Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O rico que ficou mais rico


Uma imagem vale mais que mil palavras

 

Quando falamos em um 'vencedor' da offseason, eu imediatamente penso no Philadelphia Eagles. O motivo eu expliquem ontem no post abaixo, foi um time que adicionou muitos jogadores talentosos para áreas chaves do elenco e transformou fraquezas em forças só se aproveitando do teto salarial que o time tinha aberto recentemente. Ainda assim, eu acho que falar em 'um vencedor' é uma coisa difícil. Nenhum time se destacou tanto quanto o Eagles, pelo menos no papel, mas isso não quer dizer que outros times não tenham tido um grande sucesso em adereçar as áreas carentes do time usando a Free Agency ou o mercado de trocas. E embora não tenha tido tanta pompa como o Eagles, tem mais um time que pode dizer que teve grande sucesso nessa offseason, sem dúvida um dos dois grandes vencedores dela, que se reforçou bastante e, embora ainda tenha algum risco pendente, se fortaleceu bastante do ano passado pra cá. Curiosamente, isso aconteceu justamente com o melhor time da temporada regular em 2010, o New England Patriots.

O Patriots foi o time com melhor campanha, melhor ataque e melhor jogador da temporada 2010 da NFL. Eles deram surras épicas em times que chegaram longe nos playoffs, como Jets e Bears, e jogaram um futebol ofensivo extremamente bonito. Mas como eu expliquei exaustivamente na época, o grande sucesso do time aconteceu principalmente por causa das mudanças que o Bill Belichick implementou na forma de jogar do time, que explorou os pontos fortes e principalmente camuflou os pontos fracos da equipe. Esse sucesso ficou fácil depois porque, além dessas mudanças, o Tom Brady começou a pegar fogo, voltou à sua forma de antes da lesão, foi o melhor jogador da Liga disparado e o ataque do Patriots virou uma máquina imparável. Isso é, até os playoffs chegarem.

A verdade é que o genial plano de jogo do Bill Belichick e a fase estelar do Tom Brady serviram pra camuflar vários problemas que a equipe tinha, mas esses problemas ficaram evidentes quando chegou a pós temporada. Um craque e um bom plano de jogo podem fazer você ganhar muito em Outubro, mas quando chega Janeiro a coisa é diferente, é quando as fraquezas tão bem camufladas aparecem mais e se confrontam com as forças. O Patriots, apesar do melhor ataque aéreo da Liga nas costas do Tom Brady, conseguiu isso com um corpo de recebedores composto por um grande WR muito longe da forma física ideal, se recuperando de uma cirurgia no joelho (Wes Welker); um veterano decente mas que mesmo no seu auge não era um dos melhores da Liga e que chegou no meio da temporada (Deion Branch), dois Tight Ends calouros e mais um punhado de WRs sophomores sem experiência. Essa unidade funcionou por causa do bom jogo terrestre do Patriots e do Tom Brady, mas que teve problemas nos playoffs quando o Branch foi anulado pelo Darrelle Revis e o Welker não conseguiu levar o time nas costas, o que tirou as chances do Brady de fazer sua mágica com mais frequencia.

Além disso, tinha o problema da defesa. O Patriots camuflou suas falhas na defesa mantendo a bola no ataque, como eu comentei mais detalhadamente no link acima, mas a defesa ainda era muito complicada, cheia de calouros e sophomores. O problema do time, principalmente, era a secundária, que embora tenha tido um bom número de turnovers forçados graças ao ótimo calouro Devin McCourty ainda era frágil, sem profundidade e incapaz de manter um placar apertado contra um bom ataque. Uma grande parte desses problemas na secundária, também, se davam pela falta de pressão no QB adversário. O time não possuia praticamente nenhum jogador que fosse atrás do QB adversário, o melhor pass rusher do time era o Tully Banta-Cain, que está muito longe de ser uma força vinda da lateral. Essa incapacidade de colocar pressão no adversário expunha ainda mais a secundária jovem e frágil do Pats, e foi uma das causas da derrota do Patriots para o Jets nos playoffs, o Mark Sanchez pode ser limitado mas com tempo ele eventualmente vai achar seus bons alvos, e o Patriots deu muito mais tempo do que poderia pro garoto. Todos esses problemas - tanto no ataque como defesa - eram sérios empencilhos a um novo título, apesar da força do time, e ninguém realmente esperava que o time fosse ficar parado só esperando os jogadores melhorarem (o que também vai acontecer, dada a idade de 80% da defesa).

Quem acompanhou a nossa análise do Draft deve lembrar que, quando eu falei da AFC East, eu elogiei muito o Draft do Patriots, sua capacidade de mover suas escolhas e conseguir mais escolhas futuras, a adição do promissor Ryan Mallett e, principalmente, as adições do Nate Soldier e Ras-I Dowling. Mas também critiquei a falta de um pass rusher nesse grupo, que pra mim era o grande problema do time. Lembrando que como a Free Agency ainda não tinha acontecido e era uma incógnita, niguém tinha como saber o que ia conseguir ou não nesse período, não deixava de ser um grande risco, o time corria o risco de sair sem ninguém no final das contas.

Mas o Patriots causou barulho na offseason, não por contratar Pro Bowlers no auge da forma como o Eagles fez, mas por assinar com veteranos e trocar por dois jogadores que, apesar de apostas, podem render e muito nesse esquema.

Primeiro de tudo, o time trocou pelo Chad Ochocinco, o polêmico e hilário WR do Cincinnati Bengals. O Bengals foi uma decepção em 2010 e o Ochocinco já não está no seu auge, e acabou vindo praticamente de graça. O Ochocinco, apesar de grande jogador, sempre atraiu muita atenção pelas polêmicas fora de campo, possíveis desentendimentos com o então Quarterback Carson Palmer, e pelas comemorações extravagentes que lhe rendiam uma multa por semana praticamente (O que também tem um lado besta da NFL, uma vez ele foi multado por vestir um sombrero na lateral do campo depois de um touchdown...). Ele também estrelou Reallity Shows, tem uma conta muito movimentada no twitter e é um cara que sempre quer chamar atenção, lembra um pouco o Gilbert Arenas. A troca do Patriots por ele causou certa estranheza, já que o time se livrou do Randy Moss em 2010 e o Ochocinco tem a mesma fama de 'diva' que o ex-camisa 81. Mas como veio praticamente de graça (uma escolha de quinta rodada), é difícil imaginar que o Patriots vá se arrepender muito do negócio. A imposição do time a ele foi simples: Ficar longe da mídia. Isso queria dizer twitter, TVs, e qualquer uma das trezentas formas de aparecer que o Chad usava. Ochocinco aceitou, recebeu sua amada camisa 85 de presente do Aaron Hernandez e apareceu para os treinos em forma. O Ochocinco não está, como eu disse, no auge, mas ainda tem gasolina no tanque, é o Receiver nº1 que o time precisa pra liberar o Welker pro Slot( onde ele rende muito mais), aubda e vem de temporadas produtivas mesmo com um QB que jogou muito mal. Dentro de campo ele ainda pode render muito, tem a característica de possession receiver que o time precisa e com o Tom Brady ele tem tudo pra voltar aos bons tempos se conseguir ficar longe de polêmicas e se dedicar ao jogo.

Existe um risco nisso? Claro que sim. A troca foi um risco, mas o Patriots parece disposto a aceitar as consequencias. O Bill Belichick sempre soube como lidar com atletas de ego forte, o Ochocinco respeita muito tanto ele como o Tom Brady e sabe que é a grande chance de dar a volta por cima na carreira e ganhar um anel. Os problemas com o Randy Moss foram por causa da falta de vontade e dedicação dele, que só corria se a jogada fosse desenhada pra ele, não se esforçava, não bloqueava e isso fez com que o Brady chegasse pro seu técnico e falasse "Não quer mandar ele embora, não manda, mas eu não passo mais pra ele" (Sim, ele tem culhões). Moss foi mandado embora antes que alguém pudesse argumentar. O Ochocinco é problemático, chamativo e expressivo, mas ele é um jogador que chega com uma motivação muito grande, que pelo menos por enquanto está disposto a abrir mão de toda a exposição que ele tanto gosta por essa chance e eu acredito que pelo menos tentar ele vai. O risco não é tão grande, e a recompensa que pode vir faz dessa uma excelente troca para o Patriots.

Mas como o time não estivesse satisfeito, ainda correu atrás e adquiriu outro veterano problemático a preço de banana (duas escolhas de quinta rodada), o Albert Haynesworth. Depois de dominar a Liga de forma absurda no Tennessee Titans, ele assinou um contrato bilhonário (mais de 100 milhões) com o Redskins. No entanto, o Redskins queria mudar para uma defesa 3-4 ao invés da 4-3 que eles (e o Titans) usavam, e o Haynesworth que estava acostumado a destruir o miolo da linha ofensiva adversária e ir atrás do QB não quis jogar de Nose Tackle numa defesa 3-4, onde ele iria ficar recebendo double teams a vida toda e não teria a chance de aparecer com sacks e tackles, um papel extremamente importante para a defesa funcionar mas que não agradou o ego inflado do Haynesworth. Ele então só deu problema,  aparecia fora de forma pra treinar, fingia lesões, não se esforçava e acabou afundando no banco porque o técnico não estava afim de lidar com um adolescente de 30 anos e 140 quilos. O time estava querendo se livrar dele e do seu contrato imediatamente, e duas escolhas de quinta rodada já é mais do que eles esperavam conseguir.

O Patriots adicionou mais um jogador problemático, mas ele conta com dois trunfos: O primeiro é o fato de o Haynesworth precisar de alguém de personalidade forte junto dele para conseguir controlá-lo, se não tiver uma pessoa assim ele não vai fazer nada do que for necessário. Ele tinha no Titans o Jeff Fisher e sua comissão de coordenadores linha dura, sem falar no Kyle Vanden Bosch, que era um tremendo líder no vestiário (um dos motivos de eu apostar no sucesso do Nick Fairley em Detroit). No Redskins não tinha nenhum líder de verdade nem no elenco nem na comissão técnica, o que significava ninguém para controlá-lo e fazê-lo andar na linha. No Patriots ele tem o Bill Belichick, o Tom Brady e o Vince Wilfork, ele tem gente para fazê-lo andar na linha, o que aumenta as chances de sucesso. A adição do Haynesworth significa que o time se sente em condições de fazê-lo render, então o Patriots está confiante na sua capacidade de mantê-lo sob controle. Mas mais importante, o segundo trunfo, é que isso deve significar que o Patriots está voltando a usar a defesa 4-3, depois de usar a 3-4 por anos. O Patriots sabe que o Haynesworth não quer jogar na 3-4, e voltar pra 4-3 significa que o time terá um miolo de linha absurdo em Wilfork e Haynesworth. Provavelmente a segunda vai acontecer cedo do que tarde, manter o Haynesworth satisfeito é essencial. Em troca disso, o time ganha um dos melhores DTs da Liga (se estiver afim de jogar), o tipo de jogador que é capaz de colocar pressão no QB sem precisar de blitz e que iria sozinho aumentar o poder de fogo da defesa do Patriots. Ele também é uma parede contra a corrida e a linha de frente da defesa do Patriots ia ficar monstruosa. Se o Patriots controlá-lo, conseguir que ele se mantenha em forma e jogue a sério, o time acabou de conseguir um dos melhores jogadores de defesa da Liga.

Essas duas trocas foram a um custo baixo (três escolhas de quinta rodada por dois Pro Bowlers? Parece bom), um risco razoavelmente alto e com uma possível recompensa muito alta. Os dois são problemáticos, podem causar problemas no vestiário, podem não se dedicar ou não jogarem direito, pode acontecer, fazia parte do pacote e o Patriots sabia disso. Mas em caso de sucesso - funcionou com o Randy Moss por dois anos - o Patriots adicionou muito talento que vai dar um alvo nº1 pro ataque aéreo do Patriots e um jogador pra ser a âncora defensiva do time, o Wilfork é muito bom mas o Haynesworth, quando quer, é muito melhor.

Só o Haynesworth sozinho (Se jogar sério e blá blá blá, isso está implícito sempre que eu elogio o Haynesworth, ok?) já seria importante pra melhorar o pass rush do time, mas o Patriots levou a coisa a sério e aproveitou a Free Agency pra pegar o Andre Carter e o Shaun Ellis, ambos sem contrato. O Carter é um DE/OLB híbrido e o Shaun Ellis é o ótimo DE que jogava no Jets e foi o pesadelo do Brady nos últimos dois anos. Isso significa que o time levou a sério essa necessidade de melhorar o pass rush. Se o Dowling conseguir ser o parceiro do McCourty e o Brandon Marryweather ficar saudável, o time conseguiria usar um bom pass rush pra tornar sua defesa muito mais atraente. Tanto o Ellis como o Carter já são veteranos, caminhando para o final da carreira, mas ainda são capazes de boas temporadas. Em 2009 o Carter teve 11 sacks, por exemplo, e só foi dispensado pelo seu enorme contrato. O Ellis não só é um bom pass rusher, muito forte, como também é excepcional parando o jogo terrestre. O Carter deve jogar de DE se o Patriots realmente voltar ao 4-3, o que dará uma linha de frente ao time com Carter, Haynesworth, Wilfork e Ellis. A linha é muito boa, tem força e explosão pra chegar no QB adversário e ainda vai ser um pesadelo em relação ao jogo terrestre. Isso tira um pouco da pressão da secundária, que também deve se reforçar.

É legal ver que o Patriots, apesar da ótima campanha ano passado, entende a posição em que se encontra. O Belichick entendeu que o time ainda tinha buracos, e que tapando esses buracos o time seria muito melhor. Talvez isso não se reflita tanto na temporada regular, mas com certeza terá um enorme impacto na pós temporada, o time está muito mais completo, tem uma defesa muito mais confiável e voltou a ter um time equilibrado no quesito ataque/defesa. Não trouxe tantos jogadores de impacto e mídia como o Eagles, mas trouxe jogadores muito bons, experientes e para cobrir áreas deficientes do time. É assustador, mas o melhor time de 2010 acabou de ficar ainda melhor. E bem melhor.

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