Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Uma coluna sobre mim, e Kevin Durant



Quando Kevin Durant anunciou sua decisão de ir para o Golden State Warriors formar um dos times mais talentosos da história da NBA, o que não faltou foi ver as famosas "hot takes" - opiniões fortes, polêmicas e muitas vezes idiotas - pipocando na internet. Muita gente ofendendo Durant e dizendo que ele era um covarde, ou um perdedor, ou coisa do tipo por ter tomado a decisão DELE, que fazia sentido para ELE, e que afeta a vida DELE. 

E é normal pessoas não gostarem da decisão do Durant. Ela afeta vários fatores que diversas pessoas consideram importantes: muitas valorizam a competição dentro da NBA, por exemplo, e a ida de Durant não só adicionou um jogador Top3 da NBA a um time que venceu 73 jogos ano passado e esteve a 5 minutos de dois títulos seguidos, como ainda derrubou da disputa o único time no Oeste que realmente assustava o Warriors. Outros podem valorizar o jogador que passa a carreira inteira no mesmo time e tem um peso enorme que vai muito além do basquete, virando um símbolo da franquia e da cidade (Duncan, Dirk, Kobe alguns exemplos recentes que vem à mente), e Durant - o símbolo do basquete de OKC - deixando a cidade nos privou de ver mais uma história dessas com um dos melhores atletas da nossa geração. A preferência dessas pessoas foi afetada negativamente pelo cenário que se formou na NBA após essa decisão.

Ou seja, é comum que pessoas se sintam, em um nível pessoal, incomodadas com a decisão de Durant. Cada um de nós tem um conjunto de preferências e vontades, coisas que valorizam e que buscam, e a decisão de Durant pode ter contrariado muitas dessas. Então a nossa reação natural é de decepção, afinal a realidade não seguiu as nossas expectativas, e por isso desgostamos dessa realidade. Gostaríamos que fosse diferente, ressentimos de como aconteceu, e lamentamos. É a natureza humana, e isso não tem nenhum problema.

O problema é não reconhecer que existe mais do que um tipo de preferência e de ponto de vista no mundo, e que não necessariamente todos tem que seguir o mesmo. Ao mesmo tempo que a decisão de Durant afetou negativamente muitas pessoas por ir de encontro às suas preferências, certamente existe muitas outras pessoas cujo conjunto de preferências foi afetado positivamente pela ida de KD a Golden State, e que agora estão felizes e elogiando a decisão.

E também, claro, tem o lado da pessoa mais importante nessa história toda: Kevin Durant. Todo mundo quis atribuir motivos à sua decisão - ele quer vencer do jeito mais fácil, ele não quer a pressão de ser uma estrela, etc - mas a verdade é que ninguém faz ideia do que levou ele a tomar a decisão. E se ele simplesmente não estivesse feliz jogando em OKC? E se ele não gostasse de jogar com Westbrook, ou no esquema ofensivo estagnado do Thunder? E se ele quisesse um novo começo, morar em San Francisco, ou jogar em um time com um estilo diferente? A gente não sabe, e nunca vai saber. Os motivos são dele. E por isso é besteira tentar atribuir motivos para o que o jogador fez ou deixou de fazer, especialmente aqueles que convenientemente servem à narrativa que queremos criar por causa das nossas próprias preferências.

Em outras palavras, o que nós discutimos não é se a decisão de Durant foi certa ou errada. Nós discutimos como ela afetou as NOSSAS preferências, e qual a nossa reação pessoal a elas. Mas ninguém admite isso. E um dos motivos é porque queremos excluir ao máximo o "eu" quando discutimos de esporte - se você começa a falar das suas visões e preferências, de repente sua opinião vai ser considerada mais subjetiva do que objetiva, e talvez ser menos considerada. E por isso tanta gente tenta omitir o "eu" da conversa e falar como se existissem fatos sobre o que é certo ou errado, sobre o que Durant deveria ou não ter feito, e começa a criar rótulos e narrativas imbecis para tentar explicar porque Kevin Durant - um ser humano tão complexo quanto todos nós, com gostos, preferências, ideias e objetivas totalmente próprios que não dizem respeito a nenhum de nós - tomou uma decisão que vai de contro à nossa configuração pessoal enquanto indivíduos.

Em resumo, é perfeitamente normal para um fã ou torcedor se sentir traído pela decisão de Kevin Durant (o lado irracional, passional do torcedor), mas não achar que isso faz de Kevin Durant um traidor (o racional, baseado em fatos)... mas é isso que as pessoas tentam fazer, racionalizar sua irracionalidade para torná-la mais "aceitável" e transformar aquilo em um fato... e isso que é o mais absurdo.

Kevin Durant tomou a decisão de ir para o Warriors, o que diminui a competitividade da NBA e forma um time claramente superior (no papel) aos demais. Mas eu gosto de competitividade e rivalidades, e não gosto de times favoritos. Então a decisão de Durant foi contra o meu gosto. Então, ao invés de reconhecer que ele funciona diferente de mim e teve razões diferentes das minhas para tomar uma decisão que não me dizia respeito, e assumir que eu simplesmente não gostei da decisão, eu vou ficar falando que o Durant é medroso, que é covarde, que é desleal, etc e tal para tentar justificar como EU me sinto em relação a ele.

Desnecessário dizer o quão idiota é isso. Mas é o mundo esportivo como vivemos hoje, infelizmente. Ninguém quer admitir que sua reação a um fator as vezes é totalmente pessoal e baseada nas suas individualidades. E claro, ninguém quer admitir que possa existir outras pessoas que veem o mundo diferente que você - todo mundo só quer estar certo (e isso se estende MUITO além dos esportes, btw).

Então claro que, quando eu declarei no Twitter que a decisão de Durant era interessante e que eu estava ansioso por ver como seria esse time do Warriors - ao invés de criticar seu caráter e sua decisão - nem todo mundo entendeu meu ponto de vista. Para colocar de forma leve.

E um seguidor, particularmente revoltado, declarou que meu problema era preferir ver um grande time do que ver a liga sendo equilibrada e competitiva. Quando eu neguei que fosse o caso, ele questionou então: "Então o que você quer ver da NBA?".

Embora a pergunta tenha sido feita em tom de crítica, ela me fez pensar. Assim como todo mundo tem suas preferências, eu tenho as minhas, mas nunca tinha parado para pensar a fundo na questão. Eu acompanho esportes desde que me lembro, e embora torça pelos meus times, eu sempre dei uma importância maior para os esportes em si do que só assistir pelos meus times. Eu, como qualquer um, também quero ver certas coisas acontecendo, e fico feliz ou triste, animado ou decepcionado, quando algum acontecimento ou fato vai de acordo ou contra meus gostos pessoais.

Mas, no final, eu voltava para a mesma pergunta.

O que eu quero quando se trata de esportes?

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Para responder a essa pergunta, eu preciso fazer um paralelo com uma das minhas obras favoritas.

Hunter x Hunter é um mangá de Yoshihiro Togashi, mais conhecido no Brasil por sua outra obra famosa, YuYu Hakusho (sim, aquele da Manchete). A obra conta a história de "hunters", ou "caçadores": são pessoas que passam a vida "caçando", "procurando" ou "buscando" alguma coisa (dependendo da tradução que você quiser usar). E o que um Hunter procura pode ser qualquer coisa que o atraia: alguns passam a vida procurando criminosos, outros procuram novas espécies de animais. Alguns procuram jóias raras, e outros procuram achados arqueológicos. Não importa o que, mas todos tem que procurar alguma coisa, em geral motivados pelo desejo de aventura e sede de conhecer o desconhecido. É uma das melhores obras que já li, tanto para o gênero de ação como pela genialidade da mensagem de algumas das suas sagas, e recomendo para os fãs do gênero.

E em Hunter x Hunter existe um personagem chamado Ging Freecs. Ging é um Hunter bastante famoso, considerado um dos personagens mais habilidosos e poderosos da saga e, por muitos, o melhor Hunter do mundo. No entanto, Ging também é considerado um grande mistério: alguém que desaparece com frequência, faz as coisas do seu jeito sem pensar em mais nada, que está constantemente mudando de ideia e de objetivos, e que é praticamente impossível de se encontrar já que nunca fica parado no mesmo lugar. Embora ele seja um Hunter de arqueologia, ninguém sabe exatamente o que ele quer ou o que está buscando na vida. Ele vai aparecer onde e quando quiser, e desaparecer para cuidar dos seus assuntos na maior parte do tempo.

Em dado momento, um outro personagem pergunta a Ging exatamente o que ele procura. Qual é seu objetivo final, o que ele almeja encontrar.

A resposta? "O que eu procuro... é alguma coisa que não consigo enxergar diante de mim".

Eu sempre achei isso genial. Ging não tem um objetivo fixo: ele sempre está à procura de algo novo, de algum novo desafio, algo que ele ainda não tem e terá prazer em ir atrás. O que é essa coisa, na verdade, não importa. O que ele quer é o desafio e a emoção da jornada, o que importa para ele é o caminho, e não onde esse caminho leva. Quando atingir seu objetivo, ele parou de ser interessante e é hora de procurar algo novo. Algo que ele não tem diante dele.

É exatamente assim que eu me sinto quando fã de esportes, e foi a conclusão que eu cheguei quando penso sobre o que eu quero como alguém que ama e acompanha esportes. O que eu quero ver acontecendo é algo que eu ainda não tenho.

Em outras palavras, respondendo à pergunta do internauta, eu não sei exatamente o que é que eu quero. E isso não é um problema, porque o que eu quero pode ser atingido independente de qual a forma. O que eu quero é algo novo, algo diferente e que nunca tenha visto antes. Eu quero a experiência de ver algo que me eleve a um patamar maior como fã de esporte. O que isso é, não importa de verdade. Pode vir sobre diferentes formas: uma virada espetacular, uma temporada que quebra recordes, um jogador diferente e único. Eu quero ver dois dos melhores jogadores da história da MLB tendo seus auges juntos. Eu quero ver uma rivalidade perfeita entre dois dos 5 maiores quarterbacks da história da NFL. Eu quero ver a maior virada da história dos esportes americanos. Eu quero ver um jogador aleatório vivendo uma história improvável e mágica com final feliz. Eu quero ver um jogador que muda a forma como eu (e a própria NBA) penso um esporte. Mesmo que, até essas coisas se concretizarem, eu não fazia ideia de que eu queria tanto elas.

Quando em 2010 LeBron anunciou sua decisão de deixar o Cavaliers para se juntar a Wade e Bosh em Miami, minha primeira reação foi negativa. Ao invés de vencer as dificuldades em Cleveland, LeBron parecia estar pegando o "caminho mais fácil" ao se juntar a duas outras superestrelas, e assim ele nunca se realizaria como completo superstar da NBA. Eu queria ver LeBron atingindo seu auge e superando as barreiras na própria força, não na força de Wade e Bosh.

Depois, eu percebi o quanto isso era idiotice. Eu ainda estava muito apegado ao estereótipo Jordan da superestrela que centraliza o jogo, arremessa todas as bolas e domina as atenções. O que eu percebi depois - e, felizmente, a tempo - é que LeBron era um jogador diferente, mais voltado para o jogo coletivo, e que ter grandes companheiros ao seu redor era uma condição importante para que James conseguisse tirar o máximo do seu jogo, e enfim atingisse todo seu imenso potencial como jogador de basquete. Isso nunca teria acontecido naqueles times horríveis de Cleveland. Então a decisão de LeBron, no final, acabou me proporcionando duas coisas que eu nunca poderia ter tido como fã de esportes se ele tivesse ficado em Cleveland: a possibilidade de ver o jogador mais talentoso que já assisti realizando seu potencial e atingindo seu auge como jogador de basquete, e ver um time tão bom, tão único e que jogava um basquete tão maravilhoso de se assistir como aquele Heat 2012-2013.

(Tangente rápida: uma grande pena que o Heat de LeBron nunca tenha conseguido uma temporada completa, do início ao fim, em plenos poderes. Em 2012, o time só atingiu seu auge nos playoffs, quando Bosh machucou, LeBron mudou para PF e o time descobriu seu small ball. E em 2013, o time chegou nos playoffs desgastado demais, cansado demais, e nunca jogou seu melhor basquete. Eles nunca tiveram aquela temporada completa chutando bundas a torto e a direito que mereciam. Nossa perda.)

Meu jogo favorito que assisti ao vivo? G4 da série entre Mavs e Blazers em 2011, na primeira rodada dos playoffs. Foi o jogo que Brandon Roy, praticamente fora da NBA a essa altura por causa dos problemas físicos que destruíram o que vinha sendo uma fantástica carreira, saiu do banco e milagrosamente voltou o relógio alguns anos, anotando 18 pontos - inclusive os oito finais do Blazers na partida - e dando quatro assistências no quarto período apenas, enquanto Portland tirou uma vantagem de 18 pontos de Dallas no período final para igualar a série em 2-2. Cinco anos depois, eu ainda lembro daquele jogo como se fosse hoje.

Esse jogo importou no grande esquema das coisas? Provavelmente não. Dallas ainda venceu a série em 6, e algumas semanas depois venceu o Miami Heat para conquistar seu primeiro título de NBA. Brandon Roy aposentou naquela offseason, voltou em 2012 e aposentou de vez algumas semanas depois.

Mas aquele ainda é, e sempre será, o jogo que eu lembro quando penso nos playoffs de 2011. Foi simplesmente perfeito: um dos meus jogadores favoritos e figura trágica da NBA, alguém que eu já tinha aceitado a decadência e sabia (ou achava que sabia) que nunca mais veria jogando no alto nível do passado, de repente se rejuvenescendo por 12 minutos e jogando talvez o basquete mais inspirado da sua vida, conduzindo uma das maiores viradas da história dos playoffs da NBA com uma das mais memoráveis performances da história da NBA em quartos períodos. Foi imprevisível, e foi emocionante de se contemplar. Ele me deu algo que eu nunca tinha visto, que eu nunca pensei que veria, e no final das coisas, uma memória para sempre.

Como Bill Simmons escreveu uma vez, nós fãs assistimos a 1000 jogos em busca de algo especial, algo único e fantástico, e 999 vezes ela não acontece. Mas quando tem a 1000th vez, ela acontece, e é algo que nunca mais vamos esquecer, e que fazem valer todo o esforço. A atuação de Brandon Roy foi a milionésima vez. Eu nunca esquecerei de assistir esse jogo enquanto viver.

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Então voltando ao ponto inicial: o que isso significa em relação a Kevin Durant?

Kevin Durant deixando o Thunder nos privou de muitas coisas boas. Ver aquele time jovem do Thunder que surgiu para o mundo em 2010 tentar subir a montanha, enfrentando seus próprios demônios e dificuldades para tentar chegar no topo da liga, era uma histórias mais interessantes de se acompanhar na NBA nesses últimos 7 anos. Ver aquele time enfim atingindo o topo, superando os poderosos Warriors e Cavs, sua crescente rivalidade com Golden State, a eterna dúvida se Durant e Westbrook algum dia achariam a forma ótima para conviver... são todas coisas que eram muito divertidas.

Eu queria muito ver a história do Thunder do começo ao fim, até por ser uma das histórias mais fáceis de se acompanhar: o time jovem e promissor de 2008/2009, o time dando um salto em 2010, a evolução nítida de 2011, finalmente chegando nas Finais em 2012, a troca de Harden e as lesões de Durant e Westbrook, a quase redenção em 2016... era uma história que muitos (inclusive eu) queriam ver tendo um final, e de preferência um final feliz. Era algo que eu queria ver, e agora (ou pelo menos por enquanto) não verei mais por causa da decisão de Durant.

Mas ao mesmo tempo, eu já vi antes times subindo a montanha e atingindo o título. Eu já vi times ultra-talentosos, mas de encaixe difícil, encontrando uma forma de coexistir e tirar o melhor de si mesmo rumo a um título. Eu já vi dois dos 5 melhores jogadores da NBA jogando juntos no seu auge. Não que seja uma história que não seja ótima de se rever várias vezes com diferentes protagonistas, mas não é exatamente algo novo para mim.

Mas eu nunca na vida vi um time de basquete tão talentoso - pelo menos no papel - quanto Golden State é agora com Kevin Durant. Eles tem a chance de fazer algo que eu nunca vi antes, de quebrar recordes e atingir um nível de basquete que eu nunca vi. Eu sempre me ressenti de nunca ter a chance de ver o Celtics de 86 ou o Bulls de 96 ao vivo - na minha opinião os dois melhores times de basquete da história da NBA - e agora tenho a chance de acompanhar um time que pode ser tão bom quanto, ou até melhor, do que esses dois times lendários. É uma oportunidade nova que essa decisão de Durant também trouxe.

E também tem o seguinte: é possível que, assim como LeBron, existe um jogador melhor dentro de Durant esperando para sair na situação certa, e com os companheiros certos. Larry Bird não teve seu auge como jogador de basquete em 1986 apenas porque, individualmente, ele estava no seu auge físico e técnico - um dos principais motivos é que o talento no Celtics ao seu redor teve um notório auge naquela temporada, e isso permitiu que Larry Legend explorasse mais partes do seu jogo que antes ele não tinha como: sua maestria nos passes, sua versatilidade para executar múltiplas funções, e até mesmo sua criatividade para tentar coisas novas quando os jogos estavam entediantes. Bird teve seu auge em parte porque o coletivo ao seu redor era melhor, e muito mais preparado para que ele tirasse o máximo de seu jogo.

Talvez o mesmo aconteça com Kevin Durant: em um time mais coletivo, com mais opções, com QI coletivo fora de série e tantos jogadores completos, talvez Durant agora pode focar em mostrar e elevar partes do seu jogo que não apareciam antes para nós tão bem. Com menor responsabilidade para pontuar, e com mais espaço do que nunca, pode ser que vejamos mais de Durant como passador e criador, ou que ele decida focar mais na sua defesa, que tem chance de ser excepcional. Talvez ele tenha mais assistências e mais roubos de bola do que nunca, e arremesse algo como 55-43-90 na temporada. Com seus companheiros melhores e jogando um estilo de basquete mais favorável, pode ser que o próprio Durant leve seu jogo a um nível que não tínhamos visto antes.

Isso tudo é melhor do que a chance de ver o Thunder ser campeão com Durant e Westbrook? Para mim agora é, e por um motivo simples: eu tenho a chance de ver tudo isso acontecendo agora, enquanto que ver o Thunder campeão com West e KD não. Qual é a graça de buscar algo que não existe mais? Por que se apegar a algo que deixou de existir, se eu posso ir atrás de novas possibilidades e novos objetivos, coisas que eu nunca tive antes e que podem cumprir seu papel para mim, de me levar a um patamar mais alto como fã do esporte? A decisão de Durant fechou algumas portas e nos privou de algo muito legal, mas ao mesmo tempo abriu outras portas e outras possibilidades. A grandeza que podemos ver hoje é diferente da de ontem, mas não necessariamente é pior.

Essa foi a lição que eu aprendi ao longo da vida esportiva. Ao invés de me apegar a algo que não existe mais, eu simplesmente começo a buscar algo novo toda vez que a situação mudar, e com isso eu - de novo, EU - posso aproveitar plenamente o que os esportes que eu tanto amo me oferecem. Durant nos tirou algumas coisas boas, mas nos oferece outras em troca: eu posso lamentar pela perda das primeiras, mas isso nunca pode me impedir de aproveitar e almejar as coisas novas que eu não poderia ter antes, e agora posso. As coisas mudam rápido demais nos esportes. Se não soubermos nos adaptar igualmente rápido, podemos perder chances únicas. Não importa o que eu quero. O que importa é que eu sempre quero algo novo, algo diferente, algo que vai me elevar a um patamar maior como fã de esportes. E quando isso acontecer, eu posso ficar satisfeito sabendo que, naquele momento, eu serei mais rico em experiências esportivas do que era antes. E, minutos depois, me preparar para buscar o próximo objetivo.

Ou pelo menos isso é o que eu sinto. Você é livre para sentir ou pensar algo totalmente diferente, com base nas suas próprias preferências e opiniões. Isso é perfeitamente normal.

Só é uma grande idiotice achar que o que você sente é a verdade do mundo, e que um jogador de basquete profissional que precisa pensar na sua própria vida e carreira e pensa diferente de você é um traidor. Ou um covarde. Ou qualquer outro adjetivo imbecil que tenha surgido desde o dia 4 de julho.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A melhor e mais maluca trade deadline

Melhor resumo para ontem a tarde, impossível 



Antes de começar, sirva-se de uma xícara de café. Agora outra. E mais uma, só pra garantir. Estamos prestes a nos embaralhar e confundir falando da mais agitada e mais insana trade deadline que eu me lembro. 38 jogadores (isso da 8% de toda a NBA!) foram trocados, junto com 7 escolhas de primeira rodada de Draft, em um período de 90 minutos. Pelo menos seis (!) times de playoffs estiveram envolvidos em trocas. Foi uma sequência tão grande de trocas, negociações e movimentações que foi praticamente impossível acompanhar em tempo real, ao ponto que até o próprio Woj entregou pra Deus:




Então foi maluco a esse ponto mesmo. A quantidade de jogadores que disse não ter idéia de onde jogava ou quem eram seus companheiros ao final de toda a zona foi incrível. Eu próprio estava na dúvida se tinha sido ou não trocado para o Suns. Então vamos tentar passar rapidamente por todas essas trocas - sim, uma a uma - pra ver o que saiu de bom e o que saiu de ruim dai.



Suns recebe John Salmons (Pelicans) e duas escolhas futuras (2017 e 2021) de primeira rodada (Heat); Pelicans recebe Shawne Williams, Norris Cole e Justin Hamilton (Heat); Heat recebe Goran e Zoran Dragic (Suns)

A mais importante troca da noite envolveu Goran Dragic, que tinha dado essa semana um ultimato para a diretoria do Suns trocá-lo, dizendo que não renovaria com o time ao final da temporada... e ainda destruiu seu próprio valor de troca afirmando que só renovaria contrato se fosse trocado para Knicks, Heat ou Lakers - três times sem nenhum bom ativo para trocar pelo esloveno. Celtics, Kings e Rockets estavam interessados no armador e teriam muito mais a oferecer ao Suns por ele, mas com essa demanda mimada, os três se retiraram da troca e forçaram Phoenix a aceitar a melhor oferta lixo entre as "demandas" de Dragic. O Knicks nada tinha a oferecer, e o Lakers (sabiamente) não iria envolver Randle ou a proteção da sua escolha de primeira rodada que hoje pertence ao Suns, então sobrou para Phoenix aceitar esse pu-pu-platter de Miami por alguém que eu votei como  2nd Team All-NBA em 2014. É um retorno muito fraco por ele, mas é o melhor que Phoenix tinha condições de conseguir nessas circunstâncias.

E Miami aproveitou para roubar a peça que mais precisava nessa trade deadline. Talvez nenhum time o ano todo teve pior produção de seus PGs do que o Heat, onde Norris Cole e Mario Chalmers passaram de "ruins" para "legitimamente prejudiciais" - um problema que ficou ainda mais evidente sem Wade para assumir parte das funções de ball handler. Dragic chega para resolver a questão. Ainda que seus números tenham caído em 2014/15 (16, 4, 4), isso se deve principalmente ao fato de que Dragic tem jogado principalmente como SG, já que o Suns emprega o tempo quase todo lineups com dois armadores diferentes (Bledsoe, Thomas e Dragic), e tanto Bledsoe como Thomas costumam ter mais a bola nas mãos do que Dragic. Mas ano passado todo mundo viu o quanto Dragic pode ser devastador, quando teve 20-6-3 de médias com 50.5 FG% e 40.8 3PT%. Miami precisava de um armador, e agora achou um excelente.

O que é ainda mais interessante é que, em Phoenix, Dragic causou seus maiores estragos no pick and roll e no pick and pop. Aliás, o pick and pop Dragic-Channing Frye foi, em 2014, a jogada com maior eficiência de TODO o basquete, já que Dragic é um especialista em atacar e finalizar perto da cesta (64.8 FG% na zona restrita), abrindo diversas opções de passe no processo. Então é difícil não salivar quando lembramos que agora o eslovêno terá outra máquina de pick and pop em Chris Bosh, e uma excelente opção de pick and roll no novo fenômeno Hassan Whiteside (1.57 PPP em jogadas de pick and roll). Não só é o jogador da posição que Miami mais precisava, mas é alguém que (em teoria) casa perfeitamente com as outras opções já na equipe e que trás exatamente o que o time mais precisa nesse momento.

E a verdade é que, se Wade voltar saudável, o Heat agora vira um dos times mais assustadores do Leste. É verdade que o time perdeu um pouco da sua profundidade para essa troca, mas um quinteto Dragic-Wade-Deng-Bosh-Whiteside é legitimamente assustador, e consolida Miami como um sério candidato ao título do Leste. Agora o Leste tem quatro times legitimamente brigando pelo título da conferência (Miami, Atlanta, Cleveland e Chicago), além de alguns sleepers (Washington e Toronto), e o nível de entretenimento desses playoffs subiu exponencialmente. Aquisição fantástica de Miami. Lembra quando em Setembro tinha muita gente que achava que Miami deveria tankar pós-LeBron?

O Pelicans aqui aproveitou para aumentar suas opções e profundidade, mas nada que vá mudar seu destino. E Phoenix não teve escolha, então pelo menos pegou o melhor retorno possível e abriu espaço pra Isaiah Thomas e Bledsoe jogarem mais tempo juntos e assumirem o comando do...


Suns recebe Marcus Thornton e uma escolha de primeira rodada de 2016 de Cleveland; Boston recebe Isaiah Thomas

Wait, what?! 

Para falar mais dessa troca, precisamos falar de outra do Suns, então por enquanto, vamos focar no Celtics.

Em termos de valor, esse foi um golpe fantástico do Celtics. Thornton era um contrato expirante de pouco valor, e essa escolha do Cavs (que o Celtics pegou para absorver o contrato de Tyler Zeller, que tem jogado bem em Boston) provavelmente não teria muito valor a não ser que LeBron decida que quer voltar pra Miami ou jogar baseball. E em troca pegou um dos melhores armadores reservas da NBA, alguém que consegue atacar a cesta, pontuar a vontade e carregar seu ataque por sólidos minutos - e cujo contrato é uma pequena barganha a 7M ao ano. Então em termos de valor, foi uma grande vitória. 

O que me incomoda aqui é o timing. Boston trocou Rondo e Green, o que em parte poderia indicar que o time queria mais um ano de tanking, mas dai os boatos de que o Celtics estava no mercado atrás de algum bom veterano começaram a surgir. O próprio Dragic era uma opção, mas quando ficou claro que ele não renovaria fora do eixo LA-NY-Miami, Celtics se contentou com Isaiah Thomas. Estando 1.5 jogos apenas atrás de uma vaga de playoffs, Boston começou a pensar que o melhor a fazer era encurtar sua renovação e chegar logo aos playoffs, e fez mudanças para aumentar suas chances disso. Acho que nenhum torcedor racional de Boston acha melhor ser varrido pelo Hawks na primeira rodada dos playoffs do que uma escolha Top12 em um Draft onde, coincidentemente, o Top12 é excelente. A experiência de jogar nos playoffs é importante para um elenco jovem, sem dúvida, mas eu trocaria um ano disso por um Myles Turner ou Mario Hezonja em um piscar de olhos. A partir de 2016, o Celtics não precisa mais ser ruim para ter ótimas escolhas de Draft, graças ao Nets, mas porque não aproveitar mais um ano adicionando talentos antes de perseguir essa vaga nos playoffs? Não é como se o time tivesse qualquer chance de fazer qualquer estrago já esse ano.

Além disso, Boston já não tem em Marcus Smart seu armador do futuro, uma força da natureza na defesa que ainda está aprendendo a forma mais eficiente de conduzir um time no ataque? Smart tem um potencial muito maior que Thomas, mas precisa de tempo, repetições e experiência armando o time para poder se desenvolver. A não ser que Isaiah comece a vir do banco, ele vai tirar tempo de quadra e a bola das mãos de Smart, e ainda que HOJE Thomas seja um jogador ofensivo melhor, isso limita muito o potencial do time no médio prazo. Não da pra culpar um time por querer ganhar logo, mas o time está pensando demais no presente e menos no futuro, mesmo que isso signifique sacrificar o futuro de jogadores como Smart, Young, ou mesmo valores hipotéticos como quem o time pegaria nesse ótimo Draft.

Então o Celtics, em um vácuo, fez um bom negócio, adquirindo um bom jogador em um contrato favorável praticamente de graça. Mas resta ver se essa negociação vai custar ao time uma escolha Top12 e o desenvolvimento de seu armador do futuro - duas coisas muito mais importantes para o Celtics no médio e longo prazo do que o ex-Suns. Bom valor, mas considerável risco aqui.


Suns recebe Brandon Knight (Bucks); Bucks recebe Michael Carter-Williams (Sixers), Tyler Ennis e Miles Plumlee (Suns); 76ers recebe escolha de primeira rodada do Lakers de 2015 (protegida, via Suns).


... SUNS, WHAT ARE YOU DOING?! STAAAAAAPH!!

Antes de mais nada, uma pergunta séria: a gente tem certeza que Brandon Knight é tão bom assim? A primeira vista, é o que parece: o armador tem 18-4-5 de média com 40.8% de 3PT% e um bom PER de 18.5. Mas acontece que eu assisto basquete, e o Bucks desde o começo tem sido meu queridinho do League Pass desse ano. Então eu assisti muito do Bucks, e muito do Brandon Knight. E embora individualmente ele fizesse coisas boas, chamava muito minha atenção o quanto a presença dele atrapalhava a equipe. Ele segurava demais a bola, e parecia ter só duas mentalidades com ela nas mãos: fazer a cesta, ou dar uma assistência. Ele não rodava a bola, não se movimentava bem sem ela, e o time ficava dependente demais do que ele decidisse fazer. Uma quantidade muito irritante de posses de bola do Bucks acabava com Knight driblando a bola por 14 segundos e dando um passe para um mid-range jumper. E assim que ele saia de quadra, o Bucks começava a rodar a bola, achar jogadores livres, jogar de forma rápida e altruísta, e o time era mil vezes mais perigoso. Então não foi nenhuma surpresa alguma entrar ontem no NBA.com e descobrir que, com Brandon Knight em quadra, o Bucks tinha um rating de -0.2 por 100 posses de bola... e com Knight no banco, o Bucks tinha saldo +9.2/100 posses. Só tirando Knight de quadra, Milwaukee deixava de ser o Pelicans pra se tornar 2 pontos por 100 posses melhor que o Hawks. Ainda que boa parte disso se deva ao fato do Bucks ter um excelente banco... é bem significativo, não?

Mas o problema aqui, a meu ver, não é o Suns ter adqurido Knight, e sim ter dado a valiosíssima escolha de primeira rodada do Lakers que tinha no processo. Knight talvez até seja um melhor encaixe em Phoenix, onde jogará mais sem a bola, não vai estagnar tanto o ataque, e pode aproveitar mais seu bom arremesso, mas ele ainda é um jogador questionável, que vai ganhar um salário enorme ao final do ano (quando é FA restrito e alguém vai oferecer um contrato enorme)... e você da em troca uma escolha de Draft que tem tudo para ser Top6, seja esse ano ou no próximo?! Ahn?! Qual a lógica disso?? Porque não pegar Knight ao final da temporada, então? A troca do Dragic foi desfavorável, mas foi inevitável dada a situação que o armador colocou o time. Mas as subsequentes foram horríveis, e cheiram ao pânico de um time desesperado para ir aos playoffs. Trocar Thomas por absolutamente nada, depois trocar seu ativo mais valioso por um armador que é free agent ao final do ano, são duas trocas horríveis para Phoenix.

Eu não faço a melhor idéia do que o Suns estava pensando aqui, e embora eu admire bastante o GM Ryan McDonough, a minha impressão é de que ele está cometendo erro atrás de erro. Knight é comprar alto em um jogador mediano, e não só é um downgrade em relação a Dragic/Thomas, a escolha que mandaram embora por ele é mil vezes mais valiosa do que qualquer uma das três que tenham recebido no dia. O Suns saiu mais fraco dentro de quadra, e muito mais fraco em termos de ativo par ao futuro. Dia horrível de Phoenix. Perder Dragic era inevitável, e ao preço que receberiam, um grande golpe, mas não precisava jogar tudo pra cima e fingir um ataque cardíaco desse jeito.

Enquanto isso, o Bucks conseguiu talvez o roubo do dia. Knight era free agent ao final do ano, e com bons números, era certeza que alguém iria oferecer um contrato máximo para o armador, ou próximo disso. Milwaukee não queria pagar Knight esse valor todo, mas a alternativa de perdê-lo de graça também não era das mais interessantes. Então eles conseguiram a melhor alternativa possível, mandando Knight para Phoenix em troca de um ótimo retorno por um jogador que provavelmente perderiam de graça mesmo. Tyler Ennis e Miles Plumlee são boas peças de rotação para um time cujo grande trunfo na temporada é sua enorme profundidade e versatilidade, e Michael Carter-Williams é um grande talento que estava desperdiçando seus anos formadores em um time horrível que só queria saber de perder. Só de pensar em "MCW, Ennis e Plumlee por Knight", eu já acho que foi um excelente negócio para Milwaukee, mas quando lembramos que Knight era FA ao final do ano e ou iria sair, ou receberia uma bolada que não merecia e entupiria o cap do Bucks, esse negócio fica ainda mais espetacular. Tirando Miami, Milwaukee é o grande time vencedor da noite.

E claro, o maior vencedor em toda essa troca provavelmente foi o próprio Michael Carter-Williams. MCW sempre foi muito talentoso e um tanto quanto complicado, um grande talento com diversas limitações, que estava adquirindo maus hábitos e evoluindo muito lentamente em um time que pouco lhe oferecia de ajuda ou condições de crescer. Agora ele vai para um time extremamente profundo e talentoso onde vai jogar logo de cara em jogos importantes e competitivos, vai ter que evoluir na marra... e talvez mais importante, vai jogar para Jason Kidd, que sabe exatamente como é ser um armador incapaz de arremessar e que é a melhor pessoa não só para moldá-lo em um jogador melhor, como em saber tirar o máximo de suas habilidades. Antes preso no fundo do poço da NBA, de repente MCW foi para um dos times mais jovens, talentosos e promissores da NBA. 

Quanto ao Sixers, bem, essa foi a troca mais Sixers possível, trocando seu melhor jogador por mais uma escolha futura de Draft. Claro, juntando as peças de outras duas trocas...


Sixers recebe JaVale McGee e uma escolha de primeira rodada de 2015 protegida (Thunder) do Nuggets

Sixers recebe Isaiah Canaan e uma escolha de segunda rodada; Rockets recebe KJ McDaniels

...ai é mais fácil ver o conjunto todo, e é hilário. Todo mundo sabia que o Sixers estava em modo "tank" descarado de longo prazo, destruindo seu time o máximo possível para ser ruim durante anos a fio, juntar vários ativos e jovens jogadores, e eventualmente, muito eventualmente, voltar a disputar alguma coisa. E claro, quando já se passaram dois anos e parece que o Sixers está começando a dar alguns passos rumo a ser um time de verdade, eles trocam dois dos seus três melhores jogadores para dar mais três passos para trás. Funhé.

Não que dê para criticar as trocas em si. Aquela escolha protegida do Lakers (Top5 esse ano, Top3 ano que vem e 2017, desprotegida em 2018) é um ativo valiosíssimo, e um excelente retorno por um jogador que já estavam querendo mover faz algum tempo. E McDaniels saiu de graça para um jogador tão bom... mas ele era um free agent restrito ao final do ano, e possivelmente o Sixers não iria querer pagar seu valor de mercado, então pelo menos pegou o talentoso e intrigante Canaan no processo por um jogador que sairia de todo modo. Não foram maus negócios.

Ainda assim, é hilário ver a que ponto vão os esforços do Sixers para continuar reconstruindo e não se importando a mínima em ter um time decente. Agora o time vai afundar ainda mais rumo a pior campanha da NBA (provavelmente o maior objetivo das trocas), e ficar ainda mais longe de ser algo respeitável e decente na liga. E claro, receber JaVale McGee (cujo salário o Nuggets queria se livrar) ajuda ainda mais nesse processo de "ser o pior possível".


Rockets recebe Pablo Prigioni; Knicks recebe Alexey Shved e duas escolhas de segunda rodada

Entre Prigioni e McDaniels, o Rockets fez duas trocas interessantes para reforçar seu elenco e, principalmente, seu banco. Prigioni talvez nem faça tanta diferença assim, mas é uma proteção para os PGs de um time que queria e não conseguiu ficar com Goran Dragic. E KJ McDaniels é uma ótima adição, um bom defensor capaz de jogar (e defender) em três posições e que adiciona habilidade atlética e versatilidade ao Rockets. Nenhum provavelmente é o tipo de troca que sozinha vá mudar o destino do time, mas em dúvida Houston é um time melhor e mais versátil agora com esses dois a bordo. E caso Houston decida por mantê-lo, McDaniels também oferece uma opção jovem e promissora para o futuro da equipe.

Para o Knicks, eles simplesmente se livram de um jogador que não queriam e, embora Shved provavelmente também não faça nenhuma diferença, pelo menos garantem duas escolhas de Draft no processo para aumentar seus limitados ativos.


Nets recebe Thaddeus Young; Timberwolves recebe Kevin Garnett.

Uma troca interessante pra ambos, além das óbvias histórias de "KG voltando pra casa!", ainda que carregue seus riscos.

No caso do Nets, eles ainda estão tentando equilibrar a difícil dualidade de vencer agora com um time ruim, e cortar custos ao mesmo tempo. A troca economiza 3M de dólares esse ano - o que, entre salários, multas e semelhantes, economiza ainda mais para o time, na casa dos 10M - para Brooklyn, mas dentro de quadra, a troca também faz bastante sentido. Garnett agora é basicamente um pivô de tempo integral, mas o time já tem outros dois pivôs (Mason Plumlee e Lopez) produzindo ainda mais, e que dificilmente conseguem jogar juntos. Trocando KG por Young, o time ganha um legítimo PF que teria muito mais facilidade de se encaixar com Lopez e Plumlee, e que torna o time mais barato, mais jovem, e principalmente mais atlético. Economizar uns dólares é bom, mas para um time que não é dono de sua própria 1st round pick, também aumenta as chances do time de conseguir uma vaga nos playoffs.

É claro, eles também assumiram um razoável risco. Young tem uma player option para o ano que vem de quase 10M, e se ele aceitar, a troca vira um tiro no pé. Garnett ganhava mais, mas também era um contrato expirante, e se Young aceitar sua opção, isso significa que o time economizou 3M esse ano (em salary cap) mas gastou 10M a mais em 2016, pagando multas e sem liberar nenhum espaço salarial. Brooklyn provavelmente está apostando que Young vai sair do contrato e tentar ganhar um contrato mais longo e garantido em um mercado inflacionado, mas se ele ficar, essa troca pode dar muito errado. 

Para o Wolves, nada muda dentro de quadra. Mas aceitem de alguém que acompanhou a Era Garnett em Boston: Garnett é o tipo de jogador que faz muita diferença nos companheiros jovens. Rondo e Perkins são dois exemplos, e ter alguém tão competitivo, com tanta liderança e intensidade quanto KG pode mudar a vida de um jogador ainda em formação. Garnett ensina os jovens sobre defesa, sobre se importar, sobre jogar em equipe, sobre apoiar os companheiros. Mesmo velho e no fim da carreira, isso sempre se destacou pra mim em KG: se um colega está se voltando contra o técnico, ou deixando de jogar pro time pra tentar conseguir seus próprios números, ele vai lá arrumar as coisas do seu jeito. Em um time jovem, imaturo e ainda em formação como o Wolves, esse é o tipo de presença que pode fazer toda a diferença para o futuro, acelerar o desenvolvimento dos jovens e ensiná-los a jogar basquete do jeito certo. Os jovens talentos de Minny se beneficiarão de ter KG por perto, e portanto foi uma boa troca.

(Isso significa que o Wolves compensou a grande besteira de trocar uma 1st rounder de Miami pelo Thad Young? NÃO! Mas ameniza um pouco...)


Wizards recebe Ramon Sessions; Kings recebe Andre Miller

Eu gosto dessa troca para ambos. Wizards recebe um armador mil vezes mais jovem e atlético que, embora não venha jogando bem, pelo menos oferece uma opção para o time capaz de atacar a cesta para cavar faltas ou abrir espaços para os passes - o que eles definitivamente não tem quando John Wall está no banco. Então ajuda a reforçar um banco complicado. Embora eu seja suspeito pra falar, sempre fui fã de Sessions e acho que pode contribuir no time certo. Em um papel limitado, este pode ser Washington.

Para o Kings, não só é bom receber uma presença veterana em um vestiário tão complicado e disfuncional, como o time também precisa urgente de alguém capaz de distribuir o jogo. O time não tem nenhum bom passador, e para um time jovem precisando evoluir, é importante ter alguém capaz de dar a bola a todos os jogadores em boas posições e situações. Miller é um encaixe bem melhor nesse time, e ainda que não vá fazer muita diferença prática, pode oferecer o tipo de ajuda que muitos jogadores lá precisam. 


Blazers recebe Alonzo Gee e Aaron Afflalo; Nuggets recebe Victor Claver, Thomas Robinson, Will Barton e uma escolha protegida de Draft de 2016.

Eu estou adorando times do Oeste fazendo trocas para vencer agora enquanto a janela está aberta. E foi o que o Blazers fez. A escolha futura é protegida na loteria, então provavelmente vai para o Nuggets já em 2016 (a não ser que LaMarcus Aldridge saia ou algo muito errado aconteça), mas o Blazers precisava de profundidade no perímetro para competir mais seriamente agora pelo título. E foi o que eles conseguiram em Afflalo. O SG está tendo um ano bastante decepcionante e todos seus números caíram, mas ele joga em um dos mais disfuncionais times de toda a NBA, e uma mudança para um time que joga com velocidade, boa movimentação de bola e de forma coletiva pode ser o que ele precisa para retomar a boa forma. E se retomar, ele é algo que o Blazers precisa, alguém capaz de fazer um pouco de tudo vindo do banco - criar para si e para os outros, arremessar de fora para espaçar a quadra, defender em bom nível, etc. Ele não tem o tamanho e a força física para reproduzir o papel que Batum deveria ter nessa equipe, então ele não resolve os maiores problemas do time... mas ele ajuda e torna o time mais profundo e versátil. Quando você está com a janela totalmente aberta para o título, você tem que fazer o possível para aumentar suas chances, e foi o que o Blazers fez aqui. Uma boa troca.


Celtics recebe Luigi Datome e Jonas Jerebko; Pistons recebe Tyshaun Prince

Contratos expirantes por contratos expirantes, então é uma troca sem grandes consequências. Mas o Pistons trás um jogador que vinha bem em Boston para tentar reforçar a rotação em busca de uma vaga nos playoffs, e trás de volta um antigo herói e ídolo da franquia. Então... hmmm... é basicamente isso. Entre KG e Prince de volta a Wolves e Pistons, respectivamente, a nostalgia foi a maior vencedora dessa trade deadline.


Jazz recebe Kendrick Perkins, Grant Garrett, uma 1st round pick ainda não revelada (Thunder) e uma escolha de segunda rodada (Pistons); Pistons recebe Reggie Jackson (Thunder); Thunder recebe Enes Kanter, Steve Novak (Jazz), Kyle Singler e DJ Augustin (Pistons).

Para analisar essa troca, precisamos olhar os três times envolvidos.

Para o Jazz, manter Enes Kanter não valia mais a pena. Kanter é um jogador talentoso com conjunto de habilidades interessantes e bom potencial, mas que também vinha com várias limitações e que, sendo um free agent, provavelmente seria muito caro de manter no fim do ano. O turco tem bastante potencial, mas hoje, ele pouco oferece na defesa, e no ataque ele - apesar de potencial para ser bastante completo - é apenas um jogador de post up com bom rebote ofensivo que não faz mais nada. Ele é um desastre na defesa, e embora ofereça mais opções ofensivas ao lado de Derrick Favors, a emergência de Rudy Gobert - um defensor infinitamente melhor - tornou Kanter totalmente dispensável. A dupla Favors-Gobert tem sido 3.4 pontos por 100 posses melhor do que Enes-Favors, e considerando a extensão de Favors e o contrato máximo de Gordon Hayward, a última coisa que o Jazz quer nesse momento é acabar com sua flexibilidade salarial dando um contrato gordo a um jogador que, apesar do potencial, é só sua terceira melhor opção no garrafão e provavelmente um reserva. Então ao invés de perder o turco por nada ao final do ano, o Jazz se contentou em receber o que pudesse no mercado por ele, e faturou uma escolha de primeira rodada no processo (ainda não revelada) e Perkins (que terá um buyout para economizar uns cobres).

Para o Pistons, é simples: o time quer ir aos playoffs, e estava caminhando a passos largos para atingir esse objetivo quando perdeu Brandon Jennings, seu armador titular e o cara que deu vida nova ao seu ataque pós-Josh Smith. DJ Augustin vinha jogando bem na sua ausência, mas era claro que o time perdia bastante com essa mudança, então fazia todo o sentido para Detroit buscar um armador novo e melhor no mercado, para tentar salvar a temporada e garantir a vaga nos playoffs. O time gosta de jogar com espaçamento, e Jennings mudou o time sem Smith quando começou a atacar mais a cesta e causar caos no garrafão, e nisso o explosivo Jackson é muito melhor do que Augustin. Sua defesa também é melhor, e em geral, Jackson tem muito mais a oferecer do que Augustin, recolocando o Pistons em condições de brigar por aquela última vaga. Todo mundo lembra o que ele fez no começo do ano com Durant e Westbrook machucados, levando o Thunder nas costas com 19-5-8 de média.

Enfim, chegamos no Thunder, que em valor se saiu bem: Reggie Jackson foi importantíssimo para o time no começo do ano, mas vinha perdendo cada vez mais espaço e parecia ser mais um problema do que uma solução nos últimos tempos, especialmente desde a chegada de Dion Waiters. Além disso, era free agent ao final do ano, então o Thunder provavelmente perderia o jogador por nada. Já Perkins, eternamente mal falado e culpado pelos maus momentos do Thunder, não é um jogador que chama muita atenção e que sempre foi dispensável. Então OKC conseguiu usar os dois para reforçar seu banco, trazendo dois bons arremessadores que devem mofar na reserva (Novak e Singler) mas que ainda podem ter algo a oferecer, o jogador de garrafão que tanto queria em Kanter, e um bom PG reserva em Augustin.

Então em valor foi bom - trouxeram boas opções e rechearam o banco usando um cara que estava encostado faz tempo e um armador que não queriam mais e perderiam de graça. O que eu questiono é o quão melhor o Thunder realmente ficou com essas trocas. Nenhuma das novas adições na equipe sabe defender, para começar. Novak e Singler trazem arremessos de fora e espaçamento, então pelo menos adicionam alguma coisa, nem que seja profundidade. Mas as peças grandes são Augustin e Kanter, e embora no papel sejam boas adições - um PG reserva e um pivô capaz de pontuar perto da cesta - eles são realmente o que OKC precisa agora?

Comecemos por Kanter. O turco tem duas habilidades de nível NBA, os rebotes ofensivos e pontuar de costas para a cesta. A primeira habilidade é sempre útil, mas a segunda é incerto. Claro, jogadores assim são sempre úteis, mas não é como se ele fosse Al Jefferson no fundamento - 60th percentil dos jogadores da NBA apenas - e ele tira coisas demais da mesa. Ele é absolutamente incapaz de passar a bola, então o post up dele tem poucas chances de gerar uma movimentação favorável pro ataque e seria facilmente "anulado" em uma série de playffs, e ele descompensa sendo talvez o pior defensor de garrafão da NBA na atualidade (e é o pior protetor de aro da NBA - adversários chutam 57.6% contra ele na área restrita, pior marca da liga). Pontuação de costas pra cesta é uma habilidade sempre útil, mas o Thunder realmente se beneficiaria de ter mais um pontuador fominha que segura demais a bola, não roda o jogo e não faz os companheiros melhores, e que ainda dobra como um dos piores defensores do mundo? Realmente move tanto a agulha assim em relação mesmo a Perkins, que é um nulo no ataque mas é pelo menos um bom defensor, com o qual OKC é algo como 4 pontos por 100 posses melhor quando está em quadra? Bom lembrar também que Kanter é um free agent restrito ao final do ano, e tem potencial para receber um bom contrato. A não ser que o Thunder decida abrir o cofre para manter o jogador - sabe, dando aquele contrato que não quis dar para James Harden? - também não passa de um aluguel de dois meses.

O mesmo para DJ Augustin. Sim, ele é um bom reserva, mas não é um bom arremessador, é alguém que produz melhor quando tem a bola nas mãos, e que não defende bem. Considerando que o problema do Thunder é justamente a dificuldade de jogar em equipe, rodar a bola e achar jogadores que complemente os seus dominantes ball handlers, Augustin não me parece um bom encaixe. Talvez Jackson não estivesse rendendo por causa da personalidade, mania de querer fazer demais e excesso de toques na bola, mas como exatamente Augustin renderia melhor em uma função secundária? Talvez o pessoal ainda não desgoste dele como desgostava de Jackson, mas o que Augustin trás para quadra que é melhor que Reggie Jackson?

A velha piada: se Enes Kanter é a resposta, então eu não quero saber qual é a pergunta. Não é que o Thunder fez trocas ruins ou se tornou um time pior, nem nada do tipo. Eu só acho que as trocas foram nem de longe tão benéficas e mudam tanta coisa como as pessoas parecem pensar. Elas aumentam o potencial de OKC, e com o relógio correndo contra Oklahoma City, o time tem mais é que correr atrás dessas trocas mesmo na tentativa de conseguir alguma coisa nova. Se eu fosse o GM do time, provavelmente também teria feito ambas as trocas. Eu só acho que, no final do dia, o resultado não vai mudar em nada com os novos jogadores.


Veredito

O Phoenix Suns projetava como um grande perdedor dessa troca, mas muito mais por causa de Dragic ter forçado o time a uma situação sem solução do que por outra coisa. E a inevitável troca ruim aconteceu... só que Phoenix não parou por ai, e ao invés de pisar no estrume, se afundou até a cintura trocando seu melhor ativo por um PG overrated que vai ganhar uma fortuna no final do ano, e se livrando de outro bom PG por nada. Phoenix não fez nada para salvar o resto da sua temporada e tornar-se um time melhor no curto prazo, mas também trocou seu melhor ativo e um contrato muito favorável por um jogador mediano que ficará muito overpaid em três meses. Em outras palavras, também prejudicou em MUITO o valor do time no médio prazo. Um dia para esquecer de Phoenix, que praticamente se destruiu em duas horas.

Os grandes vencedores (pelo menos os times) foram, a meu ver, Heat e Bucks. Miami porque pegou, a baixo custo, um dos melhores PGs da NBA e a peça que faltava para o time voltar a ser competitivo e candidato as Finais em Dragic - ou, melhor dizendo, porque esse armador caiu no seu colo. E Bucks porque, em troca de um jogador overrated que eles não queriam pagar no final do ano (e provavelmente perderiam por nada), conseguiram não só um talentoso, jovem e muito mais barato armador para se juntar a seu jovem e talentoso núcleo, como também roubou junto duas boas peças de rotação em Ennis e Plumlee, e se tem um time na atualidade que sabe aproveitar o valor de um bom banco, é o Bucks. Excelentes negociações para ambos os times.

Para terminar, Celtics e Thunder também fizeram barulho, e conseguiram trocas interessantes a bons valores. Ambas aumentaram o teto da sua equipe, e maximizaram seus ativos. Ainda assim, eu não acho que de para declarar ambos vencedores ainda. OKC porque não estou convencido de que essa troca realmente faz do Thunder um time melhor ou muda a perspectiva da franquia, e Boston porque ainda tem um risco considerável dessa troca custar a Boston (por causa da pick desse ano e do desenvolvimento de Smart) muito mais do que ela adiciona no médio prazo. Ainda esperando para ser avaliado completamente.

E por fim, os grandes vencedores fomos todos nós, que temos um twitter e pudemos acompanhar em tempo real a mais maluca e divertida trade deadline de todos os tempos. E agora que finalmente colocamos toda essa loucura em contexto, é hora para mais café. Com licença. 

terça-feira, 17 de junho de 2014

As estrelas da offseason, parte II - Carmelo Anthony

"Renovar com o Knicks?! Ta maluco?!"


(Essa é a segunda parte da coluna que começou sábado, quando falei de Kevin Love. A introdução é a mesma, então se já tiver lido, pode ir direto aos finalmentes).

Com o Miami Heat chegando na sua quarta final de NBA consecutiva (primeiro time a fazer isso em 25 anos) e dois títulos na estante, tem ganhado cada vez mais força a narrativa de que, para vencer um título na NBA, você precisa de uma superestrela, um dos 10 ou 15 melhores jogadores da Liga, capaz de vencer jogos sozinhos e desequilibrar uma série. É uma teoria que sempre foi repetida nos círculos da NBA, e que ganhou ainda mais força dada a dominação do Miami Heat nos últimos anos e a ascensão de times como Thunder e Clippers.

E certamente existe muito que sustenta essa teoria ao longo da história da NBA, tanto mais antiga como recente. É DIFICÍLIMO vencer um título na NBA sem uma grande estrela, quase impossível. Desde que Magic e Bird entraram na NBA em 1980, com apenas UMA exceção, os times campeões contavam sempre com uma grande estrela: Kareem, Bird, Moses Malone, Magic, Isiah ThomasJordan, Hakeem, Duncan, Shaq, Wade, Garnett, Kobe, Nowitzki e LeBron James - todos jogadores que estariam alto em uma lista dos maiores de todos os tempos. A exceção é o Pistons de 2004, um time sem estrelas que é praticamente a exceção para tudo na história da NBA, uma equipe que se aproveitou de uma época onde as regras ficaram excessivamente a favor de times ultra-defensivos e de um Leste bastante fraco. Ainda assim, fato é que a história nos mostra diversas vezes que sim, você realmente precisa de um jogador Top10 ou Top15 para ter chance de vencer um título.

O problema é que cada vez mais parece que só uma estrela não basta, e que você também precisa de uma segunda estrela - ou talvez até uma terceira - se quiser ser campeão. Não é essencial como sua primeira estrela, mas sem dúvida aumenta muito suas chances. LeBron só foi vencer um título em Miami cercado por Wade e BoshKevin Garnett aceitou ir para o Celtics porque lá tinha Ray Allen e Paul Pierce, que tirariam a responsabilidade da pontuação das suas mãos; Kobe foi as Finais como coadjuvante de Shaquille O'Neal, e só voltou lá cinco anos depois quando lhe deram Pau Gasol embrulhado em papel de presente; Duncan teve primeiro David Robinson, depois Parker e Manu, e sempre teve talvez a mais importante delas fora de quadra, Popovich. Mesmo Kareem precisou de Magic Johnson, e Jordan de Scottie Pippen. E mesmo entre os não-campeões da atualidade, OKC tem Durant, Westbrook e Ibaka, e o Clippers tem Chris Paul e Blake Griffin - junto de Spurs e Heat, esses são os quatro melhores times da NBA (o quinto, pelo menos em eficiência total? O Rockets de Harden e Dwight Howard).

Você provavelmente já entendeu o ponto: a NBA é uma Liga de estrelas, onde as estrelas são as maiores comodidades que você pode ter na sua equipe. Se você não tem, você está em um patamar muito abaixo dos times que as possuem, e quanto mais você tiver, melhor. O óbvio problema aqui é que existe um número limitados de jogadores assim na NBA. Então, é claro, não é nada fácil ter a sua estrela, e todos os times que não tem estão desesperadamente a procura de uma, seja por Draft, seja pela Free Agency, seja por trocas. 

Portanto, não é de se surpreender o enorme interesse que é gerado toda vez que uma estrela fica disponível para mudar de time. É a chance de vários times que não tem estrelas adquirirem uma, ou então de times que já tem uma base adicionarem o talento excepcional em busca do próximo passo (ver: Rockets, Houston). E por esse motivo, parece que dois jogadores - duas estrelas - dominarão a mídia na NBA quando as Finais acabarem: Kevin Love, e Carmelo Anthony, duas estrelas que podem mudar de time nessa offseason.

A situação dos dois, claro, é diferente. Carmelo Anthony é um Free Agent, cujo contrato com o Knicks vai expirar e que está livre para ir aonde bem entender. Kevin Love, por outro lado, ainda tem mais um ano no seu contrato (e uma opção para 2015/16 se quiser), mas joga para um time de mercado pequeno com o qual ele está bastante insatisfeito, e podendo sair depois de 2015, e criou uma situação na qual o Wolves se arrisca a perder o jogador por nada caso não se antecipe e troque seu craque. Então Carmelo e Love tem isso em comum: ambos são estrelas, e ambos estão disponíveis a ir para o seu time nessa offseason. Isso é, se você puder pagar.

Com a offseason se aproximando, previsivelmente, as histórias e os boatos em torno de Melo e Love já começaram a aparecer. Então eu estou aqui para analisar exatamente a situação de cada um, quais são os potenciais interessados (e destinos factíveis), quais as opções dos jogadores, e o que os seus times atuais podem fazer para manter suas estrelas. Lembrando que estou analisando principalmente as possibilidades e probabilidades de cada evento acontecer, não levando em conta os rumores e boatos que surgem por ai.

Sábado, falamos sobre a situação de Kevin Love. Hoje é hora de falar das questões envolvendo Carmelo Anthony.


Carmelo Anthony


Ao contrário de Kevin Love, um jogador mais jovem com uma ascensão relativamente recente e menor rodagem na NBA, Carmelo Anthony já é uma estrela antiga e consagrada. Melo tem 11 anos de NBA no currículo, 6 All-NBA Teams (dois 2nd Team, quatro 3rd Team) e uma merecida fama como um dos melhores pontuadores da NBA nesse período: 21 ppg como calouro pelo Nuggets e nunca abaixo de 20, atingindo seu auge em 2007 (29-6-4) e 2010 (28-7-3 para um bom time de Denver que foi para as Finais de Conferência) e liderando a NBA em pontos em 2013. No entanto, esse sucesso individual nunca se transferiu para sucessos coletivos: Melo chegou apenas uma vez nas Finais de conferência (2010) por Denver antes de forçar uma troca para New York, um mercado maior que já tinha uma primeira "estrela" no lugar e aparentava estar em boa situação para atrair uma terceira (lembrem-se que CP3 e Deron Williams estavam para se tornar free agents).

O motivo para forçar essa troca nunca foi bem esclarecido, mas pareceu uma mistura de três coisas: um entendimento do valor que um mercado grande como NY poderia ter sobre uma superestrela como Melo (e para sua mulher, claro); uma componente pessoal (Melo simplesmente queria o glamour de jogar no Knicks); e por fim, uma decisão de basquete em busca de um título. Sobre esse último, é simples: o Big Three de Miami tinha acabado de se juntar e tinha lançado as bases para os times de muitas estrelas construídos via free agency, e com Deron Williams e CP3 prestes a se tornarem free agents, a idéia era de que Melo, Amare e um dos dois poderiam se juntar no seu próprio Big Three em New York. Claro, nunca aconteceu: CP3 foi para Los Angeles, Deron para o rival Brooklyn, os joelhos de Amare foram para o saco, e o Knicks ganhou apenas uma série de playoffs em quatro anos mesmo jogando no Leste. E um abraço para a melhor chance de vencer um título.

Agora o contrato de Melo vai chegando ao fim, e sua situação é muito mais simples que a de Love: não tem nenhuma troca para forçar, nenhuma complicação quanto a extensão a ser assinada nem nada. Melo tem uma opção para 2015 que ele ainda pode exercer, mas também pode encerrar seu contrato agora e entrar para a free agency. Por alguns motivos, eu acredito que ele vai preferir encerrar seu contrato agora: tem algumas opções interessantes para ele se transferir se seu objetivo é realmente vencer, e sair agora lhe da a opção de assinar talvez seu último contrato máximo da carreira o quanto antes - chegando perto dos 30, você vai querer garantir o máximo de dinheiro possível enquanto pode.

Então assumindo que Melo opte por terminar seu contrato e virar Free Agent, quais são as opções realistas que Melo tem nessa free agent, como cada uma pode atrair Melo, e qual a vantagem para ele em cada uma delas?


Quais as chances dele continuar no New York Knicks?

O caso a favor do Melo continuar no Knicks é bem simples: pelo novo CBA da NBA, o Knicks pode oferecer um ano a mais de contrato e mais dinheiro do que qualquer outro time da liga - NYK pode lhe oferecer um contrato máximo de aproximadamente 5 anos, 130M (26M por ano), enquanto que no mercado ele não poderia ganhar mais do que 4 anos, 96M (24M por ano). Isso é motivo suficiente para convencer muita gente, não só pelo dinheiro extra como pela garantia de um ano a mais de salário - lembrando que Melo já tem 30 anos, então dificilmente vai ter um próximo contrato máximo e é uma diferença considerável ganhar um contrato máximo por um ano extra (só pra constar, esses valores podem variar conforme o salary cap para o ano que vem mudar).

Claro, não é só isso que vai pesar na hora da decisão. New York ainda é o maior mercado dos EUA, e Melo sabe perfeitamente o valor de jogar nele - aumenta o valor da sua "marca" (e, vale ser dito, é onde sua mulher que adora os holofotes quer morar), por exemplo, algo que é cada vez mais importante para atletas hoje em dia. Morar em New York por si só já é um atrativo imenso, uma cidade onde você pode agir como uma celebridade perto de outras celebridades e desfrutar de um certo status.

Além disso, tem outro motivo que certamente Melo sabe: jogar no Knicks tem um peso que nenhuma outra franquia trás. Os torcedores do Knicks são os mais refinados e fanáticos dos EUA (acredite, eu conheço uma família deles) e acompanham uma das franquias mais tradicionais da liga, mas não tem a história de sucesso como os do Lakers ou Celtics e em geral estão "carentes" por uma estrela, alguém para conectar e acompanhar com paixão como faziam com Bernard King, Clyde Frazier e tantos outros. Enquanto ele for o franchise player do Knicks, ele sabe que suas ações em quadra terão um peso maior, que o impacto dos seus jogos de 60 pontos serão ainda maiores, e que sempre terá uma torcida inteira lotando a Meca do basquete (MSG) para gritar o seu nome. A importância que vem em jogar para o Knicks é ímpar, e algumas pessoas valorizam muito isso. E vale citar que, embora o impacto ainda seja muito difícil de dizer a essa altura, o Knicks acabou de fazer uma oferta monstruosa para Phil Jackson assumir o comando da equipe na esperança de que o carisma o currículo de Phil mudem o rumo da franquia e exerçam uma forte influença sobre Melo. É possível que a idéia de jogar para o maior vencedor da história recente dos esportes americanos seja a carta na manga do Knicks.

O caso a favor de Carmelo deixar o Knicks é ainda mais simples: no século 21, você vai ter trabalho para achar uma franquia mais consistentemente fracassada e incompetente do que o Knicks, um time que gastou os últimos 14 anos em trocas péssimas, elencos caros e muitas derrotas. Um dos motivos por trás da vontade de Melo ir para o Knicks era achar uma situação com boa chance de vencer, em parte porque acreditavam poder montar um novo Big Three por lá, mas essa esperança já acabou faz muito tempo. Amare não é nem sombra do que já foi um dia, CP3 foi para o Clippers, e as esperanças de atrair mais uma estrela ficam menores a cada dia. Esse sonho acabou.

Além disso, Melo sabe que ficar no Knicks é praticamente desistir da idéia de competir por um título no futuro próximo. O time é muito fraco para 2015 - a mesma base que sequer conseguiu ir aos playoffs em 2014 no fraquíssimo Leste e muito acima do salary cap - e, embora em 2016 quase todos os salários saiam da folha da equipe dando possivelmente lugar a um contrato máximo, é uma aposta distante demais e arriscada demais que o Knicks possa atrair alguma outra estrela para se aliar a Melo. New York não oferece uma situação de briga por título imediata, e nenhum plano para o futuro além de "teremos cap space para 2016 se não estragarmos tudo antes e TALVEZ possamos trazer alguns bons jogadores!" pela falta de ativos. E além disso, vale lembrar que o Knicks tem um dos piores donos de todos os esportes americanos (James Dolan) e uma diretoria que tem sido horrível por anos a fio (a esperança é que Phil mude isso, mas o histórico é bem negativo). Ficar no Knicks praticamente significa diminuir drasticamente as perspectivas de título que, supostamente, era algo importante para ele em 2011.

Qual dos dois casos é mais forte? Hmm... eu realmente não sei dizer. Depende muito do quanto valor Carmelo atribui (e atribuirá) a diferentes fatores: dinheiro, estabilidade, vencer títulos, glamour, etc. Ficar no Knicks significa ganhar mais dinheiro (por um ano a mais), continuar sendo um ícone de New York e jogar para Phil Jackson, mas também significa que as chances dele ganhar um título caem drasticamente. Sair pode colocá-lo em uma situação melhor, desde que esteja disposto a abrir mão do dinheiro e das vantagens de jogar em NY. E isso depende MUITO da ordem de prioridades para Carmelo, algo que nem eu nem você podemos dizer no momento. Mas a situação é muito menos confortável do que parecia em 2011.


Los Angeles Lakers

Porque aparentemente existe uma lei na liga que diz que o Lakers tem que estar envolvido em todos os rumores de troca ou free agent da NBA.

Em termos salariáis, é possível: o Lakers tem só 37M de salário para 2015, e isso considerando as propostas qualificatórias de Bazemore e Ryan Kelly e o contrato não garantido de Kendall Marshall. Recusando as propostas, todos os direitos sobre free agents (gente a beça - o total dos cap holds do Lakers chega a 56M) e dispensando Marshall, o Lakers tem apenas 33M garantido para 2015, bem abaixo do projetado teto salarial de 63M e com espaço para dar um contrato máximo a Melo. Então certamente é possível que Carmelo vá para o Lakers.

A questão aqui é, porque ele o faria? Porque deixaria na mesa mais dinheiro e mais um ano de contrato para trocar o Knicks pelo Lakers? O Lakers também não oferece a ele uma situação para vencer logo, com o contrato mastodôntico de Kobe tapando quase toda a folha salarial da equipe e impedindo a contratação de outros bons jogadores (e lembrem-se, eles não podem reassinar seus free agents usando Bird Rights se renunciarem a seus direitos para abrir espaço na folha salarial anteriormente). Porque ir de uma situação onde ele não vai vencer no curto prazo para outra, sendo que a atual oferece mais dinheiro, uma relação mais próxima com a torcida, mais status como "jogador leal e salvador" com a torcida mais fanática do planeta, e que é um mercado ainda maior que Los Angeles, sendo que na segunda ele ainda teria que aguentar Kobe por dois anos? Não faz nenhum sentido. E se você quer usar a carta do "o contrato do Kobe expira em dois anos e o Lakers terá espaço máximo para atrair outras estrelas!", lembre que no Knicks isso acontece um ano antes, e que agora que Jerry Buss morreu, o Lakers tem um dono tão incompetente quanto Dolan. Não tem vantagem alguma em Melo ir para o Lakers. Não vai acontecer.


Houston Rockets

Indo para um terreno mais realista, o Rockets é um time que desde o começo chamou alguma atenção por sua abordagem recente de ir atrás de estrelas e da sua compreensão do valor desse tipo de jogadores. Primeiro eles trocaram por James Harden, depois usaram sua presença para atrair Dwight Howard na free agency e montar um time bem competitivo que terminou 2014 quinto em eficiência total. Então entre sua atratividade para estrelas e a presença de outras duas, o fato de que em Houston não tem impostos sobre o salário (o que diminui o impacto econômico de sair do Knicks) e sua boa posição para competir por títulos no futuro próximo, é fácil de ver porque o Rockets é considerado um destino possível para Carmelo.

A logística, no entanto, é um pouco mais complicada. Mesmo recusando os direitos sobre seus FAs, dispensando Covington e Casspi e recusando as ofertas qualificatórias de todos os jogadores que não sejam Chandler Parsons, o Rockets ainda vai ter bem pouco espaço salarial nessa offseason, algo como 1 ou 2 milhões abaixo do salary cap apenas. Considerando que precisariam abrir mais de 20M para encaixar um contrato máximo para Carmelo (sim, ele poderia optar por ganhar menos, mas vamos trabalhar com os cenários extremos aqui), isso exigiria alguma criatividade por parte da equipe - especialmente quando você lembra que o time já tem quase 39M comprometidos com apenas Harden e Dwight.

Os dois maiores candidatos a trocas para liberar o teto salarial seriam, é claro, Omer Asik e Jeremy Lin. Cada um conta como 8.4M na folha salarial, então se o time conseguisse se livrar de ambos liberaria algo como 18M totais na folha salarial. Trocar Asik e Lin não deve ser tão difícil se o time precisar - ambos são jogadores úteis, em contratos expirantes, e que possuem um bom valor de troca e que muitos times estariam dispostos a aceitar de bom grado, tanto um time que tenha toneladas de salary cap para aceitar ambos (Sixers?), um time que possa mandar de volta um contrato não garantido (Cavs com Varejão?), ou mesmo trocas separadas. Mesmo que o seu salário nominal de 11M seja um problema, não é algo que o Rockets não possa contornar com uma ou outra escolha futura bem protegida. Muitos times estariam dispostos a aceitar Asik e/ou Lin em contratos expirantes. Mas isso liberaria ainda apenas 18M de espaço salarial, então a não ser que Melo aceite um desconto para se juntar ao Rockets (lembrando que ele já estará deixando dinheiro na mesa por sair do Knicks), o time ainda terá que trocar algumas peças como Motiejunas, Terrence Jones ou Isiah Canaan (3.9M somados) ou mesmo dispensar o contrato não-garantido de Patrick Beverley (900k) para chegar perto dos 22M de folha salarial (e isso sem contar os cap holds dos outros lugares do time). Com alguma criatividade, o Rockets pode chegar no espaço para um contrato máximo para Melo, mas vai ser muito difícil e vai exigir uma eliminação total do seu elenco.

No entanto, isso exigiria que o Rockets dispensasse quase seu time inteiro que não fosse Harden e Howard, e Melo sabe muito bem as consequências desse tipo de all-in porque foi o que o Knicks fez para adquiri-lo. Mas Houston abriu uma outra opção possível. Algum tempo atrás, o time declinou a opção que tinha para 2015 no contrato de Chandler Parsons, tornando-o um free agent restrito imediatamente. Muita gente atribuiu isso a uma tentativa de controlar o destino do jogador (Houston poderá igualar qualquer oferta por ele, sendo que ele seria um free agent irrestrito em 2015) caso um acordo com Melo saísse pela janela, e certamente é um fator importante. Mas tem outra coisa a ser levada em conta: a possibilidade de usar Parsons em um sign-and-trade por Carmelo. Essa possibilidade não faz sentido para Minnesota porque Parsons nunca iria querer ir para Minesota, mas New York?! É outra história. O seu status restrito facilita para o Houston, que poderia fazer um sign-and-trade (Parsons e Linsanity de volta a NY por Melo?) ou, caso perca a chance de sair com o All-Star, pode simplesmente renovar com Parsons e usá-lo futuramente como moeda de troca ou mesmo continuar com a mesma base dos últimos anos.

São duas possibilidades um pouco complicadas que exigirão algumas manobras, mas ainda são possibilidades reais. E como já foi dito, se Melo decidir deixar o dinheiro na mesa para sair do Knicks, é porque ele quer uma opção para vencer imediatamente e mais ajuda, e vai encontrar uma ótima opção dessas em Houston: Dwight Howard para proteger suas costas, James Harden para ficar com a bola nas mãos a maior parte do tempo, e muito menos defesas com dois ou três jogadores designados para pará-lo - sem falar, claro, que é um time que briga imediatamente por títulos com a formação do seu Big Three. E se Melo aceitar ganhar menos dinheiro para assinar (algo na casa dos 18M) com Houston, eles podem conseguir esse dinheiro trocando apenas Lin e Asik e ainda podem manter Chandler Parsons (já que não precisariam desistir de seus direitos). Seria um time incrível. Se a opção é vencer um título, essa é uma das duas melhores opções para Carmelo.


Chicago Bulls

Já escrevemos muito sobre a necessidade do Bulls por uma nova estrela na parte sobre Kevin Love. Se você está com preguiça, um rápido resumo:

"Chicago está desesperado atrás de uma nova estrela (tanto que aparecerão duas vezes nessas colunas), em parte para colocar junto de Derrick Rose e Joakim Noah, e em ainda maior parte para assumir o controle da equipe de Rose caso ele não volte o mesmo (ou até para diminuir as responsabilidades de Rose quando voltar)"

As vantagens e possibilidades (e dificuldades) de uma troca por Kevin Love já foram exploradas. Mas no caso de Melo, é mais simples: liberar espaço salarial o suficiente, porque o encaixe também faz muito sentido. Melo é um pontuador nato que é criticado por não defender bem, que tem bom alcance na linha de três pontos, bom jogo no garrafão e que é capaz de criar seu próprio arremesso. Coloque ele no Bulls e de repente Melo tem um Defensive Player of the Year e um dos melhores técnicos defensivos da NBA para protegê-lo na defesa, um pivô que é um exímio passador e gosta de jogar na cabeça do garrafão que vai fornecer muitas boas oportunidades de pontuação perto do aro, e possivelmente uma outra estrela (Rose) para assumir um pouco das responsabilidades de pontuação/ball handle e tirar aqueles double e até triple-teams de Melo. Ao mesmo tempo, o Bulls ganha alguém capaz de atrair defesas e abrir a quadra, um ótimo pontuador inside-out que pode jogar de SF ou de PF, aliviar a carga de Rose conforme ele se recupera, e criar arremessos do nada quando o ataque fica estagnado. Junte a isso o terceiro maior mercado dos EUA e um Leste historicamente fraco, e essa opção fica ainda mais interessante para uma mudança.

Em termos práticos, vai exigir alguns malabarismos por parte do Bulls, mas é muito factível. O Bulls estaria mais ou menos na linha do salary cap de 2015 recusando seus cap holds (menos DJ Augustin e Nikola Mirotic), não fazendo oferta qualificatória a Shengeila e dispensando Troy Murphy e seu contrato não-garantido (em torno de 63M). Mas eles tem ainda sua anistia por usar, e Carlos Boozer é um enorme candidato - usar a anistia no PF significa liberar 16.8M de dólares de uma tacada só do espaço salarial da equipe.

Claro, 16.8M não seria suficiente para assinar Melo a não ser que ele aceite um grande desconto, e isso dificilmente vai acontecer considerando que a) ele já deixou dinheiro para sair do Knicks e b) esse é provavelmente sua última chance de contrato máximo. Nesse caso, o Bulls também teria que mover Taj Gibson e seus 8M para algum time com muito cap space. Não acho que será tão fácil mover esse contrato já que ele se estende até 2017, mas Gibson é um excelente jogador e um dos melhores defensores da NBA, alguém que se desenvolveu muito bem essa temporada, e certamente terá algum interesse - e se o contrato for demais para alguns times, o Bulls tem duas escolhas de primeira rodada para tornar a troca mais "atraente". De um jeito de outro é factível. Se o Bulls fizer essas duas coisas - anistiar Boozer e trocar Gibson sem receber salários garantidos de volta - então estamos olhando para 25M de espaço salarial, espaço de sobra para assinar uma ou duas escolhas de Draft e oferecer o contrato máximo que Melo tanto quer.

O saldo: um núcleo Rose/Noah/Melo com bons role players como Jimmy Butler, Mike Dunleavy, Tony Snell; a chance de trazer de volta DJ Augustin ou Jimmer Fredette; Thibodeau; uma ou duas escolhas de primeira rodada... e talvez mais importante, ainda tem condições de trazer Mirotic para a NBA se os fortes rumores de que ele quer vir se comprovem. Você pode montar então um time Rose/Butler/Melo/Mirotic/Noah, ou até mesmo Rose/Butler/Dunleavy/Melo/Noah com Mirotic vindo do banco. Esse é um núcleo muito bom - a defesa deve continuar boa, tem mais opções no ataque e para espaçar a quadra, tem habilidade atlética, profundidade, pode jogar alto ou baixo, versatilidade... é um time fantástico, e se Rose conseguir se manter minimamente saudável, é um time para brigar com títulos desde o primeiro minuto em uma conferência fraca.

É uma ótima possibilidade para Melo. Por um lado, é uma oferta mais arriscada que a de Houston já que depende da saúde de Derrick Rose para funcionar direito, mas por outro é muito mais fácil de ser realizada (não depende de grandes movimentações menores ou de um sign and trade incerto) e, se Rose ficar saudável, oferece um caminho muito mais fácil para as Finais em um Leste fraco (e com um Miami Heat com futuro incerto) do que em um Oeste com San Antonio, Clippers e Oklahoma City - sem falar em Portland, Dallas, Golden State e todos os times que sempre geram problemas por lá. Também oferece um time muito mais profundo do que Houston, em parte porque Mirotic ainda não está na NBA ganhando milhões e Noah não está em um contrato máximo. É uma opção mais arriscada, mas entre probabilidade de acontecer, o mercado maior e o time mais profundo, me parece a melhor situação para Carmelo.

O que nos leva a uma pergunta muito interessante: se Chicago tiver condições de trazer tanto Love (por troca) como Melo (por free agency), qual dos dois o Bulls deveria ir atrás?? É uma pergunta muito difícil. Em um vácuo, seria preferível Love a Melo - ele é bem mais jovem, em um contrato menor que atulha menos a folha salarial (e o Bulls, por algum motivo, é bem avesso a gastar dinheiro), e trás talvez a habilidade mais valiosa da NBA na atualidade (um big man capaz de chutar de três). Mas por outro lado, trocar por Love significaria perder ativos valiosos - Butler, Mirotic e suas escolhas de Draft - deixando um time com menos recursos e tendo que completar o resto do seu time com jogadores inferiores, enquanto que Melo viria de graça (e 95M, mas isso é irrelevante) e portanto o Bulls poderia manter sua profundidade e jovens talentos. É uma escolha bem difícil, mas acho que se chegar a isso e Chicago tiver de escolher, eles não estarão muito chateados. Na verdade, tenho quase certeza de que os cartolas estariam assim:





Miami Heat

Uma opção um tanto quanto irreal que ganhou surpreendente força nas últimas semanas, quando alguns boatos começaram a surgir de que LeBron e Carmelo (que são bons amigos e já jogaram juntos na seleção americana) gostariam de unir forças na NBA, e que ganhou ainda mais quando Miami começou a levar a surra da sua vida contra San Antonio e ficou claro que eles precisavam de ajuda para 2015 (embora como exatamente Melo ajude a defender o ataque de San Antonio não está claro). Então precisa ser incluída pelo potencial e pelo impacto que causou nas redes sociais - em pleno dia de G4 das Finais estava todo mundo discutindo sobre como seria esse time com Melo (o coitado do salary cap foi ignorado 95% do tempo).

O problema dessa situação é que é muito difícil saber exatamente em que patamar o Miami Heat vai se encontrar, porque é um cenário que envolve muitas variáveis e decisões difíceis de se prever. Explicar exatamente a situação na qual Miami se encontra iria exigir muita linguagem técnica de salary cap, então vou dar uma versão resumida e o mais direta possível.

Basicamente, Miami tem só um salário garantido para um jogador em 2015 (Norris Cole, 2M), além de duas opções de jogadores (4.6M do Haslem, 1.3M do Birdman). Todo o Big Three tem a opção de terminar mais cedo seu contrato e virar free agent, senão receberão 20M em 2015. E basicamente todo o resto do time é free agent ou vai aposentar.

A primeira vista, parece que o Heat então tem cap space quase máximo para 2015, mas não é bem o caso, porque free agents carregam uma coisa chamada "cap hold", que é um certo valor que eles comem do seu salary cap enquanto você mantiver os direitos deles como free agents (como Bird Rights). Então considerando que Haslem deve aceitar sua opção para 2015 (ele já aceitou menos dinheiro para ficar em Miami em 2011, e não vai mais ter nenhuma oferta tão boa quanto essa na carreira) e Anderson deve recusar (ele já disse que vai), isso da 6.6M em salários para 2015. No entanto, mesmo que Miami renuncie aos direitos sobre todos seus free agents menos o Big Three, o cap hold dos três totaliza 59.5M... o que significa que só com Haslem, Cole e o cap hold de Wade, LeBron e Bosh o time do Heat já está 3M aproximadamente acima do salary cap. Boa sorte encaixando Melo ai. Claro que Miami pode renunciar aos direitos sobre algum dos três, mas isso significa que depois não pode reassinar o mesmo jogador depois usando seus Bird Rights (ou seja, passando do salary cap).

O argumento, claro, é que o Big Three iria aceitar contratos menores para continuar juntos e assinar Melo. Isso já passa, antes de mais nada, pela idéia de que todos os jogadores iriam abdicar do resto de seus contratos, o que não me parece garantido. Wade, por exemplo, tem 41.6M restantes no seu contrato (dois anos), não vem jogando bem e tem tido repetidos problemas físicos... não valeria mais a pena financeiramente jogar até o final desse contrato já que não deve ganhar esses 42M no mercado? Não me parece claro para ele, embora para LeBron e Bosh faça mais sentido terminar o contrato agora e assinar o próximo.

Supondo que todos optem para encerrar seu contrato, que tipo de mágica tornaria possível assinar Melo? Bom, antes de mais nada, todos os três teriam que aceitar enormes descontos para isso, ou assinando antes de Melo ou com Miami renunciando aos Bird Rights. Não vou entrar tanto no mérito de se eles vão ou não aceitar descontos - lembrando que para Wade e Bosh essa é provavelmente sua última chance de garantir um contrato máximo e que eles já diminuíram o salário em 2010 para jogarem juntos - porque é simples, se eles não aceitarem, não tem como assinar Melo e ponto. O que eu quero ver agora é o quanto teria que ser feito para trazer Melo a bordo.

Primeiro, Miami já tem 6.6M garantidos para Cole/Haslem (de novo, acho extremamente improvável que Haslem recuse sua opção). Esses dois mais o Big Three formam apenas 6 jogadores de 12 obrigatórios, então temos que incluir mais 3M pelos outros seis lugares no time, ou seja, 9.6M garantidos (isso considerando que Miami não use sua escolha de primeira rodada, senão são mais 2M em salários garantidos). Então sobra 53.4M para distribuir entre Bosh, LeBron, Wade e Melo, lembrando que sob hipótese alguma o Heat pode passar do salary cap para reassinar algum deles por causa do cap hold. Isso da 13.3M para cada um dos jogadores (supondo que eles ganhem igualmente).

Hmm eu poderia ver Wade aceitando isso em troca de um contrato longo (cujo valor total superaria os 42M que restam no seu contrato), mas será que LeBron, Bosh e Melo topam esse tipo de valor (especialmente sabendo que o resto do time teria que ser composto de jogadores em salários mínimos)? Eu não vejo acontecendo especialmente para Bosh (que não vai querer perder tanto dinheiro na sua última chance de assinar um contrato máximo) e Melo (que tem outras ótimas chances de ganhar em outros lugares COM um contrato máximo ou quase máximo, já deixou de ganhar dinheiro saindo de NY, e também está entrando no seu último contrato máximo). Miami poderia usar sua 1st round pick para mandar o salário de Haslem para algum outro time, mas ainda assim não poderia dar mais do que 14M para cada um dos quatro. Me parece muito exagerado, e isso antes de entrar no mérito se isso é de fato o que daria a Miami a maior chance de voltar ao título, adicionando mais um pontuador de perímetro que tem dificuldade na defesa e cercando-o de jogadores em contratos mínimos.

Além disso, como Melo tornaria Miami melhor? Eles já tem um alpha dog para jogar com a bola nas mãos no perímetro, e Melo não é um jogador que se encaixe bem na defesa attack-and-recover de Miami nem um jogador que se adapte bem ao estilo de movimentação ofensiva rápida da equipe. E os maiores problemas da equipe tem sido ball handling, defesa inside-out, e falta de proteção ao aro. Hmm em qual desses Melo ajuda? Em nenhum deles. Adicionar Melo seria muito mais um capricho do que uma solução real para os problemas da equipe.

Não vou falar que é impossível, mas me parece uma sequência bastante improvável de acontecimentos, que passa por diversas fases de altruísmo diferentes: Wade desistindo do resto do contrato (difícil), QUATRO jogadores diferentes aceitando ganhar algo como 8M a menos do que poderiam (ainda mais difícil), LeBron não desistindo de Miami depois de ver a péssima ajuda que recebeu nas Finais... etc. Não me surpreenderia se o Big Three aceitasse um pequeno desconto nos contratos para manter parte do salary cap em aberto para reforçar a equipe (Miller saiu, Birdman vai sair, Battier aposentando, Allen deve sair...) ou mesmo um free agent de nível médio como Kyle Lowry (um encaixe muito melhor que Melo, by the way), mas não para liberar o suficiente para Melo e nem que ele aceite. Nunca duvido de nada em South Beach, mas não me parece realista.

(By the way, isso não tem nada a ver com a decisão de Miami, mas é preciso ser dito: se Melo for para Miami formar um Big Four tem 100% de chance de termos um novo lockout em 2017. Garantido.)


Veredito

Francamente, não vejo o menor motivo para Melo ir para Los Angeles ganhar menos dinheiro, jogar em um mercado menor, jogar a lealdade de NY no lixo e ter chances igualmente fracas de ganhar um título. Miami também não me parece uma opção realista por todos os motivos que eu citei, e porque não me parece que Melo é o tipo de jogador que encaixaria tão bem na equipe. Então a decisão me parece entre ficar em New York, ou ir para Houston ou Chicago.

Como já disse, a decisão sair ou ficar depende principalmente de lealdade + dinheiro vs chance de título, embora tenha outros fatores no meio, claro. Ninguém pode dizer isso por ele com certeza. Mas na minha opinião - e isso, repito, é apenas a minha opinião - Melo vai virar FA e deixar o Knicks se receber uma oferta tentadora o suficiente, o lugar com melhor chance de atraí-lo é Chicago, um mercado maior que vai precisar ir a menos extremos para abrir cap space, oferece um time mais profundo e faz mais sentido do ponto de vista de encaixe em termos de basquete. Melo já ganhou bastante dinheiro na carreira e ainda assinaria um contrato máximo com Chicago, e ele sabe que precisa de um anel - ou pelo menos de uma Final - para completar seu currículo. E eu acho que Chicago oferece a ele a melhor chance de vencer nesse momento. Então acho que ele deve testar o mercado e, se Houston e principalmente Chicago jogarem pesado atrás dele, ele muda de time nessa offseason.


Para ler sobre a situação e as possíveis trocas envolvendo Kevin Love, clique aqui para ir para a Parte I