A trajetória profissional dos jogadores na Major League Baseball, desde o draft até o momento no qual eles enfim chegam a jogar nas ligas maiores, é algo que a diferencia das outras duas principais ligas americanas, a NBA e a NFL. Nessas duas, o jogador que é selecionado no draft vai direto para o time principal e já é parte do elenco, sendo usados em jogos e tudo mais. Na NBA alguns jogadores até passam algum tempo na D-League, mas é a exceção e não a regra. O comum é o jogador que já chega da faculdade, é incorporado ao elenco e passa a contribuir desde esse momento.
Na MLB, não funciona assim. Eles possuem o que é chamado de "ligas menores", uma espécie de categorias de base de cada time, mas onde os jogadores não são separados por idade mas sim por produtividade e pelo quanto estão prontos. Quando um atleta é selecionado no draft - seja direto do colegial, ou nos últimos dois anos de faculdade - ele vai para os níveis mais baixos das ligas menores para se aclimatar ao jogo profissional e se desenvolver. Então passa alguns anos nessas ligas menores se desenvolvendo, aperfeiçoando e refinando seu jogo, subindo de nível (ou não) conforme se desenvolve e vai ficando pronto para enfrentar adversários melhores. Até que enfim o time acha que ele está pronto para contribuir nas ligas maiores, e esse jogador pode subir para o time principal, na MLB. E é só ai, depois de um longo processo de desenvolvimento, que ele tem a chance de estrear e começar sua carreira profissional de fato.
Deixando de lado o que isso representa para os times, os jogadores e a MLB em si, para os torcedores isso gera um certo "problema": é muito mais difícil saber no beisebol quais são os jogadores que ainda não estão nas ligas maiores mas que logo causarão impacto por lá. Na NBA ou na NFL, eu sei perfeitamente quais são as jovens promessas do jogo (pois elas já estão lá) e quais as próximas (é só olhar o draft). Mas não no beisebol, em que essas promessas estão em ligas menores que pouca gente assiste, não tem transmissão na TV e raramente por links piratas, é mais difícil achar estatísticas ou histórias, e que pouca gente se interessa de modo geral. Então é mais difícil para os torcedores saberem o que esperar do futuro, quais são os próximos grandes craques da liga, como seu time está produzindo jovens talentos, e se um certo time pode esperar coisas boas no futuro próximo.
Para resolver essa questão, uma prática comum nos EUA são os "Top 100 Prospectos", listas especializadas que ranqueiam os 100 melhores prospectos ou promessas das ligas menores, como tentativa de informar aos torcedores tudo isso que eles desconhecem. No entanto, essas listas são poucas, muitas vezes precisando de algum tipo de assinatura ou comprar algum tipo de pacote, e nenhuma delas é em português. Então, lá atrás em 2014, decidimos fazer a mesma coisa, criar um Top 100 Prospectos nosso, com nossos próprios conhecimentos e experiência, e trazê-lo a vocês em português: passamos um bom tempo analisando tudo que podíamos sobre os prospectos das ligas menores, assistindo vídeos, compilando estatísticas, lendo relatos e análises especializadas, e tirando nossas próprias conclusões sobre esses jogadores, para então montarmos a nossa própria lista com os 100 melhores prospectos do beisebol no momento. É uma forma de tornar mais acessível e compreensível para o público brasileiro em geral a informação sobre esses jogadores, tão pouco conhecidos e que podem ter um impacto muito grande em um futuro próximo.
O que vocês estão prestes a ler é a forma como nós - Vitor Camargo, do Two-Minute Warning, e Vinicius Veiga, do Spinball Net - decidimos montar essa lista dos "100 Melhores Prospectos" do beisebol, com base em todo tipo de videos, estatísticas e opiniões educadas. Antes de passarmos para os finalmentes e para a lista em si, queria só esclarecer três tópicos: primeiro, explicar exatamente como funciona a lista, quais foram os critérios utilizados e o que isso significa; depois, explicar a forma como estamos apresentando isso, em forma de cartões, e o que significa cada parte do cartão; e por fim, um rápido glossário para quem não conhece ou não está acostumado com os termos e abreviações usados.
Espero que aproveitem.
Sobre a lista
Para compor essa lista, e julgar quais prospectos eram os melhores (e portanto foram classificados melhores) e quais acabaram sendo deixados de fora, usamos principalmente quatro critérios:
a) Potencial - Esse é talvez o mais importante. O que importa para qualquer time não é o que esses jogadores são hoje, quando ainda não estão contribuindo nas ligas maiores. O que importa é o que esses atletas serão quando atingirem esse estágio, e ainda mais, o quão bom eles podem ser depois que chegarem na MLB. Se um jogador tem, por algum motivo, chances realistas de ser um candidato a MVP em algum ponto no seu futuro, pode ter certeza que isso vai ser ótimo para seu valor.
b) Realização - Em outras palavras, o quanto do jogo desse jogador é uma certeza já realizada? Potencial é ótimo, mas o quanto desse potencial vai ser realizado de um jogador é uma incógnita. Quanto mais longe no seu desenvolvimento estiver e quanto mais perto de atingir um nível aceitável esse jogador vai estar, maior será o que já sabemos sobre ele, mais perto de contribuir na MLB estará, e menor vai ser a incerteza em torno do seu futuro. Isso é importante.
c) Risco - Isso está um pouco contido em "realização", mas pode assumir diferentes formas. Um jogador com grande potencial, mas ainda muito cru e longe de atingi-lo, oferece um risco considerável para a organização pois se seu desenvolvimento não ocorrer como esperado, ele não vai ter muito valor para oferecer nesse "pior cenário". Da mesma forma, um jogador avançado e muito próximo das grandes ligas oferece um risco muito menor de fracasso. Risco também pode aparecer sobre outras formas: risco de lesões (para jogadores que tem dificuldade em ficar saudáveis ou que estão vindo de uma contusão séria recente e ainda apresentam dúvidas sobre sua recuperação), risco de personalidade que possa atrapalhar uma carreira, risco por causa de um conjunto de habilidades que costuma ter menores chances de funcionar no longo prazo, e tudo mais.
d) Posição - É um simples fato, mas algumas posições são mais valiosas que a outra, seja pelo seu papel defensivo maior, seja pela sua relativa escassez nas ligas maiores. Isso é importante na hora de determinar o valor desses jogadores.
Fizemos também o possível para eliminar fatores de contexto: não importa se um jogador está sendo "travado" na sua organização porque um jogador melhor ocupa a mesma posição nas ligas maiores, o que importa aqui é o valor do jogador para o mercado como um todo, não apenas para seu time.
Claro, é sempre difícil conciliar esses quatro tópicos na hora de avaliar. Naturalmente, entre dois jogadores com mesmo potencial, mas um mais avançado em seu desenvolvimento, ele será mais valioso como prospecto. O mesmo acontece se dois jogadores estão no mesmo nível mas um tem potencial muito superior. E se um for uma realidade maior, mas outro tem mais potencial? E se jogam em posições muito diferentes, ou um está voltando de lesão? Ai que entra o problema, e por isso é tão difícil montar essa lista. Chegamos no que consideramos ser o melhor resultado possível, porém, sempre vai haver alguma discordância ou pessoas que valorizam de forma diferente outros critérios.
Muitos jogadores dessa lista vão decepcionar e acabar abaixo do que falamos sobre eles, outros irão superar em muito seu status, e outros que nem estão nessa lista acabarão fazendo sucesso. Avaliar prospectos é uma das coisas mais difíceis dos esportes, e portanto vamos acertar alguns jogadores dessa lista e errar outros. Até por isso é importante não obcecar demais com a colocação precisa de cada um - obviamente consideramos os prospectos 1-10 muitos melhores que os de 40-50, mas só porque um é 54 e outro 56 não quer dizer que exista muita diferença entre eles. É tudo uma questão de ponto de vista.
Apresentação
Os prospectos estão organizados em formatos de cartas, que trará algumas informações sobre os jogadores para melhor situar os leitores sobre quem eles são, aonde estão na escala das ligas menores, e quais foram suas performances recentes. Esse é o modelo da carta que vai ser utilizado:
O modelo da carta desse ano é uma referência aos lendários baseball cards, os cartões de beisebol tão populares nos Estados Unidos desde o começo do século passado. Para quem não conhece, as cartas projetadas pela Topps são colecionadas quase como ações da bolsa de valores, ganhando ou perdendo valor de mercado com o tempo dependendo da sua raridade, da carreira do jogador em questão, e da qualidade da carta. Elas estão em circulação desde 1900, e as vezes são consideradas quase como uma representação da história do esporte, algo profundamente importante para um jogo que se liga tanto em tradição. Essas cartas - especialmente as dos craques do começo do século 20, como Honus Wagner e Ty Cobb - chegam a valer centenas de milhares de dólares e, em alguns casos, até a ultrapassar a barreira dos milhões. Um bom exemplo é esse card histórico do grande Jackie Robinson. Então como referência à história do esporte e desse fenômeno tão interessante decidimos homenagear esses cards com os cartões dessa edição do Top100.
Mas vamos aos cartões propriamente ditos. No superior da carta, mais à esquerda, você tem as informações principais sobre o prospecto: seu nome e a posição (ou posições) que ele joga ou projeta jogar ao longo de sua carreira, logo depois da sua posição nessa lista. Logo abaixo, você encontra algumas informações sobre seu desenvolvimento: sua idade, qual o seu braço dominante quando está lançando ou arremessando, qual a organização a qual pertence e, entre parênteses, qual foi a liga mais alta por onde atuou em 2015 (mesmo que por pouco tempo), para dar uma noção do quão perto das grandes ligas esse jogador está.
Abaixo dessas informações temos a grande novidade dos cartões desse ano: um total de estrelas para cada jogador, para mostrar quão bom ele é em dois quesitos específicos. Voltaremos a falar delas daqui a pouco.
No lado esquerdo da carta, assim como nos lendários cards da Topps, você encontra a foto do jogador em questão. E em um pequeno quadrado no canto direito da imagem tem um resumo com as estatísticas do jogador no último ano que atuou. Nessa linha, as estatísticas cumulativas (home runs e bases roubadas para rebatedores, entradas arremessadas, strikeouts e walks para arremessadores) valem para todo o ano inteiro, somando diferentes níveis por onde o jogador passou. Já as estatísticas relativas são aproveitamento no bastão (AVG), porcentagem em base (OBP), e slugging (SLG) para rebatedores, e ERA e FIP para arremessadores (ver glossário abaixo). Para essas não usamos as do ano todo, e sim as relativas ao nível no qual o jogador passou mais tempo significativo na temporada. Isso também está indicado entre parênteses logo depois do ano. Não necessariamente vai ser o mesmo nível mais alto que ele chegou, indicado no centro da carta, pois depende de qual ele passou mais tempo significativo.
No lado direito, na parte de cima, homenageamos Oscar Taveras com as suas iniciais e o número. Uma forma de manter viva a memória da grande promessa dos Cardinals que faleceu em 2014, quando era um dos principais nomes da nossa lista de prospectos.
Mas vamos aos cartões propriamente ditos. No superior da carta, mais à esquerda, você tem as informações principais sobre o prospecto: seu nome e a posição (ou posições) que ele joga ou projeta jogar ao longo de sua carreira, logo depois da sua posição nessa lista. Logo abaixo, você encontra algumas informações sobre seu desenvolvimento: sua idade, qual o seu braço dominante quando está lançando ou arremessando, qual a organização a qual pertence e, entre parênteses, qual foi a liga mais alta por onde atuou em 2015 (mesmo que por pouco tempo), para dar uma noção do quão perto das grandes ligas esse jogador está.
Abaixo dessas informações temos a grande novidade dos cartões desse ano: um total de estrelas para cada jogador, para mostrar quão bom ele é em dois quesitos específicos. Voltaremos a falar delas daqui a pouco.
No lado esquerdo da carta, assim como nos lendários cards da Topps, você encontra a foto do jogador em questão. E em um pequeno quadrado no canto direito da imagem tem um resumo com as estatísticas do jogador no último ano que atuou. Nessa linha, as estatísticas cumulativas (home runs e bases roubadas para rebatedores, entradas arremessadas, strikeouts e walks para arremessadores) valem para todo o ano inteiro, somando diferentes níveis por onde o jogador passou. Já as estatísticas relativas são aproveitamento no bastão (AVG), porcentagem em base (OBP), e slugging (SLG) para rebatedores, e ERA e FIP para arremessadores (ver glossário abaixo). Para essas não usamos as do ano todo, e sim as relativas ao nível no qual o jogador passou mais tempo significativo na temporada. Isso também está indicado entre parênteses logo depois do ano. Não necessariamente vai ser o mesmo nível mais alto que ele chegou, indicado no centro da carta, pois depende de qual ele passou mais tempo significativo.
No lado direito, na parte de cima, homenageamos Oscar Taveras com as suas iniciais e o número. Uma forma de manter viva a memória da grande promessa dos Cardinals que faleceu em 2014, quando era um dos principais nomes da nossa lista de prospectos.
Por fim, temos do lado direito do card uma breve descrição do jogador para situar os leitores, contando um pouco mais sobre suas habilidades, projeções e tudo mais. E ao final da carta, no canto inferior da imagem (lado esquerdo) uma comparação com um jogador da MLB.
Sobre a comparação, o "estilo de jogo" do final, queria esclarecer exatamente o que isso significa. Ela nada mais é do que uma tentativa de achar um jogador recente (o ano de corte foi 2000, dando preferência para jogadores atuais) que tenha um estilo semelhante de jogo, seja por possuir o mesmo conjunto de habilidades, as mesmas forças ou fraquezas, ou mesmo uma trajetória semelhante na sua carreira. A comparação não significa NADA em termos de habilidade ou potencial, e nem foi pensada como tal. Só porque um prospecto foi comparado a um certo jogador não quer dizer que tenha o mesmo talento, que vai ser tão bom quanto ele, ou então que não possa ser melhor. Da mesma forma, só porque um prospecto foi comparado a um jogador melhor que outro não quer dizer que esse prospecto seja melhor ou pior. A comparação não foi pensada para ser assim, e portanto é inútil obcecar demais com ela. É só um "guia", mais nada.
Antes de acabar, vamos apenas retomar a questão das estrelas. Como vocês podem ver, elas foram atribuídas para dois quesitos diferentes: "Atual" e "Potencial". Elas indicam exatamente o que parecem: o quão bom o jogador é nesse determinado quesito. No quesito "Potencial", avaliamos o quão bom esse jogador seria no seu melhor cenário possível para o futuro, o quão bom ele pode ser com seu conjunto de habilidades se conseguir atingir seu máximo. E o quesito "Atual" diz o quão próximo de realizar suas habilidades ele está, quão "pronto" para utilizá-las para produzir em alto nível. É importante frisar que isso não quer dizer que o jogador esteja perto do seu potencial, ou perto de estar "pronto" - nenhum jogador de 21, 22 anos está. Isso também não quer dizer o quão bom o jogador é hoje. Só quer dizer que, para o conjunto de habilidades que aquele jogador possui, ele está mais ou menos próximo de desenvolver essas habilidades a ponto de poder produzir no curto prazo.
Também é importante frisar que essas notas não querem dizer nada em absoluto - elas são totalmente comparativas. Não é que um cara com potencial 5 estrelas tenha potencial de MVP, um 4 estrelas de All-Star, etc. Elas foram feitas por comparação: nós pegamos aquele jogador da lista que considerávamos o "cinco estrelas" de cada quesito, e a partir dele fizemos uma comparação com os demais jogadores da lista para saber onde eles se encontram em relação ao benchmark. Assim, ter uma nota baixa (digamos, um 2 em potencial) não quer dizer que o jogador não tenha nenhum potencial, ou não possa evoluir mais - só quer dizer que esse potencial é comparativamente menor em relação ao resto dos jogadores da lista.
Por fim, vale lembrar que esses dois NÃO são os únicos quesitos pelo qual julgamos jogador. Não é só porque um jogador tem mais estrelas que outro que ele será um prospecto melhor, e você vai achar jogadores acima de outros com "ratings" melhores. É porque tem muitos outros fatores em avaliação - valor da posição, fatores de risco, lesões, estilo de jogo, evolução ao longo do tempo, etc - que influenciam em onde acabamos colocando esses jogadores. As estrelas são só para evidenciar melhor dois dos componentes dessa avaliação. Vai ser comum, por exemplo, ao chegar na segunda metade da lista achar jogadores com mais estrelas do que os da primeira metade. Mas eles não estão mais alto por causa de fatores de risco, problemas de lesão, baixa amostra para serem julgados entre os profissionais, e outros fatores que fazem com que eles caiam. Como de costume, usem essa informação mais como um guia, como um auxílio, do que como a verdade absoluta.
Glossário
Esse glossário é para explicar os ternos e siglas usados nessa coluna. Se você já sabe, pode ir direto para a próxima seção e descobrir quais são os 100 melhores prospectos da MLB. As abreviações e termos usados são:
AVG - Aproveitamento no bastão. Conta quantas as idas de um jogador ao bastão renderam rebatidas.
OBP - Porcentagem em base. Mostra qual a porcentagem de idas ao bastão que o jogador chegou salvo em base.
SLG - Slugging. É uma medida de força, quantas bases totais um jogador consegue por ida ao bastão.
SB - Bases roubadas
HR - Home Runs
ERA - Número de corridas que um arremessador cede a cada 9 entradas de jogo
FIP - Estatística que mostra o ERA "real" de um jogador considerando apenas o que ele pode controlar (saiba mais sobre o assunto aqui)
IP - Número de entradas arremessadas por um pitcher
SO - Strikeouts. Número total de rebatedores que um arremessador elimina por strikes
BB - Walks. Rebatedores que um arremessador coloca em base errando os arremessos
Sobre posições
C - Catcher
1B - Primeira base
2B - Segunda base
3B - Terceira base
SS - Shortstop
OF - Jogador do campo externo
LF - Joga no lado esquerdo do campo externo
RF - Joga no lado direito do campo externo
CF - Joga na parte central do campo externo
Pitcher - Arremessador
RHP - Arremessador destro
LHP - Arremessador canhoto
Bullpen - Arremessador que não é titular, que vem do banco durante os jogos
Sobre as ligas menores, do nível mais baixo ao mais alto
R - Rookie
A- - Low-A/Short-season A
A - Mid-A
A+ - High-A
AA - Double-A
AAA - Triple-A
MLB - Major League Baseball, as ligas maiores
Acho que é isso de enrolação. Vocês estão prontos para ir para a lista de fato, e enfim conhecer os 100 melhores prospectos do beisebol.
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