Tim Duncan aprova essa coluna
Algum tempo atrás, eu fiz um dos post mais populares da história do TM Warning, no qual eu usava a Premissa Marciana (Aliens atacaram a Terra e nos desafiaram pra uma série de basquete de 7 jogos pelo controle do planeta) pra montar um time de jogadores da história da NBA que eu usaria pra enfrentar os Marcianos (eu sei, eu sei, bizarro. Mas vale a lida, garanto!). Um pouco depois, por diversão, eu comecei a postar aleatoriamente no twitter "times" que eu ocasionalmente formava, como meus All-White NBA Team, por exemplo (Rubio, Thompson, Kirilenko, David Lee, Marc Gasol), sem nenhum motivo aparente além de ser divertdo.
Um dos resultados dessas duas coisas foi que algumas pessoas começaram a me mandar emails pedindo pra eu fazer algumas outras "versōes" de times. Alguns eram previsíveis e repetitivos, mas alguns eram muito interessantes e me faziam ficar um bom tempo pensando antes de responder e geravam conversas bem interessantes. Até que um leitor identificado apenas como "Vinicius" me pediu pra fazer um time de jogadores mais underrateds da história da NBA, jogadores que por algum motivo nunca receberam o devido crédito. Depois de pensar um pouco, me empolgar e limitar meu time apenas a estrelas ou superestrelas da história da NBA, eu finalmente cheguei no seguinte time:
Titulares: Dennis Johnson, David Thompson, Elgin Baylor, Tim Duncan, Nate Thurmond
6th Man: Sam Jones
Reservas: Paul Westphal, John Havlicek, Bernard King, Billy Cunningham, Dave Cowens, Earl Monroe
Injury Reserve: Kevin McHale
Técnico: Al Attles; GM: Jerry West
A primeira coisa que me chamou a atenção quando eu terminei de montar esse time foi como ele era composto predominantemente de jogadores mais antigos: Baylor e Sam Jones jogaram nos anos 50/60; Monroe, Havlicek, Cunningham e Thurmond nos anos 60/70; Westphal, Cowens e Thompson nos anos 70; DJ nos anos 70/80; 'Nard nos anos 80; e McHale nos anos 80/90. Quanto mais pra trás vamos na história da NBA, mais jogadores underrateds vamos encontrando, e quanto mais recentes, mais dificil é encontrar esses tipos de jogadores, especialmente estrelas.
Isso acontece por um motivo bem simples: Cobertura da mídia. Elgin Baylor mudou o jogo quando entrou na NBA em 58, trouxe à Liga a explosão e o hang time que faltava numa NBA entediante composta predominantemente de jogadores brancos e não atléticos, mas essa "mensagem" era dificil de se espalhar na época: A cobertura de TV/rádio era quase nula e não tinhamos coisas como Sportscenter e Pre-Game Shows pra transmitir pro resto dos EUA as jogadas sensacionais e as atuaçōes brilhantes. Basicamente, era muito dificil pra grandeza de alguns jogadores (em especial um que nunca ganhou um titulo como Elgin) chegar aos ouvidos do grande público - a única publicação de alcance nacional na época era a Sports Illustrated. Conforme o tempo foi passando e as comunicaçōes foram se aperfeiçoando, o alcance desses jogadores foi aumentando: TVs começaram a transmitir mais jogos, mais programas se dedicaram a mostrar e racionalizar o sucesso de alguns times ou jogadores, e a visibilidade desses jogadores foi aumentando. Hoje chegamos ao maximo nesse aspecto: Com tantos canais de esporte, cobertura 24h, blogs e tanta cobertura especializada e inteligente, estatisticas avançadas e facilidade de acesso a tudo isso, é praticamente impossível ter algum jogador rated impropriamente. Por isso é cada vez mais dificil achar jogadores assim hoje em dia, especialmente uma estrela que receba tanto destaque.
Tim Duncan é a exceção. Ele é o unico jogador desde 2000 que eu sequer CONSIDEREI pra esse time. Numa época de tanto acesso a informaçōes e opiniōes inteligentes, Duncan continua sendo o Superstar mais underrated da história da NBA (tirando talvez David Thompson). Depois de 16 anos, 2 MVPs, 3 Finals MVPs, 4 títulos e de ter acabado de garantir sua quinta participação em Finais (um numero que poderia facilmente ser sete se não fosse o milagre de Derek Fisher em 2004 e uma burrada de Ginobili em 2006), Duncan deveria ser um no-brainer como o melhor Power Foward de todos os tempos e um dos 10 melhores jogadores da história, alguém capaz de ancorar um time por anos e anos. Mas tem gente que ainda acha que Karl Malone foi melhor, ou que Kevin Garnett, ou qualquer outro PF. Tem gente que ainda acha que Shaq foi um jogador melhor que Duncan. Tem gente que acha um absurdo que Duncan esteja na conversa pra "Melhor jogador da sua geração" junto com Kobe (e eu acho que Duncan foi o melhor da sua geração, mas ai é opinião). Apesar de Duncan ser o Superstar mais consistente da historia da NBA, ainda tem gente que acha que ele nunca foi dominante o suficiente pra merecer o respeito que outras estrelas recebem.
Eu realmente não deveria ter que gastar dois parágrafos defendendo os méritos de Duncan, mas whatever. Depois de um 21-12 como calouro e levar um decadente Spurs a 56 vitórias (1st Team All-NBA, ROY), Timmy liderou o Spurs ao título de 99 sendo MVP das Finais depois de varrer Shaq e o Lakers (terminando a série com um 37-14-4 e praticamente devorando Shaq) e depois dominar o Knicks nas Finais (27-14), se tornando o segundo jogador mais jovem da história a ser MVP das Finais depois de Magic. Com David Robinson em rápida decadência, Duncan manteve o Spurs como uma força, levando um time muito fraco em 2002 a 58 vitórias e a 2nd Seed num Oeste ridiculamente forte com médias absurdas de 25-13-4 com mais de 200 tocos e ancorando toda a defesa da equipe E sendo o foco ofensivo do time; o Spurs foi eliminado dos playoffs pelo Lakers em cinco mesmo com Duncan dominando a série (29-17-5 e segurando Shaq a 21-12-3 com 42 FG%). No ano seguinte, Duncan levou o Spurs a um segundo título com uma das melhores pós-temporadas da história da NBA: Duas surras contra otimos Lakers e Mavs (com médias de 31-17-6 em um ponto e eliminando o Lakers com um 37-16-4), fechou as Finais contra o Nets com um lendário 21-20-10-8 recebendo quase nenhuma ajuda de Robinson (8-6 nos playoffs) e do perímetro da equipe (Parker, Manu e Stephen Jackson combinaram pra 37 FG% nos playoffs); essa pós-temporada de Duncan tem até hoje o maior Win Share da história dos playoffs (5.98) demolindo dois dos seus maiores rivais (Shaq e Dirk Nowitzki).
Depois do Spurs quase ir pras Finais em 2004 se não fosse pelo milagre de Fisher (a famosa cesta em 0.4 segundos), Duncan se reagrupou com um time superior aos seus de 99 e 2003 e chegou a mais uma Final, levando pra casa mais um MVP. Depois de outro golpe doloroso em 2006 (Spurs liderava o jogo decisivo por três pontos nos segundos finais quando Dirk foi fazer uma bandeja e Manu estupidamente fez uma falta no alemão, que converteu a cesta e os lances livres pra empatar), o Spurs novamente se reagrupou em 2007 e varreu o Cavs nas Finais, com Duncan se tornando o melhor/mais valioso jogador em quatro times campeōes diferentes (se voce acha que Parker era melhor/mais valioso pro Spurs em 2007 porque ganhou MVP das Finais, sinto muito, mas voce nao entende de basquete). Isso é maior do que parece: Apenas Bill Russell e Jordan podem dizer o mesmo (Talvez Magic ou Kareem dependendo da sua opinião sobre os titulos de 80 e 82) na história da NBA. E mesmo que lesōes a ele e Ginobili tenham dificuldado a vida do Spurs entre 2008 e 2011, eles continuam se reagrupando com Tim Duncan continuamente se reinventando: Esse ano, com 36 anos, na sua 16th temporada e com 1384 jogos no seu odômetro (contando playoffs), Duncan submeteu uma das suas melhores temporadas com 18-10-3 e 2,7 tocos em apenas 30 minutos por jogo e tendo um impacto defensivo maior do que qualquer jogador da NBA não chamado Marc Gasol, indo pro 1st Team All-NBA e sendo o melhor ou segundo melhor jogador em um time que acabou de ir pras Finais. Se o Spurs for campeão, Duncan pode se juntar a Kareem como os unicos jogadores a ganhar Finals MVP 14 anos separados (71' e 85' pra Kareem, 99' e 13' pra Duncan). E ele é a estrela mais consistente da história da NBA (ver as médias por 36 minutos da carreira do Duncan é bizarro, são quase identicas todo ano), um dos três melhores defensores da sua geração (junto com KG e Ben Wallace) e um dos mais queridos e melhores líderes da história desse jogo, um vencedor capaz de elevar seu jogo quando seu time precisa e o jogador mais inteligente que eu vi jogar. A winning percentage dele com o Spurs é de .700 - apenas Magic, Larry Bird e Russell podem dizer o mesmo. Em 2010 mesmo, Bill Simmons colocou Duncan como o sétimo melhor jogador da história no seu brilhante The Book of Basketball. Não deveria ter nenhuma dúvida quanto aos méritos de Duncan a esse ponto. Nenhuma.
Mas ainda assim, as pessoas não estão convencidas. E isso acontece por dois motivos. O primeiro é mais simples: Duncan não é um jogador que chama a atenção. Seu jogo não é explosivo, cheio de jogadas de efeito e highlights como por exemplo Nash - pelo contrário, seu jogo é repetitivo, consistente e perfeito técnica e taticamente. Ele não tem uma personalidade ou intensidade marcante em quadra como Kobe ou Garnett, nunca mudando sua postura ou sua lendária Poker Face. Ele não é um jogador divertido que gosta de chamar a atenção fora dela em entrevistas e apariçōes como Shaq (embora se voce já tiver visto o Duncan fora da NBA, em especial seus comerciais e a série da HEB com o Spurs, sabe que ele é muito bem humorado). Em outras palavras, ele não se destaca nem atrai a atenção do público, só se preocupa em jogar e fazer seu time vencer, e acaba "sumido" por causa disso.
O segundo problema é muito mais profundo e complicado, e afeta toda a NBA na atualidade: As maiores virtudes de Tim Duncan não acontecem individualmente, mas sim dentro do contexto do seu time. Como disse certa vez Bill Russell, a melhor forma de se avaliar um jogador é ver como ele afeta não o jogo diretamente com pontos ou rebotes, mas sim como ele afeta seus companheiros. Ou seja, como ele faz o jogo mais fácil pra eles, como ele adapta seus talentos pra complementar os dos companheiros, como ele lidera por exemplo e todo mundo se encaixa sob sua supervisão. É saber onde ir, o que fazer e onde estar pra tornar o jogo mais fácil pro seu time, não ligar pra estatísticas ou glórias individuais, se dedicar apenas a fazer o time ganhar, apoiar os colegas e basicamente fazer todas as pequenas coisas que não aparecem num Box Score mas que são fundamentais pra construir um time de basquete do começo ao fim. E nisso Tim Duncan supera qualquer jogador que eu já tenha visto jogar. Ninguém fazia mais pelos companheiros do que Duncan... Nem mesmo Steve Nash.
Acontece que a grande parte do universo da NBA - torcedores, jornalistas, até profissionais - simplesmente não entendem ou preferem ignorar o conceito de time, a forma como os jogadores afetam uns aos outros e o plano da equipe. Preferem focar sua atenção em conquistas individuais, numeros individuais e como alguns jogadores se destacam individualmente em momentos decisivos ou coisa assim e ignoram que o basquete não é vencido por um jogador e sim por um time. Quando o líder de um time é um fominha que se preocupa mais com seus numeros e suas jogadas do que em ajudar os companheiros, como você pode esperar que seus coadjuvantes se matem defensivamente, se joguem em toda posse de bola e aceitem ficar em terceiro plano? Se o melhor jogador e líder de um time é um jogador transcendental mas que culpa os demais por não estarem no mesmo nível, como pode esperar que eles tenham confiança pra contribuir quando necessario? E não é o exato oposto se o seu lider e melhor jogador é alguém que naão liga a mínima pra si mesmo, que não se importa de ficar em segundo plano e fazer o trabalho sujo e que coloca o time e a vitória acima de tudo, que lidera por exemplo, sempre tem as costas dos companheiros? Esse time não vai ter um entrosamento maior, uma confiança maior uns nos outros? Essa postura do líder não encoraja os coadjuvantes a fazerem o mesmo ao ponto de que todo mundo segue o exemplo e colocam o time na frente dos próprios objetivos? É claro que sim!
Isso é o que o grande Bill Simmons chama de "O Segredo" do basquete: O Segredo do basquete é que o mais importante não tem nada a ver com basquete. Tem a ver com as pessoas que jogam, tem a ver com a forma como essas pessoas se relacionam e se unem em busca de um objetivo comum, como o time estabelece uma hierarquia, como cada jogador sabe o seu lugar e coloca o time à frente dos interesses pessoais e, principalmente, como as pessoas no time conseguem tirar glória pessoal da glória coletiva. Infelizmente, 90% das pessoas que acompanham basquete ignoram totalmente a importância disso e se focam no que os jogadores conseguem realizar individualmente. E não tem nenhuma estatística pra medir isso além de uma primitiva chamada "vitórias". Por isso um numero alarmante de fãs de NBA ainda acham que Wilt Chamberlain era melhor do que Bill Rusell. Por isso ninguém entende como o Celtics de Russell ganhou 11 titulos em 13 anos (e pra justificar ficam criando mitos como "Wilt só jogou em times fracos e Russell jogava com 15 Hall of Famers por ano!"). Por isso ninguém entende porque Bill Walton foi um dos melhores jogadores da história da NBA. Por isso que qualquer jogador dos anos 80 teria cometido um homicidio pra jogar com Magic ou Bird. Por isso que o Lakers de 2000 só ganhou três titulos quando deveria ter ganho oito. E é por isso que Duncan foi o melhor jogador da sua geração: Nenhum jogador desde 1991 entendeu e praticou o Segredo melhor do que Duncan, nenhum jogador (tirando talvez Nash) era mais adorado pelos seus companheiros, nenhum time tinha melhor chemistry e jogava melhor em conjunto, e nenhum jogador elevou tanto o nível de seus times quanto Timmy. Mas ainda que seja o aspecto mais importante pra uma estrela e pra se montar uma fundação de um campeão, ainda é o aspecto mais overlooked que existe no basquete, e é por isso que Duncan não recebe a apreciação que merece.
(Procure em algum momento o Steve Kerr Game de 2003, quando Kerr saiu do banco de reservas contra o Mavs nos playoffs e começou a acertar bola de três atrás de bola de três: Como todo mundo adorava Kerr, o banco do Spurs estava alucinado com cada bola que ele acertava, quase como um time no March Madness derrubando uma 1st Seed. E no meio disso estava Duncan, gritando e pulando feito um maluco, comemorando junto com todo mundo. Ele estava genuinamente feliz por Kerr. Ele realmente estava. Nenhum time na NBA desde os anos 90 tinha melhor Chemistry do que o Spurs. Nenhum)
E realmente, isso vai além de Duncan e para o que o Spurs procurou fazer como uma Franquia desde que Timmy chegou a bordo. O Spurs, e em particular Greg Popovich, sempre entenderam a importância disso tudo melhor do que qualquer Franquia nos ultimos 15 anos e sempre buscaram construir times que se encaixassem perfeitamente nesse perfil. Mais do que ter um bom grupo de scouts (e eles sempre tiveram um excelente), o grande trunfo do Spurs foi ir sempre atrás de jogadores de grupo e de caráter vencedor que aceitassem o papel que fosse no time, treinassem à exaustão tudo que o Spurs precisava que eles fizessem e não ligassem pro que isso significasse individualmente pra eles em termos de destaque, minutos, arremesso, etc: Tony Parker, Bruce Bowen, Manu Ginobili, George Hill, Danny Green, Kawhi Leonard... É uma lista mais longa do que vocês imaginam. As pessoas dão crédito pro Spurs por achar jogadores onde ninguém mais via o mesmo valor, mas não entendem o porque isso acontece: Porque o Spurs criou o ambiente ideal pra esses jogadores, ensinando em detalhes o complicado esquema tatico que é muito dificil pra jogadores que não sejam muito dedicados e inteligentes em quadra, treinando repetidamente os fundamentos que esses jogadores não tinham e que o Spurs precisava, e acima de tudo, um ambiente onde esses jogadores entrasse e assimilassem logo a cultura de treinar muito e prezando o funcionamento coletivo acima de tudo. O Spurs entendeu que é mais facil ensinar um jogador a arremessar, a pegar rebotes ou a defender do que pegar um jogador talentoso que não tem o mesmo caráter e ensinar ele a se importar mais, treinar mais, se comprometer com o grupo, colocar o funcionamento do time acima do individual e se integrar a essa hierarquia que o time sempre possuiu (procurem no Grantland.com um artigo do Zach Lowe sobre o Kawhi Leonard - o Spurs levou o Leonard pra treinar com seu especialista pra mudar seu arremesso ANTES do Draft). Mas claro, ninguém da ao Spurs o devido crédito por isso, assim como ninguém o da a Duncan.
E o Spurs pode colocar isso em prática porque tinha as duas coisas fundamentais pra isso: Tim Duncan, conforme já cobrimos exaustivamente, e Greg Popovich. Eu sou da teoria de que a grande maioria dos técnicos não realmente importa, exceto alguns poucos. Em geral, técnicos são demitidos com tanta frequencia que só reforça o ponto de que eles não importam: Eles chegam, implementam seu esquema, dependendo de como ele se encaixa com os jogadores (dentro e fora de quadra) ele dura mais ou menos, tem mais ou menos sucesso, e quando para de funcionar ele é demitido. Não tou falando que técnicos não tem influencia, claro que tem, mas estou falando que no grande esquema das coisas, um técnico normalmente só é tão bom quanto seu elenco (e como esse elenco se encaixa com seu estilo) permitir: Eu não acho que o Pacers estaria nas Finais de Conferência com Vinny Del Negro no lugar de Frank Vogel, por exemplo, mas também não acho que Vogel seria capaz de pegar o Kings e levar eles até as Semifinais do Oeste, por exemplo. Eles tem uma importância pontual, mas no grande esquema das coisas, apenas uma minoria realmente importa: Jerry Sloan, Phil Jackson, Pat Rilley, pra citar alguns.
E claro, Greg Popovich. Olha, Pop é um estrategista brilhante, tem um excelente modelo de jogo e sabe muito bem como adaptar esse modelo a um particular adversário ou a um particular grupo de jogadores melhor do que qualquer técnico na Liga. Mas Pop é realmente o técnico histórico que é porque ele sabe lidar com o que vai além disso junto da sua estrela: Ele sabe criar o ambiente ideal pra praticar o Segredo, sabe achar os jogadores que vão funcionar, sabe que eles vão aceitar as funçōes. E ele tem o seu esquema montado em volta de Duncan, sua fundação, e sabe que pode achar ao redor da NBA os jogadores para encaixar no seu estilo de jogo ao invés de ficar tentando incluir nele jogadores que ele já sabe que podem comprometer a dinâmica do time: Por isso Stephen Jackson foi trocado em 2003 logo depois do título apesar de ser perfeito pro esquema do Pop, simplesmente porque ele não tinha o caráter pra aceitar fazer parte desse grupo nos termos do time e não nos seus. Os melhores técnicos, no grande esquema das coisas, não são os que sabem fazer os Xs e Os numa prancheta, são aqueles que conseguem passar o Segredo para seus jogadores, fazê-los se encaixar no grupo, fazê-los sacrificar numeros, minutos e glória pessoal em busca da vitória e da glória coletiva. Pode parecer pouca coisa, mas são poucos os que conseguem fazê-lo. Phil Jackson não é um dos maiores técnicos da história da NBA por causa do Triângulo, e sim porque ele conseguiu pegar um dos supestars mais difíceis e individualistas da historia da NBA (Kobe) e fazê-lo dedicar suas energias ao time, convencê-lo de que ele pode derivar grandeza dentro do conceito de time e, principalmente, de que o seu time teria uma maior chance de vencer se ele não tivesse tão preocupado com ele mesmo. Não foi fácil, o time teve vários momentos de recaida, mas no final, ele conseguiu, sempre controlando tudo como um puppetmaster, nunca entrando em pânico, sempre ajeitando o navio quando necessário. E é por isso que Phil Jackson, no final, importa.
Popovich também. Qualquer time pode conseguir atingir grandeza em um ano ou dois, mas só uma pequena parte deles ao longo da história consegue fazer isso e continuar mantendo a mesma dinâmica e a mesma fome, voltando pra mais e mais, defendendo seu território sem nunca perder de vista a importância de sacrificar a glória individual pelo bem maior. É por isso que Popovich importa, e é por isso que Tim Duncan importa tanto. E é justamente porque não podemos ver ou medir isso tudo que continuamos subestimando Tim Duncan e o Spurs, mas é também por isso que eles tiveram tanto sucesso. E agora, no décimo sexto ano da era Duncan-Popovich, eles finalmente estão começando a receber o crédito que merecem chegando na sua quinta final. Já estava mais do que na hora.
Um dos resultados dessas duas coisas foi que algumas pessoas começaram a me mandar emails pedindo pra eu fazer algumas outras "versōes" de times. Alguns eram previsíveis e repetitivos, mas alguns eram muito interessantes e me faziam ficar um bom tempo pensando antes de responder e geravam conversas bem interessantes. Até que um leitor identificado apenas como "Vinicius" me pediu pra fazer um time de jogadores mais underrateds da história da NBA, jogadores que por algum motivo nunca receberam o devido crédito. Depois de pensar um pouco, me empolgar e limitar meu time apenas a estrelas ou superestrelas da história da NBA, eu finalmente cheguei no seguinte time:
Titulares: Dennis Johnson, David Thompson, Elgin Baylor, Tim Duncan, Nate Thurmond
6th Man: Sam Jones
Reservas: Paul Westphal, John Havlicek, Bernard King, Billy Cunningham, Dave Cowens, Earl Monroe
Injury Reserve: Kevin McHale
Técnico: Al Attles; GM: Jerry West
A primeira coisa que me chamou a atenção quando eu terminei de montar esse time foi como ele era composto predominantemente de jogadores mais antigos: Baylor e Sam Jones jogaram nos anos 50/60; Monroe, Havlicek, Cunningham e Thurmond nos anos 60/70; Westphal, Cowens e Thompson nos anos 70; DJ nos anos 70/80; 'Nard nos anos 80; e McHale nos anos 80/90. Quanto mais pra trás vamos na história da NBA, mais jogadores underrateds vamos encontrando, e quanto mais recentes, mais dificil é encontrar esses tipos de jogadores, especialmente estrelas.
Isso acontece por um motivo bem simples: Cobertura da mídia. Elgin Baylor mudou o jogo quando entrou na NBA em 58, trouxe à Liga a explosão e o hang time que faltava numa NBA entediante composta predominantemente de jogadores brancos e não atléticos, mas essa "mensagem" era dificil de se espalhar na época: A cobertura de TV/rádio era quase nula e não tinhamos coisas como Sportscenter e Pre-Game Shows pra transmitir pro resto dos EUA as jogadas sensacionais e as atuaçōes brilhantes. Basicamente, era muito dificil pra grandeza de alguns jogadores (em especial um que nunca ganhou um titulo como Elgin) chegar aos ouvidos do grande público - a única publicação de alcance nacional na época era a Sports Illustrated. Conforme o tempo foi passando e as comunicaçōes foram se aperfeiçoando, o alcance desses jogadores foi aumentando: TVs começaram a transmitir mais jogos, mais programas se dedicaram a mostrar e racionalizar o sucesso de alguns times ou jogadores, e a visibilidade desses jogadores foi aumentando. Hoje chegamos ao maximo nesse aspecto: Com tantos canais de esporte, cobertura 24h, blogs e tanta cobertura especializada e inteligente, estatisticas avançadas e facilidade de acesso a tudo isso, é praticamente impossível ter algum jogador rated impropriamente. Por isso é cada vez mais dificil achar jogadores assim hoje em dia, especialmente uma estrela que receba tanto destaque.
Tim Duncan é a exceção. Ele é o unico jogador desde 2000 que eu sequer CONSIDEREI pra esse time. Numa época de tanto acesso a informaçōes e opiniōes inteligentes, Duncan continua sendo o Superstar mais underrated da história da NBA (tirando talvez David Thompson). Depois de 16 anos, 2 MVPs, 3 Finals MVPs, 4 títulos e de ter acabado de garantir sua quinta participação em Finais (um numero que poderia facilmente ser sete se não fosse o milagre de Derek Fisher em 2004 e uma burrada de Ginobili em 2006), Duncan deveria ser um no-brainer como o melhor Power Foward de todos os tempos e um dos 10 melhores jogadores da história, alguém capaz de ancorar um time por anos e anos. Mas tem gente que ainda acha que Karl Malone foi melhor, ou que Kevin Garnett, ou qualquer outro PF. Tem gente que ainda acha que Shaq foi um jogador melhor que Duncan. Tem gente que acha um absurdo que Duncan esteja na conversa pra "Melhor jogador da sua geração" junto com Kobe (e eu acho que Duncan foi o melhor da sua geração, mas ai é opinião). Apesar de Duncan ser o Superstar mais consistente da historia da NBA, ainda tem gente que acha que ele nunca foi dominante o suficiente pra merecer o respeito que outras estrelas recebem.
Eu realmente não deveria ter que gastar dois parágrafos defendendo os méritos de Duncan, mas whatever. Depois de um 21-12 como calouro e levar um decadente Spurs a 56 vitórias (1st Team All-NBA, ROY), Timmy liderou o Spurs ao título de 99 sendo MVP das Finais depois de varrer Shaq e o Lakers (terminando a série com um 37-14-4 e praticamente devorando Shaq) e depois dominar o Knicks nas Finais (27-14), se tornando o segundo jogador mais jovem da história a ser MVP das Finais depois de Magic. Com David Robinson em rápida decadência, Duncan manteve o Spurs como uma força, levando um time muito fraco em 2002 a 58 vitórias e a 2nd Seed num Oeste ridiculamente forte com médias absurdas de 25-13-4 com mais de 200 tocos e ancorando toda a defesa da equipe E sendo o foco ofensivo do time; o Spurs foi eliminado dos playoffs pelo Lakers em cinco mesmo com Duncan dominando a série (29-17-5 e segurando Shaq a 21-12-3 com 42 FG%). No ano seguinte, Duncan levou o Spurs a um segundo título com uma das melhores pós-temporadas da história da NBA: Duas surras contra otimos Lakers e Mavs (com médias de 31-17-6 em um ponto e eliminando o Lakers com um 37-16-4), fechou as Finais contra o Nets com um lendário 21-20-10-8 recebendo quase nenhuma ajuda de Robinson (8-6 nos playoffs) e do perímetro da equipe (Parker, Manu e Stephen Jackson combinaram pra 37 FG% nos playoffs); essa pós-temporada de Duncan tem até hoje o maior Win Share da história dos playoffs (5.98) demolindo dois dos seus maiores rivais (Shaq e Dirk Nowitzki).
Depois do Spurs quase ir pras Finais em 2004 se não fosse pelo milagre de Fisher (a famosa cesta em 0.4 segundos), Duncan se reagrupou com um time superior aos seus de 99 e 2003 e chegou a mais uma Final, levando pra casa mais um MVP. Depois de outro golpe doloroso em 2006 (Spurs liderava o jogo decisivo por três pontos nos segundos finais quando Dirk foi fazer uma bandeja e Manu estupidamente fez uma falta no alemão, que converteu a cesta e os lances livres pra empatar), o Spurs novamente se reagrupou em 2007 e varreu o Cavs nas Finais, com Duncan se tornando o melhor/mais valioso jogador em quatro times campeōes diferentes (se voce acha que Parker era melhor/mais valioso pro Spurs em 2007 porque ganhou MVP das Finais, sinto muito, mas voce nao entende de basquete). Isso é maior do que parece: Apenas Bill Russell e Jordan podem dizer o mesmo (Talvez Magic ou Kareem dependendo da sua opinião sobre os titulos de 80 e 82) na história da NBA. E mesmo que lesōes a ele e Ginobili tenham dificuldado a vida do Spurs entre 2008 e 2011, eles continuam se reagrupando com Tim Duncan continuamente se reinventando: Esse ano, com 36 anos, na sua 16th temporada e com 1384 jogos no seu odômetro (contando playoffs), Duncan submeteu uma das suas melhores temporadas com 18-10-3 e 2,7 tocos em apenas 30 minutos por jogo e tendo um impacto defensivo maior do que qualquer jogador da NBA não chamado Marc Gasol, indo pro 1st Team All-NBA e sendo o melhor ou segundo melhor jogador em um time que acabou de ir pras Finais. Se o Spurs for campeão, Duncan pode se juntar a Kareem como os unicos jogadores a ganhar Finals MVP 14 anos separados (71' e 85' pra Kareem, 99' e 13' pra Duncan). E ele é a estrela mais consistente da história da NBA (ver as médias por 36 minutos da carreira do Duncan é bizarro, são quase identicas todo ano), um dos três melhores defensores da sua geração (junto com KG e Ben Wallace) e um dos mais queridos e melhores líderes da história desse jogo, um vencedor capaz de elevar seu jogo quando seu time precisa e o jogador mais inteligente que eu vi jogar. A winning percentage dele com o Spurs é de .700 - apenas Magic, Larry Bird e Russell podem dizer o mesmo. Em 2010 mesmo, Bill Simmons colocou Duncan como o sétimo melhor jogador da história no seu brilhante The Book of Basketball. Não deveria ter nenhuma dúvida quanto aos méritos de Duncan a esse ponto. Nenhuma.
Mas ainda assim, as pessoas não estão convencidas. E isso acontece por dois motivos. O primeiro é mais simples: Duncan não é um jogador que chama a atenção. Seu jogo não é explosivo, cheio de jogadas de efeito e highlights como por exemplo Nash - pelo contrário, seu jogo é repetitivo, consistente e perfeito técnica e taticamente. Ele não tem uma personalidade ou intensidade marcante em quadra como Kobe ou Garnett, nunca mudando sua postura ou sua lendária Poker Face. Ele não é um jogador divertido que gosta de chamar a atenção fora dela em entrevistas e apariçōes como Shaq (embora se voce já tiver visto o Duncan fora da NBA, em especial seus comerciais e a série da HEB com o Spurs, sabe que ele é muito bem humorado). Em outras palavras, ele não se destaca nem atrai a atenção do público, só se preocupa em jogar e fazer seu time vencer, e acaba "sumido" por causa disso.
O segundo problema é muito mais profundo e complicado, e afeta toda a NBA na atualidade: As maiores virtudes de Tim Duncan não acontecem individualmente, mas sim dentro do contexto do seu time. Como disse certa vez Bill Russell, a melhor forma de se avaliar um jogador é ver como ele afeta não o jogo diretamente com pontos ou rebotes, mas sim como ele afeta seus companheiros. Ou seja, como ele faz o jogo mais fácil pra eles, como ele adapta seus talentos pra complementar os dos companheiros, como ele lidera por exemplo e todo mundo se encaixa sob sua supervisão. É saber onde ir, o que fazer e onde estar pra tornar o jogo mais fácil pro seu time, não ligar pra estatísticas ou glórias individuais, se dedicar apenas a fazer o time ganhar, apoiar os colegas e basicamente fazer todas as pequenas coisas que não aparecem num Box Score mas que são fundamentais pra construir um time de basquete do começo ao fim. E nisso Tim Duncan supera qualquer jogador que eu já tenha visto jogar. Ninguém fazia mais pelos companheiros do que Duncan... Nem mesmo Steve Nash.
Acontece que a grande parte do universo da NBA - torcedores, jornalistas, até profissionais - simplesmente não entendem ou preferem ignorar o conceito de time, a forma como os jogadores afetam uns aos outros e o plano da equipe. Preferem focar sua atenção em conquistas individuais, numeros individuais e como alguns jogadores se destacam individualmente em momentos decisivos ou coisa assim e ignoram que o basquete não é vencido por um jogador e sim por um time. Quando o líder de um time é um fominha que se preocupa mais com seus numeros e suas jogadas do que em ajudar os companheiros, como você pode esperar que seus coadjuvantes se matem defensivamente, se joguem em toda posse de bola e aceitem ficar em terceiro plano? Se o melhor jogador e líder de um time é um jogador transcendental mas que culpa os demais por não estarem no mesmo nível, como pode esperar que eles tenham confiança pra contribuir quando necessario? E não é o exato oposto se o seu lider e melhor jogador é alguém que naão liga a mínima pra si mesmo, que não se importa de ficar em segundo plano e fazer o trabalho sujo e que coloca o time e a vitória acima de tudo, que lidera por exemplo, sempre tem as costas dos companheiros? Esse time não vai ter um entrosamento maior, uma confiança maior uns nos outros? Essa postura do líder não encoraja os coadjuvantes a fazerem o mesmo ao ponto de que todo mundo segue o exemplo e colocam o time na frente dos próprios objetivos? É claro que sim!
Isso é o que o grande Bill Simmons chama de "O Segredo" do basquete: O Segredo do basquete é que o mais importante não tem nada a ver com basquete. Tem a ver com as pessoas que jogam, tem a ver com a forma como essas pessoas se relacionam e se unem em busca de um objetivo comum, como o time estabelece uma hierarquia, como cada jogador sabe o seu lugar e coloca o time à frente dos interesses pessoais e, principalmente, como as pessoas no time conseguem tirar glória pessoal da glória coletiva. Infelizmente, 90% das pessoas que acompanham basquete ignoram totalmente a importância disso e se focam no que os jogadores conseguem realizar individualmente. E não tem nenhuma estatística pra medir isso além de uma primitiva chamada "vitórias". Por isso um numero alarmante de fãs de NBA ainda acham que Wilt Chamberlain era melhor do que Bill Rusell. Por isso ninguém entende como o Celtics de Russell ganhou 11 titulos em 13 anos (e pra justificar ficam criando mitos como "Wilt só jogou em times fracos e Russell jogava com 15 Hall of Famers por ano!"). Por isso ninguém entende porque Bill Walton foi um dos melhores jogadores da história da NBA. Por isso que qualquer jogador dos anos 80 teria cometido um homicidio pra jogar com Magic ou Bird. Por isso que o Lakers de 2000 só ganhou três titulos quando deveria ter ganho oito. E é por isso que Duncan foi o melhor jogador da sua geração: Nenhum jogador desde 1991 entendeu e praticou o Segredo melhor do que Duncan, nenhum jogador (tirando talvez Nash) era mais adorado pelos seus companheiros, nenhum time tinha melhor chemistry e jogava melhor em conjunto, e nenhum jogador elevou tanto o nível de seus times quanto Timmy. Mas ainda que seja o aspecto mais importante pra uma estrela e pra se montar uma fundação de um campeão, ainda é o aspecto mais overlooked que existe no basquete, e é por isso que Duncan não recebe a apreciação que merece.
(Procure em algum momento o Steve Kerr Game de 2003, quando Kerr saiu do banco de reservas contra o Mavs nos playoffs e começou a acertar bola de três atrás de bola de três: Como todo mundo adorava Kerr, o banco do Spurs estava alucinado com cada bola que ele acertava, quase como um time no March Madness derrubando uma 1st Seed. E no meio disso estava Duncan, gritando e pulando feito um maluco, comemorando junto com todo mundo. Ele estava genuinamente feliz por Kerr. Ele realmente estava. Nenhum time na NBA desde os anos 90 tinha melhor Chemistry do que o Spurs. Nenhum)
E realmente, isso vai além de Duncan e para o que o Spurs procurou fazer como uma Franquia desde que Timmy chegou a bordo. O Spurs, e em particular Greg Popovich, sempre entenderam a importância disso tudo melhor do que qualquer Franquia nos ultimos 15 anos e sempre buscaram construir times que se encaixassem perfeitamente nesse perfil. Mais do que ter um bom grupo de scouts (e eles sempre tiveram um excelente), o grande trunfo do Spurs foi ir sempre atrás de jogadores de grupo e de caráter vencedor que aceitassem o papel que fosse no time, treinassem à exaustão tudo que o Spurs precisava que eles fizessem e não ligassem pro que isso significasse individualmente pra eles em termos de destaque, minutos, arremesso, etc: Tony Parker, Bruce Bowen, Manu Ginobili, George Hill, Danny Green, Kawhi Leonard... É uma lista mais longa do que vocês imaginam. As pessoas dão crédito pro Spurs por achar jogadores onde ninguém mais via o mesmo valor, mas não entendem o porque isso acontece: Porque o Spurs criou o ambiente ideal pra esses jogadores, ensinando em detalhes o complicado esquema tatico que é muito dificil pra jogadores que não sejam muito dedicados e inteligentes em quadra, treinando repetidamente os fundamentos que esses jogadores não tinham e que o Spurs precisava, e acima de tudo, um ambiente onde esses jogadores entrasse e assimilassem logo a cultura de treinar muito e prezando o funcionamento coletivo acima de tudo. O Spurs entendeu que é mais facil ensinar um jogador a arremessar, a pegar rebotes ou a defender do que pegar um jogador talentoso que não tem o mesmo caráter e ensinar ele a se importar mais, treinar mais, se comprometer com o grupo, colocar o funcionamento do time acima do individual e se integrar a essa hierarquia que o time sempre possuiu (procurem no Grantland.com um artigo do Zach Lowe sobre o Kawhi Leonard - o Spurs levou o Leonard pra treinar com seu especialista pra mudar seu arremesso ANTES do Draft). Mas claro, ninguém da ao Spurs o devido crédito por isso, assim como ninguém o da a Duncan.
E o Spurs pode colocar isso em prática porque tinha as duas coisas fundamentais pra isso: Tim Duncan, conforme já cobrimos exaustivamente, e Greg Popovich. Eu sou da teoria de que a grande maioria dos técnicos não realmente importa, exceto alguns poucos. Em geral, técnicos são demitidos com tanta frequencia que só reforça o ponto de que eles não importam: Eles chegam, implementam seu esquema, dependendo de como ele se encaixa com os jogadores (dentro e fora de quadra) ele dura mais ou menos, tem mais ou menos sucesso, e quando para de funcionar ele é demitido. Não tou falando que técnicos não tem influencia, claro que tem, mas estou falando que no grande esquema das coisas, um técnico normalmente só é tão bom quanto seu elenco (e como esse elenco se encaixa com seu estilo) permitir: Eu não acho que o Pacers estaria nas Finais de Conferência com Vinny Del Negro no lugar de Frank Vogel, por exemplo, mas também não acho que Vogel seria capaz de pegar o Kings e levar eles até as Semifinais do Oeste, por exemplo. Eles tem uma importância pontual, mas no grande esquema das coisas, apenas uma minoria realmente importa: Jerry Sloan, Phil Jackson, Pat Rilley, pra citar alguns.
E claro, Greg Popovich. Olha, Pop é um estrategista brilhante, tem um excelente modelo de jogo e sabe muito bem como adaptar esse modelo a um particular adversário ou a um particular grupo de jogadores melhor do que qualquer técnico na Liga. Mas Pop é realmente o técnico histórico que é porque ele sabe lidar com o que vai além disso junto da sua estrela: Ele sabe criar o ambiente ideal pra praticar o Segredo, sabe achar os jogadores que vão funcionar, sabe que eles vão aceitar as funçōes. E ele tem o seu esquema montado em volta de Duncan, sua fundação, e sabe que pode achar ao redor da NBA os jogadores para encaixar no seu estilo de jogo ao invés de ficar tentando incluir nele jogadores que ele já sabe que podem comprometer a dinâmica do time: Por isso Stephen Jackson foi trocado em 2003 logo depois do título apesar de ser perfeito pro esquema do Pop, simplesmente porque ele não tinha o caráter pra aceitar fazer parte desse grupo nos termos do time e não nos seus. Os melhores técnicos, no grande esquema das coisas, não são os que sabem fazer os Xs e Os numa prancheta, são aqueles que conseguem passar o Segredo para seus jogadores, fazê-los se encaixar no grupo, fazê-los sacrificar numeros, minutos e glória pessoal em busca da vitória e da glória coletiva. Pode parecer pouca coisa, mas são poucos os que conseguem fazê-lo. Phil Jackson não é um dos maiores técnicos da história da NBA por causa do Triângulo, e sim porque ele conseguiu pegar um dos supestars mais difíceis e individualistas da historia da NBA (Kobe) e fazê-lo dedicar suas energias ao time, convencê-lo de que ele pode derivar grandeza dentro do conceito de time e, principalmente, de que o seu time teria uma maior chance de vencer se ele não tivesse tão preocupado com ele mesmo. Não foi fácil, o time teve vários momentos de recaida, mas no final, ele conseguiu, sempre controlando tudo como um puppetmaster, nunca entrando em pânico, sempre ajeitando o navio quando necessário. E é por isso que Phil Jackson, no final, importa.
Popovich também. Qualquer time pode conseguir atingir grandeza em um ano ou dois, mas só uma pequena parte deles ao longo da história consegue fazer isso e continuar mantendo a mesma dinâmica e a mesma fome, voltando pra mais e mais, defendendo seu território sem nunca perder de vista a importância de sacrificar a glória individual pelo bem maior. É por isso que Popovich importa, e é por isso que Tim Duncan importa tanto. E é justamente porque não podemos ver ou medir isso tudo que continuamos subestimando Tim Duncan e o Spurs, mas é também por isso que eles tiveram tanto sucesso. E agora, no décimo sexto ano da era Duncan-Popovich, eles finalmente estão começando a receber o crédito que merecem chegando na sua quinta final. Já estava mais do que na hora.