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sexta-feira, 4 de março de 2016

O grande problema do Oklahoma City Thunder

OKC tem um problema sério, e nenhuma solução à vista



Na noite de quarta feira, no jogo mais esperado do dia, OKC tinha uma vantagem de 22 pontos sobre o Los Angeles Clippers no final do terceiro quarto. Com uma revanche contra Golden State no dia seguinte, parecia o cenário perfeito para o Thunder: uma boa vitória sobre um grande time para dar confiança, e um cenário no qual você poderia descansar alguns titulares no quarto período para se preparar para o confronto do dia seguinte.

Ao invés disso, tudo desandou: OKC manteve os titulares, os arremessos pararam de cair, e OKC perdeu a calma e implodiu em meio a uma sequência de más decisões, turnovers estúpidos, arremessos ruins e falhas defensivas. Nos últimos 7 minutos e meio, Thunder anotou 5 pontos, Westbrook foi 0-6 de quadra, e viu o Clippers destruir uma vantagem de 17 pontos rumo a uma vitória que deixou o terceiro colocado do Oeste cada vez mais próximo de um confronto com o Warriors na segunda rodada dos playoffs.

Infelizmente para OKC esse cenário não é uma novidade: os quartos períodos tem sido um problema real para o time. O time está 2-6 desde a volta do All Star Game, e em quatro dessas seis derrotas o time chegou a ter a vantagem no quarto período antes de tomar a virada. Aconteceu contra o Pacers logo na volta do "feriado", depois duas viradas épicas de Warriors e Clippers, e por fim a surra de ontem a noite do Warriors em Oakland. O Thunder agora soma incríveis 10 derrotas em jogos que entrou vencendo no quarto período, pior marca da NBA, na frente até mesmo do fraquíssimo Sixers

Isso também não é um fenômeno recente ou surpreendente. Ao longo da temporada, Oklahoma City tem o segundo melhor ataque da NBA e terceiro melhor Net Rating (saldo de pontos por 100 posses de bola), mas quando chegamos nos finais dos jogos isso cai por terra. Em quartos períodos, Oklahoma tem apenas o décimo melhor ataque, e é um fraquíssimo 19th em Net Rating. Pegando apenas o final dos jogos - o famoso crunch time - e definindo nosso parâmetro como 3 minutos finais de jogos separados por 5 pontos (para mais ou para menos), os números são ainda piores: O Thunder tem o 13th melhor ataque e o oitavo PIOR Net Rating da liga. Para efeito de comparação, o Net Rating do time nessas situações é de -10.6 - exatamente o mesmo que o Philadephia 76ers tem na temporada 2015-16 da NBA.

Dificuldade em crunch time é um problema antigo em OKC, e foi um dos fatores chaves da saída do técnico Scott Brooks. A chegada de Billy Donovan deveria corrigir essas questões, em particular a estagnação ofensiva que assola o time nessas situações de fim de jogo. Mas até agora, não funcionou. O time, que já era ruim, pareceu ter ficado ainda (relativamente) pior essa temporada. E embora isso possa ser atribuído em partes a uma amostra pequena e um período ainda de adaptação ao novo técnico, é um motivo para grande preocupação em uma temporada como essa - especialmente considerando o término do contrato de Kevin Durant ao final da temporada.

Como vocês ficarão chocados em saber, eu tenho algumas ideias sobre o que pode estar causando esse problema.

Um problema - e um dos principais - é a forma como o time reestruturou seu ataque. Embora a base seja a mesma - poucos passes, muita isolação, bola na mão das estrelas - o técnico Donovan fez uma mudança importante: Russell Westbrook agora é quem é o foco ofensivo da equipe (em termos de volume), e não mais Kevin Durant.

Para mim, era uma mudança que fazia muito sentido: Westbrook evoluiu em um excelente criador (#2 na NBA em assistências, com 10.3 por jogo), então deixar a bola nas suas mãos e deixar West operar através do pick and roll (E atacando a cesta) é a melhor forma de criar chances para o resto do elenco do Thunder, um elenco que (salvo Durant e talvez Waiters) não tem condições de criar seu próprio arremesso. Ao mesmo tempo, Durant é um jogador que comanda MUITO mais atenção do que Westbrook jogando longe da bola por conta de seu arremesso, o que força maiores movimentações do adversário e abre muito mais espaço para o resto da equipe (mais ou menos como Atlanta usa Korver e o Warriors usa Curry fora da bola, por exemplo). E no geral, parece estar funcionando: Oklahoma City tem hoje um Net Rating de 109.1 de acordo com os dados oficiais da NBA (2nd melhor da história da franquia) e de 112.8 de acordo com os dados extra-oficiais do Basketball-Reference (melhor da história da franquia), em ambos os casos #2 da NBA.

No entanto, vale questionar se essa abordagem tem contribuído para os problemas do time em crunch time. Durant é um dos melhores jogadores de crunch time da NBA, mas colocar a bola integralmente nas mãos de KD significa desviar do que o time faz normalmente e mudar toda sua forma ofensiva de jogar, o que naturalmente pode causar todo tipo de estranheza. Ao mesmo tempo, manter a bola nas mãos de Westbrook também não tem se mostrado uma grande opção: por melhor que Russ seja, ele ainda tem a tendência de as vezes jogar um pouco fora de controle e ficar um pouco tunnel vision, especialmente em crunch time, e sem um bom arremesso de longe para manter defesas honestas, adversários estão mais do que satisfeitos de fechar o caminho para o garrafão e deixar Russ se complicar sozinho. Em 130 minutos de crunch time na temporada, Russ está arremessando 38% de quadra, 13% de três pontos e tem 18 turnovers contra 26 assistências. Então ainda que de modo geral faça sentido essa nova forma de OKC atuar, é possível que tenha contribuído para aumentar as dificuldades da equipe em crunch time.

Outros problemas que tem contribuído para essa dificuldade do Thunder já são bem conhecidos. A equipe não tem um ataque dinâmico ou inteligente, o tipo de ataque que envolve espaçamento de quadra e muitos passes para achar os companheiros livres que consagrou times como Warriors ou Spurs. O que OKC tem é um sistema muito estático e de pouca criatividade que se baseia no fato de ter dois talentos ofensivos transcendentais em KD e Russ Westbrook capazes de destruírem sozinhos marcações e esquemas defensivos inteiros:  nenhum time passa menos a bola do que OKC, e nenhum termina mais posses de bola através de isolações, segundo dados da Synergy Sports. Não existe um esquema complexo, jogadas bem desenhadas e decisões de alto QI de basquete envolvidas, e sim o talento sobre-humano de duas superestrelas.

Na maior parte do tempo, isso funciona porque Russ e KD são aliens e conseguem carregar nas costas o time rumo a um ataque top5. Mas isso não tem sido verdade em crunch time. Em um momento do jogo onde as defesas ficam mais ligadas e o ritmo diminui, o ataque de OKC se torna extremamente previsível, com as defesas sabendo o que o Thunder fará e ajustando de acordo: fechando o garrafão contra Westbrook e mandando marcações duplas contra Durant, despreocupadas com movimentações ou jogadas criativas e decisões em alta velocidade que podem fazê-los pagar por essas decisões. Faça isso contra o Spurs ou o Warriors e eles irão te tirar da zona de conforto com trocentas screens, movimentações, cortes e passes destinados a liberar suas estrelas e/ou conseguir arremessos de altos aproveitamentos para os role players, e se a defesa se comprometer demais com uma opção, a versatilidade e inteligência desses times imediatamente vai aproveitar os espaços deixados para atingir seus objetivos. O Thunder não tem esses elementos em alto nível no seu ataque ou nos seus jogadores, então eles se tornam previsíveis e dependem continuamente de Russ e KD fazendo jogadas individuais, só que agora com defesas muito mais atentas e preparadas especificamente para parar essas jogadas individuais.

Claro que Donovan - assim como Brooks antes dele - tem jogadas e variações específicas para serem usadas nessas situações, mas quando é algo que o time não está acostumado a fazer normalmente é muito difícil que eles executem em situações de pressão contra defesas mais atentas e bem montadas. Muito do basquete de hoje não depende de algo desenhado e sim da capacidade dos jogadores de tomarem decisões certas em alta velocidade, e isso é algo que é impossível de fazer só em momentos específicos, depende de repetições, treino e experiência. Donovan chegou com a esperança de mudar exatamente esse aspecto do seu predecessor, mas até agora, está difícil achar grandes diferenças nesse sentido. 

Por fim, existe outro grande problema em Oklahoma City, que é o elenco de apoio ao redor de suas duas estrelas. Na verdade, são dois problemas que acabam se influenciando e tendo um único resultado, que eu inclusive já citei em mais de um Hack a Cast: OKC tem muita dificuldade de achar um time ideal para usar no final dos jogos, justamente por causa dessa limitação do elenco. Desde que trocaram James Harden (não se preocupem, não vou bater nesse cavalo morto) o time não tem outra peça confiável capaz de criar o seu arremesso de forma consistente e eficiente, para ajudar a aliviar a pressão de Russ e West em crunch time (com a possível exceção de Reggie Jackson). Harden não só oferecia mais uma opção para criar jogadas com a qual a defesa precisava se preocupar - abrindo o espaço para os companheiros - como também era uma opção para desafogar o ataque quando a ação iniciaç de Russ ou KD estagnava. Se a defesa matava a jogada inicial, Harden era uma opção capaz de manter o fluxo do ataque, atacar espaços e manter o ataque em funcionamento, sem deixar a defesa voltar a se estabelecer. Mas desde sua saída, OKC não tem nenhum jogador capaz de fazer essa função. Quem cerca o Big Three de OKC hoje são role players com pouca variação ou repertório, ninguém que a defesa precise respeitar ou seja capaz de aproveitar as ações iniciais do ataque ou mesmo de manter o ataque funcionando. 

Isso leva ao segundo problema, que é o cobertor curto de opções do time. Qual é a melhor lineup para fechar jogos para OKC? Russ, KD e Ibaka são no brainers, mas quem mais? Waiters e Kanter tem uma chance melhor de desafogar o ataque e oferecer opções de pontuação, mas Waiters é ineficiente (40 FG%) e imprevisível, e ambos são enormes problemas defensivos que o adversário pode simplesmente atacar de novo e de novo até Donovan não ter opção senão tirá-los de quadra. As outras opções são jogadores defensivos como Adams ou Robertson, que não arremessam e podem ser ignorados ofensivamente, congestionando novamente assim o ataque. Não existe uma solução para essa questão no elenco de OKC hoje. Em uma NBA que cada vez mais valoriza jogadores versáteis com nenhuma falha que possa ser explorada, o Thunder simplesmente não tem jogadores assim o suficiente para cercar KD e Westbrook de forma eficiente. Cameron Payne provavelmente seria quem mais se aproxima disso no papel, mas o calouro claramente não tem a confiança do técnico ainda para ganhar minutos significativos. E esse é o grande problema que OKC enfrenta hoje: não adianta jogar de igual para igual ou até um pouco melhor do que seus principais adversários durante 43 minutos se o time não consegue manter o ritmo nos 5 minutos finais e continua entregando grandes vantagens. E apesar de tudo que se aplica sobre amostra pequena e adaptação, existem motivos legítimos para crer que essas dificuldades não são passageiras.

Com duas estrelas do nível de KD e Westbrook, talvez isso não importe - OKC tem condição de bater de frente com qualquer um com base no talento bruto de suas estrelas, e enquanto elas estiverem saudáveis, o Thunder será um candidato ao título. Mas em uma temporada com tanta competição no topo - e dois times em níveis históricos como Golden State e San Antonio - você quer apresentar o mínimo possível de fraquezas, e nesse momento, Oklahoma City tem uma significativa que começou a mostrar sua cara na pior hora possível. Isso não acaba com as chances de título da franquia, mas se continuar assim, elas diminuem consideravelmente. 

5 comentários:

  1. Cara, lendo esse texto fiquei a me fazer perguntas idiotas; na dúvida, vou compartilhar com você. Mas, reitero, imagino se tratar de uma grande bobagem. Sei que os triângulos estão fora de moda e que NYK tem sido uma experiência fracassada na tentativa de implementá-los. Também tenho dúvida se é um sistema que funcionaria sem o maior jogador de todos os tempos ou seu mais perfeito clone. Dito isso: não seriam os triângulos uma tentativa válida para esse time do OKC? Sei lá, mas com os talentos de Westbrook e Durant, talvez funcionasse. Abraços

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    1. Eu não entendo muito de basquete só que o triangulo me parece um dos esquemas que precisaria de coisas que o elenco do Thunder é muito ruim fazendo. O triangulo necessita de movimentação constante de bola, principalmente vindo do garrafão.

      Sei que parece brincadeira, mas para o ataque do Thunder eu tentaria algo como o ataque do Blazers ou o oposto como um esquema parecido com o do D'antoni.

      O que vcs acham do Westbrook?Daria para tentar mudar ele mais?Ele ainda esta com 27 anos e talento de sobra. Se continuar a jogar nesse esquema onde ele controla o volume de jogo não seria o caso dele acostumar e fazer as mesmas jogadas que funcionam nos outros 3 periodos?Pode não haver muito tempo e exatamente por esse motivo acho que valeria a pena não tentar uma mudança muito grande no esquema até a offseason.
      Daria para fazer com o Thunder o que o Popovich fez no Spurs alguns de suas estrelas(Ginobili e Parker)?Ambos ficaram engessados nas jogadas e esquemas do Spurs até eles fazerem o que o esquema pede mesmo que com o talento deles poderiam fazer mais.

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    2. Eu não sou nem de longe tão crítico do triângulo - acho que o problema não é o esquema em si (que se baseia em conceitos universais como movimentação de bola e leitura de jogo) e sim o fato dele andar sendo implementado só por pessoas com visões muito retrógradas de basquete.

      Dito isso, concordo com o Ases, acho que isso limita a expressão individual de KD e West e passa a precisar de conceitos que o elenco não é capaz de executar em alto nível. Acho que o que eles precisavam focar era justamente na movimentação da jogada - screens, cortes, movimentações, etc. Coisas que desafogam longe da bola.

      Sobre o West, ele é o que ele é, e não adianta tentar mudar. Eu acho que ele não tem o QI de basquete avançado para fazer essa leitura das diferentes situações, e embora a repeitção possa ajudar, acho que não vai nunca ser um Steve Nash ou John stockotn nos quartos períodos. Acho que o que você tem que fazer nos quartos períodos é simplificar ao máximo a tarefa dele, usando os jogadores fora da bola para criar alguma confusão que o Wst pode explorar ANTES de bater pra dentro. Hoje, com o tempo pouco que eles tem, não acho que adiante fazer nenhuma grande mudança nisso.

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  2. Ótimo texto, mudou o técnico e os problemas ainda persistem e tudo fica muito previsível, feliz por ver um novo texto aqui no TMW toda semana venho aqui olhar se ta rolando algo novo.

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    1. OBrigado! O tempo anda escasso pra manter o ritmo, mas vou tentar manter atualizado sempre quer der! Valeu pelo apoio!

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