Obrigado por tudo, Isaiah
Eu ainda estou em choque demais para escrever um texto coerente, mas queria discutir rapidamente alguns pontos sobre a troca que acho que merecem destaque, ou então que não tem recebido o suficiente.
(Nota: Um número surpreendentemente alto de pessoas não entendeu o objetivo da coluna, então deixa eu deixar mais claro ainda. A ideia NÃO é analisar a troca, apenas passar por alguns pontos que a meu ver não receberam a atenção devida, ou que eu gostaria de expandir!)
- Lealdade
Toda vez que um jogador importante muda de time os torcedores trazem a questão da lealdade à tona. Gordon Hayward foi para Boston, e torcedores queimaram a sua camisa. Por algum motivo, as pessoas são muito, muito fanáticas quando se trata desse conceito esquisito.
E o problema é que, quando os papeis estão invertidos, os times são elogiados por deixar de lado o subjetivo e tomar as melhores decisões racionais, a melhor decisão "para a franquia". É uma questão de dois pesos, duas medidas, nas quais os jogadores sempre saem perdendo. Hayward é um traidor ingrato por ter saído do time que apostou e investiu nele em Utah. Mas quando Hayward virou free agent em 2014, o Jazz não ofereceu ao ala um contrato máximo - ao invés disso o Jazz deixou Hayward livre para negociar com outros times um contrato que Utah poderia igualar, na esperança de economizar. O Jazz fez o que era melhor para si próprio, no que estava certo, mas o mesmo fez Hayward quando foi para Boston. Um é elogiado, o outro tem sua camisa queimada.
E a troca de Isaiah é mais um exemplo do quão idiotas somos de ficar chorando sobre a falta de lealdade dos jogadores. Isaiah sempre foi um jogador menosprezado por causa do tamanho, e que enfim tinha encontrado seu lugar em Boston. Isaiah logo vestiu a camisa da franquia, assumiu a identidade da cidade, e se tornou um embaixador do Celtics. Esteve envolvido no recrutamento de Durant e Gordon Hayward, escreveu um texto para o Player Tribune sobre o quanto amava Boston e o quão bom era enfim ter achado um lugar onde era valorizado, jogou nos playoffs pelo Celtics em meio a uma situação extremamente emotiva da morte da sua irmã... e foi trocado dois meses depois do final da temporada.
Da próxima vez que for reclamar da falta de lealdade de um jogador, lembre-se de Isaiah Thomas.
- Subjetividade
Objetivamente, foi uma boa troca para Boston. O time ficou mais jovem, mais alto (mais nisso daqui a pouco), trouxe uma opção de mais alto potencial, e evitou o problema de pagar um contrato máximo a um PG de 5-9 de 29 anos vindo de uma cirurgia grave no quadril daqui a um ano. Você pode argumentar que o custo foi muito alto (e foi), e quanto à forma como o time maximizou seus ativos (hold that thought), mas foi uma troca que fez bastante sentido e tornou Boston um time melhor.
Isso do ponto de vista de basquete. Do pessoal? Eu confesso que estou muito triste. Isaiah não merecia isso depois de tudo que fez pela franquia, e do o time e a torcida significavam para ele. Boston perdeu seu jogador mais amado, e três jogadores (Isaiah, Crowder, e o anteriormente trocado Bradley) que constituíam boa parte da identidade da franquia. O time de 2018 pode ser melhor que antes, mas não tem mais o sentimento familiar daquele grupo de jogadores que você se apegou e viu crescer.
Talvez mude de ideia com o tempo, mas mais do que gostar ou não da troca, eu admito que hoje estou triste.
- LeBron James
Um dos pontos mais crítcos da temporada 2017/18 do Cleveland Cavaliers é a permanência ou não de LeBron James mais um ano. E embora seja impossível dizer, a impressão é que essa troca aumenta as chances de LeBron ficar em Cleveland pelo menos mais um ano - o que já seria uma grande vitória do Cavs.
Um dos pontos de preocupação de LeBron supostamente seria a saída de David Griffin, GM do Cavs. Mas o novo GM, Koby Altman, se saiu muito bem em uma situação extremamente difícil com Kyrie Irving, e agora pode ser um novo foco de estabilidade na franquia. E em um bom cenário, o Cavs pode estar adicionando um role player perfeito para LeBron (Crowder), um PG semelhante a Kyrie para substituí-lo (Isaiah) e AINDA tem a chance de adquirir uma nova estrela para seu futuro dependendo de onde a escolha do Nets cair.
Claro, ainda tem muita coisa que poderia dar errado para o Cavs (mais daqui a pouco). Mas em um cenário onde parecia cada vez mais provável uma saída do King James, uma boa troca dessas pode dar vida nova para Cleveland com o melhor jogador da sua história.
- Golden State Warriors
Deixando de lado a questão do futuro por um momento, e pensando apenas em 2018, eu acho que para o Cavs existe apenas uma pergunta que importa: como essa troca me ajuda a enfrentar o Golden State Warriors?
E a resposta me parece ter duas faces. Por um lado, Jae Crowder é exatamente o tipo de jogador que você quer ao seu lado (e ao lado de LeBron) se você vai enfrentar o Warriors. Apesar da inconsistência, Crowder é um ala capaz de defender três posições, trocar a marcação e espaçar a quadra com seus arremessos. É alguém que te ajuda a enfrentar a altura e versatilidade de Golden State, oferece uma opção para tentar defender Durant sem sobrecarregar LeBron, e pode fazer tudo isso ainda ajudando do lado ofensivo da quadra. No papel, é o jogador que você quer do seu lado.
Mas por outro lado, Isaiah no lugar de Kyrie é uma considerável piora. É possível argumentar que, se Isaiah estiver saudável e conseguir reproduzir seu nível de 2017 (ambas dúvidas razoáveis), a diferença entre os dois jogadores é pequena, se existir. Mas basquete não se joga no papel, se joga em um contexto, e no contexto de enfrentar Golden State ter Kyrie é uma grande vantagem sobre Isaiah por dois motivos.
O primeiro é que Irving é um pesadelo de matchup para a defesa de Golden State. A defesa do Warriors é uma das melhores da história do jogo, e sua principal força vem do quão bem a defesa trabalha em conjunto, trocando marcação, fechando espaços coletivamente, negando a formação da jogada adversária. É talvez o ápice do que uma defesa moderna de basquete deveria ser. No entanto, o jogo mano-a-mano de Irving é quase uma kriptonita para essa defesa, pois ela tira o coletivo da equação e coloca apenas um defensor individual no confronto, que Irving é capaz de fazer valer por conta da sua habilidade surreal de criar arremessos. Isaiah é um bom pontuador em isolação, mas não está no nível de Kyrie (em parte porque talvez ninguém na NBA está) nesse quesito, e essa é uma jogada que realmente precisa ser de outro nível de eficiência para fazer valer. Isaiah dificilmente seria capaz de reproduzir esse nível de produção no mano a mano, e com isso Cleveland perde uma arma de extrema importância e que, repito, Golden State simplesmente não consegue marcar durante alguns momentos.
E segundo pela questão defensiva. Tanto Irving como Isaiah são péssimos defensores, mas esconder o primeiro na defesa é muito mais fácil. Kyrie é um defensor até decente no mano a mano, e muito ruim defendendo fora da bola, se perdendo com facilidade, mas isso em geral é mais fácil de se esconder em um bom time em um bom esquema - para atacá-lo você precisa envolver ele na jogada, e envolver outros jogadores. Kyrie vai errar bastante, claro, mas é mais difícil atacar um jogador assim. Você vai atacá-lo dentro do seu ataque, mas não vai ser um alvo a ser atacado individualmente de novo e de novo.
Isaiah é diferente. Além dos problemas fora da bola (E em screens), a falta de altura de Isaiah faz dele praticamente um missmatch ambulante para o adversário atacar, especialmente um time com tantas armas como o Warriors. Ele pode ser atacado de várias maneiras simplesmente pela sua limitação física que um jogador mais atlético e alto como Kyrie, por pior defensor que seja, não sofre tanto. Isso obriga seu time a se desdobrar muito mais para escondê-lo defensivamente, e não precisa voltar muito no tempo para lembrar o quanto Boston sofreu com suas lineups e formações para escondê-lo contra times como Bulls e Wizards.
Em geral, claro, Isaiah compensa isso com seu ataque fabuloso. Mas dentro do contexto desse duelo, o ataque de Isaiah é uma piora para o Cavs, e sua defesa também, fazendo dele um jogador muito menos efetivo do que Kyrie seria contra o adversário mais importante do ano.
Entre a piora (relativa!) com Isaiah e a melhora com Crowder, como o Cavs fica no matchup é difícil dizer. Em geral, eu diria que o Cavs se torna um time mais estável e com melhor piso na hora de enfrentar Golden State, mas com um teto menor, e contra um time superior esse teto pode fazer mais falta.
- Altura
Querendo ou não, altura importa - e muito - no basquete. E um dos pontos chave que não tem sido levantado o suficiente quando discutindo o Celtics de 2017 e sua projeção para 2018 é como a altura dos jogadores impactou o coletivo do time.
Em especial, o fato de que Boston jogou 2017 com Isaiah Thomas (5-9, jogador mais baixo da NBA) e Avery Bradley (6-2, baixo para um SG) cobrou mais do time do que se imaginaria. Eu já falei sobre como é difícil esconder as limitações defensivas de Isaiah por causa do tamanho, mas esse foi um problema que acabou composto com as limitações de altura de Bradley: um dos melhores defensores mano a mano da NBA, a falta de altura limita não só sua capacidade de ajudar na defesa trocando a marcação e cobrindo os demais companheiros, mas o fato de que ele já tem que fazer isso enquanto cobre a defesa de Isaiah - que não pode ser movido ao redor do alinhamento adversário por causa da altura - limita muito o que Bradley pode contribuir do lado defensivo, e força o time inteiro a ter que compensar por isso.
Esse déficit de altura foi um dos problemas por trás da defesa do Celtics ano passado, e também dos rebotes. A série contra o Bulls quando Rondo estava saudável: Chicago atacava Isaiah individualmente na defesa e nos rebotes, isso gerava uma quebra coletiva para ajudar, e Chicago conseguia mais rebotes de ataque em cima de jogadores fora de posição ou cestas fáceis. E, acima de tudo, um dos fatores que motivou algumas das trocas de Boston, em especial a de Avery Bradley por Marcus Morris, que tinha um objetivo claro de cercar Isaiah (na época) com tamanho para que esse problema ficasse muito menos evidente, e mais fácil de ser coberto. A montagem atual do time teve o foco de aumentar seu tamanho mantendo a flexibilidade e mobilidade de jogadores menores, e é um aspecto subestimado da evolução do time entre 2017 e 2018 e da chegada de Kyrie. Apesar de perder dois dos seus principais defensores, a defesa do time para 2018 pode ter uma evolução devido a ter resolvido aquele que foi secretamente um dos seus principais problemas do ano passado.
- Custo de oportunidade
Eu acho que foi uma troca boa para Boston. O Celtics (corretamente) estava bastante receoso de pagar um contrato máximo ano que vem para um Isaiah Thomas de 29 anos após uma lesão séria no quadril, e Crowder era mais dispensável após as aquisições de Tatum e Morris. A troca por Kyrie da ao time um jogador de maior potencial, mais jovem, e cuja linha do tempo encaixa melhor com o resto desse ainda bem jovem elenco. Você pode argumentar que o preço foi muito alto por causa da escolha desprotegida do Nets, e sem dúvida foi - dado o mercado frio, eu não sei com quem Boston estava competindo por essa troca de forma que o preço tenha subido tanto assim. Mas tornou Boston um time melhor no curto prazo, e manteve a perspectiva ainda mais favorável no médio/longo prazo.
O que eu acho que é um motivo mais complicado, e que merecem mais críticas, foi a forma como o time lidou com seus (muitos) ativos na busca de uma troca. O que é irônico, já que a grande crítica ao Danny Ainge é que ele era apegado demais aos seus ativos na hora de acordar trocas. Mas se era a hora de trocar a escolha do Nets, não poderia ter dado a ela um uso melhor, quando jogadores como Jimmy Butler e Paul George foram trocados por retornos muito menores? Irving é um upgrade sobre Isaiah, mas trocando por esses jogadores você manteria Isaiah, Hayward, Horford e adicionaria mais uma estrela.
Para mim essa é a grande crítica à forma como Boston conduziu sua offseason, e uma bastante válida. É possível que isso tenha sido mais relacionado à avaliação pessoal dos jogadores em questão por parte de Ainge, que é alguém muito confiante em sua avaliação de talentos. Mas de todo modo, não me parece que todo o processo dos últimos meses extraiu o máximo dos ativos que Boston tinha (por sorte eram, e ainda são, muitos), e com a chance de refazer essa offseason, Boston possivelmente teria como sair ainda melhor. E, justo ou não, fica a sensação de que o time pagou caro demais agora depois de se arrepender dos acordos que perdeu mais cedo na offseason.
Dito isso...
É possível criticar o preço pago por Kyrie Irving. É ainda mais válido criticar a forma como Boston lidou com seus ativos, como descrito acima, e o custo de oportunidade que a franquia incorreu ao usar sua escolha mais valiosa em Irving quando outros jogadores talvez melhores poderiam ter sido adquiridos pela mesma escolha, sem perder Isaiah.
Mas a questão que também não pode ser perdida de vista é a seguinte: nessa offseason, Boston trouxe duas estrelas legítimas, montando assim um trio de All Stars em Kyrie, Hayward e Horford, mantendo também junto um excelente promissor núcleo jovem (Smart, Jaylen Brown, Jayson Tatum) E com ainda mais uma escolha valiosíssima do Draft de 2018 nas mangas para adquirir outro jovem talento. O resultado, sem a menor dúvida, ainda é excelente: Boston saiu dessa offseason melhor no presente, e melhor posicionado para o futuro. Esse é um excelente resultado para qualquer offseason.
E parte do motivo pelo qual Ainge pode pagar a mais por Irving é porque os passo anteriores permitiram. Trocar a escolha #1 foi criticada, mas gerou uma escolha Top5 extra, que por sua vez permitiu trocar a escolha do Nets e adquiri uma estrela na posição de PG para o futuro. Perder Crowder não vai doer tanto por causa das aquisições de Brown, Morris e Hayward. Boston passou um bom tempo valorizando os ganhos marginais de cada negociação e cada troca justamente para chegar no ponto onde poderia fazer uma troca podendo pagar a mais sem grandes perdas, e foi o que aconteceu aqui.
Se Boston estava certo em usar essa abertura com Kyrie Irving e não com jogadores com Butler ou George é questionável, mas não muda o fato de que Boston se reconstruiu com uma rapidez única na história da NBA, se estabelecendo como legítima força no Leste, enquanto ainda se mantém muitíssimo bem preparado para o futuro. Na big picture, a trajetória de Boston não é nada além de um grande sucesso.
- Riscos
Desnecessário dizer, essa foi uma troca excelente para Cleveland. Em uma situação difícil com a demanda de troca de Kyrie, em um momento onde o mercado da offseason já estava se fechando e os times estavam com os elencos quase prontos - e com a free agency de LeBron como uma sombra por cima de tudo isso - o novo GM Koby Altman conseguiu uma proeza de primeira ordem. O retorno que conseguiram de Boston é de longe o melhor que conseguiriam no mercado a esse ponto, e atinge três pontos importantes: Conseguem um PG pontuador All Star (e 2nd Team All-NBA) para o lugar de Kyrie, bem como um role player de alto nível, para ajudar a repor sua perda e continuar sendo um forte candidato ao título no curto prazo; adicionaram um jovem talento (Ante Zizic, não esqueçam dele) que teria sido uma escolha de loteria se estivesse nesse draft e mais uma escolha de Draft bastante valiosa, como base para seu futuro; e ainda impressionaram LeBron com essa troca. Cleveland saiu MUITO bem.
Mas o que me incomoda é que toda troca tem prós e contras, ganhos e riscos... mas de modo geral ninguém está comentando dos riscos que essa troca envolve para o Cavs. Todo mundo está assumindo o melhor cenário e avaliando a troca de acordo, esquecendo os pontos que ainda podem agir contra Cleveland na troca.
O primeiro e mais significativo é a saúde de Isaiah Thomas. Isaiah está vindo de uma lesão séria no quadril, e seu jogo depende muito do físico e da sua capacidade de explosão e agilidade. Qualquer lesão que tenha consequências pode afetar bastante seu jogo daqui para frente, e supostamente a lesão foi um dos motivos que levou Boston a fazer essa troca. Pode ser que não seja nada sério, mas com um PG de 5-9 vindo de uma lesão dessas e a um ano de um contrato milionário, a margem para erro é bem menor.
Outro risco é a escolha de Draft do Nets. Embora seja ainda uma escolha bastante valiosa, ela também carrega algum risco. Em um Draft que é considerado muito forte no topo (top4-5) e com uma grande queda depois, o Nets talvez não seja tão ruim quanto em 2017, e quanto se espera. O time foi surpreendentemente competitivo ano passado quando Jeremy Lin esteve saudável, e Brooklyn conseguiu bons reforços que não só melhoram o nível de talento da equipe, mas que encaixam bem no esquema que o seu bom técnico (Kenny Atkinson) quer implementar. Ano passado, o Nets jogou com um estilo divertido e veloz que gerou uma tonelada de boas bolas de três pontos, só não tinha quem as acertasse. Agora com DeMarree Carroll (37% 3PT nos últimos 3 anos), D'Angelo Russell (35%) e Allen Crabbe (41%) a bordo, essas bolas de três vão começar a cair mais, e isso pode tornar esse time razoavelmente perigoso. É um time reforçado, com um bom técnico, e mais importante um que não tem qualquer incentivo para tankar em meio a uma queda no nível geral da NBA e do Leste. O time ainda vai ser ruim, mas isso pode ser a diferença entre uma escolha #3 e uma #6, e nesse Draft essa é uma diferença enorme.
É claro que a troca ainda é ótima, e a melhor que o Cavs poderia conseguir. Conseguiram um All-Star, um bom role player, um jovem jogador com potencial e uma escolha valiosa. Existe um cenário possível onde o time consegue se reforçar contra GSW, vence um título, o time ganha a escolha #1 (de novo!) e LeBron decide ficar em Cleveland. Mais realista, também existe um cenário possível onde o time se mantém bom o suficiente para desafiar GSW de novo esse ano, sem grandes perdas no curto prazo, e mesmo com a saída de LeBron o time se reconstrói em torno de uma escolha Top5 (Bagley, Bamba, Doncic, Ayton ou Michael Porter) de Draft e mais talentos sob contrato.
Mas também existe um cenário onde as lesões de Isaiah prejudicam seu futuro e a temporada 2017 do Cavs, LeBron sai, e a escolha do Nets não rende um dos cinco grandes nomes desse Draft, deixando o time pior no curto prazo e sem uma grande fundação para uma reconstrução. É uma possibilidade real.
Ainda vale a pena? Sem a menor dúvida - a recompensa supera os riscos, e é um excelente retorno mesmo por um jogador do nível de Kyrie. Mas os riscos existem, e não podemos ignorá-los quando discutimos a troca.
- Técnicos importam
Trocas não acontecem no vácuo. Novos jogadores precisam ser incorporados a novos esquemas táticos, e novas funções. Trocas são feitas pensando não no que jogadores fizeram, mas no que farão no futuro para seus novos times, e isso passa sempre por um contexto e uma adaptação difícil de antecipar. Por exemplo, Isaiah Thomas foi melhor que Kyrie em 2017, mas fez isso em um esquema tático montado ao seu redor, tendo como objetivo maximizar suas forças, enquanto Kyrie era segunda opção em um sistema montado ao redor de LeBron James. Em 2018, as funções serão opostas: Kyrie será o foco do ataque, enquanto Isaiah precisará se adaptar a um jogador que gosta de segura a bola. Como cada um será nesse contexto, e quem será melhor? Não sabemos, e isso faz com que analisar trocas seja uma ciência bastante inexata.
Essa adaptação é um trabalho difícil e que muitas vezes vai depender do técnico em questão, o que é uma coisa boa para Boston: o Celtics tem Brad Stevens, um dos melhores técnicos da NBA e um mestre estrategista. E, por acaso, o esquema ofensivo que ele implementa é perfeito para Kyrie Irving: a movimentação de bola e a presença de playmakers como Hayward e Horford vai tira de Irving a necessidade de jogar tanto como criador de jogadas (o que não faz tão bem), e as movimentações usadas para abrir espaços para Isaiah funcionariam ainda melhor para liberar Kyrie para pontuar. Ainda é incerto se Kyrie - alguém que gosta de segurar a bola, jogar em isolação, e que supostamente quer ser a estrela do time - vai aceitar ou conseguir se adaptar ao esquema mais coletivo e a jogar sem a bola como Boston requer, mas sem dúvida jogar com um técnico criativo e um elenco versátil ajuda as chances de sucesso.
Do outro lado, isso é algo que me preocupa um pouco em Cleveland. Isaiah atingiu seu potencial em Boston através de um esquema voltado para sua movimentação sem bola, corta luzes para abri caminho, e uma série de jogadas desenhadas como hand-off. Dificilmente terá a mesma liberdade e atenção do ataque em Cleveland, onde LeBron controla muito mais o jogo. Integrar Isaiah e sua movimentação fora da bola ao ataque que costuma ficar concentrado nas mãos de um jogador só será um desafio, especialmente por causa dos problemas defensivos que Isaiah causa do outro lado.
A troca, em geral, foi boa para ambos os times, mas com isso se refletirá na corrida pelo Leste em 2018 vai depender do quão bem e quão rápido os times conseguem incorporar suas novas aquisições na sua rotação. Tanto Isaiah como Kyrie são jogadores com forças e deficiências bastante específicas, que não são fáceis de se maximizar, especialmente com pouco tempo. E aqui a falta de um grande técnico pode pesar para o Cavs, e Boston pode colher mais um benefício de ter começado sua reconstrução com Brad Stevens.