Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Pensamentos rápidos e aleatórios sobre o Super Bowl XLIX

Malcolm Butler, para a história


O Super Bowl XLIX agora é passado. New England, que da última vez saiu de Arizona com uma das mais surpreendentes derrotas da história da NFL, agora sai coroado com seu quarto título, depois de 10 anos do último. Tom Brady se juntou a Joe Montana e Terry Bradshaw como os únicos QBs a vencerem quatro anéis, Bill Belichick se juntou a Chuck Noll como os únicos técnicos com quatro Super Bowls (em títulos totais ainda ficam atrás de Vince Lombardi e George Halas) e Malcolm Butler virou uma celebridade da noite para o dia. 

A noite de ontem foi intensa demais para escrever uma coluna séria e coerente sobre o Super Bowl, e o tempo também está em falta no momento. Ainda assim, tem algumas coisas que precisam ser ditas - ou melhor, que eu quero dizer - sobre esse Super Bowl que não podem passar de hoje. Então deixo aqui alguns pensamentos e considerações curtos sobre esse magnífico Super Bowl.


- Antes de mais nada, parabéns ao New England Patriots e aos seus muitos torcedores. O Patriots tem alguns dos torcedores mais chatos que eu já conheci, mas também tem os mais fanáticos e mais apaixonados, e a franquia em si é um exemplo ímpar de consistência e excelência no futebol americano. Nos últimos 14 anos, New England foi a seis Super Bowls, venceu quatro, e só deixou de ir aos playoffs duas vezes. Eles venceram 76% de seus jogos (170) de temporada regular nesse período, de longe a melhor marca da NFL (Colts, 150 e 67%, em segundo). Eles venceram 21 jogos de playoffs nesses 14 anos, quase o dobro de Colts e Steelers (12 cada), os segundo colocados. Ter um QB histórico como Tom Brady - especialmente nessa era que cada vez mais protege os QBs e os passes, fazendo um QB ter condições de impactar mais um jogo do que a 20 anos atrás - sem dúvida que ajuda, mas mesmo além dele, a organização sempre foi um exemplo de eficiência, maximizando seus ativos no Draft, achando valor em jogadores menores, sempre se reinventando e retomando o topo. Bob Kraft é o melhor dono da NFL, e Belichick o melhor técnico, e não a toa sempre trabalharam juntos, tirando o melhor um do outro. Sabe, ao contrário de outra franquia que tinha um dos melhores técnicos da NFL mas cujo dono quis demiti-lo para contratar alguém que fosse seu pau mandado. Uma boa franquia começa de cima, e o Patriots tem isso mais que qualquer um. Uma vitória merecida, para o time e a sua torcida, e com sabor extra depois que muita gente correu para descartar New England quando perdeu do Chiefs na semana 4.


- Na minha vida, o melhor Super Bowl de todos foi em 2009 (mas o da temporada 2008), entre Arizona Cardinals e Pittsburgh Steelers. Em termos de jogo bem jogado, emoção, reviravoltas e puro e simples nível de entretenimento, eu não tenho certeza que um dia algum Super Bowl superará aquele. Ele foi perfeito demais. 

Mas o Super Bowl XLIX foi um dos melhores de todos os tempos em seu próprio mérito. O primeiro tempo foi feio e cansativo, e o jogo não pegou fogo até o quarto período. Mas foi um quarto período para a história. Duas campanhas perfeitas de um dos maiores QBs da história do esporte para virar um jogo que muitos deram como perdido, a quase virada de Seattle, a recepção absolutamente bizarra do Jermaine Kearse (qualquer torcedor do Pats que disse que não teve flashbacks pra recepção do David Tyree ou está mentindo ou não assistia NFL na época), Seattle praticamente garantindo o jogo, dois erros técnicos grosseiros em um espaço de 30 segundos (chegaremos neles), e uma jogada improvável (e isso é um understatement) para uma das maiores reviravoltas da história do Super Bowl. Considerando quanto tempo faltava, onde a bola estava, o que estava em jogo, o fato do Seahawks ter Marshawn Lynch pronto para entrar na end zone - tinha três tentativas para isso - e quem fez a jogada (um calouro não-draftado da divisão II da NCAA), acho que não caio em hipérbole ao dizer que foi uma das jogadas mais improváveis da história do futebol americano. Foi tão maluca, tão surreal, que eu fiquei dois segundos parado tentando processar o que aconteceu antes de finalmente cair a grande ficha. É exatamente assim que você quer que seu domingo termine.


- Eu não sei se foi Darrell Bevell ou Pete Carroll que chamou a jogada final de Seattle - supostamente foi Carroll - mas, considerando situação, conjuntura, alternativas e que era o freaking Super Bowl, foi a pior chamada de um técnico da história do futebol americano. Você tem Marshawn Lynch - talvez o melhor RB da NFL e sem dúvida o melhor da liga em termos de força física e de conseguir jardas extras, o cara que é seu melhor jogador ofensivo e foi a alma do seu time por três anos - você tem um tempo pra pedir, você ainda tem tempo no relógio, e três jogadas para conseguir UMA JARDA. Um touchdown te da 99% de chance de vencer, e New England não tem esperanças de segurar Marshawn Lynch (4.4 YPC, 102 jardas na partida), tendo a pior defesa da temporada contra o jogo terrestre em situações de "força", per Football Outsiders. A única esperança - mínima - do Patriots ali era conseguir um turnover milagroso, mas Seattle nunca chamaria uma jogada para dar essa chance sendo que dar a bola nas seguras mãos de seu RB tem uma chance maior de sucesso.

Mas ao invés de dar a bola para Lynch, inexplicavelmente, Seattle decidiu ir para um passe, que Malcolm Butler interceptou. Não existe NENHUM motivo cabível pro Seahawks ir pro passe ali. Considerando que só precisava de uma jarda e que a única esperança do Patriots era um turnover, não tem porque ir para uma jogada onde você coloca a bola no ar e arrisca essa interceptação. Sim, ir para a corrida pode ter um fumble, mas indo para o passe você pode sofrer um sack (que dificultaria consideravelmente as ultimas tentativas), um fumble ou uma interceptação, muito mais opções negativas. Além disso, a corrida também tem muito mais chance de sucesso: nos últimos dois anos, dentro da linha de uma jarda, times converteram 57% de suas jogadas de corrida em touchdowns (e sofreram fumbles em 0.9% delas), enquanto que só 49% de suas jogadas de passe viraram TDs (com 6.2% das jogadas virando um turnover e/ou um sack, as duas jogadas que Seattle absolutamente devia evitar). E isso antes de entrar no mérito que você tem MARSHAWN LYNCH, seu melhor jogador e RB mais imparável da NFL, para correr com a bola, que você teve o melhor ataque terrestre da temporada, e que o Patriots foi o pior time de 2014 defendendo a corridas em situações de curtas distâncias. Então não só você tirou a bola das mãos do seu craque, mas fez isso para ir atrás de uma jogada de maior risco e menor chance de sucesso, em um lance onde você ABSOLUTAMENTE devia evitar um turnover a todo custo. Foi uma decisão historicamente estúpida, que custou um Super Bowl ao seu time nos segundos finais. É verdade que uma interceptação ali não é um cenário provável e a INT foi um pior cenário possível, mas porque ir para uma jogada que te da esse pior cenário possível? Em um vácuo, a decisão ja foi ruim, mas considerando os times e os jogadores envolvidos, ela se torna genuinamente horrível. Adicione que ela foi a jogada decisiva de um Super Bowl, na linha de 1 jarda, faltando 30 segundos e que causou uma mudança de mais de 80 pontos percentuais na expectativa de vitória das equipes, e você tem a pior chamada da história da NFL.

O TM Warning conseguiu vídeos exclusivos do que se passava na cabeça do Pete Carroll naquele momento.




- Pior do que a decisão de ir para o passe naquela situação foram as desculpas que Carroll e Bevell deram depois do jogo para explicá-la. Bevell disse que ainda tinha muito tempo no relógio e o time queria gastá-lo até o fim, o que é uma explicação que faz sentido só se você estava em Seattle e consumiu 1 kg da maconha "Marshawn Lynch". Esqueça a interceptação - qual o upside disso? Se é TD, tem exatamente o mesmo efeito de uma corrida, e New England ainda recebe a bola com 30s e dois tempos pra tentar um FG. Se o passe é incompleto, você para o relógio sem queimar um tempo do Pats. Porque diabos então você chamaria essa jogada para gastar o relógio?!

As de Carroll não foram muito melhores. Embora ele tenha assumido a responsabilidade pela chamada e pela derrota, ele disse que o fez porque o Patriots estava em formação de goal-line, o que simplesmente não era verdade (o próprio Darrelle Revis confirmou o que a gente viu). E depois, para piorar, defendeu a chamada dizendo que, como o Pats estava em sua formação de goal-line (não estava), achou que não era um bom matchup para correr e que portanto chamou um passe para "queimar uma jogada" ou "jogar a jogada fora". Não, sério, eis o que ele disse no original, via Ian O'Connor da ESPN: "It [the goal-line defense] is not the right matchup for us to run the football, so on second down we were throwing the ball to kind of waste the play". 

... oh, God. Isso é muito ruim. 2nd and goal, 30 segundos no relógio, no freaking SUPER BOWL, perdendo de 4, você não confia na sua maior força e chama uma jogada para jogar uma descida fora?! É a pior explicação de uma chamada ruim que eu vi nos últimos tempos. Para usar uma analogia do Michael Lewis, parece uma rotina dos irmãos Marx, onde um está pegando fogo e o outro tenta apagar jogando nele um balde escrito "QUEROSENE".



- Quanto de culpa teve Russell Wilson na interceptação decisiva?

Como sempre, é muito difícil dizer com certeza, mas podemos tentar. Primeiro de tudo, a chamada do passe não foi dele - veio do banco, e ele não me pareceu fazer nenhum grande ajuste na linha a não ser talvez redistribuir os jogadores. Então o maior erro da jogada já passa por fora de Wilson.

Dada que a jogada chamada já era um passe, então a primeira coisa que chama a atenção é que Wilson fez a leitura certa na linha de scrimmage. Eis a situação da jogada antes do snap.



Considerando que o Hawks vai para o passe, Wilson olha para a parte de baixo do campo e ve Kearse e Lockette no mano a mano com Browner (marcando Kearse próximo a linha) e Butler (marcando Lockette a distância). Identificando o elo fraco da defesa do Pats (Butler, o quinto CB do time), a jogada ainda vai tirar vantagem desse matchup. Kearse vai "atacar" Browner, bloqueando-o próximo a linha, e com o DB que marca a linha fora da jogada, Lockette vai usar essa liberdade para cortar em direção ao espaço no meio sem ninguém acompanhando-o. A jogada, no primeiro momento, funciona como esperado - Kearse tira o CB da jogada, e Lockette corta para o meio com muito espaço próximo a linha. Wilson vê que Browner não conseguiu acompanhar Lockette no slant, vê o camisa 83 sem acompanhamento, e lança o passe na direção do espaço para onde ele se dirige. É a jogada que Seattle queria.



Eis o grande problema do passe: Wilson joga para Lockette porque viu que Browner está fora do lance, abrindo espaço no meio, mas em nenhum momento ele vê Butler se aproximando da jogada. Não sei se ele literalmente não vê Butler (que estava atrás de Browner no seu campo de visão) ou se achou que ele não chegaria no lance, mas é um erro grave de leitura, especialmente porque Butler não está acompanhando Lockette - ele está cortando diretamente para o mesmo lugar que ele e se colocando na mesma zona para "receber" o passe. E o passe sai ruim - não é um passe baixo ou um passe próximo ao corpo de Lockette onde ele possa usar o corpo de "escudo" e pelo menos evitar uma interceptação, mas um passe alto e na frente do seu corpo, onde Butler tem espaço de sobra para fazer uma jogada na bola.

A minha impressão é que ele não viu Butler, seja porque estava fora do seu campo de visão ou por um erro de leitura mesmo. Se visse o DB do Patriots, ele possivelmente ainda teria ido atrás de Lockette - que era sua primeira leitura em uma jogada rápida, e que conseguiu a separação na linha que ele esperava, a jogada que eles queriam desde o começo - mas certamente teria feito um passe mais próximo do seu corpo, e não um tão longe e tão pendurado para o defensor fazer uma jogada. Então foi um erro de leitura, e um passe ruim que permitiu ao defensor fazer a jogada. Mas ainda assim, é difícil colocar demais no prato dele: ele fez a leitura certa antes da jogada, conseguiu a separação do WR que queria, e ninguém esperava que um calouro não-Draftado de West Alabama fizesse uma jogada fantástica dessas. Cada um pode tirar as próprias conclusões a partir dos fatos que eu mostrei acima, mas a meu ver, embora tenhamos que reconhecer que Wilson (que fez ótima partida) fez uma jogada ruim (especialmente na leitura da defesa), na hierarquia isso só vem depois de dar muitos méritos ao Butler por uma jogada fantástica e improvável e de dar os devidos pescotapas no Carroll por essa chamada atroz. 


- A péssima, SB-losing decisão do Carroll acabou tirando o foco de uma inexplicável e péssima decisão do Bill Belichick de não pedir um tempo depois a primeira descida de Seattle. A jogada de Seattle acabou com pouco mais de 1m no relógio, e New England tinha dois tempos para pedir. Inexplicavelmente, Belichick não pediu tempo, e o relógio correu para 25 segundos antes da jogada seguinte de Seattle. 

É uma decisão horrível. New England estava com vantagem de 4 pontos, então mesmo se tomasse um TD, ainda poderia empatar com um field goal. O problema é que deixar o relógio correr esses 40 segundos praticamente tirava todo o tempo que o Patriots poderia ter para empatar. Se New England pede um tempo e toma um TD na jogada seguinte, teria quase 1 minuto e um tempo pra empatar o jogo com um FG. Como não pediu, se Lockette faz o TD ali, o time teria 20, 15 segundos e dois tempos pra empatar, muito menos e uma situação infinitamente mais difícil. Caso ele peça tempo, o pior cenário que poderia acontecer em termos de tempo no relógio seria caso Seattle corresse 2x e não anotasse o TD, forçando New England a usar o último TO e depois gastarem mais 40s do relógio... mas dai teriam uma quarta descida, e se é pra ter 20 segundos no relógio, tenho certeza que é bem melhor uma 4th down do que uma 2nd and 1. Não usar o timeout ali poderia ter custado o jogo ao Pats. Belichick é o melhor técnico da NFL e um dos melhores da história da liga, mas foi um erro grosseiro da parte dele. 


- Quer dizer que até mesmo o Imperador Palpatine da NFL tem um lado sentimental? Talvez minha foto favorita do Super Bowl. Aliás, Greg Popovich - outro técnico histórico famoso pelo mal humor e pela fama de durão - também chorou um monte ano passado quando foi campeão da NBA. É o outro lado de ser um filha da mãe ultracompetitivo. Quando você alcança o seu objetivo final depois de tanta superação, é ainda mais gostoso e emocionante. 




- Por falar em Popovich, é coincidência que Spurs e Patriots - os dois times mais vitoriosos e consistentes dos EUA no milênio - finalmente deram a volta por cima e ganharam títulos em 2014 (tecnicamente o do Pats foi 2015, mas você entendeu. A temporada era 2014) com suas estrelas aos 37 anos e no final de suas carreiras? A do Patriots foi mais sofrida, a do Spurs mais dominante, mas ambas incrivelmente memoráveis. 


- O primeiro tempo, em particular, foi uma aula de tática da parte do Patriots. Seattle dominou o ano todo usando sua tática habitual, e seu jogo de sempre, mas New England sabe que não tem tanto talento em campo como seu adversário, mas tem muito mais técnico. E uma das coisas que fez de New England tão bom o ano todo foi sua capacidade de se adaptar e se preparar para cada adversário que enfrentou.

Ontem não foi exceção. Sabendo que Seattle tinha mais talento, New England se propôs a vencer o jogo na tática, e no primeiro tempo deu uma aula disso. Seattle gosta de jogar com os safeties no fundo do campo, tirando a opção das bolas longas e protegendo as costas de seus CBs, enquanto confia no físico de seus cornerbacks para controlar a linha de scrimmage por conta própria. Mas Sherman, Thomas e Chancellor estavam jogando com lesões, e New England começou o jogo disposto a explorar isso, fazendo passes curtos e laterais e forçando os defensores um tanto baleados de Seattle a fazer tackles em campo aberto, tendo algum sucesso em jardas após a recepção. Mas depois que Jeremy Lane saiu com uma fratura feia no braço, o Seahawks foi forçado a usar seu reserva, Tharold Simon. Era o que o Pats precisava.

New England imediatamente começou a atacar Simon, claramente o elo fraco da defesa do time de Washington. Aproveitando que os safeties de Seattle jogam em profundidade e que Simon não tinha condição de marcar próximo a linha os WRs de New England, o ataque do Patriots começou a explorá-lo e os espaços atrás dele em rotas curtas, slants e passes a partir do backfield para Shane Vereen. Simon não teve condições de aguentar a atenção - 7 passes, 96 jardas e 2 TDs para Brady lançando na sua direção - e foi batido várias vezes seguidas. Simon não conseguia marcar Edelman sem ajuda de um safety, mas deslocar um safety iria tirar Seattle da sua zona de conforto, e era o que New England queria. Quando o Hawks tentava deslocar algum jogador do meio para ajudar Simon, Brady fazia-os pagar com Vereen ou uma rota cruzando pelo meio. Até que por fim, Seattle cedeu e em uma jogada colocou Earl Thomas próximo a linha de scrimmage para marcar os passes curtos. Era a oportunidade que New England esperava. Brady alinhou Gronkowski aberto no mano a mano contra KJ Wright, pela primeira vez sem ajuda do safety nas costas, e um duelo que sem uma cobertura atrás Gronk vai vencer 95% das vezes. Gronk facilmente bateu Wright para um TD longo, na coroação de uma sequência perfeita do ataque de New England. O outro TD do Patriots no primeiro tempo veio, claro, em um slant de LaFell em cima de Simon, que continuou a ser atacado com os safeties em profundidade.

O primeiro tempo foi uma aula tática do Patriots pra cima do Seahawks, e só não conseguiu abrir vantagem por causa dos próprios erros. A interceptação besta de Brady na red zone, a facemask de Arrington, a corrida cedida num draw do Seattle que deveria encerrar o primeiro tempo que foi para 17 jardas - sem os dois primeiros erros, New England vai para o vestiário vencendo por 7 pontos, e sem o terceiro, por 10 pontos. Ao invés disso, errou e o jogo permaneceu apertado. 

No segundo tempo, Seattle retomou o controle do jogo mesmo sem um grande ajuste tático, mas simplesmente porque começou a executar muito melhor. A única mudança foi passar Michael Bennett para o interior da linha, e deu muito certo - ele demoliu os linemen inexperientes do Patriots no interior, e ele e Cliff Avril fizeram do Patriots a vida miserável, destruindo a linha ofensiva e deixando Brady sem tempo nem ritmo no pocket para fazer seus passes, que dependem tanto de timing, funcionarem (a saída de Cliff Avril com uma concussão foi um fator chave para o ataque do Patriots voltar a funcionar no quarto período). A saída de Avril fez o Patriots retomar o domínio da linha (aumentando as atenções sobre Bennett) e ganhar tempo para Brady no pocket, e assim pode voltar a executar seu esquema bem pensado: atacar Simon (que foi absolutamente abusado por Edelman na red zone), e explorar o meio do campo quando os linebackers de Seattle se deslocavam para cobrir os CBs batidos de Seattle. Mesmo que a jogada decisiva da partida tenha sido na defesa, foi uma performance fabulosa de Belichick e da comissão técnica montando e adaptando um plano de jogo perfeito para o ataque que levou a melhor sobre a excelente defesa do Seahawks.


- Por falar em decisões técnicas, Pete Carroll recebeu críticas totalmente merecidas por sua ridícula chamada no passe decisivo, mas ele também cometeu um outro erro crucial na partida que pode ter custado seu time. No começo do terceiro quarto, Seattle chegou na linha de 8 jardas do Patriots, mas viu Lynch ser pego em uma jogada de option que deu errado para nenhum ganho. Com uma 4th and 1 da linha de 8 jardas, Carroll decidiu chutar um FG. Mike McCarthy ficaria orgulhoso.

Algumas pessoas dirão que o era cedo no jogo para arriscar, que o jogo estava empatado, e que ele fez bem em ficar com os pontos. Essas pessoas também estão erradas. New England estava destruindo a defesa do Seahawks taticamente desde a entrada de Simon, e embora a defesa fosse eventualmente achar seu pass rush e dominar o terceiro período, Seattle ainda não sabia disso porque era a primeira campanha do segundo tempo. Ninguém realmente podia esperar que o jogo terminaria 17-14 com esse FG sendo o da vitória. Contra um grande ataque contra o Patriots, que estava tendo grande sucesso porque sabia exatamente como atacar sua defesa, você quer garantir o máximo possível de pontos, e estando DENTRO da linha de 10 do adversário só precisando de uma jarda para ganhar uma nova série de descidas, esse é o tipo de chance que você precisa converter. Mas não. Carroll se contentou com um FG, assim como Mike McCarthy antes dele. E assim como Mike McCarthy antes dele, chutar esse FG ao invés de anotar um TD custou pontos que, eventualmente, lhe custariam a vitória.

Se você quer ficar técnico, o modelo probabilístico do Football Analysis diz que Seattle devia tentar a quarta descida se tivesse 45% de chance ou mais de converter o first down. Nos dois anos que Seattle chegou ao Super Bowl, a equipe converteu 62% de suas tentativas em jogadas que faltavam uma jarda para primeira descidas, inclusive 64% das tentativas correndo. Considerando esse dado, que o Seahawks tem o melhor RB de força da NFL, o ataque terrestre #1 da liga, e que New England teve a PIOR defesa terrestre da NFL em situações curtas, é seguro dizer que a chance do Seahawks converterem essa quarta descida era bem superior a 45%. Carroll tomou uma decisão ruim que, embora sozinha não tenha custado o jogo ao seu time, diminuiu as chances de vitória da equipe e fez bastante falta no final. Carroll não tem como saber como o jogo se desenrolará até o final, para saber que aqueles quatro pontos seriam a diferença fatal da partida, mas justamente por não saber ele tem que pensar em tomar a decisão que da o máximo de pontos possíveis ao seu time. Se fosse uma 4th and 20, a chance de converter seria mínima, então o FG geraria mais pontos do que a probabilidade mínima de converter a descida e ficar com o TD. Mas dentro da linha de 10, precisando de só uma jarda e com Lynch, a chance de converter era altíssima e teria aumentado em muito a chance de 7 pontos. Carroll tomou a decisão errada, a primeira e menos custosa das duas, mas não menos digna de nota.

Coloque da seguinte maneira: se Carroll tentasse a conversão de quarta descida, falhasse, e perdesse o jogo por 3 pontos, todos os tradicionalistas iriam correndo apontar que essa decisão custou o jogo. Agora que o time perdeu por os 4 pontos da sua covardia de tentar um FG ao invés de tentar um FG, você não ouvirá uma palavra na mídia tradicional a respeito porque Carroll tomou a decisão "comum". Mas deveria. É muito pior ter um resultado ruim a partir de uma má decisão do que ter um resultado ruim a partir de uma boa decisão, porque o resultado o técnico não controla. O processo sim. Ele tem que tomar a decisão cujo processo da ao time a melhor chance de vencer, e não foi isso que ele fez.


- Esses playoffs foram absolutamente sensacionais em praticamente todos os aspectos, tirando imprevisibilidade. Mas o que eu mais gostei deles, de longe, foi que eles funcionaram como um ecossistema extremamente impiedoso com técnicos. Não só porque o melhor de todos ficou com o título, Belichick, mas porque um a um os técnicos conservadores, covardes e incompetêntes (e mesmo técnicos que não são nenhum deles, mas simplesmente tiveram decisões que foram) foram caindo justamente por causa de seus próprios erros. Um a um, os playoffs foram eliminando-os através de seus próprios erros.

O primeiro a cair foi o mais covarde e conservador de todos, Jim Caldwell, que aterrorizou torcedores do Lions o ano todo com sua paixão por field golas e um conservadorismo quase amador. Os torcedores do Lions reclamarão da amadora arbitragem que não marcou a falta em Brandon Pettigrew em uma 3rd down crucial, e com razão, mas a verdade é que mesmo depois disso o time ainda tinha uma 4th and 1 no campo de ataque, que poderia converter para manter o ataque vivo, continuar com a bola e eventualmente anotar pontos. Detroit conseguiu 1st downs em 66% de suas conversões de uma jarda nos últimos dois anos, e a defesa de Dallas é abaixo da média. Mas Caldwell foi pelo livro, e optou por devolver a bola para um dos melhores ataques da NFL sem nenhuma outra ação ofensiva - ganhando por apenas 4 pontos. Dallas pegou a bola, anotou o touchdown, e o Lions teve que fazer uma campanha desesperada para anotar um FG que poderia ter anotado uma campanha antes. Eventualmente, a temporada do Lions acabou em uma 4th and 3 - uma conversão que Detroit só conseguiu em 51% das tentativas nos últimos dois anos, bem abaixo dos 66% daquela 4th and 1 de antes. Detroit falhou, e foi eliminado.

Caldwell passou o bastão a Jason Garrett, que corajosamente arriscou duas quartas descidas contra Detroit e foi premiado por isso. Mas contra Green Bay, foi conservador na hora errada, e isso lhe custou caro. Com o final do primeiro tempo chegando ao fim, Dallas teve uma 4th and 1 no campo de ataque faltando pouco mais de 30 segundos no relógio e um tempo para pedir. Garrett optou por tentar um FG de 45 jardas, um FG bastante difícil em um dia ventoso e de baixíssima temperatura, ao invés de tentar uma conversão (que Dallas converteu 69% das vezes, inclusive) para pelo menos aproximar o FG ou mesmo sonhar com um TD. O time se complicou na hora de formar o FG, fez uma falta, errou o FG subsequente, e viu o Packers aproveitar a ótima posição de campo para anotar um FG antes do intervalo. Um erro de 6 pontos. A temporada de Dallas acabou - surpresa! - com eles desesperadamente tentando converter uma 4th and 2 no território do Packers, que acabou na infame recepção que não valeu (corretamente) do Dez Bryant.

Mas o bastão dos técnicos tomando decisões covardes e conservadores passou para Mike McCarthy, que determinado a superar seus adversários, teve o jogo mais medroso, covarde, conservador, irracional, inconsequente... enfim, o pior jogo que eu já vi de um técnico em 14 anos de NFL. Basicamente, ele não confiou no jogo terrestre em duas 4th and 1 da linha de 1 jarda após turnovers de Seattle, preferindo chutar FGs em ambas as vezes, mas preferiu confiar no jogo terrestre ao invés de dar a bola nas mãos do seu QB MVP em duas conversões curtas e importantes no campo adversário, e correu 5 das 6 jogadas finais da partida (em duas campanhas diferentes) quando o time precisava de uma primeira descida. É muita burrice pra comentar todas aqui, mas ele foi o grande culpado em uma das maiores entregadas da história da NFL.

Por fim, Pete Carroll e seu FG (e sua chamada na 2nd down, mas essa não tenha sido causada por conservadorismo) no Super Bowl também caíram. Eu sempre defendi que técnicos na NFL são conservadores demais - seja pelo medo de errar e ser execrado na mídia, falta de confiança, ou pura burrice - e deixam ótimas oportunidades de melhorar suas chances de vitória na mesa, oportunidades essas que não passam por técnicos melhores como Sean Payton, Bill Belichick, e os irmãos Harbaugh. Esse playoff expôs vários desses conservadorismos e puniu cada um deles de forma exemplar. Quem sabe agora os técnicos não começam a agir com alguma inteligência ao invés de sempre seguir o manual.


- Temporada fantástica de Seattle apesar da derrota. Mas vai ser interessante como esse time vai se virar agora que perdeu o benefício salarial de pagar contratos de calouros para alguns de seus melhores jogadores. Sherman e Thomas já foram pagos, Wilson e Lynch receberão gigantescos aumentos essa offseason, e contribuidores como Bruce Irvin, Bobby Wagner e Cliff Avril logo exigirão novos contratos. Vai ser dificílimo manter todo o time junto, ainda mais manter a profundidade que faz de Seattle tão temível, e esse SB mostrou algumas limitações que Seattle poderia adereçar se tivesse condições (principalmente WR e TE). Vai ser um desafio interessante para John Schneider, um dos melhores e mais low-profile GMs da NFL, manter esse time junto ou mesmo reconstruí-lo conforme seguem se agrupando em torno de Wilson e dessa jovem e talentosa defesa.

By the way, Richard Sherman deve fazer mesmo Tommy John Surgery, e possivelmente perderá a temporada 2015 da NFL já que o tempo de recuperação dessa cirurgia na MLB é entre 12 e 18 meses (por outro lado, a MLB tem testes decentes pra PEDs. Na NFL recupera-se disso em duas semanas).


- Eu ia deixar esse ponto final fora da coluna, porque não queria gerar polêmica. Mas considerando o quanto a questão é apertada e vira uma questão de opinião, eu decidi que quero dar a minha. Ela existe, e não tem nada que você pode fazer a respeito além de concordar, discordar, debater, argumentar. Ela é minha opinião e ponto.

Mas, para mim, Tom Brady recuperou o cinturão de "Melhor QB da sua geração".

O debate Brady-Manning é muito mais apertado e parelho do que as pessoas que querem argumentar um dos lados parecem pensar. Não é nem um pouco fácil achar uma vantagem, e a verdade é que esse cinturão vai passando de um para o outro conforme o tempo avança. Brady começou melhor com seus três títulos; daí Manning bateu recordes, venceu seu primeiro título, e dominou a NFL por alguns anos; dai Brady teve a incrível temporada 18-1 e quase encerrou o debate de vez; dai Brady machucou e Manning carregou mais alguns times medíocres a ótimas temporadas ganhando alguns MVPs no processo; dai Brady voltou com tudo e ganhou mais um MVP e chegou a mais um Super Bowl enquanto Manning se machucava; dai Manning voltou ao Broncos, quebrou mais recordes, e depois mais alguns recordes, e depois ainda achou mais recordes para quebrar, chegando ao Super Bowl mais uma vez; e agora Brady ganha seu quarto anel e terceiro Super Bowl MVP, igualando os recordes de Joe Montana, seu ídolo de infância e melhor QB de todos os tempos. É uma batalha mais disputada e com mais viradas e reviravoltas do que Federer vs Nadal em Wimbledon em 2008. No fundo, quem ganha somos nós, que vimos esses dois titãs do esporte, dois dos 5 melhores QBs da história, disputando um contra o outro e contra o resto do mundo durante 16 anos.

Mas pra mim, Brady recuperou - talvez em definitivo se Manning realmente aposentar - o cinturão depois do que ele fez. Não só no Super Bowl, mas em todo o ano, mantendo junto e funcionando mais um ataque remendado e cheio de jogadores que ninguém mais quis e levando mais uma vez esse time ao topo do pódio. New England venceu 13 dos últimos 15 jogos do campeonato, de forma muito dominante, e Brady foi o centro de tudo. Ele inclusive adicionou mais dois jogos icônicos para seu invejável currículo - a incrível atuação contra o Ravens, onde venceu o jogo sozinho com exatamente zero corridas de seu ataque no segundo tempo, e um Super Bowl fantástico. O Super Bowl foi a coroação de uma temporada fantástica, aos 37 anos, e um jogo para ficar marcado no seu currículo ao lado de tantos outros, uma demolição fantástica e sistemática do poderoso time do Seahawks. Eu ligo zero para recordes como passes, TDs ou jardas em Super Bowls, porque não da pra levar a sério as estatísticas de passe da atualidade, mas a forma como ele fez contra uma excelente defesa que chamou a atenção. Tirando aquele terceiro período onde sua linha entrou em colapso e uma interceptação ruim no primeiro tempo, Brady foi simplesmente imparável e cirúrgico, achando falha atrás de falha na fortíssima defesa de Seattle. Revendo hoje as 4 campanhas de touchdown, é desmoralizador de se assistir como ele continuava movendo as correntes com passes curtos, e isso com zero ajuda do jogo terrestre, seus RBs totalizando para 53 jardas a 2.9 jardas por corrida. Merecidamente ganhou o MVP.

E assim como aqueles que acham que ter 4 títulos faz de você automaticamente melhor que quem tem 2 estão muito errados, também estão aqueles que acham que essa diferença não tem importância alguma. Tudo depende de contexto, e embora Brady tenha sido secundário nos primeiros títulos a uma grande defesa com um playbook conservador, ele também foi quem apareceu em horas decisivas ao longo de sua carreira. Um QB não ganha títulos sozinho, sem a menor dúvida, mas o New England Patriots não teria ganho esse título se não fosse Thomas Edward Patrick Brady. E isso é bom o suficiente pra mim. Mais uma vez. E pensar que teve gente que achava que ele tinha que ir pro banco na semana 4 em favor do Jimmy Garoppolo... 


- Essa foi de longe a mais desgastante temporada de NFL que eu já cobri. Dentro de campo, fora de campo. Foi uma das mais mal conduzidas, e aconteceram coisas que me fizeram questionar minha dedicação ao esporte. Em campo, foi uma das mais intensas, movimentadas, com playoffs fantásticos e muitas coisas acontecendo rapidamente. E acabou em um excelente Super Bowl, muitos gritos, e uma namorada que me deixou profundamente orgulhoso chorando pelo seu time, que enfim ganhava um título. Eu preciso de férias da NFL pela primera vez na minha vida, recarregar as baterias antes de assistir vídeos e analisar o próximo Draft, estudar fantasy e lineups, e lembrar de todas as besteiras que meu SF fez nessa offseason. A temporada foi ótima, acabou de forma ainda mais fantástica possível, e aqui me despeço da temporada 2014 da NFL.

Ou melhor, nas palavras do grande Bill Belichick:

On to the offseason...

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Preview 2013 - New England Patriots

Jogadores executam dança tribal típica de New England


Para saber do que estamos falando aqui e dessas estatísticas, recomendo a leitura desse post antes
Se quiser opinioes e analises sobre o Draft, voces podem ler o Running Diary da primeira rodada ou o manual de como avaliar um Draft na NFL

Peço perdão pelo atraso nesse preview, tive alguns problemas de ordem técnica e de saúde ontem. Mas hoje, enfim, vamos começar o primeiro dos nossos 32 preview da NFL pela AFC East, em particular por um dos times mais populares no Brasil: O New England Patriots. Se você não tem ideia do que estou falando, recomendo que leia esse post introdutório.

New England Patriots

2012 Record: 12-4
Ataque ajustado: 1st
Defesa ajustada: 15th


O Patriots é daquelas organizações que são tão sólidas e tão estáveis, por tanto tempo, que ja praticamente sabemos o que esperar delas a cada ano. No caso do Patriots, isso significa um ataque fortíssimo ancorado por um dos grandes QBs da história da NFL, Tom Brady, acompanhado de uma defesa fraca ou, no máximo, mediana. É um time que conhece suas limitações defensivas e que não se importa de tomar muitos pontos desde que tenha a oportunidade de anotar muitos pontos também, e por isso sempre preferiu jogar um estilo de jogo rápido, de muitas posses de bola e de placares elevados.

Os números recentes reforçam essa noção de time de grande ataque e defesa instável: desde a lendária temporada de 2007 do Patriots (na qual terminou a temporada regular invicto), o ataque do Patriots terminou a temporada rankeado (em números ajustados) 1st, 8th (2008 foi o ano que Tom Brady perdeu a temporada inteira com uma lesão no joelho), 1st, 1st, 3rd e 1st de novo em 2012, enquanto nesse mesmo período sua defesa foi rankeada 11th, 17th, 14th, 21st, 30th e 15th. Entao, a primeira vista, era de se esperar que o Patriots viesse para a temporada 2013 trazendo mais do mesmo.

Embora essa noção não esteja exatamente errada, ela é uma visão limitada e até mesmo um pouco injusta em relação ao que o Patriots tem feito de certo, ao longo de mais de uma decada de dominância. Na verdade, embora muitos não se lembrem (ou não acompanhavam NFL na época), mas o Patriots  começou essa dinastia no começo dos anos 2000 através de sua defesa, uma defesa forte e agressiva com um ataque conservador, que controlava o ritmo do jogo e evitava erros (pense no que o 49ers fez em 2011, por exemplo). A defesa do Patriots foi 7th, 2nd e 7th entre 2003 e 2005, e o ataque só atingiu status top10 em 2005. Os três titulos da franquia vieram nas costas de um ataque mediano, mas sólido, e de uma defesa superior.

Então por isso eu digo que o sucesso do Patriots não veio de seu sucesso com a fórmula de ataque forte/defesa mediana e da sua capacidade de aproveitar um talento espetacular no seu Quarterback para montar ataques devastadores, e sim da capacidade de Bill Belichick e de Robert Kraft de se adaptarem a cada situação que encontram pela frente e de sempre jogarem da melhor forma possível com as cartas que tem nas mãos. No final dos anos 90 e começo dos anos 2000, o Patriots era um bom time com uma defesa superior e um ataque explosivo, mas um pouco inconsistente e autodestrutivo nas maos do QB Drew Bledsoe. Com a lesão de Bledsoe, o time mudou pra um ataque mais conservador, que cuidava melhor da bola e com o mais preciso Tom Brady (ainda novinho) no controle, como a melhor forma de complementar a boa e agressiva defesa da equipe, e que eventualmente levou o time a três títulos. Quando em meados de 2004 a NFL fez alguns ajustes nas regras pra favorecer os ataques aéreos, o Belichick decidiu que era hora de dar o comando do time para seu Quarterback espetacular e deixar o ataque ser o novo carro chefe da equipe. Quando, após a decepção no Super Bowl de 2007 e de uma temporada sem playoffs na qual Brady se machucou em 2008, a maior parte dos veteranos que montaram a boa defesa do Patriots por quase sete anos se aposentaram ou sairam da equipe, deixando a defesa bastante fraca, o Patriots aumentou ainda mais seu ritmo de jogo e a velocidade do seu ataque, de forma a trazer os jogos para uma disputa de ataque (seu ponto forte). Quando o Patriots viu que Randy Moss não ia mais ser um fator e se viu incapaz de achar um novo WR explosivo que encurtasse defesas, o Patriots foi em outra direção e buscou no Draft dois Tight End hiperatléticos (que cairam por conta de problemas de lesão e extra-campo) para explorar o máximo de missmatches pelo meio da defesa que pudesse. Ao longo desses 13 anos, o New England Patriots se manteve na elite da Liga por conta da sua capacidade impar de adaptação e de entender perfeitamente em que direção a Liga caminhava.

Digo isso tudo porque essa capacidade de adaptação do Patriots vai ser muito importante se o time quiser brigar por título em 2013 depois de uma offseason, na falta de uma palavra melhor, desastrosa.

Em termos do "ponto de partida" da temporada passada, o Patriots não oferece nenhum desafio: O time terminou a temporada 12-4, um número que a maior parte das estatísticas parecem confirmar. A Pythagorean Expectation do time foi exatamente de 12-4, e o Patriots terminou 4-4 em jogos decididos por uma posse de bola. Embora o time tenha tido um calendário relativamente fácil em 2012 (21st mais forte), a previsão pra 2013 não é assustadora (15th mais forte). E eles também tiveram um ano azarado com fumbles, recuperando apenas 46% deles. Em outras palavras, o Patriots de 2012 foi exatamente o que pareceu ser, sem nenhum absurdo que indique uma regressão ou uma melhora.

O problema do New England Patriots foi sua offseason, ou o que mudou do ano passado pra este. Mais especificamente, esses são os jogadores que lideraram o Patriots ano passado em jardas recebidas por partida:


(Pros que não conseguem ver a imagem, eles são, em ordem: Wes Welker, Rob Gronkowski, Donte Stallworth, Brandon Lloyd, Aaron Hernandez, Danny Woodhead, Julian Edelman, Deion Branch, Kellen Winslow)


Entre esses nove jogadores, os principais recebedores do Patriots em jardas por jogo (mesmo aqueles como Winslow e Stallworth, que jogaram apenas um jogo), sete estão fora da organização, e o outro (Gronkowski) está se recuperando de cinco (!!!) cirurgias nessa offseason e é bastante provável que perca alguns jogos da temporada e que não volte 100%. Caso voce queira tudo mastigado, o grande problema do Patriots é que seu competente corpo de recebedores de 2012, que impulsionou o melhor ataque e o melhor ataque aereo de 2012, se desmanchou completamente: Branch aposentou, Stallworth foi pra Washington, Woodhead foi pra San Diego, Lloyd não deve voltar, Wes Welker pulou o muro e foi pra Denver jogar com Peyton Manning, e Aaron Hernandez foi preso por homicídio. Entre os que sobraram, ficam apenas Edelman (atualmente machucado) e Rob Gronkowski, que possivelmente não será em 2013 nem sombra do jogador que foi depois de tantas cirurgias tão perto da temporada.

O Patriots não ficou parado, e trouxe o competente Danny Amendola, que possui bons numeros quando saudavel mas que jogou apenas 12 jogos desde que virou titular em 2011... No total. E embora tenham tentado trazer o Free Agent restrito Emmanuel Sanders do Steelers, o time de Pittsburgh igualou a oferta (estranhamente baixa se a intenção era tirar o jogador de lá) e deixou o Pats de mãos abanando. Então assumindo que Amendola se machuque, eis o depth chart do Patriots para Wide Receiver: Donald Jones, Michael Jenkins, Aaron Dobson (calouro um pouco cru pra contribuir de imediato), Josh Boyce, LaVelle Hawkins. E se Gronkowski começar mesmo a temporada no departamento médico, eis os TEs que o Patriots poderia usar no seu playbook que utiliza amplamente formações com dois Tight Ends: Michael Hoomanawanui (eu tive que procurar isso no Google), Daniel Fells, Jake Ballard, Zach Sudfeld. So... Hm.... Yeah. As perdas de longe superam os ganhos que a equipe teve nessa offseason, especialmente se a saúde de Gronk se mostrar delicada como se espera.

Embora eu concorde que o corpo de recebedores do Patriots sempre pareça pior em Julho, quando Tom Brady não está lançando bolas pra eles, eu diria que isso tudo é uma enorme red flag. O Patriots, ultimamente, tem baseado seu ataque nas jogadas de option entre Brady e Welker e nos missmatches criados por seus Tight Ends pra obrigar a defesa a se desmontar, mas essa temporada será muito mais difícil: se Amendola e Gronk perderem um longo tempo (e em certo grau, até mesmo se não perderem) o Patriots vai ter que contar com um grande número de jogadores que não demandam marcação dupla ou ajustes da defesa, que não criam missmatches e que não tem qualquer entrosamento com Brady. Então ainda que o ataque vá funcionar com Brady de QB e Belichick no comando, é de se esperar uma grave redução na capacidade de destruir defesas que o time apresentou nas ultimas temporadas.

Por isso eu digo que a capacidade do Patriots de se adaptar a essa nova situação vai ser crucial pra temporada 2013 da equipe. Ainda que o ataque aéreo da equipe não deva ser uma atrocidade, ele dificilmente vai poder ser também a base de todo o estilo da equipe, e isso via forçar o Patriots a se adaptar. Uma coisa que eu espero que aconteça, por exemplo, é que o time comece a se fiar mais no jogo terrestre. Apesar de todo o poderio aéreo do Patriots em 2012, o ataque terrestre do time ainda foi o quarto melhor ataque terrestre de toda a NFL, e a equipe tem mostrado uma versatilidade cada vez maior na forma de utilizar seus Half Backs atrás de sua sólida linha ofensiva. Ainda que o Patriots deva manter no seu ataque um pouco do seu estilo de alta velocidade e ataques no-huddle como uma forma de compensar a falta de dinamismo dos seus recebedores e de manter a defesa desconfortável, é bem possível que o Patriots tente aliar isso a um ataque mais controlador pelo chão, que controle a posse de bola e permita ao time trabalhar no play action como forma de criar mais espaço.

Outra coisa que eu espero é que o Patriots fique ainda mais criativo com suas formações: em 2012 vimos algumas vezes jogadores como Shane Vereen alinhando no ataque como WR ou Hernandez de RB. Bill Belichick sabe como poucos tirar o máximo das habilidades de seus jogadores e não tem medo de usar formações imprevisíveis para confundir a defesa, então se a idéia é solucionar o problema de falta de explosão no ataque, espere que o time use um número ainda maior de variações ofensivas com jogadores em posições diferentes para criar os matchups que o Patriots tanto gosta. Tim Tebow pode ser um fator aqui se estiver disposto a jogar fora da sua posição favorita, ou mesmo em tricky plays envolvendo dois Quarterbacks.

Outro aspecto importante que o Patriots deve analisar é o quanto pode confiar na sua defesa. A defesa da equipe apresentou grandes melhoras em 2012, passando da terceira pior da Liga em 2011 pra 15th melhor essa temporada. É um nucleo jovem que trouxe alguns jogadores interessantes, mas dificilmente vai ter força pra ser uma unidade de elite como o 49ers ou o Seahawks, e como dessa vez a equipe não deve ter o luxo de poder simplesmente superar o adversário do outro lado no volume de ataque com tanta frequencia, vai ser interessante ver como o Patriots adapta sua defesa agressiva agora que deve ter que manter um maior controle do jogo do lado ofensivo da quadra. Meu palpite é que a equipe deve mesmo colocar um maior ênfase no jogo terrestre para controlar melhor o relógio e manter sua defesa mais fresca durante a temporada, colocando-a menos em campo.

Em resumo, existe muita incerteza em torno do que esperar do Patriots esse ano por conta da situação dos seus recebedores. Se Amendola e Gronkowski tiverem um ano saudável e produtivo e alguns jogadores secundários aparecerem bem, pode ser que o Patriots consiga manter seu ataque voando como sempre e todos os ajustes que discutimos aqui possam ser desnecessários. Mas se pelo menos um dos dois (ou possivelmente os dois) tiverem problemas e não conseguirem ficar em campo (ou produzirem no nível esperado), o time vai ter que mudar seu padrão pra se manter competitivo, mesmo com Brady por lá. Eu pessoalmente acho difícil que os dois joguem os 16 jogos em alto nível, e acredito que Belichick pense o mesmo (perder Hernandez foi um golpe de última hora que pegou todo mundo desprevinido) e esteja se preparando para isso. A consequência esperada é que o Patriots sofra uma queda na produção ofensiva da equipe sem um grande ganho defensivamente, e portanto que seja um time pior em 2013 do que em 2012, basicamente. A qualidade dos ajustes da equipe determinarão o quanto pior, e na fraca AFC East, eu espero que o Patriots ainda consiga manter um ataque sólido e um record de 10-6 (ou mesmo 11-5) rumo a um novo titulo de divisão. Mas o time está enfraquecido e a AFC East se reforça em busca da sua coroa, como vamos ver nos próximos times, e com uma certa dose de azar (e especialmente caso a defesa sofra uma regressão) é possível enxergar um outro time tirando o Patriots do topo da divisão. Ainda assim, se existe um time que sempre soube se adaptar a adversidades foi esse, e até eu ver algo que me convença do contrário, a AFC East ainda é do Patriots para ser tomada. 

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O rico que ficou mais rico


Uma imagem vale mais que mil palavras

 

Quando falamos em um 'vencedor' da offseason, eu imediatamente penso no Philadelphia Eagles. O motivo eu expliquem ontem no post abaixo, foi um time que adicionou muitos jogadores talentosos para áreas chaves do elenco e transformou fraquezas em forças só se aproveitando do teto salarial que o time tinha aberto recentemente. Ainda assim, eu acho que falar em 'um vencedor' é uma coisa difícil. Nenhum time se destacou tanto quanto o Eagles, pelo menos no papel, mas isso não quer dizer que outros times não tenham tido um grande sucesso em adereçar as áreas carentes do time usando a Free Agency ou o mercado de trocas. E embora não tenha tido tanta pompa como o Eagles, tem mais um time que pode dizer que teve grande sucesso nessa offseason, sem dúvida um dos dois grandes vencedores dela, que se reforçou bastante e, embora ainda tenha algum risco pendente, se fortaleceu bastante do ano passado pra cá. Curiosamente, isso aconteceu justamente com o melhor time da temporada regular em 2010, o New England Patriots.

O Patriots foi o time com melhor campanha, melhor ataque e melhor jogador da temporada 2010 da NFL. Eles deram surras épicas em times que chegaram longe nos playoffs, como Jets e Bears, e jogaram um futebol ofensivo extremamente bonito. Mas como eu expliquei exaustivamente na época, o grande sucesso do time aconteceu principalmente por causa das mudanças que o Bill Belichick implementou na forma de jogar do time, que explorou os pontos fortes e principalmente camuflou os pontos fracos da equipe. Esse sucesso ficou fácil depois porque, além dessas mudanças, o Tom Brady começou a pegar fogo, voltou à sua forma de antes da lesão, foi o melhor jogador da Liga disparado e o ataque do Patriots virou uma máquina imparável. Isso é, até os playoffs chegarem.

A verdade é que o genial plano de jogo do Bill Belichick e a fase estelar do Tom Brady serviram pra camuflar vários problemas que a equipe tinha, mas esses problemas ficaram evidentes quando chegou a pós temporada. Um craque e um bom plano de jogo podem fazer você ganhar muito em Outubro, mas quando chega Janeiro a coisa é diferente, é quando as fraquezas tão bem camufladas aparecem mais e se confrontam com as forças. O Patriots, apesar do melhor ataque aéreo da Liga nas costas do Tom Brady, conseguiu isso com um corpo de recebedores composto por um grande WR muito longe da forma física ideal, se recuperando de uma cirurgia no joelho (Wes Welker); um veterano decente mas que mesmo no seu auge não era um dos melhores da Liga e que chegou no meio da temporada (Deion Branch), dois Tight Ends calouros e mais um punhado de WRs sophomores sem experiência. Essa unidade funcionou por causa do bom jogo terrestre do Patriots e do Tom Brady, mas que teve problemas nos playoffs quando o Branch foi anulado pelo Darrelle Revis e o Welker não conseguiu levar o time nas costas, o que tirou as chances do Brady de fazer sua mágica com mais frequencia.

Além disso, tinha o problema da defesa. O Patriots camuflou suas falhas na defesa mantendo a bola no ataque, como eu comentei mais detalhadamente no link acima, mas a defesa ainda era muito complicada, cheia de calouros e sophomores. O problema do time, principalmente, era a secundária, que embora tenha tido um bom número de turnovers forçados graças ao ótimo calouro Devin McCourty ainda era frágil, sem profundidade e incapaz de manter um placar apertado contra um bom ataque. Uma grande parte desses problemas na secundária, também, se davam pela falta de pressão no QB adversário. O time não possuia praticamente nenhum jogador que fosse atrás do QB adversário, o melhor pass rusher do time era o Tully Banta-Cain, que está muito longe de ser uma força vinda da lateral. Essa incapacidade de colocar pressão no adversário expunha ainda mais a secundária jovem e frágil do Pats, e foi uma das causas da derrota do Patriots para o Jets nos playoffs, o Mark Sanchez pode ser limitado mas com tempo ele eventualmente vai achar seus bons alvos, e o Patriots deu muito mais tempo do que poderia pro garoto. Todos esses problemas - tanto no ataque como defesa - eram sérios empencilhos a um novo título, apesar da força do time, e ninguém realmente esperava que o time fosse ficar parado só esperando os jogadores melhorarem (o que também vai acontecer, dada a idade de 80% da defesa).

Quem acompanhou a nossa análise do Draft deve lembrar que, quando eu falei da AFC East, eu elogiei muito o Draft do Patriots, sua capacidade de mover suas escolhas e conseguir mais escolhas futuras, a adição do promissor Ryan Mallett e, principalmente, as adições do Nate Soldier e Ras-I Dowling. Mas também critiquei a falta de um pass rusher nesse grupo, que pra mim era o grande problema do time. Lembrando que como a Free Agency ainda não tinha acontecido e era uma incógnita, niguém tinha como saber o que ia conseguir ou não nesse período, não deixava de ser um grande risco, o time corria o risco de sair sem ninguém no final das contas.

Mas o Patriots causou barulho na offseason, não por contratar Pro Bowlers no auge da forma como o Eagles fez, mas por assinar com veteranos e trocar por dois jogadores que, apesar de apostas, podem render e muito nesse esquema.

Primeiro de tudo, o time trocou pelo Chad Ochocinco, o polêmico e hilário WR do Cincinnati Bengals. O Bengals foi uma decepção em 2010 e o Ochocinco já não está no seu auge, e acabou vindo praticamente de graça. O Ochocinco, apesar de grande jogador, sempre atraiu muita atenção pelas polêmicas fora de campo, possíveis desentendimentos com o então Quarterback Carson Palmer, e pelas comemorações extravagentes que lhe rendiam uma multa por semana praticamente (O que também tem um lado besta da NFL, uma vez ele foi multado por vestir um sombrero na lateral do campo depois de um touchdown...). Ele também estrelou Reallity Shows, tem uma conta muito movimentada no twitter e é um cara que sempre quer chamar atenção, lembra um pouco o Gilbert Arenas. A troca do Patriots por ele causou certa estranheza, já que o time se livrou do Randy Moss em 2010 e o Ochocinco tem a mesma fama de 'diva' que o ex-camisa 81. Mas como veio praticamente de graça (uma escolha de quinta rodada), é difícil imaginar que o Patriots vá se arrepender muito do negócio. A imposição do time a ele foi simples: Ficar longe da mídia. Isso queria dizer twitter, TVs, e qualquer uma das trezentas formas de aparecer que o Chad usava. Ochocinco aceitou, recebeu sua amada camisa 85 de presente do Aaron Hernandez e apareceu para os treinos em forma. O Ochocinco não está, como eu disse, no auge, mas ainda tem gasolina no tanque, é o Receiver nº1 que o time precisa pra liberar o Welker pro Slot( onde ele rende muito mais), aubda e vem de temporadas produtivas mesmo com um QB que jogou muito mal. Dentro de campo ele ainda pode render muito, tem a característica de possession receiver que o time precisa e com o Tom Brady ele tem tudo pra voltar aos bons tempos se conseguir ficar longe de polêmicas e se dedicar ao jogo.

Existe um risco nisso? Claro que sim. A troca foi um risco, mas o Patriots parece disposto a aceitar as consequencias. O Bill Belichick sempre soube como lidar com atletas de ego forte, o Ochocinco respeita muito tanto ele como o Tom Brady e sabe que é a grande chance de dar a volta por cima na carreira e ganhar um anel. Os problemas com o Randy Moss foram por causa da falta de vontade e dedicação dele, que só corria se a jogada fosse desenhada pra ele, não se esforçava, não bloqueava e isso fez com que o Brady chegasse pro seu técnico e falasse "Não quer mandar ele embora, não manda, mas eu não passo mais pra ele" (Sim, ele tem culhões). Moss foi mandado embora antes que alguém pudesse argumentar. O Ochocinco é problemático, chamativo e expressivo, mas ele é um jogador que chega com uma motivação muito grande, que pelo menos por enquanto está disposto a abrir mão de toda a exposição que ele tanto gosta por essa chance e eu acredito que pelo menos tentar ele vai. O risco não é tão grande, e a recompensa que pode vir faz dessa uma excelente troca para o Patriots.

Mas como o time não estivesse satisfeito, ainda correu atrás e adquiriu outro veterano problemático a preço de banana (duas escolhas de quinta rodada), o Albert Haynesworth. Depois de dominar a Liga de forma absurda no Tennessee Titans, ele assinou um contrato bilhonário (mais de 100 milhões) com o Redskins. No entanto, o Redskins queria mudar para uma defesa 3-4 ao invés da 4-3 que eles (e o Titans) usavam, e o Haynesworth que estava acostumado a destruir o miolo da linha ofensiva adversária e ir atrás do QB não quis jogar de Nose Tackle numa defesa 3-4, onde ele iria ficar recebendo double teams a vida toda e não teria a chance de aparecer com sacks e tackles, um papel extremamente importante para a defesa funcionar mas que não agradou o ego inflado do Haynesworth. Ele então só deu problema,  aparecia fora de forma pra treinar, fingia lesões, não se esforçava e acabou afundando no banco porque o técnico não estava afim de lidar com um adolescente de 30 anos e 140 quilos. O time estava querendo se livrar dele e do seu contrato imediatamente, e duas escolhas de quinta rodada já é mais do que eles esperavam conseguir.

O Patriots adicionou mais um jogador problemático, mas ele conta com dois trunfos: O primeiro é o fato de o Haynesworth precisar de alguém de personalidade forte junto dele para conseguir controlá-lo, se não tiver uma pessoa assim ele não vai fazer nada do que for necessário. Ele tinha no Titans o Jeff Fisher e sua comissão de coordenadores linha dura, sem falar no Kyle Vanden Bosch, que era um tremendo líder no vestiário (um dos motivos de eu apostar no sucesso do Nick Fairley em Detroit). No Redskins não tinha nenhum líder de verdade nem no elenco nem na comissão técnica, o que significava ninguém para controlá-lo e fazê-lo andar na linha. No Patriots ele tem o Bill Belichick, o Tom Brady e o Vince Wilfork, ele tem gente para fazê-lo andar na linha, o que aumenta as chances de sucesso. A adição do Haynesworth significa que o time se sente em condições de fazê-lo render, então o Patriots está confiante na sua capacidade de mantê-lo sob controle. Mas mais importante, o segundo trunfo, é que isso deve significar que o Patriots está voltando a usar a defesa 4-3, depois de usar a 3-4 por anos. O Patriots sabe que o Haynesworth não quer jogar na 3-4, e voltar pra 4-3 significa que o time terá um miolo de linha absurdo em Wilfork e Haynesworth. Provavelmente a segunda vai acontecer cedo do que tarde, manter o Haynesworth satisfeito é essencial. Em troca disso, o time ganha um dos melhores DTs da Liga (se estiver afim de jogar), o tipo de jogador que é capaz de colocar pressão no QB sem precisar de blitz e que iria sozinho aumentar o poder de fogo da defesa do Patriots. Ele também é uma parede contra a corrida e a linha de frente da defesa do Patriots ia ficar monstruosa. Se o Patriots controlá-lo, conseguir que ele se mantenha em forma e jogue a sério, o time acabou de conseguir um dos melhores jogadores de defesa da Liga.

Essas duas trocas foram a um custo baixo (três escolhas de quinta rodada por dois Pro Bowlers? Parece bom), um risco razoavelmente alto e com uma possível recompensa muito alta. Os dois são problemáticos, podem causar problemas no vestiário, podem não se dedicar ou não jogarem direito, pode acontecer, fazia parte do pacote e o Patriots sabia disso. Mas em caso de sucesso - funcionou com o Randy Moss por dois anos - o Patriots adicionou muito talento que vai dar um alvo nº1 pro ataque aéreo do Patriots e um jogador pra ser a âncora defensiva do time, o Wilfork é muito bom mas o Haynesworth, quando quer, é muito melhor.

Só o Haynesworth sozinho (Se jogar sério e blá blá blá, isso está implícito sempre que eu elogio o Haynesworth, ok?) já seria importante pra melhorar o pass rush do time, mas o Patriots levou a coisa a sério e aproveitou a Free Agency pra pegar o Andre Carter e o Shaun Ellis, ambos sem contrato. O Carter é um DE/OLB híbrido e o Shaun Ellis é o ótimo DE que jogava no Jets e foi o pesadelo do Brady nos últimos dois anos. Isso significa que o time levou a sério essa necessidade de melhorar o pass rush. Se o Dowling conseguir ser o parceiro do McCourty e o Brandon Marryweather ficar saudável, o time conseguiria usar um bom pass rush pra tornar sua defesa muito mais atraente. Tanto o Ellis como o Carter já são veteranos, caminhando para o final da carreira, mas ainda são capazes de boas temporadas. Em 2009 o Carter teve 11 sacks, por exemplo, e só foi dispensado pelo seu enorme contrato. O Ellis não só é um bom pass rusher, muito forte, como também é excepcional parando o jogo terrestre. O Carter deve jogar de DE se o Patriots realmente voltar ao 4-3, o que dará uma linha de frente ao time com Carter, Haynesworth, Wilfork e Ellis. A linha é muito boa, tem força e explosão pra chegar no QB adversário e ainda vai ser um pesadelo em relação ao jogo terrestre. Isso tira um pouco da pressão da secundária, que também deve se reforçar.

É legal ver que o Patriots, apesar da ótima campanha ano passado, entende a posição em que se encontra. O Belichick entendeu que o time ainda tinha buracos, e que tapando esses buracos o time seria muito melhor. Talvez isso não se reflita tanto na temporada regular, mas com certeza terá um enorme impacto na pós temporada, o time está muito mais completo, tem uma defesa muito mais confiável e voltou a ter um time equilibrado no quesito ataque/defesa. Não trouxe tantos jogadores de impacto e mídia como o Eagles, mas trouxe jogadores muito bons, experientes e para cobrir áreas deficientes do time. É assustador, mas o melhor time de 2010 acabou de ficar ainda melhor. E bem melhor.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Jogador de ataque, de defesa e melhor técnico do ano

 A NFL decidiu novamente inovar em seu formato. Dessa vez foi algo até bem simples e que é bem difícil você dizer se foi um erro, um acerto ou qualquer coisa do tipo, afinal é uma coisa bem simples. Agora os premiados da temporada são anunciados na semana entre o Pro Bowl e o Super Bowl. São sete prêmios, e eu falei um pouco de cada um deles junto com meu voto pra cada um deles nesse post aqui, mas vale relembrar quais são os prêmios: Técnico do ano, jogador ofensivo do ano, jogador defensivo do ano, comeback player of the year (Que é meio intraduzível, mas algo como 'jogador que deu a volta por cima do ano', que fica feio pra caramba e eu prefiro deixar no original), calouro ofensivo do ano, calouro defensivo do ano e MVP, o jogador mais valioso. Até agora já foram anunciados cinco, e amanhã devem ser anunciados o MVP e o Comeback Player pra fechar os sete prêmios. Como eu já falei bastante dos dois times que tão no Super Bowl e a gente ta esperando ansiosamente que chegue logo o grande dia, vou falar hoje e amanhã dos prêmios que forem saindo. Ah, como de costume, eu errei a maioria com esse meu pé frio.

Todos se rendem ao charme das madeixas de Troy Polamalu

Defensive Player of the Year (Jogador defensivo do ano)

Dos 50 votos disponíveis pra decidir o jogador de defesa do ano, 40 foram para jogadores que estarão em campo domingo disputando o Super Bowl. E melhor, foram 40 para apenas três jogadores. Mas no final, quem ganhou o prêmio foi o Troy Polamalu, com 17 votos, terminando logo à frente do Clay Matthews com 15. James Harrison fecha o trio com oito votos. Coincidência ou não, o fato é que os jogadores considerados os melhores defensores da pós temporada são os destaques defensivos dos dois times que chegaram ao Super Bowl, sendo que o quarto e o quinto colocados (Julius Peppers e Brian Urlatchers) são do Bears, que quase eliminou o Packers na final de conferência. Pros que acham que é só coincidência, eu estou preparando um post sobre o assunto, mas fica a dica que os quatro finalistas da NFL essa temporada (Jets, Bears, Packs, Steelers) eram os donos de quatro das seis melhores defesas da NFL.

Mas o Polamalu foi, indiscutivelmente, uma peça importantíssima do Steelers em toda sua temporada. O mais impressionante é que a gente vê o que ele faz, as interceptações, os sacks, tackles e tudo mais, são estatísticas mensuráveis e impressionantes, mas o mais assustador dele é o impacto que não pode ser medido. Quem viu os jogos do Steelers ano passado viu que a defesa de Pittsburgh era extremamente diferente com ele dentro e fora de campo. Quando ele está em campo, a defesa do Steelers é excelente, pressiona o QB, da sacks, força turnovers e não da espaço pra ninguém conseguir jogar. Quando ele foi forçado ano passado a perder vários jogos por causa de lesão, a defesa foi totalmente destruída por times como Raiders e Chiefs (Uma desgraça ano passado), sofreu demais em todos os aspectos, pass rush, defesa terrestre, secundária, e perdeu jogos contra esses times que no final fizeram muita falta e deixou o time, recém campeão do Super Bowl, fora da pós temporada. Pra quem gosta de números, dos 39 jogos que o Polamalu jogou nas últimas três temporadas, o Steelers ganhou 31. Dos 13 que ele não jogou, o Steelers ganhou seis. O cara é um jogador extremamente completo, é um dos melhores da Liga reconhecendo as jogadas na linha de scrimmage, é muito atlético e super inteligente, sabe exatamente onde estar em cada jogada e até por causa disso ele é um jogador que influencia tanto a defesa como um todo, a defesa sabe que a função que ele vai executar está em boas mãos e por isso pode se concentrar em outras áreas. Mas mais que outra coisa, o Polamalu é muito bom fazendo grandes jogadas nas horas certas, forçando turnovers, dando sacks e tudo mais. Nesse mix que eu achei dele de 2010 da pra ver bem isso. Um prêmio muito merecido, como da pra ver no mix ele foi responsável por várias vitórias da equipe, inclusive contra o rival de divisão Ravens.




 
"O que, eu ganhei mais um prêmio??"

Offensive Player of the Year (Jogador ofensivo do ano)

Como o prêmio de MVP é praticamente uma certeza, eu confesso que não gostei desse prêmio. Na verdade, eu tenho uma certa raiva desse prêmio. O prêmio de MVP é dado, geralmente, pra um jogador de ataque. Em toda a história do prêmio, apenas duas vezes o vencedor foi um jogador de defesa, e uma um kicker (sim, um kicker!), e nas outras vezes o vencedor foi um jogador de ataque. Ta bom que o prêmio de MVP é um prêmio que não tem muito critério e teoricamente premiaria o jogador mais 'valioso' e não o 'melhor', mas de certa forma o MVP acaba sendo o jogador de ataque que jogou melhor e traduziu isso em vitórias. Como muitas vezes o vencedor é um QB, e um grande QB eventualmente vai traduzir grandes jogos em vitórias, o MVP acabaria sendo também o jogador ofensivo do ano. Existem exceções, claro, ano passado o MVP foi o Peyton Manning e o jogador ofensivo foi o RB que correu pra mais de duas mil jardas e triturou o recorde da Liga pra jardas totais de scrimmage (correndo e recebendo), Chris Johnson. Mas em geral, o melhor jogador ofensivo e o MVP são a mesma pessoa, na prática. Por isso, as vezes, os que votam nesse prêmio escolhem jogadores de outras posições que não o QB, ou então outro QB que não o MVP. Ninguém nega que o melhor jogador ofensivo da temporada foi o Tom Brady, ele destruiu tudo e todos, mas mesmo assim ele só teve 21 dos 50 votos possíveis, e embora eu não tenha gostado dele ter ganho (se ganhar mesmo o MVP, claro) pelo menos mais da metade dos votantes achou que esse prêmio não devia ir para quem ia ganhar o outro. Eu pessoalmente acho que esse prêmio não poderia ser dado pro mesmo cara que o MVP, como por exemplo em 2008, quando o MVP foi o Manning e o Offensive Player o Drew Brees. Se o Brees foi o melhor jogador ofensivo, porque não foi o MVP? Porque o Manning teve uma campanha melhor? Não faz sentido. Se é pra dar esse e o MVP pra mesma pessoa, porque não elimina logo um dos dois prêmios?

Mas, de toda forma, o Offensive Player of the Year foi o Tom Brady, que realmente foi o melhor jogador ofensivo da temporada. 14 vitórias e duas derrotas com um time recheado de calouros e novatos, ele liderou um ataque cheio de jogadores novos, velhos, voltando de lesão e tudo mais pra ser o ataque mais assustador da NFL e massacrou times que comprovaram sua força nos playoffs, como Steelers e Jets. Não vou esgotar tudo que tenho pra falar dele aqui, até porque já falei bastante naquele link ali em cima e vou falar mais quando ele for MVP. Por isso deixo ai um vídeo com vários lances da temporada do Patriots. E, só para deixar claro, eu nunca achei que não foi merecido o Tom Brady ser eleito o melhor jogador ofensivo da temporada, porque ele foi. Só acho que, já que ele vai ganhar o MVP, esse prêmio poderia ser dado pra outra pessoa.




Rex Ryan está revoltado que o Belichick ganhou mais um prêmio e ele não

Coach of the Year (Técnico do ano)
Antes de falar mais sobre isso, eu quero deixar duas coisas claras. Primeiro, se eu tivesse um voto nesse prêmio, eu não teria votado no vencedor, que foi o Bill Belichick. Segundo, isso não quer dizer que eu ache que o prêmio não foi merecido. Pronto, agora posso falar com calma.

O Bill Belichick, eu disse aqui o ano todo, fez um trabalho incrível no Patriots, foi o grande responsável pela arrancada inicial do Patriots, reformulou um time de forma brilhante, é um gênio, dos maiores técnicos da história da NFL e coloquei nesse link lá de cima sobre meus palpites que se ele ganhasse ia ser muito merecido (Embora, com meu costumeiro pé frio, tenha dito que ele não ia ganhar). Eu apenas votaria no Raheem Morris porque, como eu sempre insisto, esse prêmio é muito subjetivo e não tem um critério definido, cada um pode usar o seu, e usando o meu eu acho que o que o Morris fez é mais impressionante e mais digno de prêmio do que o Belichick fez. Os dois foram incríveis de formas diferentes, um remontando muito bem um time em torno do MVP e levando esse time aos playoffs com a melhor campanha, e o outro elevou o nível de um time em plena reconstrução ao ponto de eles quase chegarem aos playoffs. Cada um pode valorizar um deles, e ai cada um escolhe o seu. Por isso, a eleição do Belichick não foi nem remotamente injusta.

Aparentemente mais gente achou que o feito do Belichick, montar um time cheio de moleques e de jogadores mais experientes em baixa em torno de um pilar central, Brady, de forma a fazer o time seguir ganhando de forma dominante depois de perder a grande maioria de um time que foi dominante ao longo de toda a década, mais difícil, que revelou mais habilidade e por ai vai. Eu pessoalmente fiquei impressionado com o fato de um time que está no meio de um processo de claríssima reconstrução, um time que já foi campeão essa década (2002), que ficou velho demais, que provou que o time velho não iria a lugar nenhum em 2008 quando perdeu os últimos quatro jogos e ficou fora dos playoffs, jogou tudo fora e começou de novo em 2009 e de repente começa a jogar bem demais, se acertar como uma luva, desenvolver os jogadores numa velocidade impressionante e de repente só não ir para os playoffs - tirando a vaga do Packers - porque perdeu em casa pro Lions. Verdade que perder em casa pro Lions é uma prova de imaturidade, o time claramente ficou nervoso, mas esse time não era pra brigar por playoffs por mais uns dois ou três anos. E isso foi sensacional, se esse time seguir nesse ritmo, vai ser um time muito forte na década que estamos entrando. Por isso, o técnico do Tampa Bay Buccaneerss teria meu voto. Mas, repito, foi um prêmio justo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Precisamos clonar o Bill Belichick

Bill Belichick para MVP!

Pois é, eu queria comentar aqui sobre o "Ano dos Pitchers" na MLB e falar mais sobre as premiações que sairam, mas para isso eu precisaria saber quem ganhou o Cy Young da AL esse ano e essa premiação só sai hoje a noite. Portanto, fica pra sabado, e hoje vou aproveitar pra cumprir minha promessa e falar mais do New England Patriots. E por falar nisso, o texto está bem grande, mas está bastante itneressante, recomendo a voces que leiam.

Mas pra comentar sobre a temporada de 2010 do Patriots, primeiro eu preciso falar sobre um cara em particular, e esse cara é Bill Belichick. Belichick entrou na Liga em 1975, como técnico dos especialistas do Baltimore Colts. Depois de 15 anos como assistente técnico de diversos times e diversas posições, inclusive uma estadia de doze anos em New York (cinco como coordenador defensivo sob o comando de Bill Parcells), onde foi bicampeão com o Giants e sua forte defesa. Alias na vitória de 20 a 19 sobre o Bills no Super Bowl XXV o plano defensivo armado por Belichick acabou indo parar no Hall da Fama por seu brilhantismo. Começou como Head Coach pela primeira vez em 91, no Cleveland Browns, onde ficou até 95 sem nenhum grande destaque (e sem nenhum grande time). Belichick voltou a trabalhar com Parcells no time do Patriots que foi ao Super Bowl XXXI em 96, onde perderam para um jovem chamado Brett Favre, e no Jets, de onde saiu em 2000 quando Parcells deixou o comando do time. Então virou o Head Coach do Patriots no lugar de Pete Carroll (sim, o técnico dos Seahawks). Mas além de técnico, o novo dono do time,  Robert Kraft, tambem deu ao Bill Belichick poderes de General Manager.

Belichick, apesar de ter sofrido no seu primeiro ano como técnico, montou um verdadeiro esquadrão pro ano seguinte, em 2001, com base numa fortissima defesa e liderado pelo ótimo Quarterback veterano Drew Bledsoe. No entanto, logo no segundo jogo da temporada, o azarado Bledsoe sofreu uma lesão relativamente séria e foi substituido por um Quarterback jovem, que tinha sido escolhido sem pretenções de Michigan na sexta rodada do Draft para não ser nada mais que um reserva pra Bledsoe. Seu nome? Tom Brady, que assumiu a posição de titular e acabou se tornando um dos maiores Quarterbacks da história. Brady estava no segundo ano e era bastante inexperiente, nunca havia sido treinado pra ser o titular do time. Mas Brady fez o basico, protegeu bem a bola, evitou situações dificeis e o Patriots contou com ótima defesa pra não só chegar aos playoffs como para ser campeão, com Brady MVP (Apesar de Bledsoe ter jogado - e ganho - no final da Final de Conferencia contra o Steelers no lugar de um Brady lesionado). A história se repetiu em 2003 e 2004: Um Tom Brady eficiente (e cada vez mais brilhante) e uma defesa fortissima. Em 2007, o encrenqueiro Randy Moss chegou a Foxborough e, tendo sido colocado na linha por Belichick, o time teve o melhor ataque da história da NFL e terminou a temporada 16-0, mas o que pouca gente lembra é que muitas vezes quem segurou as pontas nas vitórias foi a fortissima defesa, liderada por nomes como Asante Samuel, Richard Seymour, Teddy Bruschi e Rodney Harrison. Após a derrota no Super Bowl e a lesão de Brady na estreia em 2008, Matt Cassell assumiu a posição de titular - e jogou num nivel muito alto por conta da instrução que recebeu de Brady e Belichick. Cassell foi bem e a forte defesa ajudou o time a terminar com um ótimo record, mas a disputadissima AFC daquele ano acabou com o Patriots fora dos playoffs.

Bom, acabo aqui a história sobre a carreira de Belichick. Belichick é um dos melhores técnicos da NFL, foi eleito para o Time da Década (2000) com toda a justiça e é o melhor técnico da atualidade. As vezes é meio doido demais, como por exemplo naquela tentativa de conversão de 4th and 2 contra o Colts que custou ao Patriots a vitória, mas em geral é um brilhante técnico. Esse ano, novamente está levando o Patriots a uma ótima campanha, liderando a NFL com um record de 7-2. Mas alguem notou uma coisa no resumo da carreira do Belichick? As defesas. Belichick sempre se destacou por ser um ótimo coordenador defensivo e um excelente técnico montando defesas. Foram as defesas, lideradas por um QB eficiente e cada vez melhor, que levaram o Patriots aos primeiros titulos (Cada vez menos porque cada vez Brady ficava melhor, mas voces entenderam o quadro). Foi a defesa forte que segurou o time com Matt Cassell e Laurence Maroney em 2008 e quase o levou aos playoffs. Mas essa defesa forte se desmontou quase totalmente ao fim da temporada de 2008 - Muitas aposentadorias, lesões, Seymour foi pro Raiders, etc. O grande fiasco do Patriots do ano passado seu deu em boa parte porque Brady voltava de lesão e não na sua melhor forma, mas principalmente porque o time não tinha mais como jogar o futebol que vinha jogando, não tinha a defesa que o esquema pedia.

Essa temporada de 2010 começou como uma repetição da antiga. Brady era bom,, mas não estava no mesmo nivel que vinha jogando antes de se lesionar (tudo bem, ninguem espera que ele tenha sempre 50 touchdowns, mas a diferença era nitida em relação às temporadas anteriores), e a defesa que alem de ter que contar com vários calouros e segundo-anistas ainda perdeu jogadores importantes por lesões era o ponto fraco do time. O time perdeu pro Jets de forma humilhante logo na segunda semana, a defesa frequentemente tomava muitos pontos e forçava o ataque a se desdobrar pra conseguir a vitória, e pra piorar a situação ainda teve o problema com Randy Moss e o time de repente ficou sem seu principal Receiver. O Patriots entrou em bye, saiu de bye, continuou jogando e... Foi quando todo mundo notou que o time CONTINUAVA ganhando! O time estava 6-1 na NFL depois de vencer os Vikings com propriedade. O que estava dando certo pro time continhar ganhando dessa maneira mesmo depois de começar o ano tão mal?

Uma coisa fundamental na NFL (e em qualquer esporte) é saber adaptar seu time e seu plano de jogo às circunstancias. Quem ja viu uma série de playoff da NBA sabe o que eu digo. A temporada começa, voce coloca seu time pra jogar. Mas hmm, alguma coisa nao funcionou, deixa eu tentar mudar assim. Agora funcionou, mas travou outro ponto. E voce vai ajustando tudo, detalhe por detalhe, de forma a lapidar seu time até chegar no melhor corte. Claro que num time veterano, que ja vem de outras temporadas, os ajustes são pequenos, exatamente o caso dos Patriots ao longo da década. Mas desde 2009, o Patriots reformulou boa parte de seu elenco, as caracteristicas são outras, e claro, as fraquezas e forças são outras. E é ai que entra a genialidade do Bill Belichick.

Pra quem acompanhou o Patriots depois do começo fraco de temporada, e principalmente nas vitórias na altura da saida de Moss, notou uma coisa: O Patriots tinha jogo terrestre! O Patriots estava vendo Danny Woodhead e Benjarvus Green-Ellis ter bons jogos, conseguir bons avanços e tirar a pressão de cima do Tom Brady. E os mais veteranos perceberam outra coisa: O Patriots nunca teve um jogo terrestre! Mesmo aquele timasso de 2007 era às custas de Brady e seu braço, nunca do jogo terrestre. Mas agora Green-Ellis tinha jogos de mais de 80 jardas, Woodhead conseguia carregadas importantes na red zone, e o Patriots podia botar pressão nas defesas tanto pelo ar como pelo chão, o que torna qualquer ataque mais imprevisivel e mais letal. E os torcedores olharam pro céu e começaram a falar: Obrigado pelo Benjarvus Green-Ellis, Senhor!!

E é ai que as pessoas se enganam. O mérito disso não é de Benjarvus Green-Ellis, e sim de Bill Belichick! Ao inves de agradecer pela chegada de Green-Ellis, as pessoas deviam olhar pra Robert Kraft e falar "Obrigado por ter gasto aquela escolha de primeira rodada dez anos atrás, senhor!" (Como Belichick ainda estava sob contrato, o Patriots teve que dar uma escolha de primeira rodada de compensação pro Jets). Benjarvus Green-Ellis estava no Patriots ano passado e chegou a entrar em alguns jogos. E não entrou mal, apenas entrou pouco. A questão do jogo terrestre não se deve à chegada (que foi ano passado, quando o Patriots tambem nao tinha jogo terrestre) do Ellis, e sim a uma opção tática do Bill Belichick, que passa por uma questão muito mais profunda.

A verdade é que o Patriots não tinha jogo terrestre porque não queria. O que acontecia simplesmente porque o time não precisava. O time tinha Brady no ataque e uma boa linha ofensiva, o que dava tempo ao Brady... e Brady com tempo não vai ser parado facilmente mesmo que o adversário saiba que vem passe e coloque oito caras na secundária, ainda mais com jogadores como Deion Branch, Wes Welker ou Randy Moss pra receber suas bolas, era um ataque explosivo capaz de pontuar rapidamente. E quando o ataque saia de campo, tinha uma defesa agressiva, fortissima, que colocava pressão no QB adversário e recuperava logo a posse da bola. O que se complementava perfeitamente. Mas o tempo passou, os jogadores mudaram e as caracteristicas do time tambem: a defesa parou de ser uma força pra ser uma fraqueza. Tom Brady ainda está recuperando sua melhor forma e, apesar de ainda ser um bom Quarterback, ainda não era o difference maker (aquele que faz a diferença) que a gente sabe que ele pode ser. E a saida de Moss e a falta de um grande alvo alem de Welker só piora a situação. Foi por isso que o gênio do Bill Belichick decidiu que era hora do time ter um jogo terrestre, mesmo que isso alterasse completamente a forma dejogar do time - era disso que o time precisava. Com um jogo terrestre, voce vai poder tirar a pressão do Brady de sempre resolver tudo em situações dificeis e previsiveis, mas mais do que isso, correr te permite manter mais a posse de bola e gastar mais o relógio. Voce mantem seu ataque em campo, coloca o QB em situações mais curtas - especialidade do Welker - e mais importante, voce deixa sua defesa fora de campo por muito mais tempo. Se a sua defesa é seu ponto fraco, deixe-a em campo o menos possivel, e voce faz isso mantendo seu ataque em campo por mais tempo. O ataque explosivo do Patriots, capaz de pontuar rapidamente, combinava com uma defesa que fosse forte. Agora, com uma defesa fraca, um ataque cadenciado e que consuma o relógio é a melhor solução. Voce impede que sua defesa jovem e desacostumada aos rigores da NFL se canse tanto, voce não deixa ela tempo o suficiente em quadra para que seja tão exposta e voce deixa o ataque adversário sem ritmo, sem conseguir ler sua defesa confortavelmente. Antes de uma estratégia ofensiva, foi uma estratégia defensiva, pra corrigir o buraco que vinha sendo a defesa. Claro que não vai ser sempre assim: o ataque terrestre do Patriots nao funcionou contra o Browns, a defesa menos ainda, e Colt McCoy é muito melhor do que todo mundo supunha e por isso o Patriots levou aquela surra.

Mas tem, tambem, o outro lado da história. O Patriots, contra o Steelers, não estabeleceu um jogo terrestre. Nem tentou direito, tambem. Porque Tom Brady foi o velho Tom Brady, talvez até melhor, mas com as mesmas características - passes fortes, precisos e distribuindo bem o jogo para não viciar a defesa. Ele tinha voltado, ainda que por um jogo, a ser o Brady capaz de enfrentar 9 jogadores na secundária e ainda acertar o passe no meio de tres jogadores. Esperando o passe ou não, NENHUMA, e eu repito, NENHUMA defesa da NFL - possivelmente da história da NFL - é capaz de parar um Quarterback desse nível quando ele está inspirado e tem tempo pra lançar a bola. E assim voce coloca a pressão no ataque do outro time, voce abre o placar e força o adversário a responder rapidamente. E ai o Patriots ainda contou com ótima partida da sua defesa - que ainda deve ser, por enquanto pelo menos, a excessão e não a regra - pra segurar o Steelers duas, tres posses de bola, o suficiente pra um Brady empolgado abrir 21 pontos de vantagem. Mas como esses jogos são a excessão e não a regra - repito, por enquanto pelo menos - é ótimo voce ter desenvolvido uma estratégia pra camuflar suas falhas, colocá-las escondidas dentro de um sistema que explora suas forças e taticamente minimiza seus pontos fracos.

Tambem preciso fazer um parênteses pra falar do Tom Brady. Que eu tenho uma admiração confessa por ele todo mundo sabe, acho ele genial, mas ele não vinha jogando bem ano passado. Teve bons jogos, jogou acima da média como sempre, mas não foi o gênio capaz de conduzir o time à vitória quando bem entendesse, o que ele é capaz de ser e ja o foi. Mas esse ano, apesar de só agora ele ter tido um daqueles jogos incriveis de destruir a melhor defesa da NFL - ainda que desfalcada -  sem suar, ele está... diferente. Parece que não só está focado em ser o grande QB que é como tambem parece ter assumido um papel que até agora ele não tinha precisado: o de mentor. Não o papel de líder, todo grande Quarterback tem necessariamente que ser um líder que comanda respeito dos seus companheiros e Brady sempre foi um grande líder, mas tambem o papel de ensinar os jovens jogadores do ataque (Brandon Tate, Rob Gronkowsky, Aaron Hernandez, Julius Edelman, Green-Ellis, etc), de cobrar deles, de incentivá-los e de servir realmente como um mentor. O que ele tem feito bem e comanda respeito, só ver ele gritando com todo mundo quando UMA campanha do ataque do Patriots foi parada pelo Steelers. A linha, os receivers, os running backs, todo mundo só estava ali, ouvindo ele dar uma enorme bronca em todo mundo, cobrando de todo mundo que a próxima fosse um touchdown - e adivinhem, foi.

Na NBA, me de Jerry Sloan e Deron Williams que voce terá um time de playoffs. Na NFL, se me der Bill Belichick e Tom Brady, voce vai ter um time de playoffs tambem. E talvez até mais. Talvez de mansinho, quietinho, reconhecendo as próprias falhas e jogando na direção contrária a elas, jogando com inteligência, talvez o Patriots esteja se colocando com um candidato ao título, novamente. O que poucos esperavam no começo do ano e muito menos após a saida de Moss. Não sei se a defesa aguenta o tranco até o fim, talvez essa estratégia nos playoffs exiga um Brady mais dominante que talvez ele não seja capaz de dar, mas pelo menos agora, é um time que tem uma peça fundamental para qualquer time que quer ser campeão. E não daquelas que usa uniforme, e sim daquelas que ficam do lado de fora do campo, de headphones. Talvez todo time que tenha Bill Belichick tenha que ser levado em conta. Talvez, como o Paulo Antunes disse certa vez, um título do Patriots esse ano seria bom pra NFL. Bom pra NFL ver que nós precisamos clonar o Bill Belichick.