Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sexta-feira, 14 de março de 2014

NFL Mailbag: Final de temporada regular

"Eu não acredito, ele finalmente fez um mailbag!!!"



Bom, como prometido, chegou a hora de esvaziar a caixa de entrada para fazer o nosso Mailbag. Para quem não sabe, o formato é bem simples: vocês mandam emails com dúvidas, perguntas, comentários ou o que quiserem, e eu respondo/comento aqui em uma coluna. O tema dessa era NFL, especificamente o final da temporada e o começo da Free Agency, embora eu não tenha limitado nenhum assunto. Perguntas sobre outros esportes - recebi algumas de NBA, principalmente - serão respondidas futuramente em outros Mailbags que provavelmente não irão demorar.

Se quiserem participar de outros mailbags - seja sobre o que passou na Free Agency, sobre o Draft que está vindo, sobre basquete, sobre baseball ou sobre qualquer tema diverso, é bem fácil, é só mandar seu email para tmwarning@hotmail.com com o assunto "Mailbag" (e seu nome para ser publicado com o email, mas esse é opcional). Você pode ter seu email publicado e respondido nesse espaço.

Enfim, vamos começar com o mailbag. Vou começar tirando algumas dúvidas que me foram enviadas antes de passar para o resto, porque serão as respostas mais longas e complexas. Se não está com paciência de ler respostas longas e detalhadas sobre salários e franchise tags, pule direto para onde está escrito "TERMINOU" em negrito que continuaremos o mailbag mais dinâmico a partir de lá.

(Só lembrando, esses são emails reais enviados por leitores reais)


Sobre Franchise Tag. Como ela funciona? O time pode usar em qualquer jogador que esteja no ultimo ano de contrato? O jogador pode recusar? Quais são os valores? (Aproveitando a polêmica do Graham) Quem decide a posição do jogador? E quanto custaria para outro time tirar esse jogador com Franchise Tag? - Ricardo "Mugen" Venturelli

A Franchise Tag (existe outros tipos de tags, como a transition, por exemplo, mas vamos nos focar na mais comum que é a franchise) funciona da seguinte forma: cada time tem direito a aplicar uma FT por offseason, e pode fazê-lo em qualquer jogador que vai se tornar um free agent irrestrito, a não ser que o contrário esteja especificado no seu contrato (o do Darrelle Revis com o Bucs, por exemplo, tinha uma cláusula que impedia o time de usar a FT nele). A FT serve para você "prender" um jogador ao seu time, e se o jogador assinar (ele não é obrigado, mas chegaremos lá) a Tag, ela funciona basicamente como um  contrato de um ano para esse jogador, totalmente garantido. Durante esse ano, o salário do jogador será igual a média dos cinco maiores salários de jogadores sua posição na NFL, OU 120% do seu último salário, o que for maior. Ao final desse ano, o jogador volta a ser um free agent irrestrito, e se o time quiser usar novamente uma FT no mesmo jogador, o valor dela sobe 20%.

Muitos times usam a FT menos como um contrato de um ano e mais como uma garantia para segurar o jogador. Quando é um jogador que vai atrair muito interesse na FA ou um que o time quer manter a todo custo, a opção da equipe por usar a FT pode ser para impedir que esse jogador atinja o mercado e garanti-lo por um ano no seu time, e enquanto isso o time negocia um contrato longo tranquilamente com ele. É menos comum você ver um jogador atuando por um ano sob a FT do que ver um jogador taggeado negociando uma grande extensão logo depois.

Na NFL, existe dois tipos de FT: a exclusiva, e a não exclusiva. No caso da exclusiva, uma vez que você designa um jogador para ela, ele assinando ou não, nenhum time pode negociar com esse jogador além de você. Se ele assinar, ótimo, entra em vigor o que foi dito dois parágrafos atrás, senão ele fica um ano inteiro sem poder ir para outro time e sem jogar, dai vira FA irrestrito de novo. Se for a não-exclusiva e ele assinar, ótimo, mas se ele não assinar, os demais times da NFL tem direito de negociar um contrato com ele como negociariam com um FA normal, com a diferença de que o time que o taggeou tem o direito de igualar o contrato oferecido e ficar com o jogador (igual a um free agent restrito) e, caso não iguale, ele recebe escolhas de draft como "compensação" por perder seu franchise player (se não me engano, a compensação atual seria duas escolhas de primeira rodada).

Sobre a polêmica do Jimmy Graham, o time não escolhe a posição que ele taggeia o jogador, ele só aplica a tag e o sistema da NFL automaticamente atribui a posição com base na posição que ele é registrado. No caso do Graham, isso seria TE. No entanto, o jogador ou o time podem entrar com um recurso pedindo uma mudança caso o jogador não jogue na posição originalmente atribuída (pense por exemplo em Devin Hester, draftado como CB, registrado como CB - inclusive usando camisa 23 - mas que jogava de WR. Se ele fosse tagged, seria atribuído a ele a tag de CB, mas qualquer recurso mudaria isso para uma de WR). Esse é o argumento de Graham: embora ele seja registrado como TE, ele joga de WR no Saints e por isso a tag deveria mudar. Mais sobre isso daqui a pouco.


Sobre Salary Cap. O que acontece se um time está acima do Cap? No contrato de um jogador, além do salário, o que mais influencia no Cap? E o dead money, o que é isso? Ainda no contrato do jogador, como é definido coisas como Bonus ou Salário Garantido? - Ricardo "Mugen" Venturelli

Todos os times TEM que estar abaixo do cap quando começar oficialmente a free agency. Se não estiver? Reze. Ainda não tivemos um caso concreto para saber com certeza o que aconteceu, mas eu sei que a NFL tem poder de anular alguns contratos de um time caso isso aconteça como "punição". Acredito que além de anular alguns contratos para o time entrar dentro do cap, a NFL iria aplicar algum tipo de punição, como perda de escolhas de draft ou algo semelhante ao que fez com Redskins e Cowboys alguns anos atrás quando tentaram usar um ano que a NFL jogou sem salary cap para "burlar" as regras, e foram punidos com perda de espaço salarial em anos futuros. Melhor jeito de saber é esperar o Cowboys fazer isso daqui a um ou dois anos.

Sobre o contrato e como ele influencia no cap, ele funciona a partir das três fases da sua composição: você tem o salário anual do jogador, você tem o "bônus de assinatura" (o que no futebol chamamos de "luvas") e os demais bônus (que podem vir de diversas formas, desde "500 mil para cada jogo que for relacionado" ou "5M se você for o MVP"). Geralmente, o valor divulgado de um contrato já inclui os salários anuais totais e o bônus de assinatura. O bônus de assinatura (que vou chamar de "bônus" genericamente aqui, quando for um outro mais específico ele será, bem... especificado) você recebe totalmente no momento que assina o contrato, mas ele não conta todo de uma vez no salary cap - na verdade, ele é igualmente dividido entre todos os anos do contrato em termos de salary cap. Além disso, o salário anual - que é dividido quando o contrato é assinado - pode ou não ser garantido, dependendo da negociação. Isso não interfere no cap hit anual, só no dead money (chegaremos lá). Então o cap hit anual de um jogador é o seu salário daquele ano, mais a parte do bônus que foi distribuída pela duração do contrato, mais os eventuais bônus específicos que ele possa receber naquele ano conforme foi especificado em contrato (esses bônus em geral só contam para o cap se a NFL determinar que as condições são "prováveis" de serem cumpridas - se não, elas não contam em um primeiro momento, e passam a contar de forma retroativa caso sejam atendidas ao longo do ano).

Então fazendo um exemplo prático, imagine que eu assinei um contrato de 5 anos e 40M, com 15M de bônus e 25M totais garantidos. Em outras palavras, meu contrato tem 15M de bônus e 25M de salários, sendo que 10M de salários são garantidos. Para facilitar, o salário anual será igualmente distribuído por toda a duração do contrato: 5M em cada um dos cinco anos. Então no momento que assinei meu contrato, eu já ganhei 15M dele, mas o cap hit desse bônus será 3M a cada ano (btw, o salário anual pode ser distribuído ao longo da duração de diversas maneiras, não precisa ser igualmente, mas o bônus é obrigatoriamente igualmente distribuído). Então se o time me mantiver na equipe durante toda a duração do contrato, o meu cap hit será de 8M cada um dos cinco anos. 

No entanto, em algum momento, o time pode decidir me cortar antes do final do meu contrato. Isso vai gerar o famoso "dead money", que nada mais é do que o dinheiro que vai contar no seu salary cap caso um jogador saia do time antes do final do seu contrato (seja por troca, aposentadoria, dispensa ou whatever - vamos focar mais na dispensa porque é o caso mais comum). O dead money de um jogador dispensado é todo o cap hit futuro desse jogador que vem de dinheiro garantido, seja ele da parte do bônus daqueles anos ou salários garantidos, que contabiliza de uma vez só no seu cap.

Então no exemplo anterior, o cap hit anual era de 8M, com 5M vindo de salários e 3M do bônus. Eu disse também que 10M do salários seriam garantidos, então vamos supor que fossem os 10M correspondentes aos dois primeiros anos de salário. Então se o time quiser me cortar ao final do terceiro ano, ao invés do cap hit de 8M que eu teria no ano seguinte caso estivesse no time, eu saio da folha salarial do time (como meu salário daquele ano é não garantido, eles não precisam pagá-lo e ele não conta contra o cap caso eu não esteja mais no time), mas eles terão 6M na sua folha salarial daquele ano em "dead money" pela minha saída, que equivalem aos 3M de bônus que corresponderam aos dois últimos anos do contrato que eu não jogarei. Se o time quiser me dispensar apenas no último ano, dos 8M daquele ano eles só terão 3M contando como dead money. Se o time quiser me dispensar depois do segundo ano, quando meu salário para de ser garantido, eles também podem - mas dai o dead money passaria a ser de 9M (três anos de bônus) ao invés dos 8M caso eu estivesse no time, então é ruim para abrir espaço salarial.

No entanto, suponha que o time concluiu que eu sou um babaca no vestiário que tentou assediar a secretária do chefe, e eles querem se livrar de mim um ano depois de assinar o contrato. Eles podem me dispensar a vontade, mas agora além do dead money equivalente aos quatro anos restantes de contrato (totalizando 12M), o meu salário daquele ano é totalmente garantido. Ou seja, eles precisam me pagar o salário eu estando no time ou não. Então se me dispensarem mesmo assim, agora eu conto como 17M em dead money (12M do bônus mais meu salário garantido de 5M) e eu recebo os 5M em dinheiro pelo salário garantido.

Espero que tenha ficado claro o que o tal do "dead money" é, afinal: são todos os cap hits futuros garantidos (bônus ou salários garantidos) que são contabilizados de uma vez só quando um jogador sai do seu time antes da hora. É possível jogar uma parte do dead money relativo a uma dispensa para o ano seguinte, mas ai é complicação demais para explicar aqui, basta saber que é possível. Espero que tenha ficado claro, é um assunto dificilimo mas interessantíssimo.


TERMINOU!

Espero ter esclarecido as dúvidas sobre salary cap, são bem comuns. Agora antes de passar para a parte do Mailbag que envolvem perguntas sobre times específicos, vamos ver alguns dos outros emails. 



- Para minha supresa descobri que o Julian Edelman era quarterback na Universidade de Kent State, e acabou se transfomando num bom WR na NFL.

Esse tipo de caso é comum? um jogador mudar de posição só depois que chega a NFL? e se você conhece outros jogadores que são relevantes hoje em dia que tenham mudado de posição. - Fabiano Dantas

Não é exatamente comum, mas acontece. Acho que até mais do que jogadores que mudam de posição quando vão para a NFL, uma coisa mais comum é jogador que muda de esporte: Antonio Gates provavelmente é o exemplo mais famoso, um Power Forward no College que, quando viu que não tinha futuro na NBA, arrumou um workout com o Chargers e virou um dos melhores TEs da NFL. Ironicamente, o College onde ele jogava basquete? Kent State! Outros exemplos de jogadores de outros esportes incluem Jimmy Graham, que jogou basquete pela Flórida durante seus quatro anos de College antes de entrar no time de futebol um ano depois quando assistia a um curso complementar, e Wes Welker, que apesar de jogar futebol americano na faculdade também era jogador de futebol e foi não-draftado em parte por causa disso.

Mas só trocando de posição, como eu disse, não é comum mas acontece - as vezes o conjunto de habilidades ou tipo físico do jogador leva algum técnico a mudar um jogador de posição para melhor se adaptar ao jogo da NFL. Randle El é um bom exemplo de um QB que virou WR na NFL e teve muito sucesso. Delaine Walker também lembro que era WR e foi adaptado para TE pelo seu talento como bloqueador.

Mas acho que o mais comum é ou um jogador que mudou de posição ao longo do College, ou que jogava em mais de uma: Vernon Davis chegou a jogar de defensive end, linebacker e safety do lado defensivo, e Tony Gonzalez além de ser All-American jogando basquete foi linebacker durante dois anos na faculdade,  por exemplo. Alguns exemplos de jogadores recentes envolvem Wines Ward (foi RB por dois anos na faculdade antes de virar WR), Joe Thomas  e Jason Peters (eram TEs na faculdade antes de virar LT), Charles Woodson (era RB no colegial e tem até hoje vários recordes), Warren Sapp (era linebacker e PUNTER no colegial e chegou a jogar de MLB na faculdade) e Steve Smith (RB e cornerback no colegial).


Bom, eu tornei-me,recentemente, fã de futebol americano e esta época foi a primeira que acompanhei. Ainda não consegui escolher a minha equipa favorita e por isso a minha pergunta é a seguinte: como escolho a minha equipa de futebol americano? Que critérios devo seguir? E já agora, como você escolheu a sua? -João Almeida

Não existe um critério a ser seguido. Sempre achei que os melhores times são escolhidos naturalmente, e não seguindo algum critério. Algum jogador que você goste muito de acompanhar, uma camisa ou logo que você ache legal, uma torcida que te inspire, um jogo que te marcou... tem diversos motivos que podem levar você a escolher um time. Conheço um torcedor do Broncos que escolheu o time porque adorava acompanhar a história do Tim Tebow, por exemplo, e minha namorada mesmo torce para o Lakers porque quando era criança adorava roxo e, portanto, a camisa roxa do Lakers. Um amigo meu torce para o Pats porque o primeiro jogo que ele sentou para assistir direito foi um Sunday Night entre Patriots e Bills que o Pats perdia por uns 12 pontos faltando 5 minutos e conseguiu a virada, e o co-fundador do Two-Minute Warning Marcelo Ferrantini torce para o Bears porque estava lendo sobre a história da NFL e se apaixonou pelos Monsters of the Midway. Não tem um critério, e se você não tem um time e quer achar um, o melhor que você faz é assistir o máximo de jogos possíveis de times diferentes, e ver se alguma coisa em um deles te atinge de uma forma diferente.

O meu caso é até chato: eu torço para o 49ers porque meu pai torcia desde criança e me criou assim, como se fosse time de futebol - eu tenho um vídeo meu de criança com uns 4 anos no qual eu estou de camisa do Niners, lançando uma bola de futebol de criança e levantando os braços dizendo "Touchdown, Steve Young!". Mas meu pai torce porque quando criança morou nos EUA, se apaixonou pelo esporte e gostou do 49ers porque suas cores lembravam o vermelho-branco-e-preto do São Paulo Futebol Clube, seu time do coração. Então realmente não tem só um caminho para escolher um time, e tenho certeza que alguma hora você vai achar o seu.


Considerando que times como Chiefs, Saints e 49ers devem ser wildcards e são no minimo candidatos a chegar a final da conferência, fiquei com uma curiosidade: Já houve alguma final de conferência, ou até um Superbowl, entre dois times de wildcard? Desculpe se a pergunta for muito irrelevante. - Felipe Amorim

Obviamente a pergunta foi feita antes dos playoffs, mas a pergunta ainda é válida: desde 1970, quando o Wild Card foi criado, 10 times de WC chegaram ao Super Bowl e 6 foram campeões (2010 Packers sendo o mais recente). No entanto, até hoje nunca tivemos um Super Bowl entre dois times de Wild Card, e até onde eu sei nem sequer uma final de conferência entre os dois times WC.


O San Diego Chargers afinal é o melhor time ruim ou o pior time bom da NFL? Por quê tanta oscilação? É razoável acreditar, com a fraca defesa de Denver e os problemas no ataque e contra o jogo terrestre de New England, e ainda os inúmeros problemas tanto ofensivos quanto defensivos do Colts, que o San Diego chegue ao SB? - Danilo Vilas Boas

Obviamente essa também é uma pergunta para um Mailbag pré-Super Bowl que nunca aconteceu e está... hmm... desatualizada. Mas vale a resposta só porque é um ponto que eu sempre gosto de insistir e revisitar: praticamente QUALQUER time que chega nos playoffs pode vencer um Super Bowl. O modelo de jogo único e a natureza altamente volúvel do jogo de futebol americano significam que, na amostra pequena que são os playoffs, qualquer coisa pode acontecer, e normalmente o time que vence os playoffs não é o melhor da temporada regular (2013 obviamente não foi o caso), e sim o time que fica mais inteiro, pega fogo na hora certa e conta com mais golpes de sorte. O melhor exemplo é o Giants de 2011, o único time com Pythagorean Wins negativo que ganhou um Super Bowl, que viu sua linha defensiva explodir (e nunca mais repetir o nível) naquela pós-temporada, recuperou sete fumbles seguidos (!!), contou com um game-winning drop do Tarrell Brown e dois fumbles do retornador adversário na final de conferência para vencer.

Para dar um exemplo prático, eis os rankings finais da temporada regular para o Chargers de 2013 em DVOA: 3rd em ataque (22.5%), 32nd em defesa (17.5% - lembrando que em defesa, o DVOA bom é o negativo) e 12th (5.8%) em eficiência. O Giants de 2007 terminou 18th em ataque (-1.1%), 13th em defesa (-3.8) e 14th em eficiência (1.9%). Então se você chegou nos playoffs, você tem chances de vencer sim, mesmo que sua temporada regular tenha deixado a desejar. Esse mesmo Chargers esteve a uma 3rd and 17 convertida de possivelmente derrubar o Broncos e chegar na final de conferência em 2013. Então sempre tem chance. Sempre.


Para mim um posição muito difícil de ser avaliada no F.A. é a de um receiver,visto que para ter bons números ele depende de certos fatores como um quartback razoável,foco da equipe no jogo aéreo etc..vejamos o caso de Julian Eldemam agora super valorizado após uma temporada recebendo passes do Bradboy, numa equipe sem bons receivers para fazer sombra.Quais os critérios que você utiliza e leva em consideração na hora de avaliar um wide receiver? - Sérgio Estevão Silveira Silva, Pelotas/RS

Essa é a grande questão, na verdade. Da até para extrapolar e perguntar não só sobre WRs, mas como qualquer jogador funciona fora de um esquema tático definido e com companheiros específicos. O melhor exemplo disso é o San Francisco, que desde 2009 tem uma das melhores defesas da NFL. Todo ano, seus jogadores são bastante assediados na free agency e recebem contratos muito caros, na esperança de que mantenham o nível. Mas até agora, todos que saíram falharam em repetir sequer perto do nível mostrado em SF: Dashon Goldson, Isaac Sopoaga, Jean-Ricky François, Takeo Spikes,  Aubrayo Franklin, Parys Harrelson... a lista é considerável. É muito mais fácil para esses jogadores renderem dentro de um bom esquema defensivo e em meio a jogadores excepcionais do que mudando para um esquema novo e não tão completo. 

Isso é especificamente válido, como você pergunta, para WRs. Na verdade, acho que não existe uma posição tão depende de outra como o WR depende do QB para produzir, além dos fatores citados na pergunta. Por isso é tão difícil avaliar WRs, e por isso todo ano aparece alguém recebendo um contrato absurdo na free agency: você fica seduzido pelos números de touchdowns, número de jardas, número de recepções e esquece o contexto nos quais eles aconteceram. As 1300 jardas e 11 TDs de Eric Decker são impressionantes, mas é mais fácil conseguir isso quando você recebe passes de Manning em um dos melhores ataques da história da NBA. Em contraste, 520 jardas e 2 TDs não parecem bons até lembrar que o QB de Michael Floyd esse ano era uma mistura de Kevin Kolb, John Skelton e Ryan Lindley. Então enquanto números são sempre importantes, é bem mais difícil avaliar um WR corretamente só por eles.

O mais importante quando se avalia um WR é saber qual tipo de jogador ele é, e portanto, quais características ele tem que ter. Um alto catch rate (ou seja, % dos passes na sua direção que o WR recebe) é uma ótima estatística, mas ela é menos importante em um burner (jogador de velocidade que recebe aquelas bombas longas, passes de aproveitamento menor) do que em um slot receiver.  Então precisa saber com o que está lidando com o jogador em questão. Em geral, a questão mais importante do WR é como ele consegue criar separação. Nenhum arremesso na NFL vai ser 100% perfeito, assim como uma boa defesa não vai impedir 100% dos passes para um dado jogador. O que a defesa faz é reduzir ao máximo a janela para um passe alcançar seu alvo, e portanto a tarefa do WR é criar a maior janela possível para o QB acertar o passe. Claro, isso é feito de formas distintas: um burner vai precisar ter a velocidade, explosão e aceleração para criar uma vantagem na linha sobre o CB; um cara como Anquan Boldin usa sua força física para criar uma vantagem sobre seus adversários e ganhar lances 50-50; Wes Welker sua sua agilidade no curto espaço para criar essa separação; Megatron ou Demariyus Thomas usam sua habilidade atlética e explosão para ganhar uma vantagem pelo ar; e por ai vai. A questão é que se o jogador é capaz de criar algum tipo de separação, não importa como, ele vai poder render em um ataque. Se ele vai se adaptar ao que você procura no seu ataque é outra questão, mas é a habilidade mais importante.

Em geral, acho que o segredo para WRs não é ignorar as estatísticas, é colocá-las em contexto. Os números de Decker são inflados por jogar com Manning, sem dúvida alguma, mas ele também tem um alto índice de recepções nos passes lançados na sua direção e tem poucos drops, duas habilidades que tem menos a ver com contexto. Além disso, colocar 1300 jardas e 11 TDs com PM não significa que Decker o fará em New York, mas o fato dele ter sido uma arma tão utilizada em um ataque tão bom mostra que ele é um jogador com habilidades confiáveis. Então ainda que tenha muitas coisas importantes para se observar em um WR - como ele ganha bolas disputadas, o quanto ele consegue correr depois da recepção, quebrar tackles e conseguir jardas extras, o quanto ele dropa ou não passes, % de passes na sua direção que viram recepções, eficiência na red zone, etc - o mais importante mesmo é saber colocar em contexto aquilo qiue você está vendo.


Tem uma sequência de perguntas aqui do Sérgio, então vamos dar uma passada por elas em sequência.


 drop-kick do F.A. é igual ao do rugby?Em alguma ocasião está jogada teve um destaque e foi decisiva na NFL?

Semelhante. Qualquer jogador da NFL pode fazer um drop-kick como FG ou extra-point desde que esteja atrás da linha de scrimmage e nenhum passe para a frente tenha sido feito na jogada. Mas como você deve imaginar, não é uma tática nem um pouco eficiente: o chute normal da NFL te oferece muito mais estabilidade e precisão, então não tem motivo para você tentar um durante uma partida já que diminui muito suas chances de converter. Era uma tática mais comum antigamente, quando o futebol americano ainda era muito parecido com o rubgy e a bola mais arredondada, mas caiu totalmente em desuso conforme o futebol americano foi se refinando e a bola ficando mais pontuda. 

Até onde eu sei, a era moderna da NFL só viu um drop kick oficial, quando o Pats mandou seu QB reserva, Doug Flutie, fazer um extra point com um drop-kick. Não alterou em nada o resultado, mas como era o jogo final de Flutie antes de se aposentar, foi uma forma do Pats de fazer uma homenagem ao seu ex-QB sendo o primeiro e único da NFL a executar esse tipo de jogada em tanto tempo. Ele acertou, btw. 


Há uma tendencia de as equipes dispensarem jogadores veteranos e uns nem tão veteranos com 30 anos ou mais. Estes jogadores conseguem se manter pelos resto de suas vidas sem precisar de outro tipo de trabalho ou só as estrelas conseguem isso??Visto que mega-salários só alguns recebem em uma equipe que tem ao todo 53 jogadores.

De acordo com um excelente documentário da 30 for 30 sobre o assunto, cerca de 70% dos jogadores de esportes americanos declaram falência pouco depois de se aposentaram (acho que era até 3 anos depois). Jogar na NFL da bastante dinheiro, mas também tem uma vida útil curta, e nem todos conseguem um emprego como comentarista ou repórter depois de aposentados, então muitos dependem só do que ganham jogando. E como meu professor da faculdade sempre falava, o que importa para o indivíduo não é quanto ele ganha, é quanto ele gasta. Muitos jogadores da NFL vivem um estilo de vida muito luxuoso e com muitos gastos, e quando a renda da profissão acaba eles não tem como se manter e acabam tendo que ir trabalhar com outras coisas para se sustentar. Claro, alguns ganham tanto dinheiro que conseguem se manter por muito mais tempo, outros conseguem continuar no ramo (seja como técnico, coordenador, comentarista, olheiro ou etc), e alguns investem ou poupam inteligentemente seu dinheiro para que dure depois da aposentadoria. Mas a grande parte vai logo a falência quando para de ganhar dinheiro.


Nas análises e previsões entre uma temporada e outra sempre se fala nos grupos de ataque e defesa, mas muitas partidas são definidas pelo time de especialistas..tirando os kickers,punters e retornadores,há um trabalho específico para jogadores que atuam nos Specials Team?  - Sérgio Estevão Silveira Silva, Pelotas/RS

Existe sim, é um trabalho bastante difícil que exige bastante coordenação. Muitos jogadores tem carreiras longas e lucrativas na NFL por serem monstros nos special teams, coordenando as jogadas, fazendo leituras, bloqueando nos lugares certos e achando as falhas para atravessar os bloqueios e fazer tackle, como Kassim Osgood e Blake Costanzo, mesmo que não rendam nas suas posições naturais. Normalmente as pessoas pensam em special teams em termos de kicker, punter e retornador, mas tão importante quanto é ganhar a pequena batalha das posições de campo, evitando que os adversários possam ganhar jardas extras com retornos e ganhando você essas posições. O melhor exemplo que posso te dar é o Chargers: em 2009, eles tiveram um ST sólido e Osgood foi ao Pro Bowl como Special Teamer. Em 2010, dispensaram Osgood, e caíram imediatamente para o pior ST da NFL, tomando uns oito ou nove TDs de retorno aquele ano e perdendo a temporada nisso.

O principal motivo de eu não falar tanto do ST quando faço algum preview de time é porque tem um fator muito aleatório ano a ano nisso. Em geral eu cito mais quando um time teve um espetacular ou horrível que deve normalizar, mas na maioria das vezes é algo muito difícil de prever ou mesmo de entender vendo de fora, e por isso prefiro não tocar no assunto sem ter uma boa base. Mas sim, pode ter certeza que é um fator imenso determinando a temporada de um time, assim como ataque ou defesa - tanto que DVOA, a estatística que sempre uso, vem em ataque, defesa E ST para gerar a eficiência total. Só é muito mais difícil de acompanhar ou de se prever mesmo.


A respeito do Head Coach na NFL, qual o verdadeiro papel do HC? Já que normalmente os times possuem coordenadores ofensivos, defensivos, para os Special Teams além dos mais especificos de linha ofensiva, secundária e etc.
 
Enfim com todo esses tecnicos exercendo suas funções o que sobra para o HC? - Fabiano Dantas

Isso depende e varia MUITO, de acordo com o técnico em questão, a organização, seus assistentes e tudo mais. Alguns diriam que o HC é basicamente o cara que coordena tudo isso, ele controla quem está fazendo o que e é o centro disso tudo. Mas a verdade é que depende demais de quem é. Um técnico como Lovie Smith, por exemplo, que é um mestre defensivo e que não entende o que é um passe, vai delegar a maior parte do seu plano de jogo ofensivo para seu coordenador ofensivo, mas vai estar profundamente envolvido com a parte defensiva, muitas vezes montando ele mesmo o plano defensivo e só contando com auxílio do coordenador defensivo. Um técnico mais ofensivo como Chip Kelly seria o contrário, por exemplo. Outros, como Bill Belichick, que são ótimos estrategistas dos dois lados da bola, estarão profundamente envolvidos com todas as áreas do jogo, enquanto técnicos menos especializados podem delegar a maior parte das tarefas e só servir para centralizar tudo isso.

Em geral, no entanto, o HC é o cara que toma as decisões. Ele que sabe qual coordenador vai ser, e qual a direção do plano de jogo que ele vai montar. É ele quem toma as decisões no elenco, como qual QB vai jogar,  e como vão se preparar para enfrentar os adversários. Eles centralizam essa tomada de decisão, e embora futebol americano seja um esporte complexo demais para um cara só deter todo o conhecimento do que está acontecendo, é ele quem da as direções e depois da a palavra final. Mas naturalmente, como eu disse, o nível de envolvimento e a extensão completa das funções varia muito dependendo do cara e da organização em questão. 


Li algumas notícias de que o Raiders teria interesse em contratar o Matt Schaub, com isso fiquei pensando times necessitam de qb's pra essa temporada de 2014 e poderiam ser bons para o Schaub. De imediato o Vikings me veio a cabeça, será que não daria certo a dupla Schaub + AP? O que acha? - Thiago Berti

Essa pergunta foi editada (ficou só a pergunta mesmo por questões de espaço), mas o Thiago também entra no mérito do Vikings, perguntando sobre a questão de QB, o que deveriam fazer e tudo mais. Então vamos responder em duas partes.

Sobre os times que poderiam ser um fit para o Schaub, isso depende se você acha que ele ainda tem lenha para queimar, e se ele vai mesmo ser dispensado. Se sim, então o fit ideal seria um time mais ou menos estabelecido em outras áreas, pronto para competir, mas cujo time teria mais dificuldade pegando um QB no draft por algum motivo. Então um time como Bucs (que foi atrás de outro veterano, Josh McCown), Arizona (seria o fit perfeito se não tivessem já o Carson Palmer por lá), Bills (se não estiverem tão confiantes no EJ Manuel no curto prazo), ou mesmo Jets ou, ironicamente, o próprio Texans. A outra solução para ir atrás do Schaub seria um time com um QB jovem (que já está no elenco ou que ainda viria pelo draft) e que precisasse de um veterano para dar estabilidade enquanto o jovem treina e se refina, para fazer essa transição. Isso poderia funcionar para diversos times como Bills, Bucs ou mesmo times como Jaguars, Cleveland ou Oakland, dependendo do que pretendem fazer essa offseason. Se você for pegar um cara pro-ready como Ted Bridgewater, não tem porque, mas se a idéia for pegar um QB mais cru como Blake Bortles ou mesmo um no final da primeira rodada (ou segunda e terceira), Schaub parece uma ótima opção para fazer a transição. Minha aposta é que o Raiders não vai pegar um QB na primeira rodada e sim na segunda ou terceira, dai pegar o Schaub para ser o "mentor".

Sobre o Vikings, eu entrei no mérito do vencer agora vs apostar no futuro em uma coluna recente. A verdade é que o ataque é bastante jovem ainda, tirando AP, e que com um s´ølido QB essa unidade está pronta para deslanchar, mas a defesa - que também se livrou de seus jogadores mais velhos e está se reconstruindo em torno de caras mais novos - ainda está longe de ser a de um contender, então considerando que o elenco é jovem e ainda não está pronto para ir aos playoffs em uma NFC North fortíssima, faria sentido ir com calma. Para mim o ideal é pegar um cara no draft sem pressa, deixar um ano ou dois desenvolvendo a la Colin Kaepernick. A questão é que, tendo renovado com Matt Cassell por 5M ao ano, se for esse o plano então Cassell será o titular, não faria sentido trazer mais um veterano. Pode ser também que eles nunca tenham pensado em trazer um garoto e queiram vencer logo de cara, mas também não me parece que Schaub seria o ideal nesse cenário já tendo Cassell, com Vick sendo uma alternativa de maior potencial.


Ok, vamos passar a uma série mais rápida sobre times específicos.


O ataque do Vikings, até a 15ª rodada, é o 2° em jardas conquistadas e 9° em pontos da NFL, e esses números poderiam ser ainda melhores se não houvesse essa indefinição quanto ao QB titular. Enquanto isso, a defesa caminha para ser uma das piores da história do time, com problemas na secundária e no corpo de linebackers, além de não conseguir parar ataques nos momentos decisivos do jogo em vários casos. Sendo assim, qual você acha que deve ser a prioridade do time para o próximo draft? - Matheus Milanez

Bom, ainda acho que um QB é essencial. O que não significa que o Vikings deve ficar totalmente focado nisso, claro: ainda acho que um QB do trio principal do draft cai para o Viks no número 8 (provavelmente Bortles), mas se não cair, a pior coisa que podem fazer é se desesperar e pegar o próximo QB disponível. Esse draft tem boa profundidade, e se Bortles, Manziel ou Bridgewater não sobrarem na 8th pick, eles podem pegar na segunda rodada (ou mesmo trocar para entrar no final da primeira) e pegar Derek Carr, Jimmy Garopollo ou meu favorito, Zach Mettenberger. Mas acho que não deveriam sair desse draft sem pelo menos um projeto de segunda ou terceira rodada para treinar um ano atrás de Matt Cassell.

Além disso, acho que o ataque está bem encaminhado, então a defesa tem que ser o foco. Um LB cairia muito bem no time para liberar Chad Greenway, e embora um DE para substituir Jared Allen fizesse bastante sentido, o time pagou demais para Everson Griffen ser apenas um jogador situacional, então acho que cai na lista de prioridades. Um segundo safety também faria muito sentido por lá. Mas a necessidade de playmakers passa por todas as posições na defesa, praticamente, então acho que o Viks deve focar desse lado da quadra pegando o melhor jogador disponível.


De acordo com os jogos finais de divisão percebeu-se que o time do NEW ENGLAND PATRIOTS estava um passo atrás dos outros concorrentes, BRONCOS, 49ers, SEAHAWKS, e até de alguns outros times que ficaram pelo caminho na corrida dos playoffs. Gostaria que você comentasse sobre o que o time de NEW ENGLAND precisa para estar no nível desse times na próxima temporada. As posições mais carentes, as manobras que o time deve fazer usando a free agency o draft e possíveis trades. - Geraldo Neto, Uberlândia, MG

E estava um passo atrás mesmo, e embora eu ache que não era tanto quanto pareceu na Final de Conferência, o fato é que jogar na fraca AFC fez o time parecer melhor do que era de verdade. Ainda assim, é difícil culpar DEMAIS o Patriots depois de tudo que deu errado na temporada: Danny Amendola quase não ficou saudável (e quando ficou não foi bem), Rob Gronkowski e Sebastian Vollmer se machucaram e perderam a segunda metade da temporada, e a defesa parecia contagem de corpos de filme de terror (Jerod Mayo, Vince Wilfork, Brandon Spikes, Tommy Kelly... até Aqib Talib). Então a história talvez fosse diferente com um time saudável.

Para 2013, eu falei um pouco sobre o que eu teria feito, liberando cap space e indo atrás de, principalmente, um pass rush e ajuda para a secundária. O Patriots fez o segundo muito bem, indo atrás do Darrelle Revis para substituir Talib e parece estar perto de Brandon Browner (os dois encaixam muito bem, btw) - então eles foram ativamente atrás de resolver um problema. Mas me preocupa a falta de soluções para as demais áreas: o ataque terrestre perdeu seu melhor LB em Spikes e deve perder seu melhor DT em Wilfork, e ainda não achou nenhuma solução para seu complicado jogo aéreo - sim, enquanto tiver Tom Brady o time vai funcionar, mas a falta de alvos além de Julian Edelman foi um problema em 2013 quando Gronk esteve fora, e não só Edelman saiu como o time ainda não trouxe nenhuma alternativa para o jogo aéreo, seja WR ou TE. Então eu acho que esses seriam os três focos do time para o resto da offseason: precisa trazer alvos para o jogo aéreo (um TE reserva seria legal, dado que Gronk não fica saudável), precisa de mais um pass rusher, e precisa de alguém para ancorar essa defesa terrestre. O problema é só ter 10M de cap space, mas o Pats tem um longo histórico de achar contribuintes baratos. 


O que o Green Bay Packers precisava fazer para ser forte candidato ao título do Super Bowl? - Eliel Santos

Precisa reorganizar basicamente o time inteiro. Não que o time tenha problemas do começo ao fim do elenco, mas tem buracos que atrapalham todo o funcionamento: a linha ofensiva é bem fraca, e a defesa é uma zona do começo ao fim. Não que não tenha bons jogadores, mas não é suficiente para fazer funcionar o elenco. O time continua ganhando porque Aaron Rodgers é um dos melhores jogadores do mundo, e em 2013, o time achou um RB que conseguiu levar o time nas costas. Mas precisa continuar construindo o time até o fim do elenco, e o time tem sido muito ruim nisso nos últimos dois anos. A defesa tem bons jogadores, especialmente na secundária, mas a unidade não funciona porque todo mundo tem que desdobrar para cobrir múltiplas funções. Não tem aquela dupla que vá ancorar o jogo terrestre, nem alguém para acompanhar o Clay Matthews no jogo terrestre, o time é muito vulnerável pelos lados... ou seja, todas as área defensivamente tem alguma falha, e então você precisa que os bons jogadores de lá saiam do que fazem de melhor para tentar cobrir o resto. O resultado é uma bagunça.

O Packers vai ser um candidato ao Super Bowl enquanto tiver Aaron Rodgers, mas tem esbarrado na falta do resto do time. Melhorar a linha ofensiva é uma preocupação antiga do time, mas nada do que tem feito parece resolver a questão, então ir atrás de ajuda para a defesa era o ideal. Um MLB capaz de cobrir o meio do campo e um pass rusher parecem ser as prioridades, e um safety também era bom. Todo mundo comenta de Rodgers e do bom ataque do Packers, mas o time campeão de 2010 era impulsionado também pela segunda melhor defesa da NFL. Só com o ataque vai ficar difícil voltar ao Super Bowl.


Eu li em outro site que o Draft, da temporada passada, foi um dos melhores na posição de offensive linemen. Se isso for verdade porque o Pittsburgh Steelers não escolheu nenhum jogador para essa posição, já que essa é a principal necessidade do time? E no Draft desse ano, quantos jogadores você acha que os Steelers deveriam escolher nessa posição e em quais rodadas? - Antonio Carlos Moraes

Ela era considerada profunda em OL sim, mas nenhum dos três primeiros OLs do draft (1st, 2nd e 4th picks) jogaram bem, então menos mal.

Eu acho que não escolheram porque a necessidade não era tão grande assim como você diz. Eles terminaram 15th em proteção em 2012 (e 2013), e investiram várias 1st round picks em OLs que simplesmente machucaram, como Maurkice Pouncey e David DeCastro. Eles não vão machucar sempre, e acho que com um bom tackle (esse draft é profundo) a linha ofensiva fica boa, ou pelo menos acima da média. Em 2013, o time terminou 12th ofensivamente e 20th defensivamente, então acho que a defesa é ainda mais complicada hoje que o ataque, especialmente tendo em vista as dispensas recentes.

Sobre o draft, como eu disse um tackle cairia bem, mas acho que não é a maior urgência. Acho que eles precisam mesmo é de um novo pass rusher depois da dispensa de LaMarr Woodley, e ajuda para a secundária que perdeu bons jogadores (e não perdeu Ike Taylor). Acho que a pressão pode vir de ajuda interna com Jarvis Jones evoluindo, mas ainda é pouco. Um MLB para solidificar o miolo não era mau também. Eu acho que um tackle ou um CB na primeira rodada, depois um OLB ou DE (e um tackle mais para o final) era o ideal, especialmente em um draft profundo ofensivamente.


Por fim, uma pergunta mais pessoal. Sabemos que na última década na NFL ficou "mais fácil passar a bola". Então o recorde do Marino de jardas passadas ou o recorde do Jerry Rice em jardas recebidas foi quebrado (do Marino várias vezes), mas ainda sim, tem gente que considera a temporada do Marino como melhor temporada para um QB e a temporada do Rice como melhor temporada para um WR (o que eu concordo) pois hoje em dia é "mais fácil passar a bola". Mas isso não pode acabar desmerecendo os QBs e WRs de hoje em dia? Digo isso pois, por exemplo, se um QB lançar 6000+ jardas ou um WR receber 2000+ jardas ainda vão ficar falando que Marino e Rice tiveram uma temporada melhor. Ou melhor ainda, o que um QB ou um WR devem fazer, hoje em dia, para que suas temporadas sejam consideras por todos (ou quase todos) como a melhor temporada para um QB e um WR?
P.S: Note que o cara ter uma temporada melhor que a do Marino ou do Rice não significa, necessariamente, que ele é melhor que o Marino ou Rice (só pra ficar claro). - Ricardo "Mugen" Venturelli

Resposta curta... SIM!!! É inegável que o jogo mudou muito e que existe uma grande diferença entre o que acontecia em 1988 e o que acontece em 2013.  O problema é que as pessoas são 8 ou 80 em relação a isso e aos números: ou elas ignoram totalmente as mudanças e os diferentes contextos, só olhando para os números frios e tirando a conclusão de que a > b porque o número de a é maior que o número de b; ou então elas criam uma barreira entre as duas eras, concluindo que só porque hoje é mais fácil então é impossível ser melhor hoje e isolam as duas coisas. O problema é que existe DE FATO uma enorme mudança entre as eras, que se refletiu tanto nas estatísticas como no estilo de jogo (um segundo viés menos citado, mas os QBs passam hoje muito mais do que em 1986, por exemplo, o que contribui para inflar estatísticas), e é muito difícil colocar isso no contexto apropriado. Por isso as pessoas recorrem a essas medidas extremas. Eu particularmente prefiro criar a barreira entre as duas e tratar as duas coisas separadamente (mais ou menos como tratamos pré-merger e post-merger separadamente) a achar que são iguais, mas o ideal mesmo é achar aquele meio termo.

Sobre o que teria que fazer para ser considerada a melhor temporada de todos os tempos, eu acho que você precisaria passar de alguma marca redonda. Ou seja, o WR teria que passar das 2000 jardas com alguma folga, e o QB teria que chegar nas 6000 passando de 50 TDs. Sim, é arbitrário e estúpido, mas 90% das discussões do tipo também são. Durante muito tempo, a marca de 5000 jardas foi um taboo para os QBs da NFL, como a marca a ser alcançada... dai 10 QBs fizeram isso, incluindo Matt Stafford, e ela perdeu o significado. 5000 virou o novo 4000. Então acho que 5500 ou 6000, possivelmente 6000, seria o patamar que todo mundo subsconscientemente iria colocar como aquele a ser alcançado. Para o WR, o jogo é TÃO mais fácil (sim, mais que para QBs) que talvez nem 2000 jardas fizesse o serviço. Acho que para Megatron ter a melhor temporada, ele precisa ser o MVP da NFL, e ele não vai conseguir isso com menos de 2000 jardas e 12 TDs. É arbitrário e talvez até injusto, mas é assim que funcionaria, acho. Acho que na média, a mentalidade "glorificar demais o passado por conta das mudanças" ainda é mais forte. 

(For the record, eu ainda acho que 1984 foi a melhor temporada regular de um QB de todos os tempos, e 1989 Montana foi a melhor começo-ao-fim. Eu só acho que elas não são impossíveis de serem alcançadas)


O assunto é basicamente sobre a era Brady/Manning.Não é uma comparação entre eles- até porque odeio esse tipo de comparação,de que é melhor e não acompanhava NFL de perto quando o Peyton jogava em Indianapolis.Na verdade é sobre as gestões do Colts e do Patriots nesse período.

Poxa,ambas as equipes tiveram/tem mais de uma década de dois dos maiores QB que passaram pela liga,jogando no mais alto nível.Mas não dá pra deixar de notar que o Patriots fez 6 finais de conferência com 5 títulos da AFC e 3 de SB enquanto o Colts teve 2 finais AFC e 1 SB.Não é nada mal conseguir um título de SB(ao contrário) mas não fica aquela sensação de que poderiam ter conseguido mais?O que faltou pro COLTS,quais foram seus erros e principalmente,olhando pra era Manning e já projetando uma Era Andrew Luck o que eles podem tirar de lição pros próximos anos com o garoto,isto é,como aproveitar ao máximo o talento dele e traduzir isso em títulos. - Sebastião Neto

É um assunto bem delicado que provavelmente merece um post inteiro, então vou ser o mais direto possível porque o mailbag já está longo o suficiente: eu acho que a grande diferença entre as carreiras de Brady no Pats e Manning no Colts é a mesma lição que eu acho que Indy tem que aprender para Andrew Luck - não se acomodar com o que está bom. Brady sempre teve uma das diretorias e um dos técnicos mais inteligentes da NFL dando apoio, sempre mantendo o cap sob controle, sempre achando valor onde deveria, sempre fazendo trocas e contratações inteligentes para sempre melhorar marginalmente o elenco aonde poderia. Manning não pode dizer o mesmo Colts - certamente o Colts tinha um grande time ao longo da década, mas nunca teve a capacidade do Patriots de desenvolver talentos, fazer trocas inteligentes e sempre continuar evoluindo dentro e fora de campo. As vezes parecia que Indianapolis se acomodava com seu sucesso e só tentava dar grandes passos decisivos para o título, enquanto o Patriots continuava dando os pequenos passos que aumentam o valor de cada escolha e cada contrato, e se você acha que isso não faz diferença ao longo de 10 anos, você precisa repensar a NFL. 

Isso ficou particularmente evidente na segunda metade da década, quando o Patriots continuava renovando sua equipe, achando talentos no draft e se mantendo como um dos times mais completos da NFL, enquanto que o Colts perdia cada vez mais peças importantes sem conseguir uma reposição, se mantendo forte só com o que restava do seu antigo núcleo e seu QB Hall of Famer. Se o Colts tivesse conseguido manter o cap sob controle e desenvolver melhor seus jovens jogadores, como fez o Pats mais para o final da década, aqueles times de Manning entre 2008 e 2010 teriam chegado sido muito mais fortes. Então se em termos de carreiras e conquistas você quer achar uma diferença definitiva entre Manning e Brady, não olhe para números de vitórias em playoffs e sim para as diretorias. Indy tinha um fantástico núcleo (que foi um pouco underachiever, verdade) que eles tiraram tudo que podiam, enquanto que Patriots não só teve ótimos núcleos como eles estavam consistentemente se renovando e adicionando novas peças. É verdade. 

Para a era Luck, é importante saber disso. O Colts hoje vai vencer jogos porque tem um fantástico QB, mas o resto do time é muito fraco -  a linha ofensiva ainda é fraca, tirando Reggie Wayne e TY Hilton não sobra nenhum bom recebedor, e a defesa como um todo é abaixo da média (especialmente se Robert Mathis não conseguir repetir seu espetacular 2013). Só porque você está vencendo não quer dizer que você é bom, e definitivamente não quer dizer que você é tão bom quanto pode ser. Sucesso na NFL é muito passageiro, e se você quer torná-lo duradouro, vai precisar mais do que só contar com um QB fora de série a cada 13 anos.

7 comentários:

  1. Gostei de algumas perguntas do mailbag, outras nem tanto, mas na pergunta do ST não valeria a pena falar mais sobre long snappers? Apesar de não ser uma posição mto chamativa é importante ter alguem sólido para isso.

    Tbm acho que o colts aproveitou mal o manning, durante mto tempo jogou sem um RB bom junto dele. Claro tiveram uma ótima dupla de DE e conseguiram uma tremenda transição de WR1 para o Manning, mas o Colts foi o mesmo time ficando velho durante a era manning e o Patriots teve varias mudanças.De um estilo vertical com Moss, a dupla de TEs e agora com um jogo de corridas mais forte, o time soube tirar o melhor do que conseguiu enquanto o Colts simplesmente foram ficando envelhecendo no mesmo estilo e contando com o QB para ganhar jogos.

    Sobre o Vikings não compensaria mesmo pegar o Schaub? Ele funcionou muito bem com Foster e playactions, não daria certo com Peterson? O RB disse que o Vikings era time de playoffs com Vick, eu sinceramente acho que tem mais chances com Schaub e como vc falou ainda daria para draftar e desenvolver alguem, mas Peterson não é novo e seria bom competir por algo enquanto ainda dá. Seria uma pena acontecer com ele o que aconteceu com Steven Jackson e jogar a carreira inteira num time que não briga por nada(Teve o ano do Favre e a temporada milagrosa dele).

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    1. 2010 Schaub daria certo no Vikings sem dúvida, mas ele não tem sido o mesmo desde que se machucou em 2011. Acho que esse novo Schaub não vai levar nenhum time longe, ele é no máximo um tapa-buraco para um time muito completo (e o Vikings não é), ou um veterano estável para fazer uma transição para um QB mais novo. O time adoraria investir no final da carreira do AP, mas tem que fazer isso de forma inteligente: se não tem nenhum veterano capaz de levar esse time ao Super Bowl no mercado (e não tem), investir demais em um QB mediano em uma tentativa de conseguir esse resultado é o tipo de coisa que pode atrasar a franquia muito daqui a uns anos. Tudo bem pegar Schaub ou Vick por enquanto, mas nenhum vai resolver tudo a médio prazo.

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    2. Valeria a pena pro Vikings buscar subir no draft na busca por um QB mais ao gosto deles?Eles tem moedas de troca pra tentarem algum movimento desse tipo?

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    3. Talvez, mas eu sou dúbio quanto a subir no draft. É uma atividade cara, que nem sempre compensa. Se você é um time como SF ou Seattle, que tem um elenco muito completo e toneladas de escolhas, faz sentido você subir na primeira rodada por um jogador melhor. Mas um time com tantos buracos e sem profundidade como o Vikings não pode se dar ao luxo de perder escolhas valiosas (para subir da 8th pick vai ter que mandar NO MINIMO uma 3rd round pick, talvez mais), muito menos em um draft que não tem muitas certezas na posição de QB. Se fosse por um Mariota ou RG3, tudo bem, mas por Manziel ou Bortles, dois jogadores com grandes pontos de interrogação, é uma troca que não me agrada em risco-recompensa.

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    4. Entre outras palavras,o Vikings tá numa situação bem complicada...Cheguei a ver em janeiro que o AP estava envolvido em rumores de troca.Duvido muito disso,mas deve ser difícil pra um cara do nível dele jogar em um time medíocre sem tantas perspectivas.

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  2. O Luck tem um ótimo RB no Trent Richardson kkkk, SQN.
    Aí você vê que a diretoria continua seguindo a mesma linha daquela época. O cara não tinha rendido nada desde o draft e eles contratam mal desse jeito.

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    1. Sem contar a defesa.Mais de 40 pontos em 2 jogos seguidos de playoffs chega a ser vergonhoso.

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