Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Tim Duncan e o conceito de time

Tim Duncan aprova essa coluna


Algum tempo atrás, eu fiz um dos post mais populares da história do TM Warning, no qual eu usava a Premissa Marciana (Aliens atacaram a Terra e nos desafiaram pra uma série de basquete de 7 jogos pelo controle do planeta) pra montar um time de jogadores da história da NBA que eu usaria pra enfrentar os Marcianos (eu sei, eu sei, bizarro. Mas vale a lida, garanto!). Um pouco depois, por diversão, eu comecei a postar aleatoriamente no twitter "times" que eu ocasionalmente formava, como meus All-White NBA Team, por exemplo (Rubio, Thompson, Kirilenko, David Lee, Marc Gasol), sem nenhum motivo aparente além de ser divertdo.

Um dos resultados dessas duas coisas foi que algumas pessoas começaram a me mandar emails pedindo pra eu fazer algumas outras "versōes" de times. Alguns eram previsíveis e repetitivos, mas alguns eram muito interessantes e me faziam ficar um bom tempo pensando antes de responder e geravam conversas bem interessantes. Até que um leitor identificado apenas como "Vinicius" me pediu pra fazer um time de jogadores mais underrateds da história da NBA, jogadores que por algum motivo nunca receberam o devido crédito. Depois de pensar um pouco, me empolgar e limitar meu time apenas a estrelas ou superestrelas da história da NBA, eu finalmente cheguei no seguinte time:


Titulares: Dennis Johnson, David Thompson, Elgin Baylor, Tim Duncan, Nate Thurmond
6th Man: Sam Jones
Reservas: Paul Westphal, John Havlicek, Bernard King, Billy Cunningham, Dave Cowens, Earl Monroe
Injury Reserve: Kevin McHale
Técnico: Al Attles; GM: Jerry West


A primeira coisa que me chamou a atenção quando eu terminei de montar esse time foi como ele era composto predominantemente de jogadores mais antigos: Baylor e Sam Jones jogaram nos anos 50/60; Monroe, Havlicek, Cunningham e Thurmond nos anos 60/70; Westphal, Cowens e Thompson nos anos 70; DJ nos anos 70/80; 'Nard nos anos 80; e McHale nos anos 80/90. Quanto mais pra trás vamos na história da NBA, mais jogadores underrateds vamos encontrando, e quanto mais recentes, mais dificil é encontrar esses tipos de jogadores, especialmente estrelas.

Isso acontece por um motivo bem simples: Cobertura da mídia. Elgin Baylor mudou o jogo quando entrou na NBA em 58, trouxe à Liga a explosão e o hang time que faltava numa NBA entediante composta predominantemente de jogadores brancos e não atléticos, mas essa "mensagem" era dificil de se espalhar na época: A cobertura de TV/rádio era quase nula e não tinhamos coisas como Sportscenter e Pre-Game Shows pra transmitir pro resto dos EUA as jogadas sensacionais e as atuaçōes brilhantes. Basicamente, era muito dificil pra grandeza de alguns jogadores (em especial um que nunca ganhou um titulo como Elgin) chegar aos ouvidos do grande público -  a única publicação de alcance nacional na época era a Sports Illustrated. Conforme o tempo foi passando e as comunicaçōes foram se aperfeiçoando, o alcance desses jogadores foi aumentando: TVs começaram a transmitir mais jogos, mais programas se dedicaram a mostrar e racionalizar o sucesso de alguns times ou jogadores, e a visibilidade desses jogadores foi aumentando. Hoje chegamos ao maximo nesse aspecto: Com tantos canais de esporte, cobertura 24h, blogs e tanta cobertura especializada e inteligente, estatisticas avançadas e facilidade de acesso a tudo isso, é praticamente impossível ter algum jogador rated impropriamente. Por isso é cada vez mais dificil achar jogadores assim hoje em dia, especialmente uma estrela que receba tanto destaque.

Tim Duncan é a exceção. Ele é o unico jogador desde 2000 que eu sequer CONSIDEREI pra esse time. Numa época de tanto acesso a informaçōes e opiniōes inteligentes, Duncan continua sendo o Superstar mais underrated da história da NBA (tirando talvez David Thompson). Depois de 16 anos, 2 MVPs, 3 Finals MVPs, 4 títulos e de ter acabado de garantir sua quinta participação em Finais (um numero que poderia facilmente ser sete se não fosse o milagre de Derek Fisher em 2004 e uma burrada de Ginobili em 2006), Duncan deveria ser um no-brainer como o melhor Power Foward de todos os tempos e um dos 10 melhores jogadores da história, alguém capaz de ancorar um time por anos e anos. Mas tem gente que ainda acha que Karl Malone foi melhor, ou que Kevin Garnett, ou qualquer outro PF. Tem gente que ainda acha que Shaq foi um jogador melhor que Duncan. Tem gente que acha um absurdo que Duncan esteja na conversa pra "Melhor jogador da sua geração" junto com Kobe (e eu acho que Duncan foi o melhor da sua geração, mas ai é opinião). Apesar de Duncan ser o Superstar mais consistente da historia da NBA, ainda tem gente que acha que ele nunca foi dominante o suficiente pra merecer o respeito que outras estrelas recebem.

Eu realmente não deveria ter que gastar dois parágrafos defendendo os méritos de Duncan, mas whatever. Depois de um 21-12 como calouro e levar um decadente Spurs a 56 vitórias (1st Team All-NBA, ROY), Timmy liderou o Spurs ao título de 99 sendo MVP das Finais depois de varrer Shaq e o Lakers (terminando a série com um 37-14-4 e praticamente devorando Shaq) e depois dominar o Knicks nas Finais (27-14), se tornando o segundo jogador mais jovem da história a ser MVP das Finais depois de Magic. Com David Robinson em rápida decadência, Duncan manteve o Spurs como uma força, levando um time muito fraco em 2002 a 58 vitórias e a 2nd Seed num Oeste ridiculamente forte com médias absurdas de 25-13-4 com mais de 200 tocos e ancorando toda a defesa da equipe E sendo o foco ofensivo do time; o Spurs foi eliminado dos playoffs pelo Lakers em cinco mesmo com Duncan dominando a série (29-17-5 e segurando Shaq a 21-12-3 com 42 FG%). No ano seguinte, Duncan levou o Spurs a um segundo título com uma das melhores pós-temporadas da história da NBA: Duas surras contra otimos Lakers e Mavs (com médias de 31-17-6 em um ponto e eliminando o Lakers com um 37-16-4),  fechou as Finais contra o Nets com um lendário 21-20-10-8 recebendo quase nenhuma ajuda de Robinson (8-6 nos playoffs) e do perímetro da equipe (Parker, Manu e Stephen Jackson combinaram pra 37 FG% nos playoffs); essa pós-temporada de Duncan tem até hoje o maior Win Share da história dos playoffs (5.98) demolindo dois dos seus maiores rivais (Shaq e Dirk Nowitzki).

Depois do Spurs quase ir pras Finais em 2004 se não fosse pelo milagre de Fisher (a famosa cesta em 0.4 segundos), Duncan se reagrupou com um time superior aos seus de 99 e 2003 e chegou a mais uma Final, levando pra casa mais um MVP. Depois de outro golpe doloroso em 2006 (Spurs liderava o jogo decisivo por três pontos nos segundos finais quando Dirk foi fazer uma bandeja e Manu estupidamente fez uma falta no alemão, que converteu a cesta e os lances livres pra empatar), o Spurs novamente se reagrupou em 2007 e varreu o Cavs nas Finais, com Duncan se tornando o melhor/mais valioso jogador em quatro times campeōes diferentes (se voce acha que Parker era melhor/mais valioso pro Spurs em 2007 porque ganhou MVP das Finais, sinto muito, mas voce nao entende de basquete). Isso é maior do que parece: Apenas Bill Russell e Jordan podem dizer o mesmo (Talvez Magic ou Kareem dependendo da sua opinião sobre os titulos de 80 e 82) na história da NBA. E mesmo que lesōes a ele e Ginobili tenham dificuldado a vida do Spurs entre 2008 e 2011, eles continuam se reagrupando com Tim Duncan continuamente se reinventando: Esse ano, com 36 anos, na sua 16th temporada e com 1384 jogos no seu odômetro (contando playoffs), Duncan submeteu uma das suas melhores temporadas com 18-10-3 e 2,7 tocos em apenas 30 minutos por jogo e tendo um impacto defensivo maior do que qualquer jogador da NBA não chamado Marc Gasol, indo pro 1st Team All-NBA e sendo o melhor ou segundo melhor jogador em um time que acabou de ir pras Finais. Se o Spurs for campeão, Duncan pode se juntar a Kareem como os unicos jogadores a ganhar Finals MVP 14 anos separados (71' e 85' pra Kareem, 99' e 13' pra Duncan). E ele é a estrela mais consistente da história da NBA (ver as médias por 36 minutos da carreira do Duncan é bizarro, são quase identicas todo ano), um dos três melhores defensores da sua geração (junto com KG e Ben Wallace) e um dos mais queridos e melhores líderes da história desse jogo, um vencedor capaz de elevar seu jogo quando seu time precisa e o jogador mais inteligente que eu vi jogar. A winning percentage dele com o Spurs é de .700 - apenas Magic, Larry Bird e Russell podem dizer o mesmo. Em 2010 mesmo, Bill Simmons colocou Duncan como o sétimo melhor jogador da história no seu brilhante The Book of Basketball. Não deveria ter nenhuma dúvida quanto aos méritos de Duncan a esse ponto. Nenhuma.

Mas ainda assim, as pessoas não estão convencidas. E isso acontece por dois motivos. O primeiro é mais simples: Duncan não é um jogador que chama a atenção. Seu jogo não é explosivo, cheio de jogadas de efeito e highlights como por exemplo Nash - pelo contrário, seu jogo é repetitivo, consistente e perfeito técnica e taticamente. Ele não tem uma personalidade ou intensidade marcante em quadra como Kobe ou Garnett, nunca mudando sua postura ou sua lendária Poker Face. Ele não é um jogador divertido que gosta de chamar a atenção fora dela em entrevistas e apariçōes como Shaq (embora se voce já tiver visto o Duncan fora da NBA, em especial seus comerciais e a série da HEB com o Spurs, sabe que ele é muito bem humorado). Em outras palavras, ele não se destaca nem atrai a atenção do público, só se preocupa em jogar e fazer seu time vencer, e acaba "sumido" por causa disso.

O segundo problema é muito mais profundo e complicado, e afeta toda a NBA na atualidade: As maiores virtudes de Tim Duncan não acontecem individualmente, mas sim dentro do contexto do seu time. Como disse certa vez Bill Russell, a melhor forma de se avaliar um jogador é ver como ele afeta não o jogo diretamente com pontos ou rebotes, mas sim como ele afeta seus companheiros. Ou seja, como ele faz o jogo mais fácil pra eles, como ele adapta seus talentos pra complementar os dos companheiros, como ele lidera por exemplo e todo mundo se encaixa sob sua supervisão. É saber onde ir, o que fazer e onde estar pra tornar o jogo mais fácil pro seu time, não ligar pra estatísticas ou glórias individuais, se dedicar apenas a fazer o time ganhar, apoiar os colegas e basicamente fazer todas as pequenas coisas que não aparecem num Box Score mas que são fundamentais pra construir um time de basquete do começo ao fim. E nisso Tim Duncan supera qualquer jogador que eu já tenha visto jogar. Ninguém fazia mais pelos companheiros do que Duncan... Nem mesmo Steve Nash.

Acontece que a grande parte do universo da NBA - torcedores, jornalistas, até profissionais - simplesmente não entendem ou preferem ignorar o conceito de time, a forma como os jogadores afetam uns aos outros e o plano da equipe. Preferem focar sua atenção em conquistas individuais, numeros individuais e como alguns jogadores se destacam individualmente em momentos decisivos ou coisa assim e ignoram que o basquete não é vencido por um jogador e sim por um time. Quando o líder de um time é um fominha que se preocupa mais com seus numeros e suas jogadas do que em ajudar os companheiros, como você pode esperar que seus coadjuvantes se matem defensivamente, se joguem em toda posse de bola e aceitem ficar em terceiro plano? Se o melhor jogador e líder de um time é um jogador transcendental mas que culpa os demais por não estarem no mesmo nível, como pode esperar que eles tenham confiança pra contribuir quando necessario? E não é o exato oposto se o seu lider e melhor jogador é alguém que naão liga a mínima pra si mesmo, que não se importa de ficar em segundo plano e fazer o trabalho sujo e que coloca o time e a vitória acima de tudo, que lidera por exemplo, sempre tem as costas dos companheiros? Esse time não vai ter um entrosamento maior, uma confiança maior uns nos outros? Essa postura do líder não encoraja os coadjuvantes a fazerem o mesmo ao ponto de que todo mundo segue o exemplo e colocam o time na frente dos próprios objetivos? É claro que sim!

Isso é o que o grande Bill Simmons chama de "O Segredo" do basquete: O Segredo do basquete é que o mais importante não tem nada a ver com basquete. Tem a ver com as pessoas que jogam, tem a ver com a forma como essas pessoas se relacionam e se unem em busca de um objetivo comum, como o time estabelece uma hierarquia, como cada jogador sabe o seu lugar e coloca o time à frente dos interesses pessoais e, principalmente, como as pessoas no time conseguem tirar glória pessoal da glória coletiva. Infelizmente, 90% das pessoas que acompanham basquete ignoram totalmente a importância disso e se focam no que os jogadores conseguem realizar individualmente. E não tem nenhuma estatística pra medir isso além de uma primitiva chamada "vitórias". Por isso um numero alarmante de fãs de NBA ainda acham que Wilt Chamberlain era melhor do que Bill Rusell. Por isso ninguém entende como o Celtics de Russell ganhou 11 titulos em 13 anos (e pra justificar ficam criando mitos como "Wilt só jogou em times fracos e Russell jogava com 15 Hall of Famers por ano!"). Por isso ninguém entende porque Bill Walton foi um dos melhores jogadores da história da NBA. Por isso que qualquer jogador dos anos 80 teria cometido um homicidio pra jogar com Magic ou Bird. Por isso que o Lakers de 2000 só ganhou três titulos quando deveria ter ganho oito. E é por isso que Duncan foi o melhor jogador da sua geração: Nenhum jogador desde 1991 entendeu e praticou o Segredo melhor do que Duncan, nenhum jogador (tirando talvez Nash) era mais adorado pelos seus companheiros, nenhum time tinha melhor chemistry e jogava melhor em conjunto, e nenhum jogador elevou tanto o nível de seus times quanto Timmy. Mas ainda que seja o aspecto mais importante pra uma estrela e pra se montar uma fundação de um campeão, ainda é o aspecto mais overlooked que existe no basquete, e é por isso que Duncan não recebe a apreciação que merece.

(Procure em algum momento o Steve Kerr Game de 2003, quando Kerr saiu do banco de reservas contra o Mavs nos playoffs e começou a acertar bola de três atrás de bola de três: Como todo mundo adorava Kerr, o banco do Spurs estava alucinado com cada bola que ele acertava, quase como um time no March Madness derrubando uma 1st Seed. E no meio disso estava Duncan, gritando e pulando feito um maluco, comemorando junto com todo mundo. Ele estava genuinamente feliz por Kerr. Ele realmente estava. Nenhum time na NBA desde os anos 90 tinha melhor Chemistry do que o Spurs. Nenhum)

E realmente, isso vai além de Duncan e para o que o Spurs procurou fazer como uma Franquia desde que Timmy chegou a bordo. O Spurs, e em particular Greg Popovich, sempre entenderam a importância disso tudo melhor do que qualquer Franquia nos ultimos 15 anos e sempre buscaram construir times que se encaixassem perfeitamente nesse perfil. Mais do que ter um bom grupo de scouts (e eles sempre tiveram um excelente), o grande trunfo do Spurs foi ir sempre atrás de jogadores de grupo e de caráter vencedor que aceitassem o papel que fosse no time, treinassem à exaustão tudo que o Spurs precisava que eles fizessem e não ligassem pro que isso significasse individualmente pra eles em termos de destaque, minutos, arremesso, etc: Tony Parker, Bruce Bowen, Manu Ginobili, George Hill, Danny Green, Kawhi Leonard... É uma lista mais longa do que vocês imaginam. As pessoas dão crédito pro Spurs por  achar jogadores onde ninguém mais via o mesmo valor, mas não entendem o porque isso acontece: Porque o Spurs criou o ambiente ideal pra esses jogadores, ensinando em detalhes o complicado esquema tatico que é muito dificil pra jogadores que não sejam muito dedicados e inteligentes em quadra, treinando repetidamente os fundamentos que esses jogadores não tinham e que o Spurs precisava, e acima de tudo, um ambiente onde esses jogadores entrasse e assimilassem logo a cultura de treinar muito e prezando o funcionamento coletivo acima de tudo. O Spurs entendeu que é mais facil ensinar um jogador a arremessar, a pegar rebotes ou a defender do que pegar um jogador talentoso que não tem o mesmo caráter e ensinar ele a se importar mais, treinar mais, se comprometer com o grupo, colocar o funcionamento do time acima do individual e se integrar a essa hierarquia que o time sempre possuiu (procurem no Grantland.com um artigo do Zach Lowe sobre o Kawhi Leonard - o Spurs levou o Leonard pra treinar com seu especialista pra mudar seu arremesso ANTES do Draft). Mas claro, ninguém da ao Spurs o devido crédito por isso, assim como ninguém o da a Duncan.

E o Spurs pode colocar isso em prática porque tinha as duas coisas fundamentais pra isso: Tim Duncan, conforme já cobrimos exaustivamente, e Greg Popovich. Eu sou da teoria de que a grande maioria dos técnicos não realmente importa, exceto alguns poucos. Em geral, técnicos são demitidos com tanta frequencia que só reforça o ponto de que eles não importam: Eles chegam, implementam seu esquema, dependendo de como ele se encaixa com os jogadores (dentro e fora de quadra) ele dura mais ou menos, tem mais ou menos sucesso, e quando para de funcionar ele é demitido. Não tou falando que técnicos não tem influencia, claro que tem, mas estou falando que no grande esquema das coisas, um técnico normalmente só é tão bom quanto seu elenco (e como esse elenco se encaixa com seu estilo) permitir: Eu não acho que o Pacers estaria nas Finais de Conferência com Vinny Del Negro no lugar de Frank Vogel, por exemplo, mas também não acho que Vogel seria capaz de pegar o Kings e levar eles até as Semifinais do Oeste, por exemplo. Eles tem uma importância pontual, mas no grande esquema das coisas, apenas uma minoria realmente importa: Jerry Sloan, Phil Jackson, Pat Rilley, pra citar alguns.

E claro, Greg Popovich. Olha, Pop é um estrategista brilhante, tem um excelente modelo de jogo e sabe muito bem como adaptar esse modelo a um particular adversário ou a um particular grupo de jogadores melhor do que qualquer técnico na Liga. Mas Pop é realmente o técnico histórico que é porque ele sabe lidar com o que vai além disso junto da sua estrela: Ele sabe criar o ambiente ideal pra praticar o Segredo, sabe achar os jogadores que vão funcionar, sabe que eles vão aceitar as funçōes. E ele tem o seu esquema montado em volta de Duncan, sua fundação, e sabe que pode achar ao redor da NBA os jogadores para encaixar no seu estilo de jogo ao invés de ficar tentando incluir nele jogadores que ele já sabe que podem comprometer a dinâmica do time: Por isso Stephen Jackson foi trocado em 2003 logo depois do título apesar de ser perfeito pro esquema do Pop, simplesmente porque ele não tinha o caráter pra aceitar fazer parte desse grupo nos termos do time e não nos seus. Os melhores técnicos, no grande esquema das coisas, não são os que sabem fazer os Xs e Os numa prancheta, são aqueles que conseguem passar o Segredo para seus jogadores, fazê-los se encaixar no grupo, fazê-los sacrificar numeros, minutos e glória pessoal em busca da vitória e da glória coletiva. Pode parecer pouca coisa, mas são poucos os que conseguem fazê-lo. Phil Jackson não é um dos maiores técnicos da história da NBA por causa do Triângulo, e sim porque ele conseguiu pegar um dos supestars mais difíceis e individualistas da historia da NBA (Kobe) e fazê-lo dedicar suas energias ao time, convencê-lo de que ele pode derivar grandeza dentro do conceito de time e, principalmente, de que o seu time teria uma maior chance de vencer se ele não tivesse tão preocupado com ele mesmo. Não foi fácil, o time teve vários momentos de recaida, mas no final, ele conseguiu, sempre controlando tudo como um puppetmaster, nunca entrando em pânico, sempre ajeitando o navio quando necessário. E é por isso que Phil Jackson, no final, importa.

Popovich também. Qualquer time pode conseguir atingir grandeza em um ano ou dois, mas só uma pequena parte deles ao longo da história consegue fazer isso e continuar mantendo a mesma dinâmica e a mesma fome, voltando pra mais e mais, defendendo seu território sem nunca perder de vista a importância de sacrificar a glória individual pelo bem maior. É por isso que Popovich importa, e é por isso que Tim Duncan importa tanto. E é justamente porque não podemos ver ou medir isso tudo que continuamos subestimando Tim Duncan e o Spurs, mas é também por isso que eles tiveram tanto sucesso. E agora, no décimo sexto ano da era Duncan-Popovich, eles finalmente estão começando a receber o crédito que merecem chegando na sua quinta final. Já estava mais do que na hora.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Vencedores e perdedores, até aqui, dos playoffs da NBA

Ninguem saiu dos playoffs mais fortalecido que Curry e o GS Warriors



Como eu já comentei e vocês provavelmente sabem se leram os ultimos posts, eu ando um pouco sem tempo ultimamente e ainda tentando conciliar a vida normal com o blog. Por isso, vou ter que apelar aqui pro formato de tópicos curtos pra tentar cobrir o que aconteceu nos playoffs da NBA até aqui e tentar cobrir um pouco do que já ficou pra trás.

No caso, a idéia aqui é simples. Os playoffs são, como muita gente fala, "the ultimate stage". É o ponto da temporada onde todos os olhos estão voltados pra você e onde cada partida e cada jogada tem um peso muito maior do que na temporada regular. Por bem ou por mal, justo ou injusto, é onde os jogadores se definem ao longo de uma temporada de 82 jogos. A pressão é maior, a margem pra erro é menor, os adversários são melhores, então é o melhor teste pra vermos o que cada jogador realmente tem a oferecer. Claro, isso é um pouco injusto porque tudo nesse mundo depende de contexto, e os playoffs vão oferecer diferentes matchups, amostras pequenas e todo tipo de acaso que pode afetar a sua visão de um jogador. Mas ainda assim, de modo geral, o que você faz nos playoffs é o que acaba ficando da sua temporada, pra melhor ou pra pior.

Em parte isso tem a ver com o que o técnico do Memphis, Lionel Hollins, chama de "Viés de mercado pequeno". Ainda que ele exagere nas suas colocaçōes, o ponto central é muito verdadeiro: Ao longo da temporada, boa parte de quem assiste NBA da uma preferencia maior por times mais badalados (Heat, Thunder, etc) ou times de mercado grande (Knicks, Lakers, Clippers), então muitos times bons-mas-não-espetaculares de mercado pequeno acabam sendo menos vistos e por isso possuem menos opiniōes formadas a seu respeito. Nos playoffs, todo mundo está vendo esses times jogarem com mais regularidade, então é essa a impressão que esses times vão deixar em muita gente.

Então essa é a ideia do post: Se os playoffs são os que moldam e consolidam opiniōes com mais força, quais foram os times ou indivíduos que, até aqui, sairam como vencedores ou perdedores pros torcedores, midia e opinião pública em geral ? Então sente-se, se sirva um bom drink, e vamos a isto.



Vencedor: Stephen Curry

Começando pelo mais óbvio de todos, o novo superstar da NBA, Stephen Curry! Eu sei, eu sei, essa foi fácil, mas fazer o que? Nenhum jogador nesses playoffs saiu com status mais inflado do que Curry, e é com ele que a gente começa esse giro pelos playoffs.

Acho que eu não preciso explicar porque o Curry saiu da primeira rodada com o status de jogador mais divertido dos playoffs. Depois que David Lee se machucou e ferrou todo o esquema do Warriors, o time decidiu simplesmente dar a bola nas mãos nas mãos dele e deixar ele criar o ataque a vontade. O resultado? Nos oito primeiros jogos de playoffs (até machucar de novo seu tornozelo cirurgicamente consertado) Curry tinha numeros absurdos e ninguém parecia capaz de pará-lo: 27-9 com 46-91-43 de shooting splits (chutando 9 3PT por jogo). 

A parte interessante é que os números de Curry, ainda que absurdos, não são tão diferentes do que ele vinha fazendo na NBA. Desde o All-Star Game, Curry tinha media de 26-8 com 48-89-46 de arremessos (8.9 3PA por jogo). Na verdade, o que realmente consolidou o status de superstar do Stephen Curry foi a forma como ele assumiu o controle do time quando precisou. Depois da lesão do David Lee, todo o ataque que o Warriors se especializou durante a temporada foi pela janela sem seu melhor low-post player e passador vindo do pick and roll, e o time teve que se reinventar ofensivamente no meio dos playoffs. O que o técnico Mark Jackson fez foi simplesmente dar a bola nas mãos do Curry e liberdade pra ele fazer o que quisesse com ela, nada mais do que isso (o Warriors quase não tem quase nenhuma jogada desenhada atualmente e vive de isolaçōes e improvisos 80% do tempo). Mas funcionou por um simples motivo: Curry fez funcionar. Quando Curry consegue algum espaço na linha dos três pontos, seja chamando uma screen, com um drible, se movimentando sem a bola ou whatever, ele arremessa de três e acerta metade das vezes. Isso força a defesa a tirar esse espaço dele, mas se os marcadores pressionam Curry, ele é um excelente ball handler que consegue bater pra dentro e criar espaço, e se os adversários mandam ajuda, ele é um excelente passador pra fazer a bola rodar e achar o arremessador livre. Esse esquema funciona com Curry e mais ninguém, é só ver o que acontece quando ele vai pro banco, e por isso Curry é um Superstar na NBA: Ele consegue fazer um esquema cheio de role players funcionar perfeitamente em torno dele simplesmente porque nenhuma defesa consegue pará-lo. 

Então se os playoffs servem de plataforma para bons jogadores saltarem um nível e anunciarem pra NBA que chegaram, nenhum jogador aproveitou isso melhor que Curry. Antes rotulado injustamente apenas como arremessador, todo mundo viu que Curry é mais que isso. Ele é um dos melhores ball handlers da NBA e tem um dos melhores passes da Liga, tudo isso a um preço absurdamente barato (4 anos, 44M) pra um superstar apenas aos 25 anos. E claro, como um dos melhores arremessadores de longa distância da historia da NBA, se não o melhor. Nenhum jogador na historia da Liga teve um aproveitamento melhor que Curry essa temporada (45,3%) de três pontos tentando pelo menos 7 3PTs por jogo, e isso sem contar o nivel de dificuldade desses arremessos: Off the drible, step back, em movimento, de todas as formas possiveis. Eu sei que Ray Allen e Reggie Miller eram espetaculares de três pontos, mas nenhum criava o arremesso de longa distância da mesma forma e mesma eficiencia que Curry. E graças aos deuses do basquete, agora podemos ver ele fazendo isso nos playoffs.


Vencedor: Paul George

Curry não foi o único jovem jogador a usar os playoffs como plataforma pra mostrar pro mundo da NBA que está pronto pra ser uma estrela, mas Paul George foi por um motivo diferente. Vejam os numeros abaixo:

Jogador A: 17-7-4, 2,3 stocks (Steals + Blocks), 17.1 PER
Jogador B: 16-7-4, 2,2 stocks, 16.8 PER

Jogador A é Paul George, por 36 minutos, na temporada regular. Jogador B é Paul George, por 36 minutos, nos playoffs.

Acontece que Paul George era um excelente all-around player desde o começo: Brilhante defensor, otimo reboteiro pro seu tamanho, sabe funcionar dentro do plano de jogo do seu time criando oportunidades para si mesmo e para os outros... Em resumo, um jogador completo que é o melhor jogador de um time que provavelmente vai pras Finais de Conferência. O problema é que quase ninguém assiste o Indiana durante a temporada regular, é um time muito defensivo e pouco divertido de se ver jogar e não atrai muita atenção da mídia, de forma que George acabava aparecendo pouco pros torcedores pelo "viés de mercado pequeno". Nos playoffs, com mais tempo de quadra (18-9-5 por jogo em 40 mpg) e maior atenção da mídia, George finalmente conseguiu o reconhecimento que merece, seja destruindo a defesa do Atlanta na primeira rodada com um triple-double no Jogo 1 ou engolindo Carmelo Anthony defensivamente no Jogo 2. Dependendo de como ele marcar Lebron James nas possíveis Finais de Conferencia, seu valor pode subir ainda mais. Por enquanto, nos contentamos com um reconhecimento ha muito merecido. Nas palavras de nosso querido Metta World Peace:

Paul George is playing well. Never knew he was that good. Thumbs up

Voce não era o unico, Metta.


Perdedor: George Karl

E aqui é onde isso de usar os playoffs pra julgar e tirar conclusōes sobre times e jogadores é injusto. Especialmente por causa de duas manias da mídia e dos torcedores de modo geral: A de julgar tudo pelos resultados (ao invés de olhar o processo como um todo) e a de tentar achar "rótulos" pra todo mundo. Por isso, mais uma derrota do Nuggets na primeira rodada dos playoffs só contribui pro rótulo injusto do George Karl não ser capaz de vencer nos playoffs.

Isso é justo? Claro que não. George Karl pegou um time sem nenhum All-Star, nenhum big man confiável ofensiva ou defensivamente, e montou um excelente time que terminou com o quinto melhor ataque e a 11a melhor defesa da Liga. O Nuggets tinha uma identidade estabelecida, tirava o melhor de cada jogador do elenco, jogava coletivamente e melhorava cada vez mais conforme a temporada ia avançando. Tudo isso não teria acontecido sem Karl.

Ai o acaso apareceu. Ty Lawson machucou o tornozelo (não jogou a 100% nos playoffs) e Gallinari (um dos jogadores mais importantes do time por sua versatilidade) perdeu a pos-temporada. Sem Gallo (peça-chave nas lineups de small ball do time), o Nuggets ainda pegou pela frente o time que era o pior matchup possivel no Warriors que ainda teve Curry virando Supernova no meio do caminho. Dificilmente Karl poderia ter feito alguma coisa a respeito.

Mas do ponto de vista dos fãs? Ninguem lembra disso. Ninguem lembra de como esse time só ganhou 57 jogos por causa de uma brilhante temporada do Karl. Só lembram que foi mais uma derrota em primeira rodada nos playoffs. E por isso Karl saiu dessa pos-temporada como um "perdedor". Injustamente, mas enfim.


Vencedor: Russell Westbrook

Russell Westbrook sempre foi um tema espinhoso pra qualquer um que acompanhe NBA regularmente. Sim, ele é brilhante. Sim, ele é absurdamente talentoso e um dos melhores jogadores da NBA. Sim, ele tem alguns problemas que incomodam demais quem assiste um jogo do Thunder. Sim, o Thunder seria um time muito melhor se ele pudesse corrigir esses problemas. Basicamente, ele é como todo jogador: Ele tira algumas coisas da mesa (má tomada de decisōes, aqueles pull-ups irritantes com 20 segundos no shot clock, excesso de arremessos...)  mas trás um monte de outras (capacidade de criar arremessos, velocidade inigualavel em transição, velocidade nas linhas de passe na defesa, etc) que, no caso de Westbrook, compensam com sobra as coisas negativas.

O problema com West sempre foi que, por algum motivo, as falhas do seu jogo sempre chamaram mais a atenção e acabam tirando o foco do fato que ele é um dos 10 melhores jogadores da NBA, um dos 5 mais valiosos dado sua idade e imenso potencial, e que qualquer time da NBA adoraria ter ele no seu time. E desde a troca de James Harden, ele tem sido obrigado a assumir um papel muito maior como ball handler, e a verdade é que o Thunder nao tem um esquema tatico ofensivo inteligente e bem construido, ele depende 100% da capacidade de Durant e Westbrook de atacarem a cesta e forçarem a defesa a ajustar. 

De forma bizarra, Westbrook precisou machucar e perder o resto dos playoffs pra finalmente receber a admiração que merecia. A sua lesão expôs brutalmente o que o Thunder é sem ele, um time incapaz de criar ataque ou atacar linhas de passe na defesa, um time ainda mais previsível que precisa que Durant tenha algo como 35-8-8 toda noite pra ter chance. Por mais que tenha custado ao Thunder uma chance ao título da NBA, a diferença que o Thunder mostrou sem seu armador em quadra fez todo mundo parar de olhar pros 10% ruins de Westbrook e se focar em tudo que ele trás, e tudo que seu time perde sem ele. O Thunder foi de melhor time do Oeste pra um time absolutamente mediocre sem ele, e não é a toa.


Perdedor: Serge Ibaka

Lembra quando o Thunder decidiu que preferia ter Serge Ibaka sobre James Harden? So... Hmm... Yeah. Mas não se preocupem, chegaremos lá.

O Thunder escolheu Ibaka como seu terceiro melhor jogador porque hoje ter um big man capaz de defender o aro (e embora Ibaka seja muito overrated como defensor por causa de seus tocos, ele ainda é um ótimo defensor que afeta a forma como adversarios atacam o aro contra OKC) e ainda contribuir ofensivamente é uma grande comodidade. Ibaka nao eé capaz de criar o próprio arremesso nem tem nenhum post game, mas é bom cortando em direção da cesta e tem um excelente arremesso de meia distância, o que funciona como um bom alvo pra quando as defesas dobram em KD/Russell. Então quando Russell saiu machucado, era a hora de Ibaka assumir um papel maior na equipe, expandir seu jogo e dar a Durant a ajuda que ele precisava precisava... Ibaka não conseguiu, ou simplesmente não tinha como elevar seu jogo. Sem Westbrook rpa abrir espaços pra seu jogo ofensivo, Ibaka não tem conseguido acertar seus arremessos ou criar alguma coisa sozinho, e na defesa ele tem sido totalmente amassado pela maior força fisica de Gasol/Zach Randolph. Como disse o Bill Simmons, meu escritor favorito, essa série (e em especial a ausência de Westbrook) expôs Ibaka como sendo um luxo, e não uma fundação pra esse time, um bom jogador pra acertar mid-range jumpers e dar tocos mas que você não pode contar pra mais nada.

Claro, isso também envolve um serio erro de jugamento...


Perdedor: Sam Priesti

Eu sempre fui fã do Priesti. Ele reconstruiu o Thunder com uma estratégia perfeita (e muita sorte, mas whatever), acertou a maior parte das suas decisōes e ganhou status de "Não questione nada do que eu faço!!" quando o Thunder se consolidou como uma força na NBA. Até esse ano...

Eu fui contra a troca do Harden desde o começo e por uma variedade de motivos. O primeiro e mais simples: Ele era melhor do que o Ibaka. Mas por uma serie de outros: O Thunder tinha dinheiro pra manter os dois e não quis mesmo tendo um time que iria gerar dinheiro garantido pelos proximos 10 anos (porque ter um time se é pra cortar custos?); o Thunder podia ter trocado Harden DEPOIS da temporada; porque o Thunder recebeu lixo em troca; e principalmente, porque o Harden oferecia duas coisas que o Thunder precisava urgente: um excelente ball handler pra criar vindo do pick and roll (Westbrook melhorou muito nisso mas ainda não é tão natural pra ele) e um bom arremessador de longe capaz de criar seu arremesso. Juntando tudo isso, eu já achava que o Thunder tinha errado feio e perdido a chance de criar uma dinastia na NBA.

Mas teve um ultimo fator que eu não considerei e que, provavelmente, foi o grande erro de cálculo do Priesti: Harden é um Superstar e um dos 10, 15 melhores jogadores da NBA. Talvez não desse pra saber isso ano passado com ele vindo do banco, mas hoje é um fato indiscutivel e se tem uma coisa que a historia da NBA nos ensina é: NUNCA troque um superstar por 20 centavos pelo dólar. E foi o que o Thunder fez. Na NBA hoje, voce precisa de jogadores que espacem a quadra e precisa de pelo menos dois ball handlers no seu time pra trabalhar o pick and roll e aumentar o repertório de jogadas... E o Thunder trocou seu melhor jogador fazendo as duas

E quando Russell se machucou nos playoffs e Durant foi forçado a jogar sozinho, o Thunder sentiu falta exatamente disso: Um segundo ball handler pra tirar do Durant a responsabilidade de começar toda jogada e permitir ao KD se movimentar melhor sem a bola, e alguém capaz de atrair defesas e finalizar as jogadas quando deixado livre. Mesmo se o Thunder FOSSE obrigado a trocar Harden, devia ter esperado até o final da temporada antes de fazê-lo, e agora ainda estaria brigando pelas Finais. E antes que alguém ache que eu estou julgando a troca pelo resultado, eu não estou: Achei a troca burra na epoca e a ataquei veementemente. Ela só aconteceu de ser testada cedo demais e o resultado foi o esperado.


Vencedor: Mike Conley

Por falar em trocas polêmicas, alguém lembra quando o Grizzlies trocou Rudy Gay (seu cestinha na temporada) por um washed-up Tyshaun Prince simplesmente pra economizar dinheiro e não pagar o absurdo salário do Gay (que eles mesmo ofereceram, mas whatever)? Muita gente pirou com a troca e achou que o Memphis tinha sacrificado suas chances de tentar aprontar nos playoffs com uma troca pra economizar uns trocados e, sempre que o Memphis perdia um jogo por não conseguir criar ataque suficiente no final da partida, todo mundo lembrava "Viu? Nao devia ter trocado o Rudy Gay!". Dois meses depois o Memphis tem uma vantagem de 3-1 pra cima do Thunder e em alguns dias pode estar brigando pelas Finais da NBA. So... Hmm... Yeah.

O que aconteecu foi que Gay simplesmente é um jogador ofensivo extremamente ineficiente e que era ainda mais prejudicado pelo fato de que a força do Memphis vinha de seu garrafão, o que dificultava suas infiltraçōes e o fazia arremessar mais de meia e longa distância (onde ele é um dos piores da NBA). E pra piorar, em uma epoca onde todo mundo está preocupado com salary cap e afins, você não pode pagar 17M por ano pra um jogador que não seja um Franchise Player ou um big man capaz de contribuir dos dois lados da quadra. Nesse contexto, fazia todo o sentido pro Memphis se desfazer de Gay e seu contrato albatroz que travava seu ataque já pouco eficiente, não oferecia nenhum espaçamento de quadra e ainda consumia um espaço salarial fora da realidade de um time de mercado pequeno.

Pro Memphis, a solução pra compensar a falta de Gay no seu ataque foi simples: Pegar as posses de bola de Gay e redistrubuí-las entre seus jogadores mais eficientes, em especial Marc Gasol e Conley. Lionel Hollins usou o resto da temporada regular para fazer experiências com isso, e nos playoffs colocou esse modelo à prova. E o resultado foi interessante: Antes da troca, o Grizzlies tinha o 10th pior ataque da NBA inteira. Depois da troca ate o fim da temporada regular, o Grizzlies teve o 11th melhor ataque da NBA. E nos playoffs, quando esse novo time pós-Gay se consolidou, o Grizzlies está empatado para o segundo melhor ataque da NBA.

E isso acontece principalmente porque por algum motivo, quando o Grizzlies deu mais posses de bola para Conley e Gasol - dois jogadores eficientes ofensivamente - eles se tornaram ainda mais eficientes ofensivamente. Geralmente o inverso ocorre: Quanto mais posses de bola um jogador tem que definir, ele tende a selecionar menos seus arremessos e forçar alguns pouco eficientes simplesmente porque o time naão tem outra jogada no momento, e isso costuma trazer pro chão a eficiencia de jogadores, especialmente jogadores acostumados a uma função mais complementar e menor nos seus ataques.

Mas Conley usou essa oportunidade pra de fato assumir o controle do time e isso trouxe a tona o melhor das suas habilidades: Ele é um mestre no pick and roll que conhece perfeitamente o esquema do time e sempre sabe onde seus companheiros vão estar, como usar isso pra confundir a defesa e molda-la e a melhor forma de tirar vantagem disso. E ele se desenvolveu num otimo crunch-time scorer e um dos melhores PGs defensivos de toda a Liga, alguem que sabe exatamente onde estar e o que fazer dentro da tatica do time e ainda tem o talento individual pra marcar um bom adversario no mano a mano. Em outras palavras, Mike Conley é aquele jogador que não chama a atenção - ele não vai quebrar tornozelos a cada posse de bola, acertar 15 bolas de três em sequência e terminar com aqueles box-scores ridiculos do Rondo de 20-20-15 - mas ele é o jogador que faz todas as pequenas coisas que elevam um time e fazem o jogo ser mais facil pra todos os companheiros. E o fato dele ter elevado seu jogo a esse nível quando seu time mais precisou de alguém que ajudasse Gasol a controlar o ataque foi determinante pro bom momento do Memphis.

Então sim, Marc Gasol é a estrela do Memphis e seu melhor jogador. Mas o Grizzlies não estaria aonde está se não fosse Mike Conley. Lembra quando seu contrato de 5 anos, 45M era um absurdo? Agora é uma pechincha...


Vencedor: Boston Celtics

Yeah, o Celtics perdeu na primeira rodada pro seu segundo maior rival, jogou mal e provavelmente vai aproveitar a chance esse verão pra trocar Garnett e/ou Pierce e reconstruir pro futuro. Provavelmente é o a melhor solução: O Celtics aproveitou a Era Garnett o melhor que pode, chegando em duas Finais (seriam três se KG não machuca em 2009 e possivelmente quatro se Avery Bradley joga os playoffs ano passado) e sendo relevante por seis anos seguidos. Mas agora a janela do time pra um título fechou, e é hora do time decidir se vale a pena manter o elenco por motivos sentimentais ou fazer a decisão correta do ponto de vista prático e reconstruir.

Mas eu digo isso como um torcedor do Celtics que acompanhou de perto a Era Garnett: O Celtics saiu um vencedor desses playoffs. Desde que Garnett e Ray Allen chegaram no Celtics, o time voltou a conectar com a torcida como não acontecia desde a época que Bird e Kevin McHale jogavam pelo time. Era um time velho, mas extremamente orgulhoso e resistente que continuava lutando mesmo quando tudo estava contra, e a cidade de Boston se identificou com isso. Por isso era tão doloroso ver um time velho e lento sendo surrado pelo Knicks nos playoffs. Nao era assim que essa geração devia acabar.

E ai o que aconteceu? Com todo mundo temendo uma varrida em Boston no Jogo 4, o Celtics se levantou, jogou na vontade e defesa (marcas registradas da equipe) e conseguiu uma vitoria em casa antes de calar o Madison Square Garden no Jogo 5 e fazer todo mundo pensar: "Wow, esse time é capaz de realmente ser o primeiro da história a virar uma série 3-0!". Mesmo quando no Jogo 6 o time acabou perdendo pra um time superior de NY, o time quase reverteu uma diferença de 20 pontos e fez o Knicks suar pra fechar essa série. No fundo, todo mundo que acompanhava o Celtics sabia que esse era o limite da equipe e que ela não tinha nenhuma chance, mas queriamos que o time fosse embora em estilo: Lutando, com raça, um fim digno para uma geração que fez o Celtics relevante de novo. E no fundo, foi isso que o Celtics deu pra gente nessa série contra o Knicks. Se o Celtics terminou seu ciclo, ele terminou de cabeça erguida, e era isso que ele merecia.


Perdedor: Avery Bradley

Olha, eu adoro Avery Bradley: Ele é um dos melhores on-ball defenders de toda a NBA, o melhor pickpocket de toda a Liga, defende Dwyane Wade melhor do que ninguém e complementa Rondo perfeitamente. Se Bradley tivesse saudavel em 2012, o Celtics provavelmente tinha ido pras Finais. E ele foi vitima de um matchup ruim e das multiplas lesōes (Rondo e Leandrinho, principalmente) que forçaram a ser ele mais um ball handler quando ele é muito mais confortável se movimentando sem a bola e cortando em direção a cesta. Eu sei tudo isso, então levem o proximo parágrafo com um grão de sal, ok?

Mas o fato é que o Bradley foi muito mal na série contra o NYK. Com Carmelo incapaz de achar seu melhor jogo contra o Celtics, e especialmente depois que JR Smith parou de acertar seus arremessos espíritas, o que manteve o Knicks nos jogos foi o Ray Felton destruindo a defesa do Celtics no pick and roll, atacando a cesta e conseguindo cestas faceis pro Tyson Chandler. Por algum motivo obscuro, muitas vezes o Knicks saia desse plano de jogo pra insistir nas isolaçōes do Melo e JR Smith, mas sempre que voltavam a focar no pick and roll com Felton, o Knicks incomodava o Celtics simplesmente porque ele era muito forte pro Bradley conter em velocidade e ainda cuidar dos seus misdirections dribles. Então como na hora do vamos ver ele acabou sendo atropelado defensivamente por um jogador acima da media, ele acabou saindo por baixo desses playoffs e encerrando de vez a duvida de se o Celtics devia trocar Rondo e dar as chaves pro Bradley. Ainda que de forma exagerada, a reputação do Bradley e talvez até sua confiança sofreram bastante com essa série e com a forma como Felton o dominou por seis jogos.

Por outro lado, ele quase sozinho trouxe o Celtics de volta no quarto periodo do Jogo 6 com tres roubos e oito pontos no final do jogo, então nem tudo esta perdido. Ele tem 23 anos, vai se recuperar. E btw, sua defesa provavelmente contribuiu pros problemas de outro cara...


Perdedor: JR Smith

Uma questão interessante que ganhou força ao longo dos playoffs: Acertar arremessos ruins consistentemente é uma habilidade? Se sim, JR Smith certamente está entre os melhores da Liga. Entre o final da temporada regular e os primeiros três jogos da série contra Boston, ele esteve imparável, acertando todos os tipos de arremesso e ganhando o 6th Man of the Year.

Até que depois de dar uma cotovelada e ser suspenso por um jogo contra o Celtics (Jogo 3), JR Smith parou de acertar seus arremessos. Bradley acabou com ele durante os minutos que o esteve marcando, e mesmo seus arremessos bizarros pararam de cair. Depois da suspensão, JR Smith chutou 29% (!!!!!!) de quadra e o pior, ele continuou chutando mais e mais! E as bolas não cairam mais, e logico que a culpa foi pra cima dele. Com alguma razão, mas enfim: Quando os arremessos caem, ele é um gênio, quando não caem, ele vai te tirar de um jogo ou mais. Sempre foi essa a sina dos arremessadores irracionais (Ou "Irrational Confidence Guy", um dos meus termos favoritos). O problema pra JR Smith? Esse seu mal momento aconteceu no pior momento possivel pro seu time... E oh, porque ele é um Free Agent ao final da temporada. Tem isso, tambem. Provavelmente perdeu uns bons milhōes nesses playoffs.


Vencedor: Miami Heat

Eu não tenho a menor duvida de que o Heat é o melhor time da NBA, e que é um time historicamente bom. Eles tem um dos melhores jogadores da historia da humanidade em Lebron James, e um segundo Hall of Famer em Wade. Seu terceiro melhor jogador seria uma estrela em qualquer time, e eles possuem um numero enorme de otimos role players (Allen, Battier, etc) que se combinam perfeitamente - e nessa época de Salary Cap, super-expansão e tudo mais, é o mais perto do Celtics 86' (cinco Hall of Famers mais dois All-Stars) que voce vai chegar. Eles possuem um ataque espetacular baseado em movimentação de bola, arremessos de 3 livres e nas habilidades once-in-a-generation de Lebron que lembra times como 70' Knicks, 78' Blazers, 86' Celtics, 87' Lakers, 02' Kings e qualquer outro grande time passador da historia da NBA. E Lebron é um monstro criado em um laboratório genético por cientistas do governo Reagan, então tem isso tambem.

Por isso tudo, eu já achava que o Miami ia ganhar o título da NBA de forma conclusiva. Mas mesmo assim, quando foi a ultima vez que um time tão favorito e tão bom deu TANTA sorte assim em uma temporada só? Só consigo pensar no Lakers 87'. Em um espaço de 12 meses, TUDO deu certo pra Miami: Seus dois adversários mais perigosos no Leste, Bulls e Celtics, ambos viram seu melhor jogador sofrer uma lesão no joelho e trocentos outros jogadores se quebrarem, de forma que ambos eram apenas uma casca de si mesmos nos playoffs. E como se não fosse pouco, seu maior rival no Oeste (OKC) viu seu GM trocar um dos 15 melhores jogadores da NBA por migalhas E seu segundo melhor jogador perder os playoffs machucado. Eu ainda acho que o Heat ia ganhar de todo mundo esse ano, mas a vida deles seria muito mais dificil se tivessem que lidar com um Celtics completo na segunda rodada e um Bulls completo nas Finais do Leste pra depois enfrentar um Thunder com Durant, Westbrook, Harden e Ibaka nas Finais. Agora eles enfrentaram um Bulls sem três titulares (e um quarto baleado) nas semifinais do LEste e vão enfrentar um Knicks ou um Pacers incapaz de colocar a bola na cesta nas Finais do Leste, pra depois pegar um time que não tem dois dos melhores jogadores da NBA num time só nas Finais. O Larry O'Brien Trophy vai pra Miami embrulhado em papel de presente esse ano.


Perdedor: Miami Heat

Um dos principais motivos pelos quais eu quis escrever o Especial NBA (Calma galera, prometo que vou terminá-lo assim que tiver tempo pra escrever com calma) é o seguinte: Basquete é um esporte que não pode ser medido apenas com numeros, você precisa assistir, acompanhar e entender o que está acontecendo e usar sua própria capacidade pra processar o que voce está vendo pra então juntar isso com os numeros. Acontece que conforme o tempo passa, a memória das pessoas vai sumindo, os registros vão se apagando, e tudo que nos sobra são numeros e historias. Nesse caso, essa "sorte" que colocou o troféu nas mãos do Heat nos tirou a chance de ver exatamente o quão bom esse time era enfrentando grandes oponentes, mas também atrapalha o Heat historicamente porque eles não vão ter a chance de mostrar contra  seu potencial máximo. Agora varrer o resto dos playoffs é obrigação: Se terminarem os playoffs 16-2, digamos, nao fazia mais que obrigação. Daqui a 20, 30 anos, talvez alguém olhe pra esse hipotetico 16-2, pesquise mais e pense "Wow, perderam dois jogos jogando contra esses times fracos/estourados? Esse time não chutou traseiros o suficiente". Se fizessem, digamos, 16-4 contra Celtics/Bulls/Thunder completos? Outra historia totalmente diferente que ia consolidar o Heat como um dos maiores times de todos os tempos. Esse presente de temporada pode acabar prejudicando esse brilhante time do Heat historicamente. E francamente, a todos nós que não vimos essa máquina a seu maximo potencial.