Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O que fazer com a D-League?

Essa imagem é perfeita demais pra ilustrar um post sobre D-League

Agradecimentos especiais a Scott Rafferty, pela conversa sobre o assunto e me ajudar a esclarecer alguns pontos, e ao Keith Schlosser pela ajuda com os salários da D-League


Algum tempo atrás, eu fiz um post chamado "Como Melhorar a NFL?", no qual eu ofereci 30 sugestões do que eu mudaria na NFL se fosse o comissário ou simplesmente o manda-chuva. Algumas idéias eram no sentido de tornar a liga em si mais divertida ou engraçada de se acompanhar, mas outras foram coisas absolutamente sérias que eu achava que fariam um bem a NFL como um todo. O post foi um grande sucesso, então eu comecei a trabalhar em um post igual para a NBA.

E meus pensamentos sobre como melhorar a NBA logo voaram para a D-League, porque é uma instituição interessante que não é nem de longe tão bem utilizada como poderia - e deveria - ser. Então minhas primeiras idéias foram no sentido de decidir o que fazer com a D-League, e elas acabaram ficando tão elaboradas e interessantes que ganharam uma coluna própria. O post com as minhas mudanças para melhorar a NBA ainda sairá algum dia, mas primeiro, queria discutir minha idéia para a D-League.

A D-League, para quem não sabe, é a Liga de Desenvolvimento da NBA. Ela surgiu no começo da década passada como uma liga "alternativa" controlada pela NBA, onde jogadores sem espaço na liga principal poderiam jogar, se desenvolver e mostrar serviço para os times da liga principal. Hoje, a divisão conta com 18 times, sendo que 17 são afiliados diretos de times da NBA e o último, o Fort Wayne Mad Ants, é "dividido" entre os outros. 

Durante muito tempo, a D-League foi mais motivo de piada do que outra coisa. Ser mandado para a D-League, enquanto jogador da NBA, era quase que uma humilhação. Mas com o tempo, isso foi mudando, e a D-League foi assumindo um papel mais ativo e sério na vida dos jogadores e da NBA. Com o boom atual de talento, os times tem menos espaços em seus planteis e preferem deixar jovens talentos se desenvolvendo com calma na D-League ao invés de mofar no banco, e com jogadores chegando cada vez mais jovens (e mais crus) na NBA do College, muitas vezes não estão tão prontos assim para contribuir, e ficam na D-League ganhando rodagem e experiência. Eventualmente, a D-League também ganhou dois outros papeis: o de servir de plataforma para veteranos que (por algum motivo) saíram da NBA mostrar seu jogo em busca de algum contrato com a liga (Tyrus Thomas é o melhor exemplo recente), e mais recentemente e mais interessante, de servir de caminho até o Draft. Alguns jogadores que não puderam terminar de jogar na NCAA para declarar para o Draft (geralmente por suspensão ou dispensa da universidade) optaram por terminar a temporada na D-League antes de se declarar para o Draft. Glen Rice Jr foi (até onde eu sei) o Jackie Robinson dessa idéia, mas logo ganhou força: ano passado, depois de ser suspenso indefinidamente em UNC, PJ Hairston jogou o resto da temporada pelo Texas Legends da D-League (associados do Mavericks) antes de se declarar para o Draft, e é muito provável que Robert Upshaw, recém-dispensado em Washington, siga o mesmo caminho até a NBA.

Então já foi mostrado recentemente que a D-League tem espaço para existir. Times estão sendo cada vez mais agressivos procurando talentos lá, e a liga tem ganho mais funções com o tempo que beneficiam os jogadores e a NBA. Mas a D-League não pode parar por ai - ela precisa continuar evoluindo e acumulando cada vez mais papeis, facilitando a vida dos times da NBA e melhorando a qualidade de jogo. Enquanto a D-League tiver algo a oferecer, a NBA precisa continuar explorando as possibilidades. E para mim, se a D-League vai atingir uma forma ideal, o basquete profissional precisa olhar para o lado e aprender as lições da MLB.

No baseball profissional, existem as ligas menores. Temos a MLB, a divisão principal, mas abaixo dela temos a AAA, a AA, e diversas As, várias diferentes ligas "abaixo" da MLB, onde cada time da liga principal possui uma ou mais "afiliadas" e onde mantém seus jogadores em desenvolvimento. No baseball, quando um jogador é escolhido no Draft, raríssimas vezes ele vai ir jogar entre os profissionais. O mais comum é que vá para uma das ligas menores - de acordo com sua habilidade e o quão "pronto" ele está - e lá passe alguns anos treinando, se desenvolvendo e se preparando para o esporte profissional, até finalmente estar pronto e ser "convocado" para a MLB. Jogadores jovens que não estão indo bem na MLB podem ser mandados por um tempo para a AAA ou a AA (as duas mais "altas") para aperfeiçoar algum fundamento ou corrigir alguma falha, enquanto que veteranos em busca de um novo contrato podem assinar um contrato para passar algum tempo nas ligas menores mostrando serviço.

E é isso que, a meu ver, a D-League precisa ser: uma divisão de "base" para todos os times da NBA. Cada time teria o seu afiliado (totalizando, obviamente, 30 times) e, ao invés do formato atual onde os jogadores das D-Leagues assinam contratos com as afiliadas da D-League, as afiliadas e os times principais seriam uma coisa só. 

Como essa empreitada funcionaria? Que bom que perguntou. Aperte os cintos...


Como funcionaria a nova D-League?


- Antes de mais nada, cada time teria que ter um time afiliado. 17 times atualmente já possuem um, então esses não precisam se preocupar. Os 13 restantes criariam sua própria filial até que a D-League totalizasse 30 times, organizados em duas conferências de acordo com a localização geográfica de cada um (para encurtar viagens). Esses 30 times jogariam em um campeonato semelhante a NBA, mas um mês mais curtos e sem os desgastantes 4-on-5. Ao final do campeonato, assim como a divisão principal, os 16 melhores times se classificariam aos playoffs e jogariam séries de cinco jogos até decidir o campeão. A natureza mais competitiva do torneio ajudaria o desenvolvimento dos jogadores.

- Os planteis da NBA expandiriam para 16 jogadores ao invés de 15, com 13 jogadores "ativos" a cada partida - basicamente o que é hoje, com um lugar extra para um inativo que pode ficar no elenco e treinar com o time principal. Cada plantel de D-League teria 20 lugares vagos, com pelo menos 13 sendo obrigatórios de estarem preenchidos.

- Entre os contratos da NBA, nada mudaria - as regras seriam idênticas, os contratos de calouros ainda garantidos, e tudo mais. A única coisa que mudaria nos contratos de divisão principal como são regidos atualmente é a forma como os times poderiam (ou não) enviar jogadores que assinaram um contrato de NBA para suas divisões de "base", sua afiliada na D-League.

Qualquer jogador ainda no seu contrato de calouro pode ser enviado para as ligas menores (e chamado de volta) quantas vezes a equipe quiser, embora seu contrato, naturalmente, continuará contando contra o salary cap do time principal. Jogadores a partir do seu segundo contrato profissional, no entanto, precisam negociar isso ao assinar - qualquer jogador ao assinar seu contrato estipula o total de vezes que pode ser mandado em uma dada temporada para a D-League (com 3 vezes sendo o maior número permitido) e qualquer jogador pode incluir em seu contrato uma cláusula que impede que o time o mande para a D-League. Qualquer jogador enviado a D-League a partir de um contrato profissional de NBA continuaria contando contra o salary cap da equipe normalmente, mesmo se não-garantido (a não ser, claro, que o time o dispense posteriormente).

- A novidade é que agora os times podem oferecer "D-League Contracts" para qualquer jogador que quiserem. Atualmente, os jogadores da D-League assinam contratos com os times da D-League, mas agora tudo será uma coisa só, com algumas peculiaridades salariais. Escolhas de primeira rodada ainda tem garantido um contrato nos moldes atuais (dois anos garantidos + dois team options de acordo com uma escala salarial equivalente a posição que foi escolhido), mas podem negociar (como fez, por exemplo, Josh Huestis) um contrato de D-League se assim quiserem. Jogadores escolhidos fora da primeira rodada continuam nos moldes atuais - podem assinar um contrato como negociarem, tanto de liga principal como de D-League (explicaremos como estes funcionarão em um minuto).

Qualquer jogador draftado depois da primeira rodada tem seus direitos vinculados ao time que o escolheu na hora de assinar seu primeiro contrato, mas se passado o período de negociações pós-Draft time e jogador não tiverem assinado um acordo, o time precisa oferecer um contrato mínimo (um ano, salário mínimo na D-League de 13 mil dólares) para manter os direitos sobre o jogador. O jogador não é obrigado a aceitá-lo, mas continuará com os direitos vinculados ao time até que seja negociado, dispensado ou assine um contrato (nem que seja o mínimo). Se o jogador assinar esse contrato mínimo, se torna um Free Agent restrito ao final de seu contrato (e estará sujeito as regras normais de FAs restritos). Caso o time não queira oferecer esse contrato ao jogador, pode simplesmente renunciar  aos seus direitos, e assim ele se torna um Free Agent.

- Os contratos de D-League funcionariam da seguinte maneira: qualquer jogador que assinar um contrato desses vai direto para a DL, sem passar pelo plantel oficial da NBA, mas suas especificações dependem do tempo de carreira do jogador.

Se for seu primeiro contrato (seja ele uma escolha de Draft ou um jogador não-draftado) profissional, ele pode assinar um contrato de um a quatro anos seguindo o esquema de "tiers" atual da D-League (A, B ou C, que correspondem a um salário anual de 25k, 19k e 13k, respectivamente), mais um S-"tier" de 50.000 dólares reservado a escolhas de segunda rodada - cada time da D-League só pode ter dois contratos S-tier de cada vez no seu elenco. Ao final desse contrato, ele vira um FA restrito. Jogadores que estão assinando seu segundo contrato profissional (ou posteriores) também podem assinar contratos de um a quatro anos, mas só pelos salários dos tiers A, B ou C, e ao final desse contrato viram free agentes irrestritos. Esses quatro anos podem incluir team options ou player options, como na NBA.

- Qualquer time da NBA pode subir a qualquer momento um jogador em um contrato de D-League, mas se ele passar 14 dias (totais e cumulativos ao longo do ano) no plantel principal da equipe, isso ativa uma cláusula em seu contrato e transforma-o em um contrato de NBA. A duração desse "novo" contrato será a mesma restante em seu contrato de D-League, com iguais team/player options, mas agora seu salário anual passa a ser o equivalente a um salário mínimo de NBA MAIS o seu salário na D-League, e o novo contrato inclui o máximo (três) de opções para um time devolver um jogador a D-League. No momento que um contrato de D-League é "ativado" e passa a ser um de NBA, o valor desse contrato passa a contar sobre o salary cap e não pode ser transformado de volta em um contrato menor. O time e o jogador também tem a opção de, quando "ativada" a cláusula, negociarem um novo contrato profissional que substitua o antigo (obrigatoriamente um de NBA, entretanto), seguindo as regras normais da NBA.

- Pegando uma premissa do Scott Rafferty, do crabdribbles.com e do "Upside and Motor", que diz ter pego essa premissa do Reddit NBA, uma boa providência seria expandir o Draft para três rodadas. Considerando que com esse formato todo o "controle" sobre os direitos de um jogador fica mais importante, é uma boa forma de dar aos times uma forma de se antecipar a jogadores menos conhecidos. Além disso, isso também exporia (de uma forma positiva) mais esses jogadores para a mídia e para o público, algo importante para promover a nova D-League e esses futuros talentos em potencial.

- Todo ano, um mês depois do Draft, os times podem "recrutar" para seus times da NBA até dois jogadores da D-League (com contrato de D-League apenas) de qualquer outra franquia da NBA que não estejam em seu primeiro contrato. As condições são simples: uma vez "recrutado" um jogador, ele automaticamente ativa a cláusula que transforma seu contrato de DL em um de NBA, com a diferença que ele não pode ser devolvido a D-League até o fim do ano. O time que detém os direitos do jogador e de seu contrato atual pode "bloquear" o recrutamento, mas se o fizer ELE é obrigado a chamar o jogador para seu time principal e ativar sua cláusula (em ambos os casos, o time que ficar com o jogador pode optar por assinar um contrato novo com ele). É uma forma de impedir que bons e promissores jogadores fiquem mofando muito tempo na D-League por causa de um time que queira economizar, e força a "mobilidade" dos melhores prospectos.

- Jogadores com mais de 6 anos desde que foram draftados também podem optar por outra modalidade de contrato de D-League, chamado "Veteran Contract". O VC é um contrato de um ano, mínimo e não garantido, com uma cláusula especial sobre subidas a NBA. Um jogador em um VC pode ser convocado a qualquer momento do ano por QUALQUER time da NBA, sob as mesmas condições dos outros, e o time que detém originalmente seus direitos pode bloquear essa convocação sob as mesmas condições. A diferença do VC é poder ser convocado por qualquer time a qualquer momento da temporada, tornando-a uma boa opção para veteranos como Tyrus Thomas que querem usar a D-League para mostrar serviço em busca de um time na NBA.

- Quando um jogador na lista dos contundidos perder pelo menos cinco jogos na NBA por conta de uma lesão, ele tem direito a uma passagem de 7 dias pela D-League como "reabilitação", independente do que esteja previsto no seu contrato e quantas opções de "devolução" estejam previstas no mesmo. Essa passagem de reabilitação não conta como uma das três vezes que um time da NBA pode mandar um jogador para a D-League, mas não pode passar de 7 dias. Se passar, ativa uma "devolução".

- Jogadores em contratos de D-League contam como ativos de cada time, e podem ser negociados livremente em trocas. Para efeitos salariais, apenas contam os salários de contratos de NBA, ou seja, os que contam contra o salary cap da NBA.

- Para jogadores que ainda não passaram pelo Draft mas estão fora da NCAA (como aconteceu com PJ Hairston), eles podem assinar um contrato mínimo (ou seja, Tier C, de 13 mil dólares) de um ano com qualquer time da D-League, mas não podem ser chamados para a NBA sob hipótese alguma sem passarem pelo Draft antes. O time cuja afiliada o jogador passou não tem qualquer direito ou exclusividade sobre ele quando ele se declara para o Draft. 


Como isso beneficiaria a NBA?

A NBA (todas as ligas americanas, na verdade. A NBA até não é a pior) não gosta de mudança ou de admitir a necessidade dela. Ela resistiu a entrada de jogadores negros (a regra não-escrita dos anos 50 era que cada time só poderia ter no máximo dois jogadores negros. O único time que desafiava essa "regra" era o Celtics. Adivinhe que time ganhou 8 títulos seguidos?), resistiu a criação de uma linha de três pontos (a ABA já usava uma muito antes), e Larry O'Brien teve que ser CONVENCIDO de que era uma boa idéia criar o Dunk Contest no All-Star Weekend mesmo com Doc J e David Thompson concordando em participar. Mas mudanças acontecem, querendo ou não, e é nosso trabalho nos adaptar a elas.

E a chegada de novos talentos é uma coisa que mudou radicalmente nos últimos anos, tanto para a NBA como para a NCAA. Os jogadores chegam ao esporte profissional muito mais jovens, e também mais crus e despreparados, do que nunca. A mentalidade do one-and-done - do recruta que passa apenas um ano na NCAA antes de ir para a NBA, já que as regras os obrigam - tomou conta do esporte universitário e dos principais recrutas do país. E pior, também tomou conta dos principais times da NCAA. Até times como Duke agora abraçam os one-and-dones, e sabendo que você só contará com seus principais recrutas por uma temporada, os times parecem cada vez menos preocupados em desenvolver seus jogadores, só colocando-os pra jogar durante esse ano, tentando conseguir suas vitórias, e depois seguindo em frente com um novo recruta. Entre a falta de fundamento antes de chegar a NCAA (pelo qual os AAU Camps são parcialmente responsáveis) e a falta de desenvolvimento no College entre as principais universidades e recrutas, cada vez mais jogadores crus chegam na NBA incapazes de contribuir, e cada vez mais bons talentos se tornam jogadores marginais porque nunca aprenderam a jogar basquete de verdade. Não é uma coincidência que todo ano temos menos calouros contribuindo em alto nível na NBA.

A D-League seria uma alternativa para solucionar - ou remediar - esses problemas. Como cada time teria sua afiliada, ela poderia servir como uma plataforma de desenvolvimento, tanto técnico como tático, já que cada time poderia implementar na sua filial seu esquema de jogo da NBA para facilitar sua transição. Ao invés de usar os jogos da D-League apenas como uma forma de não manter os jogadores parados, agora ele terá uma organização inteira por trás dele trabalhando para desenvolvê-lo, treinar seus fundamentos, lhe ensinar o esquema de jogo que precisa aprender. Assim como o baseball faz com a AAA, a D-League passaria a ser uma etapa a mais no desenvolvimento do jogador, entre a AA (a NCAA) e a MLB (a NBA). Alguns jogadores estão prontos para ir direto para a liga principal, mas a grande maioria não está, e muitos ainda precisam de tempo para desenvolver seu talento.

Além disso, como o Spurs prova a 15 anos (e é ignorado) e o Hawks está provando em 2015, a NBA dos últimos tempos está se direcionando cada vez mais para o jogo coletivo, e um esquema tático bem executado é uma arma poderosíssima para um time. Ter grandes defensores ou grandes criadores é ótimo, mas você pode ter um bom ataque ou uma boa defesa se todos seus jogadores conhecerem o esquema tático, executarem suas funções, contribuírem para o coletivo e não tirarem nada da mesa, como o Hawks está fazendo. Milwaukee tem a segunda melhor defesa da NBA mesmo não tendo um grande defensor no seu elenco, e Atlanta e Charlotte já mostraram que é possível montar uma grande defesa em torno de apenas um grande defensor. Executar uma tática da melhor maneira - especialmente para role players e jogadores de banco - é fundamental para um time que quer ser campeão, e agora os times teriam uma forma de "treinar" esses jogadores nas suas "categorias de base" da DL, ou mesmo uma forma de pegar algum jogador do elenco principal e mandá-lo para ficar algumas semanas treinando o playbook do time na D-League, sem que ele fique parado mas sem precisar ficar colocando-o em quadra e prejudicando seu time.

Times também podem usar a D-League não só para desenvolver jogadores e para ensinar fundamentos específicos ou táticas para seus jogadores, como também de laboratório (usar algum jogador em uma posição nova, um novo estilo de jogo, etc) ou mesmo como aprendizado para a comissão técnica. Se tem um jovem técnico ou assistente que quer preparar, pode deixá-lo na D-League, ver como ele implementa o esquema de jogo, ver como ele lida com um ambiente mais competitivo... ou mesmo "desenvolver" também o jovem técnico. Aumenta em muito a flexibilidade e as opções de cada equipe.

A NBA tende a se beneficiar com isso também. Aumentaria o interesse na D-League, poderia servir como laboratório para eventuais mudanças que esteja estudando ("limpar" o aro, mudanças na quadra, etc), e muito mais importante, teria um impacto na qualidade do jogo. Você criaria uma opção  que geraria jogadores mais preparados, com mais tempo para treinar seus fundamentos, o que aumentaria a profundidade e a oferta de jogadores de qualidade na liga como um todo. Você teria times tecnicamente mais bem preparados e mais bem treinados, mais profundos. E você teria, acima de tudo, uma maior e mais eficiente capitalização no talento dos jogadores da NBA. Ao invés de ver jogadores como Tony Mitchell, Chris Walker, McAdoo e tantos outros - talentosos, atléticos, mas crus, o tipo de prospecto que você olha e fala "se aprender a jogar basquete, vai ser fantástico" - se perdendo e nunca chegando a contribuir na NBA pela falta de uma formação adequada, agora você oferece a eles um lugar onde podem tirar essa diferença e talvez realizar a promessa que traziam. Não que eu imagine que de repente tudo vai se encaixar, todos os jogadores com algum defeito realizarão suas limitações e complementarão essas falhas, e a NBA terá 40 All Stars todo ano - a questão é que agora você passa a oferecer uma situação muito melhor e mais elaborada, não só para esses jogadores, mas para os times da NBA em si se tornarem melhores e mais competitivos.

Você da a jovens jogadores uma melhor chance de sucesso, aumenta o nível técnico e tatico da NBA, e da aos times novas ferramentas para melhorar a si mesmo e aos seus jogadores. Tem bastante potencial de melhoria com essa idéia.

Claro, é improvável que aconteça. Isso exigira que vários times que alegam "pobreza" (mesmo com pessoas pagando 600M de dólares por times "ruins" e de mercado pequeno) - desculpa que usam para não ter uma afiliada na D-League - abrindo os cofres e montando toda uma nova estrutura de uma nova equipe (por outro lado, se tem uma hora pra isso acontecer, é agora, que os valores das franquias da NBA estão subindo alucinadamente). Isso exigiria alguns ajustes salariais importantes, especialmente por parte da luxury tax, embora isso também pudesse gerar alguns nichos de incentivo (por exemplo, poderiam descontar salários de jogadores promovidos de contratos da D-League da  multa da luxury tax). E mais central, a NBA odeia mudanças radicais dessas, especialmente uma que envolveria alguns ajustes na estrutura já estabelecida da liga, ainda que mínimos.

Ainda assim, o momento para isso acontecer é agora. O atual ("novo") CBA é extremamente favorável aos times financeiramente, e o valor das equipes está subindo como nunca, então isso vai contra o argumento dos gastos. Além disso, um empreendimento desse tipo criaria empregos para jogadores de basquete e aumentaria os gastos da equipe, então o sindicato dos jogadores pode ver essa como uma medida favorável na próxima negociação de CBA, o que pode dar mais poder de negociação aos donos tirarem ainda mais dinheiro do negócio como forma de "financiar" essa expansão da D-League.

Além disso, a própria D-League, mesmo frágil e ainda menor como é hoje, está ganhando um papel cada vez mais importante e ativo, conforme os times e os jogadores vão descobrindo os benefícios que podem extrair disso. Então o debate sobre como usá-la está mais relevante do que nunca. Mas alguns times estão relutantes e outros estão acomodados, e se a NBA se mover para tornar a D-League uma liga como eu estou sugerindo aqui faria muito por acelerar esse melhor uso, e isso se repercutiria no jogo como o conhecemos. É trabalho da NBA fortalecer seu produto, e essa seria uma medida nessa direção, que beneficiaria os times, o produto e, quem sabe, poderia mudar a vida de muitos jovens jogadores que nunca atingem seu potencial pela falta de uma etapa de desenvolvimento em suas carreiras. 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Distribuindo prêmios para a NFL - 2014

Run, JJ, Run!!!


A temporada da NFL chegou ao fim, e nós chegamos aos playoffs. Eu sei, eu sei, a cobertura do TMW tem estado... deficiente, pra dizer o mínimo. Bom, foi por uma boa causa, embora uma que talvez só seja sentida daqui a uns meses. Vocês saberão do que se trata quando chegar a hora.

Como eu não queria pegar o bonde andando e cair de paraquedas no meio de análises complexas - até porque não tenho acompanhado em tantos detalhes como gostaria essas duas últimas semanas, por motivos profissionais e pessoais - não vou falar aqui de playoffs ainda. Naturalmente, vocês podem todos acompanhar meus comentários pelo twitter (www.twitter.com/tmwarning) ou pelo facebook (TM Warning), onde eu falo disso o tempo todo. Vocês também podem acompanhar meus palpites (e o de vários outros) pelo blog The Playoffs

Mas antes eu queria falar sobre um último tema da temporada regular: prêmios. Todo ano, é quase tradição aqui fazer minhas escolhas para os principais prêmios (e outros não tão principais assim) da temporada e justificá-las, e esse ano não vai ser diferente. Lembrando que, no fundo, isso é uma questão de opinião - eu tenho a minha e farei questão de justificá-las, porque todas são profundamente pensadas e pesadas, mas você pode ter uma diferente. 

Então sem enrolações, vamos ver quem teria meu voto para os principais prêmios da temporada (e mais uns outros): Comeback Player of the Year, Coach of the Year, Offensive e Defensive Rookie of the Year, Offensive e Defensive Player of the Year, e MVP. E mais alguns outros que eu criei, mais pro final.


Comeback Player of the Year: Rolando McClain

Sejamos sinceros, esse é um prêmio um tanto quanto estúpido. Não que não seja legal celebrar jogadores que, de alguma forma, deram a volta por cima em suas carreiras. O estúpido é tentar pesar esses jogadores e essas situações uma contra a outra para decidir quem foi o "Cara que deu a volta por cima do ano". Isso é ainda mais ridículo quando se considera que estamos falando da NFL, uma liga cujo jogo envolve mastodontes de 150kg correndo e pulando uns em cima dos outros. Lesões são o lugar-comum da NFL, então todo ano você tem uns 40 jogadores diferentes importantes voltando de uma lesão séria. É uma amostra enorme de jogadores.

Além disso, outro problema é como você deve votar nesse prêmio, como escolher o vencedor dentro dessa amostra enorme. Seu voto deve ir para quem? Para quem superou a maior adversidade? Para quem jogou melhor em 2014 entre todos os que superaram algum tipo de adversidade? Para o que fez maior diferença em um time melhor? Ou só para o que tem a história mais interessante? Alguma combinação deles? Todos os prêmios individuais sofrem de alguma ambiguidade, mas esse talvez seja a pior de todas.

Então vira muito algo individual. Cada um que crie seu próprio critério e escolha um jogador de acordo com isso (razão número 294 de porquê esse prêmio devia ser abolido). E esse ano - como todos os anos, já que lesões são o lugar-comum da NFL - temos uma boa variedade de jogadores que merecia esse prêmio se escolhidos: Jeremy Maclin, Maurkice Pouncey, Justin Forsett (meu segundo colocado), James Harrison, Jay Ratliff - para citar alguns. 

Mas meu vencedor é Rolando McClain, por uma enorme combinação de fatores: ele foi um dos melhores jogadores em sua posição na temporada; ele teve um papel importantíssimo em um bom time; ele chamou bastante atenção ao longo do ano com suas jogadas... e em grande parte porque ele quem superou a maior e mais bizarra adversidade entre todos esses citados.

A verdade é que, doze meses atrás, Rolando McClain estava fora da NFL. Draftado em 2010 pelo Raiders com uma escolha de primeira rodada, McClain era um talentosos mas problemático que nunca correspondeu ao hype dentro de campo e gerou problemas suficientes fora dele para que Oakland o dispensasse durante a temporada 2012. Ele assinou um contrato não-garantido com Baltimore antes de decidir que não estava mais em condições de continuar jogando futebol americano profissional, e decidiu se aposentar dos campos. Voltou para Alabama para terminar sua graduação, e ficou longe do esporte profissional por um ano, sem lugar na liga nem interesse em voltar. Eventualmente manifestou seu interesse em participar dos treinos de offseason do Ravens mas foi dispensado, e acabou assinando um contrato não-garantido com o Cowboys para voltar a NFL.

Ele foi um grande sucesso desde então. Longe de problemas (a não ser lesões), McClain brilhou para uma defesa que desesperadamente precisava de ajuda (e estaria sem Sean Lee a temporada toda), com duas impressionantes interceptações no começo do ano e sendo uma força contra o jogo terrestre. McClain conseguiu "Stops" - quando ele é responsável por interromper o avanço do jogador - em 15% das jogadas terrestres nas quais esteve envolvido, a segunda maior marca da liga atrás de Chris Borland (com 21,3%) e confortavelmente na frente do terceiro, Luke Kuechly (com 12.9%). Mesmo perdendo três jogos, foi o melhor ou segundo melhor jogador da defesa do Cowboys essa temporada. 

Então McClain tem meu voto porque é quem melhor combina fatores favoráveis ao prêmio, alguém que estava literalmente fora do esporte e voltou para atuar em alto nível para um time que desesperadamente precisava disso.

Ballot hipotético: 1. Rolando McClain; 2. Justin Forsett; 3. Maurkice Pouncey.


Coach of the Year: Bruce Arians

Esse é, de longe, o prêmio que eu mais odeio na NFL e em qualquer outro esporte. É o supremo prêmio de resultados sobre processo. É muito difícil perceber que técnico é o melhor e faz o melhor trabalho ano a ano, especialmente se ele está fazendo esse trabalho a mais tempo. Então como é difícil discernir que técnico tem o maior impacto isolado, os votantes geralmente voltam suas atenções para o time que mudaram de técnico e sofreram grandes melhoras no processo - cegamente creditando tal evolução ao novo técnico, e não quaisquer outras mudanças do processo. 

Então normalmente eu estaria apenas reclamando do prêmio e passando por ele rapidamente. Mas esse ano, existe um técnico que realmente merece esse prêmio, e ele é Bruce Arians. O trabalho que ele fez para manter junto um time do Cardinals em decomposição esse ano - ganhando 11 jogos e uma vaga nos playoffs no processo - foi fantástico, e merece ser reconhecido.

A verdade é que o Cardinals não foi tão bom como seu record (11-5) parece indicar. Mesmo antes da lesão de Carson Palmer, eles tinham diversos indicadores mostrando que esse record enganava: seu Pythagorean Wins era de um time 8-8 (4-1 em jogos decididos por até 7 pontos, e 5-1 em jogos decididos por oito), e DVOA coloca o Cardinals como apenas o 22nd melhor time da NFL na temporada. Embora sejam fatores sutis, o fato é que Arizona não era a máquina que muitos times imaginavam mesmo quando estava ganhando vários jogos.

Mesmo admitindo que não era um time tão bom assim e que teve muita sorte, o que o grupo de Arians fez esse ano ainda foi impressionante. DEZ dos jogos do time foram iniciados por Ryan Lindley ou Drew Stanton de QB, e eu não preciso dizer sobre como isso é algo péssimo para qualquer time absolutamente incapaz de correr com a bola (3.3 jardas por corrida, pior marca da liga). A defesa também sofreu imensamente desde o ano passado. Em 2013, o Cardinals e sua sufocante defesa contou com as performances de Darnell Dockett, Karlos Dansby, John Abraham, Daryl Washington, Jeremiah Bell e Tyrann Mathieu rumo a terminar a temporada como a segunda melhor defesa do ano, mas esse ano não tinham mais nada disso - Bell aposentou, Dockett e Washington perderam a temporada com suspensões, Abraham e Dansby saíram antes da temporada, e mesmo Mathieu começou apenas 6 jogos na temporada por conta de lesões. Essa é uma quantidade impressionante de problemas para um time que sequer foi aos playoffs em 2013 e não contou com nenhum enorme reforço tirando Jared Veldheer.

Então é verdade, o Cards não era tão bom assim. Ms a verdade é que eles não deveriam nem ter sido bons NESSE ponto, considerando os QBs que jogaram 60% dos snaps para Arizona, a falta de um jogo terrestre, e as enormes perdas na defesa. Que esse time chegasse a 8-8 (como seu Pythagorean Record) já é um milagre enorme, especialmente lembrando que eles jogam na divisão mais forte da NFL e tiveram o terceiro calendário mais difícil de toda a NFL. Bruce Arians fez magia com o que tinha, e colocou a equipe em uma situação que, com meia dúzia de golpes de sorte, poderia arrancar uma vaga nos playoffs. Ele merece esse prêmio.

Ballot hipotético: 1. Bruce Arians. 2. Bill Belichick. 3. Mike Zimmer


Defensive Rookie of the Year: Aaron Donald

Esse prêmio teria sido de Chris Borland se ele tivesse jogado mais do que oito jogos na temporada, mas a presença de Patrick Willis, um começo lento e uma lesão tiraram dele os jogos que precisaria para garantir o prêmio. Ele teria sido uma escolha merecida, e até certo ponto "fácil": Borland é o tipo de jogador que simplesmente chama a atenção. Ele está sempre fazendo jogadas espetaculares, acumulando números incríveis, e jogando em altissimo nível na posição que seu time perdeu não um, mas DOIS All-Pro MLBs (que, aliás, foram os dois melhores de 2013 pelo rating da PFF). Um bom exemplo: Chris Borland liderou todos os LBs da MLB em "Stops" no jogo terrestre, conseguindo um em 21.3% (!!!!) dos seus snaps de jogadas terrestres. O atual Defensive Player of the Year, Luke Kuechly, foi terceiro entre os MLBs com... 12.9%. A  diferença entre Borland (#1) e Kuechly (#3) é quase a mesma entre Kuechly (#3) e AJ Hawk (#56). Ele teria sido uma escolha válida.

Mas ele jogou apenas 8 jogos completos, então é difícil votar nele quando outros jogadores foram tão dominantes quanto, mas jogando mais snaps e mais jogos. Então meu voto fica entre os dois monstros da primeira metade da primeira rodada, Kahlil Mack e Aaron Donald. Depois de muito pensar, fico com Donald, um monstro no interior da linha defensiva de Saint Louis e uma força destrutiva tanto contra a corrida como contra o passe. Ele terminou o ano com 9 sacks (segundo melhor entre DTs) e 29 QB hurries (sexto melhor), e só Kyle Williams, Ndamukong Suh e Gerald McCoy afetaram diretamente mais jogadas de passe (Sacks, hits, hurries e passes desviados) que Donald. Ele terminou quarto entre DTs em Stop% e sexto em produtividade no pass rush, e terminou o ano como o DT mais bem rankeado pelas notas da Pro Football Focus (cometeu apenas duas faltas o ano todo também). E ele fez tudo isso apesar de enfrentar marcações duplas quase toda jogada.

Mack foi um monstro na temporada contra a corrida, somou 40 QB Hurries e terminou o ano como o jogador mais bem rankeado da SUA posição, então não é uma disputa fácil. Mas para mim a constante presença e efeito nos ataques que Donald teve ao longo do ano faz dele um pouco melhor, e merecedor desse prêmio.

Ballot hipotético: 1. Aaron Donald; 2. Kahlil Mack. 3. Chris Borland; 4. CJ Mosley; 5. Anthony Barr


Offensive Rookie of the Year: Odell Beckham Jr

De longe o voto mais fácil de todo essa lista. 

Apesar de ter jogado em apenas 12 partidas (e sido titular em 11) por conta de uma lesão no começo do ano, OBJ terminou o ano décimo em jardas recebidas, nono em recepção e quarto em touchdowns na temporada inteira. Se pegarmos suas estatísticas na temporada (91 recepções, 1305 jardas e 12 touchdowns) e projetarmos seus números para uma temporada completa (16 jogos), ele "terminaria" a temporada com ridículas 121 recepções para 1740 jardas e 16 touchdowns (a primeira ficaria em segundo, e as outras duas liderariam a liga). Ele também recebeu 70% das bolas lançadas na sua direção, um número ridículo para um WR que recebe tantas bolas longas. Você pode muito bem fazer um argumento de que Beckham foi um dos quatro melhores WRs da temporada (junto de Dez Bryant, Jordy Nelson e Antonio Brown), e mesmo com três jogos a menos, a diferença dele para seu competidor mais próximo pelo prêmio entre WRs (Mike Evans) é significativa - 23 recepções e 250 jardas. Oh, talvez você tenha ouvido falar também, mas ele também teve uma recepção legalzinha.




Então sim, é bem fácil dar o prêmio para Odell Beckham Jr. Ele foi espetacular e extremamente dominante quando esteve em campo, e foi de longe o calouro mais memorável da temporada.

O quanto jogar com um bom QB ajudou Odell Beckham Jr em relação aos seus companheiros? Bastante. Eli Manning teve talvez sua melhor temporada como profissional, e foi um QB bem acima da média, enquanto Mike Evans e Sammy Watkins ficaram presos recebendo passes de caras como Mike Glennon, Josh McCown, EJ Manuel e Kyle Orton. Mas ainda assim, tem vários WRs - não só calouros, no geral - que jogam com QBs bem melhores que Eli Manning e mesmo assim não conseguem esses números de vídeo game que OBJ teve. Em uma espetacular classe de WRs que tem tudo para ser uma das melhores da história da NFL, Beckham ficou consideravelmente acima da sua competição como o melhor da temporada. 

A classe de WRs calouros foi, de longe, a que mais recebeu atenção (merecida) da mídia e dos torcedores, mas não quer dizer que tenha sido a única a se destacar na temporada. Outros jogadores de outras posições também merecem destaque.

Os QBs de 2014 - bastante celebrados antes o Draft - foram em certa medida uma decepção. Blake Bortles (vou evitar criticar mais o coitado do que já fiz) foi um fracasso homérico, com quase duas vezes mais turnovers (21) que touchdowns (11) e, em QBR, foi o segundo pior QB da temporada entre os 44 com pelo menos 100 passes lançados (21.3 - apenas EJ Manuel foi pior); Johnny Manziel chamou muito mais atenção pelos problemas extra-campo que pelo que fez dentro deles; e Derek Carr, apesar dos 21 TDs, completou apenas 58% dos seus passes a 5.5 jardas por passe (pior marca da NFL). Não que todo eles sejam fracassos sem salvação, claro, mas para quem esperava mais da classe no curto prazo foi uma decepção. A exceção foi nosso salvador, Teddy "Footballgame" Bridgewater, que foi o melhor QB dessa classe durante dois anos antes do Draft para, na hora do vamos ver, vários "olheiros anônimos" ficarem procurando motivos estúpidos para criticá-lo. Bridgewater caiu até a #32, o Vikings ficou com o steal do Draft, e não tem qualquer duvida que atualmente ele é muito melhor que Manziel e Bortles. A lição, como sempre: "olheiros anônimos" são muito, muito burros.

Talvez por ter pegado fogo só na segunda metade da temporada, talvez porque isso aconteceu em um time irrelevante, talvez porque todo mundo estava babando demais nos WRs para se importar, mas a verdade é que Bridgewater teve uma temporada incrível que não recebeu a devida atenção. Apesar de estar recebendo pouquíssima ajuda de seus companheiros - o Vikings teve a sexta pior OL protegendo o passe e um grupo horrível de WRs (Cordarelle Patterson, que recebeu 49% dos passes lançados na sua direção e teve 384 jardas, foi o segundo WR mais usado do time) - Bridge terminou o ano com 64.4% de passes completados e 7.1 jardas por passe, e esses números ainda não traduzem o quão bom ele foi na reta final da temporada. Nos últimos sete jogos do ano, Bridge completou 68.2% dos seus passes para 7.8 jardas por passe com 12 TDs e 7 interceptações, sendo que três delas foram desviadas por seus próprios WRs. De acordo com o rating da PFF, nessas sete semanas apenas Rodgers e Drew Brees geraram mais valor para suas equipes que Teddy. Bridgewater também terminou o ano acertando 75.3% de seus passes (!!!) quando sob pressão, a melhor marca da NFL desde pelo menos 2008 (quando essa estatística passou a existir) e algo fundamental para sobreviver atrás de uma péssima linha ofensiva. Foi uma performance espetacular do camisa 5, e deixa poucas dúvidas de quem era no final das contas o melhor QB do Draft.

Por fim, o fato de jogarem na posição mais anônima da NFL impediu que recebessem muitas honras, mas dois dos melhores calouros de 2014 passaram a temporada dominando o interior de linhas ofensivas de forma impressionante. Joel Bitonio foi o LG titular do Browns, e Zack Martin o RG titular do Cowboys, e ambos tiveram temporadas absolutamente dominantes: em 32 jogos, os dois COMBINARAM para ceder um sack e 5 QB hits TOTAIS, estiveram entre os guards mais importantes contra o jogo terrestre e ajudaram a ancorar duas das melhores linhas ofensivas do esporte. A posição em que jogam não ajuda, mas em termos de dominância dentro da posição, provavelmente foram os dois melhores calouros tirando OBJ.

Foi uma classe realmente incrível para calouros ofensivos, e depois do #1, vocês podem mudar a ordem do meu ballot a vontade e ainda chegar em algo totalmente válido.

Ballot hipotético: 1. Odell Beckham Jr; 2. Teddy Bridgewater; 3. Zack Martin; 4. Mike Evans; 5. Joel Bitonio.
Hon. mention: Jeremy Hill.



Defensive Player of the Year: Justin Houston

Meu eterno problema com o "X Player of the Year": ele é ridículo quando você também tem o MVP para entregar. No caso dos jogadores de defesa, isso não é um problema porque é raríssimo um defensor ganhar o MVP, mas no caso dos jogadores de ataque, fica complicado. Se você foi o MVP e NÃO foi o melhor jogador pelo menos da sua posição, então você muito provavelmente não deveria ter sido o MVP. Então pra que criar um prêmio redundante, que vai premiar alguém duas vezes? Por isso eu longamente defendo que quem ganha o prêmio de MVP não deveria ser permitido ganhar também o respectivo "Player of the Year". Na verdade, no caso dos jogadores de ataque, eu vou um passo além: acho que o Offensive Player of the Year é o melhor jogador que NÃO era da posição do ganhador do MVP. Se Aaron Rodgers ganhar o MVP, então ele foi o melhor QB e pronto, é estúpido dar o "Offensive Player of the Year" para outro QB se Rodgers foi melhor, e é ainda mais dar duas vezes o prêmio para Rodgers. Então se ele ganha o MVP, e o prêmio vai para o melhor não-QB de ataque da temporada. É a única forma de tornar esse prêmio relevante (outra solução seria abolir os "Player of the Year" e dar logo um MVP ofensivo e um MVP defensivo).

Então sim, é extremamente óbvio quem foi o melhor defensor de 2014. Isso não é discutível. JJ Watt é #1 no meu ballot. Mas como aqui no TM Warning ele também ganha o MVP (chegaremos lá), então o Defensive Player of the Year vai para meu #2, que é Justin Houston.

Houston teve provavelmente a temporada menos comentada que um jogador que terminou com 22 sacks já teve na história, embora o fato dele ter chegado a esse número com 4 sacks na última semana provavelmente tenha algo a ver com isso. Mas vai mais além de ter chegado a meio sack do recorde histórico de Michael Strahan (22.5 sacks). Houston foi a força (humana) mais destrutiva da NFL em 2014, e por uma confortável margem. Além de seus 22 sacks, que lideraram a NFL, ele também teve 8 QB hits e 50 (!!) QB Hurries. Isso é um monte de jogadas de passe que ele influenciou positivamente. Ele totalizou 85 jogadas de pressão na temporada, que é 13 a mais do que qualquer outro jogador (tirando obviamente Watt, que liderou a categoria) teve no ano (72 de Ryan Kerrigan e Michael Bennett). Se a NFL é uma liga que cada vez mais valoriza o passe, então ter um jogador capaz de influenciar esse enorme número de jogadas de passe é um ativo valiosíssimo. E Houston foi o melhor não-JJ da NFL fazendo isso no ano inteiro.

E não é como se Houston fosse um pass rusher unidimensional que só ataca o QB e pronto. Ele também teve 50 stops totais (melhor entre 3-4 OLBs) e 22 stops contra o jogo terrestre (4th entre OLBs), e fez tudo isso sem cometer nenhuma falta na temporada e atraindo mais faltas do que qualquer outro pass rusher. Ele destruiu times em jogadas terrestres e de passe, aterrorizou quarterbacks o ano todo e, no final, teve o maior impacto defensivo do que qualquer outro ser humano normal teve nessa temporada. Com Watt fora da jogada, ele é meu DPOY.

Ballot hipotético: 1. JJ Watt; 2. Justin Houston; 3. Ndamukong Suh; 4. Von Miller; 5. Vontae DAvis.
Hon. mention: Cameron Wake; Terrell Suggs; Calais Campbell; Luke Kuechly; Chris Harris Jr.


Offensive Player of the Year: Aaron Rodgers

Antes de começar a falar de como Rodgers foi o melhor jogador de ataque da temporada, apresento a vocês dois QBs:

QB A: 69.9% de aproveitamento, 8.5 jardas por passe, 7.8 TD%; 113.2 rating; 82.75 QBR (liderou a NFL em todos esses quesitos)
QB B: 65.5% de aproveitamento, 8.4 jardas por passe, 7.3 TD%, 112.2 rating; 82.64 QBR

Muito boas temporadas, não? Ambos são excelentes QBs, ambos venceram 12 partidas para suas equipes, e ambos contam com a ajuda de um bom RB e de um dos três melhores WRs da temporada. 

Os mais observadores provavelmente já perceberam que são os números de Aaron Rodgers e Tony Romo. Então ainda que Rodgers tenha sido o melhor quarterback da temporada, Romo chegou bem perto de seus números, e é mais do que hora de reconhecer o que ele tem feito e...

Espera, você está me dizendo que na verdade Romo é o QB A?! O que liderou a NFL em aproveitamento, jardas por passe, TD%, rating e QBR, e ainda teve cinco viradas em quartos períodos (líder da NFL)?! Oh, boy... ai sim, fomos surpreendidos novamente. 

Isso quer dizer que Romo foi o melhor QB de 2014? Não necessariamente. Enquanto é um mito ridículo (que muitas pessoas querem propagar para fazer seus argumentos parecerem mais fortes) que Rodgers não tem muita ajuda em Green Bay - ele tem uma linha ofensiva muito underrated, uma excelente dupla de WRs e um ótimo RB - é fácil ver que Romo também tem muita ajuda em Dallas, e mesmo mais. Ele jogou com o líder em jardas terrestres da NFL, também conta com duas espetaculares armas (Dez e Witten) e, talvez mais importante, contou com a melhor linha ofensiva da NFL inteira. Nenhum QB teve mais tempo no pocket do que Tony Romo nessa temporada, e isso sem dúvida é uma grande vantagem. Além disso, tem o fato de que, no plano ofensivo de Dallas, Romo era "secundário" ao ataque terrestre - os QBs de Dallas deram 476 passes contra 508 corridas - e portanto, no plano de jogo geral, Romo acaba tendo menos impacto que Rodgers (os QBs de Green Bay deram 536 passes contra 435 corridas). Esse é o principal motivo pelo qual Romo deu 100 passes a menos na temporada do que o camisa 12 do Packers. Some a isso a questão do calendário - Green Bay enfrentou um calendário mediano, 18h na NFL, enquanto que Dallas enfrentou o segundo mais fácil - e o resultado é que, em contexto, a performance e influência total de Rodgers supera a de Romo. Por pouco, mas supera. Rodgers simplesmente precisou fazer mais esse ano.

E isso não é para demérito de Tony Romo, que foi fantástico a temporada inteira e terminou o ano liderando todas as categorias estatísticas relevantes para QB exceto INT% (Rodgers foi o #1) e DVOA (foi #2 atrás de Rodgers). Embora eu coloque Rodgers na frente dele pelos motivos que já expliquei, Romo foi tão bom quanto Rodgers e claramente o segundo melhor QB da temporada. E é mais do que hora de parar com o ridículo mito (em geral propagado por pessoas que só querem causar polêmica) de que Tony Romo é um problema para o Cowboys - ele tem sido um ótimo QB por anos a fio preso em um time horrível que exige demais dele. Com um bom jogo terrestre e uma ótima linha ofensiva pela primeira vez em anos, Romo teve uma temporada fantástica, pau a pau com o provável MVP da NFL. Outros QBs tiveram anos muito bons - Big Ben e Tom Brady vem a mente - mas Rodgers e Romo, em 2014, estiveram um patamar acima de todos os demais.

Entre os não-QBs, o primeiro nome que vem a mente provavelmente é DeMarco Murray, que liderou a liga em jardas terrestres (com incríveis 1845) e passou boa parte da temporada ameaçando quebrar a marca das 2000, antes de desacelerar na segunda metade da temporada. Ele terminou com quase 500 jardas a mais que o segundo colocado (LeVeon Bell com 1261), então a diferença total foi considerável.

Ainda assim, eu não estou muito convencido de que a temporada de Murray foi tão boa quanto parece. Sua produção total certamente superou todos os demais, mas essa maior produção veio principalmente de uma carga de trabalho muito superior: Murray correu com a bola 90 vezes mais do que o segundo colocado em corridas (LeSean McCoy), 102 vezes mais que LeVeon Bell e 112 vezes mais do que Marshawn Lynch. E enquanto ele merece bastante crédito por manter a eficiência em uma carga tão grande de trabalho, não é como se tivesse feito seu trabalho com uma eficiência muito superior a concorrência: suas 4.7 jardas por corrida são virtualmente idênticas as marcas de Bell e Lynch, e fica atrás de RBs como Justin Forsett (5.4), Jamaal Charles (5.0) e Arian Foster (4.8). Além disso, também tem o fato de que DeMarco Murray joga atrás da melhor linha ofensiva da NFL, uma unidade que abriu mais buracos e grandes espaços do que qualquer outro no jogo terrestre tirando, talvez, a do Packers. Embora seja difícil dizer com certeza o quanto do desempenho de um corredor é mérito dele ou da linha ofensiva, não é difícil ver que Murray teve mais "ajuda" nesse quesito do praticamente todos os outros grandes corredores da NFL. Murray teve, em média, 2.3 jardas por corrida ANTES do primeiro contato, enquanto Marshawn Lynch, por exemplo, teve 1.6 e Arian Foster teve 2.0. Então somando todos os fatores, a temporada de Murray não parece mais tão espetacular. Sim, ele teve uma produção total maior do que qualquer outro RB (e não foi por muito - em jardas totais ele está apenas 46 a frente de Bell), mas ela não veio dele ter sido particularmente mais dominante que os outros por corrida, e sim porque o Cowboys simplesmente fez ele correr mais do que outros RBs - e isso antes de considerar que ele teve mais ajuda da sua linha ofensiva nessas corridas do que qualquer um. Então embora Murray tenha sido o RB que mais produziu em 2014, ele não foi tão individualmente dominante para merecer entrar nesse prêmio sobre jogadores que tiveram um ano superior, e é discutível sequer se foi o melhor RB da temporada.

Se quer achar o melhor não-QB ofensivo de 2014, então é para Antonio Brown que você precisa olhar. O WR liderou a NFL em jardas e recepções, e foi segundo em touchdowns - por uma boa margem. Suas 129 recepções foram 18 a mais do que o segundo colocado (Demaryus Thomas) e 80 jardas a mais. Aliás, suas 129 recepções não foram só de longe a melhor marca da temporada - é a melhor marca dos últimos 12 anos e a segunda melhor marca da história da NBA. E não é como se ele tivesse acumulado passes fáceis perto da linha de scrimmage - apenas 7 jogadores na NFL inteira tiveram mais recepções em passes de 20+ jardas, e ele converteu 48% dos passes longos lançados na sua direção em recepções, a quarta melhor marca da NFL entre recebedores com pelo menos 25 alvos em tais passes. Brown também aparece como terceiro jogador entre WRs com mais jardas após a recepção e, talvez mais incrível para um jogador tão usado (e tão usado em jogadas longas), ele teve uma recepção em 71.6% das bolas lançadas na sua direção - a sexta melhor marca entre WRs com mais de 80 passes lançados na sua direção, e entre os 10 jogadores com mais passes direcionados da NFL, o que mais se aproxima do aproveitamento de Brown é Jordy Nelson... que tem 64.7%. Some a isso suas habilidades retornando punts - ele foi o quarto retornador com mais jardas em 2014, com um TD - e a verdade é que foi uma das mais impressionantes temporadas de um WR nos últimos anos.

Para fechar, um outro não-QB merece consideração para o prêmio. Não pelo que produziu individualmente, mas porque seu efeito no resto do ataque de seu time é incrível. Rob Gronkowski, a primeira vista, teve apenas uma boa temporada - uma linha de 82 recepções, 1124 jardas e 12 TDs, uma slash line muito boa para um TE, mas não espetacular. Ai você lembra que Gronk, que perdeu o final da temporada 2013 por conta de uma lesão grave no joelho, começou o ano bastante limitado pela sua equipe. Ele foi titular em apenas 10 jogos, e nos primeiros quatro jogos da equipe jogou apenas 60% dos snaps, não sendo usado como o centro do ataque da equipe. Isso mudou depois da surra que o Pats levou do Chiefs na semana 4 - Gronk jogou 85% dos snaps na semana seguinte e voltou a ser o TE em tempo integral do time. E ai você começa a observar o impacto que essa mudança - de jogador complementar, sendo poupado, para centro do ataque - teve no ataque como um todo. Eis os números para o ataque do Patriots entre as semanas 1-4 e as 11 semanas que Gronkowski jogou a 100% (não considerando o jogo da semana 17 contra o Bills, no qual Gronk foi poupado):



E a diferença nos números de Tom Brady...



So... Hmm... Yeah.

Claro, é difícil atribuir toda essa enorme mudança a só um jogador, mas o timing desse salto não é coincidência. O efeito que Gronk tem no ataque de New England é espetacular. Rápido e atlético demais para ser coberto por linebackers, forte e grande demais para ser marcado por defensive backs, a presença de Gronk em campo faz toda a defesa se dobrar na sua direção, sempre cautelosa e precisando designar dois jogadores na sua direção geral - o que, naturalmente, abre muito mais espaço para o jogo terrestre e, principalmente, linhas de passe para os WRs de um time que não tem grandes jogadores capazes de criar separação. Então seus números individuais são bons (e ficam ainda mais impressionantes quando você lembra que ele só foi titular em 10 jogos), mas o impacto que Gronk teve no resto do seu time foi ainda mais impressionante e o que o coloca na disputa por esse prêmio.

Ballot hipotético: 1. Aaron Rodgers; 2. Tony Romo; 3. Antonio Brown; 4. Rob Gronkowski; 5. DeMarco Murray
Menção honrosa: LeVeon Bell; Marshawn Lynch.


Most Valuable Player: JJ Watt

Para mim, hoje, existe algo que é indiscutível.

JJ Watt é o melhor jogador da NFL.

De novo, eu não acho que isso é passível de debate. A NFL tem muitos bons defensores na atualidade, mas a diferença entre Watt e os próximos "melhores defensores da NFL" é realmente absurda, e muito maior do que a diferença entre os melhores jogadores ofensivos da NFL, de qualquer outra posição. Watt é possivelmente o defensor mais individualmente dominante da NFL desde Lawrence Taylor, amplamente considerado o maior de todos os tempos.

O problema, claro, é que o prêmio não é para o melhor jogador - é para o jogador "mais valioso", seja lá o que isso quer dizer. Porque, hmm, ninguém realmente sabe o que isso quer dizer. É ambíguo, e a NFL não tem nenhuma intenção de esclarecer como deveriamos pensar esse prêmio. Eles QUEREM que tenha ambiguidade, quer que as pessoas discutam e criem suas teorias, e escrevam colunas sobre isso. Quanto mais difícil for decidir, mais as pessoas conversarão sobre isso, e é o que a liga quer. E é essa distinção - entre melhor e mais valioso - que cria uma brecha para que o melhor jogador da NFL não ganhe o prêmio de MVP.

Então como o melhor jogador da NFL não é o mais valioso? Os argumentos contra Watt, e a favor de Aaron Rodgers, se baseiam em dois pontos. Dois pontos que não são desprovidos de valor, claro, mas que acabam sendo usados como algo mais definitivo do que deveriam.

1 - O Quarterback é mais valioso do que os outros jogadores do time

Ou seja, a questão do valor posicional. Que não deixa de ser um fato - em um jogo de futebol americano, o quarterback É a posição mais valiosa, a que mais tem chance de impactar um jogo. 95% das jogadas da partida passam pelas mãos de um QB, afinal de contas, e não tem um ato mais individual para se ganhar ou perder jardas na NFL que o passe.

Mas sugerir que só por jogar em uma posição mais importante um jogador não é automaticamente mais valioso do que outro. Depende muito do quanto cada um fez dentro da sua situação. Um RB que corre 100 vezes tem mais chance de impactar uma temporada do que um que corre 50 vezes, mas não quer dizer que o RB1 foi mais valioso - se o segundo tem 5.0 YPC e o primeiro 2.0, então o impacto total do primeiro será consideravelmente maior. O mesmo vale para a posição: o QB tem mais chances e maior impacto no jogo do que um DE, mas a diferença entre Watt e qualquer outro defensor da liga é um abismo MUITO maior do que Rodgers e os outros QBs de elite da NFL.

Esse argumento também pode se virar facilmente - se o valor total de Rodgers é maior que o de Watt porque Rodgers joga em uma posição mais valiosa, então quer dizer que a maior parte do seu valor vem da sua posição, e não do jogador? Se Watt e Rodgers tem um impacto semelhante, mas grande parte do impacto de Rodgers vem em jogar em uma certa posição, então Watt tem muito mais mérito porque atingiu esse impacto sem a "ajuda" de jogar em uma posição que está acima do resto.

Além disso, em termos de posição, o pass rusher tende a ser um pouco underrated. Se o QB é a posição mais importante do jogo, então a segunda mais importante, logicamente, é aquela que atrapalha ao máximo o  QB adversário. E esse é de longe JJ Watt. Um QB sem pressão vai completar muito mais passes do que um sem pressão, então um DE que como JJ Watt coloca pressão muito consistentemente - e MUITO mais frequentemente do que qualquer outro defensor na NFL - tem um impacto incrível de tornar QBs bons em medíocres. Para ilustrar esse ponto, eu queria pegar alguns exemplos de QBs médios na NFL e mostrar a diferença entre quando eles tem pressão e eles não tem pressão. Perguntando para meus seguidores no twitter quem são os QBs mais "médios" da NFL, os mais citados foram Alex Smith, Andy Dalton, Ryan Tannehil e Matt Stafford. Então olhem o quadro abaixo...



Yep, a diferença é considerável. É a diferença entre 2014 Drew Brees (69.2%, 7.5 Y/A, 1.9 TD/INT Ratio, 97 Rating) e 2010 Blaine Gabbert (50.8%, 5.4 Y/A, 1.1 TD/INT, 65.4 Rating). Então considerando que Watt é um pass rusher que pressiona QBs com uma frequência absurda em relação aos demais defensores da NFL (seu rating como pass rusher, via PFF, foi de +91.9. O segundo melhor, Justin Houston, teve +37.0...), e que o time dele não tem NENHUM outro pass rusher acima da média, então um jogador que praticamente sozinho é capaz de transformar QBs de Brees a Gabbert tem um impacto imenso em qualquer partida. E como eu disse, a diferença entre Watt e o resto dos defensores da NFL é MUITO maior que a entre Rodgers e os demais QBs.


2 - O time de Rodgers foi aos playoffs e o de Watt não

Eu entendo a necessidade do argumento da campanha. Mais VALIOSO implica em valor, então você não vai votar em um cara que participou de uma temporada sem valor algum. O problema é que "playoffs" não só é um parâmetro arbitrário, como também (especialmente quando usado como "sim ou não" para eliminar os jogadores do prêmio) ignora totalmente as circunstâncias ao redor da classificação ou não para os playoffs.

No caso do Texans, o time terminou 9-7 a temporada (um ano depois de um 2-14) e só não foi aos playoffs porque, na última semana, o Ravens ganhou do Browns liderado por Connor Shaw como QB (com uma virada no segundo tempo). Então você está me dizendo que o que torna a temporada individual de JJ Watt mais ou menos valiosa é se, em um jogo totalmente independente, o Ravens consegue ou não vencer o Browns com seu terceiro QB reserva?? Esse é o grande motivo pro Watt não ser MVP? Eu sinceramente espero que todo mundo perceba o absurdo desse argumento.

Além disso, tem a questão do time. Nenhum jogador vai para os playoffs sozinho - tem outros 54 jogadores no time que tem seu impacto nisso. Rodgers teve uma temporada fantástica e foi o jogador mais importante do Packers e seu 1st-round bye, sem dúvidas, mas ele também jogou com uma defesa acima da média que terminou o ano como a 14h melhor da NFL (e 9th em turnovers forçados),  enquanto o ataque do Texans terminou 23rd em DVOA e teve que se virar com Ryan Fitzpatrick e Case Keenum de QBs o ano todo. E mesmo no ataque, Rodgers esteve cercado por grandes jogadores - Eddie Lacy, a melhor dupla de WRs da NFL, uma linha ofensiva que teve ótimo ano - enquanto que JJ Watt teve no máximo UM companheiro acima da média esse ano na defesa (mais sobre isso em um segundo). Rodgers teve um impacto enorme, mas os resultados finais do Packers também se devem a um excelente time ao seu redor, enquanto Watt teve pouquissima ajuda para ficar de fora dos playoffs em uma virada esquisita do Ravens contra o terceiro QB do Browns.


A verdade, no entanto, é outra. A verdade é que Rodgers muito provavelmente vai ganhar o MVP simplesmente porque não temos como medir o impacto de JJ Watt de forma a comparar os dois. Embora não seja uma coisa 100% precisa, podemos ter uma noção do que Rodgers fez esse ano para seu time - as jardas, o aproveitamento, touchdowns, interceptações, QBR, conversões de terceiras descidas, etc - enquanto para Watt temos que nos basear apenas em estatísticas fragmentadas como sacks, tackles for loss, e semelhantes. Se JJ Watt, no começo de uma jogada, é bloqueado por três jogadores, passa pelo meios dos três e força o QB a sair do pocket para evitar ser pressionado - e no processo encontra um defensor que não foi bloqueado por causa da atenção extra dada a Watt, que atinge o QB enquanto ele lança, e a bola fica pendurada para um defensor interceptar... como a jogada é registrada? O defensor é registrado como um QB hit, o defensor com uma interceptação, e Watt com nada... mesmo a jogada só tendo possível graças a ele, que atraiu bloqueadores (permitindo que seu companheiro chegue livre no QB rapidamente) e forçou o QB a sair do pocket na direção desse segundo defensor. A jogada aconteceu graças a ele mas ele não foi creditado. E por isso é tão difícil medir o impacto total de Watt. É mais FÁCIL votar em Aaron Rodgers, porque nós podemos ver o impacto total dele.

Futebol americano não é como baseball, onde cada jogada acontece em uma situação quase isolada (o duelo rebatedor vs arremessador) e toda jogada pode ser medida independentemente de forma a creditar os envolvidos no lance. Mas tem um site que tenta fazer exatamente isso, chamado Pro Football Focus. O PFF mede o impacto total de cada jogador em cada lance separadamente - não só o impacto no RESULTADO, mas em todo o processo. Se JJ Watt atravessa rapidamente pelo meio dos bloqueios e da um sack em um QB que ainda está fazendo o dropback, ele recebe muitos créditos por isso. Mas se em uma jogada Watt ocupa três bloqueadores e abre espaço para um companheiro livre dar o sack... ele ainda vai ganhar muitos créditos pelo espaço que criou para o companheiros (independente da jogada acabar em sack ou não). Claro que não é uma abordagem 100% exata, mas é um parâmetro interessante para avaliar defensores e jogadores de linha. Segundo os ratings da PFF, JJ Watt terminou o ano com +107.3, a melhor marca da história do site. O segundo melhor defensor foi Von Miller... com +54. Então JJ Watt foi DUAS VEZES mais impactante do que o segundo melhor defensor da NFL? Inacreditável. E by the way, Rodgers foi um +40, embora os ratings da PFF não incluam um ajuste de posição.

Mas claro, essa é só uma forma imprecisa de avaliar. Eu entendo se você preferir votar em Rodgers, e acho que Rodgers é uma escolha válida, vindo de um ano fantástico. Eu acredito que o MVP foi Watt, mas a questão é que eu não tenho como provar isso. No final, só posso argumentar o meu lado. E é isso que eu farei.

Tirando da minha expertise - anos e anos assistindo e analisando NFL, além das dezenas e até centenas de horas que eu passo assistindo, estudando e analisando a NFL - que eu posso insistir que você deveria confiar, eu pensei em uma forma de tentar ilustrar de forma prática porque Watt foi o jogador mais valioso da NFL além do que já fiz. É totalmente impreciso, especulativo e até opinativo, mas é o que nos resta.

Deixa eu começar com um fato: a defesa do Texans foi #6 em DVOA. Sexta melhor defesa do ano. É uma marca excelente, mas fica mais ridícula quando eu te perguntar qual o segundo melhor jogador defensivo do time. Se você pensou em Brian Cushing, o nome mais famoso, você está bem frio porque Cushing teve uma temporada bem ruim depois de múltiplas lesões. Jadeveon Clowney não jogou nem 150 snaps por conta de lesões. O Texans não teve UM outro defensor defensor realmente bom essa temporada - o segundo melhor provavelmente foi um DB, Kareem Jackson ou Jonathan Joseph, mas nenhum foi realmente bom esse ano. Usando o rating do PFF de novo, o Texans teve ZERO defensores com rating acima de +10 (!!!!) além de JJ Watt, com todos os outros defensores fora o meu MVP totalizando -57.5 de rating. É surreal que esse time tenha conseguido terminar 6th overall, não? JJ Watt fez isso praticamente sozinho. Se você trocasse JJ Watt com um outro DE mediano - digamos, Ricky Jean-François, que teve +0.3 de Rating - a defesa do Texans seria HORRÍVEL, algo como uma das oito piores da NFL. Então JJ Watt sozinho foi a diferença entre, digamos, a defesa do Texans ser a 25h melhor (o que, via PFF, ela seria com essa troca) e ser a #6 melhor. Da última vez que eu vi, o jogo é 50% pontuar e 50% impedir que os outros pontuem. Então defesa e ataque tem o mesmo peso. Se um QB sozinho é a diferença entre o 24h ataque e o 6th ataque da liga sem nenhuma ajuda ao seu redor, ele é o MVP (Peyton Manning em 2009, alguém?), mas se um defensor é essa diferença, ele não pode ganhar porque não é um QB? Porque foi essa a diferença do time com JJ Watt e sem JJ Watt.

Digamos que fizessemos o mesmo com Rodgers. Lembra quando eu disse que Watt teve ZERO companheiros de defesa com Rating acima de +10? Rodgers teve SETE companheiros assim, quatro dos seus linemen, seu RB e seus dois WRs titulares. É uma quantidade considerável de talento - +58.4 tirando Rodgers. Agora vamos trocar Rodgers por, digamos, Alex Smith (que foi o mais citado como sendo um QB mediano e teve QBR de quase 50). Quanto cairia o ataque do Packers? Menos do que se imagina, e bem menos do que cairia a defesa do Texans. O ataque do Chiefs liderado por Alex Smith terminou o ano como o #12 da NFL em DVOA e #15 pelo Pro-Football Reference, e é bem fácil ver a diferença enorme de talento entre os dois ataques. O Chiefs teve talvez a pior coleção de WRs da NFL enquanto o Packers tem talvez a melhor dupla (Cobb e Nelson), e a linha ofensiva do Packers é bastante superior a do Chiefs (Football Outsiders coloca a OL do Packers como aproximadamente a #9 e a do Chiefs como a #18, e PFF coloca Packers em #3 e Chiefs em #22). Em RB parece ter uma queda, mas é menor do que se espera - Charles teve 5.1 YPC contra 4.8 YPC de Eddy Lacy, mas Lacy teve 2.8 jardas depois do contato e Charles 2.5 - e Green Bay na verdade terminou com o sexto melhor ataque terrestre de 2014, uma posição atrás do Chiefs apesar de ser um ataque muito mais orientado para o passe. Então se um ataque muito inferior do Chiefs liderado por Smith conseguiu ser entre #12 e #15 da NFL, é bem razoável supor que trocando Rodgers por esse QB mediano o Packers ainda teria um ataque consideravelmente acima da média, algo entre #8 e #11.  Bem menor.

Então esse é meu argumento arbitrário, imaginativo e impossível de ser provado mas que tenta passar algum resultado prático: tirando a campanha de time (que é afetada por muitas coisas além do controle dos jogadores) e focando apenas no lado da bola influenciado por aquele jogador, o Packers foi uma unidade melhor (#1) do que a do Texans (#6), mas fez isso talvez com a maior coleção de talentos da NFL desse lado da bola, enquanto a defesa do Texans é absolutamente medíocre depois de Watt. Então Watt teve um impacto muito maior para fazer da defesa do Texans boa do que Rodgers, com muito menos ajuda. Obviamente os números acima são aproximações e especulações, mas não é difícil ver a enorme diferença de talento coletivo e o impacto que Watt teve em um time muito inferior. Então é, troque Rodgers por Smith e o Packers não teria um bye, e talvez nem fosse aos playoffs. Mas troque Watt por 90% dos DEs da NFL e o Texans não teria nem sonho de brigar por uma vaga nos playoffs - para efeito de comparação com o exercício de imaginação acima, uma boa comparação seria o Redskins do ano passado, que terminou 23rd em ataque, 21st em defesa e 4-12 de Pythagorean Expectation e 3-13 de record.

No final do dia, JJ Watt teve um impacto no seu time maior do que Aaron Rodgers ou qualquer outro jogador da NFL. Mesmo que eu não possa provar, é nisso que eu acredito.

Ballot hipotético: 1. JJ Watt; 2. Aaron Rodgers; 3. Tony Romo; 4. Rob Gronkowski; 5. Antonio Brown


Bem, com os prêmios oficiais da NFL já resolvidos, hora de alguns prêmios alternativos...

Melhor jogador de 2014 que você não ouviu falar: Chris Harris Jr, CB, Broncos
Runner up: Pernell McPhee, OLB, Ravens
A posição de CB é outra difícil de ver em estatísticas, então as pessoas decidem quem são os melhores principalmente pelo nome. Richard Sherman! Darrelle Revis! E por ai vai. E em termos de consistência, eles provavelmente são mesmos. Mas isolando cada ano, é possível achar CBs que tiveram uma temporada melhor.

Em 2014, esses seriam Chris Harris e Vontae Davis. Davis pra mim foi o melhor CB de 2014, mas todo mundo conhece Davis. Chris Harris eu ficaria surpreso se você tivesse ouvido falar, mas ele foi uma força dominante para a defesa do Broncos essa temporada. Quarterbacks tiveram um rating de 47.8 lançando na direção de Harris em 2014, a segunda melhor marca da NFL, e isso nem diz toda a história do quão dominante ele foi. Harris cedeu .57 jardas por snap na cobertura, quase VINTE pontos a frente do segundo colocado (Sherman, 0.76), e talvez mais importante, sua versatilidade foi chave para a defesa do Broncos: 25% dos snaps de Harris vieram no slot, e ele foi de longe o CB mais dominante cobrindo o slot na temporada, segurando QBs a um rating de 59.8 (mais de 10 abaixo do segundo melhor) e 0.57 jardas por snap, ambas a melhor marca da liga. Isso permitia enorme flexibilidade ao Broncos, tanto alinhar Talib e Harris abertos como podia deslocar Harris para dentro do slot ou até para cobrir TEs. Denver terminou o ano com a quinta melhor defesa aérea da liga, e Harris foi uma grande parte do motivo.

Então parabéns - agora você sabe que talvez o melhor CB de 2014 foi um cara que você deve ter ouvido falar ZERO vezes nas grandes mídias.


Jogador mais decepcionante de 2014 (ataque): Josh Gordon, WR, Browns
Runner up (QBs e calouros não qualificam): Andre Ellington, RB, Cardinals
Josh Gordon foi possivelmente o melhor WR de 2013, liderando a liga em jardas com 1643 (quase 150 a mais que o segundo colocado) e adicionando 9 touchdowns - e isso lembrando que ele perdeu dois jogos suspenso. Então depois dessa temporada onde apareceu como um dos melhores WRs da NFL, todo mundo esperava que Gordon continuasse jogando em altíssimo nível e fosse a principal arma de um novo ataque do Browns comandando por Johnny Manziel.

A temporada de Gordon foi um fiasco antes de começar, pois uma suspensão por uso de drogas (mais uma...) o tirou da temporada 2014. Uma apelação acabou reduzindo sua suspensão para "apenas" 10 jogos, mas foi um enorme setback para um jogador extremamente talentoso com problemas extra-campo. Quando esteve em campo, Gordon não exatamente se destacou - 300 jardas e 24 recepções em 5 jogos - e para piorar esteve envolvido em mais uma polêmica fora de campo, e ainda pior, que também envolveu Manziel e Justin Gilbert, as duas escolhas de primeira rodada do time. Supostamente Manziel e Gilbert teriam perdido um treino (assim como Gordon) por terem ficado até tarde em uma festa na casa do WR. OS detalhes são escassos e contraditórios, então não sabemos ao certo, mas o fato é que os três foram suspensos pelo time para a rodada final e a diretoria parece estar bastante irritada com Gordon, pela sua falta de comprometimento e pela suposta má influência nos demais. Não exatamente o ano que todos esperavam para o talentoso jogador.

Ellington, por outro lado, teve um explosivo 2013 e pareceu um achado no fim do Draft, mas em 2014 assumiu um papel maior na equipe e foi um grande fracasso como RB titular da franquia antes de se machucar.


Jogador mais decepcionante de 2014 (defesa): Patrick Peterson, CB, Cardinaks
Runner up: Michael Johnson, DE, Buccaneers
De novo a questão da dificuldade de avaliar CBs corretamente. Se perguntassem a alguém os melhores CBs da NFL, Peterson provavelmente seria um dos primeiros nomes citados. E não a toa, já que ele tem boas temporadas em seu nome. Mas a verdade é que Peterson - que assinou um enorme contrato de 70M de dólares na offseason - teve um 2014 bastante decepcionante e abaixo do que pode oferecer.

O que chama a atenção em Peterson não é só o quanto os QBs não tinham medo de lançar na sua direção - um passe a cada 6.2 snaps, uma marca acima da média da NFL e bastante alta para um CB de elite - mas também o sucesso que conseguiram nessas tentativas. Quarterbacks lançando na direção de PP tiveram um rating de 97, uma das piores marcas da NFL entre CBs com pelo menos 50% dos snaps na cobertura. Ele até fez um bom trabalho evitando recepções quando na marcação, mas o problema é que permitia muitas jardas após a recepção (17h pior da NFL no quesito) e muitas vezes se encontrava fora de posição para grandes ganhos. Foi uma temporada fraca para Peterson, e embora não tenha sido um ano horroroso, é muito menos do que se esperaria de um dos melhores jovens CBs da NFL entrando em um contrato de 70M.


Pior escolha do Draft até aqui: #3, Jaguars escolhe Blake Bortles
Só porque eu queria lembrar todo mundo que eu avisei que a) essa era uma péssima escolha e b) Bridgewater era de longe o melhor QB dessa classe. So there.


Técnico mais morfético do ano: Jim Caldwell, Lions
Runner ups: Jay Gruden, Redskins
Menção honrosa: Mike Smith, Falcons
Esse prêmio muito bem poderia ser do Gruden. A forma como ele manejou e destruiu totalmente a confiança E o valor de troca de seus DOIS principais quarterbacks - um dos quais foi uma escolha #2 de Draft, Rookie of the Year e custou ao time, entre outras, a escolha #2 DESSE Draft - foi uma obra de arte que eu não sei como ele poderia ter conduzido pior, a não ser que desse uma conferência de imprensa pelado para mostrar uma imagem do Colt McCoy tatuada na virilha enquanto jogava dardos em uma foto do RG3.

Mas o Redskins iria feder anyway, enquanto que Caldwell - o técnico de um bom time do Lions - fez uma diferença consistente (e negativa) em um time que poderia ter sido muito melhor. Eu não sei o quão bom Caldwell é no dia-a-dia do vestiário, mas dentro de campo ele é um dos piores da NFL tomando decisões. Mais notavelmente, Caldwell é talvez o técnico mais covarde e conservador da NFL, alguém que sempre prefere chutar Field Goals seguros ao invés de arriscar pelo maior prêmio do touchdown, nunca tenta conversões de dois pontos fora do óbvio, e simplesmente age da forma mais "não vamos perder" possível, em contraste a um técnico como Belichick que age de forma "vamos fazer o possível para aumentar nossas chances de ganhar". Ele fez isso o ano todo e custou pontos importantes para o Lions (o jogo contra o Falcons em Londres é um ótimo exemplo), e todo torcedor de Detroit sabia que isso poderia ser um enorme problema indo aos playoffs.

Dito e feito, aconteceu. Os torcedores de Detroit podem reclamar (não sem razão) dos juízes, mas a verdade é que o que realmente custou a partida contra o Cowboys nos playoffs foi Caldwell sendo covarde e não tentando um 4th and 1 crucial no quarto período que devolveu a bola a Dallas para vencer o jogo. Já faz alguns anos que eu acho que o Lions é um ótimo time sendo atrasado por um péssimo técnico, e 2014 foi um exemplo muito mais prático disso acontecendo dentro de campo.


Melhor contratação discreta da offseason: Antoine Bethea, Safety, 49ers
Runner up: Henry Melton, DT, Cowboys
Bethea foi contratado sem alarde algum para substituir Donte Whitner como SS de uma das melhores defesas da NFL, e muitas pessoas acharam que era um risco desnecessário. Mas em 2014 Bethea teve talvez sua melhor temporada como profissional, foi talvez o melhor safety da temporada inteira e de longe o melhor jogador de uma secundária que viu seus CBs titulares perderem 22 jogos combinados e ainda terminar como a quinta melhor da NFL em DVOA (e isso antes de lembrar que Aldon Smith perdeu metade da temporada). Bethea foi uma grande parte do motivo pelo qual a defesa de San Francisco continuou como uma das melhores da NFL mesmo em um ano onde jogou a maior parte dos jogos sem seus melhores defensores.

Enquanto isso, o underrated Melton foi discretamente a força motriz por trás de uma defesa do Cowboys que deveria ter sido muito pior do que foi de fato, e peça importante na boa campanha da equipe. Melton chegou sem fanfarra para substituir o excelente Jason Hatcher na linha defensiva, e o time não perdeu nada com a troca, com Melton tendo uma temporada digna de All-Star mas chamando quase nenhuma atenção no processo.


Pior contratação da temporada em 2014: Josh McCown, QB, Bucs
Runner ups: Jayrus Byrd, Safety, Saints; Michael Johnson, DE, Bucs
Foi uma péssima idéia na hora pagar 10M de dólares a Josh McCown, que teve 8 jogos espetaculares para o Bears em 2013 depois de uma carreira inteira sendo apenas um reserva mediano. McCown voltou a ser o que sempre foi essa temporada, com QBR de 35 e rating de 70 e 14 interceptações em 11 péssimos jogos como titular. Ainda que os nossos runner ups tenham sido contratações mais caras e talvez mais desastrosas, eles ainda tem chance de render no resto de seus longos contratos. McCown foi horrível do primeiro ao último segundo.

Não que Byrd e Johnson, talvez os dois principais free agents da temporada, não tenham feito a sua parte. Byrd foi horrível enquanto jogou no que foi a segunda pior defesa da temporada antes de se machucar, e Johnson teve apenas 4 sacks e 9 QB hits na temporada antes de ir para o banco em um time fraco do Bucs. Mas são jogadores com um histórico de serem dos melhores nas suas posições, então é cedo para dizer que foram contratações genuinamente desastrosas no médio prazo.


Least Valuable Player: Trent Richardson, RB, Colts
Runner up: Matt Kalil, OT, Vikings
Não só porque Richardson custou ao Colts uma escolha de primeira rodada nesse Draft, que acabou sendo a #26 (Marcus Smith) e que o Browns usou para subir e pegar MAnziel, mas porque o impacto que ele tem no Colts no dia-a-dia é verdadeiramente impressionante. Indy fez de tudo para dar mais espaço ao muito melhor Ahmad Bradshaw, mas mais uma lesão o tirou da temporada, e lá se foi o Colts insistir em Richardson para tentar tirar QUALQUER valor dessa troca. Desnecessário dizer, não deu certo - Richardson teve apenas 3.3 jardas por corrida (atrás da mesma OL que Bradshaw tinha com seus 4.7 YPC e Dan Herron e seus 4.4 YPC) e continua se provando o RB menos capaz de aproveitar espaços de toda a NFL. Indy finalizou o ano com o quinto pior ataque terrestre da liga graças a ele, e o ataque do Colts (não só o terrestre, como o ataque como um todo) deu um enorme salto quanto o Colts esqueceu a teimosia e mandou Richardson para o banco em favor de Herron. Quando seu time explode ofensivamente porque seu RB que custou uma escolha de primeira rodada foi para o banco em favor de uma escolha de sexta rodada que tinha corrido nove vezes na carreira antes dessa temporada, então tem algo errado ai. Richardson é o LVP da temporada 2014 da NFL.


Agradecimentos especiais ao Carlos Leite pela capa do JJ Watt, e aos meus seguidores do twitter por me ajudar a decidir quem era o QB mais mediano da NFL.