Russell Wilson, o QB do break dance
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No próximo bimestre, começaremos uma série chamada Sports Mythbusters. A idéia é bem simples, pegar clichês, mitos ou lugares comuns dos esportes americanos e colocá-los a prova. Então estamos aceitando sugestões, e qualquer mito, frase comum, chavão ou coisa assim dos esportes que vocês querem ver testada e comprovada (ou ao contrário, que quer ver desmentida) podem mandar que vamos analisar os melhores. Mais uma chance de vocês sugerirem nossas pautas. Podem mandar emails com as sugestões para tmwarning@hotmail.com, para o twitter @tmwarning, ou simplesmente colocar nos comentários quando der na telha.
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A semana foi mais curta do que o normal por motivos de viagem, e depois de falar o que eu tinha a respeito da rodada de wild card, agora é hora de fazer um preview rápido sobre os quatro jogos desse final de semana. Vai ser mais curto e menos detalhado do que o normal... mas é o que da para fazer por enquanto. Parte II vem domingo cedo ou sábado a noite. Semana que vem a vida volta (oremos) ao normal, e voltamos a fazer essas coisas com calma. Por enquanto... Bem...
Dos quatro jogos desse final de semana pelos playoffs da NFL, três deles são revanches de jogos que aconteceram durante a temporada regular, a exceção sendo Patriots e Colts. E como é de praxe, muita gente vai usar esses jogos como a base do que esperar para cada um desses três confrontos, sendo um ponto de partida.
Isso não esta de todo errado, e esses jogos não são irrelevantes: afinal, são os mesmos times, com os elencos quase iguais, e muitas vezes o resultado de um jogo é consequência direta dessas condições naturais das equipes. Mas é um erro muito comum achar que os jogos acontecem sob as mesmas circunstâncias. Um jogo é uma amostra pequena demais, na qual afetam diversos fatores: o estado dos jogadores naquele dia (quem diz que Drew Brees não comeu uma lagosta estragada na véspera da partida?), alguns jogadores que poderiam ou não se encontrar machucados ou abaixo da sua forma física ideal (e cuja condição mudou para o segundo jogo), algumas jogadas tem um fator de aleatoriedade alto (drops, recuperações de fumbles, TDs defensivos, etc) e dificilmente se repetiriam da mesma forma com uma amostra maior, o tipo de preparo de cada equipe para enfrentar o adversário, e tudo mais. Então sempre é uma armadilha levar ao pé da letra esse tipo de coisa.
Em outras palavras, o que eu quero dizer é que embora o Saints tenha sido dominado anteriormente na temporada em Seattle, perdendo de 34 a 7, isso não quer dizer que New Orleans vá tomar outra surra ou que não tenha chances de vencer nos confins do Century Link Field. É mais importante olhar o que aconteceu naquele jogo para acabar com esse placar, quais as mudanças que devem acontecer para esse jogo, e como o Saints pode evitar que isso se repita.
Descartando alguns fatores aleatórios que contribuíram para o placar elástico (em particular, o Seattle recuperando dois fumbles decisivos - um retornado para TD, um dentro da red zone, sendo que a chance de recuperar os dois, de acordo com Bill Barnwell, era de 19%), o principal motivo que levou Seattle a vencer aquele jogo de forma tranquila é o mesmo que levou o time a terminar a temporada como o melhor time da NFL (em DVOA): sua espetacular secundária. Entre Richard Sherman, Earl Thomas, Kam Chancellor, um infindável grupo de CBs reservas que se revezam e um grupo muito bom de LBs, é uma tarefa extremamente complicada lançar a bola contra essa secundária. Seattle terminou disparado em primeiro defendendo o passe na temporada, com o melhor DVOA que a NFL viu desde 2009, e o time ainda gerou 28 interceptações (a média da NFL foi de 16 por time). De fato, naquele jogo na semana 13 em Seattle, o Saints só passou para 144 jardas, de longe sua pior marca da temporada - o time não ficou abaixo de 230 em nenhum dos outros 16 jogos (incluindo playoffs) da temporada.
Então se alguém quiser vencer Seattle, vai ter que passar por cima dessa secundária infernal se quiser sair com a vitória. Esse é um problema particularmente maior para o Saints, o único time da NFC sem uma defesa de elite, e de longe o time que mais depende do passe entre os quatro times. A maior força de New Orleans é seu ataque, que terminou a temporada como o quinto melhor da NFL e o terceiro melhor ataque aéreo da liga. Eles possuem um Hall of Famer de QB em Drew Brees, uma das melhores mentes ofensivas da NFL em Sean Payton, um dos três melhores TEs da NFL em Jimmy Graham, e um grupo extremamente eficiente de armas funcionando em um esquema muito bem montado para tirar o máximo de cada uma delas. Quando esse ataque vai funcionando as mil maravilhas, o Saints é um time muito perigoso. Mas quando o ataque aéreo para de funcionar, é um problema. Por isso é tão perigoso o matchup para o Saints.
Então o Saints vai ter que dar um jeito de fazer seu ataque funcionar, coisa que não conseguiu na primeira partida. Como o time vai fazer isso é a questão. O time pode simplesmente bater de frente com a defesa aérea do time, e para isso conta com uma vantagem: ao contrário da primeira partida, Jimmy Graham está 100% saudável, e seu principal marcador, KJ Wright, está fora da partida. Esse é o tipo de coisa que eu disse lá em cima que muda de um jogo para outro, e que pode ser decisiva: Wright fez um trabalho excelente no recebedor mais perigoso do Saints, mas agora isso não vai ser mais uma opção. Então isso força o Seattle a se adaptar, seja colocando um outro LB inferior em Graham (o que daria mais espaço ao jogador e possivelmente atrairia marcação de um segundo jogador) ou colocando Richard Sherman no mano-a-mano em cima dele, o que naturalmente abriria o resto do campo para os demais jogadores. Então Graham (e a forma como Seattle vai cobrí-lo) é o wild card desse duelo, e se o TE conseguir forçar novos ajustes da defesa, vai ser uma vitória para o ataque de New Orleans e um bom começo para tentar vencer esse duelo.
Uma alternativa que o Saints pode recorrer é tentar vencer o jogo sem precisar desafiar direto a defesa aérea do adversário, através do jogo corrido. A defesa de Seattle não é horrível contra o jogo terrestre, é até boa, mas mostrou bastante vulnerabilidade no final da temporada contra ataques mais competentes. Explorar esse ponto seria uma forma de encurtar as descidas (evitando que Brees precisasse ficar muito tempo no pocket com um LT calouro contra um ótimo pass rush), controlar o relógio, fazer funcionar o play action (Brees teve rating de 116 lançando para Kenny Stills em profundidade e está com 15 TDs e só 2 INTs em passes que viajam mais de 20 jardas) e eventualmente forçar ajustes da defesa e abrir linhas de passe. O problema com essa estratégia é fazer funcionar, já que o Saints não teve um bom ataque terrestre ao longo da temporada, o 19th melhor apenas com 3.8 jardas por tentativa. Pierre Thomas, o líder em corridas do time, não deve jogar no sábado, o que piora a situação. Então New Orleans vai ter trabalho para impor seu jogo terrestre e executar um estilo de jogo que não está acostumado e não é aquele para o qual seu elenco foi construído. Ainda assim, existe uma luz no fim do túnel nesse sentido para NO: semana passada, contra o Eagles, o time entrou com um plano de jogo voltado para o ataque terrestre, e deu muito certo. Foram 30 passes contra 36 corridas, que geraram um total de 185 jardas (5.1 jardas por corrida). Tudo bem que a defesa terrestre do Eagles é muito inferior a do Seattle, mas é um sinal encorajador que o Saints tenha entrado com esse plano de jogo e tido sucesso nele. Conseguir ou não fazer o mesmo contra uma defesa superior de Seattle vai ser a chave para o jogo.
Do outro lado, a questão crucial que tiramos do primeiro jogo é saber como o Saints vai fazer para conter Russell Wilson fora do pocket. Wilson é bom dentro ou fora dele, mas ele é particularmente mortal quando está saindo do pocket, confundindo a defesa e correndo para first downs ou criando novas linhas de passe. Ele fez isso frequentemente no primeiro jogo - muitas vezes saindo da read option - e a defesa simplesmente não parecia preparada. Jogadores pareciam confusos sobre quem iria cobrir o que, com muitas vezes dois jogadores realizando a mesma função, a secundária inteira batendo cabeças e deixando jogadores livres - o que significa que Russell Wilson passou o dia todo lançando para WRs livres. Agora o Saints me parece mais vacinado, e mesmo sem Kenny Vaccaro, eu não espero tanta confusão de uma defesa que foi underrated ao longo da temporada regular. Não que eu ache que a defesa de NO vá vencer o jogo sozinha contra um bom ataque no estádio mais difícil de se jogar da NFL, mas também não acho que o ataque de Seattle vá colocar um número impossível de pontos no placar de forma que o Saints não consiga mais alcançar contra sua secundária. No final, o que vai mesmo definir o jogo vai ser ataque do Saints vs defesa do Seahawks.
Eu acho que esse jogo não vai ser tão fácil quanto o da temporada regular: New Orleans está mais preparado em termos de esquema e principalmente de pessoal (com Graham 100% e Wright fora). Seattle tem parecido um poooouco decepcionante nas últimas semanas, e o Saints tem Drew fucking Brees. E não acho provável que Seattle ganhe todos os golpes de sorte como foi na semana 12. Então não acho que vá ser um jogo fácil. Mas acho que no final, prevalece o melhor time com o mando de campo. Seahawks 23, Saints 20.
O único jogo desse final de semana que não é uma segunda ou terceira versão de um confronto da temporada regular. Então para esse, temos que analisar os dois times separadamente.
A história da temporada para o New England Patriots, outra além do fato de Bill Belichick e Tom Brady terem reinventado esse time e transformado Julian Edelman em Wes Welker 2.0, é que o time atual de New England tem muito pouco a ver com o time que deveria ser quando a temporada começou. Todo tipo de lesões ou mesmo de performances abaixo do esperado mudaram drasticamente a cara da lineup de New England, e com isso, mudaram também as qualidades e fraquezas da equipe - em geral favorecendo a segunda. Só do lado defensivo da bola, New England perdeu Vince Wilfork, seu reserva Tommy Kelly, seus dois melhores LBs (Brandon Spikes, #6 da temporada per PFF e uma força contra a corrida, e Jerod Mayo, melhor na cobertura), seu safety (Adrian Wilson) e viu uma lesão derrubar Aqib Talib de "um dos melhores CBs da primeira metade da temporada" para "um dos piores da segunda metade" (não, sério, olha a diferença). Como era de se esperar com tudo isso de lesões, o que deveria ser uma muito sólida defesa de New England no começo da temporada foi piorando consideravelmente ao longo do ano: a equipe acabou o ano com um DVOA defensivo de 4.1%, 21st melhor da NFL apenas. Mas considerando o DVOA ajustado - que da peso maior quanto mais tarde na temporada o jogo, de forma a melhor refletir a evolução da equipe ao longo da temporada - o Patriots terminou o ano com DVOA defensivo de 9.2%, marca que teria colocado New England como 25th melhor defesa apenas. É uma queda bastante brutal.
Mais especificamente, o Patriots tem sido abismal defendendo a corrida desde a lesão de Wilfork e Kelly, terminando como a quarta pior defesa terrestre da temporada regular. Esse problema não vai ser ajudado por Brandon Spikes indo no IR, e agora o time vai ter novamente que confiar em jogadores de special teams ou calouros não-draftados. A secundária tem ainda Devin McCourty, em ótima temporada, mas seu sucesso no começo da temporada se devia a capacidade de Talib de marcar no 1-1 o melhor defensor do adversário. Desde que Talib se machucou e entrou em uma fase difícil, a defesa sofreu com as consequências: o time foi o quinto pior da NFL marcando WRs #2 e demais WRs, e depois da lesão de Mayo, muita dificuldade marcando TEs e RBs pelo meio do campo. E por mais que Bill Belichick seja um dos melhores técnicos defensivos da NFL e tenha tido muito sucesso em anos recentes montando defesas fortes com um monte de jogadores pouco importantes em torno de seu núcleo, sem o núcleo de jogadores nível Pro Bowl nem ele é capaz de montar uma defesa de elite.
E é essa defesa que o Colts vai ter que explorar se quiser vencer New England nos confins gelados do Gilette Stadium. O Colts já mostrou mais uma vez que sua defesa tem muitas falhas semana passada, tomando 44 pontos do Chiefs. Indy terminou a temporada regular como uma defesa bem mediana, 16th overall com DVOA de 0.8%, mas também foram a defesa mais inconsistente da temporada: eles começaram a temporada muito forte, pularam para uma das piores unidades da NFL no meio da temporada, e dai terminaram com boas performances nas vitórias da equipe. É difícil saber exatamente como vai ser essa defesa, já que parecem mudar tanto jogo a jogo.
O segredo da defesa do Colts, em geral, tem sido Robert Mathis. Quando o possível DPOY da temporada esta conseguindo separação na linha, pressionando QBs e conseguindo sacks e fumbles, a defesa do time se estabelece e consegue ser eficiente. Mas quando Mathis não está tendo sucesso, a falta de outros pass rushers e a falta de jogadores mais competentes na secundária torna essa defesa extremamente vulnerável ao passe. Contra Tom Brady no frio de Foxborough e em um jogo que, pela falta de qualidade das defesas, parece estar caminhando para um jogo de placar alto em um duelo de ataques, a chave da partida parece ser justamente se Mathis consegue importunar Brady o suficiente para tirar o ataque de New England de ritmo.
Por sorte, o Patriots conta com mais duas lesões sérias e importantes no ataque. A primeira, claro, é Rob Gronkowski, o alvo de confiança de Tom Brady e possivelmente o melhor TE da NFL. A ausência de Gronk trás uma vantagem extremamente óbvia: ele é o melhor recebedor da equipe e o cara que Brady tem confiança para lançar a bola, então sem ele o time não precisa comprometer tanta ajuda defensiva a um jogador só, e portanto segura mais tempo a cobertura enquanto espera alguém atrapalhar o QB no pocket. Da mesma forma, sem ele Brady não tem sua opção de segurança, aquele cara que é só jogar a bola perto que consegue a recepção, o que força o QB a analisar mais o campo e esperar uma abertura maior para soltar a bola. Mas talvez ainda mais importante seja outra lesão do Patriots, a do OT Sebastian Vollmer. Vollmer era o melhor jogador de linha de New England, e desde que ele machucou o lado direito da linha não tem sido o mesmo, com seu reserva Marcus Cannon misturando performances sólidas com verdadeiras atrocidades. Com Nate Solder de volta, Mathis provavelmente deve alinhar mais do lado esquerdo da linha do Colts para ficar no matchup com Cannon, e esse é o duelo mais importante do jogo. Andrew Luck e o Colts vão conseguir pontuar contra a fraca defesa de New England, mas o ataque do Patriots é bom demais e muito superior. Mesmo sem Gronk, o time achou uma rotação eficiente no jogo terrestre, e Shane Vereen e Edelman estão jogando bem demais (e eles tem Tom Brady, btw). Então se for uma batalha de volume ofensivo, o Patriots tem uma clara vantagem.
Por isso é tão crucial que Mathis apareça. A defesa do Colts é melhor, mas não o suficiente para sozinha tirar a diferença entre os ataques. Para isso, você precisa que o melhor jogador defensivo da partida cause o tipo de caos para desestabilizar Tom Brady, e tire todo o ataque do Patriots de sintonia. Você não tem um jogador capaz de fazer isso na defesa do Patriots atualmente, mas você tem um jogador na do Colts. O segredo por trás da vitória surpreendente do Colts sobre o Denver no começo da temporada, em situação semelhante, foi justamente esse: Robert Mathis conseguiu um sack, um fumble crucial, e consistentemente estava fungando no pescoço de Peyton Manning, impedindo que o QB ficasse confortável no pocket e estabelecesse seu ritmo. Se o Colts quiser vencer esse jogo, ele vai ter que fazer o mesmo com Tom Brady, e Marcus Cannon é o caminho para isso.
Outra opção pra o Colts é jogar controlando o ataque de New England. Em outras palavras, explorar a horrível e embaraçosa defesa terrestre de New England (que deve ser ainda pior depois de perder o bom Spikes) para controlar o relógio, manter o ataque do Patriots fora de campo, e garantir que o grande problema de New England (a defesa) continue jogando. Assim você mantém seu ataque mais tempo em campo e tira o ritmo ofensivo da outra equipe. Claro, é mais fácil fazer isso quando seu RB não é Trent "duas jardas" Richardson, mas Donald Brown vem jogando muito bem e o próprio Andrew Luck pode correr quando necessário. Em geral, o Colts é um time muito mais eficiente quando passa a bola primeiro e corre depois como consequência, então não é como se o time fosse cometer com o jogo terrestre a partida toda, mas é uma peça que precisa estar no arsenal.
E também tem isso: nos últimos oito anos, a rodada divisional sempre apresenta uma grande zebra. Sete dos oito últimos anos, essa zebra envolveu um time que era underdog por pelo menos 7 pontos. Em outras palavras, esse ano temos três candidatos: Saints at Seattle, Colts at Patriots, e Chargers at Denver (Niners e Panthers o spread é de 1 ponto). Eu me sinto obrigado então a apostar em pelo menos uma zebra, e vai ser o Colts (semana passada foi o Chargers, vocês viram como acabou). Eu sei que Pats é um time bem melhor e joga em casa, mas a defesa é simplesmente abismal, e Andrew Luck já provou que foi colocado nessa Terra para vencer jogos no quarto período. Se o ataque do Pats começar a sair de sintonia - um grande se - eu consigo ver o Colts aproveitando a brecha e saindo com a vitória. Não vai ser fácil e é provavelmente uma aposta burra, mas via pelo feeling. Colts 34, Patriots 33.
PARTE II VINDO SÁBADO OU DOMINGO!
New Orleans Saints at Seattle Seahawks (Seattle favorito por 8 pontos)
Dos quatro jogos desse final de semana pelos playoffs da NFL, três deles são revanches de jogos que aconteceram durante a temporada regular, a exceção sendo Patriots e Colts. E como é de praxe, muita gente vai usar esses jogos como a base do que esperar para cada um desses três confrontos, sendo um ponto de partida.
Isso não esta de todo errado, e esses jogos não são irrelevantes: afinal, são os mesmos times, com os elencos quase iguais, e muitas vezes o resultado de um jogo é consequência direta dessas condições naturais das equipes. Mas é um erro muito comum achar que os jogos acontecem sob as mesmas circunstâncias. Um jogo é uma amostra pequena demais, na qual afetam diversos fatores: o estado dos jogadores naquele dia (quem diz que Drew Brees não comeu uma lagosta estragada na véspera da partida?), alguns jogadores que poderiam ou não se encontrar machucados ou abaixo da sua forma física ideal (e cuja condição mudou para o segundo jogo), algumas jogadas tem um fator de aleatoriedade alto (drops, recuperações de fumbles, TDs defensivos, etc) e dificilmente se repetiriam da mesma forma com uma amostra maior, o tipo de preparo de cada equipe para enfrentar o adversário, e tudo mais. Então sempre é uma armadilha levar ao pé da letra esse tipo de coisa.
Em outras palavras, o que eu quero dizer é que embora o Saints tenha sido dominado anteriormente na temporada em Seattle, perdendo de 34 a 7, isso não quer dizer que New Orleans vá tomar outra surra ou que não tenha chances de vencer nos confins do Century Link Field. É mais importante olhar o que aconteceu naquele jogo para acabar com esse placar, quais as mudanças que devem acontecer para esse jogo, e como o Saints pode evitar que isso se repita.
Descartando alguns fatores aleatórios que contribuíram para o placar elástico (em particular, o Seattle recuperando dois fumbles decisivos - um retornado para TD, um dentro da red zone, sendo que a chance de recuperar os dois, de acordo com Bill Barnwell, era de 19%), o principal motivo que levou Seattle a vencer aquele jogo de forma tranquila é o mesmo que levou o time a terminar a temporada como o melhor time da NFL (em DVOA): sua espetacular secundária. Entre Richard Sherman, Earl Thomas, Kam Chancellor, um infindável grupo de CBs reservas que se revezam e um grupo muito bom de LBs, é uma tarefa extremamente complicada lançar a bola contra essa secundária. Seattle terminou disparado em primeiro defendendo o passe na temporada, com o melhor DVOA que a NFL viu desde 2009, e o time ainda gerou 28 interceptações (a média da NFL foi de 16 por time). De fato, naquele jogo na semana 13 em Seattle, o Saints só passou para 144 jardas, de longe sua pior marca da temporada - o time não ficou abaixo de 230 em nenhum dos outros 16 jogos (incluindo playoffs) da temporada.
Então se alguém quiser vencer Seattle, vai ter que passar por cima dessa secundária infernal se quiser sair com a vitória. Esse é um problema particularmente maior para o Saints, o único time da NFC sem uma defesa de elite, e de longe o time que mais depende do passe entre os quatro times. A maior força de New Orleans é seu ataque, que terminou a temporada como o quinto melhor da NFL e o terceiro melhor ataque aéreo da liga. Eles possuem um Hall of Famer de QB em Drew Brees, uma das melhores mentes ofensivas da NFL em Sean Payton, um dos três melhores TEs da NFL em Jimmy Graham, e um grupo extremamente eficiente de armas funcionando em um esquema muito bem montado para tirar o máximo de cada uma delas. Quando esse ataque vai funcionando as mil maravilhas, o Saints é um time muito perigoso. Mas quando o ataque aéreo para de funcionar, é um problema. Por isso é tão perigoso o matchup para o Saints.
Então o Saints vai ter que dar um jeito de fazer seu ataque funcionar, coisa que não conseguiu na primeira partida. Como o time vai fazer isso é a questão. O time pode simplesmente bater de frente com a defesa aérea do time, e para isso conta com uma vantagem: ao contrário da primeira partida, Jimmy Graham está 100% saudável, e seu principal marcador, KJ Wright, está fora da partida. Esse é o tipo de coisa que eu disse lá em cima que muda de um jogo para outro, e que pode ser decisiva: Wright fez um trabalho excelente no recebedor mais perigoso do Saints, mas agora isso não vai ser mais uma opção. Então isso força o Seattle a se adaptar, seja colocando um outro LB inferior em Graham (o que daria mais espaço ao jogador e possivelmente atrairia marcação de um segundo jogador) ou colocando Richard Sherman no mano-a-mano em cima dele, o que naturalmente abriria o resto do campo para os demais jogadores. Então Graham (e a forma como Seattle vai cobrí-lo) é o wild card desse duelo, e se o TE conseguir forçar novos ajustes da defesa, vai ser uma vitória para o ataque de New Orleans e um bom começo para tentar vencer esse duelo.
Uma alternativa que o Saints pode recorrer é tentar vencer o jogo sem precisar desafiar direto a defesa aérea do adversário, através do jogo corrido. A defesa de Seattle não é horrível contra o jogo terrestre, é até boa, mas mostrou bastante vulnerabilidade no final da temporada contra ataques mais competentes. Explorar esse ponto seria uma forma de encurtar as descidas (evitando que Brees precisasse ficar muito tempo no pocket com um LT calouro contra um ótimo pass rush), controlar o relógio, fazer funcionar o play action (Brees teve rating de 116 lançando para Kenny Stills em profundidade e está com 15 TDs e só 2 INTs em passes que viajam mais de 20 jardas) e eventualmente forçar ajustes da defesa e abrir linhas de passe. O problema com essa estratégia é fazer funcionar, já que o Saints não teve um bom ataque terrestre ao longo da temporada, o 19th melhor apenas com 3.8 jardas por tentativa. Pierre Thomas, o líder em corridas do time, não deve jogar no sábado, o que piora a situação. Então New Orleans vai ter trabalho para impor seu jogo terrestre e executar um estilo de jogo que não está acostumado e não é aquele para o qual seu elenco foi construído. Ainda assim, existe uma luz no fim do túnel nesse sentido para NO: semana passada, contra o Eagles, o time entrou com um plano de jogo voltado para o ataque terrestre, e deu muito certo. Foram 30 passes contra 36 corridas, que geraram um total de 185 jardas (5.1 jardas por corrida). Tudo bem que a defesa terrestre do Eagles é muito inferior a do Seattle, mas é um sinal encorajador que o Saints tenha entrado com esse plano de jogo e tido sucesso nele. Conseguir ou não fazer o mesmo contra uma defesa superior de Seattle vai ser a chave para o jogo.
Do outro lado, a questão crucial que tiramos do primeiro jogo é saber como o Saints vai fazer para conter Russell Wilson fora do pocket. Wilson é bom dentro ou fora dele, mas ele é particularmente mortal quando está saindo do pocket, confundindo a defesa e correndo para first downs ou criando novas linhas de passe. Ele fez isso frequentemente no primeiro jogo - muitas vezes saindo da read option - e a defesa simplesmente não parecia preparada. Jogadores pareciam confusos sobre quem iria cobrir o que, com muitas vezes dois jogadores realizando a mesma função, a secundária inteira batendo cabeças e deixando jogadores livres - o que significa que Russell Wilson passou o dia todo lançando para WRs livres. Agora o Saints me parece mais vacinado, e mesmo sem Kenny Vaccaro, eu não espero tanta confusão de uma defesa que foi underrated ao longo da temporada regular. Não que eu ache que a defesa de NO vá vencer o jogo sozinha contra um bom ataque no estádio mais difícil de se jogar da NFL, mas também não acho que o ataque de Seattle vá colocar um número impossível de pontos no placar de forma que o Saints não consiga mais alcançar contra sua secundária. No final, o que vai mesmo definir o jogo vai ser ataque do Saints vs defesa do Seahawks.
Eu acho que esse jogo não vai ser tão fácil quanto o da temporada regular: New Orleans está mais preparado em termos de esquema e principalmente de pessoal (com Graham 100% e Wright fora). Seattle tem parecido um poooouco decepcionante nas últimas semanas, e o Saints tem Drew fucking Brees. E não acho provável que Seattle ganhe todos os golpes de sorte como foi na semana 12. Então não acho que vá ser um jogo fácil. Mas acho que no final, prevalece o melhor time com o mando de campo. Seahawks 23, Saints 20.
Indianapolis Colts at New England Patriots (New England favorito por 7 pontos)
O único jogo desse final de semana que não é uma segunda ou terceira versão de um confronto da temporada regular. Então para esse, temos que analisar os dois times separadamente.
A história da temporada para o New England Patriots, outra além do fato de Bill Belichick e Tom Brady terem reinventado esse time e transformado Julian Edelman em Wes Welker 2.0, é que o time atual de New England tem muito pouco a ver com o time que deveria ser quando a temporada começou. Todo tipo de lesões ou mesmo de performances abaixo do esperado mudaram drasticamente a cara da lineup de New England, e com isso, mudaram também as qualidades e fraquezas da equipe - em geral favorecendo a segunda. Só do lado defensivo da bola, New England perdeu Vince Wilfork, seu reserva Tommy Kelly, seus dois melhores LBs (Brandon Spikes, #6 da temporada per PFF e uma força contra a corrida, e Jerod Mayo, melhor na cobertura), seu safety (Adrian Wilson) e viu uma lesão derrubar Aqib Talib de "um dos melhores CBs da primeira metade da temporada" para "um dos piores da segunda metade" (não, sério, olha a diferença). Como era de se esperar com tudo isso de lesões, o que deveria ser uma muito sólida defesa de New England no começo da temporada foi piorando consideravelmente ao longo do ano: a equipe acabou o ano com um DVOA defensivo de 4.1%, 21st melhor da NFL apenas. Mas considerando o DVOA ajustado - que da peso maior quanto mais tarde na temporada o jogo, de forma a melhor refletir a evolução da equipe ao longo da temporada - o Patriots terminou o ano com DVOA defensivo de 9.2%, marca que teria colocado New England como 25th melhor defesa apenas. É uma queda bastante brutal.
Mais especificamente, o Patriots tem sido abismal defendendo a corrida desde a lesão de Wilfork e Kelly, terminando como a quarta pior defesa terrestre da temporada regular. Esse problema não vai ser ajudado por Brandon Spikes indo no IR, e agora o time vai ter novamente que confiar em jogadores de special teams ou calouros não-draftados. A secundária tem ainda Devin McCourty, em ótima temporada, mas seu sucesso no começo da temporada se devia a capacidade de Talib de marcar no 1-1 o melhor defensor do adversário. Desde que Talib se machucou e entrou em uma fase difícil, a defesa sofreu com as consequências: o time foi o quinto pior da NFL marcando WRs #2 e demais WRs, e depois da lesão de Mayo, muita dificuldade marcando TEs e RBs pelo meio do campo. E por mais que Bill Belichick seja um dos melhores técnicos defensivos da NFL e tenha tido muito sucesso em anos recentes montando defesas fortes com um monte de jogadores pouco importantes em torno de seu núcleo, sem o núcleo de jogadores nível Pro Bowl nem ele é capaz de montar uma defesa de elite.
E é essa defesa que o Colts vai ter que explorar se quiser vencer New England nos confins gelados do Gilette Stadium. O Colts já mostrou mais uma vez que sua defesa tem muitas falhas semana passada, tomando 44 pontos do Chiefs. Indy terminou a temporada regular como uma defesa bem mediana, 16th overall com DVOA de 0.8%, mas também foram a defesa mais inconsistente da temporada: eles começaram a temporada muito forte, pularam para uma das piores unidades da NFL no meio da temporada, e dai terminaram com boas performances nas vitórias da equipe. É difícil saber exatamente como vai ser essa defesa, já que parecem mudar tanto jogo a jogo.
O segredo da defesa do Colts, em geral, tem sido Robert Mathis. Quando o possível DPOY da temporada esta conseguindo separação na linha, pressionando QBs e conseguindo sacks e fumbles, a defesa do time se estabelece e consegue ser eficiente. Mas quando Mathis não está tendo sucesso, a falta de outros pass rushers e a falta de jogadores mais competentes na secundária torna essa defesa extremamente vulnerável ao passe. Contra Tom Brady no frio de Foxborough e em um jogo que, pela falta de qualidade das defesas, parece estar caminhando para um jogo de placar alto em um duelo de ataques, a chave da partida parece ser justamente se Mathis consegue importunar Brady o suficiente para tirar o ataque de New England de ritmo.
Por sorte, o Patriots conta com mais duas lesões sérias e importantes no ataque. A primeira, claro, é Rob Gronkowski, o alvo de confiança de Tom Brady e possivelmente o melhor TE da NFL. A ausência de Gronk trás uma vantagem extremamente óbvia: ele é o melhor recebedor da equipe e o cara que Brady tem confiança para lançar a bola, então sem ele o time não precisa comprometer tanta ajuda defensiva a um jogador só, e portanto segura mais tempo a cobertura enquanto espera alguém atrapalhar o QB no pocket. Da mesma forma, sem ele Brady não tem sua opção de segurança, aquele cara que é só jogar a bola perto que consegue a recepção, o que força o QB a analisar mais o campo e esperar uma abertura maior para soltar a bola. Mas talvez ainda mais importante seja outra lesão do Patriots, a do OT Sebastian Vollmer. Vollmer era o melhor jogador de linha de New England, e desde que ele machucou o lado direito da linha não tem sido o mesmo, com seu reserva Marcus Cannon misturando performances sólidas com verdadeiras atrocidades. Com Nate Solder de volta, Mathis provavelmente deve alinhar mais do lado esquerdo da linha do Colts para ficar no matchup com Cannon, e esse é o duelo mais importante do jogo. Andrew Luck e o Colts vão conseguir pontuar contra a fraca defesa de New England, mas o ataque do Patriots é bom demais e muito superior. Mesmo sem Gronk, o time achou uma rotação eficiente no jogo terrestre, e Shane Vereen e Edelman estão jogando bem demais (e eles tem Tom Brady, btw). Então se for uma batalha de volume ofensivo, o Patriots tem uma clara vantagem.
Por isso é tão crucial que Mathis apareça. A defesa do Colts é melhor, mas não o suficiente para sozinha tirar a diferença entre os ataques. Para isso, você precisa que o melhor jogador defensivo da partida cause o tipo de caos para desestabilizar Tom Brady, e tire todo o ataque do Patriots de sintonia. Você não tem um jogador capaz de fazer isso na defesa do Patriots atualmente, mas você tem um jogador na do Colts. O segredo por trás da vitória surpreendente do Colts sobre o Denver no começo da temporada, em situação semelhante, foi justamente esse: Robert Mathis conseguiu um sack, um fumble crucial, e consistentemente estava fungando no pescoço de Peyton Manning, impedindo que o QB ficasse confortável no pocket e estabelecesse seu ritmo. Se o Colts quiser vencer esse jogo, ele vai ter que fazer o mesmo com Tom Brady, e Marcus Cannon é o caminho para isso.
Outra opção pra o Colts é jogar controlando o ataque de New England. Em outras palavras, explorar a horrível e embaraçosa defesa terrestre de New England (que deve ser ainda pior depois de perder o bom Spikes) para controlar o relógio, manter o ataque do Patriots fora de campo, e garantir que o grande problema de New England (a defesa) continue jogando. Assim você mantém seu ataque mais tempo em campo e tira o ritmo ofensivo da outra equipe. Claro, é mais fácil fazer isso quando seu RB não é Trent "duas jardas" Richardson, mas Donald Brown vem jogando muito bem e o próprio Andrew Luck pode correr quando necessário. Em geral, o Colts é um time muito mais eficiente quando passa a bola primeiro e corre depois como consequência, então não é como se o time fosse cometer com o jogo terrestre a partida toda, mas é uma peça que precisa estar no arsenal.
E também tem isso: nos últimos oito anos, a rodada divisional sempre apresenta uma grande zebra. Sete dos oito últimos anos, essa zebra envolveu um time que era underdog por pelo menos 7 pontos. Em outras palavras, esse ano temos três candidatos: Saints at Seattle, Colts at Patriots, e Chargers at Denver (Niners e Panthers o spread é de 1 ponto). Eu me sinto obrigado então a apostar em pelo menos uma zebra, e vai ser o Colts (semana passada foi o Chargers, vocês viram como acabou). Eu sei que Pats é um time bem melhor e joga em casa, mas a defesa é simplesmente abismal, e Andrew Luck já provou que foi colocado nessa Terra para vencer jogos no quarto período. Se o ataque do Pats começar a sair de sintonia - um grande se - eu consigo ver o Colts aproveitando a brecha e saindo com a vitória. Não vai ser fácil e é provavelmente uma aposta burra, mas via pelo feeling. Colts 34, Patriots 33.
PARTE II VINDO SÁBADO OU DOMINGO!
Mesmo o Brees tendo vencido o jogo fore de casa semana passada, ainda não creio que a zica de jogar fora tenha abandonado o Saints. Não contra o melhor time da temporada em casa. Creio que vai ser duro e difícil, mas vou de Seahawks.
ResponderExcluirNa AFC vou de Patriots porque me parece um time mais consistente, com menos oscilação, que pareceu sempre bom a temporada toda. Nunca pareceu ótimo e nunca pareceu mediano, sempre pareceu bom. O Colts indicava que seria mediano, começou ótimo, ficou péssimo e teminou médio-bom. Ganhou um jogo, ao meu ver, por pura sorte. Não creio que baste pra vencer Tom Brady, mesmo se tratando de Andy Luck.