longe do alvo e nunca sequer chegou perto do Y. Então considerando a baixíssima probabilidade de certo no FG e a ótima posição de campo que você da ao Seattle em caso de erro - Lynch anotou o TD quatro jogadas depois - porque você iria tentar o FG? Mesmo que achasse que uma 4th and 15 teria uma chance de insucesso semelhante, porque não ir para o punt e tentar colocar Seattle na sua linha de 10? Com vento forte é mais difícil passar a bola, e assim você aumenta suas chances de recuperar a posse com tempo no relógio e o placar inalterado. O FG errado deu a Seattle grande posição de campo, e sabemos como isso acabou. Se enfrentando um jogo tão difícil você tem que minimizar seus erros, então a atuação de Sean Payton não ajudou.

Indianapolis Colts 23 vs 43 New England Patriots


É fácil (e errado) colocar a culpa em Andrew Luck

Então o Colts tomou uma surra do Patriots e foi eliminado dos playoffs. E claro, como sempre acontece, todo mundo teve que correr para achar alguém em colocar a culpa. A simples lógica de "venceu o melhor time, que entrou com o melhor plano de jogo e executou esse plano melhor" parece não ser boa o bastante, então todo mundo precisa de um bode expiatório. E foi ai que muita gente se voltou contra Andrew Luck.

O QB do time perdedor sempre está sujeito a levar a culpa. E no caso de Luck, muita gente correu para apontar que ele tinha lançado quatro interceptações (sete em dois jogos) e que isso prejudicou sua equipe, e todo tipo de derivação dessa narrativa que vocês podem imaginar. Claro, sempre é ruim quando seu QB está lançando interceptações. Uma, logo na primeira campanha do jogo, deu a bola ao Patriots na linha de duas jardas e um TD na jogada seguinte. Outra (que não foi culpa sua e veio depois do fulback soltar um passe curto) evitou que o Colts aproveitasse um safety em um punt bizarro.

O problema desse raciocínio é colocar em um contexto de jogo como essas interceptações ocorreram. O Colts entrou em campo procurando explorar a grande fraqueza de New England, sua defesa terrestre, e para isso precisou correr muito com a bola, especialmente pelo meio da linha defensiva de seu adversário. Bom, não funcionou - os dois guards de Indianapolis tiveram péssimas atuações, Donald Brown foi mal com a bola nas mãos, e isso significou basicamente que o time não conseguiu encurtar as descidas e precisou que seu QB convertesse todo tipo de jogada longa a cada campanha. Não ajuda que a defesa de Indianapolis se tornou apenas a segunda da história da NFL a tomar jogos consecutivos de 40 pontos, o que diminuiu ainda mais a margem do Colts para gastar o relógio e fez  o time precisar ainda mais do jogo aéreo.

Em outras palavras, para o Colts se manter no jogo, eles precisaram que Andrew Luck os mantesse lá sem ajuda de um jogo terrestre. Para piorar, com Reggie Wayne machucado, o Colts só tinha um recebedor bom no seu time (TY Hilton), e a defesa do Pats fez seu plano de jogo exatamente para tirar Hilton do jogo, sabendo que Luck ficaria sem outras opções. Então o resultado não foi agradável para Andrew Luck, que teve que jogar praticamente sozinho, o dia todo, atrás no placar, precisando acertar passes para recebedores que não estavam muito livres ou com um bom espaço para poder avançar. A falta de separação que seus WRs e TEs conseguiam obrigava Luck a colocar cada bola em um espaço pequeno cercado de defensores. Então é claro que alguns arremessos de Luck foram ruins e acabaram nas mãos dos defensores, mas é isso que acontece quando você não tem alternativa senão ficar forçando esses passes o jogo todo. Pouquíssimas vezes Luck teve o luxo de lançar para um recebedor que tinha espaço, e na maioria das vezes era um WR com dois defensores em volta pegando uma bola colocada exatamente no alcance das suas mãos e fora do alcance do defensor. Como você pode culpar alguém por isso?

A verdade é que se não fosse Luck mantendo o Colts na partida com arremesso ridículo atrás de arremesso ridículo o jogo todo (alguns entre os mais bonitos que eu vi na temporada inteira), o jogo teria acabado muito antes e Indianapolis não estaria ainda com chances no meio do terceiro período. Como disse alguém no twitter, não teve nada mais emocionante nesses playoffs do que ver Luck lançando para algum jogador fora da tela da TV. Ganhou o melhor time, o mais bem preparado e o mais experiente, mas não tenham a menor dúvida: o Colts perdeu apesar de Andrew Luck, não por causa dele.

O lixo de um é o tesouro do outro

Só por diversão, temos dois RBs desse final de semana:

RB A - 24 corridas, 166 jardas, 4 TDs
RB B - 3 corridas, 1 jarda, 0 TDs

Os dois RBs foram trocados recentemente de seus times antigos para os atuais. Um custou uma escolha de primeira rodada. Outro custou uma escolha de sétima rodada. Tempo!!

Claro, todo mundo já deve saber a essa altura que o RB A, LeGarrette Blount, foi o que custou a escolha de sétima rodada e o RB B, Trent Richardson, foi o que custou uma escolha de primeira rodada. Esse é o parte de porque o Patriots tem um time tão bom e competitivo a tanto tempo: eles são excelentes achando talentos sub-valorizados a preços baixos (Blount ganha um salário mínimo, btw) e tirando o máximo deles colocando-os em um contexto favorável e um plano de jogo inteligente, e foi o mesmo com Blount, que foi chutado de Tampa Bay mesmo correndo para 1000 jardas como calouro para se tornar o RB #1 de um time como o Patriots. Enquanto isso, o Colts pagou um preço altíssimo em inflacionado por um jogador com mais "status" e que nunca tinha feito nada para mostrar que era um bom jogador.  Um foi uma operação de baixo risco que rendeu ótima recompensa, outro foi uma troca de altíssimo risco que até agora foi um fiasco homérico. O Patriots ri com seu sucesso, enquanto o Colts vai ter que montar um time ao redor do seu excelente QB sem poder contar com essa escolha valiosa. Esses erros e sucessos contam e muito para o sucesso de cada equipe na NFL.

San Francisco 49ers 23 vs 10 Carolina Panthers


A ascensão e queda de Riverboat Ron

Uma das histórias mais divertidas da temporada foi a transformação de Ron Rivera em Riverboat Ron. Ron Rivera era um dos técnicos mais conservadores da NFL, um cara que se recusava a pensar de forma alternativa e tentar conversões curtas mesmo tendo Cam Newton e três bons RBs a sua disposição. Esse pensamento retrógrado causou muitas derrotas aos seus times ao longo dos últimos anos, e também foi bastante prejudicial para Carolina no começo do ano, de forma que até escrevi sobre isso em uma coluna depois da semana 2. Mas em algum momento ao longo da temporada, inexplicavelmente (eu assumo que envolveu uma experiência de quase morte e sonhos com espíritos), Rivera entendeu que estava prejudicando seu time com isso, e decidiu que iria se tornar o técnico mais agressivo da NFL. De repente, o Panthers estava indo para todo tipo de 4th and 1 e 4th and 2 durante os jogos, convertendo um número ridículo dessas jogadas e tendo grande sucesso com essa agressividade. Rivera até se deu o apelido de Riverboat Ron para simbolizar sua transformação, e não tenho dúvida de que essa transformação teve papel importante na grande temporada do Panthers.

Domingo, no seu primeiro jogo de playoffs como técnico do Panthers, Riverboat Ron teve uma chance de mostrar seu novo e mais agressivo eu. Depois de uma 1st and goal da linha de 6 jardas e duas corridas de Mike Tolbert e Cam Newton, o Panthers se viu em uma situação de 3rd and 1 para anotar o TD. Tolbert correu com a bola e foi parado para nenhum ganho, criando uma 4th and 1 e uma clássica situação de Riverboat Ron.

A decisão de Rivera aqui deveria ser clara como água: ele tem que tentar o touchdown. Não tem nem muito o que discutir. Você tem um dos melhores ataques de curta distância da NFL e o melhor QB de curta distância da NFL, e anotar o TD te da quatro pontos a mais do que um FG. A 4th DQ diz que um time vai converter na média 68% dessas jogadas, o que dá ao time uma expectativa de anotar 4.8 pontos ao tentar a conversão, enquanto ganha apenas 3 chutando o FG. Além disso, existe um benefício oculto em tentar a conversão que muita gente ignora: mesmo em caso de falha, você ainda vai ter seu adversário preso na linha de meia jarda, uma situação muito difícil que pode render um safety para a defesa, ou pelo menos uma boa chance de recuperar a bola em grande posição de campo (especialmente em uma defesa tão boa como a de Carolina). Considerando ainda que esse era um jogo entre duas defesas muito fortes e que anotar TDs seria difícil, você tem ainda mais motivos para aproveitar essa chance que pode ser a única. Então Rivera estava 100% certo quando alinhou para tentar a conversão.

Apesar da boa chamada, Newton foi pego na linha de meia jarda e o Panthers saiu sem o TD. Mas tudo funcionou mesmo assim, porque como já disse é a vantagem de tentar a conversão: o 49ers não conseguiu nada da linha de meia jarda (quase sendo interceptado), na hora de ir para o punt o time alinhou em uma formação mais conservadora que o normal (por conta da falta de espaço para evitar um bloquei), o que deu bastante espaço para o retorno de Ted Ginn até a linha de 31 jardas. No lance seguinte, Cam Newton mandou uma bomba perfeita para Steve Smith anotar o TD, um TD que acabou sendo consequência direta da agressividade do time na 4th down.

No entanto, pouco depois, o Panthers se viu com uma decisão quase igual para Riverboat Ron. Depois de uma corrida de Newton, Carolina esteve em uma 2nd and goal da linha de 1 jarda. Newton tentou um scramble que não deu em nada na 2nd down, e Tolbert foi parado novamente na linha de uma jarda na terceira descida, criando mais um 4th and goal da linha de uma jarda. Mas dessa vez, provavelmente por conta dos seus insucessos nessas situações na partida, decidiu ir para o FG. O PAnthers anotou o FG para abrir 10-6 no placar, mas San Francisco logo recebeu a bola, gastou os 4 minutos restantes na partida para anotar o TD e virar 13-10, e o Niners dominou o resto do jogo a partir desse ponto sem dar chance ao rival.

É difícil dizer que um lance apenas como esse mudou todo o jogo e foi o responsável em transformar um primeiro tempo de total dominação de Carolina em um segundo tempo perfeito de San Francisco, mas é fácil ver que Ron Rivera errou feio ao chutar o FG e o quanto isso custou ao seu time. A lógica para tentar a conversão é a mesma de antes: você tem um bom ataque terrestre, o TD vale muito mais pontos que o FG, e você coloca o ataque adversário em péssima situação caso não funcione. E nesse caso ainda por cima tem a questão do tempo, já que você provavelmente recebe a bola em tempo de tentar uma última campanha sem deixar nada  para o adversário, mais um motivo para tentar o TD. Claro, muita gente vai apontar que foi bom porque o time não vinha conseguindo anotar o TD nessa situação, mas isso é overreact a uma amostra pequena: Carolina converteu 90% das situações semelhantes ao longo da temporada, e a defesa de SF permitiu TDs em 66% de jogadas na linha de uma jarda ao longo dos últimos dois anos. Além disso, tinha a questão da posição de campo e do relógio a serem considerados. Então tentar era uma decisão clara. Rivera ficou com medo e chutou o FG. Carolina anotou os três pontos, mas devolveu a bola para SF na linha de 20 jardas ao invés da de uma jarda, SF anotou o TD para virar o jogo faltando 5 segundos e foi para o vestiário na frente, 13-10, em um primeiro tempo dominado por Carolina, e o time nunca mais olhou para trás.

Os cenários que Rivera deixou de considerar são um bom exemplo de porque ele errou. Se o TD é anotado, o time abre 14-13 e iria para o vestiário em vantagem mesmo após o TD de San Francisco. Se a conversão é falha, San Francisco começa da linha de uma jarda, provavelmente vai para o punt, e Carolina ainda teria tempo de tentar um FG ou mesmo um TD, indo para o vestiário na frente 7-6 ou mesmo 10-6 ou 14-6. Ao invés disso, foram para o intervalo perdendo de 13-10, algo que poderia ser evitado se Riverboat Ron tivesse falado mais alto na lateral. Ao invés disso Rivera ficou com medo pelo seu insucesso anterior, esqueceu um fator importante que fez do seu time tão bem sucedido, e seu time pagou o preço.

A diferença que um treinador faz

A falha de Rivera em ser Riverboat Ron custou ao seu time no final do primeiro tempo, e coincidentemente ou não, foi o momento que o jogo mudou (SF iria ganhar o jogo por 17-3 a partir daquele ponto). Mas teve outro motivo para essa mudança drástica, e também teve a ver com técnicos. Dessa vez, com Jim Harbaugh e Vic Fangio.

Um dos motivos pelos quais o Panthers foi tão bom no primeiro tempo, especialmente no ataque, foi porque eles pegaram o Niners desprevenido em seu plano de jogo. Assim como ano passado SF pegou Green Bay de surpresa com o read option, Carolina também incluiu em seu plano de jogo uma série de pequenos ajustes e formações diferentes que tinha usado pouco durante a temporada regular e que, certamente, não estavam nos vídeos estudados pelo Niners. Ao invés do pacote pesado de corridas, o time usou muitos disfarces para deixar Cam Newton a vontade no pocket e pegando a defesa desprevenida nas laterais. O time também usou alguns read options para correr com a bola e também, menos comum neles, para fazer simples play actions e deixar seus WRs velozes no mano-a-mano contra a secundária desfalcada de SF. A defesa não estava esperando isso, e Carolina aproveitou para fazer seu ataque funcionar (menos na linha de uma jarda).

Mas no intervalo, especialmente com a vantagem proporcionada pelo erro de Riverboat Ron, o Niners fez seus ajustes. Ofensivamente, o time pouco fez de excepcional, alguns ajustes na proteção e mais lançamentos na direção de Anquan Boldin (especialmente explorando Dayton Florence). Mas defensivamente, o time voltou preparado para o novo plano de Carolina. Com a vantagem (que subiu para 20 na primeira campanha ofensiva do time) e maior confiança na sua defesa terrestre, o time começou a ser muito mais agressivo ofensivamente, mandando muitas blitzes de diferentes locais e pressionando os CBs na linha de scrimmage, tirando a opção dos passes curtos e rápidos e obrigando Cam Newton a fazer seus passes depois de algum tempo, em geral sem espaço no pocket ou fugindo de um sack. Newton não funciona tão bem nessas situações, ainda tem alguns hábitos ruins (especialmente lançar a partir do pé de trás) e não tem a criatividade e precisão de Wilson ou Aaron Rodgers. Muitas vezes ele tentou ganhar tempo no pocket esperando seus WRs ficarem livres para logo ser engolido pelo pass rush, e quando tentou sair pouco espaço teve para fazer qualquer coisa. O read option parou de funcionar e foi abandonado, e ai o Panthers teve que voltar para seu plano tradicional, que não teve sucesso contra uma fortíssima defesa. A maior diferença foi a pressão gerada, com cinco sacks só no segundo tempo em cima de Cam (contra apenas um no primeiro). O ataque de Carolina não iria mais ameaçar o resto do jogo, o ataque terrestre de SF começou a achar espaços, e o time carimbou sua viagem a Seattle. Então nunca subestimem a importância dos ajustes dentro de jogo dos técnicos. O 49ers ajustou brilhantemente, e Carolina não conseguiu responder.

Em tempo, já que o assunto é a importância de um técnico, San Francisco passou 8 anos sem sequer ir aos playoffs, ganhando 7, 2, 4, 7, 5, 7, 8 e 6 jogos entre 2003 e 2010. No ano seguinte chegou Jim Harbaugh, e San Francisco ganhou 13, 11.5 e 12 jogos nos três anos seguintes, chegando a três finais de conferência consecutivas. Um bom lembrete sobre o impacto que um bom técnico pode ter, para todos os times que estão mudando seus técnicos nessa offseason.

San Diego Chargers 17 vs 24 Denver Broncos


Quando tudo da certo, e você não aproveita

Um primo próximo do que falamos sobre o Saints, sobre como quando você enfrenta um adversário que é franco favorito você não pode continuar dando a ele presentes e oportunidades para causar estrago. A situação do Chargers, embora semelhante, não é a mesma. Se o Saints deu oportunidades ao adversário e não podia, o Chargers foi o time que recebeu diversas oportunidades (uma parte delas menos por causa de erros do Broncos e mais por pura sorte) para tentar a zebra, mas não conseguiu aproveitar. E as duas são mortais, lembrando que San Diego era +9.5 para esse jogo - isso significa que esperam que você vença 22.2% do tempo apenas (curiosamente, na história da NFL, times + 9.5 venceram 22.1% das vezes antes desse jogo).

Deixando de lado um instante a má atuação do Chargers durante os primeiros 40 minutos de jogo e a boa atuação da defesa do Broncos, a verdade é que o placar deveria ser muito mais elástico do que foi. O Broncos foi o time que vacilou ao longo da partida, as vezes por más jogadas, as vezes por puro azar. O que eu falei que o Saints não podia fazer com o Seattle, o Broncos fez um pouco aqui. A questão é que o Chargers não transformou isso em nada.

Logo na primeira campanha do Broncos (após uma boa campanha de SD terminar em um sack e um punt), Peyton Manning teve a bola na linha de 29 do campo de ataque e tentou achar um Wes Welker em velocidade na end zone. Mas o passe foi muito ruim e sem controle, e ficou pendurado tempo o suficiente para o CB Shareece Wright cortar a rota do passe e se colocar em posição para conseguir uma interceptação. A bola foi perfeito no meio do peito de Wright, que não conseguiu segurar e fazer a interceptação. Algumas jogadas depois, Manning transformou o erro de Wright em 7 pontos com um passe para Demaryius Thomas. Depois de outro punt, Chargers teve uma nova chance: em um passe esquisito para Julius Thomas, o TE de Denver não conseguiu controlar a bola direito, tomou um tackle e soltou a carne, que foi recuperada por San Diego. No replay é quase impossível ver com certeza se foi fumble, down by contact ou passe incompleto, então permaneceu a marcação original, para sorte do Chargers. De novo, o time não aproveitou a boa posição de campo (linha de 45): o time avançou 26 jardas antes de Philip Rivers tomar um sack, e Nick Novak errar o FG. Então San Diego poderia ter evitado os 7 pontos de Denver e/ou anotado mais pontos seus com esse fumble sortudo, mas ao final dessas campanhas, o placar ainda era 7-0 para Denver. Aproveitando a boa posição de campo do FG errado, Manning logo anotou outro TD para fazer 14-0, um 14-0 que o Chargers teve a chance de evitar ou fazer algo melhor e não aproveitou.

Mas espera, tem mais. Faltando 3 minutos para o fim do primeiro tempo, o Broncos recuperou a bola novamente e se lançou em uma campanha. O time chegou dentro da linha de 5 jardas, mas na terceira descida, um bom passe de Manning para Eric Decker não foi seguro pelo WR, pipocou no ar, e Donald Butler  fez ótima jogada na bola pendurada para conseguir com uma interceptação, salvando assim pelo menos três pontos. Com 30 segundos e dois tempos para pedir, San Diego preferiu ajoelhar na bola mesmo sabendo que ela começaria com Denver no segundo tempo. Logo no retorno, Eric Decker quebrou seis tackles e tinha caminho livre até a end zone, mas tropeçou sozinho e caiu na linha de 40 jardas. Logo depois, Manning fez passe lindo para um livre Wes Welker na end zone, que deixou a bola cair e forçou o FG de Denver. Então o que deveria ter sido 10 ou mesmo 14 pontos para Denver acabou resultado em apenas três, por pura sorte e pela boa jogada de Butler. Pouco depois, Matt Prater ainda erraria um FG de 47 jardas.

Eventualmente no quarto período, Philip Rivers e o ataque do Chargers acordou, anotou 14 pontos porque a defesa do Broncos inexplicavelmente decidiu que não precisava cobrir Keenan Allen e ainda recuperou um onside kick milagroso para trazer a diferença para sete pontos, antes de Manning tirar o jogo de alcance com dois passes cruciais em terceiras descidas (uma em 3rd and 18). O Chargers chegou perto de conseguir uma grande zebra, mas a verdade é que o jogo não foi nem tão apertado como pareceu pelo que os dois times jogaram, e também não é difícil ver aonde o Chargers não conseguiu. O Broncos e o acaso deram várias oportunidades para o Chargers, e eles não aproveitaram. Tiveram uma interceptação na mão para evitar 7 pontos do Broncos e não conseguiram. Recuperaram um fumble em grande posição de campo, não geraram pontos e ainda deram boa posição para o Broncos anotar mais sete. Conseguiram sair de alguma forma tomando só 3 pontos quando deveriam ter tomado 14, e mesmo assim só foram anotar um TD no quarto período.

Se o Saints nos ensinou que quando você quer superar um time superior você não pode continuar atirando no próprio pé e dando chances ao adversário, então o Chargers é um exemplo de como você também não pode deixar passar todas as chances que colocam nas suas mãos, senão o buraco fica grande demais para sair depois. O Chargers não conseguiu, e é por isso que a Bolo Tie não está indo para New England semana que vem.

domingo, 12 de janeiro de 2014

NFL Divisional Rounds, Parte II - Domingo

"É o poder da gravata, cara!"



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No próximo bimestre, começaremos uma série chamada Sports Mythbusters. A idéia é bem simples, pegar clichês, mitos ou lugares comuns dos esportes americanos e colocá-los a prova. Então estamos aceitando sugestões, e qualquer mito, frase comum, chavão ou coisa assim dos esportes que vocês querem ver testada e comprovada (ou ao contrário, que quer ver desmentida) podem mandar que vamos analisar os melhores. Mais uma chance de vocês sugerirem nossas pautas. Podem mandar emails com as sugestões para tmwarning@hotmail.com, para o twitter @tmwarning, ou simplesmente colocar nos comentários quando der na telha.
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Ontem, tivemos a Parte I falando dos jogos de sábado nos playoffs da NFL, Saints vs Seahawks e Colts vs Patriots. Hoje, sem delongas, vamos para a Parte II cobrindo os jogos de domingo.


San Francisco 49ers at Carolina Panthers (San Francisco favorito por 1 ponto)


Embora essa linha, favorecendo o time que joga fora de casa e que perdeu o duelo entre esses dois na temporada regular (mais disso em um minuto), gere alguma estranheza, é bom lembrar que a linha inicial de Vegas era -1 Panthers e que foi mudando conforme as apostas iam entrando. Então não tentem ler muito nisso.

Mas enfim, essa é a reedição da partida da semana 10 entre Niners e Panthers no Candlestick Park (SF), um dos jogos mais defensivos e físicos de toda a temporada. O resultado reflete exatamente o quão "feio" (não no sentido de mal jogado e falta de talento) e defensivo foi: 10-9 para Carolina, com Graham Gano errando um FG mais cedo no jogo, mas com o Panthers recuperando 4 de 5 fumbles, inclusive dois seguidos na sua campanha decisiva. Não fica mais apertado do que isso, uma excelente amostra do quanto esses dois times são extremamente parelhos. E, para ser sincero, extremamente parecidos.

Ambos os times seguiram o mesmo modelo de futebol americano rumo a um record 12-4. Para começar, ambos os times apresentam uma defesa fortíssima como seu ponto central. A defesa do Panthers cedeu 4.9 jardas por jogada (4th da NFL) e a do Niners 5.0 por jogada (8th melhor), com cada uma forçando 30 turnovers. As duas também contam com um excelente trabalho da sua linha de frente para parar a corrida (3.9 jardas por corrida contra a defesa de SF, 4.0 contra a de Carolina) e, principalmente no caso de Carolina, gerar pressão no QB adversário. São duas unidades extremamente físicas e agressivas que causavam pesadelos para os adversários, e é por ai que ambos os times começam vencendo seus jogos. A defesa do Panthers terminou a temporada #3 em DVOA e, embora a do Niners tenha terminado #13, isso se deveu ao fato de que o time esteve sem dois dos seus três melhores jogadores (Patrick Willis e Aldon Smith) durante boa parte do começo da temporada: Aldon perdeu cinco jogos e jogou tantos outros abaixo do seu normal, enquanto Willis perdeu dois e jogou vários outros no sacrifício (e ainda terminou como o segundo melhor MLB da NFL, per PFF. O melhor? Seu companheiro de time, NaVorro Bowman). Desde que Smith voltou ao time titular na semana 12, a defesa de SF cedeu 6, 13, 17, 14, 24, 20 e 20 pontos para seus adversários, forçando nove turnovers. Então são duas defesas de elite que vão tornar as vidas dos ataques extremamente difíceis.

Do outro lado, temos dois ataques muito explosivos... e extremamente inconsistentes. Ambos os times foram desenhados para correr muito com a bola, com o Panthers terminando o ano como o 11th time com mais jardas terrestres na temporada (a 4.2 por corrida) e San Fran como o 3rd (4.4). Em DVOA, levando em conta o nível dos adversários enfrentados, o Panthers também aparece como o quarto melhor ataque terrestre do ano. O problema é o ataque aéreo, onde Colin Kaepernick e Cam Newton, apesar de extremamente explosivos e talentosos, tem sido bastante inconsistentes. Ambos são extremamente móveis, grandes corredores capazes de escapar de sacks para grandes ganhos e com braços fortes que podem destruir uma defesa, mas também tiveram dificuldade ao longo da temporada mantendo o nível e a consistência, mesclando grandes performances dominantes com jogos extremamente apagados. Esse foi um problema para ambos, mas particularmente com o Panthers, que contra times bons com boas defesas anotou 6 pontos (Seattle), 7 pontos (Cardinals), 10 pontos (SF), 13 e 17 pontos (New Orleans), e embora SF tenha jogos de 32 e 23 contra Arizona e 33 contra Tampa Bay para mostrar, também tem jogos de 9 contra Carolina e 3 e 19 contra Seattle no seu resumo.

Então é assim, com times tão semelhantes e matchups muito iguais, que ambos os times fizeram um dos jogos mais equilibrados e parelhos da temporada na metade do ano.

Mas é ai que entra a GRANDE diferença desse jogo em relação aquele, e ao que conseguimos ver da temporada regular olhando essas estatísticas que abrangem o ano todo. Carolina foi um time que se manteve mais ou menos constante ao longo do ano, sem grandes mudanças: algumas lesões na secundária no começo do ano forçaram algumas mudanças, mas em geral, era um time montado de uma certa maneira que seguiu assim o ano inteiro, evoluindo e se entrosando cada vez mais. Foi, na falta de uma palavra melhor, um desenvolvimento quase linear, sem grandes desvios. Mas o do 49ers foi tudo MENOS linear, e o que mudou em relação da semana 10 é o que pode fazer a diferença. Em primeiro lugar, a defesa teve a volta de Aldon Smith. Smith jogou duas semanas antes de ser preso por dirigir embriagado e posse ilegal de algum tipo de substância (supostamente analgésicos) e ser internado em uma clínica de reabilitação. Smith só voltou a ser titular na semana 12, desde quando o 49ers não perdeu nenhum jogo. Mas mais importante do que isso, foi quando a defesa do Niners voltou a ser a unidade de elite que era, pressionando o QB sem precisar recorrer a muitas blitzes. A ausência do seu MVP do time de 2012 foi extremamente sentida, e não surpreende que o time tenha melhorado bastante com sua volta.

Além de Aldon Smith, outra figura do Niners esteve fora durante boa parte da temporada e voltou para a reta final. Melhor WR da segunda metade da temporada passada na NFL (estatisticamente, pelo menos), Michael Crabtree estava se recuperando de uma lesão no tendão de Achilles e não voltou para o Niners até a semana 12. Mesmo ainda estando claramente limitado e abaixo do que rendeu ano passado, a sua chegada já teve um impacto importante no jogo aéreo, fornecendo a Kaepernick seu alvo favorito, abrindo linhas de passe e tirando marcação de outros jogadores, e em geral sendo decisivo, especialmente na rodada de Wild Card (8 recepções, 125 jardas). A chegada de Crabtree foi o empurrão que o Niners precisava para seu anêmico ataque aéreo, que terminou com o quarto melhor aéreo (em DVOA) desde que ele voltou ao campo.

Então para mim, se ambos os times foram muito equilibrados na temporada regular, o que pode fazer a diferença aqui é o quanto eles mudaram em relação ao seu primeiro jogo. O Panthers está dessa vez sem Steve Smith, que mesmo não sendo o WR espetacular de outrora, ainda é um jogador muito físico que é o alvo de confiança do Cam Newton em terceiras descidas, e se ele não puder jogar (ou jogar limitado) isso vai ser um golpe duro em um ataque que já tinha problemas contra boas defesas. Do outro lado, o Niners é um time muito melhor hoje do que na semana 10. Aldon Smith trouxe o pass rush de volta a vida, e o ataque de San Fran é mil vezes mais perigoso com Crabtree (e Vernon Davis, que saiu no primeiro quarto do outro jogo com uma concussão) do que foi em qualquer outro momento da temporada. San Francisco, em termos de pessoal, é um time muito melhor do que no primeiro jogo entre os dois, e Carolina deve ser um pouco pior sem Steve Smith. Então daria uma leve vantagem ao 49ers. 49ers 19, Panthers 13.


San Diego Chargers at Denver Broncos (Denver favorito por 9.5 pontos)


Eu realmente não preciso falar muito do ataque de Denver, o ataque que bateu todos os recordes da NFL, incluindo dois por parte do seu QB. Todo mundo já sabe exatamente do que ele é capaz e de como ele é fantástico. Então ao invés disso, vamos falar do que pode ser um problema Denver: sua defesa.

Não que a defesa tenha sido horrível durante a temporada regular. Ela terminou com um sólido 16th em DVOA, basicamente uma unidade média. Mas acontece que ela chegou nesse patamar com duas tendências distintas: enquanto foi uma defesa Top10 contra a corrida, ela foi 21nd apenas contra o passe. E não só isso, mas times como Dallas (470 jardas aéreas) mostraram que essa é uma unidade que pode muito bem ser explorada, especialmente quando a pressão não está chegando e o QB adversário tem tempo no pocket. E em uma nota relacionada, o melhor jogador dessa defesa, Von Miller, está fora dos playoffs, um tremendo golpe para uma defesa que depende muito dele tanto para criar pressão (embora Shaun Philips esteja excelente) como para parar as corridas laterais. Então embora seja um enorme exagero falar que a defesa é uma fraqueza, o fato é que ela pode ser explorada por um ataque competente, e é muito mais fácil bater de frente com essa defesa do que tentar parar o ataque de Denver.

Então se o Chargers quiser sonhar em derrubar o fatorito Denver, é pela defesa que ele vai ter que começar a montar seu plano de jogo. E na verdade, foi por ai que derrubaram o Denver da primeira vez durante a temporada regular. Naquela partida, San Diego correu 44 vezes para 171 jardas, com Ryan Matthews sendo responsável por 124 dessas. Em consequência desse estilo de jogo de correr muito e controlar o jogo, o Chargers ficou com a bola por 38 minutos de jogo (contra menos de 22 do Broncos) e manteve o provável MVP da temporada muito tempo sentado no banco. O Chargers tem um time bom e underrated, mas se quiser ter chance de uma nova surpresa, vai ter que obrigar o Broncos a jogar o SEU jogo, não o que estão acostumados. 

Claro, o ataque não é exatamente o problema com o Chargers. Eles tiveram o terceiro melhor ataque da temporada regular, e o segundo melhor ataque aéreo da NFL. Ryan Matthews, enfim saudável, correu para 1255 jardas em 4.4 jardas por corrida durante a temporada regular. Então não é como se faltasse ao Chargers o pessoal para executar sua tarefa e abusar a vulnerável defesa de Denver. O problema é que para isso você também precisa evitar que o Broncos pontue absurdamente quando seu ataque entra em quadra, e ai que mora o problema: a defesa do Chargers foi a pior da NFL durante a temporada regular. E mesmo que seu ataque cumpra a risca o plano de correr com a bola e deixar o ataque do Broncos fora de campo, isso de nada não adianta se toda vez que Manning entrar ele anotar um TD.

Por isso a defesa do Chargers, e como ela vai se comportar, é a chave da partida. Olhando no agregado da temporada, o Chargers teve a pior defesa da NFL, mas isso se deveu principalmente a um começo de ano ABISMAL desse grupo, historicamente ruim entre as semanas 1 e 12. Mas no final da temporada, com algumas mudanças de pessoal e um Eric Weddle mais eficiente, a defesa conseguiu evoluir para praticamente um grupo na média, e fez um trabalho impressionante nos dois jogos mais importantes que teve, contra Denver e na primeira rodada dos playoffs contra Bengals. Então é fato que a defesa do Chargers vem melhor, mas ser apenas "média" não vai adiantar. Ela vai precisar fazer tudo que fez da primeira vez e que deu certo: pressionar o QB usando todo tipo de blitz stunt surpresa para confundir uma linha pouco experiente, e sinceramente, dar um pouco de sorte como foi o caso no primeiro jogo, com alguns drops e alguns passes ruins. Manter o ataque de Denver fora de campo e sem chance de entrar em ritmo - ainda mais se estiver frio - sem dúvida contribuiu para essa performance ofensiva pouco eficiente e aumentou as chances da sua defesa, então é claro que esse tipo de plano de jogo passa pelo outro lado da bola também. 

Em resumo, o Chargers vai ter que jogar uma partida quase perfeita dos dois lados da bola para ter sucesso. Vai precisar executar esse plano o melhor possível, jogar o melhor futebol americano possível, e incomodar o que puder do melhor ataque da NFL. Não é impossível - o Chargers já fez antes, inclusive - mas acho difícil que o time consiga fazer de novo da mesma forma e com o mesmo nível de eficiência, e em um adversário que não vai ser pego de surpresa. Então fico com a vitória de Denver. Broncos 34, Chargers 24.

Em tempo, sua melhor esperança para apostar no Chargers? Lembra que eu disse ontem que nos últimos oito anos, em sete deles tivemos um time favorito por pelo menos 8 pontos perdendo na rodada divisional dos playoffs? Bom, em três desses sete, o QB que perdeu a partida foi Peyton Manning. Então se quiser a história do seu lado... Só jogando aqui.

sábado, 11 de janeiro de 2014

NFL Divisional Rounds, Parte I - Sábado

Russell Wilson, o QB do break dance


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A semana foi mais curta do que o normal por motivos de viagem, e depois de falar o que eu tinha a respeito da rodada de wild card, agora é hora de fazer um preview rápido sobre os quatro jogos desse final de semana. Vai ser mais curto e menos detalhado do que o normal... mas é o que da para fazer por enquanto. Parte II vem domingo cedo ou sábado a noite. Semana que vem a vida volta (oremos) ao normal, e voltamos a fazer essas coisas com calma. Por enquanto... Bem...


New Orleans Saints at Seattle Seahawks (Seattle favorito por 8 pontos)


Dos quatro jogos desse final de semana pelos playoffs da NFL, três deles são revanches de jogos que aconteceram durante a temporada regular, a exceção sendo Patriots e Colts. E como é de praxe, muita gente vai usar esses jogos como a base do que esperar para cada um desses três confrontos, sendo um ponto de partida.

Isso não esta de todo errado, e esses jogos não são irrelevantes: afinal, são os mesmos times, com os elencos quase iguais, e muitas vezes o resultado de um jogo é consequência direta dessas condições naturais das equipes. Mas é um erro muito comum achar que os jogos acontecem sob as mesmas circunstâncias. Um jogo é uma amostra pequena demais, na qual afetam diversos fatores: o estado dos jogadores naquele dia (quem diz que Drew Brees não comeu uma lagosta estragada na véspera da partida?), alguns jogadores que poderiam ou não se encontrar machucados ou abaixo da sua forma física ideal (e cuja condição mudou para o segundo jogo), algumas jogadas tem um fator de aleatoriedade alto (drops, recuperações de fumbles, TDs defensivos, etc) e dificilmente se repetiriam da mesma forma com uma amostra maior, o tipo de preparo de cada equipe para enfrentar o adversário, e tudo mais. Então sempre é uma armadilha levar ao pé da letra esse tipo de coisa.

Em outras palavras, o que eu quero dizer é que embora o Saints tenha sido dominado anteriormente na temporada em Seattle, perdendo de 34 a 7, isso não quer dizer que New Orleans vá tomar outra surra ou que não tenha chances de vencer nos confins do Century Link Field. É mais importante olhar o que aconteceu naquele jogo para acabar com esse placar, quais as mudanças que devem acontecer para esse jogo, e como o Saints pode evitar que isso se repita.

Descartando alguns fatores aleatórios que contribuíram para o placar elástico (em particular, o Seattle recuperando dois fumbles decisivos - um retornado para TD, um dentro da red zone, sendo que a chance de recuperar os dois, de acordo com Bill Barnwell, era de 19%), o principal motivo que levou Seattle a vencer aquele jogo de forma tranquila é o mesmo que levou o time a terminar a temporada como o melhor time da NFL (em DVOA): sua espetacular secundária. Entre Richard Sherman, Earl Thomas, Kam Chancellor, um infindável grupo de CBs reservas que se revezam e um grupo muito bom de LBs, é uma tarefa extremamente complicada lançar a bola contra essa secundária. Seattle terminou disparado em primeiro defendendo o passe na temporada, com o melhor DVOA que a NFL viu desde 2009, e o time ainda gerou 28 interceptações (a média da NFL foi de 16 por time). De fato, naquele jogo na semana 13 em Seattle, o Saints só passou para 144 jardas, de longe sua pior marca da temporada - o time não ficou abaixo de 230 em nenhum dos outros 16 jogos (incluindo playoffs) da temporada.

Então se alguém quiser vencer Seattle, vai ter que passar por cima dessa secundária infernal se quiser sair com a vitória. Esse é um problema particularmente maior para o Saints, o único time da NFC sem uma defesa de elite, e de longe o time que mais depende do passe entre os quatro times. A maior força de New Orleans é seu ataque, que terminou a temporada como o quinto melhor da NFL e o terceiro melhor ataque aéreo da liga. Eles possuem um Hall of Famer de QB em Drew Brees, uma das melhores mentes ofensivas da NFL em Sean Payton, um dos três melhores TEs da NFL em Jimmy Graham, e um grupo extremamente eficiente de armas funcionando em um esquema muito bem montado para tirar o máximo de cada uma delas. Quando esse ataque vai funcionando as mil maravilhas, o Saints é um time muito perigoso. Mas quando o ataque aéreo para de funcionar, é um problema. Por isso é tão perigoso o matchup para o Saints.

Então o Saints vai ter que dar um jeito de fazer seu ataque funcionar, coisa que não conseguiu na primeira partida. Como o time vai fazer isso é a questão. O time pode simplesmente bater de frente com a defesa aérea do time, e para isso conta com uma vantagem: ao contrário da primeira partida, Jimmy Graham está 100% saudável, e seu principal marcador, KJ Wright, está fora da partida. Esse é o tipo de coisa que eu disse lá em cima que muda de um jogo para outro, e que pode ser decisiva: Wright fez um trabalho excelente no recebedor mais perigoso do Saints, mas agora isso não vai ser mais uma opção. Então isso força o Seattle a se adaptar, seja colocando um outro LB inferior em Graham (o que daria mais espaço ao jogador e possivelmente atrairia marcação de um segundo jogador) ou colocando Richard Sherman no mano-a-mano em cima dele, o que naturalmente abriria o resto do campo para os demais jogadores. Então Graham (e a forma como Seattle vai cobrí-lo) é o wild card desse duelo, e se o TE conseguir forçar novos ajustes da defesa, vai ser uma vitória para o ataque de New Orleans e um bom começo para tentar vencer esse duelo.

Uma alternativa que o Saints pode recorrer é tentar vencer o jogo sem precisar desafiar direto a defesa aérea do adversário, através do jogo corrido. A defesa de Seattle não é horrível contra o jogo terrestre, é até boa, mas mostrou bastante vulnerabilidade no final da temporada contra ataques mais competentes. Explorar esse ponto seria uma forma de encurtar as descidas (evitando que Brees precisasse ficar muito tempo no pocket com um LT calouro contra um ótimo pass rush), controlar o relógio, fazer funcionar o play action (Brees teve rating de 116 lançando para Kenny Stills em profundidade e está com 15 TDs e só 2 INTs em passes que viajam mais de 20 jardas) e eventualmente forçar ajustes da defesa e abrir linhas de passe. O problema com essa estratégia é fazer funcionar, já que o Saints não teve um bom ataque terrestre ao longo da temporada, o 19th melhor apenas com 3.8 jardas por tentativa. Pierre Thomas, o líder em corridas do time, não deve jogar no sábado, o que piora a situação. Então New Orleans vai ter trabalho para impor seu jogo terrestre e executar um estilo de jogo que não está acostumado e não é aquele para o qual seu elenco foi construído. Ainda assim, existe uma luz no fim do túnel nesse sentido para NO: semana passada, contra o Eagles, o time entrou com um plano de jogo voltado para o ataque terrestre, e deu muito certo. Foram 30 passes contra 36 corridas, que geraram um total de 185 jardas (5.1 jardas por corrida). Tudo bem que a defesa terrestre do Eagles é muito inferior a do Seattle, mas é um sinal encorajador que o Saints tenha entrado com esse plano de jogo e tido sucesso nele. Conseguir ou não fazer o mesmo contra uma defesa superior de Seattle vai ser a chave para o jogo.

Do outro lado, a questão crucial que tiramos do primeiro jogo é saber como o Saints vai fazer para conter Russell Wilson fora do pocket. Wilson é bom dentro ou fora dele, mas ele é particularmente mortal quando está saindo do pocket, confundindo a defesa e correndo para first downs ou criando novas linhas de passe. Ele fez isso frequentemente no primeiro jogo - muitas vezes saindo da read option - e a defesa simplesmente não parecia preparada. Jogadores pareciam confusos sobre quem iria cobrir o que, com muitas vezes dois jogadores realizando a mesma função, a secundária inteira batendo cabeças e deixando jogadores livres - o que significa que Russell Wilson passou o dia todo lançando para WRs livres. Agora o Saints me parece mais vacinado, e mesmo sem Kenny Vaccaro, eu não espero tanta confusão de uma defesa que foi underrated ao longo da temporada regular. Não que eu ache que a defesa de NO vá vencer o jogo sozinha contra um bom ataque no estádio mais difícil de se jogar da NFL, mas também não acho que o ataque de Seattle vá colocar um número impossível de pontos no placar de forma que o Saints não consiga mais alcançar contra sua secundária. No final, o que vai mesmo definir o jogo vai ser ataque do Saints vs defesa do Seahawks.

Eu acho que esse jogo não vai ser tão fácil quanto o da temporada regular: New Orleans está mais preparado em termos de esquema e principalmente de pessoal (com Graham 100% e Wright fora). Seattle tem parecido um poooouco decepcionante nas últimas semanas, e o Saints tem Drew fucking Brees. E não acho provável que Seattle ganhe todos os golpes de sorte como foi na semana 12. Então não acho que vá ser um jogo fácil. Mas acho que no final, prevalece o melhor time com o mando de campo. Seahawks 23, Saints 20.


Indianapolis Colts at New England Patriots (New England favorito por 7 pontos)


O único jogo desse final de semana que não é uma segunda ou terceira versão de um confronto da temporada regular. Então para esse, temos que analisar os dois times separadamente.

A história da temporada para o New England Patriots, outra além do fato de Bill Belichick e Tom Brady terem reinventado esse time e transformado Julian Edelman em Wes Welker 2.0, é que o time atual de New England tem muito pouco a ver com o time que deveria ser quando a temporada começou. Todo tipo de lesões ou mesmo de performances abaixo do esperado mudaram drasticamente a cara da lineup de New England, e com isso, mudaram também as qualidades e fraquezas da equipe - em geral favorecendo a segunda. Só do lado defensivo da bola, New England perdeu Vince Wilfork, seu reserva Tommy Kelly, seus dois melhores LBs (Brandon Spikes, #6 da temporada per PFF e uma força contra a corrida, e Jerod Mayo, melhor na cobertura), seu safety (Adrian Wilson) e viu uma lesão derrubar Aqib Talib de "um dos melhores CBs da primeira metade da temporada" para "um dos piores da segunda metade"  (não, sério, olha a diferença). Como era de se esperar com tudo isso de lesões, o que deveria ser uma muito sólida defesa de New England no começo da temporada foi piorando consideravelmente ao longo do ano: a equipe acabou o ano com um DVOA defensivo de 4.1%, 21st melhor da NFL apenas. Mas considerando o DVOA ajustado - que da peso maior quanto mais tarde na temporada o jogo, de forma a melhor refletir a evolução da equipe ao longo da temporada - o Patriots terminou o ano com DVOA defensivo de 9.2%, marca que teria colocado New England como 25th melhor defesa apenas. É uma queda bastante brutal.

Mais especificamente, o Patriots tem sido abismal defendendo a corrida desde a lesão de Wilfork e Kelly, terminando como a quarta pior defesa terrestre da temporada regular. Esse problema não vai ser ajudado por Brandon Spikes indo no IR, e agora o time vai ter novamente que confiar em jogadores de special teams ou calouros não-draftados. A secundária tem ainda Devin McCourty, em ótima temporada, mas seu sucesso no começo da temporada se devia a capacidade de Talib de marcar no 1-1 o melhor defensor do adversário. Desde que Talib se machucou e entrou em uma fase difícil, a defesa sofreu com as consequências: o time foi o quinto pior da NFL marcando WRs #2 e demais WRs, e depois da lesão de Mayo, muita dificuldade marcando TEs e RBs pelo meio do campo. E por mais que Bill Belichick seja um dos melhores técnicos defensivos da NFL e tenha tido muito sucesso em anos recentes montando defesas fortes com um monte de jogadores pouco importantes em torno de seu núcleo, sem o núcleo de jogadores nível Pro Bowl nem ele é capaz de montar uma defesa de elite.

E é essa defesa que o Colts vai ter que explorar se quiser vencer New England nos confins gelados do Gilette Stadium. O Colts já mostrou mais uma vez que sua defesa tem muitas falhas semana passada, tomando 44 pontos do Chiefs. Indy terminou a temporada regular como uma defesa bem mediana, 16th overall com DVOA de 0.8%, mas também foram a defesa mais inconsistente da temporada: eles começaram a temporada muito forte, pularam para uma das piores unidades da NFL no meio da temporada, e dai terminaram com boas performances nas vitórias da equipe. É difícil saber exatamente como vai ser essa defesa, já que parecem mudar tanto jogo a jogo.

O segredo da defesa do Colts, em geral, tem sido Robert Mathis. Quando o possível DPOY da temporada esta conseguindo separação na linha, pressionando QBs e conseguindo sacks e fumbles, a defesa do time se estabelece e consegue ser eficiente. Mas quando Mathis não está tendo sucesso, a falta de outros pass rushers e a falta de jogadores mais competentes na secundária torna essa defesa extremamente vulnerável ao passe. Contra Tom Brady no frio de Foxborough e em um jogo que, pela falta de qualidade das defesas, parece estar caminhando para um jogo de placar alto em um duelo de ataques, a chave da partida parece ser justamente se Mathis consegue importunar Brady o suficiente para tirar o ataque de New England de ritmo.

Por sorte, o Patriots conta com mais duas lesões sérias e importantes no ataque. A primeira, claro, é Rob Gronkowski, o alvo de confiança de Tom Brady e possivelmente o melhor TE da NFL. A ausência de Gronk trás uma vantagem extremamente óbvia: ele é o melhor recebedor da equipe e o cara que Brady tem confiança para lançar a bola, então sem ele o time não precisa comprometer tanta ajuda defensiva a um jogador só, e portanto segura mais tempo a cobertura enquanto espera alguém atrapalhar o QB no pocket. Da mesma forma, sem ele Brady não tem sua opção de segurança, aquele cara que é só jogar a bola perto que consegue a recepção, o que força o QB a analisar mais o campo e esperar uma abertura maior para soltar a bola. Mas talvez ainda mais importante seja outra lesão do Patriots, a do OT Sebastian Vollmer. Vollmer era o melhor jogador de linha de New England, e desde que ele machucou o lado direito da linha não tem sido o mesmo, com seu reserva Marcus Cannon misturando performances sólidas com verdadeiras atrocidades. Com Nate Solder de volta, Mathis provavelmente deve alinhar mais do lado esquerdo da linha do Colts para ficar no matchup com Cannon, e esse é o duelo mais importante do jogo. Andrew Luck e o Colts vão conseguir pontuar contra a fraca defesa de New England, mas o ataque do Patriots é bom demais e muito superior. Mesmo sem Gronk, o time achou uma rotação eficiente no jogo terrestre, e Shane Vereen e Edelman estão jogando bem demais (e eles tem Tom Brady, btw). Então se for uma batalha de volume ofensivo, o Patriots tem uma clara vantagem.

Por isso é tão crucial que Mathis apareça. A defesa do Colts é melhor, mas não o suficiente para sozinha tirar a diferença entre os ataques. Para isso, você precisa que o melhor jogador defensivo da partida cause o tipo de caos para desestabilizar Tom Brady, e tire todo o ataque do Patriots de sintonia. Você não tem um jogador capaz de fazer isso na defesa do Patriots atualmente, mas você tem um jogador na do Colts. O segredo por trás da vitória surpreendente do Colts sobre o Denver no começo da temporada, em situação semelhante, foi justamente esse: Robert Mathis conseguiu um sack, um fumble crucial, e consistentemente estava fungando no pescoço de Peyton Manning, impedindo que o QB ficasse confortável no pocket e estabelecesse seu ritmo. Se o Colts quiser vencer esse jogo, ele vai ter que fazer o mesmo com Tom Brady, e Marcus Cannon é o caminho para isso.

Outra opção pra o Colts é jogar controlando o ataque de New England. Em outras palavras, explorar a  horrível e embaraçosa defesa terrestre de New England (que deve ser ainda pior depois de perder o bom Spikes) para controlar o relógio, manter o ataque do Patriots fora de campo, e garantir que o grande problema de New England (a defesa) continue jogando. Assim você mantém seu ataque mais tempo em campo e tira o ritmo ofensivo da outra equipe. Claro, é mais fácil fazer isso quando seu RB não é Trent "duas jardas" Richardson, mas Donald Brown vem jogando muito bem e o próprio Andrew Luck pode correr quando necessário. Em geral, o Colts é um time muito mais eficiente quando passa a bola primeiro e corre depois como consequência, então não é como se o time fosse cometer com o jogo terrestre a partida toda, mas é uma peça que precisa estar no arsenal.

E também tem isso: nos últimos oito anos, a rodada divisional sempre apresenta uma grande zebra. Sete dos oito últimos anos, essa zebra envolveu um time que era underdog por pelo menos 7 pontos. Em outras palavras, esse ano temos três candidatos: Saints at Seattle, Colts at Patriots, e Chargers at Denver (Niners e Panthers o spread é de 1 ponto). Eu me sinto obrigado então a apostar em pelo menos uma zebra, e vai ser o Colts (semana passada foi o Chargers, vocês viram como acabou). Eu sei que Pats é um time bem melhor e joga em casa, mas a defesa é simplesmente abismal, e Andrew Luck já provou que foi colocado nessa Terra para vencer jogos no quarto período. Se o ataque do Pats começar a sair de sintonia - um grande se - eu consigo ver o Colts aproveitando a brecha e saindo com a vitória. Não vai ser fácil e é provavelmente uma aposta burra, mas via pelo feeling. Colts 34, Patriots 33.


PARTE II VINDO SÁBADO OU DOMINGO!

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Algumas considerações sobre a rodada de Wild Card

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"Captain Luck, ao resgate!"



No próximo bimestre, começaremos uma série chamada Sports Mythbusters. A idéia é bem simples, pegar clichês, mitos ou lugares comuns dos esportes americanos e colocá-los a prova. Então estamos aceitando sugestões, e qualquer mito, frase comum, chavão ou coisa assim dos esportes que vocês querem ver testada e comprovada (ou ao contrário, que quer ver desmentida) podem mandar que vamos analisar os melhores. Mais uma chance de vocês sugerirem nossas pautas. Podem mandar emails com as sugestões para tmwarning@hotmail.com, para o twitter @tmwarning, ou simplesmente colocar nos comentários quando der na telha.
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Primeira rodada dos playoffs já está no passado, e me parece uma boa hora para passar rapidamente por alguns tópicos interessantes ou relevantes que se apresentaram nesse último final de semana de excelente futebol americano - deixando os comentários sobre os jogos do próximo final de semana para outra ocasião. Passando rapidamente por dois esclarecimentos...


Ausência forçada

Infelizmente, estando fora do país nas últimas semanas, não foi possível fazer uma cobertura decente da rodada de Wild Card. Eu até consegui acesso suficiente a internet para colocar meus palpites para a semana 17, mas depois disso não tive a oportunidade, e por isso só agora, de volta, que eu vou conseguir retomar o ritmo dos playoffs da NFL. Vamos ver se conseguimos manter o ritmo até o Super Bowl.

A outra coisa é a ausência do prometido Mailbag. Essa tem uma causa mais simples: não recebemos emails suficiente. Apenas duas pessoas mandaram perguntas, então ele foi adiado para outra ocasião - uma ocasião na qual teremos um número razoável de questões para responder e debater.

Então vamos tentar tirar o tempo perdido em relação a essa rodada de WC, começando com....


A verdade indubitável sobre os playoffs da NFL

Eu repito isso sempre que tenho a chance, e cada vez mais é verdade: nos playoffs, qualquer time que chega pode ser campeão. A natureza muito volúvel do jogo e a amostra extremamente pequena dos playoffs faz com que o nível de incerteza seja enorme, e com essa amostra pequena o impacto de diversas coisas pequenas (um quique diferente de bola em um fumble, vento que atrapalha um FG, um drop, etc) assume uma importância muito maior. Por esse motivo eu digo que qualquer time que chega aos playoffs pode ser, de fato, campeão. Não quero dizer, claro, que cada time tem chances iguais de ser campeão quando chegamos nos playoffs - quanto melhor o time, maiores as chances dele ganhar, já que esse tipo de coisa tende a ser aleatória. Mas em geral, ou pelo menos tem sido o caso nos últimos ano, tem vencido não o melhor time mas o time que pega fogo na hora certa e/ou da alguns golpes de sorte.

Se não acredita, é só fazer uma retrospectiva: em 2012, Ravens era o terceiro melhor time da AFC, mas Joe Flacco e Anquan Boldin pegaram fogo na hora certa, o time deu uma meia dúzia de golpes de sorte (a furada do Rahim Moore, a lesão de Aqib Talib, e a falta não marcada na end zone no Super Bowl) para chegar ao título - um ano depois, o time sequer foi aos playoffs. Em 2011, o Giants se tornou o primeiro time 9-7 a vencer o Super Bowl E o primeiro time com saldo de pontos negativos a vencer o Super Bowl, principalmente porque sua linha defensiva teve uma performance dominante (que nunca mais replicou), porque o time recuperou sete fumbles seguidos e porque Kyle Williams retornou alguns punts - eles não foram aos playoffs desde então. O Packers de 2010 só foi aos playoffs porque o Bucs perdeu em casa, em OT, para o Lions sem Matt Stafford na semana 16. Em 2009, o melhor time da NFC de fato venceu o Super Bowl (o Saints começou o ano 13-0 antes de perder as três últimas), mas um em quatro anos não é exatamente uma grande vantagem para os "melhores times da NFL". Você entendeu o sentido: ser bom é muito importante, mas muitas vezes quem vai ganhar o título é aquele time que ficou saudável na hora decisiva, viu alguns fumbles ou erros individuais acontecerem a seu favor, e que aproveitou melhor essas chances. É o eterno "better to be lucky than to be good", ou em um português morfético, é melhor ter sorte do que ser bom.

Um bom exemplo dessa postura nesse final de semana de Wild Card foi o jogo entre Chiefs e Colts. Antes da partida, era difícil dizer qual era exatamente o melhor time, embora muitas métricas colocassem Kansas City como o melhor dos dois. KC teve 0.5 vitórias a mais em termos de Pythagorean Wins, e DVOA colocasse o Chiefs como o sétimo melhor time da temporada regular, enquanto o Colts foi apenas o 13th. Mesmo considerando o final de temporada ruim de Kansas City usando DVOA ajustado, o time ainda se mantém como o nono melhor da NFL, enquanto o Colts cai para 21st.

O jogo, como todo mundo já sabe, terminou com o Colts vencendo por 45 a 44 depois de estar perdendo por 38 a 10, a segunda maior virada da história dos playoffs. Em um jogo decidido por tão pouco e com tantos grandes momentos decisivos, e com tantos pontos, realmente é o mais equilibrado que você chega. E ai você lembra que o Chiefs perdeu seu melhor jogador (Jamaal Charles) na sua primeira corrida da partida, que o time perdeu um dos melhores CBs da NFL (Brandon Flowers) quando o Colts começou sua reação, que Donnie Avery (segundo WR favorito de Alex Smith na temporada) saiu machucado, e que até mesmo Justin Houston não terminou a partida... e começa a pensar que o Colts não deveria ter saído com a vitória em condições normais.

E não deveria mesmo. Isso NUNCA é uma ciência exata, mas em um jogo de um ponto tão apertado como esse, é difícil imaginar que não faria diferença um Charles ou um Flowers saudável. Charles era um candidato a MVP que foi, de longe, o não-QB mais valioso de toda a NFL, um jogador responsável por 32% da produção ofensiva da sua equipe (de longe a maior marca da liga) - quão diferente teria sido o jogo com ele naquele segundo tempo, quando o time tinha uma grande vantagem e iria ficar extremamente satisfeito correndo com a bola ou fazendo checkdowns para gastar tempo e avançar passo a passo? Ao invés disso, Charles estava fora, Knile Davis saiu machucado, e o time não teve confiança para jogar nas costas de Cyrus Gray pelo chão para gastar o relógio. Charles foi segundo colocado em muitas listas para MVP por ai - eu acredito que sua saúde teria feito pelo menos alguma diferença no jogo. O mesmo para Flowers, que embora tenha saído quando o Colts já reagia, é razoável imaginar que teria feito alguma diferença em relação ao seu substituto Dunta Robinson, que tomou bola nas costas o jogo todo. Se ambos os times jogassem toda a partida com os mesmos jogadores que a começaram, Kansas City provavelmente teria ganho.

Mas não jogaram, e KC não venceu. Colts superou algumas perdas próprias, Andrew Luck lembrou no segundo tempo que é um enviado dos céus para completar viradas espetaculares na NFL, e o time jogou com muita raça para completar essa virada espetacular. Porque na NFL, não adianta ser só bom. Você tem que ser bom E dar sorte.


Ter um bom quarterback ajuda

Um dos lugares-comuns dos playoffs diz que as duas pessoas mais importantes em um time na pós-temporada são o quarterback e o técnico. Em geral eu odeio lugares-comum porque eles são uma forma de simplificar as coisas e não pensar sobre elas, o que gera todo tipo de preconceito e erro típico de quem tem preguiça de olhar as coisas direto. Mas esse lugar comum, em particular, é um que eu concordo até certo ponto. Claro, você não PRECISA de um grande QB para vencer - Eli Manning, Joe Flacco e Mark Sanchez tem mais Super Bowls e um record melhor nos playoffs nos últimos 8 anos do que Drew Brees, Tom Brady e Peyton Manning. Futebol é um jogo de 53 jogadores, não de um, e se você tem um grande QB e o resto do seu time é uma droga, você vai continuar não vencendo nada.

O que isso quer dizer, entretanto, é que ter o QB superior te da uma grande vantagem em relação ao seu adversário. Pelo menos nessa primeira rodada de WC, quatro times tinham um QB claramente superior ao adversário: Colts com Luck, Saints com Brees, Packers com Aaron Rodgers, e San Diego com Philip Rivers. Três desses eram considerados zebras em suas partidas... mas três desses quatro times com o QB superior saíram com a vitória. A única excessão foi o Packers, que perdeu do San Francisco 49ers em parte porque Colin Kaepernick vira uma mistura de Joe Montana, Steve Young e Obi-Wan Kenobi quando enfrenta seu time de infância (são três jogos contra GB, 3-0 com 300 jardas aéreas e 100 jardas terrestres de média), e mesmo assim o Niners precisou de uma campanha espetacular nos minutos finais em um jogo onde a grande diferença foram as defesas. SF tem uma linha ofensiva melhor, uma defesa mil vezes melhores, melhores STs, Colin Kaepernick foi o melhor jogador em campo... e mesmo assim foi uma partida extremamente difícil decidida no segundo final.

Um bom exemplo disso foi, de novo, Colts e Chiefs. Nessa partida, se você for olhar estatisticamente, Luck não foi o melhor QB - ele teve dois turnovers a mais que Alex Smith, que teve um jogo brilhante com mais de 400 jardas e 4 TDs. Se for para olhar no vácuo, o Colts venceu mesmo com Luck não sendo o melhor QB da partida. Mas vai ver os highlights daquele jogo, e veja o que Luck precisou fazer no segundo tempo para vencer. Quantos QBs da NFL seriam capazes de fazer isso? Quantos QBs seriam capazes de fazer, bem... isso? Com certeza não Alex Smith, e mais 90% da liga. Luck pode não ter sido o melhor QB ao longo do jogo todo, mas são pouquíssimos os jogadores que seriam capazes de virar esse jogo no segundo tempo como ele fez. Se o QB fosse 1% inferior a Andrw Luck, o Colts não vence a partida.

Então você nunca vai querer descartar os times com grandes QBs. As regras estão DEMAIS em favor deles, e temos QBs particularmente grandes nessa pós-temporada. O Patriots está sem Rob Gronkowski e Sebastian Vollmer no ataque, sem Vince Wilfork, Jerod Mayo e Brandon Spikes na defesa... mas você vai mesmo apostar contra Tom Brady em casa? Claro, o problema agora é que - principalmente na AFC - nós estamos tendo um overload de bons QBs sobrando. Os quatro times da AFC apresentam Pro-Bowl QBs: Peyton Manning (que acabou de obliterar todos os recordes da NFL e vai ser o MVP) enfrenta Philip Rivers (o segundo melhor QB da temporada regular), e Tom Brady (que de alguma forma manteve o ataque funcionando com Julian Edelman como seu principal alvo) recebe Andrew Luck (o melhor jovem QB da NFL e... bem, vocês VIRAM o que ele fez semana passada). Manning e Brady são ainda os melhores QBs dos confrontos, mas a diferença não é tão grande assim mais, e as duas "zebras" possuem dois excelentes QBs próprios que podem pegar fogo e definir o confronto.

Curiosamente, se na AFC temos três grandes QBs veteranos e uma jovem estrela, na NFC temos o contrário. Russell Wilson, Kaepernick e Cam Newton representam a nova geração, enquanto Drew Brees é o veterano e futuro Hall of Famer do grupo. Claro, o Saints não vai ser favorito só por ter o melhor QB - na verdade são zebras por oito pontos - porque Seattle tem um ótimo ataque, defesa espetacular e tudo que você espera do time mais completo da NFC. Mas considerando a diferença que um QB do nível de Brees pode ter em um único jogo, bem, eu também não seria louco de descartar New Orleans nessa partida.


O destino dos times eliminados

Entre os quatro times que depois do final de semana passada assistem os playoffs pela TV, a verdade é que com uma exceção, os times não tem tantos motivos para se sentirem deprimidos ou entrarem em depressão por causa das derrotas. Claro, considerando a natureza imprevisível da NFL e o quão apertados e decididos em detalhes foram os jogos do Wild Card, obviamente que todos eles prefeririam muito ter ganho e continuado na disputa. Mas tirando o Bengals, os outros três times todos tem motivos para estar otimistas e não se sentirem afetados demais pela eliminação.

Dois desses times, Eagles e Chiefs, são times que começaram a se reconstruir nessa temporada depois de um 2012 decepcionante. Trouxeram novos técnicos, mudaram seus elencos, e começaram de novo depois de ambos terminarem na lanterna de suas divisões. E o resultado foi um sucesso: KC venceu 11 jogos depois de só vencer dois um ano antes, Philadelphia venceu a sua divisão e teve o segundo melhor ataque da NFL, e ambos tiveram grande sucesso em seu primeiro ano sob o novo regime. A defesa de KC acabou não aguentando nos playoffs (com ajuda de múltiplas lesões) e o ataque de Philly foi superado por um ataque liderado por um futuro HoF, mas considerando que era apenas o primeiro ano do processo de cada time, acho que vão terminar o ano com a conclusão de que foi um ano extremamente satisfatório. Kansas conseguiu se restabelecer como um time de verdade, e embora diversas lesões tenham afetado demais o time no final do ano e nos playoffs, eles tem talento demais na defesa e Alex Smith se estabeleceu como o QB do futuro da franquia depois de um excelente final de ano. O mesmo vale para Philadelphia: Chip Kelly foi brilhante comandando a equipe e impondo seu ataque veloz, que foi o segundo melhor da NFL mesmo sem ter todas as peças ideais. A defesa jovem foi muito inconsistente ao longo do ano, e o ataque teve seus momentos difíceis, mas considerando que Kelly ainda não teve tempo de reunir os jogadores que deseja ou de entrosar seu time no seu complicado esquema ofensivo, a temporada foi um enorme sucesso: ele provou que seu esquema ofensivo funciona na NFL e conseguiu fazer Nick Foles parecer John Elway. Daqui para frente é questão de reforçar a defesa, achar as peças ofensivas, e correr para o abraço. Lógico que ambos prefeririam um título, mas o saldo foi extremamente satisfatório e o caminho de ambos parece positivo para 2014.

Green Bay não pode falar que está se reconstruindo como os dois, mas considerando as circunstâncias, GB me parece satisfeito (com alguma razão) por ter chegado aonde chegou. Durante a temporada regular, eles perderam o seu melhor jogador, Aaron Rodgers, por SETE jogos. Durante esses sete jogos, seus titulares forem Seneca Wallace, Scott Tolzien, e Matt Flynn. Detroit E Chicago ultrapassaram GB nesse tempo e dependiam das próprias forças para ganharem a NFC North. De alguma forma Detroit perdeu cinco dos seus últimos seis jogos, e Chicago foi incompetente o suficiente para Rodgers voltar ainda a tempo de vencer a divisão. E mesmo que estivesse com Rodgers quando foram derrotados pelo Niners nos playoffs, eles sabiam que era uma tarefa difícil: sua defesa estava sem Casey Heyward e Clay Matthews, e diversos outros jogadores importantes estavam ou machucados ou jogando no sacrifício. Considerando que teriam que jogar sem tantos jogadores importantes o resto do ano, que possivelmente Rodgers ainda não estava 100%, e que foi preciso um pequeno milagre e MUITA incompetência dos rivais só para o Packers chegar na pós-temporada... acho que não tem tanto motivo para tristeza. Eles chegaram mais longe do que deviam com um time esburacado e sem seu melhor jogador, e foram derrubados por um time superior.

O caso do Bengals é um pouco diferente. Sim, eles tiveram múltiplas lesões - na verdade, eles perderam seu melhor jogador de secundária (Leon Hall) E seu melhor jogador defensivo (Geno Atkins) na metade da temporada - mas a temporada acaba como uma decepção muito maior. Mesmo sem Atkins e Hall, a defesa do time se manteve estável, e o ataque - no qual o time investiu recentemente escolhas altíssimas para trazer Gio Bernard, Tyler Eifert, AJ Green e Jermaine Gresham - deveria ter produzido melhor. Ai o time chega nos playoffs contra um inferior time do Chargers, em casa (onde o time estava  8-0)... e apanha de 27-10 com Andy Dalton lançando duas interceptações. Depois de gastar seis escolhas de primeira ou segunda rodada nos últimos quatro anos para fazer esse ataque se tornar um dos melhores da NFL, o time ainda não conseguiu produzir mais do que 10 pontos (e três turnovers) contra a pior defesa da NFL? Não é nada satisfatório. Green Bay e Bengals perderam diversos jogadores por lesão e não eram o time que poderiam ser, mas pelo menos Green Bay sabe que overachieved em uma pool de times muito mais forte, que foi derrotado nos detalhes por um time superior quando estava destruído por lesões, e que enquanto Aaron Rodgers estiver lá, eles vão continuar chegando. Bengals  chegou aos playoffs com tranquilidade contra adversários fracos, foi derrotado com propriedade por um time inferior, viu seu ataque se desmontar e levantou ainda mais questões sobre sua situação de quarterbacks. Ainda que saibam que poderia ter sido diferente com o time saudável, ainda foi uma atuação decepcionante em uma situação que eram os francos favoritos. Eles precisam decidir logo sobre o futuro de Dalton, que mais uma vez foi muito mal nos playoffs (agora são três jogos, um TD e seis interceptações) e tem que fazer isso com um novo coordenador ofensivo. Não tem nada de bom saindo para o Bengals desses playoffs, nenhum consolo nem nada. Só mais dúvidas.

(O que não quer dizer que o Bengals seja um time horrível que deve se reconstruir do zero, a defesa ainda é excelente e o time tem pouquíssimos buracos. Mas esse tipo de atuação é exatamente o que você não pode ficar satisfeito de ver em um time nessa situação)