Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

domingo, 6 de março de 2011

Um time de temporada regular


Dwyane Wade está com dor de cabeça depois de ser massacrado pelo Spurs

Um dos assuntos preferidos de uma grande parte dos fãs de basquete desde a última offseason é falar mal do Miami Heat. E hoje o TM Warning vai seguir a modinha e também vai falar mal do Miami Heat! Bom, pelo menos eu anuncio assim porque de certa forma o que eu tenho a dizer é negativo pro Miami Heat. Mas não estou necessariamente falando mal. Um fato vinha me chamando a atenção no time do Heat e eu quis analisar mais a fundo, e na minha opinião é um defeito do time de Miami. Pra alguns, apontar isso é falar mal do Miami. Pra mim, é só uma análise do time mesmo, afinal de contas eu posso estar totalmente errado.

No começo da temporada, quando o time ainda era uma incógnita, o Miami Heat estava sendo inconstante, o time passou altos e baixos, levou duas surras do Celtics mas massacrou os times mais fracos, até que em certo ponto tinha um record razoável mas estava numa seqüência ruim, tinha perdido pro Grizzlies e pro Pacers e sendo finalmente esmagado pelo Dallas Mavericks. Mas depois desse jogo, o Heat começou a ganhar vários jogos em seqüência, começou a ganhar de times mais fortes e todo mundo falou que o Heat teve uma melhora espetacular da noite pro dia. Mas na verdade o que aconteceu foi que o Heat embarcou numa seqüência de jogos relativamente fácil (não enfrentou nenhum time no Top 4 de suas conferências) e longa e aproveitou pra ganhar de todo mundo até finalmente ser parado pelo Maverericks num jogo onde deu muito mais trabalho do que no confronto anterior entre ambos e perdeu por apenas dois pontos. Não estou falando que o Heat só ganhou porque os jogos eram fáceis e que essa melhora do Heat é uma invenção, afinal o time venceu Jazz e Hornets durante essa seqüência. Mas a melhora no Heat não foi imediata, foi mais lenta e gradual, e essa melhora ficou camuflada no meio de uma seqüência de massacres contra equipes mais fracas, equipes que o Heat tava dando surras desde o começo do ano.

 Durante essa seqüência onde tudo tava mais fácil pro Heat, o Heat aproveitou pra tirar um pouco da pressão, entender o jogo uns dos outros melhor, o Erik Spolestra aproveitou pra instituir algumas pequenas mudanças no plano de jogo - usar o Lebron James de armador, o Dwyane Wade jogando mais sem a bola na mão, arremessar mais de meia distância - e, principalmente, o time começou a mudar sua mentalidade de 'vamos mostrar pra todos que somos os melhores' para algo como 'vamos nos unir e ganhar'. São mudanças pequenas, que foram sendo colocadas em prática nessa parte mais fácil do calendário de jogos que acabou escondendo essas mudanças, mas que quando o Heat teve que enfrentar um time mais difícil novamente ele foi capaz de trazer elas pra quadra, ganhar a partida e fazer todo mundo pensar 'agora o time se achou!'.

O Heat ganhou muito mais do que perdeu (tirando uma seqüência de quatro derrotas quando o time estava desfalcado em três de Lebron ou Chris Bosh), começou a convencer e realmente o time começou a achar uma identidade dentro de quadra, a refinar o seu jogo de forma a aproveitar melhor os jogadores que o time tem. Mas o Heat ainda está tendo uma grande dificuldade pra vencer as equipes mais fortes e candidatas ao título essa temporada. Apesar da vitória convincente contra o Lakers no Natal, o time perdeu os oito jogos que disputou contra Bulls, Celtics, Mavericks e Spurs, e também perdeu recentemente do Knicks e do Magic. Eu falei dia desses no nosso twitter que o problema não era que o Heat perdia dos times mais fortes, é que o Heat  perdia por pouco dos times mais fortes, o que evidenciava a dificuldade do time de ganhar jogos apertados, de decidir jogos. O que, se você parar pra pensar, é estranho, porque o time tem dois jogadores que eram considerados dois dos melhores closers da Liga em Wade e Lebron. Porque um time com dois closers tão bons estava tendo tantos problemas pra decidir os jogos apertados?

Eu estava pensando nisso quando li um comentário de alguém na NBA.com falando que o Miami Heat não era um time construído pra vencer na pós temporada. E eu entendi o que ela quis dizer. Na NBA, existe uma coisa que as pessoas chamam de 'basquete de playoff', uma idéia de que o tipo de jogo que é jogado na pós temporada é diferente do basquete jogado na temporada regular. Na pós temporada, onde cada jogo tem uma importância muito maior do que os 82 jogos da absurdamente longa temporada regular da NBA, os times tem um medo maior de perder seus jogos e portanto recorrem a um basquete mais lento, mais cadenciado e que resulte em menos erros e turnovers. Por isso times como o Phoenix Suns do Mike D'Anthony nunca teriam conseguido resultados na pós temporada, era um time que corria mais do que todo mundo na temporada regular mas que na pós temporada tinha cada vez menos erros e rebotes longos para transformar em contra ataques porque os times jogavam de forma mais segura e cuidadosa nos playoffs (Embora o Suns talvez não seja o melhor exemplo do mundo aqui, o Steve Nash era tão maníaco que transformava qualquer reposição de bola num contra ataque mortal).

E o que ele quis dizer é que o Heat é um time que tem como forças exatamente o que você espera que atrapalhe na pós temporada, ou seja, ter nos contra ataques sua principal força e arremessar demais de meia distância. Um arremesso de meia distância, em teoria, é o pior arremesso que você pode dar, tem um aproveitamento mais baixo que um mais próximo à cesta e vale menos que um de três pontos. Mas o Miami Heat usa bastante, até pela falta de arremessadores de três pontos confiáveis e pelo número de jogadores que acertam melhor esses arremessos do que as bolas de longe uma vez que Wade e Lebron, com suas infiltrações, abrem mais espaço perto da cesta. E sobre os contra ataques, o problema é ainda maior. O Miami Heat tem como sua principal força usar a defesa agressiva pra forçar erros e turnovers pra então correr quadra acima com Lebron e Wade. Isso é usado como uma arma letal, afinal são dois excelentes jogadores em forçar turnovers e correr quadra acima, mas também pra camuflar uma das principais falhas do time que é o ataque de meia quadra. O ataque de meia quadra do Heat, algo tão importante nos playoffs, não é confiável, ele tem uma movimentação fraca, os jogadores não parecem confortáveis e acabam esperando que o Lebron e o Wade resolvam tudo sozinho, o que as vezes acontece porque são dois jogadores em outro patamar, mas nem sempre funciona e essa dependência excessiva acaba gerando um vício bem prejudicial ao Heat. Isso porque nos playoffs o ataque de meia quadra é usado muito mais, durante uma parte muito maior do jogo, e o ritmo da partida cai o que atrapalha os contra ataques do Miami.

O Heat, de certa forma, realmente não é um time construído para esse 'jogo de playoffs'. E pra piorar, o time não está conseguindo decidir jogos apertados, outra coisa que é importantíssima no basquete de playoffs. Mas o que eu demorei pra perceber é que as duas coisas estão intimamente relacionadas. O Heat não está sendo eficiente em decidir jogos justamente porque seu ataque de meia quadra é estagnado e tem o vício de depender do Lebron e do Wade pra decidir tudo, além da falta de arremessadores de três pontos. Mais de uma vez eu vi nessa temporada o Miami precisando de uma bola de três no final da partida e o Eddie House ou o Chris Bosh dando esse arremesso pra obviamente errar. Nos finais das partidas, os times costumam evitar a correria e usar o ataque mais lento como forma de evitar turnovers. Mas o ataque de meia quadra do Miami é não só ineficiente como também é muito previsível. O time pode ter o James Jones, o Mike Bibby ou o Pelé na linha de três pontos pra um arremesso, mas todo mundo sabe que quem vai decidir o jogo vai ser Bosh, Wade ou Lebron. Aí fica fácil congestionar o garrafão pra evitar uma infiltração e você sabe quem pressionar na hora do arremesso, o que gera algum arremesso forçado de meia distância de jogadores que não tem nele sua principal característica. O que deixa a preocupação, porque durante a temporada regular essas situações são mais raras principalmente contra os times mais fracos, mas nos playoffs os times vão vir preparados pra forçar essas situações de estagnação o máximo possível durante todo o jogo, e qualquer um dos candidatos ao título tem condições de jogar esse basquete cadenciado e defensivo de forma eficiente.

Me perguntaram ontem se o Miami Heat tem time pra ser campeão. Lógico que tem, tem três dos melhores jogadores da NBA! Se existe algum lugar onde a lógica e os números podem ir para o espaço em questão de segundos, é o mundo do esporte, e o Heat ainda tem excelentes jogadores que podem arrancar vitórias quando estiverem calibrados. Só que quando juntou seu trio de All Stars, o Miami também aceitou construir o resto do elenco com jogadores mais limitados. E por isso e pelo fato do seu Big Three ter características bem parecidas, o time acabou com várias falhas - falta defensor na posição de armador, falta um jogador no garrafão que atraia a marcação alem do Bosh. E também contribuíram para que o Miami Heat fosse, pelo menos em teoria, um time construído para a temporada regular.

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