Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A melhor e mais maluca trade deadline

Melhor resumo para ontem a tarde, impossível 



Antes de começar, sirva-se de uma xícara de café. Agora outra. E mais uma, só pra garantir. Estamos prestes a nos embaralhar e confundir falando da mais agitada e mais insana trade deadline que eu me lembro. 38 jogadores (isso da 8% de toda a NBA!) foram trocados, junto com 7 escolhas de primeira rodada de Draft, em um período de 90 minutos. Pelo menos seis (!) times de playoffs estiveram envolvidos em trocas. Foi uma sequência tão grande de trocas, negociações e movimentações que foi praticamente impossível acompanhar em tempo real, ao ponto que até o próprio Woj entregou pra Deus:




Então foi maluco a esse ponto mesmo. A quantidade de jogadores que disse não ter idéia de onde jogava ou quem eram seus companheiros ao final de toda a zona foi incrível. Eu próprio estava na dúvida se tinha sido ou não trocado para o Suns. Então vamos tentar passar rapidamente por todas essas trocas - sim, uma a uma - pra ver o que saiu de bom e o que saiu de ruim dai.



Suns recebe John Salmons (Pelicans) e duas escolhas futuras (2017 e 2021) de primeira rodada (Heat); Pelicans recebe Shawne Williams, Norris Cole e Justin Hamilton (Heat); Heat recebe Goran e Zoran Dragic (Suns)

A mais importante troca da noite envolveu Goran Dragic, que tinha dado essa semana um ultimato para a diretoria do Suns trocá-lo, dizendo que não renovaria com o time ao final da temporada... e ainda destruiu seu próprio valor de troca afirmando que só renovaria contrato se fosse trocado para Knicks, Heat ou Lakers - três times sem nenhum bom ativo para trocar pelo esloveno. Celtics, Kings e Rockets estavam interessados no armador e teriam muito mais a oferecer ao Suns por ele, mas com essa demanda mimada, os três se retiraram da troca e forçaram Phoenix a aceitar a melhor oferta lixo entre as "demandas" de Dragic. O Knicks nada tinha a oferecer, e o Lakers (sabiamente) não iria envolver Randle ou a proteção da sua escolha de primeira rodada que hoje pertence ao Suns, então sobrou para Phoenix aceitar esse pu-pu-platter de Miami por alguém que eu votei como  2nd Team All-NBA em 2014. É um retorno muito fraco por ele, mas é o melhor que Phoenix tinha condições de conseguir nessas circunstâncias.

E Miami aproveitou para roubar a peça que mais precisava nessa trade deadline. Talvez nenhum time o ano todo teve pior produção de seus PGs do que o Heat, onde Norris Cole e Mario Chalmers passaram de "ruins" para "legitimamente prejudiciais" - um problema que ficou ainda mais evidente sem Wade para assumir parte das funções de ball handler. Dragic chega para resolver a questão. Ainda que seus números tenham caído em 2014/15 (16, 4, 4), isso se deve principalmente ao fato de que Dragic tem jogado principalmente como SG, já que o Suns emprega o tempo quase todo lineups com dois armadores diferentes (Bledsoe, Thomas e Dragic), e tanto Bledsoe como Thomas costumam ter mais a bola nas mãos do que Dragic. Mas ano passado todo mundo viu o quanto Dragic pode ser devastador, quando teve 20-6-3 de médias com 50.5 FG% e 40.8 3PT%. Miami precisava de um armador, e agora achou um excelente.

O que é ainda mais interessante é que, em Phoenix, Dragic causou seus maiores estragos no pick and roll e no pick and pop. Aliás, o pick and pop Dragic-Channing Frye foi, em 2014, a jogada com maior eficiência de TODO o basquete, já que Dragic é um especialista em atacar e finalizar perto da cesta (64.8 FG% na zona restrita), abrindo diversas opções de passe no processo. Então é difícil não salivar quando lembramos que agora o eslovêno terá outra máquina de pick and pop em Chris Bosh, e uma excelente opção de pick and roll no novo fenômeno Hassan Whiteside (1.57 PPP em jogadas de pick and roll). Não só é o jogador da posição que Miami mais precisava, mas é alguém que (em teoria) casa perfeitamente com as outras opções já na equipe e que trás exatamente o que o time mais precisa nesse momento.

E a verdade é que, se Wade voltar saudável, o Heat agora vira um dos times mais assustadores do Leste. É verdade que o time perdeu um pouco da sua profundidade para essa troca, mas um quinteto Dragic-Wade-Deng-Bosh-Whiteside é legitimamente assustador, e consolida Miami como um sério candidato ao título do Leste. Agora o Leste tem quatro times legitimamente brigando pelo título da conferência (Miami, Atlanta, Cleveland e Chicago), além de alguns sleepers (Washington e Toronto), e o nível de entretenimento desses playoffs subiu exponencialmente. Aquisição fantástica de Miami. Lembra quando em Setembro tinha muita gente que achava que Miami deveria tankar pós-LeBron?

O Pelicans aqui aproveitou para aumentar suas opções e profundidade, mas nada que vá mudar seu destino. E Phoenix não teve escolha, então pelo menos pegou o melhor retorno possível e abriu espaço pra Isaiah Thomas e Bledsoe jogarem mais tempo juntos e assumirem o comando do...


Suns recebe Marcus Thornton e uma escolha de primeira rodada de 2016 de Cleveland; Boston recebe Isaiah Thomas

Wait, what?! 

Para falar mais dessa troca, precisamos falar de outra do Suns, então por enquanto, vamos focar no Celtics.

Em termos de valor, esse foi um golpe fantástico do Celtics. Thornton era um contrato expirante de pouco valor, e essa escolha do Cavs (que o Celtics pegou para absorver o contrato de Tyler Zeller, que tem jogado bem em Boston) provavelmente não teria muito valor a não ser que LeBron decida que quer voltar pra Miami ou jogar baseball. E em troca pegou um dos melhores armadores reservas da NBA, alguém que consegue atacar a cesta, pontuar a vontade e carregar seu ataque por sólidos minutos - e cujo contrato é uma pequena barganha a 7M ao ano. Então em termos de valor, foi uma grande vitória. 

O que me incomoda aqui é o timing. Boston trocou Rondo e Green, o que em parte poderia indicar que o time queria mais um ano de tanking, mas dai os boatos de que o Celtics estava no mercado atrás de algum bom veterano começaram a surgir. O próprio Dragic era uma opção, mas quando ficou claro que ele não renovaria fora do eixo LA-NY-Miami, Celtics se contentou com Isaiah Thomas. Estando 1.5 jogos apenas atrás de uma vaga de playoffs, Boston começou a pensar que o melhor a fazer era encurtar sua renovação e chegar logo aos playoffs, e fez mudanças para aumentar suas chances disso. Acho que nenhum torcedor racional de Boston acha melhor ser varrido pelo Hawks na primeira rodada dos playoffs do que uma escolha Top12 em um Draft onde, coincidentemente, o Top12 é excelente. A experiência de jogar nos playoffs é importante para um elenco jovem, sem dúvida, mas eu trocaria um ano disso por um Myles Turner ou Mario Hezonja em um piscar de olhos. A partir de 2016, o Celtics não precisa mais ser ruim para ter ótimas escolhas de Draft, graças ao Nets, mas porque não aproveitar mais um ano adicionando talentos antes de perseguir essa vaga nos playoffs? Não é como se o time tivesse qualquer chance de fazer qualquer estrago já esse ano.

Além disso, Boston já não tem em Marcus Smart seu armador do futuro, uma força da natureza na defesa que ainda está aprendendo a forma mais eficiente de conduzir um time no ataque? Smart tem um potencial muito maior que Thomas, mas precisa de tempo, repetições e experiência armando o time para poder se desenvolver. A não ser que Isaiah comece a vir do banco, ele vai tirar tempo de quadra e a bola das mãos de Smart, e ainda que HOJE Thomas seja um jogador ofensivo melhor, isso limita muito o potencial do time no médio prazo. Não da pra culpar um time por querer ganhar logo, mas o time está pensando demais no presente e menos no futuro, mesmo que isso signifique sacrificar o futuro de jogadores como Smart, Young, ou mesmo valores hipotéticos como quem o time pegaria nesse ótimo Draft.

Então o Celtics, em um vácuo, fez um bom negócio, adquirindo um bom jogador em um contrato favorável praticamente de graça. Mas resta ver se essa negociação vai custar ao time uma escolha Top12 e o desenvolvimento de seu armador do futuro - duas coisas muito mais importantes para o Celtics no médio e longo prazo do que o ex-Suns. Bom valor, mas considerável risco aqui.


Suns recebe Brandon Knight (Bucks); Bucks recebe Michael Carter-Williams (Sixers), Tyler Ennis e Miles Plumlee (Suns); 76ers recebe escolha de primeira rodada do Lakers de 2015 (protegida, via Suns).


... SUNS, WHAT ARE YOU DOING?! STAAAAAAPH!!

Antes de mais nada, uma pergunta séria: a gente tem certeza que Brandon Knight é tão bom assim? A primeira vista, é o que parece: o armador tem 18-4-5 de média com 40.8% de 3PT% e um bom PER de 18.5. Mas acontece que eu assisto basquete, e o Bucks desde o começo tem sido meu queridinho do League Pass desse ano. Então eu assisti muito do Bucks, e muito do Brandon Knight. E embora individualmente ele fizesse coisas boas, chamava muito minha atenção o quanto a presença dele atrapalhava a equipe. Ele segurava demais a bola, e parecia ter só duas mentalidades com ela nas mãos: fazer a cesta, ou dar uma assistência. Ele não rodava a bola, não se movimentava bem sem ela, e o time ficava dependente demais do que ele decidisse fazer. Uma quantidade muito irritante de posses de bola do Bucks acabava com Knight driblando a bola por 14 segundos e dando um passe para um mid-range jumper. E assim que ele saia de quadra, o Bucks começava a rodar a bola, achar jogadores livres, jogar de forma rápida e altruísta, e o time era mil vezes mais perigoso. Então não foi nenhuma surpresa alguma entrar ontem no NBA.com e descobrir que, com Brandon Knight em quadra, o Bucks tinha um rating de -0.2 por 100 posses de bola... e com Knight no banco, o Bucks tinha saldo +9.2/100 posses. Só tirando Knight de quadra, Milwaukee deixava de ser o Pelicans pra se tornar 2 pontos por 100 posses melhor que o Hawks. Ainda que boa parte disso se deva ao fato do Bucks ter um excelente banco... é bem significativo, não?

Mas o problema aqui, a meu ver, não é o Suns ter adqurido Knight, e sim ter dado a valiosíssima escolha de primeira rodada do Lakers que tinha no processo. Knight talvez até seja um melhor encaixe em Phoenix, onde jogará mais sem a bola, não vai estagnar tanto o ataque, e pode aproveitar mais seu bom arremesso, mas ele ainda é um jogador questionável, que vai ganhar um salário enorme ao final do ano (quando é FA restrito e alguém vai oferecer um contrato enorme)... e você da em troca uma escolha de Draft que tem tudo para ser Top6, seja esse ano ou no próximo?! Ahn?! Qual a lógica disso?? Porque não pegar Knight ao final da temporada, então? A troca do Dragic foi desfavorável, mas foi inevitável dada a situação que o armador colocou o time. Mas as subsequentes foram horríveis, e cheiram ao pânico de um time desesperado para ir aos playoffs. Trocar Thomas por absolutamente nada, depois trocar seu ativo mais valioso por um armador que é free agent ao final do ano, são duas trocas horríveis para Phoenix.

Eu não faço a melhor idéia do que o Suns estava pensando aqui, e embora eu admire bastante o GM Ryan McDonough, a minha impressão é de que ele está cometendo erro atrás de erro. Knight é comprar alto em um jogador mediano, e não só é um downgrade em relação a Dragic/Thomas, a escolha que mandaram embora por ele é mil vezes mais valiosa do que qualquer uma das três que tenham recebido no dia. O Suns saiu mais fraco dentro de quadra, e muito mais fraco em termos de ativo par ao futuro. Dia horrível de Phoenix. Perder Dragic era inevitável, e ao preço que receberiam, um grande golpe, mas não precisava jogar tudo pra cima e fingir um ataque cardíaco desse jeito.

Enquanto isso, o Bucks conseguiu talvez o roubo do dia. Knight era free agent ao final do ano, e com bons números, era certeza que alguém iria oferecer um contrato máximo para o armador, ou próximo disso. Milwaukee não queria pagar Knight esse valor todo, mas a alternativa de perdê-lo de graça também não era das mais interessantes. Então eles conseguiram a melhor alternativa possível, mandando Knight para Phoenix em troca de um ótimo retorno por um jogador que provavelmente perderiam de graça mesmo. Tyler Ennis e Miles Plumlee são boas peças de rotação para um time cujo grande trunfo na temporada é sua enorme profundidade e versatilidade, e Michael Carter-Williams é um grande talento que estava desperdiçando seus anos formadores em um time horrível que só queria saber de perder. Só de pensar em "MCW, Ennis e Plumlee por Knight", eu já acho que foi um excelente negócio para Milwaukee, mas quando lembramos que Knight era FA ao final do ano e ou iria sair, ou receberia uma bolada que não merecia e entupiria o cap do Bucks, esse negócio fica ainda mais espetacular. Tirando Miami, Milwaukee é o grande time vencedor da noite.

E claro, o maior vencedor em toda essa troca provavelmente foi o próprio Michael Carter-Williams. MCW sempre foi muito talentoso e um tanto quanto complicado, um grande talento com diversas limitações, que estava adquirindo maus hábitos e evoluindo muito lentamente em um time que pouco lhe oferecia de ajuda ou condições de crescer. Agora ele vai para um time extremamente profundo e talentoso onde vai jogar logo de cara em jogos importantes e competitivos, vai ter que evoluir na marra... e talvez mais importante, vai jogar para Jason Kidd, que sabe exatamente como é ser um armador incapaz de arremessar e que é a melhor pessoa não só para moldá-lo em um jogador melhor, como em saber tirar o máximo de suas habilidades. Antes preso no fundo do poço da NBA, de repente MCW foi para um dos times mais jovens, talentosos e promissores da NBA. 

Quanto ao Sixers, bem, essa foi a troca mais Sixers possível, trocando seu melhor jogador por mais uma escolha futura de Draft. Claro, juntando as peças de outras duas trocas...


Sixers recebe JaVale McGee e uma escolha de primeira rodada de 2015 protegida (Thunder) do Nuggets

Sixers recebe Isaiah Canaan e uma escolha de segunda rodada; Rockets recebe KJ McDaniels

...ai é mais fácil ver o conjunto todo, e é hilário. Todo mundo sabia que o Sixers estava em modo "tank" descarado de longo prazo, destruindo seu time o máximo possível para ser ruim durante anos a fio, juntar vários ativos e jovens jogadores, e eventualmente, muito eventualmente, voltar a disputar alguma coisa. E claro, quando já se passaram dois anos e parece que o Sixers está começando a dar alguns passos rumo a ser um time de verdade, eles trocam dois dos seus três melhores jogadores para dar mais três passos para trás. Funhé.

Não que dê para criticar as trocas em si. Aquela escolha protegida do Lakers (Top5 esse ano, Top3 ano que vem e 2017, desprotegida em 2018) é um ativo valiosíssimo, e um excelente retorno por um jogador que já estavam querendo mover faz algum tempo. E McDaniels saiu de graça para um jogador tão bom... mas ele era um free agent restrito ao final do ano, e possivelmente o Sixers não iria querer pagar seu valor de mercado, então pelo menos pegou o talentoso e intrigante Canaan no processo por um jogador que sairia de todo modo. Não foram maus negócios.

Ainda assim, é hilário ver a que ponto vão os esforços do Sixers para continuar reconstruindo e não se importando a mínima em ter um time decente. Agora o time vai afundar ainda mais rumo a pior campanha da NBA (provavelmente o maior objetivo das trocas), e ficar ainda mais longe de ser algo respeitável e decente na liga. E claro, receber JaVale McGee (cujo salário o Nuggets queria se livrar) ajuda ainda mais nesse processo de "ser o pior possível".


Rockets recebe Pablo Prigioni; Knicks recebe Alexey Shved e duas escolhas de segunda rodada

Entre Prigioni e McDaniels, o Rockets fez duas trocas interessantes para reforçar seu elenco e, principalmente, seu banco. Prigioni talvez nem faça tanta diferença assim, mas é uma proteção para os PGs de um time que queria e não conseguiu ficar com Goran Dragic. E KJ McDaniels é uma ótima adição, um bom defensor capaz de jogar (e defender) em três posições e que adiciona habilidade atlética e versatilidade ao Rockets. Nenhum provavelmente é o tipo de troca que sozinha vá mudar o destino do time, mas em dúvida Houston é um time melhor e mais versátil agora com esses dois a bordo. E caso Houston decida por mantê-lo, McDaniels também oferece uma opção jovem e promissora para o futuro da equipe.

Para o Knicks, eles simplesmente se livram de um jogador que não queriam e, embora Shved provavelmente também não faça nenhuma diferença, pelo menos garantem duas escolhas de Draft no processo para aumentar seus limitados ativos.


Nets recebe Thaddeus Young; Timberwolves recebe Kevin Garnett.

Uma troca interessante pra ambos, além das óbvias histórias de "KG voltando pra casa!", ainda que carregue seus riscos.

No caso do Nets, eles ainda estão tentando equilibrar a difícil dualidade de vencer agora com um time ruim, e cortar custos ao mesmo tempo. A troca economiza 3M de dólares esse ano - o que, entre salários, multas e semelhantes, economiza ainda mais para o time, na casa dos 10M - para Brooklyn, mas dentro de quadra, a troca também faz bastante sentido. Garnett agora é basicamente um pivô de tempo integral, mas o time já tem outros dois pivôs (Mason Plumlee e Lopez) produzindo ainda mais, e que dificilmente conseguem jogar juntos. Trocando KG por Young, o time ganha um legítimo PF que teria muito mais facilidade de se encaixar com Lopez e Plumlee, e que torna o time mais barato, mais jovem, e principalmente mais atlético. Economizar uns dólares é bom, mas para um time que não é dono de sua própria 1st round pick, também aumenta as chances do time de conseguir uma vaga nos playoffs.

É claro, eles também assumiram um razoável risco. Young tem uma player option para o ano que vem de quase 10M, e se ele aceitar, a troca vira um tiro no pé. Garnett ganhava mais, mas também era um contrato expirante, e se Young aceitar sua opção, isso significa que o time economizou 3M esse ano (em salary cap) mas gastou 10M a mais em 2016, pagando multas e sem liberar nenhum espaço salarial. Brooklyn provavelmente está apostando que Young vai sair do contrato e tentar ganhar um contrato mais longo e garantido em um mercado inflacionado, mas se ele ficar, essa troca pode dar muito errado. 

Para o Wolves, nada muda dentro de quadra. Mas aceitem de alguém que acompanhou a Era Garnett em Boston: Garnett é o tipo de jogador que faz muita diferença nos companheiros jovens. Rondo e Perkins são dois exemplos, e ter alguém tão competitivo, com tanta liderança e intensidade quanto KG pode mudar a vida de um jogador ainda em formação. Garnett ensina os jovens sobre defesa, sobre se importar, sobre jogar em equipe, sobre apoiar os companheiros. Mesmo velho e no fim da carreira, isso sempre se destacou pra mim em KG: se um colega está se voltando contra o técnico, ou deixando de jogar pro time pra tentar conseguir seus próprios números, ele vai lá arrumar as coisas do seu jeito. Em um time jovem, imaturo e ainda em formação como o Wolves, esse é o tipo de presença que pode fazer toda a diferença para o futuro, acelerar o desenvolvimento dos jovens e ensiná-los a jogar basquete do jeito certo. Os jovens talentos de Minny se beneficiarão de ter KG por perto, e portanto foi uma boa troca.

(Isso significa que o Wolves compensou a grande besteira de trocar uma 1st rounder de Miami pelo Thad Young? NÃO! Mas ameniza um pouco...)


Wizards recebe Ramon Sessions; Kings recebe Andre Miller

Eu gosto dessa troca para ambos. Wizards recebe um armador mil vezes mais jovem e atlético que, embora não venha jogando bem, pelo menos oferece uma opção para o time capaz de atacar a cesta para cavar faltas ou abrir espaços para os passes - o que eles definitivamente não tem quando John Wall está no banco. Então ajuda a reforçar um banco complicado. Embora eu seja suspeito pra falar, sempre fui fã de Sessions e acho que pode contribuir no time certo. Em um papel limitado, este pode ser Washington.

Para o Kings, não só é bom receber uma presença veterana em um vestiário tão complicado e disfuncional, como o time também precisa urgente de alguém capaz de distribuir o jogo. O time não tem nenhum bom passador, e para um time jovem precisando evoluir, é importante ter alguém capaz de dar a bola a todos os jogadores em boas posições e situações. Miller é um encaixe bem melhor nesse time, e ainda que não vá fazer muita diferença prática, pode oferecer o tipo de ajuda que muitos jogadores lá precisam. 


Blazers recebe Alonzo Gee e Aaron Afflalo; Nuggets recebe Victor Claver, Thomas Robinson, Will Barton e uma escolha protegida de Draft de 2016.

Eu estou adorando times do Oeste fazendo trocas para vencer agora enquanto a janela está aberta. E foi o que o Blazers fez. A escolha futura é protegida na loteria, então provavelmente vai para o Nuggets já em 2016 (a não ser que LaMarcus Aldridge saia ou algo muito errado aconteça), mas o Blazers precisava de profundidade no perímetro para competir mais seriamente agora pelo título. E foi o que eles conseguiram em Afflalo. O SG está tendo um ano bastante decepcionante e todos seus números caíram, mas ele joga em um dos mais disfuncionais times de toda a NBA, e uma mudança para um time que joga com velocidade, boa movimentação de bola e de forma coletiva pode ser o que ele precisa para retomar a boa forma. E se retomar, ele é algo que o Blazers precisa, alguém capaz de fazer um pouco de tudo vindo do banco - criar para si e para os outros, arremessar de fora para espaçar a quadra, defender em bom nível, etc. Ele não tem o tamanho e a força física para reproduzir o papel que Batum deveria ter nessa equipe, então ele não resolve os maiores problemas do time... mas ele ajuda e torna o time mais profundo e versátil. Quando você está com a janela totalmente aberta para o título, você tem que fazer o possível para aumentar suas chances, e foi o que o Blazers fez aqui. Uma boa troca.


Celtics recebe Luigi Datome e Jonas Jerebko; Pistons recebe Tyshaun Prince

Contratos expirantes por contratos expirantes, então é uma troca sem grandes consequências. Mas o Pistons trás um jogador que vinha bem em Boston para tentar reforçar a rotação em busca de uma vaga nos playoffs, e trás de volta um antigo herói e ídolo da franquia. Então... hmmm... é basicamente isso. Entre KG e Prince de volta a Wolves e Pistons, respectivamente, a nostalgia foi a maior vencedora dessa trade deadline.


Jazz recebe Kendrick Perkins, Grant Garrett, uma 1st round pick ainda não revelada (Thunder) e uma escolha de segunda rodada (Pistons); Pistons recebe Reggie Jackson (Thunder); Thunder recebe Enes Kanter, Steve Novak (Jazz), Kyle Singler e DJ Augustin (Pistons).

Para analisar essa troca, precisamos olhar os três times envolvidos.

Para o Jazz, manter Enes Kanter não valia mais a pena. Kanter é um jogador talentoso com conjunto de habilidades interessantes e bom potencial, mas que também vinha com várias limitações e que, sendo um free agent, provavelmente seria muito caro de manter no fim do ano. O turco tem bastante potencial, mas hoje, ele pouco oferece na defesa, e no ataque ele - apesar de potencial para ser bastante completo - é apenas um jogador de post up com bom rebote ofensivo que não faz mais nada. Ele é um desastre na defesa, e embora ofereça mais opções ofensivas ao lado de Derrick Favors, a emergência de Rudy Gobert - um defensor infinitamente melhor - tornou Kanter totalmente dispensável. A dupla Favors-Gobert tem sido 3.4 pontos por 100 posses melhor do que Enes-Favors, e considerando a extensão de Favors e o contrato máximo de Gordon Hayward, a última coisa que o Jazz quer nesse momento é acabar com sua flexibilidade salarial dando um contrato gordo a um jogador que, apesar do potencial, é só sua terceira melhor opção no garrafão e provavelmente um reserva. Então ao invés de perder o turco por nada ao final do ano, o Jazz se contentou em receber o que pudesse no mercado por ele, e faturou uma escolha de primeira rodada no processo (ainda não revelada) e Perkins (que terá um buyout para economizar uns cobres).

Para o Pistons, é simples: o time quer ir aos playoffs, e estava caminhando a passos largos para atingir esse objetivo quando perdeu Brandon Jennings, seu armador titular e o cara que deu vida nova ao seu ataque pós-Josh Smith. DJ Augustin vinha jogando bem na sua ausência, mas era claro que o time perdia bastante com essa mudança, então fazia todo o sentido para Detroit buscar um armador novo e melhor no mercado, para tentar salvar a temporada e garantir a vaga nos playoffs. O time gosta de jogar com espaçamento, e Jennings mudou o time sem Smith quando começou a atacar mais a cesta e causar caos no garrafão, e nisso o explosivo Jackson é muito melhor do que Augustin. Sua defesa também é melhor, e em geral, Jackson tem muito mais a oferecer do que Augustin, recolocando o Pistons em condições de brigar por aquela última vaga. Todo mundo lembra o que ele fez no começo do ano com Durant e Westbrook machucados, levando o Thunder nas costas com 19-5-8 de média.

Enfim, chegamos no Thunder, que em valor se saiu bem: Reggie Jackson foi importantíssimo para o time no começo do ano, mas vinha perdendo cada vez mais espaço e parecia ser mais um problema do que uma solução nos últimos tempos, especialmente desde a chegada de Dion Waiters. Além disso, era free agent ao final do ano, então o Thunder provavelmente perderia o jogador por nada. Já Perkins, eternamente mal falado e culpado pelos maus momentos do Thunder, não é um jogador que chama muita atenção e que sempre foi dispensável. Então OKC conseguiu usar os dois para reforçar seu banco, trazendo dois bons arremessadores que devem mofar na reserva (Novak e Singler) mas que ainda podem ter algo a oferecer, o jogador de garrafão que tanto queria em Kanter, e um bom PG reserva em Augustin.

Então em valor foi bom - trouxeram boas opções e rechearam o banco usando um cara que estava encostado faz tempo e um armador que não queriam mais e perderiam de graça. O que eu questiono é o quão melhor o Thunder realmente ficou com essas trocas. Nenhuma das novas adições na equipe sabe defender, para começar. Novak e Singler trazem arremessos de fora e espaçamento, então pelo menos adicionam alguma coisa, nem que seja profundidade. Mas as peças grandes são Augustin e Kanter, e embora no papel sejam boas adições - um PG reserva e um pivô capaz de pontuar perto da cesta - eles são realmente o que OKC precisa agora?

Comecemos por Kanter. O turco tem duas habilidades de nível NBA, os rebotes ofensivos e pontuar de costas para a cesta. A primeira habilidade é sempre útil, mas a segunda é incerto. Claro, jogadores assim são sempre úteis, mas não é como se ele fosse Al Jefferson no fundamento - 60th percentil dos jogadores da NBA apenas - e ele tira coisas demais da mesa. Ele é absolutamente incapaz de passar a bola, então o post up dele tem poucas chances de gerar uma movimentação favorável pro ataque e seria facilmente "anulado" em uma série de playffs, e ele descompensa sendo talvez o pior defensor de garrafão da NBA na atualidade (e é o pior protetor de aro da NBA - adversários chutam 57.6% contra ele na área restrita, pior marca da liga). Pontuação de costas pra cesta é uma habilidade sempre útil, mas o Thunder realmente se beneficiaria de ter mais um pontuador fominha que segura demais a bola, não roda o jogo e não faz os companheiros melhores, e que ainda dobra como um dos piores defensores do mundo? Realmente move tanto a agulha assim em relação mesmo a Perkins, que é um nulo no ataque mas é pelo menos um bom defensor, com o qual OKC é algo como 4 pontos por 100 posses melhor quando está em quadra? Bom lembrar também que Kanter é um free agent restrito ao final do ano, e tem potencial para receber um bom contrato. A não ser que o Thunder decida abrir o cofre para manter o jogador - sabe, dando aquele contrato que não quis dar para James Harden? - também não passa de um aluguel de dois meses.

O mesmo para DJ Augustin. Sim, ele é um bom reserva, mas não é um bom arremessador, é alguém que produz melhor quando tem a bola nas mãos, e que não defende bem. Considerando que o problema do Thunder é justamente a dificuldade de jogar em equipe, rodar a bola e achar jogadores que complemente os seus dominantes ball handlers, Augustin não me parece um bom encaixe. Talvez Jackson não estivesse rendendo por causa da personalidade, mania de querer fazer demais e excesso de toques na bola, mas como exatamente Augustin renderia melhor em uma função secundária? Talvez o pessoal ainda não desgoste dele como desgostava de Jackson, mas o que Augustin trás para quadra que é melhor que Reggie Jackson?

A velha piada: se Enes Kanter é a resposta, então eu não quero saber qual é a pergunta. Não é que o Thunder fez trocas ruins ou se tornou um time pior, nem nada do tipo. Eu só acho que as trocas foram nem de longe tão benéficas e mudam tanta coisa como as pessoas parecem pensar. Elas aumentam o potencial de OKC, e com o relógio correndo contra Oklahoma City, o time tem mais é que correr atrás dessas trocas mesmo na tentativa de conseguir alguma coisa nova. Se eu fosse o GM do time, provavelmente também teria feito ambas as trocas. Eu só acho que, no final do dia, o resultado não vai mudar em nada com os novos jogadores.


Veredito

O Phoenix Suns projetava como um grande perdedor dessa troca, mas muito mais por causa de Dragic ter forçado o time a uma situação sem solução do que por outra coisa. E a inevitável troca ruim aconteceu... só que Phoenix não parou por ai, e ao invés de pisar no estrume, se afundou até a cintura trocando seu melhor ativo por um PG overrated que vai ganhar uma fortuna no final do ano, e se livrando de outro bom PG por nada. Phoenix não fez nada para salvar o resto da sua temporada e tornar-se um time melhor no curto prazo, mas também trocou seu melhor ativo e um contrato muito favorável por um jogador mediano que ficará muito overpaid em três meses. Em outras palavras, também prejudicou em MUITO o valor do time no médio prazo. Um dia para esquecer de Phoenix, que praticamente se destruiu em duas horas.

Os grandes vencedores (pelo menos os times) foram, a meu ver, Heat e Bucks. Miami porque pegou, a baixo custo, um dos melhores PGs da NBA e a peça que faltava para o time voltar a ser competitivo e candidato as Finais em Dragic - ou, melhor dizendo, porque esse armador caiu no seu colo. E Bucks porque, em troca de um jogador overrated que eles não queriam pagar no final do ano (e provavelmente perderiam por nada), conseguiram não só um talentoso, jovem e muito mais barato armador para se juntar a seu jovem e talentoso núcleo, como também roubou junto duas boas peças de rotação em Ennis e Plumlee, e se tem um time na atualidade que sabe aproveitar o valor de um bom banco, é o Bucks. Excelentes negociações para ambos os times.

Para terminar, Celtics e Thunder também fizeram barulho, e conseguiram trocas interessantes a bons valores. Ambas aumentaram o teto da sua equipe, e maximizaram seus ativos. Ainda assim, eu não acho que de para declarar ambos vencedores ainda. OKC porque não estou convencido de que essa troca realmente faz do Thunder um time melhor ou muda a perspectiva da franquia, e Boston porque ainda tem um risco considerável dessa troca custar a Boston (por causa da pick desse ano e do desenvolvimento de Smart) muito mais do que ela adiciona no médio prazo. Ainda esperando para ser avaliado completamente.

E por fim, os grandes vencedores fomos todos nós, que temos um twitter e pudemos acompanhar em tempo real a mais maluca e divertida trade deadline de todos os tempos. E agora que finalmente colocamos toda essa loucura em contexto, é hora para mais café. Com licença. 

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