Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A melhor e mais maluca trade deadline

Melhor resumo para ontem a tarde, impossível 



Antes de começar, sirva-se de uma xícara de café. Agora outra. E mais uma, só pra garantir. Estamos prestes a nos embaralhar e confundir falando da mais agitada e mais insana trade deadline que eu me lembro. 38 jogadores (isso da 8% de toda a NBA!) foram trocados, junto com 7 escolhas de primeira rodada de Draft, em um período de 90 minutos. Pelo menos seis (!) times de playoffs estiveram envolvidos em trocas. Foi uma sequência tão grande de trocas, negociações e movimentações que foi praticamente impossível acompanhar em tempo real, ao ponto que até o próprio Woj entregou pra Deus:




Então foi maluco a esse ponto mesmo. A quantidade de jogadores que disse não ter idéia de onde jogava ou quem eram seus companheiros ao final de toda a zona foi incrível. Eu próprio estava na dúvida se tinha sido ou não trocado para o Suns. Então vamos tentar passar rapidamente por todas essas trocas - sim, uma a uma - pra ver o que saiu de bom e o que saiu de ruim dai.



Suns recebe John Salmons (Pelicans) e duas escolhas futuras (2017 e 2021) de primeira rodada (Heat); Pelicans recebe Shawne Williams, Norris Cole e Justin Hamilton (Heat); Heat recebe Goran e Zoran Dragic (Suns)

A mais importante troca da noite envolveu Goran Dragic, que tinha dado essa semana um ultimato para a diretoria do Suns trocá-lo, dizendo que não renovaria com o time ao final da temporada... e ainda destruiu seu próprio valor de troca afirmando que só renovaria contrato se fosse trocado para Knicks, Heat ou Lakers - três times sem nenhum bom ativo para trocar pelo esloveno. Celtics, Kings e Rockets estavam interessados no armador e teriam muito mais a oferecer ao Suns por ele, mas com essa demanda mimada, os três se retiraram da troca e forçaram Phoenix a aceitar a melhor oferta lixo entre as "demandas" de Dragic. O Knicks nada tinha a oferecer, e o Lakers (sabiamente) não iria envolver Randle ou a proteção da sua escolha de primeira rodada que hoje pertence ao Suns, então sobrou para Phoenix aceitar esse pu-pu-platter de Miami por alguém que eu votei como  2nd Team All-NBA em 2014. É um retorno muito fraco por ele, mas é o melhor que Phoenix tinha condições de conseguir nessas circunstâncias.

E Miami aproveitou para roubar a peça que mais precisava nessa trade deadline. Talvez nenhum time o ano todo teve pior produção de seus PGs do que o Heat, onde Norris Cole e Mario Chalmers passaram de "ruins" para "legitimamente prejudiciais" - um problema que ficou ainda mais evidente sem Wade para assumir parte das funções de ball handler. Dragic chega para resolver a questão. Ainda que seus números tenham caído em 2014/15 (16, 4, 4), isso se deve principalmente ao fato de que Dragic tem jogado principalmente como SG, já que o Suns emprega o tempo quase todo lineups com dois armadores diferentes (Bledsoe, Thomas e Dragic), e tanto Bledsoe como Thomas costumam ter mais a bola nas mãos do que Dragic. Mas ano passado todo mundo viu o quanto Dragic pode ser devastador, quando teve 20-6-3 de médias com 50.5 FG% e 40.8 3PT%. Miami precisava de um armador, e agora achou um excelente.

O que é ainda mais interessante é que, em Phoenix, Dragic causou seus maiores estragos no pick and roll e no pick and pop. Aliás, o pick and pop Dragic-Channing Frye foi, em 2014, a jogada com maior eficiência de TODO o basquete, já que Dragic é um especialista em atacar e finalizar perto da cesta (64.8 FG% na zona restrita), abrindo diversas opções de passe no processo. Então é difícil não salivar quando lembramos que agora o eslovêno terá outra máquina de pick and pop em Chris Bosh, e uma excelente opção de pick and roll no novo fenômeno Hassan Whiteside (1.57 PPP em jogadas de pick and roll). Não só é o jogador da posição que Miami mais precisava, mas é alguém que (em teoria) casa perfeitamente com as outras opções já na equipe e que trás exatamente o que o time mais precisa nesse momento.

E a verdade é que, se Wade voltar saudável, o Heat agora vira um dos times mais assustadores do Leste. É verdade que o time perdeu um pouco da sua profundidade para essa troca, mas um quinteto Dragic-Wade-Deng-Bosh-Whiteside é legitimamente assustador, e consolida Miami como um sério candidato ao título do Leste. Agora o Leste tem quatro times legitimamente brigando pelo título da conferência (Miami, Atlanta, Cleveland e Chicago), além de alguns sleepers (Washington e Toronto), e o nível de entretenimento desses playoffs subiu exponencialmente. Aquisição fantástica de Miami. Lembra quando em Setembro tinha muita gente que achava que Miami deveria tankar pós-LeBron?

O Pelicans aqui aproveitou para aumentar suas opções e profundidade, mas nada que vá mudar seu destino. E Phoenix não teve escolha, então pelo menos pegou o melhor retorno possível e abriu espaço pra Isaiah Thomas e Bledsoe jogarem mais tempo juntos e assumirem o comando do...


Suns recebe Marcus Thornton e uma escolha de primeira rodada de 2016 de Cleveland; Boston recebe Isaiah Thomas

Wait, what?! 

Para falar mais dessa troca, precisamos falar de outra do Suns, então por enquanto, vamos focar no Celtics.

Em termos de valor, esse foi um golpe fantástico do Celtics. Thornton era um contrato expirante de pouco valor, e essa escolha do Cavs (que o Celtics pegou para absorver o contrato de Tyler Zeller, que tem jogado bem em Boston) provavelmente não teria muito valor a não ser que LeBron decida que quer voltar pra Miami ou jogar baseball. E em troca pegou um dos melhores armadores reservas da NBA, alguém que consegue atacar a cesta, pontuar a vontade e carregar seu ataque por sólidos minutos - e cujo contrato é uma pequena barganha a 7M ao ano. Então em termos de valor, foi uma grande vitória. 

O que me incomoda aqui é o timing. Boston trocou Rondo e Green, o que em parte poderia indicar que o time queria mais um ano de tanking, mas dai os boatos de que o Celtics estava no mercado atrás de algum bom veterano começaram a surgir. O próprio Dragic era uma opção, mas quando ficou claro que ele não renovaria fora do eixo LA-NY-Miami, Celtics se contentou com Isaiah Thomas. Estando 1.5 jogos apenas atrás de uma vaga de playoffs, Boston começou a pensar que o melhor a fazer era encurtar sua renovação e chegar logo aos playoffs, e fez mudanças para aumentar suas chances disso. Acho que nenhum torcedor racional de Boston acha melhor ser varrido pelo Hawks na primeira rodada dos playoffs do que uma escolha Top12 em um Draft onde, coincidentemente, o Top12 é excelente. A experiência de jogar nos playoffs é importante para um elenco jovem, sem dúvida, mas eu trocaria um ano disso por um Myles Turner ou Mario Hezonja em um piscar de olhos. A partir de 2016, o Celtics não precisa mais ser ruim para ter ótimas escolhas de Draft, graças ao Nets, mas porque não aproveitar mais um ano adicionando talentos antes de perseguir essa vaga nos playoffs? Não é como se o time tivesse qualquer chance de fazer qualquer estrago já esse ano.

Além disso, Boston já não tem em Marcus Smart seu armador do futuro, uma força da natureza na defesa que ainda está aprendendo a forma mais eficiente de conduzir um time no ataque? Smart tem um potencial muito maior que Thomas, mas precisa de tempo, repetições e experiência armando o time para poder se desenvolver. A não ser que Isaiah comece a vir do banco, ele vai tirar tempo de quadra e a bola das mãos de Smart, e ainda que HOJE Thomas seja um jogador ofensivo melhor, isso limita muito o potencial do time no médio prazo. Não da pra culpar um time por querer ganhar logo, mas o time está pensando demais no presente e menos no futuro, mesmo que isso signifique sacrificar o futuro de jogadores como Smart, Young, ou mesmo valores hipotéticos como quem o time pegaria nesse ótimo Draft.

Então o Celtics, em um vácuo, fez um bom negócio, adquirindo um bom jogador em um contrato favorável praticamente de graça. Mas resta ver se essa negociação vai custar ao time uma escolha Top12 e o desenvolvimento de seu armador do futuro - duas coisas muito mais importantes para o Celtics no médio e longo prazo do que o ex-Suns. Bom valor, mas considerável risco aqui.


Suns recebe Brandon Knight (Bucks); Bucks recebe Michael Carter-Williams (Sixers), Tyler Ennis e Miles Plumlee (Suns); 76ers recebe escolha de primeira rodada do Lakers de 2015 (protegida, via Suns).


... SUNS, WHAT ARE YOU DOING?! STAAAAAAPH!!

Antes de mais nada, uma pergunta séria: a gente tem certeza que Brandon Knight é tão bom assim? A primeira vista, é o que parece: o armador tem 18-4-5 de média com 40.8% de 3PT% e um bom PER de 18.5. Mas acontece que eu assisto basquete, e o Bucks desde o começo tem sido meu queridinho do League Pass desse ano. Então eu assisti muito do Bucks, e muito do Brandon Knight. E embora individualmente ele fizesse coisas boas, chamava muito minha atenção o quanto a presença dele atrapalhava a equipe. Ele segurava demais a bola, e parecia ter só duas mentalidades com ela nas mãos: fazer a cesta, ou dar uma assistência. Ele não rodava a bola, não se movimentava bem sem ela, e o time ficava dependente demais do que ele decidisse fazer. Uma quantidade muito irritante de posses de bola do Bucks acabava com Knight driblando a bola por 14 segundos e dando um passe para um mid-range jumper. E assim que ele saia de quadra, o Bucks começava a rodar a bola, achar jogadores livres, jogar de forma rápida e altruísta, e o time era mil vezes mais perigoso. Então não foi nenhuma surpresa alguma entrar ontem no NBA.com e descobrir que, com Brandon Knight em quadra, o Bucks tinha um rating de -0.2 por 100 posses de bola... e com Knight no banco, o Bucks tinha saldo +9.2/100 posses. Só tirando Knight de quadra, Milwaukee deixava de ser o Pelicans pra se tornar 2 pontos por 100 posses melhor que o Hawks. Ainda que boa parte disso se deva ao fato do Bucks ter um excelente banco... é bem significativo, não?

Mas o problema aqui, a meu ver, não é o Suns ter adqurido Knight, e sim ter dado a valiosíssima escolha de primeira rodada do Lakers que tinha no processo. Knight talvez até seja um melhor encaixe em Phoenix, onde jogará mais sem a bola, não vai estagnar tanto o ataque, e pode aproveitar mais seu bom arremesso, mas ele ainda é um jogador questionável, que vai ganhar um salário enorme ao final do ano (quando é FA restrito e alguém vai oferecer um contrato enorme)... e você da em troca uma escolha de Draft que tem tudo para ser Top6, seja esse ano ou no próximo?! Ahn?! Qual a lógica disso?? Porque não pegar Knight ao final da temporada, então? A troca do Dragic foi desfavorável, mas foi inevitável dada a situação que o armador colocou o time. Mas as subsequentes foram horríveis, e cheiram ao pânico de um time desesperado para ir aos playoffs. Trocar Thomas por absolutamente nada, depois trocar seu ativo mais valioso por um armador que é free agent ao final do ano, são duas trocas horríveis para Phoenix.

Eu não faço a melhor idéia do que o Suns estava pensando aqui, e embora eu admire bastante o GM Ryan McDonough, a minha impressão é de que ele está cometendo erro atrás de erro. Knight é comprar alto em um jogador mediano, e não só é um downgrade em relação a Dragic/Thomas, a escolha que mandaram embora por ele é mil vezes mais valiosa do que qualquer uma das três que tenham recebido no dia. O Suns saiu mais fraco dentro de quadra, e muito mais fraco em termos de ativo par ao futuro. Dia horrível de Phoenix. Perder Dragic era inevitável, e ao preço que receberiam, um grande golpe, mas não precisava jogar tudo pra cima e fingir um ataque cardíaco desse jeito.

Enquanto isso, o Bucks conseguiu talvez o roubo do dia. Knight era free agent ao final do ano, e com bons números, era certeza que alguém iria oferecer um contrato máximo para o armador, ou próximo disso. Milwaukee não queria pagar Knight esse valor todo, mas a alternativa de perdê-lo de graça também não era das mais interessantes. Então eles conseguiram a melhor alternativa possível, mandando Knight para Phoenix em troca de um ótimo retorno por um jogador que provavelmente perderiam de graça mesmo. Tyler Ennis e Miles Plumlee são boas peças de rotação para um time cujo grande trunfo na temporada é sua enorme profundidade e versatilidade, e Michael Carter-Williams é um grande talento que estava desperdiçando seus anos formadores em um time horrível que só queria saber de perder. Só de pensar em "MCW, Ennis e Plumlee por Knight", eu já acho que foi um excelente negócio para Milwaukee, mas quando lembramos que Knight era FA ao final do ano e ou iria sair, ou receberia uma bolada que não merecia e entupiria o cap do Bucks, esse negócio fica ainda mais espetacular. Tirando Miami, Milwaukee é o grande time vencedor da noite.

E claro, o maior vencedor em toda essa troca provavelmente foi o próprio Michael Carter-Williams. MCW sempre foi muito talentoso e um tanto quanto complicado, um grande talento com diversas limitações, que estava adquirindo maus hábitos e evoluindo muito lentamente em um time que pouco lhe oferecia de ajuda ou condições de crescer. Agora ele vai para um time extremamente profundo e talentoso onde vai jogar logo de cara em jogos importantes e competitivos, vai ter que evoluir na marra... e talvez mais importante, vai jogar para Jason Kidd, que sabe exatamente como é ser um armador incapaz de arremessar e que é a melhor pessoa não só para moldá-lo em um jogador melhor, como em saber tirar o máximo de suas habilidades. Antes preso no fundo do poço da NBA, de repente MCW foi para um dos times mais jovens, talentosos e promissores da NBA. 

Quanto ao Sixers, bem, essa foi a troca mais Sixers possível, trocando seu melhor jogador por mais uma escolha futura de Draft. Claro, juntando as peças de outras duas trocas...


Sixers recebe JaVale McGee e uma escolha de primeira rodada de 2015 protegida (Thunder) do Nuggets

Sixers recebe Isaiah Canaan e uma escolha de segunda rodada; Rockets recebe KJ McDaniels

...ai é mais fácil ver o conjunto todo, e é hilário. Todo mundo sabia que o Sixers estava em modo "tank" descarado de longo prazo, destruindo seu time o máximo possível para ser ruim durante anos a fio, juntar vários ativos e jovens jogadores, e eventualmente, muito eventualmente, voltar a disputar alguma coisa. E claro, quando já se passaram dois anos e parece que o Sixers está começando a dar alguns passos rumo a ser um time de verdade, eles trocam dois dos seus três melhores jogadores para dar mais três passos para trás. Funhé.

Não que dê para criticar as trocas em si. Aquela escolha protegida do Lakers (Top5 esse ano, Top3 ano que vem e 2017, desprotegida em 2018) é um ativo valiosíssimo, e um excelente retorno por um jogador que já estavam querendo mover faz algum tempo. E McDaniels saiu de graça para um jogador tão bom... mas ele era um free agent restrito ao final do ano, e possivelmente o Sixers não iria querer pagar seu valor de mercado, então pelo menos pegou o talentoso e intrigante Canaan no processo por um jogador que sairia de todo modo. Não foram maus negócios.

Ainda assim, é hilário ver a que ponto vão os esforços do Sixers para continuar reconstruindo e não se importando a mínima em ter um time decente. Agora o time vai afundar ainda mais rumo a pior campanha da NBA (provavelmente o maior objetivo das trocas), e ficar ainda mais longe de ser algo respeitável e decente na liga. E claro, receber JaVale McGee (cujo salário o Nuggets queria se livrar) ajuda ainda mais nesse processo de "ser o pior possível".


Rockets recebe Pablo Prigioni; Knicks recebe Alexey Shved e duas escolhas de segunda rodada

Entre Prigioni e McDaniels, o Rockets fez duas trocas interessantes para reforçar seu elenco e, principalmente, seu banco. Prigioni talvez nem faça tanta diferença assim, mas é uma proteção para os PGs de um time que queria e não conseguiu ficar com Goran Dragic. E KJ McDaniels é uma ótima adição, um bom defensor capaz de jogar (e defender) em três posições e que adiciona habilidade atlética e versatilidade ao Rockets. Nenhum provavelmente é o tipo de troca que sozinha vá mudar o destino do time, mas em dúvida Houston é um time melhor e mais versátil agora com esses dois a bordo. E caso Houston decida por mantê-lo, McDaniels também oferece uma opção jovem e promissora para o futuro da equipe.

Para o Knicks, eles simplesmente se livram de um jogador que não queriam e, embora Shved provavelmente também não faça nenhuma diferença, pelo menos garantem duas escolhas de Draft no processo para aumentar seus limitados ativos.


Nets recebe Thaddeus Young; Timberwolves recebe Kevin Garnett.

Uma troca interessante pra ambos, além das óbvias histórias de "KG voltando pra casa!", ainda que carregue seus riscos.

No caso do Nets, eles ainda estão tentando equilibrar a difícil dualidade de vencer agora com um time ruim, e cortar custos ao mesmo tempo. A troca economiza 3M de dólares esse ano - o que, entre salários, multas e semelhantes, economiza ainda mais para o time, na casa dos 10M - para Brooklyn, mas dentro de quadra, a troca também faz bastante sentido. Garnett agora é basicamente um pivô de tempo integral, mas o time já tem outros dois pivôs (Mason Plumlee e Lopez) produzindo ainda mais, e que dificilmente conseguem jogar juntos. Trocando KG por Young, o time ganha um legítimo PF que teria muito mais facilidade de se encaixar com Lopez e Plumlee, e que torna o time mais barato, mais jovem, e principalmente mais atlético. Economizar uns dólares é bom, mas para um time que não é dono de sua própria 1st round pick, também aumenta as chances do time de conseguir uma vaga nos playoffs.

É claro, eles também assumiram um razoável risco. Young tem uma player option para o ano que vem de quase 10M, e se ele aceitar, a troca vira um tiro no pé. Garnett ganhava mais, mas também era um contrato expirante, e se Young aceitar sua opção, isso significa que o time economizou 3M esse ano (em salary cap) mas gastou 10M a mais em 2016, pagando multas e sem liberar nenhum espaço salarial. Brooklyn provavelmente está apostando que Young vai sair do contrato e tentar ganhar um contrato mais longo e garantido em um mercado inflacionado, mas se ele ficar, essa troca pode dar muito errado. 

Para o Wolves, nada muda dentro de quadra. Mas aceitem de alguém que acompanhou a Era Garnett em Boston: Garnett é o tipo de jogador que faz muita diferença nos companheiros jovens. Rondo e Perkins são dois exemplos, e ter alguém tão competitivo, com tanta liderança e intensidade quanto KG pode mudar a vida de um jogador ainda em formação. Garnett ensina os jovens sobre defesa, sobre se importar, sobre jogar em equipe, sobre apoiar os companheiros. Mesmo velho e no fim da carreira, isso sempre se destacou pra mim em KG: se um colega está se voltando contra o técnico, ou deixando de jogar pro time pra tentar conseguir seus próprios números, ele vai lá arrumar as coisas do seu jeito. Em um time jovem, imaturo e ainda em formação como o Wolves, esse é o tipo de presença que pode fazer toda a diferença para o futuro, acelerar o desenvolvimento dos jovens e ensiná-los a jogar basquete do jeito certo. Os jovens talentos de Minny se beneficiarão de ter KG por perto, e portanto foi uma boa troca.

(Isso significa que o Wolves compensou a grande besteira de trocar uma 1st rounder de Miami pelo Thad Young? NÃO! Mas ameniza um pouco...)


Wizards recebe Ramon Sessions; Kings recebe Andre Miller

Eu gosto dessa troca para ambos. Wizards recebe um armador mil vezes mais jovem e atlético que, embora não venha jogando bem, pelo menos oferece uma opção para o time capaz de atacar a cesta para cavar faltas ou abrir espaços para os passes - o que eles definitivamente não tem quando John Wall está no banco. Então ajuda a reforçar um banco complicado. Embora eu seja suspeito pra falar, sempre fui fã de Sessions e acho que pode contribuir no time certo. Em um papel limitado, este pode ser Washington.

Para o Kings, não só é bom receber uma presença veterana em um vestiário tão complicado e disfuncional, como o time também precisa urgente de alguém capaz de distribuir o jogo. O time não tem nenhum bom passador, e para um time jovem precisando evoluir, é importante ter alguém capaz de dar a bola a todos os jogadores em boas posições e situações. Miller é um encaixe bem melhor nesse time, e ainda que não vá fazer muita diferença prática, pode oferecer o tipo de ajuda que muitos jogadores lá precisam. 


Blazers recebe Alonzo Gee e Aaron Afflalo; Nuggets recebe Victor Claver, Thomas Robinson, Will Barton e uma escolha protegida de Draft de 2016.

Eu estou adorando times do Oeste fazendo trocas para vencer agora enquanto a janela está aberta. E foi o que o Blazers fez. A escolha futura é protegida na loteria, então provavelmente vai para o Nuggets já em 2016 (a não ser que LaMarcus Aldridge saia ou algo muito errado aconteça), mas o Blazers precisava de profundidade no perímetro para competir mais seriamente agora pelo título. E foi o que eles conseguiram em Afflalo. O SG está tendo um ano bastante decepcionante e todos seus números caíram, mas ele joga em um dos mais disfuncionais times de toda a NBA, e uma mudança para um time que joga com velocidade, boa movimentação de bola e de forma coletiva pode ser o que ele precisa para retomar a boa forma. E se retomar, ele é algo que o Blazers precisa, alguém capaz de fazer um pouco de tudo vindo do banco - criar para si e para os outros, arremessar de fora para espaçar a quadra, defender em bom nível, etc. Ele não tem o tamanho e a força física para reproduzir o papel que Batum deveria ter nessa equipe, então ele não resolve os maiores problemas do time... mas ele ajuda e torna o time mais profundo e versátil. Quando você está com a janela totalmente aberta para o título, você tem que fazer o possível para aumentar suas chances, e foi o que o Blazers fez aqui. Uma boa troca.


Celtics recebe Luigi Datome e Jonas Jerebko; Pistons recebe Tyshaun Prince

Contratos expirantes por contratos expirantes, então é uma troca sem grandes consequências. Mas o Pistons trás um jogador que vinha bem em Boston para tentar reforçar a rotação em busca de uma vaga nos playoffs, e trás de volta um antigo herói e ídolo da franquia. Então... hmmm... é basicamente isso. Entre KG e Prince de volta a Wolves e Pistons, respectivamente, a nostalgia foi a maior vencedora dessa trade deadline.


Jazz recebe Kendrick Perkins, Grant Garrett, uma 1st round pick ainda não revelada (Thunder) e uma escolha de segunda rodada (Pistons); Pistons recebe Reggie Jackson (Thunder); Thunder recebe Enes Kanter, Steve Novak (Jazz), Kyle Singler e DJ Augustin (Pistons).

Para analisar essa troca, precisamos olhar os três times envolvidos.

Para o Jazz, manter Enes Kanter não valia mais a pena. Kanter é um jogador talentoso com conjunto de habilidades interessantes e bom potencial, mas que também vinha com várias limitações e que, sendo um free agent, provavelmente seria muito caro de manter no fim do ano. O turco tem bastante potencial, mas hoje, ele pouco oferece na defesa, e no ataque ele - apesar de potencial para ser bastante completo - é apenas um jogador de post up com bom rebote ofensivo que não faz mais nada. Ele é um desastre na defesa, e embora ofereça mais opções ofensivas ao lado de Derrick Favors, a emergência de Rudy Gobert - um defensor infinitamente melhor - tornou Kanter totalmente dispensável. A dupla Favors-Gobert tem sido 3.4 pontos por 100 posses melhor do que Enes-Favors, e considerando a extensão de Favors e o contrato máximo de Gordon Hayward, a última coisa que o Jazz quer nesse momento é acabar com sua flexibilidade salarial dando um contrato gordo a um jogador que, apesar do potencial, é só sua terceira melhor opção no garrafão e provavelmente um reserva. Então ao invés de perder o turco por nada ao final do ano, o Jazz se contentou em receber o que pudesse no mercado por ele, e faturou uma escolha de primeira rodada no processo (ainda não revelada) e Perkins (que terá um buyout para economizar uns cobres).

Para o Pistons, é simples: o time quer ir aos playoffs, e estava caminhando a passos largos para atingir esse objetivo quando perdeu Brandon Jennings, seu armador titular e o cara que deu vida nova ao seu ataque pós-Josh Smith. DJ Augustin vinha jogando bem na sua ausência, mas era claro que o time perdia bastante com essa mudança, então fazia todo o sentido para Detroit buscar um armador novo e melhor no mercado, para tentar salvar a temporada e garantir a vaga nos playoffs. O time gosta de jogar com espaçamento, e Jennings mudou o time sem Smith quando começou a atacar mais a cesta e causar caos no garrafão, e nisso o explosivo Jackson é muito melhor do que Augustin. Sua defesa também é melhor, e em geral, Jackson tem muito mais a oferecer do que Augustin, recolocando o Pistons em condições de brigar por aquela última vaga. Todo mundo lembra o que ele fez no começo do ano com Durant e Westbrook machucados, levando o Thunder nas costas com 19-5-8 de média.

Enfim, chegamos no Thunder, que em valor se saiu bem: Reggie Jackson foi importantíssimo para o time no começo do ano, mas vinha perdendo cada vez mais espaço e parecia ser mais um problema do que uma solução nos últimos tempos, especialmente desde a chegada de Dion Waiters. Além disso, era free agent ao final do ano, então o Thunder provavelmente perderia o jogador por nada. Já Perkins, eternamente mal falado e culpado pelos maus momentos do Thunder, não é um jogador que chama muita atenção e que sempre foi dispensável. Então OKC conseguiu usar os dois para reforçar seu banco, trazendo dois bons arremessadores que devem mofar na reserva (Novak e Singler) mas que ainda podem ter algo a oferecer, o jogador de garrafão que tanto queria em Kanter, e um bom PG reserva em Augustin.

Então em valor foi bom - trouxeram boas opções e rechearam o banco usando um cara que estava encostado faz tempo e um armador que não queriam mais e perderiam de graça. O que eu questiono é o quão melhor o Thunder realmente ficou com essas trocas. Nenhuma das novas adições na equipe sabe defender, para começar. Novak e Singler trazem arremessos de fora e espaçamento, então pelo menos adicionam alguma coisa, nem que seja profundidade. Mas as peças grandes são Augustin e Kanter, e embora no papel sejam boas adições - um PG reserva e um pivô capaz de pontuar perto da cesta - eles são realmente o que OKC precisa agora?

Comecemos por Kanter. O turco tem duas habilidades de nível NBA, os rebotes ofensivos e pontuar de costas para a cesta. A primeira habilidade é sempre útil, mas a segunda é incerto. Claro, jogadores assim são sempre úteis, mas não é como se ele fosse Al Jefferson no fundamento - 60th percentil dos jogadores da NBA apenas - e ele tira coisas demais da mesa. Ele é absolutamente incapaz de passar a bola, então o post up dele tem poucas chances de gerar uma movimentação favorável pro ataque e seria facilmente "anulado" em uma série de playffs, e ele descompensa sendo talvez o pior defensor de garrafão da NBA na atualidade (e é o pior protetor de aro da NBA - adversários chutam 57.6% contra ele na área restrita, pior marca da liga). Pontuação de costas pra cesta é uma habilidade sempre útil, mas o Thunder realmente se beneficiaria de ter mais um pontuador fominha que segura demais a bola, não roda o jogo e não faz os companheiros melhores, e que ainda dobra como um dos piores defensores do mundo? Realmente move tanto a agulha assim em relação mesmo a Perkins, que é um nulo no ataque mas é pelo menos um bom defensor, com o qual OKC é algo como 4 pontos por 100 posses melhor quando está em quadra? Bom lembrar também que Kanter é um free agent restrito ao final do ano, e tem potencial para receber um bom contrato. A não ser que o Thunder decida abrir o cofre para manter o jogador - sabe, dando aquele contrato que não quis dar para James Harden? - também não passa de um aluguel de dois meses.

O mesmo para DJ Augustin. Sim, ele é um bom reserva, mas não é um bom arremessador, é alguém que produz melhor quando tem a bola nas mãos, e que não defende bem. Considerando que o problema do Thunder é justamente a dificuldade de jogar em equipe, rodar a bola e achar jogadores que complemente os seus dominantes ball handlers, Augustin não me parece um bom encaixe. Talvez Jackson não estivesse rendendo por causa da personalidade, mania de querer fazer demais e excesso de toques na bola, mas como exatamente Augustin renderia melhor em uma função secundária? Talvez o pessoal ainda não desgoste dele como desgostava de Jackson, mas o que Augustin trás para quadra que é melhor que Reggie Jackson?

A velha piada: se Enes Kanter é a resposta, então eu não quero saber qual é a pergunta. Não é que o Thunder fez trocas ruins ou se tornou um time pior, nem nada do tipo. Eu só acho que as trocas foram nem de longe tão benéficas e mudam tanta coisa como as pessoas parecem pensar. Elas aumentam o potencial de OKC, e com o relógio correndo contra Oklahoma City, o time tem mais é que correr atrás dessas trocas mesmo na tentativa de conseguir alguma coisa nova. Se eu fosse o GM do time, provavelmente também teria feito ambas as trocas. Eu só acho que, no final do dia, o resultado não vai mudar em nada com os novos jogadores.


Veredito

O Phoenix Suns projetava como um grande perdedor dessa troca, mas muito mais por causa de Dragic ter forçado o time a uma situação sem solução do que por outra coisa. E a inevitável troca ruim aconteceu... só que Phoenix não parou por ai, e ao invés de pisar no estrume, se afundou até a cintura trocando seu melhor ativo por um PG overrated que vai ganhar uma fortuna no final do ano, e se livrando de outro bom PG por nada. Phoenix não fez nada para salvar o resto da sua temporada e tornar-se um time melhor no curto prazo, mas também trocou seu melhor ativo e um contrato muito favorável por um jogador mediano que ficará muito overpaid em três meses. Em outras palavras, também prejudicou em MUITO o valor do time no médio prazo. Um dia para esquecer de Phoenix, que praticamente se destruiu em duas horas.

Os grandes vencedores (pelo menos os times) foram, a meu ver, Heat e Bucks. Miami porque pegou, a baixo custo, um dos melhores PGs da NBA e a peça que faltava para o time voltar a ser competitivo e candidato as Finais em Dragic - ou, melhor dizendo, porque esse armador caiu no seu colo. E Bucks porque, em troca de um jogador overrated que eles não queriam pagar no final do ano (e provavelmente perderiam por nada), conseguiram não só um talentoso, jovem e muito mais barato armador para se juntar a seu jovem e talentoso núcleo, como também roubou junto duas boas peças de rotação em Ennis e Plumlee, e se tem um time na atualidade que sabe aproveitar o valor de um bom banco, é o Bucks. Excelentes negociações para ambos os times.

Para terminar, Celtics e Thunder também fizeram barulho, e conseguiram trocas interessantes a bons valores. Ambas aumentaram o teto da sua equipe, e maximizaram seus ativos. Ainda assim, eu não acho que de para declarar ambos vencedores ainda. OKC porque não estou convencido de que essa troca realmente faz do Thunder um time melhor ou muda a perspectiva da franquia, e Boston porque ainda tem um risco considerável dessa troca custar a Boston (por causa da pick desse ano e do desenvolvimento de Smart) muito mais do que ela adiciona no médio prazo. Ainda esperando para ser avaliado completamente.

E por fim, os grandes vencedores fomos todos nós, que temos um twitter e pudemos acompanhar em tempo real a mais maluca e divertida trade deadline de todos os tempos. E agora que finalmente colocamos toda essa loucura em contexto, é hora para mais café. Com licença. 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Pensamentos rápidos e aleatórios sobre o Super Bowl XLIX

Malcolm Butler, para a história


O Super Bowl XLIX agora é passado. New England, que da última vez saiu de Arizona com uma das mais surpreendentes derrotas da história da NFL, agora sai coroado com seu quarto título, depois de 10 anos do último. Tom Brady se juntou a Joe Montana e Terry Bradshaw como os únicos QBs a vencerem quatro anéis, Bill Belichick se juntou a Chuck Noll como os únicos técnicos com quatro Super Bowls (em títulos totais ainda ficam atrás de Vince Lombardi e George Halas) e Malcolm Butler virou uma celebridade da noite para o dia. 

A noite de ontem foi intensa demais para escrever uma coluna séria e coerente sobre o Super Bowl, e o tempo também está em falta no momento. Ainda assim, tem algumas coisas que precisam ser ditas - ou melhor, que eu quero dizer - sobre esse Super Bowl que não podem passar de hoje. Então deixo aqui alguns pensamentos e considerações curtos sobre esse magnífico Super Bowl.


- Antes de mais nada, parabéns ao New England Patriots e aos seus muitos torcedores. O Patriots tem alguns dos torcedores mais chatos que eu já conheci, mas também tem os mais fanáticos e mais apaixonados, e a franquia em si é um exemplo ímpar de consistência e excelência no futebol americano. Nos últimos 14 anos, New England foi a seis Super Bowls, venceu quatro, e só deixou de ir aos playoffs duas vezes. Eles venceram 76% de seus jogos (170) de temporada regular nesse período, de longe a melhor marca da NFL (Colts, 150 e 67%, em segundo). Eles venceram 21 jogos de playoffs nesses 14 anos, quase o dobro de Colts e Steelers (12 cada), os segundo colocados. Ter um QB histórico como Tom Brady - especialmente nessa era que cada vez mais protege os QBs e os passes, fazendo um QB ter condições de impactar mais um jogo do que a 20 anos atrás - sem dúvida que ajuda, mas mesmo além dele, a organização sempre foi um exemplo de eficiência, maximizando seus ativos no Draft, achando valor em jogadores menores, sempre se reinventando e retomando o topo. Bob Kraft é o melhor dono da NFL, e Belichick o melhor técnico, e não a toa sempre trabalharam juntos, tirando o melhor um do outro. Sabe, ao contrário de outra franquia que tinha um dos melhores técnicos da NFL mas cujo dono quis demiti-lo para contratar alguém que fosse seu pau mandado. Uma boa franquia começa de cima, e o Patriots tem isso mais que qualquer um. Uma vitória merecida, para o time e a sua torcida, e com sabor extra depois que muita gente correu para descartar New England quando perdeu do Chiefs na semana 4.


- Na minha vida, o melhor Super Bowl de todos foi em 2009 (mas o da temporada 2008), entre Arizona Cardinals e Pittsburgh Steelers. Em termos de jogo bem jogado, emoção, reviravoltas e puro e simples nível de entretenimento, eu não tenho certeza que um dia algum Super Bowl superará aquele. Ele foi perfeito demais. 

Mas o Super Bowl XLIX foi um dos melhores de todos os tempos em seu próprio mérito. O primeiro tempo foi feio e cansativo, e o jogo não pegou fogo até o quarto período. Mas foi um quarto período para a história. Duas campanhas perfeitas de um dos maiores QBs da história do esporte para virar um jogo que muitos deram como perdido, a quase virada de Seattle, a recepção absolutamente bizarra do Jermaine Kearse (qualquer torcedor do Pats que disse que não teve flashbacks pra recepção do David Tyree ou está mentindo ou não assistia NFL na época), Seattle praticamente garantindo o jogo, dois erros técnicos grosseiros em um espaço de 30 segundos (chegaremos neles), e uma jogada improvável (e isso é um understatement) para uma das maiores reviravoltas da história do Super Bowl. Considerando quanto tempo faltava, onde a bola estava, o que estava em jogo, o fato do Seahawks ter Marshawn Lynch pronto para entrar na end zone - tinha três tentativas para isso - e quem fez a jogada (um calouro não-draftado da divisão II da NCAA), acho que não caio em hipérbole ao dizer que foi uma das jogadas mais improváveis da história do futebol americano. Foi tão maluca, tão surreal, que eu fiquei dois segundos parado tentando processar o que aconteceu antes de finalmente cair a grande ficha. É exatamente assim que você quer que seu domingo termine.


- Eu não sei se foi Darrell Bevell ou Pete Carroll que chamou a jogada final de Seattle - supostamente foi Carroll - mas, considerando situação, conjuntura, alternativas e que era o freaking Super Bowl, foi a pior chamada de um técnico da história do futebol americano. Você tem Marshawn Lynch - talvez o melhor RB da NFL e sem dúvida o melhor da liga em termos de força física e de conseguir jardas extras, o cara que é seu melhor jogador ofensivo e foi a alma do seu time por três anos - você tem um tempo pra pedir, você ainda tem tempo no relógio, e três jogadas para conseguir UMA JARDA. Um touchdown te da 99% de chance de vencer, e New England não tem esperanças de segurar Marshawn Lynch (4.4 YPC, 102 jardas na partida), tendo a pior defesa da temporada contra o jogo terrestre em situações de "força", per Football Outsiders. A única esperança - mínima - do Patriots ali era conseguir um turnover milagroso, mas Seattle nunca chamaria uma jogada para dar essa chance sendo que dar a bola nas seguras mãos de seu RB tem uma chance maior de sucesso.

Mas ao invés de dar a bola para Lynch, inexplicavelmente, Seattle decidiu ir para um passe, que Malcolm Butler interceptou. Não existe NENHUM motivo cabível pro Seahawks ir pro passe ali. Considerando que só precisava de uma jarda e que a única esperança do Patriots era um turnover, não tem porque ir para uma jogada onde você coloca a bola no ar e arrisca essa interceptação. Sim, ir para a corrida pode ter um fumble, mas indo para o passe você pode sofrer um sack (que dificultaria consideravelmente as ultimas tentativas), um fumble ou uma interceptação, muito mais opções negativas. Além disso, a corrida também tem muito mais chance de sucesso: nos últimos dois anos, dentro da linha de uma jarda, times converteram 57% de suas jogadas de corrida em touchdowns (e sofreram fumbles em 0.9% delas), enquanto que só 49% de suas jogadas de passe viraram TDs (com 6.2% das jogadas virando um turnover e/ou um sack, as duas jogadas que Seattle absolutamente devia evitar). E isso antes de entrar no mérito que você tem MARSHAWN LYNCH, seu melhor jogador e RB mais imparável da NFL, para correr com a bola, que você teve o melhor ataque terrestre da temporada, e que o Patriots foi o pior time de 2014 defendendo a corridas em situações de curtas distâncias. Então não só você tirou a bola das mãos do seu craque, mas fez isso para ir atrás de uma jogada de maior risco e menor chance de sucesso, em um lance onde você ABSOLUTAMENTE devia evitar um turnover a todo custo. Foi uma decisão historicamente estúpida, que custou um Super Bowl ao seu time nos segundos finais. É verdade que uma interceptação ali não é um cenário provável e a INT foi um pior cenário possível, mas porque ir para uma jogada que te da esse pior cenário possível? Em um vácuo, a decisão ja foi ruim, mas considerando os times e os jogadores envolvidos, ela se torna genuinamente horrível. Adicione que ela foi a jogada decisiva de um Super Bowl, na linha de 1 jarda, faltando 30 segundos e que causou uma mudança de mais de 80 pontos percentuais na expectativa de vitória das equipes, e você tem a pior chamada da história da NFL.

O TM Warning conseguiu vídeos exclusivos do que se passava na cabeça do Pete Carroll naquele momento.




- Pior do que a decisão de ir para o passe naquela situação foram as desculpas que Carroll e Bevell deram depois do jogo para explicá-la. Bevell disse que ainda tinha muito tempo no relógio e o time queria gastá-lo até o fim, o que é uma explicação que faz sentido só se você estava em Seattle e consumiu 1 kg da maconha "Marshawn Lynch". Esqueça a interceptação - qual o upside disso? Se é TD, tem exatamente o mesmo efeito de uma corrida, e New England ainda recebe a bola com 30s e dois tempos pra tentar um FG. Se o passe é incompleto, você para o relógio sem queimar um tempo do Pats. Porque diabos então você chamaria essa jogada para gastar o relógio?!

As de Carroll não foram muito melhores. Embora ele tenha assumido a responsabilidade pela chamada e pela derrota, ele disse que o fez porque o Patriots estava em formação de goal-line, o que simplesmente não era verdade (o próprio Darrelle Revis confirmou o que a gente viu). E depois, para piorar, defendeu a chamada dizendo que, como o Pats estava em sua formação de goal-line (não estava), achou que não era um bom matchup para correr e que portanto chamou um passe para "queimar uma jogada" ou "jogar a jogada fora". Não, sério, eis o que ele disse no original, via Ian O'Connor da ESPN: "It [the goal-line defense] is not the right matchup for us to run the football, so on second down we were throwing the ball to kind of waste the play". 

... oh, God. Isso é muito ruim. 2nd and goal, 30 segundos no relógio, no freaking SUPER BOWL, perdendo de 4, você não confia na sua maior força e chama uma jogada para jogar uma descida fora?! É a pior explicação de uma chamada ruim que eu vi nos últimos tempos. Para usar uma analogia do Michael Lewis, parece uma rotina dos irmãos Marx, onde um está pegando fogo e o outro tenta apagar jogando nele um balde escrito "QUEROSENE".



- Quanto de culpa teve Russell Wilson na interceptação decisiva?

Como sempre, é muito difícil dizer com certeza, mas podemos tentar. Primeiro de tudo, a chamada do passe não foi dele - veio do banco, e ele não me pareceu fazer nenhum grande ajuste na linha a não ser talvez redistribuir os jogadores. Então o maior erro da jogada já passa por fora de Wilson.

Dada que a jogada chamada já era um passe, então a primeira coisa que chama a atenção é que Wilson fez a leitura certa na linha de scrimmage. Eis a situação da jogada antes do snap.



Considerando que o Hawks vai para o passe, Wilson olha para a parte de baixo do campo e ve Kearse e Lockette no mano a mano com Browner (marcando Kearse próximo a linha) e Butler (marcando Lockette a distância). Identificando o elo fraco da defesa do Pats (Butler, o quinto CB do time), a jogada ainda vai tirar vantagem desse matchup. Kearse vai "atacar" Browner, bloqueando-o próximo a linha, e com o DB que marca a linha fora da jogada, Lockette vai usar essa liberdade para cortar em direção ao espaço no meio sem ninguém acompanhando-o. A jogada, no primeiro momento, funciona como esperado - Kearse tira o CB da jogada, e Lockette corta para o meio com muito espaço próximo a linha. Wilson vê que Browner não conseguiu acompanhar Lockette no slant, vê o camisa 83 sem acompanhamento, e lança o passe na direção do espaço para onde ele se dirige. É a jogada que Seattle queria.



Eis o grande problema do passe: Wilson joga para Lockette porque viu que Browner está fora do lance, abrindo espaço no meio, mas em nenhum momento ele vê Butler se aproximando da jogada. Não sei se ele literalmente não vê Butler (que estava atrás de Browner no seu campo de visão) ou se achou que ele não chegaria no lance, mas é um erro grave de leitura, especialmente porque Butler não está acompanhando Lockette - ele está cortando diretamente para o mesmo lugar que ele e se colocando na mesma zona para "receber" o passe. E o passe sai ruim - não é um passe baixo ou um passe próximo ao corpo de Lockette onde ele possa usar o corpo de "escudo" e pelo menos evitar uma interceptação, mas um passe alto e na frente do seu corpo, onde Butler tem espaço de sobra para fazer uma jogada na bola.

A minha impressão é que ele não viu Butler, seja porque estava fora do seu campo de visão ou por um erro de leitura mesmo. Se visse o DB do Patriots, ele possivelmente ainda teria ido atrás de Lockette - que era sua primeira leitura em uma jogada rápida, e que conseguiu a separação na linha que ele esperava, a jogada que eles queriam desde o começo - mas certamente teria feito um passe mais próximo do seu corpo, e não um tão longe e tão pendurado para o defensor fazer uma jogada. Então foi um erro de leitura, e um passe ruim que permitiu ao defensor fazer a jogada. Mas ainda assim, é difícil colocar demais no prato dele: ele fez a leitura certa antes da jogada, conseguiu a separação do WR que queria, e ninguém esperava que um calouro não-Draftado de West Alabama fizesse uma jogada fantástica dessas. Cada um pode tirar as próprias conclusões a partir dos fatos que eu mostrei acima, mas a meu ver, embora tenhamos que reconhecer que Wilson (que fez ótima partida) fez uma jogada ruim (especialmente na leitura da defesa), na hierarquia isso só vem depois de dar muitos méritos ao Butler por uma jogada fantástica e improvável e de dar os devidos pescotapas no Carroll por essa chamada atroz. 


- A péssima, SB-losing decisão do Carroll acabou tirando o foco de uma inexplicável e péssima decisão do Bill Belichick de não pedir um tempo depois a primeira descida de Seattle. A jogada de Seattle acabou com pouco mais de 1m no relógio, e New England tinha dois tempos para pedir. Inexplicavelmente, Belichick não pediu tempo, e o relógio correu para 25 segundos antes da jogada seguinte de Seattle. 

É uma decisão horrível. New England estava com vantagem de 4 pontos, então mesmo se tomasse um TD, ainda poderia empatar com um field goal. O problema é que deixar o relógio correr esses 40 segundos praticamente tirava todo o tempo que o Patriots poderia ter para empatar. Se New England pede um tempo e toma um TD na jogada seguinte, teria quase 1 minuto e um tempo pra empatar o jogo com um FG. Como não pediu, se Lockette faz o TD ali, o time teria 20, 15 segundos e dois tempos pra empatar, muito menos e uma situação infinitamente mais difícil. Caso ele peça tempo, o pior cenário que poderia acontecer em termos de tempo no relógio seria caso Seattle corresse 2x e não anotasse o TD, forçando New England a usar o último TO e depois gastarem mais 40s do relógio... mas dai teriam uma quarta descida, e se é pra ter 20 segundos no relógio, tenho certeza que é bem melhor uma 4th down do que uma 2nd and 1. Não usar o timeout ali poderia ter custado o jogo ao Pats. Belichick é o melhor técnico da NFL e um dos melhores da história da liga, mas foi um erro grosseiro da parte dele. 


- Quer dizer que até mesmo o Imperador Palpatine da NFL tem um lado sentimental? Talvez minha foto favorita do Super Bowl. Aliás, Greg Popovich - outro técnico histórico famoso pelo mal humor e pela fama de durão - também chorou um monte ano passado quando foi campeão da NBA. É o outro lado de ser um filha da mãe ultracompetitivo. Quando você alcança o seu objetivo final depois de tanta superação, é ainda mais gostoso e emocionante. 




- Por falar em Popovich, é coincidência que Spurs e Patriots - os dois times mais vitoriosos e consistentes dos EUA no milênio - finalmente deram a volta por cima e ganharam títulos em 2014 (tecnicamente o do Pats foi 2015, mas você entendeu. A temporada era 2014) com suas estrelas aos 37 anos e no final de suas carreiras? A do Patriots foi mais sofrida, a do Spurs mais dominante, mas ambas incrivelmente memoráveis. 


- O primeiro tempo, em particular, foi uma aula de tática da parte do Patriots. Seattle dominou o ano todo usando sua tática habitual, e seu jogo de sempre, mas New England sabe que não tem tanto talento em campo como seu adversário, mas tem muito mais técnico. E uma das coisas que fez de New England tão bom o ano todo foi sua capacidade de se adaptar e se preparar para cada adversário que enfrentou.

Ontem não foi exceção. Sabendo que Seattle tinha mais talento, New England se propôs a vencer o jogo na tática, e no primeiro tempo deu uma aula disso. Seattle gosta de jogar com os safeties no fundo do campo, tirando a opção das bolas longas e protegendo as costas de seus CBs, enquanto confia no físico de seus cornerbacks para controlar a linha de scrimmage por conta própria. Mas Sherman, Thomas e Chancellor estavam jogando com lesões, e New England começou o jogo disposto a explorar isso, fazendo passes curtos e laterais e forçando os defensores um tanto baleados de Seattle a fazer tackles em campo aberto, tendo algum sucesso em jardas após a recepção. Mas depois que Jeremy Lane saiu com uma fratura feia no braço, o Seahawks foi forçado a usar seu reserva, Tharold Simon. Era o que o Pats precisava.

New England imediatamente começou a atacar Simon, claramente o elo fraco da defesa do time de Washington. Aproveitando que os safeties de Seattle jogam em profundidade e que Simon não tinha condição de marcar próximo a linha os WRs de New England, o ataque do Patriots começou a explorá-lo e os espaços atrás dele em rotas curtas, slants e passes a partir do backfield para Shane Vereen. Simon não teve condições de aguentar a atenção - 7 passes, 96 jardas e 2 TDs para Brady lançando na sua direção - e foi batido várias vezes seguidas. Simon não conseguia marcar Edelman sem ajuda de um safety, mas deslocar um safety iria tirar Seattle da sua zona de conforto, e era o que New England queria. Quando o Hawks tentava deslocar algum jogador do meio para ajudar Simon, Brady fazia-os pagar com Vereen ou uma rota cruzando pelo meio. Até que por fim, Seattle cedeu e em uma jogada colocou Earl Thomas próximo a linha de scrimmage para marcar os passes curtos. Era a oportunidade que New England esperava. Brady alinhou Gronkowski aberto no mano a mano contra KJ Wright, pela primeira vez sem ajuda do safety nas costas, e um duelo que sem uma cobertura atrás Gronk vai vencer 95% das vezes. Gronk facilmente bateu Wright para um TD longo, na coroação de uma sequência perfeita do ataque de New England. O outro TD do Patriots no primeiro tempo veio, claro, em um slant de LaFell em cima de Simon, que continuou a ser atacado com os safeties em profundidade.

O primeiro tempo foi uma aula tática do Patriots pra cima do Seahawks, e só não conseguiu abrir vantagem por causa dos próprios erros. A interceptação besta de Brady na red zone, a facemask de Arrington, a corrida cedida num draw do Seattle que deveria encerrar o primeiro tempo que foi para 17 jardas - sem os dois primeiros erros, New England vai para o vestiário vencendo por 7 pontos, e sem o terceiro, por 10 pontos. Ao invés disso, errou e o jogo permaneceu apertado. 

No segundo tempo, Seattle retomou o controle do jogo mesmo sem um grande ajuste tático, mas simplesmente porque começou a executar muito melhor. A única mudança foi passar Michael Bennett para o interior da linha, e deu muito certo - ele demoliu os linemen inexperientes do Patriots no interior, e ele e Cliff Avril fizeram do Patriots a vida miserável, destruindo a linha ofensiva e deixando Brady sem tempo nem ritmo no pocket para fazer seus passes, que dependem tanto de timing, funcionarem (a saída de Cliff Avril com uma concussão foi um fator chave para o ataque do Patriots voltar a funcionar no quarto período). A saída de Avril fez o Patriots retomar o domínio da linha (aumentando as atenções sobre Bennett) e ganhar tempo para Brady no pocket, e assim pode voltar a executar seu esquema bem pensado: atacar Simon (que foi absolutamente abusado por Edelman na red zone), e explorar o meio do campo quando os linebackers de Seattle se deslocavam para cobrir os CBs batidos de Seattle. Mesmo que a jogada decisiva da partida tenha sido na defesa, foi uma performance fabulosa de Belichick e da comissão técnica montando e adaptando um plano de jogo perfeito para o ataque que levou a melhor sobre a excelente defesa do Seahawks.


- Por falar em decisões técnicas, Pete Carroll recebeu críticas totalmente merecidas por sua ridícula chamada no passe decisivo, mas ele também cometeu um outro erro crucial na partida que pode ter custado seu time. No começo do terceiro quarto, Seattle chegou na linha de 8 jardas do Patriots, mas viu Lynch ser pego em uma jogada de option que deu errado para nenhum ganho. Com uma 4th and 1 da linha de 8 jardas, Carroll decidiu chutar um FG. Mike McCarthy ficaria orgulhoso.

Algumas pessoas dirão que o era cedo no jogo para arriscar, que o jogo estava empatado, e que ele fez bem em ficar com os pontos. Essas pessoas também estão erradas. New England estava destruindo a defesa do Seahawks taticamente desde a entrada de Simon, e embora a defesa fosse eventualmente achar seu pass rush e dominar o terceiro período, Seattle ainda não sabia disso porque era a primeira campanha do segundo tempo. Ninguém realmente podia esperar que o jogo terminaria 17-14 com esse FG sendo o da vitória. Contra um grande ataque contra o Patriots, que estava tendo grande sucesso porque sabia exatamente como atacar sua defesa, você quer garantir o máximo possível de pontos, e estando DENTRO da linha de 10 do adversário só precisando de uma jarda para ganhar uma nova série de descidas, esse é o tipo de chance que você precisa converter. Mas não. Carroll se contentou com um FG, assim como Mike McCarthy antes dele. E assim como Mike McCarthy antes dele, chutar esse FG ao invés de anotar um TD custou pontos que, eventualmente, lhe custariam a vitória.

Se você quer ficar técnico, o modelo probabilístico do Football Analysis diz que Seattle devia tentar a quarta descida se tivesse 45% de chance ou mais de converter o first down. Nos dois anos que Seattle chegou ao Super Bowl, a equipe converteu 62% de suas tentativas em jogadas que faltavam uma jarda para primeira descidas, inclusive 64% das tentativas correndo. Considerando esse dado, que o Seahawks tem o melhor RB de força da NFL, o ataque terrestre #1 da liga, e que New England teve a PIOR defesa terrestre da NFL em situações curtas, é seguro dizer que a chance do Seahawks converterem essa quarta descida era bem superior a 45%. Carroll tomou uma decisão ruim que, embora sozinha não tenha custado o jogo ao seu time, diminuiu as chances de vitória da equipe e fez bastante falta no final. Carroll não tem como saber como o jogo se desenrolará até o final, para saber que aqueles quatro pontos seriam a diferença fatal da partida, mas justamente por não saber ele tem que pensar em tomar a decisão que da o máximo de pontos possíveis ao seu time. Se fosse uma 4th and 20, a chance de converter seria mínima, então o FG geraria mais pontos do que a probabilidade mínima de converter a descida e ficar com o TD. Mas dentro da linha de 10, precisando de só uma jarda e com Lynch, a chance de converter era altíssima e teria aumentado em muito a chance de 7 pontos. Carroll tomou a decisão errada, a primeira e menos custosa das duas, mas não menos digna de nota.

Coloque da seguinte maneira: se Carroll tentasse a conversão de quarta descida, falhasse, e perdesse o jogo por 3 pontos, todos os tradicionalistas iriam correndo apontar que essa decisão custou o jogo. Agora que o time perdeu por os 4 pontos da sua covardia de tentar um FG ao invés de tentar um FG, você não ouvirá uma palavra na mídia tradicional a respeito porque Carroll tomou a decisão "comum". Mas deveria. É muito pior ter um resultado ruim a partir de uma má decisão do que ter um resultado ruim a partir de uma boa decisão, porque o resultado o técnico não controla. O processo sim. Ele tem que tomar a decisão cujo processo da ao time a melhor chance de vencer, e não foi isso que ele fez.


- Esses playoffs foram absolutamente sensacionais em praticamente todos os aspectos, tirando imprevisibilidade. Mas o que eu mais gostei deles, de longe, foi que eles funcionaram como um ecossistema extremamente impiedoso com técnicos. Não só porque o melhor de todos ficou com o título, Belichick, mas porque um a um os técnicos conservadores, covardes e incompetêntes (e mesmo técnicos que não são nenhum deles, mas simplesmente tiveram decisões que foram) foram caindo justamente por causa de seus próprios erros. Um a um, os playoffs foram eliminando-os através de seus próprios erros.

O primeiro a cair foi o mais covarde e conservador de todos, Jim Caldwell, que aterrorizou torcedores do Lions o ano todo com sua paixão por field golas e um conservadorismo quase amador. Os torcedores do Lions reclamarão da amadora arbitragem que não marcou a falta em Brandon Pettigrew em uma 3rd down crucial, e com razão, mas a verdade é que mesmo depois disso o time ainda tinha uma 4th and 1 no campo de ataque, que poderia converter para manter o ataque vivo, continuar com a bola e eventualmente anotar pontos. Detroit conseguiu 1st downs em 66% de suas conversões de uma jarda nos últimos dois anos, e a defesa de Dallas é abaixo da média. Mas Caldwell foi pelo livro, e optou por devolver a bola para um dos melhores ataques da NFL sem nenhuma outra ação ofensiva - ganhando por apenas 4 pontos. Dallas pegou a bola, anotou o touchdown, e o Lions teve que fazer uma campanha desesperada para anotar um FG que poderia ter anotado uma campanha antes. Eventualmente, a temporada do Lions acabou em uma 4th and 3 - uma conversão que Detroit só conseguiu em 51% das tentativas nos últimos dois anos, bem abaixo dos 66% daquela 4th and 1 de antes. Detroit falhou, e foi eliminado.

Caldwell passou o bastão a Jason Garrett, que corajosamente arriscou duas quartas descidas contra Detroit e foi premiado por isso. Mas contra Green Bay, foi conservador na hora errada, e isso lhe custou caro. Com o final do primeiro tempo chegando ao fim, Dallas teve uma 4th and 1 no campo de ataque faltando pouco mais de 30 segundos no relógio e um tempo para pedir. Garrett optou por tentar um FG de 45 jardas, um FG bastante difícil em um dia ventoso e de baixíssima temperatura, ao invés de tentar uma conversão (que Dallas converteu 69% das vezes, inclusive) para pelo menos aproximar o FG ou mesmo sonhar com um TD. O time se complicou na hora de formar o FG, fez uma falta, errou o FG subsequente, e viu o Packers aproveitar a ótima posição de campo para anotar um FG antes do intervalo. Um erro de 6 pontos. A temporada de Dallas acabou - surpresa! - com eles desesperadamente tentando converter uma 4th and 2 no território do Packers, que acabou na infame recepção que não valeu (corretamente) do Dez Bryant.

Mas o bastão dos técnicos tomando decisões covardes e conservadores passou para Mike McCarthy, que determinado a superar seus adversários, teve o jogo mais medroso, covarde, conservador, irracional, inconsequente... enfim, o pior jogo que eu já vi de um técnico em 14 anos de NFL. Basicamente, ele não confiou no jogo terrestre em duas 4th and 1 da linha de 1 jarda após turnovers de Seattle, preferindo chutar FGs em ambas as vezes, mas preferiu confiar no jogo terrestre ao invés de dar a bola nas mãos do seu QB MVP em duas conversões curtas e importantes no campo adversário, e correu 5 das 6 jogadas finais da partida (em duas campanhas diferentes) quando o time precisava de uma primeira descida. É muita burrice pra comentar todas aqui, mas ele foi o grande culpado em uma das maiores entregadas da história da NFL.

Por fim, Pete Carroll e seu FG (e sua chamada na 2nd down, mas essa não tenha sido causada por conservadorismo) no Super Bowl também caíram. Eu sempre defendi que técnicos na NFL são conservadores demais - seja pelo medo de errar e ser execrado na mídia, falta de confiança, ou pura burrice - e deixam ótimas oportunidades de melhorar suas chances de vitória na mesa, oportunidades essas que não passam por técnicos melhores como Sean Payton, Bill Belichick, e os irmãos Harbaugh. Esse playoff expôs vários desses conservadorismos e puniu cada um deles de forma exemplar. Quem sabe agora os técnicos não começam a agir com alguma inteligência ao invés de sempre seguir o manual.


- Temporada fantástica de Seattle apesar da derrota. Mas vai ser interessante como esse time vai se virar agora que perdeu o benefício salarial de pagar contratos de calouros para alguns de seus melhores jogadores. Sherman e Thomas já foram pagos, Wilson e Lynch receberão gigantescos aumentos essa offseason, e contribuidores como Bruce Irvin, Bobby Wagner e Cliff Avril logo exigirão novos contratos. Vai ser dificílimo manter todo o time junto, ainda mais manter a profundidade que faz de Seattle tão temível, e esse SB mostrou algumas limitações que Seattle poderia adereçar se tivesse condições (principalmente WR e TE). Vai ser um desafio interessante para John Schneider, um dos melhores e mais low-profile GMs da NFL, manter esse time junto ou mesmo reconstruí-lo conforme seguem se agrupando em torno de Wilson e dessa jovem e talentosa defesa.

By the way, Richard Sherman deve fazer mesmo Tommy John Surgery, e possivelmente perderá a temporada 2015 da NFL já que o tempo de recuperação dessa cirurgia na MLB é entre 12 e 18 meses (por outro lado, a MLB tem testes decentes pra PEDs. Na NFL recupera-se disso em duas semanas).


- Eu ia deixar esse ponto final fora da coluna, porque não queria gerar polêmica. Mas considerando o quanto a questão é apertada e vira uma questão de opinião, eu decidi que quero dar a minha. Ela existe, e não tem nada que você pode fazer a respeito além de concordar, discordar, debater, argumentar. Ela é minha opinião e ponto.

Mas, para mim, Tom Brady recuperou o cinturão de "Melhor QB da sua geração".

O debate Brady-Manning é muito mais apertado e parelho do que as pessoas que querem argumentar um dos lados parecem pensar. Não é nem um pouco fácil achar uma vantagem, e a verdade é que esse cinturão vai passando de um para o outro conforme o tempo avança. Brady começou melhor com seus três títulos; daí Manning bateu recordes, venceu seu primeiro título, e dominou a NFL por alguns anos; dai Brady teve a incrível temporada 18-1 e quase encerrou o debate de vez; dai Brady machucou e Manning carregou mais alguns times medíocres a ótimas temporadas ganhando alguns MVPs no processo; dai Brady voltou com tudo e ganhou mais um MVP e chegou a mais um Super Bowl enquanto Manning se machucava; dai Manning voltou ao Broncos, quebrou mais recordes, e depois mais alguns recordes, e depois ainda achou mais recordes para quebrar, chegando ao Super Bowl mais uma vez; e agora Brady ganha seu quarto anel e terceiro Super Bowl MVP, igualando os recordes de Joe Montana, seu ídolo de infância e melhor QB de todos os tempos. É uma batalha mais disputada e com mais viradas e reviravoltas do que Federer vs Nadal em Wimbledon em 2008. No fundo, quem ganha somos nós, que vimos esses dois titãs do esporte, dois dos 5 melhores QBs da história, disputando um contra o outro e contra o resto do mundo durante 16 anos.

Mas pra mim, Brady recuperou - talvez em definitivo se Manning realmente aposentar - o cinturão depois do que ele fez. Não só no Super Bowl, mas em todo o ano, mantendo junto e funcionando mais um ataque remendado e cheio de jogadores que ninguém mais quis e levando mais uma vez esse time ao topo do pódio. New England venceu 13 dos últimos 15 jogos do campeonato, de forma muito dominante, e Brady foi o centro de tudo. Ele inclusive adicionou mais dois jogos icônicos para seu invejável currículo - a incrível atuação contra o Ravens, onde venceu o jogo sozinho com exatamente zero corridas de seu ataque no segundo tempo, e um Super Bowl fantástico. O Super Bowl foi a coroação de uma temporada fantástica, aos 37 anos, e um jogo para ficar marcado no seu currículo ao lado de tantos outros, uma demolição fantástica e sistemática do poderoso time do Seahawks. Eu ligo zero para recordes como passes, TDs ou jardas em Super Bowls, porque não da pra levar a sério as estatísticas de passe da atualidade, mas a forma como ele fez contra uma excelente defesa que chamou a atenção. Tirando aquele terceiro período onde sua linha entrou em colapso e uma interceptação ruim no primeiro tempo, Brady foi simplesmente imparável e cirúrgico, achando falha atrás de falha na fortíssima defesa de Seattle. Revendo hoje as 4 campanhas de touchdown, é desmoralizador de se assistir como ele continuava movendo as correntes com passes curtos, e isso com zero ajuda do jogo terrestre, seus RBs totalizando para 53 jardas a 2.9 jardas por corrida. Merecidamente ganhou o MVP.

E assim como aqueles que acham que ter 4 títulos faz de você automaticamente melhor que quem tem 2 estão muito errados, também estão aqueles que acham que essa diferença não tem importância alguma. Tudo depende de contexto, e embora Brady tenha sido secundário nos primeiros títulos a uma grande defesa com um playbook conservador, ele também foi quem apareceu em horas decisivas ao longo de sua carreira. Um QB não ganha títulos sozinho, sem a menor dúvida, mas o New England Patriots não teria ganho esse título se não fosse Thomas Edward Patrick Brady. E isso é bom o suficiente pra mim. Mais uma vez. E pensar que teve gente que achava que ele tinha que ir pro banco na semana 4 em favor do Jimmy Garoppolo... 


- Essa foi de longe a mais desgastante temporada de NFL que eu já cobri. Dentro de campo, fora de campo. Foi uma das mais mal conduzidas, e aconteceram coisas que me fizeram questionar minha dedicação ao esporte. Em campo, foi uma das mais intensas, movimentadas, com playoffs fantásticos e muitas coisas acontecendo rapidamente. E acabou em um excelente Super Bowl, muitos gritos, e uma namorada que me deixou profundamente orgulhoso chorando pelo seu time, que enfim ganhava um título. Eu preciso de férias da NFL pela primera vez na minha vida, recarregar as baterias antes de assistir vídeos e analisar o próximo Draft, estudar fantasy e lineups, e lembrar de todas as besteiras que meu SF fez nessa offseason. A temporada foi ótima, acabou de forma ainda mais fantástica possível, e aqui me despeço da temporada 2014 da NFL.

Ou melhor, nas palavras do grande Bill Belichick:

On to the offseason...