Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Especial NBA - Larry Bird e Kareem Abdul-Jabaar



Para quem não sabe que Especial é esse e pra que ele serve, leiam esse post antes. 
Posts anteriores:
 - Bill Russell e Wilt Chamberlain
 - Jerry West e Oscar Robertson
 - Julius Erving

Larry Bird (Boston Celtics, 1986)
Kareem Abdul-Jabaar (Los Angeles Lakers, 1987)


Senhoras e senhores, seus vencedores para "Melhor sequência de dois anos da história da NBA". E já aviso a vocês todos, eu não consigo ser totalmente imparcial quando falo dos anos 80 na NBA, em especial desse período de dois anos entre 1986 e 1987. Porquê? Bom, nesse biênio vimos dois dos melhores times de todos os tempos, duas das três maiores temporadas Keyser Soze da história da NBA (com o Bulls de 96 sendo a outra), o auge de dois dos cinco maiores jogadores de todos os tempos, a maior rivalidade entre dois times da história da NBA e a maior - e mais interessante - rivalidade individual da história da NBA entre Magic Johnson e Larry Bird. Foi o período que a NBA definitivamente deixou de ser uma Liga secundária e passou a ser mainstream, que a NBA entrou no modo de TV a cabo e finalmente teve suas maiores estrelas repercutindo fora das quadras (como vocês devem lembrar, isso começou com Julius Erving alguns anos antes). Então sim, foi um período extremamente interessante e muito importante. Ninguém pode me culpar por babar toda vez que tocam nesse assunto

Mas muito embora a década de 80 tenha sido dominada e marcada por dois dos melhores e mais importantes jogadores da NBA (Bird e Magic), e serem os dois envolvidos na grande rivalidade da história da Liga, o 2K12 nos deu um outro jogador pro time do Lakers de 87, outro dos grandes de todos os tempos, Kareem Abdul-Jabbar. E embora eu entenda porque Magic ficou com o Lakers de 91 (falaremos disso mais tarde), pra mim devia ser Magic e Bird com esses dois times. Mas como ficou com Kareem, vamos falar rapidamente de Lew Alcindor antes de seguirmos em frente.

Eu já falei muito de Kareem - em especial quando ele ainda era Lew Alcindor e jogava pelo Bucks - nos posts de Oscar Robertson e Julius Erving, então para maiores detalhes recomendo que leiam esses posts. Mas pra falar rapidamente da carreira dele, precisamos começar por quando ele foi draftado. Saindo do College, Alcindor era considerado o próximo grande pivô e superestrela da NBA. Ágil e rápido demais pra ser marcado por jogadores mais altos e fortes, alto e habilidoso demais pra ser marcado por jogadores mais baixos e atléticos, e ainda possuindo o único arremesso da história da NBA que era impossível de evitar - o seu famoso Sky Hook - Kareem dominou a NCAA ao ponto de que criaram uma regra proibindo enterradas por causa dele (que David Thompson adorava desafiar e enterrar mesmo tomando uma técnica depois). Por isso, quando finalmente chegou a hora de mudar para os profissionais, aliciar Kareem virou uma questão importantíssima no contexto da competição entre a NBA e a ABA: A NBA queria mostrar que não estava com problemas e que ainda era capaz de trazer as grandes estrelas da NCAA, e a ABA queria mostrar sua força e atrair uma das grandes estrelas do basquete, que eventualmente forçaria um contrato de televisão e apressaria a fusão entre as duas (para mais detalhes, leiam o post de Erving).

O resultado todo mundo sabe, Kareem acabou indo para o Bucks, jogar na NBA. Mas o curioso é, Kareem queria mesmo era ir pra ABA, uma Liga com mais jogadores negros onde ele poderia morar em New York (e jogar pelo Nets), uma cidade muito mais interessante do que Milwaukee. No entanto, como a ABA ainda era uma Liga recém-formada e ele não queria flertar muito com ela em público, decidiu que iria escutar apenas uma oferta de cada Liga antes de decidir... E quando o comissário da ABA, George Mikan, foi fazer a proposta para Kareem, ele simplesmente esqueceu - não, sério, ele esqueceu - de entregar a ele um cheque de um milhão que fazia parte da proposta para ele jogar no Nets. Ofendido pela proposta da ABA, Kareem decidiu jogar pela NBA.

A carreira de Kareem na NBA teve um começo interessante. Com muito sucesso logo na sua primeira temporada (29-15-4, Rookie of the Year), o Bucks decidiu ir atrás de ajuda imediata para conseguir um título para sua superestrela, trocando por Oscar Robertson. Não vamos entrar em detalhes porque isso já foi contado no Especial sobre Oscar, mas o Bucks acabou ganhando seu título aquele ano com Kareem (32-16) liderando o time. O Bucks se manteve relevante por mais alguns anos enquanto Kareem e Oscar continuaram jogando, mas quando Oscar se aposentou depois da temporada 1974, o Bucks de repente ficou sem armador e sem um elenco de apoio decente para Kareem (o time era tão ruim que em 75 o próprio Kareem liderou o time em assistencias... Com 4.1 por jogo). Depois de amargar uma temporada de 1975 muito ruim, com um péssimo time e preso em uma cidade chata e sem nenhuma população muçulmana, Kareem se tornou o primeiro Superstar a forçar uma troca de um time de mercado pequeno para um de mercado grande ao forçar uma troca para o Los Angeles Lakers. Pois é, se Doctor J foi o superstar responsável por tornar as estrelas do basquete ícones foras das quadras, Kareem foi o responsável inicial pela tendência de Superstars forçarem trocas para times de mercado grande. Adivinhe qual deles é lembrado com mais saudade.

Bom, Kareem foi trocado pro Lakers, mas não foram exatamente bons anos para ele. O Lakers teve que mandar boa parte do seu time na troca e Kareem acabou ficando em Los Angeles com um elenco de apoio medíocre, cada vez mais introspectivo e incapaz de carregar aquele elenco fraco longe. No entanto, pra sorte de Kareem - e da NBA - o Draft da 1980 acabou trazendo a salvação.

Com o tempo, acabou se criando um certo mito de que a chegada de Magic e Bird na Liga salvou a NBA. Que a NBA estava em baixa com audiência e popularidade, vindo de algumas temporadas fracas e com Finais pouco importantes que sequer foram transmitidas ao vivo, e em resumo, com dificuldades de conectar com o povo e colher os benefícios disso. E a chegada de Magic e Bird teria reacendido a Liga, salvado sua popularidade e lançado a NBA de vez no mundo do sucesso.

Bem, na verdade esse mito não é muito verídico. É verdade que a NBA estava com dificuldades financeiras e em termos de público, especialmente depois da temporada de 1977. Apesar da fusão entre as duas Ligas ter juntado o melhor do talento do basquete em uma Liga só, os times ainda passavam por uma fase de adaptação. O choque entre os estilos da Liga foi bem grande, muitos times tiveram muitas dificuldades pra estabelecerem uma identidade com jogadores acostumados a estilos muito diferentes, e pra piorar o melhor e mais popular time da NBA da época (Blazers, campeão em 77 e 50-10 na temporada 78) acabou implodindo depois da lesão que tirou Bill Walton (Por sinal, a maior estrela da Liga junto com J) das quadras. O aumento dos salários pré-Merger acabou tirando um certo poder dos times e fez com que os torcedores parassem de se identificar com os jogadores (aquela velha história do "Todo mundo ganha demais e se importa de menos", justa ou não). As temporadas de 78 e 79 foram temporadas muito fracas, sem times fortes carregados por estrelas carismáticas e com a televisão nem se importando em passar os jogos ao vivo. A NBA precisava de uma vida nova, alguma coisa que atingisse mais fãs e que aumentasse o interesse na Liga, e portanto as receitas. Então sim, essa parte da história é verdade, embora tenha sido um pouco exagerada ao longo dos anos.

E é verdade também que isso começou a mudar em 1980, o ano que Magic e Bird (Draftado em 79, mas só foi pra NBA um ano depois) chegaram na Liga. Mas a questão é que o principal motivo dessa mudança não foi exatamente a chegada de Bird e Magic. Não entendam errado, a chegada dos dois para as duas principais franquias da Liga, já trazendo uma rivalidade vindo da NCAA depois de uma espetacular temporada que acabou com o Michigan State de Magic vencendo o Indiana State de Bird na final, foi muito importante. Bird e Magic eram as estrelas que a Liga precisava, ancoraram os dois grandes times dos anos 80, conectaram com fãs (algo que a Liga precisava urgentemente) e mostraram pro mundo que basquete era realmente divertido. A entrada dos dois na Liga definitivamente levou a NBA para um patamar muito melhor. Mas isso demorou algum tempo pra se firmar, enquanto que a temporada de 1980 sozinha já deu sinais de recuperação antes mesmo dos dois estourarem. E isso aconteceu principalmente por causa de outra coisa: TV a cabo. E isso foi a melhor coisa que aconteceu pra NBA, porque deu à nova geração de talentos da NBA muito mais exposição. Ao inves de depender da CBS, passar poucos jogos na televisão, seus principais jogos mudados de data pra acomodar a programação da emissora ou simplesmente ver os playoffs passando em tape delay, a NBA agora tinha canais pra passar sua programação num periodo muito maior, passar seus jogos importantes ao vivo e aumentar em muito o tempo de exposição da Liga na televisão. Essa mudança permitiu à NBA alcançar uma base de fãs muito maior e aumentou em muito o material disponivel em vídeo. Então sim, a entrada de Bird e Magic foi importantíssima pra NBA, mas quem permitiu que eles atingissem essa importância foi a chegada da televisão a cabo.

A rivalidade de Magic e Bird quando chegaram à NBA já era mais do que esperada, depois da temporada de 79 na NCAA quando os dois foram as grandes estrelas e duelaram nas Finais. Mas além disso, os dois eram jogadores que se importavam demais com basquete, jogavam para seu time, eram extremamente divertidos de assistir, dois dos melhores passadores de todos os tempos, e, no caso de Magic, ele ainda fez o que apenas Doc tinha feito antes: transcendeu a barreira da cor. Ninguém pensava em Magic como sendo branco ou negro, e sabendo o que sabemos sobre jogadores como Elgin Baylor e Oscar, isso significava bastante coisa. Mas assim como J, ninguém ligava pra isso com Magic: Ele era divertido, altruísta, jogava pro time e tinha um sorriso contagiante em quadra. A melhor comparação pra Magic que eu já vi, feita pelo Denis do Bola Presa, foi a do Ronaldinho Gaucho nos tempos de Barcelona, quando ele jogava com um sorriso enorme no rosto e genuinamente se divertia com o que fazia. Em outras palavras, Magic e Bird não eram só extremamente bons, eles eram - especialmente Magic - extremamente carismáticos. E a Liga precisava de jogadores assim. E se eles vivessem pra chutar o traseiro um do outro (apesar de serem ótimos amigos fora de quadra), melhor ainda!

E lógico, a dupla deu muito certo logo de cara. Logo no primeiro ano dos dois, 1980, Bird ganhou Rookie of the Year (21-11-5, com quase 2 roubos e 40%3PT) e levou um bom time do Celtics aos playoffs, e Magic - depois de ressuscitar a carreira de Kareem - foi MVP das Finais naquele ano em cima do Sixers de J por causa especialmente do seu jogo 6: 42 pontos, 15 rebotes, 7 assistências jogando o jogo todo de pivô no lugar de Kareem, que ficou em Los Angeles machucado se preparando para o eventual jogo 7, no que Bob Ryan chamou de "A melhor performance individual que eu já vi na vida" (precisa ser citado, Kareem foi o principal jogador do Lakers nos cinco primeiros jogos e anotou 40 pra ganhar o jogo 5 mesmo jogando em uma perna só). No ano seguinte, com Magic batalhando lesōes e problemas de entrosamento com o time (em especial, insatisfeito por dividir a armação com Norm Nixon), Bird assumiu o controle do Celtics após a  aposentadoria de Dave Cowens e levou um bom time com Robert Parish, Tiny Archibald e Cedric Maxwell, e ainda Kevin McHale vindo do banco, para o título da NBA em cima do Rockets de Moses Malone. Em 1982, o Lakers novamente chegou no topo da Liga vencendo o Sixers, com Magic e Kareem (ainda o Alpha Dog do time) liderando um grupo muito bom que ainda tinha Bob McAdoo, Jamaal Wilkes e Nixon (Magic teve um espetacular 18.6 pontos, 9.6 rebotes e 9.5 assistências na temporada regular, o mais perto que alguém já chegou do triple double de Oscar).

(Nota importante demais: Parish e McHale - 3rd pick no Draft - vieram pra Boston do Warriors em troca da 1st pick daquele Draft, que era do Celtics, e futuramente virou Joe Barry Carroll. Sempre que você pode trocar um cara cujo apelido era Joe Barely Cares por Parish e McHale, você tem que fazer a troca. Red Auerbach nem precisou pensar muito nessa)

Ou seja, embora Magic e Bird ainda não tivessem se enfrentado diretamente na NBA, os dois e sua rivalidade já tomavam conta da NBA. Bird tinha sido campeão liderando o Celtics de 81, e Magic bicampeão em 80 e 82, mas ainda como o second banana de Kareem (que, para sermos justos, nunca teria voltado a jogar nesse nível não fosse Magic). Essa dominância e rivalidade dos dois foi a bandeira que a NBA começou a carregar pra atrair cada vez mais torcedores, e funcionou. Mas a Liga queria muito que os dois se enfrentassem diretamente nas Finais pra dar o boom definitivo de audiência. E pra sorte de David Stern, recém-apontado comissário, isso aconteceu não só uma, mas duas vezes, em 1984 e 1985.

Em 1984, depois de um ano conturbado em 83 quando o Celtics desistiu do seu técnico na metade da temporada, e cansado de apanhar do Andrew Toney todo ano, contrataram KC Jones pra técnico e trocaram por Dennis Johnson, o melhor guard defensivo da sua geração. Apesar do Sixers ter feito o favor de perder pro Nets antes de enfrentar o Celtics, Boston viu sua nova aquisição valer a pena quando o time foi pra Final, onde o Lakers esperava na sua terceira final consecutiva para o primeiro Bird vs Magic no profissional. Pra ambos os jogadores e ambos os times, bem como pra NBA e pra televisão, a final não desapontou. Na verdade, considerando que o salary cap entrou em vigor ao final de 1983 e que hoje em dia é impossível para times se manterem tão lotados de talento como aqueles times dos anos 80, e que hoje os jogadores na Liga se gostam demais pra ter rivalidades como aquelas, provavelmente nunca mais veremos uma série com tanta rivalidade, tantos jogadores bons em quadra ao mesmo tempo, tão física e tão disputada. Muita gente até hoje considera as Finais de 1984 como as melhores de todos os tempos: Sete jogos, a falta mais famosa de todos os tempos, muitas faltas duras, muitas prorrogaçōes, um dos maiores jogos de todos os tempos (Jogo 4, com a falta de McHale em Kurt Rambis, Magic errando o game-winner no tempo normal, depois sumindo nos momentos decisivos da prorrogação, Larry acertando o arremesso decisivo em cima de Magic em OT, e o Celtics finalmente ganhando por quatro) alguns game-winners e momentos marcantes... E um time superior do Lakers perdendo um jogo 7 principalmente porque Magic e James Worthy falharam em momentos decisivos dos jogos 4 e 7 pra um time do Celtics que simplesmente queria mais a vitória, nas Finais que finalmente explodiram de audiência e elevaram a NBA ao status "cool".

O Lakers se vingou em 85, quando roubou as Finais de um time do Celtics superior que implodiu por problemas de entrosamento (especialmente um insatisfeito Maxwell) e por causa de Bird ter machucado sua mão em uma briga de bar e ter tido muitos problemas nas Finais. Até hoje, McHale e Danny Ainge ainda reclamam que o Celtics perdeu uma ótima chance de repetir o título de 84, e por melhor que aqueles Lakers fossem, o Celtics ainda provavelmente ainda era melhor. Mas tudo bem, por dois motivos: Primeiro, o Lakers era melhor em 84 e entregou as Finais, o Celtics devolveu o favor em 85. E também, porque sem essa derrota, não teríamos o meu time favorito da história da NBA: O Celtics de 86.

Eu sempre digo que pra um time atingir seu àpice, um dos ingredientes mais importantes que existe é a motivação. Todo time tem alguma coisa que funciona como um motivador, e quanto mais forte, mais o time vai extrair de si mesmo, mais vai atingir aquele nível Keyser Soze, aquela temporada onde o time não quer só ganhar, ele quer massacrar e provar um pouco. E não tem motivador melhor do que o grande time que foi derrubado e quer voltar ao topo, mas não só voltar ao topo, mas também não quer deixar a menor dúvida de quem é o melhor. E pro Celtics de 1986, ele nunca teria atingido esse nível de motivação se não tivesse perdido em 85 para um Lakers inferior.

Antes da temporada começar, o Celtics trocou o infeliz Cedric Maxwell pelo eternamente machucado Bill Walton e liberou, pra mim, a definitiva temporada Keyser Soze de todos os tempos. Com um Bird puto da vida (27-10-6, 2 Steals, 42 3PT%) liderando o caminho, McHale no seu auge e um quinteto ridiculo de DJ, Ainge, Bird, McHale e Parish (com Walton e Scott Wedman vindo do banco) se encaixando perfeitamente em torno da hierarquia da equipe, o Celtics tinha tudo que você poderia querer de um time: Entrosamento e chemestry perfeitos (Todo mundo sabia seu lugar na equipe), um superstar no auge de suas forças, um garrafão espetacular, ótima rotação, uma excelente defesa (DJ e McHale eram dois dos melhores defensores da sua geração, Parish era muito sólido, Ainge era bom, e Bird roubava um bilhão de bolas por jogo), podia arremessar de três (Bird, Ainge e Wedman), dominava os rebotes, todos os jogadores só se preocupavam com a vitória e não com seus números, tinha flexibilidade pra se adaptar a qualquer estilo e qualquer adversário... E, mais importante, era um dos grandes times passadores de todos os tempos. Com Bird e Walton (dois dos maiores da história no quesito) fazendo os passes de costume, seus passes, visão de jogo e altruísmo em quadra contagiavam todos seus companheiros, e logo todos viam os mesmos ângulos e jogavam com a mesma disposição de achar companheiros livres pra cestas, fazendo com que o jogo parecesse mais um show do Globethrotters do que outra coisa pela quantidade de passes espetaculares e enterradas fáceis. Com seus companheiros no auge, Bird começou a explorar mais do que nunca seus passes e sua capacidade de fazer a bola rodar e abrir a defesa, e todo o time seguiu a deixa. Tente assistir um jogo daquele time... É praticamente impossível enxergar os ângulos dos passes daquele time.

Como se fosse pouco, o Celtics tinha o maior inside-outside combo da história da NBA. Com Bird (excelente arremessador, um dos maiores passadores da história do mundo) e McHale (ninguém tinha mais post moves do que McHale, que chutava 60% de quadra e precisava de double teams o jogo todo) combinando pra 51 PPG, 18 RPG, 11 APG e 54FG% e exigindo marcação tripla ou quádrupla, o Celtics vivia achando jogadores livres pra arremessos ou bandejas o tempo todo só com a atenção dada a esses dois (caso a marcação não viesse, eles pontuavam a vontade). Some a isso Parish e Walton combinando pra 25-15-4 e 4 tocos por jogo, e o Celtics simplesmente era invencível no garrafão: Ninguem podia vencê-los nos rebotes ou pontuando perto do aro, e no ataque o Celtics simplesmente ficava rodando o garrafão, pegando rebotes ofensivos e achando arremessadores livres o jogo todo. Como você parava esse time? Era impossível. Além disso, o time podia ir baixo (DJ-Ainge-Wedman-Bird-McHale) ou alto (Ainge/DJ - Bird - McHale - Parish - Walton), o que o tornava um matchup impossível para qualquer time e qualquer estilo.

Números sozinhos não fazem jus à temporada 86 do Celtics, mas eles ajudam: 67-15 na temporada regular, durante o período mais competitivo da história da NBA e indo 18-2 contra times com 49 vitórias ou mais (O problema do time: frequentemente se entediavam contra times fracos, senão teriam passado de 70); um absurdo 40-1 em casa, que sobe pra um recorde da NBA 50-1 se contarmos playoffs, então acreditem quando eu digo que NINGUÉM encostava nesse time em casa; sequências de 14 e 13 vitórias consecutivas ao longo da temporada regular; uma sequência de 11-0 que incluiu vitórias contra Lakers, Sixers, Bucks, Hawks e Rockets (sabe, cinco dos melhores times da NBA); líder em assistências, rebotes, FG%, FT% e 3PT% e com a melhor defesa da Liga; tudo isso na temporada regular. Nos playoffs, o Celtics emendou um 15-3 (10-0 em casa) com o quarto melhor ataque e a melhor defesa, um point-diferential de 10.6; varreu os fortes Bucks e o Bulls de Michael Jordan e meteu um 4-1 no Hawks antes de vencer um fortíssimo Rockets em 6. Além disso, o Celtics jogou o melhor quarto de basquete da história da humanidade conhecida: O terceiro quarto do jogo 5 contra o Hawks, um massacre de 36-6 que terminou com uma sequencia de 24-0. Vendo aquele vídeo 26 anos depois, ainda é surreal: A defesa é espetacular, a intensidade é impar, os passes e os contra-ataques são inacreditáveis, e a alegria dos jogadores do Celtics enquanto acontece é contagiante (em um ponto, depois de uma bandeja, DJ começa a pular e comemorar no meio do jogo, tentando extravasar a alegria). Grandes times sabem reconhecer quando tem algo grande acontecendo, e respondem de acordo... E essa foi a resposta mais definitiva que eu já vi na vida. O único defeito dessa temporada foi não ter acabado com uma vitória sobre os rivais Lakers (algo que emputeceu profundamente um Celtics com sede de vingança), que perdeu para o Rockets numa história que será contada em outro post.

Se a temporada do Celtics de 86 foi tão fantástica, teve um time tão icônico e histórico e a definitiva temporada Keyser Soze de todos os tempos, porque ninguém fala mais dela? Porque a memoria das pessoas é uma droga, eu vivo dizendo! Você tinha cinco dos 100 maiores jogadores de todos os tempos (DJ, Bird, McHale, Parish e Walton) jogando juntos na temporada mais invencível da história da NBA, Bird e McHale no seu auge, um time que era praticamente perfeito em qualquer departamento (defesa, rebotes, pode escolher) e que massacrou toda a competição pelo caminho verdadeiramente gritando "Nós somos os melhores e vamos provar!" na orelha de quem encontrasse... E mesmo assim, de alguma forma, ninguém lembra desse time como deveria. Esse Celtics foi o grande motivo de eu querer fazer alguma coisa pra não deixar isso morrer. Os números são fantásticos e vão continuar chamando a atenção pra toda a eternidade, mas como quase tudo em basquete, números não servem pra capturar exatamente o impacto do que acontece numa quadra de basquete. Nenhum número é capaz de mostrar exatamente o nível de impossibilidade de defender Bird e McHale, a intensidade do garrafão do time, sua flexibilidade, a forma como o time jogava coletivamente, seus espetaculares sempre achando um companheiro livre. .. Nem o sentimento geral de "Holy hell, ninguém ia ganhar desses caras esse ano!" que o time passava, ou a forma como subiam um nível quando sentiam cheiro de sangue. Essas coisas só duram por vídeos e relatos escritos, e é o que eu estou fazendo aqui.

(Tangente rápida: Após essa temporada espetacular, o Celtics ainda tinha a 2nd pick do Draft daquele ano, onde pegou Lenny Bias. Bias era exatamente o que o Celtics precisava: Um ala atlético, que atacava a cesta como ninguém e que teria deixado Bird e McHale descansarem por mais tempo ao longo da temporada. Pense nisso de novo: O Celtics, saido de uma das maiores temporadas de todos os tempos, estava ADICIONANDO Lenny Bias!! Mas claro, Bias morreu de overdose dois dias depois, McHale quebrou o pé por causa do excesso de minutos e falta de um ala reserva, as costas de Bird cederam dois anos depois pelo excesso de minutos sem Bias na reserva, e o Celtics nunca mais foi o mesmo)

E aliás, isso também serve pra um outro time: O Lakers de 87. Depois de uma derrota doloridíssima pro Rockets em 86, e com Kareem cada vez mais velho e incapaz de ser o Alpha Dog do time, Magic percebeu o que tinha que fazer e assumiu a liderança de vez da equipe. Pegou a tocha de Kareem, se reinventou como um pontuador letal e um assassino no final dos jogos, e reergueu o Lakers em torno do trio Magic-Kareem-Worthy e uma identidade mais veloz e mais baixa. Com Mychael Thompson (um defensor de garrafão de elite) vindo de presente de San Antonio (que decidiu jogar a temporada fora por David Robinson), e Magic dando o salto definitivo da sua carreira (24-6-12, 52 FG%), o Lakers se fechou no seu modo Keyser Soze e jogou com a mesma intensidade do Celtics do ano anterior em busca de sangue.

Algum tempo depois, Magic viria a declarar que esse foi seu melhor time... E eu concordo. Nenhum time tinha um ataque tão letal e tão bem montado como o desse Lakers. Seja na transição com Magic comandando o show (nenhum jogador era mais imparável na transição que Magic, ponto) ou seja na meia quadra com Kareem (no garrafão) e Worthy (criando seu arremesso) ajudando Magic, o fato era que nenhum ataque combinou tão bem ataque de meia quadra e transição. Ainda que o Lakers não tivesse o garrafão forte do Celtics, Magic também era um passador tão bom, inteligente e altruísta que isso contagiou todo o time do Lakers, e assim como o Celtics de 86, logo todo mundo estava rodando a bola e achando o jogador livre. Ainda que o Lakers tivesse duas fraquezas (era um time apenas razoável defensivamente, e o pior de toda a NBA em rebotes), eles continuavam ganhando e emendando sequências impressionantes simplesmente porque tinham um ataque imparável, porque tinham Magic e Worthy no seu auge (poucos jogadores na história foram melhores em basquete do que Magic em 87), Kareem ainda capaz de usar seu skyhook, e porque eles tinham uma profundidade incrível.

No final, o Lakers liberou sua melhor temporada: 65-15 (15-3 nos playoffs), 12-6 contra times acima de 50 vitórias, melhor ataque da temporada regular e dos playoffs, point diferential de 11.4 nos playoffs, 28 APG pro time, varreu Denver e Seattle e teria varrido Golden State se não fosse pelo Sleepy Floyd Game (Quando Sleepy anotou 30 pontos no quarto período sozinho pra ganhar o jogo), antes de ganhar do Celtics em 6 nas Finais. Parece bem sólido, mas não transcendental, certo? Fica melhor quando você pega qualquer vídeo desse time num jogo apertado, ligando a quinta marcha e pontuando a vontade, com os adversários com aquela cara de "O que podemos fazer pra parar esses caras??". Imagine o Suns de 07, melhore eles defensivamente (mas não nos rebotes), e agora de a ele um elenco cinco vezes mais profundo e dois jogadores de elite além do Steve Nash capazes de criar seu próprio arremesso (Worthy e Kareem)... E dê ao time PEDs. Aquele Suns foi o melhor basquete ofensivo que eu vi em toda a minha vida, e o Lakers de 87 era uma versão MELHORADA daquele Suns. Quando a defesa e os rebotes começavam a falhar, eles simplesmente ligavam o "Ok, vamos ter simplesmente que fazer mais pontos que vocês"... E não tinham como pará-los. Era simplesmente injusto. Era velocidade no contra ataque, passes maravilhosos em transição e na meia quadra, três ótimas opçōes ofensivas (Magic, Worthy ou Kareem) e mais uma penca de Role Players prontos pra  fazer o que fosse necessário (e um excelente técnico no Pat Rilley). E isso pode ser apenas parcialmente capturado em números ofensivos, que não refletem a capacidade do time de elevar seu nível ofensivo quando sentiam cheiro de sangue, ou a impossibilidade de defender Magic, Big Game James e Kareem ao mesmo tempo, ou seus passes transcendentais.

Enquanto isso, os atuais campeōes Celtics lidavam com uma série de problemas. Com Bill Walton machucando logo no começo da temporada e perdendo o resto do ano, e sem Lenny Bias pra dar a proteção pros alas, a rotação de garrafão do Celtics ficou muito mais magra do que antes e forçou Bird, McHale e Parish a jogarem muito mais minutos do que o ideal. Isso resultou em uma série de lesōes ao longo do ano, culminando na mais grave, McHale quebrando seu pé. Chegando perto dos playoffs, um McHale apressou sua volta porque o time não tinha mais como jogar sem profundidade no garrafão, quebrou o mesmo pé de novo... E decidiu que continuaria jogando com pé quebrado e tudo! Por que? Porque você só tem um certo número de chances de brigar pelo título, e se não aproveitá-las, elas podem não voltar mais. McHale sabia disso, e nunca quis assistir seus companheiros brigando sozinhos pelo título. Então pé quebrado e tudo, continuou jogando pelos playoffs, acabando com o resto da sua carreira e gerando problemas que duram até hoje. E quer saber? Ele mesmo disse que faria de novo e que não se arrepende. Diga o que você quiser de Kevin McHale, mas ele se importava. Ninguém pode questionar a vontade desse cara. E assim o Celtics chegou extremamente baleado nos playoffs: Walton estava fora, Parish, Ainge e Wedman estavam com lesōes o que os teria tirado de quadra se fosse a temporada regular, e McHale estava jogando com a droga de um pé quebrado! E pra piorar, eles enfrentaram o time mais físico, que jogava mais duro e mais sujo da Liga inteira, o fortíssimo Pistons. Foi uma carnificina de sete jogos, com Rick Mahorn repetidamente pisando de propósito no pé de McHale pra piorar a fratura, muitas faltas duras que pioraram lesōes, geraram novas e, em geral, um jogo muito mais físico e contra um adversário muito mais duro do que qualquer outro do Oeste. Embora o Celtics tenha ganho a série com um sabor especial, vencendo o jogo 5 com o famoso roubo de bola de Larry Legend pra cima do Isiah Thomas e vencendo um jogo 7 de forma definitiva, o time chegou nas Finais com vários jogadores machucados, McHale totalmente no sacrifício, e Larry Legend levando o time nas costas. Mesmo com Bird vs Magic III nas Finais, ambos no seu auge, todo mundo sabia que o Lakers era o grande favorito, e confirmou isso fechando a série em 6 em outra final com grande audiência.

Então sim, o Lakers de 87 pegou uma boa série de golpes de sorte: O Rockets, que os derrotou em 86 e era um time feito sob medida pra derrotar o Lakers (e que vai ganhar mais espaço quando falarmos de Hakeem Olajuwon), acabou implodindo sozinho por diversos motivos que não tiveram nada a ver com o Lakers; e mais importante, o Celtics de 87 era um time muito piorado em relação a 86, sem Walton e com vários jogadores machucados (até hoje não entendo como o Lakers demorou seis jogos pra fechar a série, e teriam sido sete se o 3PT desesperado de Bird cai no final do jogo 4, depois do lendário Baby Hook de Magic. Veja o vídeo até o fim, vale a pena). Se o Celtics tivesse saudável, teria ganho do Lakers? Impossível dizer, o Celtics teve seu auge em 86 e o Lakers em 87. Porque ai que está: Esse time do Lakers era simplesmente bom demais!! Mesmo que não tivessem uma grande defesa e pudessem ser acuados por times que dominassem os rebotes, mesmo que tenham tido alguns golpes de sorte, eles tinham uma capacidade de subir de nível e falar "Ok, agora vamos mostrar o que somos capazes, vamos pontuar de todas as formas diferentes que você possa imaginar, transformar cada erro seu em um contra ataque mortal, e dominar você de tantas formas até que vocês abandonem seu jogo e seu autodestruam" que poucos times na história do jogo tiveram. No quesito "invencibilidade", eles provavelmente só perdem pro Bulls de 96 e pro Celtics de 86, e nenhum time era mais completo ofensivamente. Eles tinham um dos cinco maiores jogadores da história no seu absoluto auge. Se isso não faz um time ser excepcional, eu não sei o que mais faz. E os Lakers de 87 eram excepcionais em qualquer sentido.

Por isso tudo, não da pra falar da década de 80 sem falar de Magic e Bird. Eles foram o foco e a bandeira que a Liga carregou durante nove sólidos anos (até o corpo de Bird traí-lo). Com ajuda da TV a cabo, a rivalidade entre os dois acabou levando a Liga a um novo nível de popularidade e achou uma nova forma de conectar com os fãs e lançar a Liga nos grandes mercados. E isso aconteceu porque eram dois jogadores extremamente habilidosos, muito carismáticos, com uma rivalidade intensa e amigável ao mesmo tempo, dois jogadores que eram muito dedicados ao basquete, e dois dos maiores passadores de todos os tempos. Dois jogadores que eram tão bons passadores e tão altruístas dentro de quadra que isso contagiava seus companheiros de time e levava todos a um lugar mais alto, e no fundo, esse é o tipo de coisa que não se captura com estatísticas mas que é uma das formas mais importantes que se pode afetar um time de basquete, e que faz de jogadores como Bird, Magic, Walton, Nash e Jason Kidd (pra citar alguns) tão bons e tão difíceis de medir com números apenas. Entre 1980 e 1989, a NBA não viu NENHUMA final sem Bird ou Magic, e apenas em 83 e 89 (já chegaremos lá) um dos dois não conquistou o título. E por mais importante que Kareem tenha sido, por mais que sua longevidade e sua capacidade de manter um alto nível por tanto tempo sejam inigualáveis na história da Liga (MVP das Finais com 15 anos de distancia?? Sério?), por mais que ele tenha sido o Alpha Dog do Lakers nos três primeiros títulos, e por mais que o Lakers nunca iria ganhar esses cinco títulos sem ele (tirando, talvez, 88)... Os anos 80 pertenceram a Magic e a Bird. E a NBA agradece por isso.

Pra terminar, eu queria falar um pouco mais de Larry Bird, e do que ele era dentro da quadra e do que ele representou (Magic vai ganhar mais espaço no próximo). Eu podia falar de como ele foi a primeira estrela da NBA a adotar a linha de três pontos e de como até hoje é considerado um dos grandes arremessadores de todos os tempos (Bird treinava chutes de três com os olhos fechados no final da carreira). Eu podia falar de como ele foi o maior ala passador que a humanidade já conheceu e de como isso era contagiante para seus times, e os elevou a outro patamar. Eu podia falar do período entre 84 e 88, os cinco melhores anos da história da posição de ala, e de seus três MVPs consecutivos. Eu podia falar de como era impossível capturar o jogo de Bird apenas com estatísticas, mas que ninguém colocava números no boxscore como ele. Eu podia falar que Bird é o único jogador da história da NBA cujas médias da carreira nos três principais quesitos (24.3 PPG, 10.0 RPG, 6.3 APG) está entre as 50 melhores marcas em cada um deles (ninguém mais tem as três dentro do Top125). Mas eu prefiro deixar duas pessoas que entendem muito mais do que eu falarem sobre Bird. Então pra terminar, vou deixar aqui duas frases sobre Larry Legend. A primeira, muito conhecida, é do seu maior rival, Magic Johnson, quando Larry se aposentou. A segunda foi dita por Kevin McHale, alguns anos antes, depois do famoso duelo entre Bird e Dominique Wilkins em 86.

Magic: "Larry, você só me contou uma mentira. Você disse que haveria outro Larry Bird. Larry,  nunca, nunca existirá outro Larry Bird"

McHale: "As vezes, quando Larry tem um jogo assim, isso me faz pensar no futuro... Eu vou estar aposentado em Minnesota e Larry vai estar aposentado em Indiana, e nós provavelmente não vamos ver muito um ao outro. Mas em muitas noites eu simplesmente vou ficar deitado na cama, e vou lembrar de jogos assim, e de como era jogar junto com ele."

Alguém ligue o aquecimento, porque essa deu calafrios!

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Podcast de MLB, versão 2.0

Pessoal, hoje tou trazendo aqui mais um podcast, esse de novo sobre MLB, por causa da proximidade dos playoffs.

Infelizmente, eu estive muito ocupado essa semana, então esse podcast - gravado quinta passada - só conseguiu ser editado hoje. Pelo mesmo motivo naão tivemos posts essa semana, mas semana que vem retomamos o ritmo.

Do podcast, participamos eu, o Vinicius do blog Spinballnet (http://spinballnet.blogspot.com/) e o João, do MLB Brasil (http://mlb-br.blogspot.com/) - cliquem nos nomes para o twitter dos referidos. Tocamos em todos os assuntos relevantes no momento: A suspensão do Melky Cabrera, o jogo perfeito do Felix Hernandez, as decepçōes e surpresas da temporada, Stephen Strasburg e, claro, playoffs.

Aqui voces podem acessar os links que citamos no podcast: Para o post do TM Warning sobre estatiísticas avançadas, é só clicar aqui

E para ver o incidente o envolvendo o Torii Hunter e o umpire, clique aqui.

Finalmente, para acessar o podcast, é só entrar no link abaixo. Nele da pra escutar online e também está disponível para download. Espero que gostem!

Clique aqui para acessar o podcast

sábado, 18 de agosto de 2012

Especial NBA - Julius Erving




Pra quem não sabe que Especial é esse e pra que ele serve, leiam esse post antes.
Posts anteriores:
 - Bill Russell e Wilt Chamberlain
 - Jerry West e Oscar Robertson

Julius Erving (Philadelphia 76ers, 1985)


Pois bem, chegou a hora de quebrar algumas das regras que eu mesmo estabeleci três posts atrás. Primeiro, porque o post de hoje vai quebrar o padrão de escolher dois jogadores por post, e vamos ficar apenas com Julius Erving, o Doctor J. Em geral, eu estava tentando pegar jogadores que combinassem de alguma maneira, seja se complementando (Jordan e Scottie Pippen), seja pela rivalidade (Russell e Wilt), ou seja por algum fator em comum ligando os dois jogadores (Como West e Oscar, dois jogadores semelhantes que trilharam caminhos totalmente diferentes). Mas com Doctor J, ele vai ter que ficar sozinho porque nenhum outro jogador dessa lista da 2K12 se encaixa no propósito desse post além do próprio Doc. E também, vamos ter que distorcer um pouco esse J do jogo pra se encaixar nesse propósito, porque a 2K me criou mais um problema com sua seleção de jogadores. Veja a lista abaixo e veja se consegue identificar o problema:

Bill Russell (Boston Celtics, 1965)
Jerry West (Los Angeles Lakers, 1971)
Oscar Robertson (Milwaukee Bucks, 1971)
Wilt Chamberlein (Los Angeles Lakers, 1972)
Julius Erving (Philadelphia 76ers, 1985)
Larry Bird (Boston Celtics, 1986)
Kareem Abdul-Jabaar (Los Angeles Lakers, 1987)
Isiah Thomas (Detroit Pistons, 1989)
Magic Johnson (Los Angeles Lakers, 1991)
Michael Jordan (Chicago Bulls, 1993)
Patrick Ewing (New York Knicks, 1994)
Hakeem Olajuwon (Houston Rockets, 1994)
Scottie Pippen (Chicago Bulls, 1996)
Karl Malone (Utah Jazz, 1998)
John Stockton (Utah Jazz, 1998)

*esperando*

Conseguiram? Reparem de novo nos anos de cada time, em especial nos times de Wilt e Erving, e vocês vão perceber o problema. Nessa série de posts, a idéia acabou ficando de fazer os posts em uma ordem cronológica pra poder ir esclarecendo as mudanças pelas quais a NBA passou, no seu jogo e na sua composição, usando os times e jogadores como pano de fundo. Falamos da era Pre-Shot Clock, a entrada de Russell e Elgin Baylor na Liga, as diferenças entre as estrelas brancas e negras na NBA... Mas pra continuar contando da história da NBA, precisamos passar pela segunda metade da década de 70 e por um dos eventos mais importantes da história da Liga, a rivalidade entre NBA e ABA e o subsequênte Merger, a fusão entre as duas Ligas. Mas não temos nenhum time da época, nenhum time dos anos 70 pra fazer essa ponte. Por isso, vamos dar uma mexida no que o 2K12 nos oferece e usar um dos principais jogadores da ABA pra voltar um pouco no tempo que o jogo nos oferece, e ver como Julius Erving e a ABA se encaixam nessa história, e fazem a ponte entre a primeira grande era da NBA (Anos 60/começo dos 70) e a segunda (Anos 80, com as chegadas de Larry Bird e Magic Johnson).

Vamos voltar um pouco para a segunda metade dos anos 60. A NBA, aos poucos, foi deixando pra trás seus dias tediosos. A Liga estava, após as chegadas e Russell e Elgin Baylor, caminhando em uma direção mais divertida e explosiva. As rivalidades estavam cada vez mais sérias, os campeonatos competitivos, e cada vez mais estrelas estavam entrando na Liga, o que continuava atraindo o público. A NBA deixava de ser alternativa e começava, aos poucos, a expandir sua popularidade, especialmente após assinar um acordo de transmissão para a TV. E, talvez mais importante, a NBA começava a se mostrar um negócio lucrativo. Portanto, não é de surpreender que mais gente estivesse interessada em entrar nesse mercado, como a NBA deixou claro ao criar OITO novas franquias entre 1966 e 1971 (Bulls em 67; San Diego Rockets e Sonics em 68; Bucks e Suns em 69; Buffalo Braves, Cavs e Blazers em 71).

No entanto, nem todo mundo disposto a entrar no mercado emergente do basquete conseguiu - ou quis - lugar na NBA. Em 1967, foi fundada uma Liga alternativa à NBA, chamada de American Basketball Associaton, a ABA, com 11 novas franquias. O objetivo da ABA não era competir com a NBA pelo mesmo mercado a longo prazo, já que eles reconheciam a dificuldade de competir com a Liga já a mais tempo estabelecida e muito mais avançada, com contrato de televisão e tudo mais. O objetivo da ABA, na verdade, era forçar uma fusão com a NBA. Para potenciais donos de time, criar uma franquia na ABA era muito mais fácil e mais barato do que ir atrás de uma na NBA, e portanto eles esperavam forçar uma fusão das duas Ligas pra que suas franquias (ou pelo menos uma parte dessa) pudessem migrar para a Liga que mais rendia dinheiro, retornando com lucros seu investimento.

Naturalmente, se a ABA queria forçar uma fusão, eles precisavam de visibilidade e importância suficiente para forçar a NBA a aceitar essa fusão. O plano da ABA para forçar isso era conseguir um contrato de televisão semelhante ao da NBA, pois isso colocaria as duas Ligas quase em condição de igualdade e competindo pelo mesmo mercado em grande escala. E para conseguir isso em pouco tempo, a ABA sabia o que ela precisava fazer: Atrair o máximo possível de estrelas, especialmente estrelas com um jogo mais chamativo e excitante, para tirá-las da NBA (deixando a rival numa situação mais fraca) e tornar seus times e jogos mais interessantes para o público. Nem que isso significasse pagar preços altos (acima do padrão de mercado) pra esses jogadores, inflacionar o mercado e prejudicar as contas da Liga, já que a esperança da ABA era recuperar o retorno no investimento uma vez que as duas ligas se juntassem.

E embora a ABA tenha perdido em 1970 um grande prêmio em Lew Alcindor - um superstar do College que teria chamado muita atenção pra Liga, garantido um contrato de televisão e forçado uma fusão muito tempo antes do que aconteceu (e o que é pior, que queria ir pra ABA e o comissário George Mikan estragou tudo) - ela teve muito sucesso com sua abordagem. Sabendo que tinha uma certa escassez de recursos, e sabendo que pagando o valor inflacionado que estava tentando pagar pra atrair jogadores não poderiam contratar todos os jogadores que queriam, a ABA focou principalmente em jogadores negros, mais atléticos e mais explosivos, e portanto com um jogo mais divertido para o grande público (nessa linha de raciocínio, a ABA tambeém foi a primeira a adotar uma linha de três pontos). A ABA acabou trazendo algumas das principais estrelas negras que saiam do College no final dos anos 60 e começo dos anos 70, e com isso ela se tornou uma alternativa atraente para os demais jogadores negros que queriam jogar futebol, que mesmo sem receber os salários absurdos pagos às estrelas viam a ABA como um lugar mais acolhedor do que a ainda predominante branca NBA. Entre os principais prospects dos anos 70-74 que foram para a ABA, se destacam Julius Erving, Artis Gilmore, George Gervin, Moses Malone, Marvin Barnes, Maurice Lucas e David Thompson. Os que foram para a NBA incluem Paul Westphal, Doug Collins, Bill Walton, Scott Wedman e Dave Cowens. Adivinhe o que todos de cada Liga tinham em comum?

O problema das duas Ligas é que, com o passar do tempo, acabou se criando uma grande polarização entre as duas, motivado pelos fatores expostos no parágrafo anterior. Não só a NBA acabou virando uma Liga principalmente de brancos e a ABA uma Liga principalmente de negros, o jogo das duas Ligas também sofreu: A NBA ficou sendo uma Liga recheada de jogadores brancos e lentos, era um jogo mais cansativo, mais abaixo do aro e com poucas jogadas explosivas e atrativas para o público. Do outro lado, a ABA, que focou principalmente em ter um jogo mais divertido e empolgante, acabou tornando isso uma prioridade, e acabou virando uma Liga cheia de enterradas e jogadas empolgantes, mas onde ninguém defendia e onde todo mundo se importava mais com a jogada fantástica do que com o que era melhor pro time. Depois de um começo promissor, a ABA perdeu um pouco de apelo lá por 1974, quando a falta de competitividade, o excesso de franquias (que tornavam os times menos competitivos) e a falta de defesa começaram a incomodar mais o público do que as jogadas empolgantes atraíam, especialmente associado aos altos salários (o que gerou a imagem, merecida ou não, de que os jogadores eram overpaids e não liga pro jogo). Embora a ABA ainda tivesse tirando jogadores importantes da NBA e com isso incomodando os seus rivais, a ABA em si começava a dar sinais de desgaste, talvez não podendo continuar se mantendo.

E aí que entra Julius Erving. Draftado em 1971, Erving logo se estabeleceu como um jogador extremamente explosivo, que enterrava como ninguém nunca tinha feito antes, um excelente pontuador e que divertia todo mundo (e que tinha um afro fantástico). E até engraçado descrever, hoje, o alcance da popularidade do Doctor J, porque é basicamente o resumo da maior parte das estrelas da atualidade, mas tente imaginar isso em 1975: J foi a primeira estrela da NBA a transcender a cor, alguém que o público não via como branco ou negro, simplesmente extremamente divertido e jogando com uma alegria e energia contagiante. Se Baylor foi o responsável por trazer o Hang Time pra NBA (sua capacidade de saltar e criar arremessos no ar), Erving foi o responsável por popularizar a enterrada - suas enterradas e jogadas incríveis eram reprisadas na TV, rendeu capas da Sports Illustrated, e virou a imagem de um basquete divertido e explosivo. Erving deixou de ser apenas uma estrela no mundo do basquete e passou a ser uma estrela fora dele: Marcas queriam o Doc pra ser garoto propaganda, ele ganhou espaço nas mídias que não costumavam falar de basquete, ganhou patrocínios... Em outras palavras, ele foi a primeira estrela do basquete a ser marketable. Hoje em dia vemos jogadores como Kobe e Lebron fazendo tudo isso com naturalidade, mas tudo isso começou com Julius Erving numa época onde eles só importavam dentro de quadra e mais nada.

E quando a ABA se viu com problemas de popularidade e financeiros poucos anos antes da fusão, com a NBA segurando as pontas enquanto podia com uma Liga que estava caindo em popularidade esperando a ABA desaparecer pra evitar a fusão, foi o carisma e a popularidade de Doctor J (com ajuda de David Thompson, embora J fosse de longe o maior astro) que manteve a Liga por três anos a mais até a NBA concluir que era prejudicial demais continuar com as duas Ligas e sugerir a fusão, que acabou com quatro franquias da ABA migrando pra NBA. Sem Doc, a ABA não aguenta o periodo entre 74 e 76, a Liga provavelmente acaba e a fusão nunca acontece. O que teria acontecido nesse cenário, se as coisas teriam sido melhores ou piores, não da pra saber, mas com certeza as coisas não teriam acontecido da mesma forma. Quando, antes da temporada 1977, ocorreu o famoso Merger, Doc J foi o principal personagem dessa mudança.

Por isso eu não consigo me ater a uma única temporada pro Doctor J: O impacto dele foi grande demais muito antes dele ir pra NBA, grande demais dentro e fora de quadra, pra limitar apenas à temporada 1985. Doc forçou o momento que definiu a NBA como a conhecemos,  e pavimentou o caminho para todas as estrelas como conhecemos hoje, como personalidades fora de quadra, com patrocinadores, garotos propagandas de diferentes marcas. Dentro de quadra, depois de ir pra NBA, Doc nunca mais atingiu o mesmo sucesso da época da ABA (embora tenha tido uma boa dose de sucesso mesmo assim), machucou o joelho e, apesar de boas temporadas e de ter levado Philly a três finais entre 1977 e 1982, só foi conquistar seu primeiro título quando Moses Malone foi trocado pra lá e se tornou o Alpha Dog do time, deixando Doc ser apenas o principal pontuador sem a responsabilidade de carregar o time toda noite. O período do Doc na NBA nem de longe refletiu sua importância pro jogo de basquete, pra NBA como conhecemos hoje e pra forma como os craques eram vistos pela sociedade em geral: Doc foi um dos jogadores mais importantes da história da NBA, com seu carisma, suas enterradas e momentos históricos (como sua lendária enterrada no campeonato de enterradas de 1976), e a forma como se tornou um ícone tanto dentro como fora de quadra, capaz de transcender cor e mostrar pra todo mundo que, afinal, estrelas negras com suas enterradas fantásticas eram realmente divertidas, independente da cor dos jogadores. Mas não da pra captar isso com nenhuma temporada de Doc na NBA OU da ABA.

Se eu tivesse que escolher uma temporada pro Erving, escolheria a do Sixers de 83, quando Doc ganhou seu primeiro título. Apesar dele já ter passado do seu auge aos 32 anos, Doc teve médias de 23 pontos, 7 rebotes e 4 assistências por jogo (52% FG com quase 2 tocos e 2 roubos por jogo), um pouco pior do que suas melhores marcas na NBA (27-7.5-4.5, 52% FG em 80') e na carreira (27-10-5 pelo Nets na ABA em 79'). Sim, Doc tinha sido melhor mais cedo na sua carreira, ou pelo menos individualmente. Mas o Sixers, após uma boa temporada na chegada de Doc em 1977 (quando perderam nas Finais pra Bill Walton e o Blazers), entrou em decadência, e nem mesmo Erving conseguiu levar o time nas costas em uma Liga com um estilo de jogo muito diferente e defesas mais inteligentes, que fechavam seu caminho até a cesta, faziam falta em qualquer possível enterrada e o obrigavam a arremessar de fora do garrafão. O Sixers e Doc foram salvos pelas chegadas do calouro Andrew Toney em 1980, quando o Sixers conseguiu o talento e a energia jovem que precisava, deu a volta por cima e chegou em mais duas finais em 1980 (quando perderam pro Lakers no lendário 45-13-7 de Magic Johnson, jogando de pivô no lugar do machucado Kareem) e em 1982 (nova derrota pro Lakers nas Finais). O Sixers era um bom time com Toney e Doc (sem falar em Mo Cheeks e Bobby Jones, bons coadjuvantes), mas faltava algo a mais pra eles conseguirem derrubar o Lakers e conquistar seu título.

Antes da temporada 1982 começar, o novo dono do Sixers sabia disso perfeitamente e foi atrás do jogador que seu time precisava. O Sixers assinou o Free Agent restrito Moses Malone de um Rockets em reconstrução em troca de escolhas de Draft, colocando no time exatamente o jogador que eles não tinham: Um pivô capaz de pegar rebotes e dominar o garrafão, e um Alpha Dog em torno do qual o time se encaixasse. Eles tinham Moses no seu auge, Doc e Bobby Jones (All-Star) um pouco passados do auge, Mo Cheeks e Toney Andrew no auge... Enfim, eles eram um excelente time. Apesar das fraquezas, esse time varreu a temporada regular com 65 vitórias (e mais um MVP para Moses), com Malone predizendo antes dos playoffs que o Sixers ia ganhar as três séries em quatro jogos cada, sua famosa declaração "Fo Fo Fo" (Malone, o superstar menos articulado da história da NBA, não conseguiu falar "four" uma vez sequer). Quase funcionou: O Sixers varreu o Knicks na primeira rodada, ganhou do Bucks em cinco e varreu o Lakers na final, com uma pós-temporada Keyser Soze cujo 12-1 foi um recorde até o Lakers de 2001 fazer 15-1. A final foi particularmente dominante, com Malone e seu jogo físico destruindo totalmente Kareem, um pivô finesse que não gostava de contato e já estava com 36 anos.

Embora essa temporada seja realmente impressionante (e os números corroboram isso), esse time também teve um pouco de sorte nessa temporada pra terminar com essa dominância: O Lakers perdeu James Worthy com uma perna quebrada antes do final da temporada regular (e jogou as Finais sem Norm Nixon e Bob McAdoo); o Celtics (campeão em 81) e o Nets implodiram por conta de problemas com os técnicos (o Celtics se rebelou contra seu técnico e só se reagrupou com KC Jones em 84, e o técnico do Nets - Larry Brown - foi pra Kansas quatro jogos antes do final da temporada), tirando do Sixers seus principais rivais no Leste; e o Philly não cruzou com nenhum time que tivesse um garrafão dominante, a fraqueza de Philly (tirando Moses, eles não tinham nenhum outro reboteiro ou big man capaz de segurar as pontas). Essa "sorte" fica mais evidente quando lembramos que o mesmo time em 84 o  Sixers só ganhou 52 jogos e perdeu para o Nets na primeira rodada dos playoffs. Mas mesmo assim, não da pra negar que o Sixers de Doc, Toney e futuramente Moses foram um time icônico na NBA: Foram 4 Finais para Erving, um título, um MVP para Malone, e passaram três bons anos segurando um sensacional time de Boston que teve que trocar por Dennis Johnson para conseguir ganhar do Sixers, já que ninguém era capaz de marcar Toney.

Mas se Moses foi o grande Alpha Dog e melhor jogador do título (e temporada mais icônica e dominante) desses Sixers, porque Erving que recebe as honras do 2K? Porque ambos jogaram juntos nesse time (então não tinha porquê incluir os dois); porque Doc foi um jogador muito mais importante que Moses; porque Doc é um dos poucos jogadores que sobreviveu ao passar das geraçōes e que são conhecidos ainda hoje (ao contrário de Moses, um dos maiores jogadores de todos os tempos mas que acabou escorregando pela história. Ninguém na NBA foi um melhor reboteiro do que Moses. Nem Russell, nem Wilt, nem Rodman); e porque o jogo de Doc é muito mais interessante e atrativo para fãs do que o de Moses ou praticamente qualquer outro na história da NBA. Adequadamente, o mesmo motivo pra ele estar no 2K12 foi o mesmo que marcou toda sua carreira, que fez dele um dos jogadores mais importantes de todos os tempos e um ícone da NBA, e que levou a um dos momentos mais importantes da NBA. Moses foi o melhor jogador, mas Doc foi de longe o que mais teve importância histórica. E pros propósitos desse Especial, isso é mais do que suficiente.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Especial NBA - Jerry West e Oscar Robertson





Pra quem não sabe que Especial é esse e pra que ele serve, leiam esse post antes.
Posts anteriores: Bill Russell e Wilt Chamberlain

Jerry West (Los Angeles Lakers, 1971)
Oscar Robertson (Milwaukee Bucks, 1971)


No último post do Especial, falamos um pouco sobre as mudanças que acompanharam a entrada de Bill Russell e Elgin Baylor na Liga no final dos anos 50, e prosseguimos falando da dominação do Celtics na década de 60, inclusive a rivalidade entre Russell e Wilt Chamberlain. Esse post terminou com o título do Lakers de 1972 (time do Wilt), mas temos dois anos para preencher: 1970 e 1971. E é justamente pra preencher esses dois anos que temos os times de Jerry West e Oscar Robertson, que estão em times da mesma temporada, 1970-71.

West e Oscar estavam numa situação muito parecida em 1971: Os dois melhores guards pré-Merger estavam um pouco passados do seu auge (West estava menos), ainda eram dois jogadores muito acima do resto da Liga, duas das estrelas que mais enchiam ginásios, e ambos ainda estavam em busca do seu primeiro título. A grande diferença entre Oscar e West, no entanto, foi o caminho que os dois trilharam na NBA, em geral por coisas além do seu controle. O que pode ficar evidenciado pelo fato de que West era o astro do time que o Draftou, o Lakers, enquanto que Oscar era apenas o segundo melhor jogador depois de ter sido trocado para o Bucks pelo Cincinnati Royals, time onde fez a maior parte da sua carreira.

Pra podermos entender o caminho de Oscar na NBA e porque ele acabou sendo trocado mesmo sendo um dos melhores jogadores Pre-Merger e não estando tão passado assim do seu auge, precisamos entender o que ele passou durante sua vida, e pra isso vamos precisar tocar num assunto que eu comentei no post anterior, mas não me aprofundei. Mas porque não deixamos o próprio Big O explicar, nas palavras finais da sua autobiografia The Big O: My Life, My Times, My Game: "Uma vez eu ouvi dizer que para escrever uma canção de amor, você tem que ter passado por maus momentos. Para escrever uma canção de amor, você tem que ter tido seu coração partido. Se esse é o caso, eu posso afirmar aqui e agora que eu seria capaz de escrever as maiores cançōes do mundo".

Wow, pesado. Aos que ainda estão se perguntando, ele não estava falando de nenhuma ex-namorada, tava falando de uma coisa muito mais tensa: Racismo. Assim como Russell e Elgin, Oscar foi uma das primeiras grandes estrelas negras do basquete. Assim como Russell e Elgin, seu físico e sua capacidade atlética (junto ao seu enorme talento) elevaram ele acima dos demais jogadores da época de forma impressionante. E assim com Russell e Elgin, Oscar teve que lidar com uma situação muito difícil de brilhar em um esporte (na época) de brancos, em uma Liga branca de jogadores brancos. Desde o colegial, Oscar era uma grande estrela do jogo e um dos melhores jogadores do mundo, um jogador fenomenal que enchia ginásios mesmo antes de se formar no colégio. No entanto, fora do jogo de basquete, ele era mais um negro vivendo num mundo de brancos, constantemente desprezado e tratado como se sequer fosse um ser humano. Quando seu time da Universidade foi jogar no Texas, seu time foi para o hotel onde iam ficar, mas ele tinha um enorme aviso "Proibido negros" fixado na porta. Seu time ainda ficou no hotel, mas Oscar não pode entrar e foi obrigado a dormir sozinho numa velha estação de ônibus. Oscar frequentemente não podia comer no mesmo restaurante dos seus companheiros porque não serviam negros. Na esquina do ginásio da sua universidade, que enchia semanalmente pra ver Oscar jogar, tinha um cinema que separava as filas entre "brancos" e "coloridos" onde ele nem podia assistir normalmente um filme. Quando Oscar foi jogar em Dallas, torcedores colocaram um gato preto no seu quarto antes dele chegar. Quando ele foi jogar em North Carolina, entregaram pra ele uma carta do Grande Dragão da Ku Klux Klan dizendo "Nunca venha para o Sul". Mesmo na Universidade de Cincinatti, onde ele era o grande astro, ele era tratado com alguem inferior. Professores saiam do seu plano de aula pra fazer Oscar se sentir burro e falar de como ele errava as coisas. E raramente alguém saia em sua defesa, mesmo seus companheiros. Essas são apenas algumas das histórias pelas quais Oscar teve que passar... E ele não tinha sequer terminado a universidade!!

Claro que indo pra NBA, as coisas não mudaram. O racismo continuou diaramente na vida de Oscar, da mesma forma que na de Elgin e Russell. Mas elas marcaram Oscar muito mais do que Russell (Elgin é um caso a parte que vai ser devidamente contado quando fizermos a parte II do nosso Especial) por dois motivos: Primeiro, porque Russell e Oscar lidavam com isso de formas diferentes. Russell era competitivo demais, e canalizava todas as hostilidades para seu jogo, para destruir seu oponente e fazer o que ele mais gostava, vencer. Russell sempre se importou de menos com o que os outros pensavam e demais com o seu time e com a vitória, e isso de certa forma o ajudava a canalizar todo o ódio que recebia pra fora dele. E segundo e mais importante, Russell teve Red Auerbach, um visionário muito à frente do seu tempo (e, vale citar, judeu) que sabia perfeitamente pelo que Russell passava e iria passar e sabia como montar um ambiente ideal para uma superestrela negra. Russell jogava cercado de mais jogadores negros do que em qualquer outro time (Satch Sanders, KC Jones e Sam Jones, pra citar três) e Red sempre tomou conta dele para que esse ódio que ele recebia não se materializasse. Não é como se faltassem histórias para Russell (como quando ele se mudou pra Boston e comprou uma casa em uma região de brancos. Seus vizinhos invadiram a casa, quebraram tudo e defecaram na sua cama) ou como se elas nunca tivessem afetado o pivô (quando entrou na Liga, Russell era um pouco nervoso com essas historias sim), mas a questão é que a forma como ele lidava com isso e a forma como Auerbach o protegia (e sim, a forma como seu time - jogadores brancos ou negros - sempre o respeitaram e idolatraram) conseguiram escudá-lo de tudo isso.

Oscar não teve essa sorte. Ele viveu experiências que nós, 60 anos depois, não conseguimos nem imaginar. Vai muito além de simples humilhação - ele sequer era tratado como um ser humano. Como você explica pra um jogador que toda noite enche ginásios que ele sequer pode estar na mesma sala que todas aquelas pessoas em outras circunstâncias sem elas levantarem e sairem de perto de voce? E Oscar, que nunca foi como Russell e nunca teve Red Auerbach, acabou guardando tudo isso dentro dele. Todo esse ódio que ele teve que aguentar acabou sendo engolido por Oscar como um veneno, e isso lentamente foi destruindo a pessoa que ele era. Ver fotos do Oscar dos tempos de colegial lembra muito o Magic Johnson: Um sorriso enorme, alguém que genuinamente se divertia jogando, que gostava de impressionar e deixar todo mundo feliz. Conforme o tempo foi passando e Oscar foi tendo mais e mais contato com o que há de pior na natureza humana, ele foi mudando, seu jogo foi perdendo a alegria, Oscar foi se isolando cada vez mais do mundo interior e virando uma pessoa extremamente amarga. Mesmo quando chegou a NBA e destruiu tudo e todos no seu caminho, ele não conseguia mais jogar como o velho Oscar, feliz e despreocupado. Ele era um atleta extremamente talentoso e habilidoso, fisicamente superior a todos os armadores (mesmo quando mais tarde mais atletas negros entraram na Liga, apenas três ou quatro podiam enfrentá-lo fisicamente) e que teve um triple-double de média em 1962 (vale lembrar, a temporada estatisticamente mais inflacionada da história da NBA, embora valha lembrar que na época estatísticas tinham um critério bem mais rígido e era bem mais dificil chegar a 10) e um triple double de média quando juntamos suas CINCO primeiras temporadas, mas que ninguém realmente conseguia conectar com ele, fãs, outros jogadores... Oscar acabou canalizando boa parte da angustia que ele tanto guardava pra todo mundo ao redor dele, fãs, mídia, colegas de time, técnicos e etc, todo mundo que não conseguia compreendê-lo, acompanhá-lo ou simplesmente fazer como ele gostava. Todo mundo respeitava Oscar, mas ninguém realmente gostava dele. Em outras palavras, Oscar virou um pentelho, perfeccionista e impossível de se conviver, que acabava com os companheiros de time menos talentosos, motivo pelo qual ele foi mandado pro Bucks sem muita cerimônia mais tarde. Mas Oscar tem uma desculpa legítima: Se qualquer jogador da NBA (Jordan, Magic, Lebron, pode escolher) tivesse lidado com tudo que Oscar lidou nos anos 50 e 60, eu duvido que teria tido uma carreira tão boa e bem sucedida. No fundo, Oscar foi uma vítima da sua era.

(Importante demais pra deixar de fora - Em termos de basquete, Oscar e o Royals tiveram uma dose dupla de azar e uma dose de incompetência da NBA que tiveram um impacto negativo forte no que o time foi capaz de alcançar. Primeiro, Oscar e o Royals tiveram seu auge em uma época onde NINGUEM estava encostando no Celtics de Russell [62-66], time que cansou de vencê-los nas Finais do Leste. Mas, em segundo lugar, possivelmente isso só aconteceu porque em 63 a NBA expandiu para Baltimore e de alguma forma acharam que fazia sentido o Royals se mudar pro Leste, ao invés de colocar logo Baltimore lá e deixar o Royals no Oeste. Olhe um mapa dos EUA e tente entender como isso faz sentido. O resultado foi que o Royals passou seu auge enfrentando o Celtics - e depois o Sixers de Wilt - nos playoffs de conferência e perdendo, enquanto que se eles nunca tivessem ido para o Leste provavelmente teriam chegado em diversas finais entre 63 e 67, e até tinham muito mais chance de terem roubado um título lá. E terceiro, por causa dos problemas de saúde de Maurice Strokes, astro do time no ano anterior à chegada de Oscar. Um ala de força negro, jovem, forte e que tinha médias como 17-18 teria sido o melhor parceiro para Oscar, e juntando ele e Oscar nesse time do Royals é muito capaz que Cincinatti teria sido capaz de mudar o cenário da NBA como o conheciamos. Mas infelizmente Strokes sofreu encefalite por uma série de eventos infelizes - bateu a cabeça muito forte em um jogo sofrendo um trauma cerebral, que não foi diagnosticado. Ele viajou de avião pra jogar com o Royals, bateu a cabeça de novo, viajou de novo de avião antes de desmaiar e ser diagnosticado, quando já era tarde demais e o dano já era permanente e irreversível. Strokes passou o resto da sua curta vida numa cadeira de rodas, numa das minhas historias favoritas da NBA: Quem acolheu Strokes quando isso aconteceu foi seu companheiro de time Jack Twyman, que com sua familia trouxe Strokes pra morar com ele, juntou dinheiro para pagar suas dividas e cuidou do amigo até sua morte. Lembre-se que estamos num momento de grande racismo nos EUA e que Twyman era branco e Strokes negro, e que naquela época jogadores medianos na NBA como Twyman ganhavam pouco dinheiro, e você talvez entenda o peso disso na época).

West, por outro lado, nunca teve que lidar com nada disso. Pelo contrário, West acabou virando um ícone da NBA, um Superstar branco, bem comportado, sem problemas fora de quadra e adorado pelos outros jogadores. West não era fisicamente superior aos demais jogadores como Oscar, Elgin ou Russell, não conseguia jogar acima do aro, mas seu jogo era, não tem outra palavra, perfeito - seu arremesso era perfeito, seu drible era perfeito, sua tecnica defensiva era perfeita, cada movimento era absolutamente preciso. Seu jogo era tão sistemático e perfeito que, vendo videos dele jogando, posso dizer com absoluta certeza que se West jogasse hoje na NBA, ele seria um All-Star. A NBA acabou vendo em West a chance de passar a imagem de que um branco podia dar tão certo na Liga como os negros, algo importante na época para uma Liga que começava a ter a imagem de ser dominada por negros.

Além disso, West era o oposto de Oscar na relação com os outros jogadores. Todo mundo - companheiros e adversários - respeitava Oscar, mas ninguém realmente gostava dele, e ele não fazia questão de ser gostado. Mas West? Todo mundo na Liga adorava West, tanto como jogador como como pessoa, um competidor do mais alto grau, extremamente habilidoso, que jogava para o time, um líder como nenhum outro na época tirando Russell, que fazia todos seus companheiros melhores e se preocupava sempre com a vitória e com seu time. Adequadamente ou ironicamente, como preferir, o maior fã de West não era outro senão Bill Russell. Quando West teve média de quase 40-10 nas Finais de 69, mas seu Lakers ainda perdeu para o Celtics num dramático jogo 7 em casa, a primeira coisa que os três principais jogadores do Celtics (Russell, Sam Jones e John Havlicek) foram fazer antes de ir pro vestiário comemorar foi abraçar West, quase como se pedissem desculpas por estragar o que deveria ter sido o primeiro título dele. Hondo até disse, naquele momento, que "Você merece um título mais que qualquer outro a algum dia jogar esse". Quando o Lakers fez a Jerry West Night alguns anos depois, Russell pagou seu próprio ingresso pra entrar e fez um discurso muito comovente para o Logo, dizendo que ele era "em qualquer sentido da palavra, um verdadeiro campeão". Alem disso, ele foi escolhido pra ser o Logo da NBA!! Todo mundo adorava West, ele foi provavelmente o jogador mais amado da NBA pré-Merger... Mas ele nunca teve que lidar com o que Oscar lidou. Por isso ele pode ser ele mesmo durante sua carreira. No final, ele e Oscar foram definidos por coisas além do seu controle - no caso, que West era branco e Oscar era negro.

Mas West acabou me gerando um certo problema aqui, com a ajuda da 2K Sports. Porque dar ao West o Lakers de 1971? Não faz sentido. Eu falei no último post que dar ao Wilt o Lakers de 72 era uma ideia idiota porque deveria ter sido de West, e Wilt deveria ter ficado com o Sixers de 67, o auge de sua rivalidade com Russell. Como Wilt ficou com o Lakers de 72 - um time que não poderia ficar de fora - era de se imaginar que isso tinha acontecido porque West já estava "ocupado" com outro time mais icônico... Mas não foi o que aconteceu de forma alguma. Como jogador, West atingiu seu auge duas vezes, em 66 e depois em 1970 (quando deveria ter sido MVP). Como líder de time, o auge de West foi entre 65 e 68, quando sozinho levou o Lakers nas costas por tantos anos pau a pau com o Celtics depois que Elgin estourou o joelho e nunca mais foi o mesmo. Como Alpha Dog, o auge de West foi em 69, 70 e 72. E seus melhores times foram em 69 (Elgin e Wilt) e 72. Seus dois momentos mais icônicos aconteceram em 69 (MVP das Finais mesmo perdendo) e 1970 (já falaremos disso). Em 1971, West ficou no top3 em assistências, mas batalhou com lesōes o ano todo e perdeu boa parte dos playoffs, onde o Lakers pouco fez. Mas o time de West é o Lakers de 71... Por que? Não faz sentido. Por isso, vamos ignorar que o Lakers é de 1971 e fingir que deram ao West o de 1970, que faz mil vezes mais sentido mesmo sendo uma temporada pela qual West nunca recebeu o devido crédito. E já vamos ver porquê.

Em 1970, o Lakers não passava por um bom momento. A derrota para o Celtics nas Finais de 69 (Perdendo um jogo 7 em casa com Wilt mofando no banco depois do dono do Lakers ter enfeitado o ginásio com coisas para comemorar o título, o que emputeceu West) foi extremamente traumática, Wilt estava passando por mais uma das suas fases de ficar mudando constantemente seus objetivos e se colocando na frente do time (Wilt só escutou um companheiro de time na sua carreira - West),  e Elgin Baylor estava envelhecendo rapidamente graças àquela lesão no joelho de 1965. Além disso, o Lakers viu Wilt estourar o joelho no começo da temporada e perder o resto da temporada regular (70 jogos), e Elgin Baylor e Happy Hairston perderam 55 jogos juntos. Em outras palavras, West perdeu seus três melhores companheiros pela maior parte da temporada regular, e o resto do time era uma belíssima droga (o melhor companheiro de West por boa parte da temporada? Mel Counts. Yikes!). Pra piorar, apesar do Celtics ter ido pro buraco com as saídas de Jones e Russell, um novo Juggernault surgia no Leste, o Knicks de Willis Reed, não só um excelente time como também um time que jogava muito bonito e muito bem, o que chamou toda a atenção da mídia e dos fãs pra longe de Los Angeles. Some tudo isso e, após as lesōes de Wilt, Bailor e Hairston, todo mundo estava contando o Lakers como praticamente fora da temporada.

Mas foi ai que alguma coisa ligou dentro de West. Talvez tenha sido a derrota pro Celtics no ano anterior (traumatica especialmente para West, que foi o melhor jogador da série e teve uma performance "HOLY SMOKES!" no Jogo 1 com um 55-10. What the f...??), ou mais provavelmente tenha sido um grande jogador muito competitivo simplesmente percebendo que ele estava sozinho e sem ajuda, e que se não fosse ele fazendo tudo, o time não ia a lugar nenhum (mais ou menos como aconteceu em 1965, quando Baylor estourou o joelho, West surtou e levou o Lakers à final sozinho). West percebeu o perigo e elevou seu jogo mais um patamar: Ele acabou o ano com 31-5-8, liderou a Liga em pontos e ficou em terceiro em assistências, chutou 50% em FG e foi ao primeiro time All-Defense da NBA, levou o Lakers a 46 vitórias mesmo passando boa parte do ano jogando com um time de Counts, Dick Garrett, Keith Erickson e Rick Robertson (e depois era Wilt que não tinha ajuda em Philly. Holy hell!). West  levou nas costas esse time sendo seu ball handler (mesmo sendo SG, o time simplesmente não tinha mais ninguém), principal pontuador, melhor defensor, líder emocional e por exemplo, e crunch time scorer. Ninguém fez mais pelo seu time que West naquela temporada, lembrando que apenas 4 times de cada conferência iam aos playoffs. 

Porque ninguém lembra mais dessa temporada de West, provavelmente a melhor Pre-Merger de um não-pivô junto com o triple double de Oscar em 1962? Porque todo mundo tava ocupado demais prestando atenção ao Knicks, um time extremamente divertido. Willis Reed acabou ganhando (leia-se: roubando) o MVP de West mesmo jogando num time onde seja impossível dizer quem era mais valioso no time entre ele (22-14 e defesa de garrafão) e Walt Frazier (21-6-8 e defender o melhor jogador de perímetro) num time que ainda tinha Dave DeBusschere. West fez mais do que os dois individualmente, jogou sozinho a temporada inteira e significou muito mais pro seu time. Só que o Knicks era um time melhor e mais interessante, todo mundo só tinha olhos pra eles, e acabaram votando  em um jogador do time que todo mundo interessava. E assim West foi assaltado a mão armada.


Uma semana depois, Wilt voltou para os playoffs, o Lakers ganhou uma série sofrida dos fortes Suns, varreu os Hawks de Walt Bellamy e, adequadamente, foi para a Final contra o Knicks. E apesar do Knicks ser o franco favorito e ter um time muito melhor (especialmente com Wilt e Elgin muito baleados ainda), West e o Lakers levaram a série a sete jogos depois que Willis Reed machucou no Jogo 6, em uma série que envolveu dois dos momentos mais famosos da história da NBA: O buzzer beater de trás do meio da quadra de West pra mandar o jogo 3 pra prorrogação, e Willis Reed saindo do tunel mesmo com o músculo da perna rompido pra jogar o Jogo 7, acertando dois arremessos e trazendo o MSG abaixo. Mesmo com um time bem pior, West e o Lakers quase roubaram aquelas Finais fora de casa. Não fosse uma combinação de três coisas no Jogo 7 - Willis entrando em quadra, levando o MSG ao delírio e empurrando todo o time; Frazier jogando um dos melhores jogos de todos os tempos (36 pontos, 19 assistências, 7 rebotes e 5 roubos, engolindo West); e Wilt jogando um jogo extremamente passivo sem nunca pensar "Ei, tem um cara com uma perna me marcando, eu devia partir pra cima dele!", o Lakers provavelmente teria roubado esse título do Knicks. Abaixo, os dois lances citados.

(Detalhe sobre o vídeo: Repare que quem faz a cesta do Knicks é Dave DeBusschere. Quando West arremessa e faz a cesta, de alguma forma, Dave já estava embaixo dela. Ninguém jogava com mais energia e raça que Dave DeBusschere em 1970)





Mas uma outra coisa importante aconteceu em 1970: A chegada na NBA do então Lew Alcindor, mais tarde Kareem Abdul-Jabaar. Apesar do Bucks não ter sido uma ameaça em 1970, Kareem se estabeleceu na NBA como o próximo grande pivô da Liga a ponto do Bucks ir atrás de um armador veterano pra colocar junto do seu pivô pra tentar conquistar o título da NBA. O time já tinha uma excelente base, mas precisava de um veterano pra armação (Lucius Allen foi o "armador" de Kareem em 1975... Mas ele era tão incompetente que o lider em assistencias do Bucks naquele ano foi Kareem com 3,4 por jogo. So there!) e pra controlar o ritmo do jogo nos momentos decisivos. E com o Royals ansioso pra se livrar de Oscar por tudo que já foi dito lá em cima, o Bucks aproveitou e pegou ele por pouca coisa.

E como eu já disse, o Bucks liberou o inferno com a definitiva temporada Keyser Soze pré-Merger em 1971: Com Kareem perto do seu auge carregando o piano ofensivamente (35-17-5 com 57% de arremessos), Oscar Robertson (um pooouco passado do seu auge) controlando o ritmo do jogo (dois dos 10 ou 15 melhores jogadores de todos os tempos juntos) e Bobby Dandridge costurando defesas e mudando o ritmo do jogo, o resto do time se encaixou em volta disso. Os números respaldam essa afirmação: O time teve duas das maiores sequencias de vitórias da história da NBA na mesma temporada (20, depois 16 jogos), liderou a Liga em todas as categorias relevantes e terminou a temporada com a terceira maior diferença de pontos da história da NBA (12.2), perdeu apenas duas partidas em casa na temporada inteira, incluindo playoffs (segunda melhor marca de todos os tempos atrás do Celtics de 86'). Ganharam 66 jogos na temporada regular e só não chegaram a 70 porque garantiram a 1st seed cedo demais e se entediaram. Nos playoffs, o Bucks conseguiu melhorar ainda mais: Perdeu apenas dois jogos nos playoffs inteiros, ganhou os 8 jogos que fez em casa, ganhou 11 jogos por dois digitos, e estabeleceu o recorde da história dos playoffs pra point diferential (14.2). Eles varreram as Finais com todos os jogos por 8 pontos ou mais. Agora, meus amigos, essa é uma temporada Keyser Soze definitiva: Por nove meses, ninguém encostou nesse Bucks. Eles jogaram não só pra ganhar, mas pra destruiur, e o fizeram por cima da Liga inteira. Tirando um certo time, eles terminaram 12-4 na temporada regular contra times que venceram 48 jogos ou mais. E é isso que eu quero do meu time definitivo Keyser Soze. Nem o Knicks 70 nem o Lakers de 72, ninguém foi tão invencível do começo ao fim da temporada como o Bucks de 71'.

No papel, o Bucks de 71' teve uma temporada transcendental em todos os aspectos até para os dias de hoje. No entanto, precisamos tomar isso com um grão de sal por alguns motivos: Primeiro, a Liga expandiu em 1969/70, então a Liga estava passando por um período de diluição dos times, beneficiando um time que tinha Kareem e Oscar (e qualquer outro time com duas estrelas como Wilt/West, Reed/Frazier, etc). Além disso, a Liga tinha melhorado bastante em relação à era Russell/Elgin, mas ainda era um pouco branca e lenta demais, principalmente por causa da concorrência da ABA, que tirava da Liga boa parte do talento mais jovem e explosivo. Segundo, o Bucks daquele ano teve alguma sorte: Elgin e West machucaram nos playoffs, o Celtics ainda estava na transição entre a era Russell e a era Hondo/Dave Cowens e não era ameaça ainda. E terceiro e mais importante, o time que terminou o ano 4-1 contra o Bucks, os atuais campeōes Knicks e um matchup PESSIMO pro Bucks perderam na Final da Conferência e não enfrentaram o Bucks nos finais - ao invés disso, eles enfrentaram um Bullets de 42 vitórias sem Gus Johnson, machucado. Então essa temporada não foi tão dominante quanto pareceu no papel, por conta de uma questão de timing e sorte. Mesmo assim, nenhum time pré-77 teve o nível de dominância e de "Ninguém está encostando nesses caras esse ano!!" que esse Bucks teve. Quando você tem Kareem perto do seu auge e Oscar é seu SEGUNDO melhor jogador, você provavelmente tem alguma coisa especial. E esse time tinha.

Dois últimos pensamentos sobre Oscar e West. Primeiro, um dos pontos fundamentais dessa série é o que eu sempre bato na tecla: Com o passar do tempo, o que acaba ficando mais evidente de jogadores antigos são os números e registros físicos, como MVPs e All-NBAs/All-Stars, e isso acaba levando a alguns absurdos como gente achando que Wilt vs Russell é uma discussão. A era Pre-Merger, de longe, é a que mais precisa ser levada em consideração nesses aspectos. A Liga era branca, baixa e pouco atlética demais, então jogadores mais atléticos como Oscar e Wilt tinham uma grande vantagem sobre os demais jogadores. Além disso, era uma época de grande inflação estatística: O jogo era rapido demais, não tinha linha de três e praticamente todo mundo vivia de arremessos, cada time arremessava cerca de 110 vezes por jogo e cada time pegava uns 40 rebotes a mais do que hoje em dia. Nesse contexto, por exemplo, que faz sentido Wilt marcar 50 pontos (especialmente arremessando 42 bolas) e pegar 22 rebotes, ou Oscar pegar um triple double. Nesse contexto, a nossa percepção desses jogadores acaba sendo maior do que devia (embora preciso dizer sobre Oscar, 10 assistencias por jogo na época era coisa pra caramba, o critério era mil vezes mais rígido na época, se não me engano só Bob Cousy, Oscar e West chegaram a 10 apg numa temporada na época). No entanto, se tem um jogador que acabou prejudicado por essa conjuntura, foi West. West foi prejudicado por três coisas: Primeiro, pela falta de uma linha de três pontos. West foi um dos grandes arremessadores de sua geração, mas passou boa parte da carreira chutando de três mas que só valiam dois. Segundo, que não contabilizavam roubos durante grande parte da sua carreira. West foi um dos melhores defensores e maiores ladrōes de bola da sua geração, mas nunca contabilizaram isso até o final da sua carreira, onde ele já tinha passado consideravelmente do seu auge e ainda tinha media de quase 3 roubos por jogo. E quarto, só criaram All-Defense Teams em 1969, e West foi do primeiro time All Defense nos quatro anos antes de aposentar. Imagine como ficaria a carreira do West historicamente se ele tivesse acertando três ou quatro bolas de três por jogo, chutando 40% de longe, totalizando cinco roubos por jogo no seu auge e feito nove All Defense Teams ao invés de quatro? Historicamente, ele teria um resumo ainda mais impressionante, mas acabou prejudicado pela falta dessas três coisas.

Pra terminar, tem algum jogador que teve mais sucesso dentro E fora das quadras do que Jerry West? West e Oscar foram, por qualquer cálculo, os dois melhores guards pré-Merger, e eu já passei um texto inteiro e enorme falando disso. Mas West também foi responsável por montar duas das maiores dinastias prós-Merger: O Lakers dos anos 80 e o dos anos 2000. West foi o GM que trouxe Kareem  em 77' quando ele pediu pra sair de Milwaukee, trocou Gail Goodrich pra New Orleans e recebeu em troca a escolha que acabou sendo a 1st Pick de 1980 (Magic), e futuramente escolheu James Worthy no Draft, montando um time que foi campeão cinco vezes em nove anos e chegou a mais quatro finais entre 1980 e 1991. Depois, ele trouxe Shaq de Orlando e trocou Vlade Divac pelos diretos de Kobe  Bryant, montando o time que foi tricampeão entre 2000 e 2002. Acreditem quando eu digo que o Logo entendia muito de basquete. West acabou rendendo ao Lakers, no total, 11 aneis contando. Me acordem de novo quando alguém for um dos melhores jogadores da história E montar duas das maiores dinastias da história da NBA em uma vida.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

E Dwight consegue o que queria

"Estou levando meus talentos para a Califórnia"


É, eu sei, hoje deveria ter sido o dia do segundo post do nosso Especial NBA, com Jerry West e Oscar Robertson. O post já ta quase terminado também, dava pra terminar ainda hoje... Mas como apareceu essa noticia importante hoje, prefiro fazer esse post logo pra acabar logo com isso, e segunda feira (sem falta!) postar West-Oscar. Então vamos falar da troca envolvendo quatro times que terminou com Dwight Howard indo pro Lakers.

Acho que, antes de mais nada, eu fiquei ao mesmo tempo feliz e puto com essa noticia. Feliz porque, pelo menos, não vou mais ter que gastar minha paciência ouvindo boatos idiotas de "Para onde vai Dwight Howard?"... Ou pelo menos por seis meses até chegar a hora dele renovar o contrato ou não. Então sempre tem esse lado positivo.

O negativo, que me fez ficar puto? Eu odeio o Lakers. É pré-requisito pra torcer pro Celtics, acho. Mas o Lakers sempre da um jeito de sair por cima de qualquer situação. Pegar Shaq na Free Agency. Adquirir Pau Gasol por quase nada. E agora, um assalto a mão armada pra cima do Magic que da ao Lakers de presente o melhor pivô da NBA. Depois de convencer o Suns a trocar o seu maior ícone (Steve Nash) pro seu maior rival e time que os torcedores do Suns mais odeiam. E tudo isso sem perder nenhum ativo do seu elenco além de Andrew Bynum. Tudo da certo pra essa franquia. Good God, eu odeio o Lakers. Então vamos olhar mais de perto o efeito dessa troca, começando com...


Los Angeles Lakers
Perdeu: Andrew Bynum, escolha protegida de primeira rodada (2017)
Recebeu: Dwight Howard, Chris Duhon

Senhoras e senhores, o grande vencedor da troca. E por mais que eu odeie o Lakers, preciso admitir: O Lakers jogou essa mão com muita inteligência. Desde o começo soube que o Magic estaria desesperado para arrumar uma troca (especialmente quando o Nets trocou por Joe Johnson), não cedeu à pressão do Magic (que queria Bynum E Gasol), e deixou a coisa rolar. Até porque o Lakers sabia que não valia a pena perder Gasol E Bynum por Howard. Não aceitou o contrato de Turkoglu junto da troca, e deixou claro que não estava desesperado pela troca, e que quem tinha tudo a perder era o Magic (alias, trazer Nash, campeão do prêmio "Jogador que Metade da Liga Mataria para Jogar Junto" da decada passada, sem dúvida ajudou). E acreditou que isso, somado ao glamour de Los Angeles, fosse atrativo para Dwight a ponto de ele insistir em ir para lá e deixar o pobre Magic sem muita escolha (a possibilidade do Dwight nao assinar uma extensão afastava diversos potenciais parceiros).

O que o Lakers mudou nessa troca? Bom, trocar o segundo melhor pivô da Liga pelo primeiro significa que o time melhorou naquela posição, no papel, certo? Especialmente se o Lakers não teve que envolver nenhum outro ativo pra realizar a troca (e nao envolveu). Mas na prática, o Lakers sacrificou um pouco de ataque (Bynum é um pivô com mais recursos no ataque) pra ganhar uma defesa superior e melhores rebotes, um jogador mais atlético e fisicamente mais overpower em relação ao resto da Liga. E sinceramente, isso é exatamente do que o Lakers precisava. O Lakers já tem Nash pra segurar a bola e tomar decisōes, tem Kobe Bryant (que não vai desistir de arremessar 23 vezes) pra arremessar varias vezes, e ainda tem Gasol, que é muito mais eficiente ofensivamente que Dwight. E essa é a grande vantagem do Dwight pra esse time: Ele não precisa da bola na mão, ele não precisa ficar sendo acionado pra ficar feliz. No Magic, ele tinha que ser o carregador de piano no ataque, mas no Lakers ele vai ser apenas mais uma opção em um time cheio delas no ataque. Vai pegar uns rebotes de ataque, completar uns passes faceis do Nash, umas pontes aéreas, e eventualmente vai ter a bola pra criar seu arremesso quando tiver um miss match... E é disso que o Lakers precisa dele no ataque. Enquanto isso, ele torna o Lakers mais forte nos rebotes e na defesa. Vale lembrar que Nash nunca foi um bom defensor e Kobe já passou faz algum tempo do seu auge defensivo, mas com Dwight protegendo os dois, isso vai importar ainda menos. Ele da ao Lakers a proteção necessária, não atrapalha a fluência ofensiva do time porque não precisa ficar tocando na bola pra ficar feliz, e torna eles um time muito mais perigoso.

Alias, curiosamente, essa aquisição vai de encontro à tendência que vimos nos ultimos playoffs. Com Thunder e Heat jogando longos periodos de tempo (e melhor!) sem pivôs nos playoffs, e com times como Celtics já usando há mais tempo um ala de força na posição 5, parecia que a falta de pivôs de elite na NBA estava empurrando a Liga pra um jogo mais baixo, mais atlético e mais versátil, com jogadores como Lebron, Carmelo Anthony ou Kevin Durant como "novos" alas de força. Ao invés disso, o Lakers reforça o garrafão e pode criar um sério problema pros novos times "baixos" que tavam dominando a NBA. Vai ser interessante ver como esses dois estilos de jogo vão bater um com o outro... E se o Lakers conseguir forçar Thunder, Heat e cia a jogarem fora desse estilo pra não tomarem uma surra nos rebotes, então o Lakers da um grande passo pra temporada que vem. Mais por vir em 2013...

Outros ganhadores dessa troca do lado do Lakers: Nash, que pela primeira vez na vida vai jogar com um bom shot blocker atrás dele (suas fraquezas defensivas sempre foram constantemente expostas por nunca ter jogado com um); Kendrick Perkins, que agora vai manter seu contrato por mais tempo já que ele tem uma função na NBA (Parar Dwight, que agora ta no Oeste); e o próprio Dwight, que vai jogar na California, em um time que briga pelo título, e que se fizer o Lakers ganhar esse título vai fazer todo mundo esquecer de como ele foi infantil, babaca e ridiculo nessa sua novela pra sair do Magic e vai acabar com sua ficha limpa (eu reclamei que a The Decision foi imaturo e cruel com o Cavs, mas os ultimos 12 meses do Dwight Howard fazem o The Decision parecer sensato).


Philadelphia 76ers
Perdeu: Andre Iguodala, Moe Harkless, Nikola Vucevic, escolha protegida de primeira rodada
Recebeu: Andrew Bynum, Jason Richardson

Acreditem, eu gosto muito do Andre Iguodala. Não, sério, eu realmente adoro o Iguodala, acho um excelente defensor, criativo, bem atlético e bom passador. Mas o fato é que o Sixers se tornou um time melhor com essa troca, mesmo perdendo Iggy.

As criticas ao Sixers ano passado gravitavam em torno dessas três coisas: Que o time tinha alas atléticos e incapazes de arremessar demais no elenco; que o time não tinha um jogador pra levar o ataque do time nas costas por mais tempo; e que você não ia ganhar nos playoffs se seu melhor jogador era Andre Iguodala. Bem, de certa forma, essa troca ajudou nas três coisas: O time se livrou de dois dos alas atléticos incapazes de arremessar (Iggy e Moe Harkless), trouxe um ótimo pontuador no garrafão e que pode se beneficiar muito dos arremessadores de três do time espaçando a quadra... E deu um upgrade no seu melhor jogador de Iggy para Bynum. E por mais que eu goste do Iggy, o Bynum é melhor, é mais dominante, mais confortável carregando seu ataque... E isso já funciona como um upgrade pro Sixers.

Na prática, essa troca tira do elenco um jogador que tem substitutos e adiciona um jogador que o time desesperadamente precisava (um jogador dominante de garrafão) e que talvez não tenha rivais em todo o Leste (tirando Tyson Chandler). A troca deixa o Sixers menos poderoso defensivamente no perímetro, mas melhora muito na defesa de garrafão e nos rebotes. Sério, da pra imaginar o upgrade de subir de Spencer Hawes pra Bynum? Hawes pode ate jogar de ala de força junto com Bynum, mas o ex-pivô de LA é muito mais jogador. O time ainda tem Dorrell Wright, Evan Turner, Nick Young, Jrue Holiday e Thaddeus Young (que eu gosto mais como um 4, mas whatever) pro perímetro, e uma boa coleção de jogadores de garrafão. Faltava um jogador dominante pra abrir pro resto do time ofensivamente, e agora ele chegou. E o Sixers assumiu um risco, mas se der certo, o time sai mais forte.

Um pensamento rápido: Embora não tenha sido incluido nessa troca pro Magic se livrar do seu contrato, eu acho que o Jason Richardson pode ser muito util pro Sixers. Ele deu azar porque saiu do melhor cenário possível (jogar com Nash em Phoenix, onde ele fazia quase 20 ppg) pra um time onde ele não tinha um bom armador, um time previsível da linha dos 3 pontos e sem um pivô pra atrair dobras (a NBA ja sabia que a melhor maneira de parar o Magic era deixar o Dwight jogar no mano a mano a vontade). Mas ele não é tão ruim como pareceu, ainda é rapido pra acompanhar contra ataques e mortal dos três pontos, vai casar muito bem com Bynum e dar a Philly um legítimo perigo da linha dos três.


Denver Nuggets

Perdeu: Aaron Afflalo, Al Harrington, escolha protegida de primeira rodada em 2014
Recebeu: Andre Iguodala

O Nuggets aparentemente tem essa mania de reassinar seus Free Agents por uma nota pra depois trocá-los o mais rápido possível. Foi assim com Nenê, e foi assim agora com Aaron Afflalo. E o Nuggets consegue algo que precisava desesperadamente: Um ala. Não é como se o time tivesse no elenco jogadores como Danilo Gallinari ou Wilson Chandler, certo?

(Oh wait!)

Brincadeira, brincadeira. Mas apesar de ser verdade que o Nuggets ta agora com uma coleção de alas, eu ainda gosto da troca por dois motivos. Primeiro, são alas com características diferentes e complementares, de forma que podem muitas vezes jogar juntos para formaçōes diferentes. E segundo e mais importante, eu gosto muito do Afflalo, mas o Iggy torna o time mais atlético, mais versátil e melhor defensivamente. O time já tem bons chutadores de longe e bons pontuadores, de forma que o Iggy não vai ter que ser o responsável por carregar o ataque como fazia em Philly (E não funcionava), mas vai trazer pro Nuggets um defensor de perímetro de elite (por mais que eu gostasse do Afflalo como defensor, Iggy é melhor, mais versátil defensivamente e mais destrutivo conseguindo tocos, roubos e puxando contra ataques) e um jogador mais versátil que o Afflalo. Ainda que o Al Harrington tenha tido um bom 2012, ele é dispensável e seu contrato é imenso, então o Nuggets se limpa um pouco nessa.

A escolha de primeira rodada também não fará muita falta pro Nuggets. Eles tem duas em 2014 (Knicks), e já tem um excesso de jogadores jovens que precisam de minutos pra desenvolverem. Acho que eles preferem trocar essa escolha por um upgrade Afflalo-Iggy numa boa. O Nuggets teve um bom ataque e um ótimo banco em 2012, deu muito trabalho pro Lakers nos playoffs com seu garrafão jovem e energético, mas teve problemas defensivamente e as vezes sentiu falta de outro jogador além do Ty Lawson pra segurar a bola e conduzir o ataque. E o Iggy ajuda em muito nessas duas coisas, torna o time mais atlético no perímetro e da mais flexibilidade (Iggy pode jogar nas posiçōes 2 e 3, pode jogar de Point Foward se necessário) e lá ele finalmente pode abraçar seu papel de coadjuvante, aquele cara que faz todo o trabalho sujo e facilita o jogo pra todo mundo. Dado isso, eu acho que o Iggy faz mais sentido que o Afflalo pra esse time, mesmo com os problemas nos arremessos. Boa troca por um GM que já tem colecionado bons momentos nos últimos anos. Olho nesse time...


Orlando Magic
Perdeu: Dwight Howard, Jason Richardson, Chris Duhon, seu futuro
Recebeu: Aaron Afflalo, Al Harrington, Moe Harkless, Nikola Vucevic, três escolhas protegidas de primeira rodada (de três times de playoff)

Como eu acabei de passar uns 10 parágrafos falando, eu achei que Lakers, Sixers e Nuggets se saíram bem com a troca. Não só porque eu achei que todos os jogadores adquiridos se encaixam perfeitamente nas necessidades dos seus novos times e completam os elencos já estabelecidos de excelente forma, como também achei que todos os times se deram bem em termos de valor. O Lakers, apenas em termos de talento e valor, saiu ganhando ao trocar Bynum por Dwight, indiscutivelmente. Sixers e Nuggets não tiveram tanto esse salto em valor, mas pra mim sairam com uma certa vantagem nesses quesito também. Mas se três times saíram com um certo "lucro" em termos de valor nessa troca, um time teria que sofrer uma grande perda, certo? Entra o Orlando Magic.

O Magic já tava com medo de perder o Dwight por nada como aconteceu com Cavs e Raptors, e queria seguir os passos do Nuggets e do Jazz de trocar sua superestrela e conseguir um monte de coisa em troca (tanto Nuggets como Jazz reinventaram seus times e foram aos playoffs). Mas o problema era que ninguém tinha tanta coisa pra oferecer pelo Dwight e a Liga não tinha nenhum time tão desesperado mais pra fazer esse tipo de coisa, a proposta mais comentada era um pacote de bolachas do Nets montado em volta de Brook Lopez (que de alguma forma ganhou um contrato máximo na offseason). Então o Magic segurou... Segurou... E não apareceu nenhuma proposta irrecusável. E ai eles acabaram aceitando uma proposta do Lakers que... Bem... Fede.

O Magic, como não tem nada construido em volta de Dwight (e portanto não poderia fazer como o Nuggets, pegar bons role players pra completar o time), deveria ter focado em quatro coisas, quanto mais melhor: Pirralhos com potencial pra acelerarem a reconstrução; muito teto salarial; um possível Franchise Player pra ser o centro do time no futuro; escolhas boas de Draft. Foi o que fez o Grizzlies, por exemplo, quando trocou Gasol (liberou teto salarial, ganhou escolhas de Draft e o pirralho Marc Gasol) e o Jazz quando trocou Deron Williams (ganhou otimas escolhas de Draft, liberou espaço salarial e trouxe o pirralho com muito potencial Derrick Favors). E o que o Magic conseguiu disso? Alguns pirralhos sem muito potencial (gosto do Nikola Vucevic, acho um jogador decente, mas não vai acelerar muita coisa)... Nenhum centro de reconstrução como Bynum... Escolhas de Draft protegidas de times que devem ir aos playoffs de qualquer forma... Sinceramente, a única coisa que o time fez foi liberar espaço salarial (mandando embora J-Rich, Chris Duhon e pelo visto Earl Clark), mas trouxe também Afflalo (um excelente role player em um time montado - algo que o Magic nao é e não está perto de ser) que também tem um salario bem alto. Ou seja, perdeu seu Superstar em troca de um role player caro, escolhas inuteis de Draft e jogadores que não adicionam em muito ao elenco. Se o Nuggets e o Jazz aceitaram 80 centavos pelo dólar, o Magic aceitou 20 centavos pelo dolar. E isso porque eu gosto do Afflalo.

Sinceramente, se o medo era tanto de perder Dwight por nada, porque não aceitar a oferta suicida do Rockets, limpar espaço salarial com o contrato expirante do Kevin Martin, pegar uma futura escolha de Draft (alta se Dwight decidir sair) e ainda receber de lambuja os calouros ultra-interessantes do Rockets? Mil vezes melhor do que o pacote de restos que recebeu ao mandar Dwight pro Lakers! Voce continua sem ganhar um Franchise Player, mas ainda limpa espaço salarial (até mais se conseguir se livrar de mais contratos), enche o time de calouros promissores e que podem dar em coisa muito boa, e ainda pode tirar a sorte com uma escolha de Draft! Ou até mesmo ficar com o Bynum nessa troca, que pelo menos é um potencial Franchise Player? Vai saber. Vai ver era o medo do Bynum não assinar uma extensão. Vai ver o Rockets deu pra trás com medo do Dwight sair do time (embora supostamente eles estivessem dispostos a correr o risco) e foi o que restou pro Magic. Vai saber. Embora eu ainda ache que a solução mais fácil seja a correta: A direção do Magic é simplesmente incompetente e, no medo de  perder Dwight por nada, aceitou a primeira proposta que apareceu pra se livrar logo do seu pivô. Btw, não descarte essa última tão fácil.

Bottom line, o acordo foi excelente pro Lakers, bom pro Nuggets, arriscado pro Sixers (porque Bynum ainda pode sair ao final do ano, e sua imaturidade vai ficar mais exposta como centro do time em Philly) mas que pode trazer uma grande recompensa pra um time que precisava de um chacoalhão... E péssimo pro Magic. O time não conseguiu nada em troca e ainda ficou com mais um contrato grande pra quando  o time for remontar, não tem base nenhuma e, sinceramente, se a esperança é "mas pelo menos o time vai ser ruim e pode conseguir uma boa escolha de Draft"... Nao valia mais a pena tentar um negocio mais arriscado (como pegar Bynum ou manter Dwight ate o final do ano, já que a alternativa dele era ir pro Mavs por menos dinheiro, menos tempo e pra um time mais ou menos fraco) que se desse errado o time AINDA entrava em reconstrucao do zero, mas pelo menos teria tentado uma cartada mais alta? Porque não trocar Dwight por um monte de escolhas de Draft e Al Horford com o Hawks? Porque não pegar um monte de pirralhos, feder um ano e continuar com uma boa escolha de Draft? Sinceramente, o Magic praticamente pegou a pior alternativa. E vai pagar o preço a não ser que o Moe Harkless vire o novo... Hm... Esquece, o Magic ainda vai pagar o preço. Sabia que eles não renovaram com Ryan Anderson e o trocaram pro Hornets, mas reassinaram Jameer Nelson por um contrato enorme? E lá vamos nós de novo pra reconstrução...