Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Vencedores e perdedores do Draft... Do jeito certo

Descubra o que faz de Ozzie "Awesome" Newsome
 um dos melhores GMs em termos de Draft


É muito comum, depois de um Draft (especialmente o da NFL), aparecerem posts falando sobre quem ganhou e quem perdeu o Draft. A premissa é simples: Olhando o talento dos jogadores que foram Draftados, quem "ganhou" foi o time que mais pegou grandes jogadores que vão causar impacto e dominar a NFL, e quem "perdeu" foi o time que usou suas escolhas pra pegar jogadors piores que não vão render. O problema lógico com essa abordagem é simples: Ninguém sabe, dias depois do Draft, quais jogadores vão dar certo e quais não vão. Só podemos usar esse tipo de visão alguns anos depois do Draft em questão, depois de ver os jogadores em seus clubes e o tipo de impacto que tiveram. Por exemplo, se alguém fosse fazer uma história do tipo depois do Draft da NFL de 2000, o Patriots provavelmente não seria citado ou seria citado como um dos "perdedores": Não tendo uma 1st round pick (enviada pro Jets como "compensação" por lhes tirar o técnico, Bill Belichick, no meio do seu contrato), o Pats usou escolhas de segunda e terceira rodada em jogadores duvidosos e não pegaram nenhum daqueles jogadores que eram considerados possiveis "steals". Hoje? Eles foram os grandes vencedores daquele Draft por saírem com Tom Brady da sexta rodada do Draft! E ninguém tinha como saber isso.

Isso acontece por causa de um grande problema quando se trata de esportes: Muitas pessoas preferem julgar as coisas pelo resultado do que pelo processo. Ao invés de avaliar todo o processo, que diz muito mais sobre uma pessoa ou uma ideia, elas preferem decidir se esse processo foi bom ou não com base apenas em ter funcionado no final ou não.

Meu exemplo favorito, é claro, são os Oakland Athletics da era "Moneyball". Pra quem perdeu o filme e o livro (heresia!), o Athletics era o time mais pobre da MLB no começo dos anos 2000 mas, usando estatísticas avançadas e contrariando o senso comum (algo ignorado pelos outros 29 times na época), sempre conseguiam ter um dos melhores records da Liga mesmo com a menor folha salarial. Só que como o A's nunca foi campeão, toda a mídia descartava o método de Billy Beane como sendo um fracassado que nunca levaria um time ao sucesso. E dai que esse método tinha feito do Athletics, todo santo ano, o melhor time da Liga por 162 jogos mesmo perdendo seus melhores jogadores todo ano e montando o elenco com jogadores que todos os outros times descartavam? O resultado final - a derrota nos playoffs, em series de cinco jogos onde a variância estatística é absurda - só provava que o método era falho. Alguns anos depois, Theo Epstein remontou o Red Sox com esses mesmos princípios do Athletics e levou o time ao título de 2004... E ai de repente todo o método rejeitado anteriormente passou a ser visto como um sucesso, todos os times adotaram o modelo, e o Red Sox passou a ser visto como o time que tinha feito isso funcionar, embora fosse exatamente o mesmo metodo que levava os A's aos playoffs todo ano.

O problema do Draft é exatamente esse: Todo mundo quer julgar o Draft com base nos resultados, mas ninguém tem como saber exatamente qual vai ser esse resultado, então todo mundo tenta projetá-lo  com base em palpites e suas avaliaçōes anteriores ao Draft, o que é um absurdo porque cada caso é um caso, e o impacto que um time tem sobre um calouro é diferente em cada situação. Não é apenas sobre talento e instrumental: Depende de como o jogador se encaixa em um certo estilo, como uma comissão técnica consegue desenvolver um jogador, como sua personalidade se adapta ao elenco... É uma infinidade de variáveis que torna isso tão dificil de prever. Então sim, daqui a cinco anos podemos sentar e discutir quem acabou se saindo melhor desse Draft e quem acabou quebrando a cara. Mas agora, dias depois do Draft, a unica coisa que podemos fazer é avaliar o processo pelo qual esses times acabaram com esses jogadores.

Então se você espera que eu diga quais times saíram com jogadores melhores aqui, lamento decepcionar. Se quer meus pensamentos sobre cada jogador e as decisōes dos times em draftá-los, então leia meu Running Diary da primeira rodada do Draft. Lá eu dei meus palpites, disse como cada jogador faz sentido naquela escolha e tudo mais, critiquei alguns por algumas escolhas que eu achei equivocadas, e pronto.

O objetivo desse post (pra encerrar de vez minha cobertura do Draft) é outro: Explicar quais são as formas de se avaliar o "processo" de um time no Draft, e como um time se coloca numa posição de sucesso. O resultado aqui é basicamente irrelevante, e vamos focar muito menos no "talento" dos jogadores, uma coisa extremamente subjetiva. Por exemplo, eu acho que o Jets errou ao Draftar Richardson na frente de Lotulelei, os dois jogam na mesma posição e eu acho Lotulelei simplesmente melhor. Mas essa é apenas uma questão de avaliação, de tentar prever o resultado antes dele acontecer. Então podem ficar tranquilos, NYJ fans, vocês não vão ver o Jets entre os "perdedores" aqui. E no final de tudo isso, vou usar esses "métodos" pra falar quais times eu avaliei como positivos e negativos nesse Draft.

Mas bem, vamos a isto: Quais são as formas de se avaliar o processo de um time no dia do Draft?


1. Como o time lidou com o valor de suas escolhas de Draft?

A primeira e mais importante faceta do Draft envolve uma palavra apenas: "Valor". Pense numa escolha de Draft como um ativo. Ela te dá direito a escolher um jogador entre um grupo de jogadores, e quanto antes você escolher, maior será a chance de escolher o cara que é avaliado como o melhor, ou mais valioso. Portanto, a forma como voce usa essas escolhas pra adquirir esse talento faz toda a diferença. O que eu estou falando nao é que você tem sempre que usar suas escolhas pra adquirir o jogador mais valioso disponível, essa é apenas uma abordagem possível e a abordagem depende do caso em questão (já chegaremos lá). O que eu estou falando é que, quando você está no Draft, você tem que maximizar o valor das suas escolhas quando está decidindo o que fazer com cada escolha, seja trocar ou escolher um jogador. 

Pense na seguinte situação. Voltemos ao Draft de 2000, quando Tom Brady entrou na NFL. Brady era avaliado pela Liga como uma escolha de sexta/sétima rodada ou até mesmo não-draftado, aquele QB que voce pega no final do draft pra competir pelo banco. Agora suponha que alguém entrou numa máquina do tempo hoje, voltou pra 2000 e disse ao Bill Belichick "Hey, sabe o garoto Brady? Daqui a 13 anos vão estar discutindo ele contra os maiores QBs de todos os tempos! Você TEM que pegar ele!". Agora me diga: Belichick usa sua escolha de primeira rodada (suponha que ele tivesse uma) pra pegar Brady agora que ele sabe que ele vai ser tão espetacular?

Pense... Pense...

E... Tempo!

NÃO!!! NÃO!!!!!!!! CLARO QUE NÃO!! Porque ele faria isso? Brady está avaliado pela Liga como uma escolha de sexta rodada no máximo, porque ele iria gastar uma escolha de primeira rodada em um jogador que ele pode pegar com uma de quinta ou sexta? Ele tem que usar sua escolha de primeira rodada em um atleta avaliado como tal que ele não seria capaz de pegar mais tarde. Mesmo se ele tiver medo de outro time pegar Brady antes dele na sexta rodada, pode usar uma escolha de quinta ou quarta pra garantir o jogador sem sacrificar o valor das suas escolhas mais altas. E não precisamos nem ir em casos tão extremos: Suponha que um bom time (escolha 25th, digamos) quer pegar um certo jogador cotado como uma escolha de meio de segunda rodada, e não vê nenhum jogador que vale essa 25th pick. Ele pode simplesmente pegar o seu jogador, não é um gap tão absurdo, mas a melhor forma de maximizar o valor dessa escolha seria trocar pra descer no Draft, ainda pegando seu jogador numa posição mais adequada e pegando mais escolhas no processo.

Claro que isso depende de outra questão: A avaliação de jogadores. O importante nesse caso não é o verdadeiro valor do jogador (algo impossível de medir), mas o valor que é atribuído ao jogador antes do Draft por analistas, especialistas e pelos times. Nem todo time vai avaliar os jogadores igual, mas hoje em dia na era da informação, os times em geral tem avaliaçōes bastante próximas, sem grandes desvios. Voltando pra questão do Jets, Richardson e Lotulelei tinham um valor semelhante pra 13th pick do Jets, nenhum deveria cair muito mais. Era apenas uma questão de avaliação. A liga em geral avaliava Lotulelei como melhor, o Jets avaliou Richardson como melhor... Mas ambos avaliavam os dois jogadores como sendo um talento de valor semelhante no Draft. Por isso mesmo que hajam algumas diferenças - que tende a aumentar nas rodadas posteriores - em geral a variação não é tão grande. 

E no final, essa é simplesmente a face mais importante do Draft. Cada pick carrega um certo valor, que decresce conforme a escolha vai sendo mais tardia. Conseguir usar bem o valor dessas picks, seja na hora de escolher um jogador ou de fazer uma troca por outras picks, o importante é sempre maximizar o valor das escolhas que você tem na mão. E como voces vão reparar, mesmo as categorias abaixo envolvem o valor que voce tira das suas escolhas também, só que de outras formas.


2. Como os jogadores escolhidos se encaixam no time?

No fundo, isso esta intimamente relacionado à questão do valor, mas mais específica. O item anterior envolve o valor absoluto dos jogadores mas ainda mais das escolhas, em maximizar o valor de cada escolha na hora de tomar decisōes. Essa envolve uma outra simples verdade: Assim como um objeto nã otem o mesmo valor pra cada pessoa, o valor de cada jogador não é igual para todos os times. 

Isso acontece por uma variedade de motivos. O primeiro, e mais obvio, é que os times jogam de formas diferentes, com estilos diferentes e com playbooks diferentes. Portanto, cada time vai precisar de jogadores com características que se encaixem no que o time vai usar em campo. Por exemplo, se eu jogo com uma defesa 4-3 como base, eu posso até draftar um OLB cuja força é ir atrás do QB, mas esse tipo de jogador vai ter menos valor pra mim do que pra um time que jogue em uma defesa 3-4, por exemplo. Ou de forma mais sutil, se meu ataque é baseado mais fortemente no jogo terrestre do que no jogo aéreo (pense 49ers com Alex Smith), um OG ou um OT mais veloz e mais eficiente na corrida tem  mais valor do que pra um time como Patriots onde o trabalho da OL é proteger o QB na maior parte do tempo. 

Uma outra forma de se pensar em valor relativo é a seguinte: Alguns times simplesmente sabem desenvolver jogadores melhores do que outros em dadas posiçōes. Pense na defesa do Steelers: Eles tem o mesmo DC faz anos, e jogam com o mesmo esquema faz um tempão. Eles sabem exatamente o que precisam nos seus jogadores de defesa e por isso tem mais facilidade que qualquer outro time da Liga desenvolvendo esses jogadores, em especial seus OLBs. Portanto, pra um OLB pego na terceira rodada do Draft, ele tem muito mais chance de se desenvolver em um bom jogador no Steelers, seus técnicos excelentes e seu esquema consolidado,  do que qualquer outro time que tente pegá-lo mais pra frente. Por esse motivo, o Steelers sabe que pode pegar um OLB mais pra frente e desenvolvê-lo, então não precisa usar  suas escolhas mais altas - e mais valiosas - pegando jogadores dessa posição com tanta frequência, podendo dedicá-las a jogadores de outras posiçōes que o time não desenvolva tão bem sabendo que pode conseguir um bom OLB em outro momento do Draft.

Então esse tipo de encaixe importa. Valor não depende apenas da escolha que está sendo usada, mas do encaixe do jogador com o time. Um jogador tem maior valor relativo pra um time se ele se encaixar melhor no seu estilo de jogo (o que não quer dizer que um time não vá pegar um grande talento cujo instrumental não seja o mais perfeito ao seu estilo, though), e um time eficiente em certas áreas pode usar isso pra buscar maior valor em áreas deficientes. Combinar isso com o valor de cada escolha é uma constante em times que draftam bem (Steelers, Ravens, etc).


3. Como a abordagem do time no Draft impacta na situação atual do time?

De novo, valor é algo relativo. A chave do Draft é maximizar o valor de cada escolha que você tem, mas cada time tenta fazer isso seguindo uma estratégia diferente baseado em uma necessidade diferente. A ideia do Draft é que não apenas ela trás valor na forma de jogadores, mas duas outras coisas: Jogadores baratos (contrato de calouro) e jogadores jovens (portanto você pode desenvolvê-los). A segunda parte, nesse caso, é um pouco mais importante: Jogadores não saem do Draft prontos, eles passam por um processo de alguns anos de adaptação e desenvolvimento. E até por uma questão estatística, quanto mais jogadores você tiver, maior a chance de um deles virar um bom titular mesmo vindo de rodadas mais tardias. Pra um time ruim e com vários buracos, é interessante ter o maior número possível de escolhas pra ter maior numero de chances de conseguir bons jogadores. Da mesma forma, pra um time mais pronto e com poucos buracos, as vezes vale a pena sacrificar algumas escolhas de Draft, subir posiçōes e pegar um jogador mais pronto e explosivo pra ajudar em uma área chave do seu time.

Um bom exemplo recente é o do Atlanta Falcons. Dois anos atrás, o Falcons tinha um bom time: Boa linha, bom QB, boa defesa. Era um time bem completo que tinha apenas um buraco grande: O time precisava de outro WR. Com um bom numero de picks no Draft, o Falcons decidiu trocar uma cacetada de picks (duas 1st rounds, duas seconds, uma 4th) pela sexta escolha do Draft (Browns) e pegar o WR Julio Jones. Em um vácuo, o valor das escolhas que o Falcons enviou para o Browns valiam mais do que a que eles receberam em troca. Mas pra um time tão lotado e com poucas falhas como o Falcons, o valor marginal de Julio Jones (ou seja, o valor que a adição do jogador adiciona ao conjunto) era maior do que o valor marginal que eles iriam conseguir adicionando cinco outros jogadores inferiores que não encaixassem tão bem no time como JJ. E pro Browns, cheio de buracos no time, o valor adicional desse monte de escolhas de Draft, jogadores que cobrem mais funçōes no time, compensava a perda de uma possível estrela. Tudo depende da situação.

Claro, você não pode ser cego e fazer as coisas sem pensar. Um time ruim pode trocar todas suas escolhas altas por dezenas de escolhas baixas, e pode sair com um monte de bom role players disso, mas vai perder a chance de adicionar jogadores mais garantidos e com maior potencial. Da mesma forma, um time não pode trocar suas 7 escolhas por uma só lá no alto, o risco eé alto demais de uma lesão ou um bust acabar com um ano. Entao tudo depende de achar o equilíbrio certo e a estratégia certa pra otimizar o valor pro seu time.


4. Como o Draft supriu as necessidades do time?

O último ponto pode parecer óbvio - e de certa forma é - e está intimamente ligado aos outros três pontos: Praticamente todo time tem alguma posição de necessidade, alguma posição deficiente que precisa ser adereçada, e o Draft é muitas vezes a ferramenta perfeita pra isso já que a essa altura, um bom numero de Free Agents já saiu do mercado. Então, a lógica diz que você deve usar o Draft, de alguma forma, pra suprir essas necessidades ou se arriscar a ir pra temporada com essa falha.

Esse ponto aparece aqui por ultimo porque ele é o mais simples, mais fácil de se ver, e justamente por isso é o que mais GMs retardados usam como o ponto principal, quando na verdade ele deve sempre estar sujeito aos três primeiros pontos. O pior pecado que um GM pode cometer com regularidade no Draft é ficar cego pelas necessidades do time e ignorar os outros três pontos cruciais, e pegar cegamente um jogador que ele precisa.

Por exemplo, pegue o San Francisco 49ers. Eles trocaram uma escolha de terceira rodada pra subir na primeira rodada e pegar um FS, Eric Reid, que tapava a maior necessidade do time no lugar do Free Agent Dashon Goldson. Em termos de valor, as picks que o 49ers perdeu são 20% mais valiosas (de acordo com Football Outsiders) do que a que eles receberam. Só que ai entra o contexto: O 49ers tinha 13 escolhas de primeira rodada e um elenco recheado de tal modo que teria pouco espaços pra muitos calouros, então fazia todo o sentido pra equipe subir no Draft (conforme dito no item anterior) e pegar o jogador que seria o melhor encaixe no seu time. Se um time tipo Browns fizesse isso, eu iria rir da cara deles. Entao tudo depende de contexto.

Pense de outra forma: Na média, os times avaliam os jogadores de forma semelhante antes do Draft. Alguns avaliam certos jogadores melhor, outros pior, mas na média - ainda mais hoje em dia nessa época de tanto acesso à informação - a avaliação é semelhante pros 30 clubes. Então porque os mesmos times e GMs sempre saem do Draft melhores do que a média dos times enquanto outros sempre parecem sair mal do Draft?? Porque os GMs/técnicos inteligentes (Bill Belichick, Trent Balkee, John Schneider, Ozzie Newsome, etc) sabem muito bem como trabalhar o valor no dia do Draft ao invés de simplesmente ir cegamente atrás dos bons jogadores ou que cobrem as necessidades, enquanto os outros não pensam dessa forma e só pegam os jogadores que querem independente da possibilidade de extrair maior valor da situação. E por isso essa categoria, ainda que importante, é apenas a quarta.


Então essas são as quatro melhores formas de se avaliar um Draft. Os times inteligentes sabem como lidar com todas essas faces do Draft e extrair o maior proveito deles no dia do Draft em si, apesar de toda a incerteza em relação aos resultados, enquanto times burros escolhem punters na terceira rodada porque "prefere escolher um titular do que um reserva com a 3rd rounder" (FYI, esse time tem Blaine Gabbert de QB e passou Russell Wilson pra pegar esse punter). Obviamente, a chave é equilibrio. Não existe uma resposta certa e cada situação exige uma resposta diferente, e os capazes de juntar esses conceitos nessa resposta são os que tem sucesso.

Usando agora esses conceitos, e também pra exemplificar o que eu quero dizer, vamos ver alguns exemplos rápidos de times que mandaram bem e que mandaram mal nesse Draft.


Philadelphia Eagles

Pra mim, o Eagles foi um dos grandes vencedores desse Draft, embora eles tivessem uma certa... "vantagem". O Eagles trocou de técnico ao final da temporada passada, depois de anos jogando sob a batuta de Andy Reid, pra dar o cargo de Head Coach pra Chip Kelly, um técnico vindo da NCAA famoso por seus explosivos esquemas ofensivos como técnico de Oregon. Portanto, essa troca de técnico significou uma mudança drástica de esquema tático: Kelly vai querer implementar seu ataque extremamente veloz e explosivo no lugar do esquema de Reid, e muitos dos jogadores que estão atualmente no elenco do Eagles foram draftados por Reid pra servir aos seus esquemas. E como Kelly vai precisar usar e testar seu esquema na NFL para poder adaptá-lo, ele precisaria de um time capaz de executá-lo em primeiro lugar.

E eis porque eu acho que o Eagles se deu bem: O time conseguiu os jogadores perfeitos no local perfeito para poder usar seu plano ofensivo com liberdade. Em um Draft considerado fraco e com poucos times dispostos a pagar caro pra subir nas primeiras rodadas, o Eagles optou por usar suas escolhas pra arrumar a casa e dar ao Kelly os jogadores pra ele poder implementar seu estilo, ao invés de gastar mais um ano tentando acumular os jogadores. E eles conseguiram os jogadores perfeitos pra isso: Na primeira rodada, pegaram o terceiro melhor OT do Draft, Lane Johnson. Pra mim, Johnson é o terceiro melhor OT desse Draft, mas ai que está: Nenhum era mais perfeito que Johnson pra jogar com esse HC. O estilo de Kelly é baseado em muita velocidade e precisa de jogadores que possam sair da linha e acompanhar bloqueios ao longo da jogada, e a primeira coisa que chama a atenção em Johnson é sua absurda velocidade e capacidade de ao longo de uma jogada. Então era o tipo de jogador que era chave pra esse esquema e que o Eagles pegou pro lugar de sua linha mais velha e menos explosiva. Outro jogador ideal que o Eagles pegou foi o TE Zach Ertz. Hoje em dia, todo ataque da NFL precisa de um TE explosivo, capaz de dar uma opção pelo meio e usando sua velocidade e tamanho pra criar mismatches. Em um ataque como o de Kelly que prioriza a velocidade dos jogadores e gosta de jogar pelo meio da defesa, um TE como Ertz - um missmatch ambulante capaz de se alinhar em qualquer lugar do campo - é um requisito indispensável. Em Johnson e Ertz, o Eagles adquiriu duas peças que são fundamentais pro futuro da Franquia.

Mas o Eagles teve outro grande acerto: Trocar na 4th round pra pegar Matt Barkley. Barkley, ano passado, era cotado como uma escolha de primeira rodada de Draft, possivelmente top10, e a provavel 1st pick de 2013. Esse ano, caiu pra quarta rodada, principalmente por causa de um ano ruim na universidade marcado por lesōes e um time que decepcionou. As duvidas sobre seu braço "fraco" e sua saude o acabaram tornando uma escolha duvidosa pra primeira rodada, mas definitivamente com valor na segunda/terceira como um QB inteligente, acostumado a jogar em um esquema de NFL no College e que poderia ter sucesso na NFL em um ataque que jogasse em torno das suas forças (vale notar: Outro otimo College QB que caiu pra terceira rodada por conta de lesōes e um braço "fraco"? Joe Montana). O Eagles, sem um QB preparado pra 2013, não teve interesse nele no começo, preferiu ir atrás de jogadores diferentes, mas quando ele caiu pra quarta rodada, Kelly foi atrás dele tanto como escolha de valor (Ele é bem mais NFL-ready do que uma escolha de quarta rodada) e porque Barkley PODE vir a ser um bom QB para um time que nao confia no seu titular (Michael Vick). O Eagles joga em um esquema de passes curtos, pensamento rápido e inteligencia na chamada de jogadas na linha de scrimmage, e pelo menos em teoria, Barkley é mais adequado a esse esquema que Vick ou Foles, além de ser um esquema cheio de playmakers onde seu braço "fraco" seria um problema menor. Então pra quarta rodada, o Eagles soube identificar um talento que escorregou demais e que ainda poderia se encaixar bem na equipe, tanto por esquema como pela posição. Excelente pick, excelente abordagem, excelente Draft.


Oakland Raiders

O Raiders, antes do Draft, se tomou de amores pelo CB DJ Hayden. Cotado originalmente como o segundo melhor CB do Draft e uma escolha de meio/fim de primeira rodada, Hayden aparentemente convenceu o Raiders com seus workouts e entrevistas que ele era o terceiro melhor jogador do Draft, depois de Eric Fisher/Luke Joeckel. Como eu disse, isso é uma questão de avaliação: O Raiders avaliou ele como um jogador muito superior ao que o resto da Liga tinha avaliado em termos de talento/encaixe. E não estamos julgando avaliaçōes aqui, e sim processo.

E aqui está porque o Raiders se saiu como um vencedor do Draft: Oakland tinha Hayden como o terceiro melhor jogador do Draft e estava disposto a draftá-lo com a terceira escolha, embora a Liga o avaliasse com um valor inferior. Mas o Raiders, por causa de diversas trocas e más decisōes nos ultimos anos, passou os ultimos Drafts com poucas escolhas altas e até por conta disso fracassou em desenvolver uma boa base de talento jovem pra equipe. Sabendo dessas duas coisas, o Raiders buscou ativamente alguém pra trocar sua 3rd pick da primeira rodada, sabendo que precisava urgentemente de mais escolhas de Draft (de preferencia altas) pra recompor a base de talento do time e conseguiu uma escolha de segunda rodada por descer 9 picks na primeira rodada, uma boa troca que rendeu ao Raiders uma escolha de segunda rodada que o time não tinha e ainda pegar o jogador que queria em uma posição mais adequada. Então o Raiders fez o certo ao identificar o jogador que queria, não se desesperar para pegá-lo, ser paciente, conseguir um maior valor pela sua escolha e conseguir o jogador que queria e as picks que precisava.


San Francisco 49ers

Um caso interessante por ser o oposto do Eagles e Raiders: Um time extremamente cheio de talento, com algumas posiçōes de necessidade mas com um grupo que tem poucos lugares pra calouros. E a abordagem do 49ers foi consistente: Aproveitando-se do numero absurdo de escolhas que o time tinha (13) e sabendo que não teria lugar pra 13 calouros no seu time, o 49ers usou essas escolhas pra subir no Draft e ir atrás dos jogadores que precisava: Trocou uma escolha de 3rd round que não realmente precisava pra ir atrás da unica posição que tinha real urgência (safety), indo atrás do safety que o time melhor tinha rankeado; e depois trocou também escolhas de final de draft (que tinha de sobra) para subir no final das segundas e terceiras rodadas e roubar o TE Vance McDonald (pro lugar de Delanie Walker, Free Agent) e o DT Corey Lemonier, dois jogadores que o time tinha em alta conta e podia se dar ao luxo de gastar picks para adquirir.

A situação estável e completa do 49ers também deu ao time outro luxo: Ir atrás de dois talentos de primeira rodada que cairam por conta de lesōes. "Tank" Carradine era o jogador perfeito pro lugar de Justin Smith na linha do 49ers, um DE físico e excelente pass rusher que era cotado como um dos melhores do Draft antes de estourar o joelho no final da temporada passada. A questão é, o 49ers tem talento e depth suficientes pra pegar esses jogadores e deixá-los treinando e se recuperando até estarem realmente prontos para entrarem. O mesmo aconteceu com Marcus Lattimore, considerado por muitos o melhor RB dos ultimos anos e melhor back desse Draft, que caiu por conta de duas lesōes assustadoras no joelho e dúvidas sobre fragilidade e capacidade de contribuir desde já. Mas com um time com pelo menos três excelentes RBs e muita tranquilidade na posição (e 400 escolhas de Draft), o time pode se dar ao luxo de pegar Lattimore e deixá-lo um ou dois anos treinando e se recuperando com calma antes de ter necessidade de entrar e contribuir. Mesmo se der errado, não perde nada.

Apesar de ter usado com muita inteligencia sua posição pra adotar uma estratégia agressiva, isso não quer dizer que Balkee tenha confundido agressividade com impaciência. Sabendo da absoluta falta de necessidade do time por mais escolhas em 2013, o time aproveitou o desespero do Titans pra conseguir um importante ativo pro futuro, no caso uma escolha de terceira rodada do ano que vem (um draft supostamente profundo), trocando escolhas de segunda rodada (recuando apenas sete posicoes) pra conseguir essa escolha futura. É outra abordagem de Draft que tem a ver com o estado atual da equipe, mas não menos brilhante: Aproveitar suas vantagens pra adquirir o maior valor marginal para a equipe e ativos para o futuro. Saber usar sua posição de força é o que mantém bons times bons.


Buffalo Bills

E aqui chegamos ao grande erro do Draft de 2013: EJ Manuel.

Vamos repassar o que nós aprendemos: O Bills draftar EJ Manuel sobre Geno Smith, Barkley e cia foi uma questão de avaliação. O Bills tem um técnico novo, com um novo esquema e eles acreditaram que Manuel e sua habilidade física pra sair do pocket (embora tenha usado muito pouco option no College) poderia ver a calhar numa NFL que está tendo muito sucesso com o option. Portanto, por ser uma questão de encaixe num esquema novo e adaptação, não podemos criticar o Bills por alguns anos até ver no que isso vai dar (embora eu pessoalmente acho que se era pra pegar um QB pela mobilidade, o Geno servia).

E aqui está o que eu POSSO criticar o Bills: Eles ficaram cegos pela necessidade de um QB e se focaram nisso, ignorando as três primeiras "liçōes" desse post, em especial a primeira. Manuel era cotado como uma escolha de de terceira rodada e olhe lá, o quarto ou quinto melhor QB de uma classe particularmente fraca. Geno Smith, amplamente considerado na NFL o melhor do Draft, só saiu na 39th pick, e o terceiro a sair foi só no meio da terceira rodada (Mike Glennon). Matt Barkley caiu pra quarta rodada. Eu acho que todo mundo já entendeu que o valor do Manuel nao era maior do que uma escolha de final de segunda/terceira ou até quarta rodada. Porque draftar ele no meio da primeira rodada quando não tinha NENHUMA movimentação da Liga em direção a um Quarterback??

O Bills fez a coisa certa da primeira vez, na verdade, descendo da oitava pick do Draft pra pegar uma escolha extra de segunda rodada, um excelente valor aproveitando do desespero do Rams (não critico o Rams por overpay pela pick porque precisavam urgente de um WR e tinha um bom numero de escolhas, btw). Se fosse um time muito sólido em diversas posiçōes essa primeira troca teria sido talvez suficiente, mas num time cheio de necessidades - WR, TE, linha ofensiva, algumas posiçōes de defesa -  o valor da escolha que voce joga no lixo draftando um jogador de terceira rodada na primeira faz muita falta. Pega o melhor jogador disponivel ou então troca pra descer e adquirir multiplas escolhas (ou até mesmo, melhor ainda, uma escolha futura de primeira rodada ou até segunda/terceira), mas não pode jogar fora esse valor todo só porque quer garantir um jogador. Mesmo os melhores e mais recheados time (como o 49ers acima) sabem a hora de ser agressivos e a hora de garantir os melhores ativos para seu time, e o Bills jogou isso pela janela. Pode ser que Manuel seja o novo Russell Wilson e o Bills ganhe cinco Super Bowls, mas de novo, esse seria o resultado. E o pior, eu gostei do Draft do Bills em geral tirando essa pick, mas um time que não é relevante em uns 15 anos não vai melhorar se não explorar o verdadeiro valor dos seus ativos.


Minnesota Vikings

Outro time que fez uma coisa inteligente outra mas jogou um monte de lixo por cima e enterrou no quintal pra crescer uma árvore radioativa.

O Vikings, mesmo vindo de uma ótima temporada e playoffs, não é realmente um grande time do primeiro ao ultimo jogador. Tem bons jogadores, a OL é sólida e tem o melhor RB da NFL desde LT, mas o time perdeu seu melhor WR e o trocou por um bom WR com pernas de vidro, não tem outro WR competente e tem muitos buracos ao longo do plantel. Mas com um bom número de escolhas e duas picks de primeira rodada, o Vikings parecia numa boa posição pra trazer um bom número de jovens jogadores e recompor o elenco, tapando os buracos e trazendo talento jovem pra equipe.

O Viks começou bem o Draft, pegando Shariff Floyd com sua primeira escolha, uma potencial Top5 pick que caiu no Draft devido a problemas de personalidades mas ainda era um ótimo valor pra equipe, sem dúvida o melhor disponível, mesmo não sendo a maior necessidade da equipe. Com sua segunda pick, o time draftou o CB Xavier Rhodes, cotado como fim de primeira/começo de segunda rodada. De novo, nenhum problema aqui. Eu pessoalmente achava que um WR era uma necessidade mais urgente pro Viks, mas nenhum problema pois o Draft tinha boa profundidade de WRs. Podia pegar um na rodada seguinte e ainda ter um bom numero de escolhas pra adicionar a profundidade necessária.

E ai que tudo desandou. Trocando sua escolha de segunda rodada, uma de terceira, uma de quarta E uma de sétima, o Vikings subiu pro final da primeira rodada (29th) pra pegar Cordarelle Patterson, um WR mais cru que praticamente qualquer outro WR do Draft. O que aconteceu foi provavelmente que o time tinha Rhodes bem cotado (acima da 25th pick), ficou surpreso quando ele caiu até sua pick, e achou que valia a pena pegá-lo ali, mas ai o time quis pegar também sua escolha original e trocou tudo que pode pra pegá-lo. O Patriots, um dos times que melhor entende o valor de escolhas de Draft, se aproveitou da situação e aproveitou pra tirar do Vikings tudo que pode: No final, eles acabaram com esse show de escolhas que, segundo o Football Outsiders, vale 60% a mais do que a 29th pick que eles enviaram ao Vikings.

Colocando em perspectiva: Quando um time quer subir no Draft, ele acaba tendo que overpay pela escolha que ele busca na maioria das vezes por ter menor base de negociação. Entre todas as outras trocas nessa primeira rodada, quem mais overpaid por picks foram o Niners (22%) e o Atlanta (28%), dois times que chegaram muito longe ano passado e buscavam peças especificas pra complementar seus times (além de terem um bom número de picks). O Viks pagou mais do que os dois juntos sendo que tem um time muito inferior e com maior necessidade dessas picks de meio de rodada, um exagero inexplicavel ainda mais considerando a boa profundidade de WRs nesse Draft. Falcou jogo de cintura aqui pro Vikings: Tiveram a chance de pegar um jogador que provavelmente tinham rankeado mais alto e o pegaram, mas ai teimaram em pegar o mesmo WR que queriam e pagaram um preço muito caro por isso. Faltou jogo de cintura pra pensar "Ok, perdemos o WR que queriamos ams pegamos alguem que gostavamos mais, agora vamos em busca de outro pro lugar dele". E pros que se perguntam se isso realmente é tão ruim assim, foi essa lógica que fez o Minnesota Timberwolves pegar Jonny Flynn sobre Steph Curry em 2009. So there!

Um comentário:

  1. Como torcedor do Chargers acho que o draft do time foi mais ou menos.
    O Te'O foi a melhor escolha.
    O Flukker vai ajudar na péssima linha ofensiva, mas acho que tinha que ter draftado um LT.

    Mas vamos lá, pior que a temporada passada acho que não vai ser.

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