Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

A ciência por trás do bunt

Hora de descobrir se você deve usar ou não essa camisa fantástica


Vamos falar hoje de estatísticas. Por falar em estatísticas, já conhece nossa promoção para ganhar o livro Moneyball?! Sua última chance de concorrer a duas edições de um dos livros mais importantes da história do esporte!!!
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Um dos maiores preconceitos que eu vejo as pessoas do baseball tendo em relação a "Sabermetrics" vem do fato de que elas não fazem ideia do que sabermetrics é de verdade. A maior parte delas acha que é sobre criar estatísticas bonitinhas com um nome cheio de letras maiúsculas, como WAR ou SIERA, dai colocar elas em prática e pronto. É um erro grosseiro. Sabermetrics sequer trata de criar estatísticas, especificamente, embora isso seja um subproduto do processo. Você quer saber exatamente do que se trata sabermetrics? Ok, eu te conto.

Sabermetrics é sobre aplicar métodos analíticos científicos ao baseball. 

Viu? Simples, no papel. No fundo, sabermetrics é isso: parar de tratar o baseball como um "achismo" e começar a analisá-lo como uma ciência. Você acha que aproveitamento no bastão é a melhor medida da performance ofensiva de um jogador? Ótimo, então vamos analisar isso cientificamente para descobrir se é verdade ou não. Hmm, não é, acontece que OBP é um indicador melhor. E SLG ainda mais. E nesse processo você acaba tentando criar um indicador que seja ainda melhor do que esses. Foi nisso que criamos OPS, Runs Created, OPS+, e eventualmente, wRC+. Sempre querendo melhorar o indicador anterior, achar algum que - de acordo com as evidências científicas, não por palpites - seja o mais próxima possível de uma relação perfeita.

Então sim, pessoas criarão estatísticas em sabermetrics. Sempre queremos achar uma forma mais precisa de medir algo do que a que já temos. E, quando alguém inventa uma estatística nova, ele não simplesmente joga ela na internet e ela começa a ser usada - ela passa por um processo intenso de análise e escrutínio da comunidade científica associada ao assunto (incluindo, sim, as maiores universidades do mundo como Harvard e MIT). Ela será testada, analisada e testada novamente. E, como em qualquer universo científico, ela não vai sobreviver se não for sustentada por evidências fortes. Assim como na medicina ninguém vai levar a sério se eu falar que, digamos, comer grama aumenta a expectativa de vida a não ser que eu consiga sustentar esse argumento com análises, estudos e evidências sólidas, no baseball ninguém vai levar uma estatística a sério se ela não for sustentada por evidências científicas, técnicas e estatísticas - e mesmo ai ela vai estar sujeita a todo tipo de revisão para achar falhas e melhorá-la ainda mais. É inocente - ou ignorante - achar que sabermetrics se limita a ficar inventando fórmulas bonitinhas no computador e jogar na marra, e não são coisas com provas concretas e científicas sustentando-as. 

Então sim, criar novas estatísticas é parte do processo envolvido com a ciência sabermetrics. Mas não se limita a isso. Analisar o esporte de maneira científica também significa descobrir a verdade por trás de certos eventos. Na nossa vida, tomamos "verdades" com muita facilidade. Sua avó deve ter te falado sobre como comer, sei lá, leite com manga faz mal. Nos esportes não é diferente. São criados "dogmas" com muita facilidade: canhotos são mais dotados para o baseball que destros; jogador que da muitos tocos é um bom defensor; Wide Receivers precisam ser rápidos para ter sucesso na NFL; etc. Baseball tem mais desses velhos dogmas do que qualquer outro esporte, talvez por estar ai a mais tempo. E parte dessa revolução analítica tratou de olhar para essas "verdades" do esporte e ver se, no final das contas, eram verdades mesmo ou se estavam atrapalhando a vida dos times.

Bem, aonde eu quero chegar em toda essa discussão? Nos bunts. Especificamente, nos bunts de sacrifício, quando você intencionalmente cede uma eliminação para avançar os corredores em base (quando eu falar em bunts ao longo do texto, estou me referindo especificamente ao de sacrifício, não a fazer bunt para conseguir uma rebatida contra o shift, por exemplo. Espero que fique claro).

Você provavelmente já ouviu em algum lugar sobre como a mentalidade "analítica" despreza bunts, enquanto a "velha escola" adora. Você provavelmente já ouviu algum narrador ou comentarista na TV falando que tal jogador "tem que ir pro bunt" um número absurdo de vezes, ou viu alguém (tipo eu) surtando quando algum jogador bom foi para o bunt sem necessidade. Então ao invés de ficar no "achismo" - eu acho que bunt é bom, eu acho que bunt é ruim - vamos olhar as evidências, e ver em que direção as provas empíricas apontam.

Para começar, precisamos de um conceito que chama Expected Runs.


Expected Runs

Expected Runs é muito simples: em baseball, você tem 27 "estados" diferente nas quais o ataque pode se encontrar antes de uma jogada começar. Elas dependem de dois fatores: quantas pessoas estão em base, e quantos já foram eliminados. Então, ao começar uma jogada, você pode ter as seguintes situações nas bases: Ninguém nas bases; um na primeira base; um na segunda base; um na terceira base; homens na primeira e segunda bases; homens na primeira e terceira bases; homens na segunda e terceira bases; e bases lotadas. São 9 ao todo, e cada uma delas pode acontecer com 0, 1 ou 2 eliminados. Cruzando ambas você tem ao todo 27 estados ofensivos

Expected Runs nada mais é do que calcular quantas corridas um ataque tende a anotar em cada um desses 27 "estados". Um exemplo, para ilustrar: ao iniciar uma entrada, com ninguém em base e nenhum eliminado, um time tende a anotar 0.47 entradas em média. Se o primeiro jogador vem e acerta uma rebatida dupla, então seu novo "estado" é zero eliminados e um homem na segunda base. Nesse "estado", os times tendem a anotar em média 1.1 corridas no resto dessa entrada. Se esse jogador fosse eliminado, então no novo "estado" (um eliminado, zero em base) os times tendem a anotar 0.26 corridas. E por ai vai.

Como isso é calculado? Empiricamente, é claro. Pegando uma amostra suficientemente grande, mas com distribuição suficientemente semelhante para evitar grandes flutuações, calculando em média quando time anota em cada "estado", e depois testando se esse valor se sustenta cientificamente. Tem diferentes modelos para Expected Runs no mundo, e você pode fazer a mesma análise a seguir com cada um deles. Eu estou usando o mais aceito, que abrange um período de quase 56 anos de dados cuidadosamente selecionados, conforme descrito por Jeff Zimmerman, do Fangraphs. Esse modelo é o mais usado por apresentar os valores estatísticos mais significativos, e por ser o que mais se aproxima dos valores atuais do esporte, também de forma estatisticamente significativa. Então ele tem maior utilidade prática para nós no momento. 

Agora que temos as Expected Runs para os 27 cenários ofensivos do baseball, podemos ver exatamente os efeitos práticos do bunt em um jogo de baseball.


A matemática por trás do bunt

O ataque no baseball tem uma única função em um jogo: anotar o máximo de corridas possível para dar ao seu time o máximo de chances possíveis de ganhar. Existe uma óbvia e sustentável correlação entre corridas anotadas e a chance de você vencer um jogo. Então cada decisão no ataque tem que ser tomada de forma a maximizar as chances do time anotar o máximo de corridas possível. 

Então vamos começar da situação básica do esporte. O homem de leadoff conseguiu chegar em base, então com um homem na primeira base e zero eliminados, você tem uma expectativa de anotar 0.86 corridas nessa entrada. 

Então agora o técnico chama um bunt, e ele é bem sucedido. O novo estado ofensivo agora é um homem na segunda base, e um eliminado. Nesse novo cenário, a expectativa de corridas a serem anotadas pelo ataque agora é de... 0.68 corridas.

Pare para pensar um pouco nisso por um minuto. Você chamou uma jogada (o bunt), ela deu CERTO... e você custou ao seu time cerca de 0.18 corridas no processo. E a verdade é que mesmo esse número pode enganar, porque isso é o resultado de um bunt bem sucedido, o que nem sempre acontece. A taxa de sucesso de bunts na MLB nos últimos três anos foi de 84%, o que significa que tem 16% de chance de você nem acabar com esse cenário, e sim com um pior, uma eliminação e um homem na primeira base (estou deixando de lado queimadas duplas e erros defensivos por enquanto porque eles pouco mudam nos cálculos). Encorporando no cálculo a chance de que o bunt acabe dando errado, e considerando os dois "cenários" pós-bunt (e suas chances de acontecerem), então a expectativa de corridas anotadas pós-bunt é de 0.65 - 0.23 abaixo do que era antes. Simplesmente por chamar uma jogada de bunt, o técnico custou ao seu time 0.23 corridas em média. Só por empregar essa estratégia nesse cenário. Então os dados apontam que, nesse cenário, ir para o bunt é algo que prejudica o seu time, e portanto não deveria ser feito. 

É importante lembrar que o técnico não controla o que vai acontecer durante um at bat normal. Esse segundo jogador pode rebater um HR e anotar duas corridas (mais os 0.47 da nova situação de bases vazias e zero eliminados), ou pode sofrer uma queimada dupla ou um strikeout. Se ele for eliminado, certamente que alguém pode pensar "puxa, se era pra ser eliminado, então era melhor ter feito o bunt", mas isso é estúpido porque o técnico não tem como saber disso de antemão. Ele tem que analisar as chances de cada coisa acontecer, e decidir pela ação que vai trazer maior retorno para o time. Nesse caso, decidindo pelo bunt ele custou ao seu time, em média, 0.23 corridas. O que é muito. 

Vamos ver então para outros cenários, ver se essa situação se inverte. Talvez com um homem na segunda base e nenhum eliminado.

Bem, se o jogador de leadoff chegou na segunda base, a expectativa agora é de 1.1 corridas. Se um bunt for feito, e o jogador impulsionado até a terceira base (agora com 1 eliminado), o novo estado tem média de... 0.94 corridas. .016 mais baixo do que antes do bunt. E isso, de novo, se o bunt der certo. Não consegui achar se a taxa de sucesso nessa situação segue aqueles 84% (eu assumo que seja maior, já que não tem a possibilidade do forceout), mas podemos estimar: se a taxa for de 84%, então ir para o bunt vai gerar em média 0.90 corridas; se for um pouco acima (digamos, 90%), fica em .91. Então, indo para o bunt nessa situação, você custou ao seu time .19 ou .20 corridas. 

Você vai ver que essa situação se repete em qualquer "estado": ir para o bunt sempre vai diminuir a expectativa de corridas anotadas daquela entrada. Em outras palavras, ir para o bunt praticamente SEMPRE (espere as próximas seções) vai fazer seu time anotar, em média, menos corridas do que teria anotado se tivesse deixado o time rebater normalmente. Para deixar isso mais claro, eu fiz as duas tabelas abaixo. Nelas, temos os seis cenários que os times fazem rebatidas de sacrifício, a expectativa de corridas anotadas naquele "estado", a nova expectativa de corridas anotadas quando o time vai para o bunt (usando aquele aproveitamento de 84% antes descrito), e por fim quantas corridas essa decisão custou ao ataque.

Se você acha que esses 84% não são muito precisos (e não são mesmo, já que o número é uma média de todas as situações. O número, imagino eu, deve ser maior quando você não tiver uma oportunidade de forceout, e menores quando tiver), não tem problema. Logo abaixo, você tem a segunda tabela, que ao invés de usar a expectativa na hora do bunt (considerando os cenários de sucesso e fracasso) considera a expectativa no caso de um bunt bem sucedido. 

Eis então as tabelas que mostram o resultado no total de corridas esperadas de uma entrada ao usar o bunt:








Como você pode ver, ir para o bunt não é uma estratégia boa. Na verdade, ela é bastante prejudicial. 0.2 corridas pode não parecer muita coisa, mas em uma temporada de 162 jogos, é coisa pra cacete. Em 162 jogos, isso somaria 34 corridas, o que da mais de 3 vitórias (10 corridas, em média, equivalem a uma vitória). Então só por ir para um bunt todos os jogos, você está basicamente jogando três vitórias na temporada no lixo. É muita coisa, e uma diferença bastante significativa. 

Então pessoas da área mais "analítica" do esporte não desgostam de bunts por princípios, ou por que acham algo ruim. Elas desgostam porque em algum momento alguém decidiu questionar se o bunt - algo usado no baseball desde o começo - era realmente algo que valia a pena ser usado e que ajudava o time, e usando métodos científicos e analíticos, obteve evidências suficientes para concluir que não, que é uma estratégia que na verdade atrapalha a equipe. Nós acabamos de passar por um processo semelhante, usando evidências empíricas para calcular e mostrar na prática o impacto negativo de usar tal manobra. Claro, é uma forma mais simples e rústica de mostrar isso - se procurar na internet vai achar exemplos mais complexos que chegam à mesma conclusão - mas a ideia é essa: usar dados para achar evidências que comprovam ou desmentem alguma coisa. Mesmo que sejam dados pouco refinados, ainda são evidências concretas de um ponto de vista: de que bunts são prejudiciais. A diferença é grande e significativa demais, e outros estudos já entraram em cenários mais complexos e situações para diferentes times/jogadores, e chegaram no mesmo resultado de forma conclusiva.

Então quando você ouvir um narrador ou comentarista falar sobre a importância dos bunts, ou que todo jogador tem que saber fazer bunt, ele está simplesmente repetindo algo que ouviu, e que muitas pessoas já provaram que ele estava errado. Isso não é conhecimento, é ignorância. Nunca acredite cegamente no que for dito a você, sempre questione, procure a verdade, busque provas ou evidências do que aquele cara está falando. Esse é o espirito científico que, para o desespero de muitos, tem tomado cada vez mais conta do mundo esportivo. 

(Nota importante: esse mesmo raciocínio numérico tem o mesmo resultado se você separar entre AL e NL as Expected Runs, então mesmo em um ambiente como o da NL onde se anota menos corridas de maneira geral, o resultado ainda é o mesmo)


Quando devemos usar bunts?

"Espere um pouco", você está provavelmente pensando, "isso quer dizer que não tem NENHUMA situação onde um bunt possa ou deva ser usado?!". Bem, não, e é nisso que vamos entrar agora.

Você provavelmente, ao perguntar isso, estava pensando em pitchers rebatendo. Se for o caso, vou pedir que espere mais um pouco. No momento, quero falar de outra coisa: existe alguma situação normal (ou seja, que não envolva um extremo como um pitcher rebatendo) que as evidências mostrem que ir para o bunt é uma estratégia vantajosa?

Na verdade, existe sim. Uma.

Voltando ao cenário mostrado anteriormente, se você está na segunda base com nenhum eliminado, a tendência é que anote 1.1 corridas na entrada. Se você faz o bunt, agora tem um jogador na terceira base e um eliminado, e a tendência é que anote 0.94. Obviamente, em uma situação normal de jogo, isso é prejudicial, pois agora seu ataque vai anotar, em média, menos corridas do que antes. Então você não deveria fazê-lo.

No entanto, imagine que agora está na parte de baixo da nona entrada, e o jogo está empatado. Nesse cenário, não importa QUANTAS corridas você anote - o jogo acaba no momento que você anotar a primeira. Nesse caso, a nova variável mais importante não é anotar o máximo de corridas possível, e sim maximizar sua chance de anotar pelo menos uma corrida (ou, analogamente, minimizar a chance de não anotar nenhuma corrida). E nesse cenário, é o que acontece. A chance de sair sem nenhuma corrida com um homem na segunda base e zero eliminados é de 38.3%. Avançando o corredor para a terceira base às custas de uma eliminação, a chance de anotar 0 corridas agora é de 34.9%. Então nesse cenário ultra-específico (que até pode ser "extrapolado" pra outras situações onde o time busque anotar apenas uma corrida, como por exemplo tentando empatar um jogo de uma corrida na entrada final), o resultado do bunt é positivo, e não negativo.

O problema é aquele velho: nem todo bunt funciona. Você pode tentar fazer o bunt e sofrer um pop up, pode rebater forte demais e o corredor não conseguir correr até a terceira base, pode sofrer um strikeout, ou pode até mesmo acabar eliminando o corredor na terceira base. A taxa de sucesso de bunts na MLB é de 84%. Calculando a diferença entre a chance de anotar uma corrida nos diferentes estados envolvidos - homem na segunda e zero eliminados; homem na segunda com um eliminado; homem na terceira e um eliminado - você vai obter que só é vantajoso ir para o bunt nessa situação se conseguir convertê-lo a uma taxa de sucesso de 85.7%, um número ainda maior que a média do esporte em geral. Não é tão simples assim, então.

Eu tentei longamente achar a taxa de sucesso para bunts nessa situação específica, e até recrutei a ajuda de um pesquisador profissional, mas infelizmente não consegui chegar a um resultado confiável para qual seria essa taxa específica. Usando os 84% como base, eu diria que provavelmente a taxa de sucesso do bunt com um jogador na segunda base, mas nenhum na primeira, é maior do que 84%, pela não-existência da possibilidade do forceout, o que torna mais difícil eliminar alguém que não seja o rebatedor (da mesma forma, espero que a probabilidade com homens na primeira e segunda base seja inferior a 84%). O melhor que eu consegui achar foi um estudo que colocou em 88% a taxa de sucesso nessa situação, mas usando dados do baseball universitário, não profissional, e de modo geral as taxas de sucesso da NCAA são mais altas que na MLB.

Então é difícil usar como base para qualquer conclusão sem uma evidência mais significativa. O verdadeiro número possivelmente está na casa dos 85.7% exigidos para que exista uma vantagem.

Mas a verdade é que, nesse caso, a diferença é pequena demais para ser significativa. Isso significa que, estatisticamente, não é possível provar que ir para o bunt ou não ir para o bunt tenha alguma diferença nesse cenário. Os números são próximos o suficiente para justificar o bunt como sendo uma estratégia válida nessa situação, mas não grande o suficiente para justificá-la como sendo vantajosa. Em outras palavras, não temos evidência de que ir para o sacrifício nesse cenário é bom, mas também não temos para dizer que não é. Acaba se tornando uma questão mais situacional - você obviamente não vai mandar alguém como, digamos, Joey Votto para o bunt, mas se for Juan Lagares, é outra questão. 


O que fazer com um rebatedor ruim?

Enfim, chegamos aonde todo mundo deve ter imaginado. É muito comum em jogos na National League os times preferirem por mandar um arremessadores, quando sobe ao bastão, fazer um bunt se possível ao invés de rebater normalmente. A ideia por trás é muito simples: Expected Runs opera na média, mas se você tem um rebatedor muito abaixo da média, ele pode desequilibrar os cenários o suficiente (com menos probabilidade de algo bom acontecer) para tornar a opção do out construtivo (o bunt) mais vantajosa para a equipe. Isso não se aplicaria apenas para pitcher, mas também para rebatedores ruins de modo geral. Ou pelo menos é o que dizem na teoria.

Então vamos passar da teoria para a prática, e ver como isso funciona estatisticamente. Vou usar OBP (On Base Percentage) para esse cálculo, pois ela não só é mais fácil de calcular na prática (envolve menos cenários), como também um walk pode fazer o papel de um "bunt" e impulsionar o jogador uma base a mais (sem o custo da eliminação). Com base nos três diferentes cenários - quando o jogador sobe ao bastão, indo para o bunt, e rebatendo normalmente - vamos tentar calcular qual o limite do OBP que esse jogador precisa ter para que ir para o bunt passe a ser a estratégia mais vantajosa para a equipe.

Começando do nosso cenário base: zero eliminados, homem na primeira base. Corridas esperadas: 0.86. Nós já vimos que, indo para o bunt (e assumindo aquela taxa de sucesso de 84%), a expectativa de corridas para a entrada que esse novo estado gera é de 0.65 corridas. Se o jogador conseguir chegar em base, no novo cenário (1st and 2nd, zero eliminados) o ataque tende a anotar 1.47 corridas em média. Se o jogador for eliminado sem impulsionar o companheiro (homem na primeira, 1 eliminado), esse valor cai para 0.52 (por enquanto estou considerando apenas o cenário chegar em base vs ser eliminado).

Usando esses dados, para justificar ir para o bunt ao invés de deixar o jogador rebater, seu OBP teria que ser abaixo de .170.

Para começar, essa é uma figura patética para um rebatedor de MLB. Nenhum rebatedor qualificado no baseball na história da Live Ball Era teve uma temporada com OBP abaixo de .220, bem acima dos .170 que precisaria ter para o bunt começar a valer a pena estatisticamente. Isso praticamente já serve para eliminar o bunt para qualquer rebatedor normal.

No entanto, para pitchers a história é diferente. Dos 90 pitchers que entre 2010 e 2015 tiveram pelo menos 70 at bats em uma temporada, apenas 43 deles tiveram OBP acima de .170. O OBP coletivo dos pitchers rebatendo em 2015 é de .157, abaixo desse limite. Então no caso de pitchers indo ao bastão, realmente é - na média - mais vantajoso mandar o cara ir para o sacrifício... mas não sempre.

No entanto, não é da eliminação que os times tem medo quando um arremessador sobe ao bastão em situação de bunt - é da queimada dupla. Então para ter um valor mais preciso desse OBP, vamos incorporar a queimada dupla no nosso modelo, computando o valor de corridas esperadas em caso de uma DP - dois eliminados e ninguém em base geram na média 0.1 corridas por entrada. Esse modelo ainda não incorpora outros eventos comparativamente positivos na ida do rebatedor ao bastão (como rebatidas multi-base, uma eliminação além do bunt que avance o corretor, ou uma rebatida simples que impulsiona o corredor até a 3B), mas é o mais próximo que podemos chegar sem entrar em cálculos excessivamente complicados.

Tentando chegar em um número confiável, cheguei a alguns valores para a porcentagem de queimadas duplas em situações como essa. Através de pesquisas empíricas, cheguei em 8% a taxa da MLB em double plays em situações semelhantes (menos de 2 eliminados, homem na primeira base) nas últimas duas temporadas. No entanto, usando alguns dados do Baseball Prospectus com pesos lineares, o grande Ben Lindbergh chegou algo mais próximo de 13% em situações gerais de double plays (incluindo a situação descrita antes, mas não se limitando a ela). Como não da pra saber exatamente qual desses números é o mais certo, vamos usar os dois separadamente para chegar em um resultado mais preciso para o OBP mínimo a partir do qual o bunt não se justifica mais.




Ainda é muito pouco. Eu inclui a figura de 20% de DPs - um número bem mais alto do que eu consegui achar para qualquer rebatedor qualificado - para mostrar que você precisaria de uma taxa de DPs extremamente alta simplesmente para chegar no nível dos PIORES OBPs da história do esporte. Você precisaria de uma taxa de OBPs de quase 40% para chegar perto do nível médio de OBP da MLB hoje em dia, e isso antes de você lembrar que esse exercício inclui só OBP e não SLG - em outras palavras, ele ignora uma série de fatores favoráveis (rebatidas multibase, principalmente). Em outras palavras, a evidência é extremamente forte de que é impossível achar um jogador qualificado na MLB ruim no bastão o suficiente para justificar para ir para o bunt, você precisaria ser historicamente ruim em termos de OBP E ainda não adicionar muito valor em termos de SLG para justificar. Não existe um rebatedor qualificado na história do esporte que corresponda a esses critérios, então a evidência é bastante forte de que mandar para o bunt rebatedores "fracos" ainda é bastante danoso para o time.

No caso de pitchers, obviamente, é diferente. Em geral, pitchers são extremamente mais fracos rebatendo do que jogadores de campo, e portanto não só é muito mais fácil achar arremessadores com OBPs baixos que se encaixem nesse critério, como também a taxa de DPs para eles seria muito maior do que para rebatedores normais. Infelizmente, não consegui achar a taxa de queimadas duplas para arremessadores rebatendo, provavelmente porque na grande maioria dessas situações o jogador iria para o bunt.

Então vamos fazer uma estimativa desse número, usando as taxas anteriores (8% e 13%). Vou ajustar a taxa dos rebatedores "normais" para pitchers considerando dois números: a taxa de groundballs (afinal, a grande maioria das DPs vem em bolas rasteiras) e a taxa de infield hits de ambos (uma noção da capacidade do jogador de conseguir chegar na primeira base a tempo com as pernas). No caso, a taxa média de groundballs para rebatedores de campo na MLB foi de 45.4% esse ano e 44.8% ano passado, e de infield hits, 6.7% e 6.5%, respectivamente. Para pitchers, esses números foram de 61.9% e 5.6% esse ano, e 63.4% e 4.4% ano passado. Então usando os últimos dois anos de amostra e considerando a proporção entre infield hits e GB%, fizemos as estimativas abaixo, que nos levaram aos seguintes OBPs:



Ou seja, dependendo de qual dos dois números que achamos vocês acham que é o "certo" para índice de queimadas duplas na liga, o ajuste leva a 15% ou 25%, aproximadamente (como sempre, imagino que o número "real" esteja em algum lugar entre os dois).

De cara, é bem fácil perceber que o OBP "mínimo" nessas condições subiu bastante, e considerando o nível mais baixo dos pitchers no bastão fica claro que mandar seu arremessador fazer um bunt não é algo ruim. Dos 90 arremessadores com 70+ at bats em uma temporada desde 2010, apenas 8 tiveram OBP acima de .249, e 22 tiveram mais que .208. Nessa temporada até aqui (min. 20 at bats), apenas 7 (10%) pitchers tem OBP superior a .249.

Então realmente temos evidências de que, na maior parte do tempo, é realmente melhor você mandar seu arremessador para o bunt... mas não em todos os casos, certamente. Considerando que esse "modelo" não inclui outs "produtivos", esses números (.208 ou .249) provavelmente superestimam o OBP necessário para tornar o bunt algo prejudicial, e isso antes de lembrar que não estamos incluindo slugging. Mesmo que essa figura de .249 seja a real, você não vai mandar para o bunt alguém como Madison Bumgarner ou Travis Wood, jogadores cujo OBP nos últimos três anos está nessa faixa (.249 para MadBum, .248 para Wood) mas que possuem um ótimo SLG% (acima de .340 ambos) e que portanto tem melhores condições de impulsionar jogadores mais do que o normal. E DEFINITIVAMENTE não deveria mandar para o bunt Zack Greinke, que tem uma linha de .241/.299/.321 nesse período.

As evidências apontam que de fato é benéfico ao seu ataque ir para o bunt com um rebatedor no bastão na maioria do tempo, mas também sugerem fortemente que existe alguns casos de rebatedores que NÃO deveriam ir para o bunt quando sobem ao bastão (o que está alinhado com o resultado de pesquisas recentes feitas pelos sites Beyond the Box Score e Baseball Prospectus). Só porque é um rebatedor no bastão não quer dizer que o bunt seja automaticamente a melhor jogada - depende do manager saber com quais pitchers adotar essa estratégia, e quais deve deixar rebater normalmente.


Um desafio

Para finalizar, o meu amigo Vinicius Veiga, do SpinballNet, me propôs um desafio para essa coluna. Ele me ofereceu uma situação de jogo específica, que ele achava que o bunt seria uma opção vantajosa, e queria que eu testasse para descobrir o que uma análise científica diz sobre a questão. O cenário era o seguinte:

Parte de baixo da nona entrada, perdendo por um. O time tem zero eliminados, e homens na primeira e na segunda base. No bastão, um rebatedor abaixo da média, com alta taxa de groundballs, o que aumentaria a chance de uma queimada dupla (ele citou Nori Aoki, mas acabamos mudando para Ben Revere). Considerando que o bunt permitira que o jogo fosse empatado com um sac fly, e a maior probabilidade de um evento negativo com um rebatedor fraco no bastão, ele disse que nesse cenário um bunt provavelmente seria melhor para o time. E então é esse cenário que iremos agora testar.

Para começar, vocês devem ter reparado que esse cenário é semelhante ao descrito algumas seções atrás como um cenário favorável de bunt - homem na segunda base, zero eliminados, precisando de uma corrida. Eu propositalmente deixei de entrar demais nos méritos do cenário com homens na primeira e segunda base por ser um cenário mais complexo, que envolve mais fatores. Mas a matemática é igual, e o resultado (taxa de sucesso acima de 85% para ser vantajoso) é o mesmo. Então nessa situação do Vinicius, o resultado provavelmente seria o mesmo - ir para o bunt tenderia a aumentar a chance do time de empatar o jogo, especialmente com um caso mais "extremo" de ground balls no bastão.

No entanto, ainda é um cenário bastante interessante porque envolve uma variável diferente: ir para o bunt diminuiria suas chances de anotar de sair da entrada zerado (ou seja, aumenta as chances de anotar uma única corrida), mas também diminui suas chances de anotar mais de uma corrida na entrada. Anotar uma única corrida evita sua derrota, mas você ainda precisa ganhar no resto das entradas extras, enquanto anotar duas corridas já te venceria o jogo imediatamente. Então ao invés de focar nas corridas esperadas, vou olhar algo diferente: a chance de você vencer o jogo ou não.

Então para começar, temos 2 em base e 0 eliminados. Nessa situação, em média, um time vai anotar zero corridas 37.2% do tempo, e nesse caso o time seria derrotado. O time vai anotar mais do que uma corrida 40% do tempo, então nesse caso o time sairia vencedor. E anotaria apenas uma corrida nos 22.8% do tempo restantes, e nesse caso o jogo iria para entradas extras. Estou assumindo que, se o jogo for para entradas extras, a chance de cada time sair com a vitória é de 50%. Dadas essas circunstâncias, podemos chegar nas probabilidades de cada resultado para a equipe nesse cenário:




Bem próximo a 50%, como vocês podem ver.

Agora vamos supor um bunt. Vamos usar nossa velha conhecida, 84%, como taxa de sucesso. Nesse caso, eis nosso novo cenário:



Bem, você na verdade diminuiu suas chances de vitória... mas bem pouco, o suficiente para a situação específica provavelmente ter um grande impacto na sua decisão de ir ou não para o bunt, já que é bem 50-50 (importante observar que, caso de um bunt bem sucedido, o adversário poderia lotar as bases com um walk intencional, o que diminuiria ainda mais as chances de vitória da equipe, mas a diferença é pequena).

Agora vamos incluir na equação nosso bravo Ben Revere, um rebatedor abaixo da média com tendências extremas de GB%. Usando seus números de 2014, Revere conseguiu strikeouts em 7.9% das suas passagens pelo bastão; chegou em base sem uma rebatida em 4%; conseguiu rebatidas simples em 26.2%; rebatidas multibase em 3.6%; e o resto envolveu eliminações normais. Através dessa distribuição, vamos calcular exatamente qual a chance de cada cenário acontecer depois do at bat do jogador e, a partir disso, a chance de vitória esperada ao deixar o jogador rebater.

Para padronizar, estou considerando algumas coisas:

- uma rebatida simples vai impulsionar a primeira corrida, e o homem atualmente na primeira base só vai chegar até a segunda
- uma rebatida dupla vai impulsionar ambos os jogadores, vencendo o jogo automaticamente. Assim como uma rebatida tripla ou um Home Run
- no caso de uma eliminação que não seja double-play, estou considerando que nenhum jogador avançou base para facilitar as contas
- no caso de uma DP, os eliminados foram os jogadores na segunda e primeira base.

Para incluir as double plays no cálculo, voltei em cada at bat dele dos últimos dois anos e calculei a média do jogador em situações de DP, e o resultado foi de 11% - consideravelmente superior à média de 8% da MLB. Então vamos ver agora como fica nossa chance de vitória se Revere rebater normalmente:



Um pouco pior do que indo para o bunt, mas por muito pouco - apenas um ponto percentual. Considerando os ajustes e simplificações que tivemos que fazer no modelo, e considerando que a taxa de sucesso de bunt nessa ocasião fosse de 84% (eu imagino que seria menos), e que Ben Revere é um rebatedor abaixo da média. É um exemplo extremo (Revere liderou a liga em GB%), é seguro afirmar que essa diferença não é estatisticamente significativa. Ou seja, nesse cenário específico, a diferença estatística entre ir para o bunt e não ir é pequena o suficiente para ser irrelevante. Nesse caso, não existe uma resposta certa - depende muito mais do contexto (jogadores envolvidos, por exemplo) do que de uma diferença na situação em si. Um exemplo bastante interessante e instrutivo.


Conclusão

Então deixando o achismo para trás e aplicando métodos de análise científicos em situações de bunt, chegamos a algumas conclusões.

Primeiro, e mais importante, o bunt é bastante prejudicial em situações normais de jogo, e não deve ser feito exceto em situações muito específicas. Mesmo com as simplificações e trabalhando com menos cenários, a diferença ainda é muito grande e bastante significativa mesmo considerando diferentes times e jogadores envolvidos - muitos outros estudos já foram por caminhos menos simplificado e mais complexos, ajustando por outros fatores, e chegaram aos mesmos resultados.

Além disso, vimos que, mesmo no caso de um rebatedor bastante ruim no bastão, ainda não é vantajoso ir para o bunt. O nível de OBP de um jogador para justificar ir para o bunt ao invés de rebater normalmente é baixo demais para qualquer rebatedor qualificado da história do baseball, e é virtualmente impossível achar um jogador de campo ruim o bastante para justificar essa ação. Excesso em situações muito específicas, sempre é melhor ir para a rebatida do que para o bunt com rebatedores usuais.

No entanto, com pitchers o assunto é diferente. Temos evidências de que, dado que pitchers costumam ser muito inferiores no bastão (e mais propensos a DPs), de modo geral é vantajoso mandar seu rebatedor fazer um bunt do que deixar que ele rebata. E, ainda assim, nossos resultados também indicam que isso não é verdade para todos os casos, e que existe pitchers que tendem a ajudar mais o time rebatendo normalmente do que indo para o bunt - algo que também está alinhado a estudos recentes.

Por fim, encontramos algumas situações específicas que funcionam como exceções, nas quais os bunts não são prejudiciais. No caso de situações extremas de fim de jogo onde você precisa anotar especificamente uma corrida por algum motivo, por exemplo, vimos que o bunt pode aumentar ligeiramente suas chances de anotar essa uma corrida. Também analisamos um exemplo extremo de fim de jogo com uma corrida, de um rebatedor abaixo da média com tendências extremas de GB%, onde verificamos que ir para o bunt poderia ter um efeito positivo mínimo.

Nesses casos, as evidências e as diferenças numéricas são pequenas demais para serem consideradas estatisticamente significantes, então não podemos dizer que nessas situações especificas ir para o bunt é vantajoso, mas nossos dados também não dizem que seja prejudicial - em outras palavras, são duas situações extremamente específicas onde nossos dados apontam que não existe uma diferença quantitativa entre ir para o bunt ou não. Mas, como dissemos, são exceções muito específicas.

Em suma, o que fizemos aqui foi pegar um tópico de debate - a validade ou não do bunt - e aplicar métodos científicos para tentar chegar a uma resposta. É um estudo preliminar e rústico - estudos muito mais profundos e refinados foram feitos por outras pessoas ou instituições, e se tiverem interesse, recomendo que corram atrás dessas pesquisas - mas que deu resultados que estão de acordo com os achados da comunidade científica e que são baseados em evidências empíricas sólidas.

Se você discorda, ou se quiser aprofundar a questão, recomendo totalmente que corra atrás de suas próprias evidências e dados, porque é essa a essência das sabermetrics, e é isso que torna o debate muito mais rico e próximo da verdade. Quanto mais pessoas pesquisando e estudando o baseball de forma séria e competente, mais temos de base para falar com propriedade sobre o assunto, e chegamos cada vez mais longe em entender esse esporte - ou qualquer outro. Porque, como eu disse, sabermetrics se trata de aplicar métodos científicos no esporte, e esse mesmo pensamento pode ser aplicado em qualquer área que você quiser. Mantenha a cabeça aberta e uma mentalidade inquisitiva  e científica voltada para fatos e evidências, e um novo mundo se abre a sua frente. No caso em questão, um mundo dentro baseball, pronto para ser explorado e descoberto.


Os dados desse estudo vieram dos seguintes sites: Fangraphs, Baseball-Reference, Baseball Prospectus, Beyond the Box Score, Baseball Savant, gregstoll.com e Brooks Baseball. O alfa usado para os testes de significância foi de 5%. 

Agradecimentos especiais ao meu amigo Vinicius Veiga, pelo desafio e pela ajuda de modo geral, e aos meus ídolos Ben Lindbergh, do Grantland, e Daren Willman, fundador do excelente Baseball Savant, que me ajudaram com a pesquisa e com alguns dos dados mais trabalhosos dessa coluna.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Hack a Cast #7 - Summer Leagues




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Novo podcast no ar!!

Nessa edição do Hack a Cast, o tema foram as Summer Leagues, que acabaram semana passada com o título do San Antonio Spurs.

Falamos sobre Becky Hammon, performances dos calouros no torneio, os veteranos que evoluíram (ou não), quem impressionou e quem decepcionou... e, claro, sobre os brasileiros que participaram do torneio e o que sua performance significa para cada um deles.

Confira!!





(Se você está procurando pela nossa análise do Draft da NBA, é só clicar aqui)


segunda-feira, 20 de julho de 2015

Um Mock Draft Retroativo - 2015

Adam Silver impressiona os calouros com seus poderes Jedi


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Meu formato favorito para falar sobre Drafts - seja NBA ou NFL - sempre foi o Running Diary. A idéia do Running Diary é registrar em tempo real minhas reações e comentários sobre o evento em si (e não apenas as escolhas), uma forma bem-humorada de misturar análise das escolhas com reações espontâneas, para ilustrar qual foi a reação de momento a cada acontecimento, sem cair na mesmice de "dar uma nota para cada time" ou fazer a famosa coluna "vencedores ou perdedores do Draft". É uma das minhas colunas mais populares, e vocês podem ler o meu Running Diary do Draft da NFL (ou, uma das minhas favoritas, o Running Diary da NFL do ano passado) para ter uma noção do que se trata. 

No entanto, esse ano mais uma vez não foi possível fazer isso, registrar minhas reações em tempo real... porque eu ESTAVA ao vivo no Lancenet! comentando o Draft (e no Periscope, para quem quisesse assistir), então vocês tiveram a chance de ver e acompanhar esses "bastidores" e minhas reações em tempo real que eu gosto de trazer no Running Diary ao longo do próprio Draft.

Se quiser ver esses comentários em tempo real (não só os meus, mas também os de outros especialistas em basquete) E depois o nosso vídeo discutindo o resultado do Draft em si no Lance!, é só você acessar esse post aqui! Lá você vai encontrar o vídeo e todos os links.

Então para comentar mais sobre esse Draft da NBA, eu vou recorrer a um formato de coluna que usei ano passado e acabei gostando bastante: o Mock Draft retroativo.

Eu gosto, em geral, de Mock Drafts - uma forma interessante e dinâmica de falar sobre os jogadores e sobre as necessidades de cada time, ao mesmo tempo, montando encaixes que fazem sentido (ou não) e são interessantes de se imaginar. O problema é que Mock Drafts não tem um padrão claro: o que você está tentando fazer com ele, prever o futuro, fazer os encaixes que você julga melhor, antecipar as tendências de algumas franquias, ou o que? Em geral, as pessoas usam esse formato de coluna para tentar "adivinhar" o que vai acontecer na noite do Draft e se gabar pelos acertos, mas isso para mim faz muito pouco sentido. Faz sentido quando olhamos para o MD de pessoas como Jonathan Givony (do ótimo Draft Express) ou Chad Ford, pessoas que estão por dentro dos procedimentos do Draft e incorporam nas suas projeções informações internas sobre as escolhas - seu objetivo é informar o que está acontecendo lá dentro. Mas 80% dos Mock Drafts não são assim, são pessoas externas que avaliam os jogadores do seu ponto de vista e tentam adivinhar onde cada jogador vai sair e o que cada time fará. 

Não que tenha algo errado nisso, claro, mas não é o meu tipo favorito de Mock Draft. Eu gosto mais daqueles que não tentam adivinhar nada, e ao invés ignoram os acertos ou erros e focam em fazer uma análise sobre cada escolha, olhando para a conjuntura do time e do Draft, para os talentos disponíveis, e diz o que a pessoa acha que é a melhor coisa a se fazer com aquela escolha. É mais subjetivo e muito menos preciso, mas do ponto de vista analítico, eu acho muito mais profundo e preciso. 

Então é isso que essa coluna tenta fazer, um Mock Draft da NBA sob essa ótica. Com a diferença, é claro, que o Draft em si já aconteceu. A idéia é voltar em cada uma das 30 escolhas da primeira rodada, ver o que cada time fez, e o que cada time deveria ter feito no seu lugar. Não é para refazer o Draft inteiro, e sim refazer todas as escolhas individualmente considerando que tudo antes dela aconteceu exatamente igual. E claro, isso segue a minha opinião individual sobre o que cada time deveria ter feito, não necessariamente a verdade, mas é minha forma de analisar o que cada time fez ou deveria ter feito.

Antes de começarmos, três rápidos esclarecimentos...

1) No caso de trocas envolvendo escolhas de Draft, vou analisar a escolha sob a ótica do time que trocou POR aquela escolha, aproveitando a situação para falar um pouco sobre a troca em si, se necessário. Então se o Sixers tinha a escolha #10 e trocou com o Magic pela #12, no lugar da #10 eu vou olhar a partir do ponto de vista de Orlando, e na #12 do 76ers.

2) Para cada escolha, eu vou colocar qual foi a escolha real, e qual a escolha que cada time "deveria" ter feito - lembrando que esse "deveria" é subjetivo e reflete apenas o meu ponto de vista. Caso as duas sejam iguais, vou explicar porque foi a escolha certa, e caso contrário, vou explicar porque eu acho que o time deveria ter feito outra coisa.

3) Só porque eu coloquei que um time deveria ter feito uma escolha diferente da que ele fez não significa que a escolha real tenha sido ruim, só quer dizer que é diferente do que a que eu teria feito ou a que eu via como a melhor opção naquele momento. Eu vou esclarecer nos comentários de cada escolha, dizendo o que achei da escolha em si e porque eu preferiria outro jogador, mas é bom deixar isso claro para o pessoal que só vai olhar a parte em negrito e ignorar o resto.

Tudo claro? Não? Bom, vocês pegam o jeito conforme formos avançando. Talvez seja uma boa idéia ler o do ano passado antes para entender melhor. Prontos? Ok, vamos.


Mock Draft Retroativo NBA 2015


Escolha #1 - Minnesota Timberwolves
Quem escolheu: Karl-Anthony Towns
Quem deveria ter escolhido: Karl-Anthony Towns

Desde o começo, quando o Wolves ganhou a loteria para garantir a escolha #1, ficou claro que Towns seria a primeira escolha. Não só o pivô de Kentucky era o melhor prospecto do Draft por sua versatilidade e capacidade defensiva, como também era o jogador perfeito para encaixar no estilo de jogo de Minnesota. O Wolves montou uma base jovem e atlética com Rubio, Wiggins e LaVine, um time feito para correr e jogar em alta velocidade, e Towns é o tipo de jogador atlético capaz de se encaixar perfeitamente nesse estilo de jogo. KAT também é o protetor de aro que faltava ao time, sem falar que com Rubio, Wiggins e Towns você tem a espinha dorsal de uma boa defesa para a NBA.

Algumas pessoas acham que o problema de Town é não ser elite em nenhum aspecto, e talvez por consequência não ser o tipo de jogador que vai se desenvolver em um Franchise Player. E é uma preocupação válida. A vantagem para o Wolves é ser o raro time que escolhe #1 e não precisa de um franchise player - eles já tem Wiggins. O que eles precisam é de um bom jogador complementar, e isso é ótimo porque eu acho que é o papel que Towns nasceu para fazer, um jogador que faz de tudo um pouco, se adapta a qualquer estilo e formação, e torna o jogo mais fácil para a estrela brilhar. Towns é o encaixe perfeito para Minnesota, e foi a escolha óbvia.


Escolha #2 - Los Angeles Lakers
Quem escolheu: D'Angelo Russell
Quem deveria ter escolhido: Jahlil Okafor

Eu não tenho um problema com Russell, alguém que eu acho um excelente jogador e que vai ter um futuro brilhante na NBA. Mas Okafor era o melhor prospecto, e não ficou muito claro porque o Lakers decidiu passar o pivô no último minuto. Talvez realmente achassem de última hora que Russell era o melhor prospecto, que Okafor não renderia tão bem junto de Julius Randle, ou que é melhor ter um PG/SG arremessador do que um pivô que joga dentro do garrafão no basquete de hoje. Mas o que a história nos ensina é que, no topo do Draft, é melhor draftar por talento e valor, não por necessidade ou encaixe, e eu acho que é nisso que o Lakers pecou. Eu não acho que Russell foi uma escolha ruim, mas não é a que eu teria feito. Eu teria pego o melhor jogador, e ele é Okafor. Eu acho interessante também que grande parte dos meus amigos que torcem para o Lakers não gostaram dessa escolha.

Mas é difícil julgar essa escolha hoje porque é possível que ela faça parte de um plano maior. Boatos ligaram o Lakers a Cousins em troca da escolha #2, Julius Randle e Clarkson, mas como o Lakers não pode trocar essa escolha por causa da Ted Stepien Rule (só pode trocar o jogador depois de escolhido), talvez essa troca esteja encaminhada e o Kings que tenha dito ao Lakers que eles queriam Russell na troca. Talvez o Lakers esteja extremamente confiante que vai contratar um free agent de garrafão como DeAndre Jordan ou LaMarcus Aldridge, e pegou um armador pensando nisso. É possível que alguma dessas especulações seja verdade, e o motivo pelo qual o Lakers pegou Russell depois de passar o processo inteiro com Okafor como sua segunda opção (depois de Towns). Mas não sabemos, e portanto temos que avaliar as escolhas pensando apenas no próprio Draft.

E, nesse contexto, eu acho que o Lakers deveria ter pego Okafor.

(Como vocês devem ter percebido, eu escrevi esses dois últimos parágrafos antes da offseason. Obviamente as especulações não se concretizaram. Todo o resto continua valendo para mim)


Escolha #3 - Philadelphia 76ers
Quem escolheu: Jahlil Okafor
Quem deveria ter escolhido: Jahlil Okafor

Sim, o Sixers tem 15 pivôs. Sim, no longo prazo não vai dar para jogar Okafor, Embiid e Noel juntos. Sim, o estilo de jogo dele não encaixa tão em com Noel ou Embiid. Tudo verdade.

Mas o Sixers não se importa. Eles querem o máximo de valor possível, e é isso que eles obtiveram selecionando Okafor, que era o melhor jogador disponível. O que o Sixers busca é simples: pegar o máximo possível dos melhores jogadores disponíveis, e ver se acerta ouro em algum momento. Talvez Embiid fique saudável e vire a superestrela que tem potencial para ser. Talvez Okafor atinja seu potencial e vire uma força de destruição em massa no garrafão. Eles só precisam que um desses aconteça para atingir seu objetivo, e se acontecerem ambos, então ótimo - eles tem uma fantástica peça de troca em mãos mesmo que não encaixem juntos. Você pode não gostar do que o Sixers está fazendo, você pode achar (como eu) que a NBA deveria mudar as regras para dificultar esse tipo de tanking de longo prazo, mas existe um plano por trás dessa loucura, e nesse plano, pegar Okafor no #3 era a solução óbvia. Com Embiid possivelmente fora de mais uma temporada, tentarão jogar com Noel e Okafor, e quem sabe descobrir uma forma de fazer a dupla funcionar. Na pior das hipóteses, o Sixers pegou o jogador mais valioso para uma futura troca. Boa escolha.


Escolha #4 - New York Knicks
Quem escolheu: Kristaps Porzingis
Quem deveria ter escolhido: Kristaps Porzingis

O que tornava essa escolha tão interessante é que não tinha nenhuma escolha que realmente fizesse sentido para o Knicks. New York quer vencer no curto prazo, e portanto estava atrás de jogadores capazes de contribuir imediatamente para voltar aos playoffs e aproveitar os últimos anos do auge de Carmelo Anthony. No entanto, não tinha uma escolha dessas disponíveis para o Knicks na #4. O melhor jogador disponível era Porzingis, um pivô europeu de ENORME potencial, mas extremamente cru e que ainda precisará de algum tempo para se adaptar ao jogo da NBA, e portanto não deve produzir tanta ajuda imediata. Caso o Knicks quisesse um jogador mais de acordo com seu plano de competir no curto prazo, poderia pegar alguém como Justise Winslow, Trey Lyles ou Frank Kaminsky, mas o problema é que esses jogadores não fariam jus ao valor da escolha #4, seria escolher por necessidade e deixar a chance de acumular muito mais valor em cima da mesa.

O meio termo provavelmente seria conseguir uma troca para descer na primeira rodada, permitindo que o Knicks escolhesse um dos jogadores mais "prontos" do Draft em uma posição mais adequada, e recebendo algum outro ativo ou jogador no processo. E, de acordo com as informações que chegam, foi o que o Knicks tentou fazer, sem sucesso. E, não tendo conseguido, eles tiveram que escolher no #4... e fizeram a coisa certa deixando suas necessidades em segundo plano e pegando o melhor jogador disponível (Porzingis).

Não era a coisa fácil a se fazer, já que isso torna mais difícil que o Knicks monte uma equipe muito competitiva no curto prazo, mas é absolutamente a coisa certa. Franquias inteligentes primeiro se preocupam em adquirir o máximo de valor possível, e depois em encaixar essas peças, e se tinha uma coisa que o Knicks precisa fazer urgentemente era ser inteligente. Os torcedores do Knicks vaiaram, e eu imagino que não deve ser fácil ver um time que precisa ganhar no curto prazo escolhendo um jogador tão cru, mas na pior das hipóteses da ao Knicks um valor de troca melhor para conseguir veteranos, e se ficar no time, pode acabar se desenvolvendo em uma estrela no médio prazo. Foi a escolha certa para o Knicks, e uma mudança refrescante ver a franquia fazendo a coisa certa, para variar.


Escolha #5 - Orlando Magic
Quem escolheu: Mario Hezonja
Quem deveria ter escolhido: Mario Hezonja

Com Porzingis - a escolha perfeita para Orlando - fora do Draft, Hezonja era a melhor opção possível. Orlando precisava urgentemente de um jogador capaz de arremessar de fora e espaçar a  quadra, e se for um jogador de alto potencial, melhor ainda. Hezonja oferece ambas as coisas ao Magic, a chance de se tornar uma estrela algum dia (algo que ninguém do time atual parece ter), e os arremessos de três que a franquia desesperadamente para tentar abrir um ataque estagnado com jogadores que não encaixam.

Não conseguir um possível protetor de aro (como Porzingis) é o problema dessa escolha, que condena o Magic a ser um time baixo (Oladipo de SG, Hezonja de SF e Aaron Gordon de PF) e possivelmente ruim defensivamente se continuar com o núcleo atual, mas esse é um problema da montagem de elenco do time, não dessa escolha. Hezonja o melhor jogador disponível junto de Mudiay, e alguém que fornece o que Orlando mais precisava nesse momento. Boa escolha que imediatamente faz do Magic um dos times mais interessantes em termos de League Pass para 2016.


Escolha #6 - Sacramento Kings
Quem escolheu: Willie Cauley-Stein
Quem deveria ter escolhido: Emmanuel Mudiay

Stein supostamente era o favorito do Kings, um excelente pivô defensivo com pouco jogo ofensivo que deveria liberar Cousins para um menor papel defensivo, e dar ao time a versatilidade desse lado da bola que o time tanto precisava. Também tem o fato de que Cousins queria Stein no time para poder jogar menos de C e mais de PF, e o Kings, que precisa manter sua estrela feliz para ela não se mandar, levou isso em conta.

Mas para mim não justifica passar Mudiay, um jogador melhor e com mais potencial que encaixava em uma necessidade imediata. Darren Collison foi bem em 2015 como armador titular de Sacramento, mas é um jogador limitado como criador, e que não tem a explosão e o potencial de Mudiay. O congolês daria ao Kings uma opção muito melhor para colocar junto a Cousins tanto no curto como no médio prazo, e se tem uma coisa que o Draft nos ensinou (e, pior, que o Kings aprendeu no passado) é que nessa altura o melhor a se fazer é pegar o melhor jogador disponível. E esse era Mudiay.

Em termos de basquete, eu não acho que Stein teria problema para jogar junto de DeMarcus Cousins. Ofensivamente o encaixe não é fácil, mas não é um fim da linha. Cousins tem um bom jogo de meia distância, e Stein é um jogador perigoso cortando e finalizando lobs perto da cesta. Com (provavelmente) Rondo e Rudy Gay, o espaçamento pode se tornar um problema, mas com Gay e Rondo, qualquer lineup teria problemas de espaçamento. E defensivamente é ótimo, pois permite que WCS assuma o papel principal e deixe Cousins em segundo plano, preservando-o das faltas que tanto comete e permitindo que DMC poupe sua energia para liberar o inferno na Terra quando estiver no ataque. E sua versatilidade defensiva permite ao Kings maior flexibilidade de pessoal, além de ser obviamente um enorme upgrade sobre qualquer jogador no elenco atualmente. Eu gosto do jogador e do encaixe, mas Mudiay teria sido a melhor escolha.


Escolha #7 - Denver Nuggets
Quem escolheu: Emmanuel Mudiay
Quem deveria ter escolhido: Emmanuel Mudiay

O lixo de um é o tesouro de outro, e como o Kings foi burro mais uma vez e passou Mudiay, o Nuggets provavelmente ficou muito feliz de vê-lo caindo até aqui. O problema do Nuggets é que o time tem falta de qualquer jogador confiável como base para o futuro (tirando talvez Nurkic), então a necessidade do time era bem clara: talento. E Mudiay - considerado um talento Top3 antes de ir jogar na China e Top5 quase unanimemente - é um fantástico achado no #7, um jogador muito físico e de enorme potencial para assumir a tocha de Ty Lawson e começar a formar uma base para o futuro da franquia. Entre os cenários "realistas" do Draft, Mudiay provavelmente seria a melhor escolha que Denver poderia almejar essa noite (segundo o técnico Mike Malone, era a opção #1 da franquia), e sai como um grande vencedor do Draft.


Escolha #8 - Detroit Pistons
Quem escolheu: Stanley Johnson
Quem deveria ter escolhido: Justise Winslow

Estou indo de Winslow aqui no "Deveria ter escolhido" simplesmente porque eu acho que nessa altura do Draft, o importante é pegar o melhor jogador e o melhor valor disponível, e Winslow era amplamente considerado por muitos (inclusive por mim) um jogador melhor que Johnson - ainda mais que ambos jogam na mesma posição. 

Mas eu não acho que Johnson foi de forma alguma uma escolha ruim - só que não foi a melhor possível - e o ex-jogador de Arizona supostamente era o favorito do Pistons, então não da para criticar a escolha. E Johnson faz, de fato, muito sentido - o Pistons precisava urgentemente de ajuda na posição, e Johnson é particularmente interessante para o esquema tático do Pistons, um jogador bem completo capaz de fazer um pouco de tudo, arremessar de longe e espaçar a quadra nos pick and rolls, e atacar o aro depois da ação inicial. É um jogador menos explosivo e com menos potencial, mas com um jogo muito completo que se encaixa muito bem em Detroit dos dois lados da quadra, sem falar que é alguém muito pronto para entrar e contribuir imediatamente. Preenche todos os requisitos que o Pistons queria. 


Escolha #9 - Charlotte Hornets
Quem escolheu: Frank Kaminsky
Quem deveria ter escolhido: Justise Winslow

Olha só, eu sou o maior fã do Frank Kaminsky que eu conheço e acho que ele será ótimo na NBA. Mas não faz sentido para mim o Hornets (que já tem 3 outros big men recebendo minutos e precisa maximizar o valor de suas escolhas) indo atrás da opção de potencial consideravelmente baixo e passando Winslow, que era inquestionavelmente o melhor jogador disponível. Não importa se Winslow não é um encaixe natural junto a Michael Kidd-Gilchrist, ele era de longe o melhor jogador e um absoluto steal para o #9. Charlotte deveria tê-lo pego, ou pelo menos aceitado a oferta de múltiplas escolhas de Draft de Boston, para maximizar o valor da escolha. Foi um erro grave.

Ao invés disso, pegaram Kaminsky, que pra falar a verdade é um ótimo encaixe no time - trás versatilidade ofensiva e arremessos de fora, duas coisas que o Hornets precisa desesperadamente em uma posição onde isso tem sido cada vez mais importante. Mas um bom veterano complementar não deveria ter feito o Hornets passar Winslow, ou a oferta de Boston nunca. Primeiro você pega o melhor talento, e depois você se preocupa com o encaixe. Draftar por necessidade - especialmente no topo do Draft, e especialmente com uma opção como Winslow disponível - normalmente acaba mal. 


Escolha #10 - Miami Heat
Quem escolheu: Justise Winslow
Quem deveria ter escolhido: Justise Winslow

É incrível como tudo acaba dando certo para o Heat e para Pat Riley. Na noite do Draft, deu certo mais uma vez. 10 times passaram por Justise Winslow, até que o SF caiu no colo de Miami. E é o jogador perfeito para eles: um grande atleta e excelente defensor, versátil, complementa bem qualquer elenco, (especialmente um tão talentoso como Miami) e é ainda da posição que o Heat mais precisava de profundidade e proteção para uma possível saída de Luol Deng. É ridículo que Winslow tenha caído até aqui. Pat Riley faz sacrifícios com virgens, não resta dúvida.

Também acho ótimo para Winslow. Meu maior medo para o ex-jogador de Duke é que acabasse caindo em um time que iria tentar colocá-lo como uma estrela para carregar o time nas costas, quando  na verdade eu vejo Winslow mais como uma excelente peça complementar, mais Pippen do que Jordan, alguém que executa múltiplas funções em alto nível, preenche qualquer lacuna, e torna o jogo muito mais fácil para os companheiros. Então Miami é um encaixe perfeito, porque lá Winslow pode começar sua carreira como essa peça complementar (possivelmente vindo do banco), jogar para um grande técnico e com grandes companheiros, e eventualmente desenvolver todo seu enorme potencial sem pressão. Jogador perfeito para o time perfeito. Eu já mencionei que é irritante como tudo acaba dando certo para o Heat?! Saíram como um dos grandes vencedores da noite sem precisar levantar um dedo!


Escolha #11 - Indiana Pacers
Quem escolheu:Myles Turner
Quem deveria ter escolhido: Myles Turner

Já faz algum tempo que o Pacers da sinais de que pretendia seguir em uma direção quanto ao pivô Roy Hibbert, um excelente defensor mas muito limitado em outras áreas do jogo. A direção queria um time mais versátil e atlético, capaz de jogar um basquete mais "moderno". Mas eles ainda precisavam achar um substituto para o pivô, e foi exatamente o que eles conseguiram ao selecionar Myles Turner. Turner é um ótimo defensor no garrafão e protetor de aro, então pode ser usado pelo técnico Frank Vogel para ancorar a defesa de forma semelhante ao que fazia com Hibbert, mas Turner é um jogador muito mais atlético e móvel, que também mostrou boa habilidade no perímetro e arremessar de fora, habilidades que serão chave em melhorar o ataque da equipe e levar o Pacers na direção que a direção deseja.

Turner ainda tem muito a evoluir, sem dúvida, é um jogador bastante cru e ainda se acostumando a jogar com o seu físico atual (resultado de um estirão de crescimento tardio). Mas Indiana parece disposto a aguardar, e se conseguir realizar seu potencial, Turner tem tudo para ser um dos melhores jogadores dessa classe. Ótimo encaixe, e ótima escolha.


Escolha #12 - Utah Jazz
Quem escolheu: Trey Lyles
Quem deveria ter escolhido: Trey Lyles

Eu não sou o maior fã de Trey Lyles, um PF muito habilidoso que joga abaixo do aro, mas achei que essa escolha fez muito sentido. Utah já tem um time titular mais ou menos montado, e inúmeras opções no perímetro, mas precisa de profundidade para seu garrafão atrás da excelente dupla Gobert e Favors.

Tanto Gobert como Favors são ótimos defensores, mas jogadores que pontuam no garrafão, então Lyles é um ótimo encaixe para vir do banco por poder jogar com qualquer um dos dois, já que Gobert e Favors podem compensar pela defesa fraca de Lyles, enquanto o ex-jogador de Kentucky tem o bom passe e jogo de meia distância para abrir o garrafão para os seus companheiros. É um bom encaixe, e como Lyles era considerado quase universalmente uma escolha de loteria, também um bom valor a essa altura.


Escolha #13 - Phoenix Suns
Quem escolheu: Devin Booker 
Quem deveria ter escolhido: Devin Booker

Booker era, na maioria das Big Boards, o melhor jogador disponível no Draft a essa altura. Então não da para criticar a escolha do Suns, e Booker é um jogador inteligente e excelente arremessador que vai se encaixar bem no esquema versátil e veloz de Phoenix. É uma boa escolha, segura, e que faz bastante sentido.

A única coisa que eu questiono aqui é se para o Suns - um time um pouco "preso" entre não ser bom o bastante para brigar pelo título nem ruim o suficiente para conseguir escolhas altas de Draft - não varia a pena arriscar em um jogador com mais potencial, como Kelly Oubre. Oubre seria um bom encaixe no time e, apesar de ser mais cru que Booker, tem chances de ser um jogador melhor no futuro. É o que eu pessoalmente teria feito. Mas analisando imparcialmente, Booker foi a escolha mais justificável, e deve fazer desse time melhor no curto prazo, algo que parece ser o objetivo. 


Escolha #14 - Oklahoma City Thunder
Quem escolheu: Cameron Payne
Quem deveria ter escolhido: Kelly Oubre

Eis o que eu escrevi sobre essa escolha no meu último Mock Draft:

"O Thunder do ano passado, com Westbrook de armador, sofreu para encontrar jogadores que pudessem arremessar de três sem comprometer a defesa do time OU defender bem sem comprometer o espaçamento do ataque, e Oubre é o jogador para fazer ambas em alto nível. O ala também oferece uma boa proteção a Kevin Durant, que pode demorar para retomar o ritmo ou mesmo descansar mais essa temporada depois das graves lesões de 2016, e caso o ex-MVP saia da cidade, Oubre ainda é uma boa opção de longo prazo, com enorme potencial, caso o time decida se reconstruir em torno de Westbrook."

Eu ainda me sinto assim. Eu sei que Payne era o alvo de OKC desde o começo, mas só porque conseguiram o jogador que queriam não faz dessa uma escolha boa. Payne é um bom jogador que acabou sobrevalorizado nas vésperas do Draft, mas eu não gosto tanto de como ele funciona para OKC. Payne precisa da bola nas mãos para produzir, e isso é algo que não terá com Durant, Westbrook e Kanter no time, não é a ajuda imediata que outro PG como por exemplo Jerian Grant seria, e nem oferece o potencial no longo prazo de alguém como Oubre. Payne vai ajudar vindo do banco, e vai ser interessante ver Westbrook jogando mais de SG, mas acho que o valor que o armador tem a adicionar para o time não é o ideal nessa posição.


Escolha #15 - Washington Wizards (via Atlanta Hawks)
Quem escolheu: Kelly Oubre
Quem deveria ter escolhido: Kelly Oubre

O Wizards trocou sua escolha (#19) com o Hawks para subir até o #15 e pegar Oubre, e eu sinceramente adorei essa troca (e escolha) para Washington. Depois do sucesso do seu small ball nos playoffs, o time tem buscado ficar cada vez mais atlético, baixo e versátil, e Oubre é uma fantástica adição nesse sentido, um bom jogador capaz de arremessar de fora, defender em alto nível e, apesar de cru, com enorme potencial. Seu estilo 3-and-D atlético se adequa bem nesse estilo de jogo que Washington quer implementar, e não só encaixa muito bem ao lado de John Wall e Bradley Beal como também oferece outra opção de alto potencial para a construção de longo prazo da franquia. Ótima escolha. 

Para o Hawks... bem... hold that thought.


Escolha #16 - Boston Celtics
Quem escolheu: Terry Rozier 
Quem deveria ter escolhido: Sam Dekker, Bobby Portis, Rashad Vaughn

Eu odiei essa escolha na hora, e odeio essa escolha agora. Terry Rozier era cotado como uma escolha de final da primeira rodada ou começo da segunda, e saiu no #16... digamos que foi bem cima do que ele realmente valia. E, pior, Rozier é mais uma figurinha repetida no álbum do Celtics, um combo guard que não é bem um armador puro, físico e bom defensor, mas que não arremessa muito bem. Parece familiar a... digamos... Marcus Smart e Avery Bradley? Porque mais um jogador assim, ainda mais considerando que você também já tem Isaiah Thomas de armador, tornado mil vezes pior pelo enorme overpay que foi pegar Rozier no #16? Péssima escolha.

Supostamente, Boston tentou mandar a casa (6 escolhas de Draft!!) para o Hornets pela escolha #9 (para pegar Winslow), mas foi rejeitado porque Charlotte queria de todo jeito pegar Kaminsky (funhé). Só posso imaginar que Boston ficou sem plano B quando não conseguiu a troca, mas ainda assim, não justifica pegar Rozier (alguém que poderiam até pegar no #28) aqui sobre opções melhores: um bom veterano para ajudar no curto prazo como Dekker, uma opção sólida de garrafão como Bobby Portis, ou mesmo um arremessador de alto potencial como Vaughn. Essa escolha não fez nenhum sentido, e foi inexplicável quando aconteceu. 


Escolha #17 - Milwaukee Bucks
Quem escolheu: Rashad Vaughn
Quem deveria ter escolhido: Rashad Vaughn

Eu disse no meu último Mock Draft que, embora Bobby Portis fosse a escolha lógica aqui pela necessidade do time no garrafão (e por ser um jogador bem sólido e confiável), eu adoraria ver o Bucks arriscando mais alto e indo atrás de Rashad Vaughn. E, em uma agradável surpresa, foi exatamente o que o time fez.

Ninguém seria capaz de criticar o Bucks se tivessem pego Portis, um jogador bem all-around de garrafão que encaixaria muito bem nesse time versátil em busca de uma boa opção de garrafão (necessidade eventualmente solucionada com Greg Monroe, mas não tinham como saber disso no Draft), mas Vaughn também seria interessante para um time que tem valorizado jogadores de alto potencial (como Giannis). A maior parte das melhores opções do Bucks é de frontcourt (Giannis, Middleton, Jabari) e, apesar da boa defesa, o time mostrou bastante dificuldade ofensivamente em 2015. Vaughn é um bom arremessador e pontuador bastante criativo para jogar na posição de SG, alguém que pode vir do banco no começo da carreira e que, apesar de cru, tem bastante potencial para desenvolver em um sólido titular no longo prazo. Seu estilo pontuador e de bolas longas trás algo que o time precisa, e o potencial elevado está de acordo com o que o Bucks tem buscado. Uma aposta mais arriscada do que se tivessem pego Portis, mas uma que me agrada muito.


Escolha #18 - Houston Rockets
Quem escolheu: Sam Dekker
Quem deveria ter escolhido: Sam Dekker

A maior necessidade do Rockets nesse Draft era um armador, e supostamente eles estavam para selecionar Tyus Jones, o que seria uma boa escolha. Mas, com Sam Dekker caindo, era bom demais para deixar passar. Dekker é um ala veterano, bem all-around e versátil, que não era exatamente o que o Rockets mais precisava nesse Draft. Mas sabe o que ele era? O melhor jogador disponível, e assim o Rockets está absolutamente certo de selecioná-lo aqui. Cada escolha de Draft que você tem é um ativo, e é sua intenção maximizar o retorno que ele trás. Draftar o melhor jogador disponível sempre é uma boa opção.

No curto prazo, Dekker adiciona profundidade e versatilidade para um time que sentiu falta do primeiro e valoriza o segundo. Se o ala acertar suas bolas de 3 na NBA, tem tudo para ser um steal aqui, e mesmo se não acertar, ainda é um jogador completo capaz de fazer um pouco de tudo, algo bastante valioso na NBA moderna.


Escolha #19 - New York Knicks (via Washington Wizards, através do Atlanta Hawks)
Quem escolheu: Jerian Grant
Quem deveria ter escolhido: Jerian Grant

Mais uma boa escolha do Knicks! No caso, trocaram essa escolha por Tim Hardaway Jr com o Hawks, que recebeu essa escolha do Wizards.

Para o Knicks, é uma boa escolha: Grant é um armador veterano pronto para contribuir no curto prazo, capaz de jogar em duas posições e fazer um pouco de tudo em quadra. Escolha boa e segura, e alguém que a meu ver tem mais a contribuir para o Knicks que Hardaway. Meu único questionamento é que Grant não é um encaixe tão natural no triângulo - o armador de Notre Dame joga melhor conduzindo o pick and roll, mas essa é uma atividade que não vai encontrar muito se o Knicks realmente for com o triângulo como sua base para 2015/16. Mas é um questionamento melhor, e o que Grant trás para o time será bem valioso.

Por outro lado, eu não faço idéia do que o Hawks está fazendo aqui. Hardaway é um bom jogador e arremessador, mas tem muitas dificuldades na defesa, e não parece se encaixar no esquema do Hawks muito bem. E, em troca de Hardaway e escolhas de segunda rodada, o time deixou de escolher um jogador bastante superior no #15 ou no #19. Atlanta tinha uma necessidade grande na posição de SF (onde já tinha uma falta de profundidade ano passado, e agora ainda tinha seu titular - DeMarree Carroll - sendo Free Agent) e de profundidade no garrafão (um grande problema nos playoffs, e que tendia a piorar com as saídas de Elton Brand, Pero Antic e talvez até Paul Millsap) - porque então passar Sam Dekker e Bobby Portis com essas escolhas? Será que dois anos de Tim Hardaway no contrato de calouro realmente era mais valioso do que Dekker ou Portis, jogadores melhores, que encaixavam muito melhor no time e supriam necessidades imediatas, e AINDA ofereciam quatro anos de controle barato ao invés de dois? Claro que não. Péssimas decisões de Atlanta, que sai como um dos grandes perdedores da noite. Jogou no lixo o presente que recebeu do Nets nessa escolha de Draft.


Escolha #20 - Toronto Raptors
Quem escolheu: Delon Wright
Quem deveria ter escolhido: Bobby Portis, Rondae Hollis-Jefferson

O Raptors tinha Lou Williams como free agent, e trocou Greivez Vazquez para o Bucks antes do Draft, então armador reserva era realmente uma necessidade da franquia. Mas porque pegar um armador reserva quando você tem necessidades bem mais urgentes no seu time (seu PF titular foi embora, e seu perímetro tem enfrentado problemas) E jogadores melhores dessas posições para escolher? Bobby Portis em particular teria sido a melhor escolha perfeita, um PF completo e seguro, uma adição excelente no garrafão do time com a saída de Amir Johnson e alguém capaz de contribuir de cara. Seria um ótimo valor a essa altura, e um ótimo encaixe. RHJ também funcionaria, um excelente marcador de perímetro capaz de ajudar uma defesa que despencou no final da temporada passada. Até alguém como RJ Hunter seria uma escolha melhor, um ótimo arremessador e jogador inteligente. Wright é um bom jogador, mas PG é de longe a posição mais fácil de achar opções na NBA de hoje, e tinha jogadores melhores disponíveis que supririam necessidades mais urgentes e mais importantes da franquia. Não gostei da escolha.


Escolha #21 - Dallas Mavericks
Quem escolheu: Justin Anderson
Quem deveria ter escolhido: Tyus Jones, Bobby Portis, Justin Anderson

A essa altura do Draft, eu não acho Anderson uma escolha ruim em termos de valor. Tirando Bobby Portis, a essa altura do Draft todos os jogadores estão mais ou menos equiparados em termos de valor, e é mais uma questão de contexto a essa altura. E, considerando que o Mavs não tinha um elenco bem delineado a essa altura, era uma questão de pegar o melhor jogador. Então não é uma escolha fácil de avaliar.

Em termos de valor, a melhor escolha seria Portis, e eu acho que não devem passar um valor tão grande a essa altura. Mas com Dirk na cidade e tantos buracos, e a mentalidade de competir imediatamente, eu entendo a idéia de querer aproveitar essa escolha em um jogador que não joga na posição da sua maior estrela. Tyus Jones também seria uma boa opção, dada a necessidade do time por um armador. 

Justin Anderson está nesse grupo de jogadores semelhantes, e sem dúvida não é uma escolha ruim. Anderson é um bom defensor bastante atlético e, se conseguir manter o alto aproveitamento nas bolas longas que mostrou em 2015, tem tudo para ser um steal a essa altura. Por isso acho essa escolha boa. Vale questionar que Anderson joga na mesma posição de Chandler Parsons, então corre o risco de acabar sofrendo com o mesmo problema de terem escolhido Portis. Mas essa é uma questão secundária. Era uma escolha sem uma resposta fácil ou claro favorito e, embora eu achasse que tinha opções ligeiramente melhores para Dallas, Anderson sem dúvida estava entre as opções válidas a essa altura.


Escolha #22 - Chicago Bulls
Quem escolheu: Bobby Portis
Quem deveria ter escolhido: Bobby Portis

Em termos de encaixe, essa escolha não faz tanto sentido. Chicago já tem um dos garrafões mais lotados da NBA, e ano passado o então técnico Tom Thibodeau teve muita dor de cabeça tentando dar minutos a Taj Gibson, Joakim Noah, Nikola Mirotic e Pau Gasol ao mesmo tempo. Adicionar mais um bom PF não vai ajudar essa questão.

Por outro lado, a tecla que eu sempre bato: você sempre quer pegar o melhor valor possível a cada escolha de Draft, e Portis era sem dúvida o melhor jogador disponível por muito, alguém que muitos especialistas (inclusive eu) viam como um possível talento de loteria. Pegar Portis no #22 é um absoluto steal, e Chicago está certíssimo em selecioná-lo. Olhando mais a fundo, percebe-se também que Chicago agora está acima do limite para pagar multa - algo que a franquia sempre tem evitado - e que para fugir desse gasto extra o ideal seria trocar um jogador de garrafão, e se essa troca realmente acontecer (provavelmente envolvendo Taj Gibson), então de repente você tem uma abertura no garrafão para os minutos de calouro de Portis, que crescerão com o tempo e conforme Gasol e Noah caminham para o fim das suas carreiras. Ótima escolha de Chicago.


Escolha #23 - Portland Trail Blazers
Quem escolheu: Rondae Hollis-Jefferson
Quem deveria ter escolhido: Rondae Hollis-Jefferson

O Blazers eventualmente trocou essa escolha para o Nets por Mason Plumlee.

Para o Nets, essa troca faz muito sentido. Embora Plumlee seja um bom jogador e capaz de ser um C titular na NBA, na situação atual, o Nets não é nem um candidato ao título, e nem tem os ativos (jovens talentos, escolhas de Draft) para evoluir no curto prazo. Portanto faz bastante sentido que o time troque um veterano estabelecido e confiável, mas limitado, por um jovem jogador com mais potencial como Hollie-Jefferson, um excelente atleta e defensor cujo valor hoje é limitado pela falta de arremesso. Caso RHJ desenvolva um jumper passável, seu potencial é enorme e chances de ser um grande steal desse Draft, e faz sentido o Nets apostar nesse maior potencial.

Para o Blazers, eu consigo entender o que estão fazendo, mas não gosto. RHJ é uma comodidade desconhecida no momento, acabando de chegar na liga, enquanto Plumlee é um veterano comprovado e sólido. Meu problema é que esse é o tipo de jogador capaz de ajudar muito um time competitivo, como era o Blazers ano passado, mas faz pouco sentido em um time que claramente estava indicando uma reconstrução como Portland (que trocou Batum, e tinha três titulares free agents). Mesmo que a idéia seja trazer um bom ativo para manter o time competitivo nessa transição, para o Blazers faz mais sentido apostar no garrafão jovem Vonleh-Leonard e ver o que consegue tirar de Jefferson do que trocar um jogador de bom potencial por um veteranos sólido sem tantas chances de crescer muito no futuro. Eu gosto de Plumlee, e no vácuo não acho uma troca exatamente ruim (a escolha #23 por um sólido titular de garrafão), mas no momento atual do Blazers (e do Nets também), eu preferiria ter Rondae Hollis-Jefferson.


Escolha #24 - Minnesota Timberwolves (via Cleveland Cavaliers)
Quem escolheu: Tyus Jones
Quem deveria ter escolhido: Tyus Jones

Para o Cavs, que trocou essa pick por duas de segunda rodada, essa troca faz algum sentido. O time já vai estar MUITO acima do salary cap e da luxury tax para 2015/16 mesmo, o que significa que cada dólar a mais adicionado em salário significa gastar quase o dobro em multas. Como todos os contratos de primeira rodada são garantidos, usar essa escolha faria o Cavs gastar ainda mais dinheiro (e muito dinheiro). Então trocando-a por duas escolhas de segunda rodada (e, portanto, contratos mais baratos e não garantidos), o Cavs agora consegue um bom alívio financeiro e pode poupar umas verdinhas e selecionar mais de um jogador. Faz sentido. Por outro lado, estando tão acima do salary cap, o Cavs tem muita dificuldade de contratar jogadores novos, e sofreu demais com a falta de opções e profundidade em 2015/16 - certeza que não seria mais útil adicionar alguém como Tyus Jones ou RJ Hunter aqui? Claro, é fácil falar se não sou eu que vou pagar 90M em multas, mas se o time já vai gastar tudo isso mesmo, porque não adicionar uns 5M a mais para melhorar sua equipe? *relendo a frase* Ok, falha minha, 5M é coisa pra caramba e uma boa economia.

Para o Wolves, também gosto da troca. Ricky Rubio é um bom armador, mas se machuca demais, e o time sente falta de uma segunda opção. A experiência de usar Zach LaVine de PG ano passado mostrou que ele NÃO é um PG, e Jones da mais uma opção jovem e interessante para vir do banco e talvez substituir Rubio se (quando?) o espanhol se machucar. É uma boa escolha, e encaixa bem: jovem, talentoso, tem experiência de sucesso (foi Most Outstanding Player do Final Four) e "devolve" LaVine para sua posição natural. 


Escolha #25 - Memphis Grizzlies
Quem escolheu: Jarrell Martin
Quem deveria ter escolhido: RJ Hunter, Chris McCullough, Jordan Mickey

O Grizzlies queria reforçar a profundidade do seu garrafão, então foi atrás de Martin. Não da pra questionar a lógica. Mas da para questionar a escolha. Martin não é um jogador melhor que seu companheiro Jordan Mickey, um ótimo all-around PF que caiu por ser baixo para a posição e que a meu ver tem mais a contribuir no médio prazo. E se o time quisesse apostar no jogador de maior potencial tinha Chris McCullough, um PF cru de muito potencial que poderia ser uma ótima aposta para um time cuja base no garrafão já está do lado errado dos 30 anos.

Mas a melhor escolha para Memphis teria sido RJ Hunter. O Grizzlies está no seu melhor quando consegue espaçar a quadra ao redor do seu garrafão e castigar os adversários com bolas longas quando dobram a marcação, e Hunter é um dos melhores arremessadores dessa classe, alguém que tem a habilidade nos passes e a inteligência que times precisam para sobreviver com o espaçamento mais apertado (como é o caso de Memphis). Adicionar profundidade com Martin é bom, mas as bolas longas de Hunter poderiam fazer muito mais pela franquia.


Escolha #26 - San Antonio Spurs
Quem escolheu: Nikola Milutinov
Quem deveria ter escolhido: Nikola Milutinov

San Antonio, nessa offseason, tinha um grande objetivo: trazer LaMarcus Aldridge. Mas com tantos free agents importantes e uma folha salarial apertada, e com o salary cap ainda indefinido, as contas estavam muito apertadas para San Antonio conseguir oferecer o máximo ao PF do Blazers. Então cada centavo poupado era crucial nessa busca e,  nesse contexto, o objetivo do Spurs no Draft era naturalmente manter sua folha salarial limpa. E foi com essa mentalidade que pegaram Milutinov, um talentoso pivô que ficará na Europa mais tempo e portanto não conta contra o salary cap de San Antonio. O mais importante aqui a se ter em mente é que essa escolha manteve 2M fora da folha salarial do Spurs, e era isso que eles buscavam - e conseguir manter esse dinheiro fora da sua folha salarial enquanto ainda adicionava um bom talento Europeu para o futuro é uma vitória.


Escolha #27 - Los Angeles Lakers
Quem escolheu: Larry Nance
Quem deveria ter escolhido: RJ Hunter, Chris McCullough

Talvez a pior escolha da primeira rodada. Com essa escolha de primeira rodada extra, cortesia do Rockets, o Lakers poderia ter pego um jogador para dar profundidade ao seu perímetro (especialmente a posição de SF, a mais carente do time) e ajudar nas bolas longas (como RJ Hunter) ou mesmo apostar em um jogador de alto potencial para o longo prazo como McCullough. Poderiam até ter apostado no enorme potencial de Kevon Looney! Ao invés disso, pegaram um cara atlético mas com poucos recursos que era cotado pela maioria dos especialistas como uma escolha de final de segunda rodada. Enorme desperdício de valor, e ainda ganhou ares de comédia quando descobriram um tweet de 2012 do Nance chamando o Kobe de estuprador. Tinha um leque imenso de escolhas melhores aqui, e pela segunda vez na noite, o Lakers fez a escolha errada.


Escolha #28 - Boston Celtics
Quem escolheu: RJ Hunter
Quem deveria ter escolhido: RJ Hunter

Uma excelente escolha de valor para o Celtics, achando um jogador que muitos tinham saindo 12, 14 escolhas antes no final da primeira rodada. Hunter é um exímio arremessador que também tem boa inteligência em quadra, alguém que sabe se movimentar sem a bola, defender coletivamente e é um sólido passador - vai ajudar muito um time que tem dificuldade nas bolas longas e cujo ataque se baseia muito nessa movimentação e inteligência. O tipo de jogador que não vai ser uma estrela, mas vai ser uma peça muito útil em qualquer time, e tem um conjunto de habilidades muito valorizado no momento ao redor da liga. Ótima escolha, e ótimo valor no #28.


Escolha #29 - Brooklyn Nets
Quem escolheu: Chris McCullough
Quem deveria ter escolhido: Chris McCullough

Brooklyn é uma franquia triste, que ainda viu sua escolha #15 de Draft ir para nas mãos de Atlanta e ficar com a #29 em torno. Mas, ao contrário do Hawks, fez a coisa certa com ela e pegou Chris McCullough. Em um time tão pobre em talentos e com um futuro tão questionável sem escolhas de Draft, esse é jogador com maior retorno possível que conseguiriam aqui junto de Looney, e o Nets está totalmente certo em apostar alto para conseguir esse maior retorno. McCullough poderia ter sido uma escolha de loteria se não tivesse rompido o ligamento e, apesar de muito cru, também tem enorme potencial. O Nets poderia ter feito uma escolha mais segura, mas não mudaria em muito a franquia. Se McCullough atingir seu potencial, pode fazer muito mais por esse time. Gostei bastante da escolha.


Escolha #30 - Golden State Warriors
Quem escolheu: Kevon Looney
Quem deveria ter escolhido: Kevon Looney

Os atuais campeões provavelmente não estão muito preocupados com esse Draft, pra falar a verdade. E embora eu achasse que um SG arremessador como Joseph Young, Anthony Brown ou mesmo Tyler Harvey fosse uma ótima adição para o Warriors, eles foram para o Home Run em Kevon Looney, e eu adorei. Looney é cru, mas tem imenso potencial, e era considerado um talento de loteria  durante grande parte do ano antes de cair em meio a más atuações, e acabou despencando na noite do Draft supostamente por causa de uma lesão recém-descoberta. Mas no #30 e com um excelente time já montado, para mim está de ótimo tamanho apostar em um jogador de talento talento e potencial, e se conseguir atingí-la, tem condições de ser um dos melhores jogadores do ano. No #30, você não pode pedir por muito mais que isso.