Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Uma coluna sobre mim, e Kevin Durant



Quando Kevin Durant anunciou sua decisão de ir para o Golden State Warriors formar um dos times mais talentosos da história da NBA, o que não faltou foi ver as famosas "hot takes" - opiniões fortes, polêmicas e muitas vezes idiotas - pipocando na internet. Muita gente ofendendo Durant e dizendo que ele era um covarde, ou um perdedor, ou coisa do tipo por ter tomado a decisão DELE, que fazia sentido para ELE, e que afeta a vida DELE. 

E é normal pessoas não gostarem da decisão do Durant. Ela afeta vários fatores que diversas pessoas consideram importantes: muitas valorizam a competição dentro da NBA, por exemplo, e a ida de Durant não só adicionou um jogador Top3 da NBA a um time que venceu 73 jogos ano passado e esteve a 5 minutos de dois títulos seguidos, como ainda derrubou da disputa o único time no Oeste que realmente assustava o Warriors. Outros podem valorizar o jogador que passa a carreira inteira no mesmo time e tem um peso enorme que vai muito além do basquete, virando um símbolo da franquia e da cidade (Duncan, Dirk, Kobe alguns exemplos recentes que vem à mente), e Durant - o símbolo do basquete de OKC - deixando a cidade nos privou de ver mais uma história dessas com um dos melhores atletas da nossa geração. A preferência dessas pessoas foi afetada negativamente pelo cenário que se formou na NBA após essa decisão.

Ou seja, é comum que pessoas se sintam, em um nível pessoal, incomodadas com a decisão de Durant. Cada um de nós tem um conjunto de preferências e vontades, coisas que valorizam e que buscam, e a decisão de Durant pode ter contrariado muitas dessas. Então a nossa reação natural é de decepção, afinal a realidade não seguiu as nossas expectativas, e por isso desgostamos dessa realidade. Gostaríamos que fosse diferente, ressentimos de como aconteceu, e lamentamos. É a natureza humana, e isso não tem nenhum problema.

O problema é não reconhecer que existe mais do que um tipo de preferência e de ponto de vista no mundo, e que não necessariamente todos tem que seguir o mesmo. Ao mesmo tempo que a decisão de Durant afetou negativamente muitas pessoas por ir de encontro às suas preferências, certamente existe muitas outras pessoas cujo conjunto de preferências foi afetado positivamente pela ida de KD a Golden State, e que agora estão felizes e elogiando a decisão.

E também, claro, tem o lado da pessoa mais importante nessa história toda: Kevin Durant. Todo mundo quis atribuir motivos à sua decisão - ele quer vencer do jeito mais fácil, ele não quer a pressão de ser uma estrela, etc - mas a verdade é que ninguém faz ideia do que levou ele a tomar a decisão. E se ele simplesmente não estivesse feliz jogando em OKC? E se ele não gostasse de jogar com Westbrook, ou no esquema ofensivo estagnado do Thunder? E se ele quisesse um novo começo, morar em San Francisco, ou jogar em um time com um estilo diferente? A gente não sabe, e nunca vai saber. Os motivos são dele. E por isso é besteira tentar atribuir motivos para o que o jogador fez ou deixou de fazer, especialmente aqueles que convenientemente servem à narrativa que queremos criar por causa das nossas próprias preferências.

Em outras palavras, o que nós discutimos não é se a decisão de Durant foi certa ou errada. Nós discutimos como ela afetou as NOSSAS preferências, e qual a nossa reação pessoal a elas. Mas ninguém admite isso. E um dos motivos é porque queremos excluir ao máximo o "eu" quando discutimos de esporte - se você começa a falar das suas visões e preferências, de repente sua opinião vai ser considerada mais subjetiva do que objetiva, e talvez ser menos considerada. E por isso tanta gente tenta omitir o "eu" da conversa e falar como se existissem fatos sobre o que é certo ou errado, sobre o que Durant deveria ou não ter feito, e começa a criar rótulos e narrativas imbecis para tentar explicar porque Kevin Durant - um ser humano tão complexo quanto todos nós, com gostos, preferências, ideias e objetivas totalmente próprios que não dizem respeito a nenhum de nós - tomou uma decisão que vai de contro à nossa configuração pessoal enquanto indivíduos.

Em resumo, é perfeitamente normal para um fã ou torcedor se sentir traído pela decisão de Kevin Durant (o lado irracional, passional do torcedor), mas não achar que isso faz de Kevin Durant um traidor (o racional, baseado em fatos)... mas é isso que as pessoas tentam fazer, racionalizar sua irracionalidade para torná-la mais "aceitável" e transformar aquilo em um fato... e isso que é o mais absurdo.

Kevin Durant tomou a decisão de ir para o Warriors, o que diminui a competitividade da NBA e forma um time claramente superior (no papel) aos demais. Mas eu gosto de competitividade e rivalidades, e não gosto de times favoritos. Então a decisão de Durant foi contra o meu gosto. Então, ao invés de reconhecer que ele funciona diferente de mim e teve razões diferentes das minhas para tomar uma decisão que não me dizia respeito, e assumir que eu simplesmente não gostei da decisão, eu vou ficar falando que o Durant é medroso, que é covarde, que é desleal, etc e tal para tentar justificar como EU me sinto em relação a ele.

Desnecessário dizer o quão idiota é isso. Mas é o mundo esportivo como vivemos hoje, infelizmente. Ninguém quer admitir que sua reação a um fator as vezes é totalmente pessoal e baseada nas suas individualidades. E claro, ninguém quer admitir que possa existir outras pessoas que veem o mundo diferente que você - todo mundo só quer estar certo (e isso se estende MUITO além dos esportes, btw).

Então claro que, quando eu declarei no Twitter que a decisão de Durant era interessante e que eu estava ansioso por ver como seria esse time do Warriors - ao invés de criticar seu caráter e sua decisão - nem todo mundo entendeu meu ponto de vista. Para colocar de forma leve.

E um seguidor, particularmente revoltado, declarou que meu problema era preferir ver um grande time do que ver a liga sendo equilibrada e competitiva. Quando eu neguei que fosse o caso, ele questionou então: "Então o que você quer ver da NBA?".

Embora a pergunta tenha sido feita em tom de crítica, ela me fez pensar. Assim como todo mundo tem suas preferências, eu tenho as minhas, mas nunca tinha parado para pensar a fundo na questão. Eu acompanho esportes desde que me lembro, e embora torça pelos meus times, eu sempre dei uma importância maior para os esportes em si do que só assistir pelos meus times. Eu, como qualquer um, também quero ver certas coisas acontecendo, e fico feliz ou triste, animado ou decepcionado, quando algum acontecimento ou fato vai de acordo ou contra meus gostos pessoais.

Mas, no final, eu voltava para a mesma pergunta.

O que eu quero quando se trata de esportes?

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Para responder a essa pergunta, eu preciso fazer um paralelo com uma das minhas obras favoritas.

Hunter x Hunter é um mangá de Yoshihiro Togashi, mais conhecido no Brasil por sua outra obra famosa, YuYu Hakusho (sim, aquele da Manchete). A obra conta a história de "hunters", ou "caçadores": são pessoas que passam a vida "caçando", "procurando" ou "buscando" alguma coisa (dependendo da tradução que você quiser usar). E o que um Hunter procura pode ser qualquer coisa que o atraia: alguns passam a vida procurando criminosos, outros procuram novas espécies de animais. Alguns procuram jóias raras, e outros procuram achados arqueológicos. Não importa o que, mas todos tem que procurar alguma coisa, em geral motivados pelo desejo de aventura e sede de conhecer o desconhecido. É uma das melhores obras que já li, tanto para o gênero de ação como pela genialidade da mensagem de algumas das suas sagas, e recomendo para os fãs do gênero.

E em Hunter x Hunter existe um personagem chamado Ging Freecs. Ging é um Hunter bastante famoso, considerado um dos personagens mais habilidosos e poderosos da saga e, por muitos, o melhor Hunter do mundo. No entanto, Ging também é considerado um grande mistério: alguém que desaparece com frequência, faz as coisas do seu jeito sem pensar em mais nada, que está constantemente mudando de ideia e de objetivos, e que é praticamente impossível de se encontrar já que nunca fica parado no mesmo lugar. Embora ele seja um Hunter de arqueologia, ninguém sabe exatamente o que ele quer ou o que está buscando na vida. Ele vai aparecer onde e quando quiser, e desaparecer para cuidar dos seus assuntos na maior parte do tempo.

Em dado momento, um outro personagem pergunta a Ging exatamente o que ele procura. Qual é seu objetivo final, o que ele almeja encontrar.

A resposta? "O que eu procuro... é alguma coisa que não consigo enxergar diante de mim".

Eu sempre achei isso genial. Ging não tem um objetivo fixo: ele sempre está à procura de algo novo, de algum novo desafio, algo que ele ainda não tem e terá prazer em ir atrás. O que é essa coisa, na verdade, não importa. O que ele quer é o desafio e a emoção da jornada, o que importa para ele é o caminho, e não onde esse caminho leva. Quando atingir seu objetivo, ele parou de ser interessante e é hora de procurar algo novo. Algo que ele não tem diante dele.

É exatamente assim que eu me sinto quando fã de esportes, e foi a conclusão que eu cheguei quando penso sobre o que eu quero como alguém que ama e acompanha esportes. O que eu quero ver acontecendo é algo que eu ainda não tenho.

Em outras palavras, respondendo à pergunta do internauta, eu não sei exatamente o que é que eu quero. E isso não é um problema, porque o que eu quero pode ser atingido independente de qual a forma. O que eu quero é algo novo, algo diferente e que nunca tenha visto antes. Eu quero a experiência de ver algo que me eleve a um patamar maior como fã de esporte. O que isso é, não importa de verdade. Pode vir sobre diferentes formas: uma virada espetacular, uma temporada que quebra recordes, um jogador diferente e único. Eu quero ver dois dos melhores jogadores da história da MLB tendo seus auges juntos. Eu quero ver uma rivalidade perfeita entre dois dos 5 maiores quarterbacks da história da NFL. Eu quero ver a maior virada da história dos esportes americanos. Eu quero ver um jogador aleatório vivendo uma história improvável e mágica com final feliz. Eu quero ver um jogador que muda a forma como eu (e a própria NBA) penso um esporte. Mesmo que, até essas coisas se concretizarem, eu não fazia ideia de que eu queria tanto elas.

Quando em 2010 LeBron anunciou sua decisão de deixar o Cavaliers para se juntar a Wade e Bosh em Miami, minha primeira reação foi negativa. Ao invés de vencer as dificuldades em Cleveland, LeBron parecia estar pegando o "caminho mais fácil" ao se juntar a duas outras superestrelas, e assim ele nunca se realizaria como completo superstar da NBA. Eu queria ver LeBron atingindo seu auge e superando as barreiras na própria força, não na força de Wade e Bosh.

Depois, eu percebi o quanto isso era idiotice. Eu ainda estava muito apegado ao estereótipo Jordan da superestrela que centraliza o jogo, arremessa todas as bolas e domina as atenções. O que eu percebi depois - e, felizmente, a tempo - é que LeBron era um jogador diferente, mais voltado para o jogo coletivo, e que ter grandes companheiros ao seu redor era uma condição importante para que James conseguisse tirar o máximo do seu jogo, e enfim atingisse todo seu imenso potencial como jogador de basquete. Isso nunca teria acontecido naqueles times horríveis de Cleveland. Então a decisão de LeBron, no final, acabou me proporcionando duas coisas que eu nunca poderia ter tido como fã de esportes se ele tivesse ficado em Cleveland: a possibilidade de ver o jogador mais talentoso que já assisti realizando seu potencial e atingindo seu auge como jogador de basquete, e ver um time tão bom, tão único e que jogava um basquete tão maravilhoso de se assistir como aquele Heat 2012-2013.

(Tangente rápida: uma grande pena que o Heat de LeBron nunca tenha conseguido uma temporada completa, do início ao fim, em plenos poderes. Em 2012, o time só atingiu seu auge nos playoffs, quando Bosh machucou, LeBron mudou para PF e o time descobriu seu small ball. E em 2013, o time chegou nos playoffs desgastado demais, cansado demais, e nunca jogou seu melhor basquete. Eles nunca tiveram aquela temporada completa chutando bundas a torto e a direito que mereciam. Nossa perda.)

Meu jogo favorito que assisti ao vivo? G4 da série entre Mavs e Blazers em 2011, na primeira rodada dos playoffs. Foi o jogo que Brandon Roy, praticamente fora da NBA a essa altura por causa dos problemas físicos que destruíram o que vinha sendo uma fantástica carreira, saiu do banco e milagrosamente voltou o relógio alguns anos, anotando 18 pontos - inclusive os oito finais do Blazers na partida - e dando quatro assistências no quarto período apenas, enquanto Portland tirou uma vantagem de 18 pontos de Dallas no período final para igualar a série em 2-2. Cinco anos depois, eu ainda lembro daquele jogo como se fosse hoje.

Esse jogo importou no grande esquema das coisas? Provavelmente não. Dallas ainda venceu a série em 6, e algumas semanas depois venceu o Miami Heat para conquistar seu primeiro título de NBA. Brandon Roy aposentou naquela offseason, voltou em 2012 e aposentou de vez algumas semanas depois.

Mas aquele ainda é, e sempre será, o jogo que eu lembro quando penso nos playoffs de 2011. Foi simplesmente perfeito: um dos meus jogadores favoritos e figura trágica da NBA, alguém que eu já tinha aceitado a decadência e sabia (ou achava que sabia) que nunca mais veria jogando no alto nível do passado, de repente se rejuvenescendo por 12 minutos e jogando talvez o basquete mais inspirado da sua vida, conduzindo uma das maiores viradas da história dos playoffs da NBA com uma das mais memoráveis performances da história da NBA em quartos períodos. Foi imprevisível, e foi emocionante de se contemplar. Ele me deu algo que eu nunca tinha visto, que eu nunca pensei que veria, e no final das coisas, uma memória para sempre.

Como Bill Simmons escreveu uma vez, nós fãs assistimos a 1000 jogos em busca de algo especial, algo único e fantástico, e 999 vezes ela não acontece. Mas quando tem a 1000th vez, ela acontece, e é algo que nunca mais vamos esquecer, e que fazem valer todo o esforço. A atuação de Brandon Roy foi a milionésima vez. Eu nunca esquecerei de assistir esse jogo enquanto viver.

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Então voltando ao ponto inicial: o que isso significa em relação a Kevin Durant?

Kevin Durant deixando o Thunder nos privou de muitas coisas boas. Ver aquele time jovem do Thunder que surgiu para o mundo em 2010 tentar subir a montanha, enfrentando seus próprios demônios e dificuldades para tentar chegar no topo da liga, era uma histórias mais interessantes de se acompanhar na NBA nesses últimos 7 anos. Ver aquele time enfim atingindo o topo, superando os poderosos Warriors e Cavs, sua crescente rivalidade com Golden State, a eterna dúvida se Durant e Westbrook algum dia achariam a forma ótima para conviver... são todas coisas que eram muito divertidas.

Eu queria muito ver a história do Thunder do começo ao fim, até por ser uma das histórias mais fáceis de se acompanhar: o time jovem e promissor de 2008/2009, o time dando um salto em 2010, a evolução nítida de 2011, finalmente chegando nas Finais em 2012, a troca de Harden e as lesões de Durant e Westbrook, a quase redenção em 2016... era uma história que muitos (inclusive eu) queriam ver tendo um final, e de preferência um final feliz. Era algo que eu queria ver, e agora (ou pelo menos por enquanto) não verei mais por causa da decisão de Durant.

Mas ao mesmo tempo, eu já vi antes times subindo a montanha e atingindo o título. Eu já vi times ultra-talentosos, mas de encaixe difícil, encontrando uma forma de coexistir e tirar o melhor de si mesmo rumo a um título. Eu já vi dois dos 5 melhores jogadores da NBA jogando juntos no seu auge. Não que seja uma história que não seja ótima de se rever várias vezes com diferentes protagonistas, mas não é exatamente algo novo para mim.

Mas eu nunca na vida vi um time de basquete tão talentoso - pelo menos no papel - quanto Golden State é agora com Kevin Durant. Eles tem a chance de fazer algo que eu nunca vi antes, de quebrar recordes e atingir um nível de basquete que eu nunca vi. Eu sempre me ressenti de nunca ter a chance de ver o Celtics de 86 ou o Bulls de 96 ao vivo - na minha opinião os dois melhores times de basquete da história da NBA - e agora tenho a chance de acompanhar um time que pode ser tão bom quanto, ou até melhor, do que esses dois times lendários. É uma oportunidade nova que essa decisão de Durant também trouxe.

E também tem o seguinte: é possível que, assim como LeBron, existe um jogador melhor dentro de Durant esperando para sair na situação certa, e com os companheiros certos. Larry Bird não teve seu auge como jogador de basquete em 1986 apenas porque, individualmente, ele estava no seu auge físico e técnico - um dos principais motivos é que o talento no Celtics ao seu redor teve um notório auge naquela temporada, e isso permitiu que Larry Legend explorasse mais partes do seu jogo que antes ele não tinha como: sua maestria nos passes, sua versatilidade para executar múltiplas funções, e até mesmo sua criatividade para tentar coisas novas quando os jogos estavam entediantes. Bird teve seu auge em parte porque o coletivo ao seu redor era melhor, e muito mais preparado para que ele tirasse o máximo de seu jogo.

Talvez o mesmo aconteça com Kevin Durant: em um time mais coletivo, com mais opções, com QI coletivo fora de série e tantos jogadores completos, talvez Durant agora pode focar em mostrar e elevar partes do seu jogo que não apareciam antes para nós tão bem. Com menor responsabilidade para pontuar, e com mais espaço do que nunca, pode ser que vejamos mais de Durant como passador e criador, ou que ele decida focar mais na sua defesa, que tem chance de ser excepcional. Talvez ele tenha mais assistências e mais roubos de bola do que nunca, e arremesse algo como 55-43-90 na temporada. Com seus companheiros melhores e jogando um estilo de basquete mais favorável, pode ser que o próprio Durant leve seu jogo a um nível que não tínhamos visto antes.

Isso tudo é melhor do que a chance de ver o Thunder ser campeão com Durant e Westbrook? Para mim agora é, e por um motivo simples: eu tenho a chance de ver tudo isso acontecendo agora, enquanto que ver o Thunder campeão com West e KD não. Qual é a graça de buscar algo que não existe mais? Por que se apegar a algo que deixou de existir, se eu posso ir atrás de novas possibilidades e novos objetivos, coisas que eu nunca tive antes e que podem cumprir seu papel para mim, de me levar a um patamar mais alto como fã do esporte? A decisão de Durant fechou algumas portas e nos privou de algo muito legal, mas ao mesmo tempo abriu outras portas e outras possibilidades. A grandeza que podemos ver hoje é diferente da de ontem, mas não necessariamente é pior.

Essa foi a lição que eu aprendi ao longo da vida esportiva. Ao invés de me apegar a algo que não existe mais, eu simplesmente começo a buscar algo novo toda vez que a situação mudar, e com isso eu - de novo, EU - posso aproveitar plenamente o que os esportes que eu tanto amo me oferecem. Durant nos tirou algumas coisas boas, mas nos oferece outras em troca: eu posso lamentar pela perda das primeiras, mas isso nunca pode me impedir de aproveitar e almejar as coisas novas que eu não poderia ter antes, e agora posso. As coisas mudam rápido demais nos esportes. Se não soubermos nos adaptar igualmente rápido, podemos perder chances únicas. Não importa o que eu quero. O que importa é que eu sempre quero algo novo, algo diferente, algo que vai me elevar a um patamar maior como fã de esportes. E quando isso acontecer, eu posso ficar satisfeito sabendo que, naquele momento, eu serei mais rico em experiências esportivas do que era antes. E, minutos depois, me preparar para buscar o próximo objetivo.

Ou pelo menos isso é o que eu sinto. Você é livre para sentir ou pensar algo totalmente diferente, com base nas suas próprias preferências e opiniões. Isso é perfeitamente normal.

Só é uma grande idiotice achar que o que você sente é a verdade do mundo, e que um jogador de basquete profissional que precisa pensar na sua própria vida e carreira e pensa diferente de você é um traidor. Ou um covarde. Ou qualquer outro adjetivo imbecil que tenha surgido desde o dia 4 de julho.

5 comentários:

  1. Por que você assiste basquete? Bem, são tantos motivos. Mas no fim das contas, eu assisto porque me apaixonei pelo esporte e pelas boas histórias que ele gera. Eu assisto tanto, mas tanto, na cassada por boas narrativas, coisas que me farão pensar e me emocionar.

    As pessoas possuem um monte de histórias fechadas em suas cabeças de como o esporte deveria ser. O conceito da paixão pelo clube, lealdade e outros relacionados são uma visão construída por anos de como o esporte deveria ser, e de repente vendo alguém a quebrar, que pode pensar diferente, as pessoas se assustam e repudiam.

    Passei por um processo parecido com um tema tão abstrato quanto. Quando assumi ser ateu para uma família muito religiosa, a primeira reação foi de repúdio de meus pais e parentes, católicos não tão praticantes, mas que não conseguem enxergar outra foram de ver o mundo. A partir do momento que viram que meu novo valor não me afetou de quase nenhuma forma na maneria como já agia, ficou tudo bem e compreenderam.

    E aí que as pessoas tem que noção. Nós não controlamos as narrativas externas a nós. Cada ser humano tem suas experiência e é isso que torna tudo tão especial.

    O episódio mais marcante que acompanhei em basquete aconteceu meses atrás. Eu, fanático por basquete europeu, vi a última temporada de Dimitris Diamantidis. Um ídolo, um cara que passou a carreira inteira num clube, totalmente apaixonado e de torcida fanática. Continuou eficiente até o fim. Chegou a final da liga grega contra o Olympiacos. Do outro lado, Spanoulis, seu algoz, um "traidor" (já havia jogado no Panathinaikos), mas conhecido por ser um cara muito clutch, que coleciona game winners na carreira. DD já era um defensor e líder. No meio disso tudo, prorrogação no jogo 4 da final. A série estava 2-1 pro Oly já com game winner de Spa em um jogo. Na última posse do OT, o PAO estava a frente, e após um pick and roll temos Spanoulis de frente para Diamantidis. Um defensor e um clutch. Com a mão na cara, Spa dá um stepback e bem de longe mata uma bola de três que dá a vitória. O lance do título contra a última defesa de Diamantidis. Foi foda. Eu não escrevi essa história, não estava planejada. Foi um final ruim pra DD, mas gigante pro basquete. Algo que estará na minha memória e virou texto muito emotivo.

    Na minha forma de ver, a beleza está nisso, em como o esporte pode nos surpreender em coisas que estão fora da nossa caixa. Eu queria que fosse o contrário, que Dimitris fechasse a carreira com título e GW, porém esse final é igualmente histórico e mais imprevisível, além de cruel.

    Parabéns, Vitor!

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    1. Se você acha que eu não imediatamente entrei no YouTube para procurar tudo isso que você falou, você claramente não me conhece direito hahaha.

      Eu confesso que ficaria puto se estivesse vendo isso. No fundo, a gente QUER ver a história que a gente desenhou na nossa cabeça acontecendo. Eu sempre achei que o fato mais cool da história do Michael Jordan é ver a famosa foto do Fernando Medina sobre o seu Last Shot em 98 contra Utah e constatar o ABSOLUTO HORROR dos torcedores de Utah atrás da cesta mesmo antes da bola entrar. Assistindo a toda a sequencia desde o roubo do Malone, todo mundo já tinha desenhado o roteiro na cabeça. Jordan só cumpriu, e isso foi o melhor.

      Acho que a gente sofre com isso de expectativa vs realidade. E as vezes, na nossa cabeça, colocamos a quebra da expectativa como sendo algo fatal e desastroso, quando muitas vezes - como seu próprio exemplo familiar ai - elas não mudam em nada. Não que seja fácil, mas as vezes a capacidade de se adaptar a essa nova realidade é algo que nos ajuda a aproveitar ainda mais o que temos. E também aceitar que nem sempre o que queremos vai acontecer - ou mesmo é o melhor para acontecer. É um fundamento básico do mundo, mas que é muito difícil de compreender as vezes.

      Ultimamente tenho me sentido bastante atraído por esse lado subjetivo dos esportes. Não será a última vez que escreverei a respeito.

      Obrigado pelas palavras e pelo seu ótimo comentário, Gabriel! Grande abraço!

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    2. QUE RELATOS! Basquete é realmente uma coisa fantástica
      Comecei a assistir basquete com meu falecido avô, que torcia pro bulls por causa do MJ, mas comecei a torcer pelo lakers pq o Kobe era uma coisa realmente impressionante. Estávamos eu e meu melhor amigo fumando um e vendo o último jogo dele, e o lakers perdendo. Aí começou um papo de chapado "porra o kobe podia fazer alguma coisa sensacional né, último jogo e tal". O cara começou a meter todas as bolas, de todos os lugares...puta que me pariu!
      Viva o basquete e vamo Lakers!

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  2. Pra mim não cabe julgar o caráter do Durant pela decisão tomada, porém essa historia tem varios detalhes pequenos que dá toda a diferença.

    1 - O thunder se tornou um time contender ao titulo, e essa offseason seria a melhor de todas em free agents e caps para o thunder adquirir aquilo que estava faltando em seu elenco.

    2 - A demora de Durant em anunciar sua decisão tirou do OKC a chance de correr atras dos grandes nomes disponiveis no mercado.

    3 - Todos podem mudar de opinião ao longo da vida, mas postar no twinter criticas ao lebron, e depois sair do OKC pra fazer um super time muito mais manjado que o heat foi no minimo hipocrisia.

    4 - E por ultimo, acho muito ridiculo os fãs de basquete, em sua maioria, achar que titulo da NBA define um bom jogador, e dizer que jogadores que não tiveram titulos na sua carreira monstruosa não fazem parte dos maiores da historia (malone o maior exemplo). não se esqueçam que o Dellavedova é campeão da NBA!( rsrsrsr).

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