Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Os desafiantes e os soberanos

Um breve resumo do Spurs de 2012


Tem tanta coisa interessante nessa Final de Conferência que eu nem sei por onde começar. O Big Three idoso de San Antonio (Tim Duncan, Manu Ginobili e Tony Parker), detentor de quatro títulos (três juntos, um com Duncan sozinho) e que dominou a NBA ao longo de uma década, contra o novo Big Three de Oklahoma (Kevin Durant, Russell Westbrook e James Harden), que possuem JUNTOS 67 anos, só agora estão adquirindo a maturidade adequada e estão apenas começando a se impor como uma força na NBA. O confronto Big Three vs Big Three, o confronto de velha guarda vs nova guarda, etc e tal, vai dar um monte de manchetes divertidas pra mídia ao longo da semana, todas clichês e lugares comuns pra explicar porque essa série é interessante.

Mas porque eu estou ansioso para essa série? Porque é uma série de sete jogos entre os dois melhores times da temporada 2012 da NBA, por isso! Tanto Thunder como Spurs jogaram muito bem na temporada toda, possuem depth, possuem superestrelas, e simplesmente tratorizaram toda a competição nesses playoffs (Três varridas e um 4-1). O que tem pra não gostar desse duelo entre as duas suporpotências do Oeste??

O Thunder, de certa forma, é um time que vem crescendo alucinadamente nos últimos anos. Depois de ganhar 23 jogos em 2009, o time ganhou 50 em 2010 e foi pros playoffs, onde perdeu dos eventuais campeōes Lakers graças a um rebote de ataque do Pau Gasol nos segundos finais do jogo 5. Ano passado, depois de maturar e com Harden um pouco mais preparado, ganharam uma série épica do Grizzlies em sete jogos e perderam nas Finais de Conferencia pros eventuais campeōes Mavericks, principalmente por conta da sua dificuldade em jogar no final de jogos apertados e das dificuldades do Westbrook de criar para os demais jogadores.

Em 2012, o Thunder passou por cima de tudo isso. O Thunder ganhou dois jogos do Lakers quando estava perdendo por 9 pontos faltando dois minutos, simplesmente porque executou tudo da forma certa: Apertou a defesa, forçou roubos de bola (especialmente no Kobe, que ficou com a bola durante quase todo o crunch time no Lakers) fechou o garrafão, obrigou o Lakers a viver das bolas medias e longas ao invés de pontos fáceis no garrafão, tomou conta da bola, e contou com Durant decidindo o jogo com arremessos roubados e semi-impossiveis. Ano passado, o Thunder perdeu porque não sabia (ou não conseguia) fazer tudo isso, o Westbrook acabava cometendo turnovers, o time tomava pontos no contra ataque, e não conseguia pontuar.

Ah, eu não sou ingênuo. Não acho que o Thunder tenha deixado pra trás tudo que fez de errado na hora de fechar jogos na temporada regular. O Scott Brooks ainda tem sua dificuldade em desenhar jogadas, e o ataque do Thunder no final dos jogos ainda depende demais de isolaçōes e arremessos forçados do Durant. Isso não mudou, o que mudou nessa parte foi que os arremessos, dessa vez, caíram. Mas não foi isso que mudou pro Thunder conseguir dominar o Lakers nos finais de jogos. Saber construir jogadas no ataque é apenas uma parte de um final de jogo apertado. O que aconteceu é que o Thunder tirou 10 em todo o resto. Com uma defesa apertada e agressiva eles tiraram o Lakers da zona de conforto e forçaram o time de LA a arremessos difíceis e a rodar a bola mais do que gostariam, o que gerou muitos roubos de bola, que por sua vez geraram pontos fáceis de contra ataque. Se o Thunder ainda tem dificuldade pra construir posses de bola no final na meia quadra, eles compensaram isso conseguindo muitos pontos fáceis de contra ataque e evitando que o Lakers pudesse usar seu melhor jogo. E o que é mais importante, eles tão jogando com a confiança e a atitude não mais de um time jovem que quer roubar algo dos mais velhos, e sim como um time que sabe seu lugar e ta jogando pra chegar lá. 

E especialmente, o Thunder ficou mais perigoso quando o Westbrook e o Durant passaram a entender melhor o tipo de papel que eles devem ter dentro de quadra ao longo de um jogo. No começo do ano, a relação dentro de quadra entre os dois pareceu que ia tomar uma direção de Stringer/Avon (Que os que assistiram The Wire saboreiem a genialidade da comparação, que obviamente não fui eu que fiz, mas eu adorei), com uma certa ajuda da mídia: Se o Thunder perdesse, era por culpa do Westbrook, e se ganhasse era por causa do Durant. Nao era a toa que o Westbrook (Que genuinamente acredita que ele seja tão valioso quanto o Durant - e talvez esteja certo) se sentia tão desvalorizado e estivesse jogando com tanta raiva e necessida de se provar. Acontece que o Durant e o Sam Priesti perceberam isso: Priesti ofereceu ao West uma extensão máxima pra colocar um fim aos rumores de troca, e o Durant aceitou que o Westbrook arremessasse mais e controlasse a bola mais ao longo do jogo porque ele precisa disso pra ser eficiente dentro de campo. Ainda que o Durant pudesse meter 35 ppg se quisesse, ele prefere marcar 28 sabendo que seu time fica mais perigoso quando ele arremessa menos. Isso fez o Westbrook acalmar, parar de jogar nervoso e confiar mais nos seus companheiros.

O que o Westbrook demorou pra perceber - e finalmente parece ter percebido nesses playoffs, tornando o Thunder um time muito mais perigoso - é que o não tem problema ele controlar a bola ao longo do jogo (Ele precisa só criar um pouco mais, mas enfim), mas que quando o jogo começa a ficar apertado, quem tem que ficar com a bola é o Durant. Em outras palavras, o problema não é o West arremessar MAIS que o Durant, e sim QUANDO ele arremessa na frente do Durant. Por conta da inconsistencia no arremesso, o Westbrook prefere atacar a cesta quando o jogo está apertado e o ataque de meia quadra ta sendo necessário, mas por conta do seu dominio de bola mais ou menos ele acaba sofrendo muitos turnovers e sendo menos eficiente, gerando pontos faceis para o adversário. Ao invés disso, Durant são os dois pontos mais automáticos da Liga. E o Westbrook percebeu isso, soube a hora de atacar e a hora de deixar a bola com Durant. Ainda que o Thunder não devesse confiar apenas em jogadas de isolação fora do garrafão, só com o Westbrook compreendendo a importância de deixar essas bolas com Durant e Harden, evitar turnovers e apostar nos melhores criadores. Nessas horas, a eficiência é o mais importante. E o Westbrook, nos playoffs, tem sabido reconhecer o valor disso.

Alias, o crescimento do Harden foi um fator importantíssimo também, especialmente porque ele tem a habilidade de criar pros companheiros que o Westbrook não tem. Na temporada, o Thunder não tinha plano B pra quando West e Durant não estivessem bem. Agora, eles simplesmente sabem que podem tocar pro Harden e esperar ele criar jogadas, seja pra ele ou pros outros. O crescimento do Harden acabou sendo um fator importantíssimo pro Thunder conseguir um grupo que não fosse levado só por dois jogadores que criam para si mesmos antes dos demais.

Ou seja, o Thunder realmente é um time perigoso, muito mais maduro e que tem uma identidade muito mais definida do que ano passado. Durant está em excelente fase, Harden cresceu a ponto de virar um excelente jogador que seria titular em uns 27 times da Liga, o time sabe proteger o garrafão (Algo muito importante nos playoffs) e está embalado. E mesmo assim, eu não vejo o Thunder chegando nas Finais, simplesmente porque o Spurs de 2012 é o melhor time de playoffs na NBA desde o Lakers de 2001 (Que tinha Shaq no auge, Kobe se firmando como um Superstar que perdeu apenas um jogo em toda a pós-temporada... E sim, foi o jogo 1 das Finais que o Allen Iverson ficou louco e meteu 48 pontos).

O Spurs tem pelo menos 10 jogadores que podem entrar e contribuir nos playoffs. O Spurs protege os rebotes. O Spurs tem mais opçōes ofensivas que qualquer time da NBA. O Spurs pode jogar grande, pode jogar pequeno, pode jogar meia quadra, pode jogar no contra ataque. É o time que melhor chuta de três, é o time que melhor roda a bola e que pode pontuar de um bilhão de jeitos diferentes. O Spurs tem um armador que ta jogando fora de controle (Tony Parker) e que eé capaz de marcar 28 pontos e dar 9 assistências a qualquer minuto (nenhum PG jogou melhor no ano. Ponto), tem Tim Duncan seis anos mais novo dominando no garrafão e simplesmente fazendo toda hora a coisa certa ao ponto que chega a ficar até sem graça, tem um jogador que está um pouco apagado mas pode vir do banco e mudar o jogo (Manu), e tem mais seis ou sete role players capazes de rodar a bola, chutar de três, defender o garrafão, defender o perímetro... Jogadores que absolutamente não ligam pros seus números, fazem o que o técnico mandar, jogam para o time e só estão preocupados em achar a melhor forma de vencer (o que inclui suas três estrelas). Como se isso não bastasse, eles também possuem o melhor técnico da Liga. So there.

Eu sempre desconfio um pouco de times que não perdem jogos. Como dizia meu pai, times que naão perdem não conhecem seus defeitos. Mas o fato é que o Spurs não está só vencendo seus oponentes, está massacrando todos eles, passando por cima e ganhando com uma eficiência assustadora. O Spurs é uma máquina de jogar basquete, erram pouco e fazem tudo certo. Não fossem dois jogos que o Spurs perdeu descansando seus três astros, o time poderia estar numa sequencia de 30 VITORIAS, sendo grande parte delas por duplos dígitos. Nenhum time está jogando, nem de longe, o que o Spurs está jogando nesse momento.

E tem também a parte subjetiva que eu tanto insisto. O Spurs é um time que tem uma identidade perfeitamente definida e que sabe exatamente o que seus companheiros podem ou não fazer. Cada jogador está muito mais preocupado com a vitória do time do que com o que ele vai fazer individualmente. Cada jogador sabe exatamente o que seus companheiros vão fazer, e o que eles esperam que eles façam. Cada jogador confia no outro. E os jogadores são mais que companheiros, são amigos. Quem viu o Duncan todo feliz quando o Danny Green deu um baile no Chris Paul no jogo 4 percebeu isso perfeitamente. Duncan não tava feliz porque seu time tava ganhando, ele tava feliz porque o Green tava pulando de felicidade por ter dado uma surra em um dos melhores jogadores do mundo. Esse tipo de quimica entre os jogadores é muito underrated mas também muito importante, faz com que os jogadores sempre busquem jogar pelos companheiros. O Spurs é um time Old School que se construiu sobre entrosamento, um grupo de jogadores que sabem o seu papel, sabem o que fazer e que só se importam com a vitória. O Mavericks de 2011 era assim. E o Spurs de 2012 é um time muito melhor que o Mavericks de 2011. Nessa época onde times como Heat e Knicks tentam ganhar deixando de lado todo o conceito de "time" pra pegar vários superstars e colocando pra jogarem juntos, ver um time cuja força vai muito além do "talento", vem dos conceitos mais básicos de "time", jogando nesse nível é uma grande coisa.

Além disso, o Spurs tem algo que é importante demais a essa altura dos playoffs, que é a mentalidade. Quem viu os jogos 3 e 4 viu um time que sabe perfeitamente como jogar seu basquete, e que sabe que esse basquete é o melhor. O Clippers abriu 24 pontos de vantagem sobre o Clippers no jogo 3, e em nenhum momento o Spurs entrou em pânico, ou mudou a sua forma de jogar. Pelo contrário, continuou jogando como sempre sabendo que era o melhor time e que ia alcançar o adversário. E não só o fez como conseguiu abrir uma vantagem de dois dígitos no terceiro quarto marcando 24 pontos seguidos, algo que remete aos bons tempos do Celtics de 1986 (possivelmente o melhor time da NBA de todos os tempos) marcando 25 seguidos contra o Hawks na Final de Conferência. No jogo 4, quando o Clippers ameaçou uma reação no final do jogo, o Spurs continuou absolutamente calmo, sabendo que bastava fazer o que sempre faziam pra ganhar, sem nenhum grama de nervosismo ou medo. E eles ganharam.

Então por mais que eu ache o Thunder um grande time, eu não acho que eles vão ser capazes de vencer o Spurs com Parker e Duncan jogando a barbaridade que tão. Se o Spurs tem uma fraqueza, é um garrafão um pouco frágil, mas o Thunder não tem nenhum jogador de garrafão pra explorar isso ofensivamente. O Thunder gosta de usar seu garrafão pra pegar rebotes ofensivos - o Spurs é o time que menos os cede na Liga. Ainda que o Spurs não deva explorar muito a principal fraqueza do Thunder (O Thunder foi o pior time cedendo turnovers na temporada regular, mas teve um excelente numero contra o Lakers... Que é o time que menos força turnovers na Liga. Mas como o Spurs é o terceiro que menos os força...), o Thunder também não deve conseguir explorar a do Spurs (Se é que um garrafão com Duncan pode ser fraco), e o Spurs conhece muito mais seus pontos fortes que o Thunder. O Spurs depende muito menos de um ou dois jogadores do que o Thunder, mas também tem jogadores capazes de assumir o controle do jogo.

Em outras palavras, o Thunder tem o talento pra bater de frente. Durant e Westbrook são dois dos melhores jogadores da Liga, e Harden tem sido um valioso bench player. Não espero o Spurs vencendo facilmente essa série. Mas pra mim o Thunder vai ter mais dificuldades de impor seu jogo porque sua defesa está muito mais baseada no garrafão do que nas bolas longas. Essa é a grande vantagem do Spurs sobre o Thunder: O Spurs tem uma capacidade de adaptação muito grande, pode jogar com Duncan e Tiago Splitter pra explorar o garrafão, pode colocar o Boris Diaw no perímetro pra chutar de três e passar a bola da cabeça do garrafão, pode jogar baixo com Parker-Gary Neal/Green- Ginobili -Kawhi Leonard-Duncan pra explorar a velocidade e as bolas longas... Enfim, com um técnico como Gregg Popovich ele eé mais do que capaz de montar um esquema de jogo nos quais eles são bons e que seja um bom encaixe para o adversário. E o pior, o estilo preferido do Spurs (velocidade, espaçamento, rotação de bola e bolas longas) é exatamente o que o Thunder não gosta de enfrentar, eles preferem mil vezes times que não tem bolas longas e que usem seu garrafão (sabe, como o Lakers) de forma física. Mesmo o principal jogador de garrafão do Spurs (Duncan) é o tipo de jogador que o Thunder não gosta, a dupla Serge Ibaka e Kendrick Perkins lida muito melhor com jogadores físicos que gostam de trombar, mas muitas vezes tomam bailes de jogadores mais habilidosos, capazes de se afastar da cesta e que possuem uma grande variedade de jogadas de costas pra cesta. Ainda que a presença do Ibaka deva atrapalhar o Tony Parker com seus tocos vindos do nada, a rotação de bola do Spurs e a capacidade dele e do Manu de finalizar por cima de marcadores mais altos deve dar ao Spurs uma vantagem sobre o garrafão do Thunder. E como eu já disse, o Spurs tem uma capacidade muito maior de adaptação do que o Thunder, tanto pela profundidade do elenco como pelo seu técnico. 

Então sim, eu espero que essa série seja absolutamente espetacular. Os dois times estão embalados, tem jogadores espetaculares e são os dois melhores times da Liga. Mas confesso que, no fundo, eu quero ver o Spurs ganhando a série e o título, simplesmente porque eu adoro ver basquete bem jogado, basquete coletivo de um time que vive de entrosamento e chemestry, que não tem egoismo e que coloca a vitória na frente de tudo. Não é sempre que vemos times assim, não só pela dominância mas pela forma como eles fazem, lembrando muito aqueles times mágicos dos anos 80 como Lakers e Celtics pela forma como tocam a bola e como jogam com velocidade e em equipe (Exemplos mais recentes, Kings do começo do século e Suns de 2005-2007, 2010). Esses times são raros, e mais raro ainda que sejam tão bons como o Spurs de 2012. Infelizmente, esses times tendem a ficar para trás, esquecidos ou considerados fracassados, se não sairem com um título. E eu não quero que isso aconteça com esse Spurs. Eu quero que eles sejam recompensados por me levarem a um lugar mais alto como fã de esportes e do basquete bem jogado, do basquete de equipe, cada vez mais raro nos dias de hoje..

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