Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

E Dwight consegue o que queria

"Estou levando meus talentos para a Califórnia"


É, eu sei, hoje deveria ter sido o dia do segundo post do nosso Especial NBA, com Jerry West e Oscar Robertson. O post já ta quase terminado também, dava pra terminar ainda hoje... Mas como apareceu essa noticia importante hoje, prefiro fazer esse post logo pra acabar logo com isso, e segunda feira (sem falta!) postar West-Oscar. Então vamos falar da troca envolvendo quatro times que terminou com Dwight Howard indo pro Lakers.

Acho que, antes de mais nada, eu fiquei ao mesmo tempo feliz e puto com essa noticia. Feliz porque, pelo menos, não vou mais ter que gastar minha paciência ouvindo boatos idiotas de "Para onde vai Dwight Howard?"... Ou pelo menos por seis meses até chegar a hora dele renovar o contrato ou não. Então sempre tem esse lado positivo.

O negativo, que me fez ficar puto? Eu odeio o Lakers. É pré-requisito pra torcer pro Celtics, acho. Mas o Lakers sempre da um jeito de sair por cima de qualquer situação. Pegar Shaq na Free Agency. Adquirir Pau Gasol por quase nada. E agora, um assalto a mão armada pra cima do Magic que da ao Lakers de presente o melhor pivô da NBA. Depois de convencer o Suns a trocar o seu maior ícone (Steve Nash) pro seu maior rival e time que os torcedores do Suns mais odeiam. E tudo isso sem perder nenhum ativo do seu elenco além de Andrew Bynum. Tudo da certo pra essa franquia. Good God, eu odeio o Lakers. Então vamos olhar mais de perto o efeito dessa troca, começando com...


Los Angeles Lakers
Perdeu: Andrew Bynum, escolha protegida de primeira rodada (2017)
Recebeu: Dwight Howard, Chris Duhon

Senhoras e senhores, o grande vencedor da troca. E por mais que eu odeie o Lakers, preciso admitir: O Lakers jogou essa mão com muita inteligência. Desde o começo soube que o Magic estaria desesperado para arrumar uma troca (especialmente quando o Nets trocou por Joe Johnson), não cedeu à pressão do Magic (que queria Bynum E Gasol), e deixou a coisa rolar. Até porque o Lakers sabia que não valia a pena perder Gasol E Bynum por Howard. Não aceitou o contrato de Turkoglu junto da troca, e deixou claro que não estava desesperado pela troca, e que quem tinha tudo a perder era o Magic (alias, trazer Nash, campeão do prêmio "Jogador que Metade da Liga Mataria para Jogar Junto" da decada passada, sem dúvida ajudou). E acreditou que isso, somado ao glamour de Los Angeles, fosse atrativo para Dwight a ponto de ele insistir em ir para lá e deixar o pobre Magic sem muita escolha (a possibilidade do Dwight nao assinar uma extensão afastava diversos potenciais parceiros).

O que o Lakers mudou nessa troca? Bom, trocar o segundo melhor pivô da Liga pelo primeiro significa que o time melhorou naquela posição, no papel, certo? Especialmente se o Lakers não teve que envolver nenhum outro ativo pra realizar a troca (e nao envolveu). Mas na prática, o Lakers sacrificou um pouco de ataque (Bynum é um pivô com mais recursos no ataque) pra ganhar uma defesa superior e melhores rebotes, um jogador mais atlético e fisicamente mais overpower em relação ao resto da Liga. E sinceramente, isso é exatamente do que o Lakers precisava. O Lakers já tem Nash pra segurar a bola e tomar decisōes, tem Kobe Bryant (que não vai desistir de arremessar 23 vezes) pra arremessar varias vezes, e ainda tem Gasol, que é muito mais eficiente ofensivamente que Dwight. E essa é a grande vantagem do Dwight pra esse time: Ele não precisa da bola na mão, ele não precisa ficar sendo acionado pra ficar feliz. No Magic, ele tinha que ser o carregador de piano no ataque, mas no Lakers ele vai ser apenas mais uma opção em um time cheio delas no ataque. Vai pegar uns rebotes de ataque, completar uns passes faceis do Nash, umas pontes aéreas, e eventualmente vai ter a bola pra criar seu arremesso quando tiver um miss match... E é disso que o Lakers precisa dele no ataque. Enquanto isso, ele torna o Lakers mais forte nos rebotes e na defesa. Vale lembrar que Nash nunca foi um bom defensor e Kobe já passou faz algum tempo do seu auge defensivo, mas com Dwight protegendo os dois, isso vai importar ainda menos. Ele da ao Lakers a proteção necessária, não atrapalha a fluência ofensiva do time porque não precisa ficar tocando na bola pra ficar feliz, e torna eles um time muito mais perigoso.

Alias, curiosamente, essa aquisição vai de encontro à tendência que vimos nos ultimos playoffs. Com Thunder e Heat jogando longos periodos de tempo (e melhor!) sem pivôs nos playoffs, e com times como Celtics já usando há mais tempo um ala de força na posição 5, parecia que a falta de pivôs de elite na NBA estava empurrando a Liga pra um jogo mais baixo, mais atlético e mais versátil, com jogadores como Lebron, Carmelo Anthony ou Kevin Durant como "novos" alas de força. Ao invés disso, o Lakers reforça o garrafão e pode criar um sério problema pros novos times "baixos" que tavam dominando a NBA. Vai ser interessante ver como esses dois estilos de jogo vão bater um com o outro... E se o Lakers conseguir forçar Thunder, Heat e cia a jogarem fora desse estilo pra não tomarem uma surra nos rebotes, então o Lakers da um grande passo pra temporada que vem. Mais por vir em 2013...

Outros ganhadores dessa troca do lado do Lakers: Nash, que pela primeira vez na vida vai jogar com um bom shot blocker atrás dele (suas fraquezas defensivas sempre foram constantemente expostas por nunca ter jogado com um); Kendrick Perkins, que agora vai manter seu contrato por mais tempo já que ele tem uma função na NBA (Parar Dwight, que agora ta no Oeste); e o próprio Dwight, que vai jogar na California, em um time que briga pelo título, e que se fizer o Lakers ganhar esse título vai fazer todo mundo esquecer de como ele foi infantil, babaca e ridiculo nessa sua novela pra sair do Magic e vai acabar com sua ficha limpa (eu reclamei que a The Decision foi imaturo e cruel com o Cavs, mas os ultimos 12 meses do Dwight Howard fazem o The Decision parecer sensato).


Philadelphia 76ers
Perdeu: Andre Iguodala, Moe Harkless, Nikola Vucevic, escolha protegida de primeira rodada
Recebeu: Andrew Bynum, Jason Richardson

Acreditem, eu gosto muito do Andre Iguodala. Não, sério, eu realmente adoro o Iguodala, acho um excelente defensor, criativo, bem atlético e bom passador. Mas o fato é que o Sixers se tornou um time melhor com essa troca, mesmo perdendo Iggy.

As criticas ao Sixers ano passado gravitavam em torno dessas três coisas: Que o time tinha alas atléticos e incapazes de arremessar demais no elenco; que o time não tinha um jogador pra levar o ataque do time nas costas por mais tempo; e que você não ia ganhar nos playoffs se seu melhor jogador era Andre Iguodala. Bem, de certa forma, essa troca ajudou nas três coisas: O time se livrou de dois dos alas atléticos incapazes de arremessar (Iggy e Moe Harkless), trouxe um ótimo pontuador no garrafão e que pode se beneficiar muito dos arremessadores de três do time espaçando a quadra... E deu um upgrade no seu melhor jogador de Iggy para Bynum. E por mais que eu goste do Iggy, o Bynum é melhor, é mais dominante, mais confortável carregando seu ataque... E isso já funciona como um upgrade pro Sixers.

Na prática, essa troca tira do elenco um jogador que tem substitutos e adiciona um jogador que o time desesperadamente precisava (um jogador dominante de garrafão) e que talvez não tenha rivais em todo o Leste (tirando Tyson Chandler). A troca deixa o Sixers menos poderoso defensivamente no perímetro, mas melhora muito na defesa de garrafão e nos rebotes. Sério, da pra imaginar o upgrade de subir de Spencer Hawes pra Bynum? Hawes pode ate jogar de ala de força junto com Bynum, mas o ex-pivô de LA é muito mais jogador. O time ainda tem Dorrell Wright, Evan Turner, Nick Young, Jrue Holiday e Thaddeus Young (que eu gosto mais como um 4, mas whatever) pro perímetro, e uma boa coleção de jogadores de garrafão. Faltava um jogador dominante pra abrir pro resto do time ofensivamente, e agora ele chegou. E o Sixers assumiu um risco, mas se der certo, o time sai mais forte.

Um pensamento rápido: Embora não tenha sido incluido nessa troca pro Magic se livrar do seu contrato, eu acho que o Jason Richardson pode ser muito util pro Sixers. Ele deu azar porque saiu do melhor cenário possível (jogar com Nash em Phoenix, onde ele fazia quase 20 ppg) pra um time onde ele não tinha um bom armador, um time previsível da linha dos 3 pontos e sem um pivô pra atrair dobras (a NBA ja sabia que a melhor maneira de parar o Magic era deixar o Dwight jogar no mano a mano a vontade). Mas ele não é tão ruim como pareceu, ainda é rapido pra acompanhar contra ataques e mortal dos três pontos, vai casar muito bem com Bynum e dar a Philly um legítimo perigo da linha dos três.


Denver Nuggets

Perdeu: Aaron Afflalo, Al Harrington, escolha protegida de primeira rodada em 2014
Recebeu: Andre Iguodala

O Nuggets aparentemente tem essa mania de reassinar seus Free Agents por uma nota pra depois trocá-los o mais rápido possível. Foi assim com Nenê, e foi assim agora com Aaron Afflalo. E o Nuggets consegue algo que precisava desesperadamente: Um ala. Não é como se o time tivesse no elenco jogadores como Danilo Gallinari ou Wilson Chandler, certo?

(Oh wait!)

Brincadeira, brincadeira. Mas apesar de ser verdade que o Nuggets ta agora com uma coleção de alas, eu ainda gosto da troca por dois motivos. Primeiro, são alas com características diferentes e complementares, de forma que podem muitas vezes jogar juntos para formaçōes diferentes. E segundo e mais importante, eu gosto muito do Afflalo, mas o Iggy torna o time mais atlético, mais versátil e melhor defensivamente. O time já tem bons chutadores de longe e bons pontuadores, de forma que o Iggy não vai ter que ser o responsável por carregar o ataque como fazia em Philly (E não funcionava), mas vai trazer pro Nuggets um defensor de perímetro de elite (por mais que eu gostasse do Afflalo como defensor, Iggy é melhor, mais versátil defensivamente e mais destrutivo conseguindo tocos, roubos e puxando contra ataques) e um jogador mais versátil que o Afflalo. Ainda que o Al Harrington tenha tido um bom 2012, ele é dispensável e seu contrato é imenso, então o Nuggets se limpa um pouco nessa.

A escolha de primeira rodada também não fará muita falta pro Nuggets. Eles tem duas em 2014 (Knicks), e já tem um excesso de jogadores jovens que precisam de minutos pra desenvolverem. Acho que eles preferem trocar essa escolha por um upgrade Afflalo-Iggy numa boa. O Nuggets teve um bom ataque e um ótimo banco em 2012, deu muito trabalho pro Lakers nos playoffs com seu garrafão jovem e energético, mas teve problemas defensivamente e as vezes sentiu falta de outro jogador além do Ty Lawson pra segurar a bola e conduzir o ataque. E o Iggy ajuda em muito nessas duas coisas, torna o time mais atlético no perímetro e da mais flexibilidade (Iggy pode jogar nas posiçōes 2 e 3, pode jogar de Point Foward se necessário) e lá ele finalmente pode abraçar seu papel de coadjuvante, aquele cara que faz todo o trabalho sujo e facilita o jogo pra todo mundo. Dado isso, eu acho que o Iggy faz mais sentido que o Afflalo pra esse time, mesmo com os problemas nos arremessos. Boa troca por um GM que já tem colecionado bons momentos nos últimos anos. Olho nesse time...


Orlando Magic
Perdeu: Dwight Howard, Jason Richardson, Chris Duhon, seu futuro
Recebeu: Aaron Afflalo, Al Harrington, Moe Harkless, Nikola Vucevic, três escolhas protegidas de primeira rodada (de três times de playoff)

Como eu acabei de passar uns 10 parágrafos falando, eu achei que Lakers, Sixers e Nuggets se saíram bem com a troca. Não só porque eu achei que todos os jogadores adquiridos se encaixam perfeitamente nas necessidades dos seus novos times e completam os elencos já estabelecidos de excelente forma, como também achei que todos os times se deram bem em termos de valor. O Lakers, apenas em termos de talento e valor, saiu ganhando ao trocar Bynum por Dwight, indiscutivelmente. Sixers e Nuggets não tiveram tanto esse salto em valor, mas pra mim sairam com uma certa vantagem nesses quesito também. Mas se três times saíram com um certo "lucro" em termos de valor nessa troca, um time teria que sofrer uma grande perda, certo? Entra o Orlando Magic.

O Magic já tava com medo de perder o Dwight por nada como aconteceu com Cavs e Raptors, e queria seguir os passos do Nuggets e do Jazz de trocar sua superestrela e conseguir um monte de coisa em troca (tanto Nuggets como Jazz reinventaram seus times e foram aos playoffs). Mas o problema era que ninguém tinha tanta coisa pra oferecer pelo Dwight e a Liga não tinha nenhum time tão desesperado mais pra fazer esse tipo de coisa, a proposta mais comentada era um pacote de bolachas do Nets montado em volta de Brook Lopez (que de alguma forma ganhou um contrato máximo na offseason). Então o Magic segurou... Segurou... E não apareceu nenhuma proposta irrecusável. E ai eles acabaram aceitando uma proposta do Lakers que... Bem... Fede.

O Magic, como não tem nada construido em volta de Dwight (e portanto não poderia fazer como o Nuggets, pegar bons role players pra completar o time), deveria ter focado em quatro coisas, quanto mais melhor: Pirralhos com potencial pra acelerarem a reconstrução; muito teto salarial; um possível Franchise Player pra ser o centro do time no futuro; escolhas boas de Draft. Foi o que fez o Grizzlies, por exemplo, quando trocou Gasol (liberou teto salarial, ganhou escolhas de Draft e o pirralho Marc Gasol) e o Jazz quando trocou Deron Williams (ganhou otimas escolhas de Draft, liberou espaço salarial e trouxe o pirralho com muito potencial Derrick Favors). E o que o Magic conseguiu disso? Alguns pirralhos sem muito potencial (gosto do Nikola Vucevic, acho um jogador decente, mas não vai acelerar muita coisa)... Nenhum centro de reconstrução como Bynum... Escolhas de Draft protegidas de times que devem ir aos playoffs de qualquer forma... Sinceramente, a única coisa que o time fez foi liberar espaço salarial (mandando embora J-Rich, Chris Duhon e pelo visto Earl Clark), mas trouxe também Afflalo (um excelente role player em um time montado - algo que o Magic nao é e não está perto de ser) que também tem um salario bem alto. Ou seja, perdeu seu Superstar em troca de um role player caro, escolhas inuteis de Draft e jogadores que não adicionam em muito ao elenco. Se o Nuggets e o Jazz aceitaram 80 centavos pelo dólar, o Magic aceitou 20 centavos pelo dolar. E isso porque eu gosto do Afflalo.

Sinceramente, se o medo era tanto de perder Dwight por nada, porque não aceitar a oferta suicida do Rockets, limpar espaço salarial com o contrato expirante do Kevin Martin, pegar uma futura escolha de Draft (alta se Dwight decidir sair) e ainda receber de lambuja os calouros ultra-interessantes do Rockets? Mil vezes melhor do que o pacote de restos que recebeu ao mandar Dwight pro Lakers! Voce continua sem ganhar um Franchise Player, mas ainda limpa espaço salarial (até mais se conseguir se livrar de mais contratos), enche o time de calouros promissores e que podem dar em coisa muito boa, e ainda pode tirar a sorte com uma escolha de Draft! Ou até mesmo ficar com o Bynum nessa troca, que pelo menos é um potencial Franchise Player? Vai saber. Vai ver era o medo do Bynum não assinar uma extensão. Vai ver o Rockets deu pra trás com medo do Dwight sair do time (embora supostamente eles estivessem dispostos a correr o risco) e foi o que restou pro Magic. Vai saber. Embora eu ainda ache que a solução mais fácil seja a correta: A direção do Magic é simplesmente incompetente e, no medo de  perder Dwight por nada, aceitou a primeira proposta que apareceu pra se livrar logo do seu pivô. Btw, não descarte essa última tão fácil.

Bottom line, o acordo foi excelente pro Lakers, bom pro Nuggets, arriscado pro Sixers (porque Bynum ainda pode sair ao final do ano, e sua imaturidade vai ficar mais exposta como centro do time em Philly) mas que pode trazer uma grande recompensa pra um time que precisava de um chacoalhão... E péssimo pro Magic. O time não conseguiu nada em troca e ainda ficou com mais um contrato grande pra quando  o time for remontar, não tem base nenhuma e, sinceramente, se a esperança é "mas pelo menos o time vai ser ruim e pode conseguir uma boa escolha de Draft"... Nao valia mais a pena tentar um negocio mais arriscado (como pegar Bynum ou manter Dwight ate o final do ano, já que a alternativa dele era ir pro Mavs por menos dinheiro, menos tempo e pra um time mais ou menos fraco) que se desse errado o time AINDA entrava em reconstrucao do zero, mas pelo menos teria tentado uma cartada mais alta? Porque não trocar Dwight por um monte de escolhas de Draft e Al Horford com o Hawks? Porque não pegar um monte de pirralhos, feder um ano e continuar com uma boa escolha de Draft? Sinceramente, o Magic praticamente pegou a pior alternativa. E vai pagar o preço a não ser que o Moe Harkless vire o novo... Hm... Esquece, o Magic ainda vai pagar o preço. Sabia que eles não renovaram com Ryan Anderson e o trocaram pro Hornets, mas reassinaram Jameer Nelson por um contrato enorme? E lá vamos nós de novo pra reconstrução... 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Especial NBA - Bill Russell e Wilt Chamberlain


Pra quem não sabe que Especial é esse e pra que ele serve, leiam esse post antes.

Bill Russell (Boston Celtics, 1965)
Wilt Chamberlein (Los Angeles Lakers, 1972)


Começando nosso Especial, acabei achando que era melhor fazer os posts seguindo algum tipo de cronologia. Por que? Porque eu cheguei à conclusão que a história da NBA é como a história que estudamos no colégio. Em outras palavras, ela não é composta de fatos isolados, e sim uma coisa contínua que vai se construindo em cima de si mesma, evoluindo e mudando. O jogo de basquete em 1965 era totalmente diferente do jogo jogado em 1996. As pessoas que jogavam eram diferentes. As regras, os estilos eram diferentes. E portanto, como vamos abordar diversos times em épocas diferentes ao longo desse Especial, é extremamente importante colocar cada time no seu contexto histórico, cada um jogando em uma Liga um pouco diferente. E portanto, vamos começar do time mais antigo, o Celtics de 1965 do Bill Russell, e do time do seu maior rival, o Lakers de 1972 de Wilt Chamberlain.

Antes de mais nada, a história da NBA pode ser dividida em quatro etapas: Pre-Shot Clock, Pre-Russell, Pre-Merger, e o que veio depois. A primeira delas, Pre-Shot Clock, basicamente não interessa do nosso ponto de vista. Pra quem não sabe, até 1955, os jogos de basquete não tinham o relógio de 24 segundos, e portanto placares como 42 a 36 eram extremamente comuns. Afinal, o time que estava ganhando podia simplesmente ficar segurando a bola, sem nenhuma regra que o forçasse a arremessar. O resultado obvio era que os jogos ficavam extremamente chatos, lentos e de placares baixos, o que ameaçou acabar com a Liga, com sua popularidade muito em baixa. Foi apenas em 1955 que o grande Danny Biasone decidiu criar o Shot Clock, que dava um tempo limite (24 segundos) para os times arremessarem. A partir dai apenas que o basquete virou realmente basquete de verdade, e portanto eu praticamente descarto o que aconteceu em quadra antes disso. Não era realmente basquete. Mas então se o basquete da NBA virou basquete de verdade depois da criação do Shot Clock em 1955, e a NBA virou a NBA que conhecemos hoje depois da fusão entre a NBA e a ABA em 1977 (falaremos mais disso em outro post), porque separar o período entre esses dois marcos entre Pre-Russell e Pós-Russell??

Porque a chegada de Russell (não apenas ele, mas ele foi o mais importante de todos junto com Elgin Baylor) mudou a cara da NBA pra sempre. A NBA, antes de Russell e Elgin, era composta quase que só por atletas brancos, mais baixos e mais lentos, e infinitamente menos atléticos do que vemos hoje. O jogo de basquete era jogado apenas abaixo do aro, onde ninguém defendia. Praticamente consistia de jogadores pegando rebotes, saindo na correria, tentando um arremesso rápido e voltando correndo pra defesa. Não tinha nenhuma eficiência (o FG% da Liga pre-Russell era abaixo dos 40%, ridiculo), era um jogo extremamente cansativo e chato de assistir (tirando uns poucos jogadores como Bob Cousy) e a Liga começou a enfrentar cada vez mais problemas de falta de popularidade pelo seu jogo chato e pouco atraente para os fãs. 

Isso mudou com a chegada na Liga de Russell e Baylor. Pela primeira vez, a NBA teve dois jogadores que mostraram que basquete poderia ser jogado acima do aro. Tanto Baylor (com seu ataque baseado em saltos e no tempo que ele conseguia permanecer no ar pra criar arremessos de alto aproveitamento que ninguém era capaz de contestar além de Russell) como Russell (com sua explosão, impulsão e capacidade atlética em geral, virou a maior máquina de tocos da história do esporte - imagine soltar o Dwight Howard na WNBA) foram os pioneiros desse novo estilo de basquete explosivo, acima do aro (e infinitamente mais divertido) que mudou a direção da Liga e pavimentou o caminho pra NBA como conhecemos hoje. E por conta a superioridade física, jogadores como Russell, Baylor e, futuramente, Wilt estavam num nível muito superior em relação ao resto da Liga (A chegada de Russell quase sozinha acabou com a carreira dos muitos pivôs branquelos e lentos que dominavam a Liga antes da sua chegada. Antes esses pivôs podiam dar seus arremessos e ganchos, lentos e baixo, a vontade, pois ninguém tinha altura e atleticismo pra bloquea-los. Com Russell e o influxo subsequente de jogadores negros e fortes? Eles não tinham a menor chance).

Ainda assim, estamos falando do final dos anos 50/começo dos anos 60. O racismo não era de forma alguma um assunto passado nos EUA, e mesmo com a entrada de jogadores negros na NBA empurrando o jogo em uma direção muito melhor, ainda havia muita resistência a esses jogadores. A Liga ainda era predominante branca, muitos times (como o Hawks, por exemplo) não tinham nenhum jogador negro, e por mais que ficasse claro que os negros eram mais adequados ao esporte com jogadores como Russell, Wilt e Baylor dominando a Liga, a regra não escrita da época ainda era de "No máximo dois jogadores negros por time" (o único time que constantemente ignorava isso era justamente o Boston Celtics. Adivinhe que time ganhou 11 titulos em 13 anos?).

E ai entra a figura mais importante da cartolagem da NBA nos anos 60, Red Auerbach. O técnico/GM do Boston Celtics era, sem outra palavra pra isso, um visionário, à frente do seu tempo. Percebeu logo de cara o potencial de jogadores como Russell e Elgin para dominar essa Liga, investiu em Russell (draftado em 1958 junto com Tommy Heinson), e começou a recrutar jogadores negros (Sam Jones, KC Jones, etc) pra jogar junto de seu pivô. O Boston Celtics, que já tinha um bom núcleo com os veteranos Cousy e Bill Sherman, e as infusōes de Russell, Heinson e Frank Ramsey (calouros), dominou a NBA rumo ao título, cenário que se repetiu nos anos seguintes (Tirando o ano seguinte, 1958, quando perderam para os campeōes Hawks graças a uma lesão em Russell). Aos poucos, juntando o bom núcleo, a liderança de Russell e os recém-chegados como os Jones, o Celtics acabou montando os times mais recheados de talento da história da NBA (numa época onde só tinhamos 8 times era mais fácil) entre 1960 e 1962, ganhando vários títulos. Até hoje, a lembrança que fica daqueles times de Auerbach é a imagem dos times sempre lotados de talento de 1960-62.

No entanto, o time que está no NBA 2K12 é o Celtics de 1965, três anos depois de 1962. Entre 63 e 65, o time já tinha perdido muito em termo de talento: Sherman, Cousy e Ramsey tinham aposentado, Heinson estava muito menos efetivo do que antes, e o time jogava sem nenhum armador além de KC Jones (um excelente defensor, mas incapaz de arremessar ou pontuar, e nunca um bom criador). Ainda que tivesse um bom núcleo com Russell, Sam Jones e um John Havlicek sophomore (ainda longe de ser o Havlicek que viria a ser um dos melhores jogadores da história), nem de longe era o time recheado de talento, claramente superior ao resto da Liga que fora alguns anos antes. O time vivia basicamente confiando em Russell pra defender o aro, cobrindo as falhas de todo mundo, e KC Jones pro perímetro (enquanto todo mundo guardava as energias pro ataque), e todo o ataque do time era baseado na habilidade de passes e de defesa de Russell, seja dando um toco de forma a começar um contra ataque, seja pegando um rebote e fazendo o passe pra algum jogador em velocidade, ou até mesmo na meia quadra confiando na sua capacidade de distribuir o jogo e achar companheiros cortando em direção à cesta, como viria a fazer Bill Walton 12 anos depois (curiosamente, a capacidade transcendental de Russell nos passes, fazendo todo o ataque do time rodar em torno disso apos a aposentadoria de Cousy, acabou sendo esquecida historicamente - não é o tipo de coisa que se possa captar com estatísticas, certo?). Mas o Celtics ainda teve dificuldades pra ganhar o título esse ano, especialmente sete jogos pra passar por cima do Philadelphia 76ers, um time lotado de talento e liderado por Wilt Chamberlain.

Wilt, na verdade, não começou sua carreira no Sixers, e sim no San Francisco Warriors, onde colecionou números impressionantes, recordes e até um MVP, mas nunca conseguiu fazer nada nos playoffs mesmo jogando com dois Hall of Famers (futuramente um terceiro) e alguns All-Stars. Quando o Warriors se encheu de ter que lidar com a individualidade e problemas de vestiário do Wilt, e tendo Nate Thurmond pra apostar no futuro de pivô, trocaram ele por umas migalhas com o Sixers. Lá, a rivalidade Russell x Wilt ressurgiu de novo (afinal, Wilt cansou de ter seu traseiro chutado por Russell em SF). Wilt estava no auge dos seus poderes, e embora Russell já tivesse passado um ou dois anos desse ponto, ainda estava jogando em altíssimo nível. Ainda que o time de Wilt em SF não fosse ruim (não da pra ter times ruins com apenas 8 na Liga, é impossível), sempre fora inferior aos times de Russell (a excessão foi justamente em 1964, quando eram bem parelhos), mas agora em Philly com Hal Greer, Lucious Jackson e Chet Walker, a história era que Wilt finalmente iria assumir seu lugar no topo da Liga.

A rivalidade entre Wilt e Russell, desde o começo, era previsível. Dois jogadores que estavam em outro plano em relação ao resto da Liga. Russell chegou primeiro e estabeleceu o Celtics como uma dinastia com suas proezas defensivas e jogo voltado para o time. Quando Wilt entrou na Liga alguns anos depois, a expectativa era de que ele fosse dominar no nível de Russell e transformar o Warriors na potência do Oeste pra bater de frente com o Celtics. De certa forma, aconteceu: Wilt dominou a Liga como ninguém, acumulou estatísticas que impressionam qualquer um até hoje e se estabeleceu como uma força imparável... Individualmente, porque ele nunca conseguiu transformar isso em sucesso de equipe. Ainda assim, o confronto entre os opostos Russell (ápice da excelência defensiva, jogador de equipe) e Wilt (extremamente individualista, personificação da dominação ofensiva) como os dois melhores jogadores da NBA sempre foi um assunto fascinante pra Liga e pros que a acompanhavam. Eles passaram boa parte dos anos 60 se enfrentando diretamente (com os times de Russell sempre levando a melhor, mas enfim), seus times sempre foram os que atraíram mais atenção, e junto com Elgin foram os três jogadores mais importantes da década de 60. 

E na verdade, esse é meu maior problema com os times históricos do 2K12 (junto com o fato de que deixaram Elgin de fora e incluiram Patrick Ewing): Eles colocaram o time de Wilt sendo o Lakers de 72, um ano que Russell já estava aposentado da Liga! O time de Russell sendo o de 65, mesmo não sendo o melhor ou mais recheado de talento da sua carreira, pode ser explicado por ter tido o melhor record da era Russell (62-18) e porque esse ano teve talvez o momento mais famoso dessa epoca e um dos mais famosos da história da NBA (já chegaremos la). Wilt no Lakers, onde ele já estava na descendente da sua carreira, e pra piorar em um ano onde ele não enfrentou Russell? Absurdo! Wilt pegou o Lakers de 1972 simpesmente porque não dava pra deixar esse time de fora (foi o melhor Lakers pré-Magic e um time muito importante), mas por que não colocar Jerry West com o Lakers de 72 (onde ele foi o melhor jogador) e Wilt no Sixers de 67, no auge de seus poderes e durante sua rivalidade com Russell (e no único ano que ele venceu)? Não faz sentido. Realmente não faz.

(Tangente rápida: Um dos problemas pra dar um time ao Russell vem do fato de que o Celtics nunca teve uma temporada Keyser Soze, aquela temporada que o time simplesmente joga não pra vencer, mas pra destruir e massacrar todo mundo e provar um ponto e que geralmente vingam por anos a fio, como por exemplo o Bulls de 96, o Celtics de 86 ou o Lakers de 87. Por que? Porque eles ganhavam todo ano!! Como motivar um time pra temporada regular quando eles nunca tinham nada a provar e só esperavam os playoffs? Se o Celtics tivesse perdido, digamos, para o Lakers em 62, em 63 eles teriam vindo soltando fogo, jogando com sangue nos olhos e sede de vingança, ganho 70 jogos e teriamos a nossa temporada marcante para o Celtics de Russell. Mas eles só foram perder em 67, quando já estavam muito enfraquecidos pra fazer esse tipo de massacre. E surpresa, eles ganharam em 68 mesmo assim)

A temporada de 1965 acabou com o Celtics vencendo o Lakers, mas o jogo definitivo da temporada foi o jogo 7 das Finais do Leste, onde o Sixers de Wilt levou a série a 7 jogos. O Jogo 7 dessa série é um dos mais famosos de todos os tempos da NBA, um jogo que foi decidido nos segundos finais, com Celtics um ponto na frente e que terminou com a lendária roubada de Hondo ao som de "Havlicek stole the ball!! It's all over!!". Foi o sétimo título consecutivo do Celtics (eles ainda chegariam a oito antes de Auerbach aposentar e o Celtics perder para o Sixers em 67) em um time que nem de longe estava tão estocado de talento mas que ainda tinha Sam e KC Jones, Havlicek novinho e, claro, Russell comandando o time. Abaixo o vídeo da roubada de Havlicek que definiu a série:


Os anos seguintes foram duros para o Celtics. Heinson aposentou antes da temporada de 1966 (venceram Philly em 5, depois Lakers em 7 nas Finais), e KC Jones e principalmente Auerbach aposentaram (com Russell assumindo de jogador-técnico) antes da temporada 1967. Com o pior time do Celtics da era Russell e com Wilt - pela primeira vez - aceitando jogar coletivamente e envolver os companheiros ao invés de arremessar 40 bolas por jogo, Wilt conseguiu seu primeiro titulo com o Sixers e parecia que finalmente ele iria sair da sombra de Russell... Até o Celtics ganhar em 68, o Sixers ficar de saco cheio de lidar com as manias de Wilt e trocá-lo para o Lakers por mais um pacote de Bono vencido (Em 1968, Wilt se irritou com a imprensa o chamando de "egoista" e decidiu provar de uma vez por todas que não o era. Como? Liderando a liga em assistências - perfeito pra quem achava que estatísticas eram tudo no basquete - mesmo que as custas da sua equipe. O Sixers terminou com a melhor campanha mesmo assim - o time estava transbordando talento - mas perdeu para o Celtics nos playoffs em sete principalmente porque Wilt estava tão obcecado em assistências que deu apenas dois arremessos no segundo tempo do jogo 7, e reclamou depois que seus companheiros erraram os arremessos. Depois não entendem porque Wilt foi trocado duas vezes no seu auge).

A chegada de Wilt em Los Angeles, é claro, foi um fenômeno de mídia nacional. Não só o jogador mais polarizador em termos de mídia (e que declarou ter dormido com 20.000 mulheres) estava indo pra Hollywood, como o Lakers era um time que tinha vindo de várias finais e que tinha Elgin (um pouco passado do seu auge graças a uma lesão no joelho) e West. O Lakers destruiu todo mundo pelo seu caminho na temporada regular, chegou na Final como favorito, abriu 2 a 0 no Celtics (um time extremamente velho e baleado que terminou em quarto no Leste)... E perdeu em sete jogos, em Los Angeles, com Wilt mofando no banco apesar de Jerry West ter média de mais de 45 pontos por jogo. So there! (A grande injustiça de 1969 não foi West não ganhar o título, e sim Russell não ter ganho Coach of the Year - me diga outro técnico na NBA que jogasse 40 minutos por jogo)

Apos o titulo, Russell aposentou e Wilt (já passado do seu auge) herdou o titulo de melhor jogador da NBA por default. Passando rapidamente por 1970 (quando o Lakers perdeu na final para o Knicks, no famoso jogo do "And here comes Willis!" que vai ganhar o devido respeito se um dia eu postar do Knicks de 1970) e 1971 (esperem o próximo post, mas Wilt estava machucado), o Lakers chegou em 72 com a definitiva cara de quem está puto e querendo provar um ponto: Foram três anos onde tudo estava a favor do Lakers e eles perderam, mas ainda era um time estocado de talento e com Wilt, West e Gail Goodrich. Se tinha um ano pro Lakers emendar uma temporada Keyser Soze e aniquilar todo mundo no seu caminho, era essa.

E aconteceu? Pode apostar que sim! No começo da temporada, Elgin Baylor aposentou, sentindo as lesōes e o desgaste e afirmando que "O time é muito bom, e eu não quero atrasá-los, que é o que aconteceria se eu ficasse" (o que me faz gostar mais ainda do Baylor - me diga outro jogador na história da NBA que teria feito isso, lembrando que Baylor nunca tinha ganho um anel e esse ano o Lakers era de longe o favorito). O Lakers (porque infelizmente Baylor tinha razão) se encaixou, West assumiu de vez o comando do time, o técnico Bill Sharman convenceu Wilt a jogar em equipe e se focar mais em defesa e rebotes (o que ele fez), Goodrich emergiu como um excelente coadjuvante pra West, e o Lakers acabou emendando uma sequência de 33 vitórias seguidas (mais longa da história da NBA) e colocou o ponto de exclamação numa temporada quase perfeita com um título. 

Entre todos os times campeōes pre-Merger, o Lakers de 1972 provavelmente foi o segundo colocado no quesito Keyser Soze de "Holy hell, esses caras realmente dominaram e massacraram todo mundo no caminho!" atrás do Bucks de 1971 e logo na frente do Sixers de 67 e do Knicks de 70 (de novo, o time que ganhou 11 titulos em 13 anos nunca teve uma temporada dessas porque eles se entediavam demais durante a temporada regular). Além de ter tido a maior sequencia de vitórias da história da NBA, o Lakers terminou com um point diferential medio de 12.3, teve o melhor ataque E a melhor defesa da temporada, e terminou o ano 20-6 contra times com 49 vitórias ou mais. Ninguém estava encostando nesse time em 1972, ponto! Essa temporada só precisa ser engolida com um grão de sal porque em 1972 a Liga estava começando a expandir (e portanto a diluir) - sem falar no efeito concorrencial da ABA, que estava tirando da Liga vários talentos jovens e, em geral, os jogadores negros e atléticos - e porque Willis Reed estava machucado (e ele era o melhor jogador do maior rival do Lakers), mas ainda assim, 33 vitórias é um recorde que provavelmente nunca vai cair e não da pra negar que o Lakers era um time lotado de talento que destruiu todo mundo no caminho, finalmente dando a West o título que ele merecia. E sem Bill Russell pra atrapalhar (que aliás foi dar um abraço no Jerry West, feliz da vida por ver o Logo ganhando finalmente um anel. Não tinha maior fã de Russell que Jerry West, e vice versa). De novo, porque esse time não foi do West, mesmo? Ele era o astro, ele foi o melhor jogador, e ele que ganhou o primeiro título esse ano! Mas não importa, porque esse Lakers merecia estar aonde está. Uma pena que Baylor não pudesse ter estado lá.

Dois últimos pensamentos rápidos: Primeiro, sempre aceitem estatísticas dessa época entre 55 e 70 com uns quinze grãos de sal. Estatisticamente, não existe período mais inflacionado do que esse na NBA. Era uma época sem linha de três pontos, onde a correria e a má seleção de arremessos ainda predominavam, e qualidade sobre quantidade ainda dominava a Liga apesar de jogadores como Baylor. Cada time arremessava cerca de 110 bolas, e cada time pegava cerca de 90 rebotes por jogo, ou mais. Fica mais fácil entender como Russell e Wilt tinham médias de 20 rebotes por jogo, certo? Sabia que em termos de aproveitamento nos rebotes, Russ e West tiveram apenas as terceiras e quartas melhores marcas da história da NBA, atrás de Dennis Rodman e Moses Malone, por exemplo? Além disso, temos que considerar o fato de que esses jogadores jogavam numa liga predominante branca, baixa e onde ninguém jogava acima do aro além de uns poucos (e goaltendings ofensivos eram válidos). Dwight Howard solto numa liga de jogadores predominantemente brancos, baixos e pouco atléticos (algo como Brian Scalabrines clonados), sem goaltending e arremessando 42 bolas por jogo não dominaria como Wilt dominou e teria médias de 50-22? Provavelmente sim. Talvez eles tivessem dificuldade de se adaptar ao jogo de hoje, por exemplo, e com certeza não dominariam daquela forma. Não podemos descartar, portanto, o efeito da era sobre essas estatísticas. Mas não importa. Não muda o fato de que eles foram pioneiros, dominaram a Liga por anos a fio, e mudaram de vez o jogo pra melhor. Um Rolls-Royce de 2010 é um carro melhor que um de 1960, mas o de 1960 era muito mais impactante pra época, e mais importante. 

Pra terminar, eu sei que tinha prometido não entrar em comparaçōes entre jogadores, mas tem uma que eu não consigo ignorar, que é entre Russell e Wilt (e btw, já aviso que não vou aprofundar no assunto. Isso é assunto para outro post, que eu talvez faça simplesmente porque esse debate envolve tudo que eu acredito sobre basquete). O que eu acho mais engraçado nisso é que isso não era um debate quando Russell (e depois Wilt) se aposentou e nunca foi. Mas isso prova exatamente o ponto que eu fiz no post anterior, usando como exemplo Tim Duncan e Karl Malone: Conforme o tempo passa, as memórias vão se apagando, os vídeos vão ficando mais raros e difíceis de serem encontrados, testemunhas oculares vão envelhecendo... E tudo o que sobra desses jogadores são alguns poucos relatos e diversos dados - pontos, rebotes, assistências, títulos, MVPs, All-Star Games, All-NBA e All-Defenses Teams, etc. E quando não temos mais nos que nos basear, acabamos recorrendo a isso para formar nossas opiniōes. Quando isso aconteceu com Wilt e Russell, as pessoas começaram a olhar os dados e falar "Wilt teve médias de 50 pontos e 22 rebotes em 1962?? Russell nunca passou de 25!! Wilt era muito superior!!" e "Wilt marcou 100 pontos em um jogo?? Woah!", e isso acabou ficando quase definitivo paara avaliar os dois jogadores. E quando essas concepçōes baseadas em fatos tão parciais começam a não bater com a realidade (o fato de que Russell que ganhou 11 títulos, e Wilt apenas dois), começa a se distorcer a realidade para se encaixar nessas preconcepçōes, gerando mitos como o famoso "Wilt não ganhava títulos porque sempre teve times fracos enquanto Russell sempre teve grandes times!" (uma grande mentira quando olhamos pros últimos cinco ou seis anos da carreira de Russell), e tudo porque a avaliação baseada apenas nos números é uma avaliação extremamente limitada. Os números servem pra refletir o melhor no jogo de Wilt (sua capacidade para dominar um jogo individualmente), mas os números não mostram os muitos defeitos de Wilt (o quanto ele destruia seus times por ser um fominha, o fato dele colocar seus números e sua "imagem" na frente da equipe, sua aversão à bola em jogos apertados pelo medo de sofrer faltas, sua má influência no vestiário, etc), enquanto que Russell não tem números tão imponentes (principalmente porque não contavam tocos na época) como Wilt, principalmente porque o melhor do seu jogo (seus passes magistrais que foram o centro do jogo do Boston por tantos anos, sua liderança, o efeito dele colocar o time e a vitória na frente de gloria pessoal ou números, sua inteligência em quadra, o fato dele sempre aparecer quando seu time mais precisa) não podem ser capturados por nenhum número além do fato de que ele ganhou onze títulos. Ainda que "número de títulos" seja muito vagos pra avaliar a amplitude da carreira de um jogador, nada reflete melhor o jogo de Russell do que o fato de que ele acabou sua carreira com mais títulos que qualquer outro jogador.

Adequadamente, o legado que Wilt e Russell deixaram pras geraçōes posteriores foram exatamente o que eles mais valorizaram ao longo de suas carreiras: Wilt, que valorizava os seus números e sua, digamos, imagem mais do que tudo, deixa números espetaculares e superiores a todos os outros. Russell, que valorizava seu time e a vitória acima de tudo, deixa seus onze títulos. Mas infelizmente, nós nunca aprendemos a valorizar o que fez Russell ganhar esses onze aneis, porque não temos outros números mais simples e diretos apoiando. E justamente porque isso é o que acaba ficando de uma era passada, Russell vs Wilt virou um debate. Mas nunca deveria ter virado. Porque, francamente, nunca foi um até o tempo interferir.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Especial NBA - Os times históricos

Provavelmente, ninguém aqui sabe quem é esse cara. Ainda.



Tudo começou com uma declaração dada pouco antes das Olimpiadas pelo técnico Mike Kra... Krz.. Hmm, pelo Coach K, técnico da seleção masculina de basquete dos EUA. A declaração, feita quando perguntaram pra ele sobre o que o Kobe Bryant significa pro time em relação a experiência e sua carreira vitoriosa, envolveu a seguinte afirmação: Kobe Bryant é um dos cinco maiores jogadores de todos os tempos.

Até aí, tudo bem. É a opinião dele, não é uma opinião absurda (como seria se ele disesse, por exemplo, que Eddy Curry é um dos melhores pivôs da NBA), e como o Denis do Bola Presa disse, é o tipo de coisa que os técnicos falam com um número qualquer, sem fazer um ranking ou coisa assim, apenas pra ilustrar um ponto (no caso, que Kobe era um jogador muito importante pela sua história na NBA e era diferente ter uma lenda como ele no time - dois fatos). Não tenho nenhum problema com ele dar a declaração ou mesmo em ele achar isso, embora eu discorde do status que ele deu ao Kobe pelos meus critérios pessoais uma pessoa pode tranquilamente montar um argumento a favor desse status e terá um caso bem forte a favor do Kobe. E ponto!

O problema foi que essa declaração foi feita na era da internet. Isso significa que, em questão de segundos, surgiram duzentas discussōes sobre o assunto, que logo evoluiram para o ridículo "Kobe ou Michael Jordan?". Primeiro de tudo, eu já odeio qualquer comparação com Jordan. MJ é nosso parâmetro de excelência no basquete, e por esse motivo de repente TODO mundo que é bom num nível diferente do resto (Kobe, Lebron, etc) tem que ser comparado ao Jordan e tem que fazer o que o Jordan fazia. Tudo bem, até entendo a vontade que todo mundo tem de ver outro Jordan, mas o problema é que de repente passa a impressão de que se o jogador NÃO for igual ao Michael Jordan, então ele fracassou, o que não tem nada a ver, simplesmente porque (pra mim) Jordan foi o maior jogador de todos os tempos. É que nem ir no cinema assistir The Dark Knight Rises e falar depois "The Dark Knight é melhor". Porque isso significaria algo RUIM pra TDKR? Dark Knight é sensacional, um dos meus filmes favoritos em todos os tempos, e ser inferior a ele nunca será um demérito. O mesmo pras comparaçōes com Jordan (que não deveriam acontecer antes de mais nada), ser diferente (ou inferior) a Jordan nunca será algo ruim para ninguém. Mas o problema é que com o excesso de comparaçōes vem a ideia de que ou o jogador foi/é/será igual a MJ, e se não for, ele fracassou. E por esse motivo, essas discussōes "Jogador X ou Jordan?" geralmente acabam com a galera tirando tudo de contexto e proporção, distorcendo fatos pra defender um ou outro, numa comparação que não deveria existir, simplesmente pra evitar que Jogador X seja "diminuido".

Mas pra falar a verdade, isso nem foi o que mais me incomodou. Conforme a discussão avançava, a galera começava a fazer seu próprio Top5 da história da NBA, e eu fiquei inconformado em como a galera era ignorante em termos da história da NBA. Não todo mundo, claro, mas uma boa maioria. Muitos Top5 eram coisas como "MJ, Kobe, Shaq", e quando alguém colocava um Larry Bird ou Kareem na sua, muita gente reagia com coisas como "Top5 esses caras não são!" ou "Nunca foram tão bons como Kobe/Shaq/Jason Kidd/etc". A galera cresceu vendo essa galera jogar, entendo isso, mas não saber quase nada sobre essas lendas é demais. E não foi a primeira vez que eu vi isso acontecendo por aqui: Quando eu falei, casualmente, sobre o Celtics de 86 e o Lakers de 87 num tópico do Facebook, muita gente só conhecia os times por terem Bird e Magic Johnson, por exemplo, ninguém sabia o impacto que esses times tiveram e exatamente o quão bom eles eram. Quando eu joguei no twitter um video do Blazers de 77' (Um dos meus times favoritos), alguém me perguntou porque ninguém falava desse time sendo que ele era tão espetacular de assistir - e quase ninguém sabia que esse time sequer tinha existido no twitter. As pessoas lembram de Wilt Chamberlein pelos seus 100 pontos e de Jerry West por ser o Logo da NBA, mas é só. Jogadores como Bill Walton, Earl Monroe, Dennis Johnson ou Bob Cousy, que não tem grandes números para sustentá-los, acabaram sendo esquecidos. Jogadores cujos números não mediam o tamanho do seu impacto no jogo, como Bird, Magic, Bill Russell e Walton acabaram historicamente prejudicados - nós sabemos que eram bons porque todo mundo fala que eram bons, mas quanto? (E sim, Tim Duncan será o próximo). E jogadores como Wilt, Karl Malone e Patrick Ewing, que tem números que saltam aos olhos, acabaram tendo seus defeitos "escondidos", o que se lembra deles em primeiro lugar são suas vantagens porque elas são captadas por algo palpável.

Claro, não é difícil entender porque isso acontece, especialmente com jogadores mais antigos. Conforme o tempo passa, as memórias vão se apagando, os vídeos vão ficando mais raros e difíceis de serem encontrados (menos agora que temos Youtube, mas enfim), testemunhas oculares vão envelhecendo... E tudo o que sobra desses jogadores são alguns poucos relatos e diversos dados - pontos, rebotes, assistências, títulos, MVPs, All-Star Games, All-NBA e All-Defenses Teams, etc. E quando não temos mais nos que nos basear, acabamos recorrendo a isso para formar nossas opiniōes. Isso não tem tanto problema em um esporte como baseball, que pode ser quase totalmente medido por estatísticas, mas basquete é um esporte extremamente mais difícil e subjetivo, e as estatísticas simplesmente não conseguem captar todo o impacto de um jogador. Daqui a 30 anos, um fã de basquete vai entrar no basketball-reference.com, ver as páginas de Karl Malone e Tim Duncan, comparar os números, e chegar à conclusão de que Malone foi melhor do que Duncan. E ele estará errado. 

Porque isso importa tanto? Eu não sei. Talvez não importe. Não pra vocês. Mas pra mim importa, e muito. Como alguém apaixonado por esportes, digo que tem coisas que não deveriam ser esquecidas, e basquete é um que vai muito além de números (como eu já disse), depende de observação, relatos históricos e tudo mais. E já que ir atrás de tudo isso é um uber-trabalho, a ideia aqui é facilitar o trabalho de vocês e entregar tudo já mastigado. Não faço isso por pensar que atualmente não temos times tão bons como antigamente (isso é verdade, aliás, mas já digo porque - e não tem nada a ver com talento) e por isso a NBA hoje é mais chata, digo porque tem coisas que deveriam viver. Assim como vou falar aos meus filhos que vi Kobe e Lebron, todo mundo que gosta de basquete deveria saber de como eram bons Bird, Magic e companhia. Não melhores ou piores, mas todos fazendo parte da mesma historia, a história da NBA.

E enquanto eu conversava disso com alguns seguidores no twitter sobre o assunto, o leitor Andre Stabile deu uma sugestão que eu achei excelente: Porque não fazer uma série de posts falando sobre os times históricos do NBA 2K12, um jogo que quase todo mundo comece e/ou já jogou? A galera conhece os times, eu só terei o trabalho de colocar cada um em seu contexto histórico e mostrar o que cada um significou pra Liga e pra Franquia em si. Achei a ideia excelente, e decidi colocar em prática.

Pra quem não sabe, a 2K pegou 15 estrelas aposentadas da NBA e colocou um jogo especial para cada um desses jogadores. Esses jogadores e seus times foram:

Michael Jordan (Chicago Bulls, 1993)
Magic Johnson (Los Angeles Lakers, 1991)
Larry Bird (Boston Celtics, 1986)
Kareem Abdul-Jabaar (Los Angeles Lakers, 1987)
Bill Russell (Boston Celtics, 1965)
Wilt Chamberlein (Los Angeles Lakers, 1972)
Jerry West (Los Angeles Lakers, 1971)
Oscar Robertson (Milwaukee Bucks, 1971)
Hakeem Olajuwon (Houston Rockets, 1994)
Isiah Thomas (Detroit Pistons, 1989)
Scottie Pippen (Chicago Bulls, 1996)
Julius Erving (Philadelphia 76ers, 1985)
Karl Malone (Utah Jazz, 1998)
John Stockton (Utah Jazz, 1998)
Patrick Ewing (New York Knicks, 1994)

O critério da 2K não foi pegar os 15 melhores jogadores da história ou algo assim, e sim pegar jogadores conhecidos do povo, que tiveram uma importância especial, um estilo de jogo interessante e/ou divertido, ou simplesmente os mais bolados. Por exemplo, Moses Malone foi um jogador melhor do que boa parte dessa lista, mas ele e Erving jogaram juntos nos 76ers e Erving sempre foi um jogador mais marketable e mais conhecido do publido, com um estilo de jogo mais empolgante, então colocaram Erving como a estrela e o time com os dois, simples assim. Entre os que ficaram de fora, destaco Elgin Baylor, o primeiro ala high-flying da NBA (Já tem West e Wilt daquele Lakers, ok, mas não podia ter colocado Wilt no Sixers de 67 - no auge dos seus poderes - e mais um Lakers com Baylor? E aliás, é ele na foto do começo do post), Charles Barkley (Um dos jogadores mais carismáticos da história da NBA) e Bill Walton (ficou saudável durante apenas 2 anos e meios... Mas nesses dois anos e meio, foi transcendental e ancorou um dos times mais espetaculares da história da Liga). Entre os principais times deixados de fora, destaco Sixers 67', Knicks 70', Blazers 77', Sixers 83' (segure essa até falarmos do Erving), Lakers de 2001 (segure mais quatro linhas)... E enquanto estamos falando disso, é um absurdo o Rockets de 94 ser o time do Hakeem quando o de 95 era bem melhor.

(Vale lembrar, três jogadores provavelmente estariam na lista caso já tivessem aposentados: Kobe, Duncan e Shaq, que ainda não tinha aposentado quando o jogo foi feito. Shaq provavelmente seria o Lakers de 2001, o melhor time pós-Jordan; Duncan teve seu auge em 2003, mas seu melhor time em 2007; e Kobe provavelmente ficaria com o Lakers de 2010, a não ser que o Shaq deixe o Lakers de 01 vago. Btw, tem 96% de chance do Lebron ser adicionado a essa lista em alguns anos).

Esses, portanto, serão os times a serem analisados aqui. E como eu disse, vale a pena, porque eram times como não vemos mais hoje em dia. Não, não se preocupem, eu não sou daqueles nostalgicos que ficam com frescura por "Mimimi, antigamente era tão bom, hoje a NBA não tem a mesma graça porque não temos mais jogadores como Magic, Bird e Jordan!". Essa minha afirmação nada tem a ver com o talento existente na NBA. Mas o fato é que os times hoje são piores que os de antigamente por dois motivos: Expansão, e crescimento dos salários. Imagine se a NBA eliminasse 8 times e distribuisse seus jogadores pelos demais times. Imagine agora também que os salários caíram drasticamente, o que permite que os times acomodem mais jogadores de alto nível nas suas folhas salariais. Bom, essa era a NBA nos anos 80, por exemplo. A expansão nos anos 90 diluiu em muito o talento na Liga, os times passaram a acomodar menos jogadores de alto nível, as rotaçōes pararam de ser tão profundas. Hoje, é muito difícil pra um time ter muitas estrelas ou jogadores de alto nível na rotação, mas sumindo com oito franquias e diminuindo os salários, você vai dizer que o nível dos times ficaria melhor, a Liga ficaria mais competitiva e os melhores times ficariam ainda melhores? É claro que sim!!

Um exemplo pra ilustrar. Em 1986, o Celtics tinha um time montado da seguinte maneira: Larry Bird, Kevin McHale, Robert PArish, Dennis Johnson, Danny Ainge, Bill Walton, Scott Wedman, Jerry Sichting, Sam Vincent, Greg Kite. Imagine se isso seria possível hoje em dia. Com mais times, muito dificilmente o Celtics teria ficado com Bird, McHale E Parish, muito menos DJ. Provavelmente dois deles teriam saidos, seja pros novos times ou seja pra times já existentes mas que teriam "perdido" outros jogadores pra essas franquias. A chance do Celtics ter tido um time titular com tantos craques era quase zero, e nem de longe o Celtics teria uma rotação com Walton, Wedman e Sichting quando Wedman, em uma Liga mais diluida, provavelmente teria recebido uma oferta de 10M do Kings ou algo que o valha. Alem disso, com os salários de hoje e o teto salarial, qual a chance desse time manter todo esse núcleo junto? Em seu excelente livro The Book of Basketball, Bill Simmons faz uma estimativa conservadora do teto salarial que esse time teria em 2010... E a conclusão era que a folha salarial seria de 90M, muito acima do teto. O time teria que trocar McHale e/ou Parish pra conseguir abaixar a folha salarial, provavelmente perderia jogadores como Wedman e Ainge na Free Agency por estar acima do teto, e era em capaz de ter que trocar DJ com uma escolha de primeira rodada pra terminar de livrar o salário. O time nunca teria sido capaz de trocar por Bill Walton se não se livrasse do contrato monstro de Cedric Maxwell (Trocado pouco antes), e como ele seria abusivo, algum jogador teria que ir junto para aceitarem. Qual a chance de vermos um time tão bom assim em quantidade de jogadores de elite e profundidade na Liga de hoje, com salarios inflados e 30 times? Zero (Igualmente, qual a chance do Lakers ter Kareem, Magic, James Worthy, Mychael Thompson e Michael Cooper ao mesmo tempo em um time? Zero. Ou menos). Então sim, infelizmente, os times naquela época tinham duas coisas trabalhando a seu favor que nenhum outro time tem hoje, e por isso os times de hoje não conseguem mais manter seus núcleos juntos por muito tempo e uma rotação tão profunda. 

Então é assim que vai funcionar, vou postar sobre os 15 times presentes no NBA 2K12 em alguma ordem, provavelmente dois de cada vez, que se relacionem de alguma maneira. Ainda não decidi se vou seguir uma certa cronologia ou não, mas aceito sugestōes sobre o assunto. Não garanto que a série será continua - a ideia é que seja, mas talvez tenha que interromper pra falar da temporada da NFL, mas logo retomamos. E se o pessoal gostar do Especial e quiser, faço mais posts do tipo extrapolando o NBA 2k12 pra incluir outros times históricos que eu achei interessantes pra voces conhecerem e que marcaram seu nome na história da NBA. Então começa semana que vem, e uma eventual continuação fica nas mãos de vocês. Espero que gostem e aproveitem pra conhecer mais sobre o passado da Liga.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Baseball e as estatísticas

Vamos dar um passeio pelo livro que começou a mudar a história do baseball


Pra quem não sabe, fizemos algum tempo um post aqui no blog chamado "As regras do Baseball". A ideia era simples: Apresentar não só as regras de um jogo de baseball, mas também o funcionamento de uma partida, para que alguém que nada conhecesse do esporte pudesse assistir a uma partida e pelo menos entender o que estava acontecendo. Entender o que era marcado e o papel de cada jogada ou jogador em campo. E, pra mim, o post cumpriu essa finalidade.

No entanto, como eu sempre digo, baseball as vezes pode ser um pouco chato de assistir, especialmente um jogo inteiro. Mas ele tem uma grande vantagem: Ele pode ser medido, mais eficientemente do que qualquer outro esporte, em estatísticas. O baseball, de certa forma, é um esporte individual disfarçado de esporte coletivo, e tem as estatísticas capazes de medir com uma precisão absurda tudo que acontece num campo de baseball. Se você me mostrar as estatísticas de um jogo de NBA, é possível ter uma boa noção de como esse jogador joga... Mas isso não diz tudo. Tem muita coisa que eu preciso assistir pra poder entender, porque cada jogador afeta a partida de formas que nenhum número capta. Se for uma estatística de futebol americano, me diz ainda menos - sabia por exemplo que 50% dos Quarterbacks que passam de 300 jardas perdem o jogo? Mas no baseball não, se eu souber olhar os números corretos, eu sei interpretar de forma muito eficiente praticamente todas as formas como um jogador afetou o jogo e no que ele é capaz de colaborar para um time.

Um dos motivos disso acontecer é que a temporada regular da MLB é absurdamente grande (162 jogos), e portanto a amostra dos dados também é absurdamente grande, nos dando assim dados amostrais com variância muito menor. Hmm, não entendeu? Ok, deixa eu elaborar. Por exemplo, Ted Williams uma vez teve uma temporada com .420 de aproveitamento no bastão (42,0%, pros leigos), e ninguém chegou perto disso desde então (foi lá por 1942). Mas em uma série de 7 jogos de playoffs, já tivemos jogadores rebatendo coisas como .667 (66,7%). Porque? Porque esse ritmo que está muito acima do normal pode ser mantido por 7 jogos, mas nunca por 162. Com um numero enorme de jogos, as estatísticas tendem a regredir para sua média verdadeira. E mesmo assim, as estatísticas do baseball são tão boas (e o esporte tão propício a isso) que são capazes até de medir quando uma estatística está fora do seu número "correto", ou quando um jogador deve sofrer uma "regressão" em determinada categoria. Isso vai fazer 257% mais sentido quando chegarmos na parte de estatísticas dos arremessadores.

Então o objetivo desse post é continuar de onde paramos no antigo: Se antes ensinamos a acompanhar o jogo, como ele funciona e o que acontece dentro de campo, agora vou mostrar um pouco das estatísticas usadas no baseball, o que significa cada uma e como interpretá-las (e também como essa avaliação mudou ao longo dos anos, mas sem aprofundar demais pra não ficar chato). Dividi essas estatísticas em quatro tipos, dependendo do que elas são usadas para medir: Ataque, defesa, arremesso e geral. Isso vai fazer sentido em alguns parágrafos. (By the way, estou considerando que se você está lendo esse post, então você conhece o básico do jogo de baseball, como Home Runs, Walks, Strikeouts e tudo mais - o que pode ser alcançado lendo o post linkado lá em cima. Algumas explicaçōes adicionais serão dadas ao longo do post).

Ah sim, eu acrescentei uma pequena seção antes disso para explicar um pouco da história das estatísticas avançadas - chamada Sabermetrics - e sua aplicação na MLB. Se não tiver interesse, pode pular pra seção de Estatísticas de Ataque direto que não tem problema.


Moneyball e as estatísticas avançadas

Quem já viu o filme (ou melhor ainda, leu o livro) Moneyball - um dos meus favoritos - sabe que, até o Oakland Athletics do GM Billy Beane começar a usar estatísticas e números para avaliar o verdadeiro valor dos jogadores para o time (e usar isso para descobrir quais eram os atributos que mais contribuiam para a vitória e que eram menos valorizados pelo mercado, o segredo do time para montar equipes competitivos com o segundo time mais pobre da Liga em uma MLB sem teto salarial mesmo perdendo seus melhores jogadores quase todo ano para times que pagavam mais) lá pelo ano 2000, a avaliação de jogadores - seja pra Draft, seja para negociar salários, seja para trocas/contrataçōes, whatever - ainda era extremamente primiva. Essa avaliação era baseada nas mesmas estatísticas usadas desde 1900 (A velha historia do "Sempre foi feito asim!") e com base no "conhecimento empírico" dos envolvidos, um conceito bem arrogante dos GMs, olheiros, técnicos e afins mais influentes na Liga, em geral ex-jogadores ou pessoas criadas nos meios do baseball. Eles simplesmente "sabiam" por causa dos seus "conhecimentos do esporte" e "experiência". Depois perguntam porque o baseball sempre foi o esporte com mais busts...

Mas o engraçado é, as estatísticas (mais elaboradas, muitas vezes com sua importância determinada a partir de regressōes econométricas) usadas como forma predominante de avaliar jogadores e o jogo em si já existiam desde o final de 1970, quando o agora lendário Bill James - um cidadão comum que simplesmente gostava de basquete - começou a compilar estatísticas e interpretá-las a cada temporada, evoluindo cada vez mais nas estatísticas e análises, muitas vezes se beneficiando do crescente poder tecnológico à sua disposição (Vocês vão entender quando chegarmos no UZR). E isso acabou virando uma grande tendência... Entre os fãs! Essas novas estatísticas e interpretaçōes foram amplamente adotadas por - wait for it... - jogadores de fantasy (!) e entusiastas ao redor do país, amplamente discutidas... Mas os dinossauros que compunham a cartolagem da MLB continuavam ignorando essas tendências como "subversivas" ou "não se comparam à experiência de anos de prática", ou até mesmo a minha favorita, "os números tentam destruir a pureza do jogo". Enquanto eles continuavam usando os metodos primitivos para avaliar jogadores de forma menos eficiente do que os fãs, o GM do pobre Athletics decidiu aplicar isso para construir seu time que não tinha direito.

Se funcionou? Bem, o segundo time mais pobre da Liga (e segundo menor folha salarial) teve o melhor record da temporada regular por três anos consecutivos, o Red Sox foi campeão em 2004 após adotar o mesmo modelo, e desde então todos o adotam. Eu diria que sim, e por isso eu estou fazendo esse post.


Estatísticas de ataque
Principais estatísticas: OBP, SLG%, OPS, OPS+, wRC+

Antes de surgir o Moneyball e revolucionar como olhamos pras estatísticas que medem a produtividade dos jogadores no bastão, apenas três estatísticas eram observadas de verdade: Média de rebatidas (Identificada por Avg.), Home Runs (HRs) e corridas impulsionadas (RBIs).

(Um pouco de paciência aqui, vou dar umas voltas pra chegar nas estatísticas novas a partir das velhas, pra poder explicar de forma mais intuitiva pra quem não conhece tanto o esporte. Se tiverem sem paciência, sigam os negritos. A partir da próxima seção vou acelerar um pouco mais)

Essas três estatísticas são na verdade bem simples. Avg. é uma estatística que era usada para medir o aproveitamento de um jogador como rebatedor. Ou seja, você pega o número total de rebatidas de um jogador, e divide isso pelo total de vezes que ele foi ao bastão e ou tentou a rebatida ou foi eliminado por três strikes (o chamado Strikeout). Essa medida leva em consideração apenas as vezes que o rebatedor foi ao bastão e teria acontecido uma chance de rebatida, descartando portanto quando o jogador chega em base por um Walk, considerado uma falta do arremessador, e nesse caso o rebatedor não teria tido a "chance" de rebater. Então se eu rebato 100 bolas e em 30 delas eu consigo chegar em base sem um erro dos adversários (já vamos explicar na proxima seção os erros), seja uma rebatida simples, dupla, tripla, Home Run, o que quer que seja, então meu Avg. é .300, ou 30%.

O Home Run é mais simples, é o número de vezes que você rebateu um HR e ponto. Essa estatística era usada pelos times pra medir a força de um jogadores, já que o Home Run é a rebatida de mais "força" de um jogo, que anota mais corridas e que gera mais bases ao rebatedor (quatro).

Por fim, o RBI é a estatística mais estúpida da história do baseball. Basicamente, ele mede quantas vezes um dado rebatedor, ao rebater, fez uma corrida ser anotada. Por exemplo, um jogador vai ao bastão e tem um companheiro na segunda base. Esse rebatedor da uma rebatida simples, e o seu companheiro consegue correr até o home plate e anotar uma corrida. Assim o rebatedor ganha um RBI, pois sua rebatida fez uma corrida ser anotada. Se esse rebatedor conseguisse um Home Run, por exemplo, ele ganha dois RBIs: Um pela corrida anotada pelo companheiro em base, e outra pela corrida que ele anotou ele mesmo, ambas por causa da sua rebatida. Acho que eu não preciso explicar porque essa estatística realmente não diz nada, certo? Ela depende demais da produção dos seus companheiros! Se dois jogadores que joga em times diferentes e rebatem na mesma posição do lineup tem exatamente os mesmos números, um deles podem ter o dobro de RBIs do outro simplesmente porque seus companheiros chegam muito em base e portanto as rebatidas desse jogador impulsionarão mais corridas do que a do outro. Mas isso de forma alguma reflete a produção de um jogador individual, embora fosse usada como uma medida de produtividade. Eu digo que as estatísticas antigas eram estúpidas, mas enfim...

Bem, acontecem que o peso enorme que se dava para Avg. e HRs não refletia, de forma alguma, o quanto um jogador contribui para a vitória de um time.

Concentrando primeiro na questão do aproveitamento dos jogadores, os estatisticos começaram a fazer regressōes envolvendo diversos aspectos do jogo e chegaram a uma simples conclusão: Que no ataque, o mais importante era evitar ter jogadores eliminados. Isso faz todo o sentido do mundo. Baseball não é um esporte medido por tempo, como basquete ou futebol, e sim por eliminaçōes. Um jogo acaba quando um dos times tem 27 eliminados (3 a cada uma das 9 entradas, tirando prorrogaçōes e afins), e portanto evitando eliminaçōes, você mantém seu time no jogo por mais tempo para anotar mais corridas.

Considere agora o seguinte cenário: Dois jogadores, A e B, que foram ao bastão 100 vezes. Jogador A rebateu todas essas bolas, e 30 delas viraram rebatidas. Jogador B rebateu 80 delas bolas e conseguiu 20 rebatidas válidas, mas nas outras 20 vezes que foi ao bastão ele trabalhou a contagem, evitou a eliminação, não rebateu bolas ruins, e conseguiu vinte Walks. Portanto, o jogador B foi eliminado menos vezes e chegou mais em base, sendo assim mais útil para seu time. Mas os números nos indicariam que jogador A teve .300 de aproveitamento e o jogador B teve .250 (lembrando que, para Avg., Walks não são computados como idas ao bastão), e portanto seria concluido - erroneamente - que o jogador A foi um rebatedor mais eficiente que o jogador B. E isso estaria errado, porque o jogador A foi eliminado 70 vezes e o jogador B foi eliminado apenas 60.

E aí ficou claro que a estatística de Avg., ainda que mostrasse como um jogador era capaz de conseguir rebatidas, isso não era exatamente a melhor coisa para o time. Para um time vencer, era muito mais importante o quanto o jogador chegava em base - e portanto evitava eliminaçōes. Por isso, uma nova estatística começou a aparecer como uma medida mais eficiente do que a antiga Avg., a chamada On Base Percentage (OBP), que mede exatamente isso: De todas as vezes que um jogador subiu ao bastão, em quantas ele chegou em base, seja por rebatida ou por walk. Usando o exemplo anterior, o jogador A teria um OBP de .300, enquanto o jogador B teria um OBP de .400. Então os números me diriam algo diferente: O jogador A era melhor conseguindo rebatidas, mas o jogador B era mais eficiente no bastão porque sabia chegar em base e evitar eliminaçōes. OBP, portanto, é um indicador melhor de eficiência no bastão do que Avg.

Mas tem uma outra coisa a ser levada em conta, que é a força dos jogadores. Se dois jogadores conseguem 10 rebatidas em 30 tentativas, só que um deles rebate 10 Home Runs e o outro 10 rebatidas simples, ambos teriam o mesmo aproveitamento e o mesmo OBP, mas o primeiro teria sido um jogador muito mais importante pro seu time. Por isso Home Runs é uma boa medida de força, certo?

Hmm, não. Imagine o seguinte cenário: Jogadores A e B, cada um foi ao bastão 150 vezes e teve 50 rebatidas. O jogador A acertou 10 Home Runs, e o jogador B acertou 5 HRs e mais 20 rebatidas duplas. Ambos teriam o mesmo aproveitamento e o OBP, mas o jogador A teve mais Home Runs... Mas será que sua força ao rebater 10 HRs foi mais útil do que a força do jogador B, que rebateu apenas 5 Home Runs mas teve outras 20 rebatidas duplas? Por isso foi criada uma medida chamada Slugging Percentagem (SLG%), que é calculada como o Avg, mas com uma diferença: Ao invés de dividirmos o número de rebatidas pelo número de at bats, dividimos o número de bases que esse jogador conseguiu com suas rebatidas. Portanto cada rebatida simples ganha 1 base, rebatidas duplas ganham 2 bases, triplas 3 bases, e Home Runs ganham quatro bases. Essa estatística serve pra mostrar a habilidade do jogador para rebater pra ganhar bases (portanto não faz sentido incluir walks), e no nosso exemplo, teriamos que o jogador A ganhou 80 bases em 150 rebatidas (.533) e o jogador B ganhou 85 para um SLG% de .567. Portanto, o jogador B rebateu por força melhor que o jogador A, apesar de ter tido menos Home Runs.

Agora temos duas medidas eficientes pra medir o valor de um jogador no bastão: OBP pra medir a capacidade do jogador pra chegar em base e evitar eliminaçōes, e SLG% pra medir a produção de bases extras desse jogador. Como podemos combinar, portanto, essas duas coisas em uma só? Somando as duas, é claro! Surgiu assim a chamada On Base Plus Slugging (OPS) que é simplesmente a soma da OBP com a SLG% de um jogador. Portanto se um jogador tem um OBP de .350 e um SLG de .550, seu OPS será um bom .900. Essa medida tem falhas (ja vamos chegar nelas), mas é uma medida simples, fácil e eficiente de medir como o jogador é capaz de conseguir as duas coisas mais importantes pra um ataque: Chegar em base, e conseguir rebatidas extras.

Também temos o On Base Plus Slugging Ajustado (OPS+), cujo cálculo é muito difícil pra explicar em detalhes, mas que corrige os três últimos problemas do OPS simples: Os jogadores rebatem em campos com dimensōes diferentes, e portanto isso influenciar (e influencia bastante) os números de um jogador (quem rebate em um campo menor tem maior facilidade em rebater Home Runs, por exemplo) na hora de conseguir rebatidas; .100 em SLG% e .100 em OBP não significam a mesma coisa para um ataque em termos de contribuição, mas no OPS elas são tratadas com o mesmo peso (estudos mostram que OBP tem um peso entre 2 e 3 vezes maior do que SLG%. Vale citar também, porém, que o máximo que pode se ter em OBP é 1.000 - chega em base a cada vez que vai ao bastão - mas o máximo que se pode ter em SLG% é 4.000, conseguindo quatro bases - ou HRs - cada vez que rebater); e por fim, a dificuldade de usar OPS para comparar jogadores de diferentes eras, principalmente por causas nas diferenças no jogo (e sim, especialmente a era dos esteroides). Portanto, OPS+ usa o OPS normal, msa com pesos diferentes para SLG% e OBP e com um termo de ajuste para estádio e para o resto da Liga naquela temporada. É uma fórmula mais complicada, mas mais precisa que OPS, pra medir o valor individual de um jogador como rebatedor.

Por fim, foi criada uma estatística chamada Weighted Runs Created Ajustada (wRC+). Essa estatística é uma forma de aperfeiçoar o OPS+, mas utiliza os mesmos princípios: ela considera os dois fatores mais importantes de um rebatedor, capacidade de chegar em base e de conseguir rebatidas extras, combina esses dois fatores, e ajusta para todo tipo de fator externo (como estádio, por exemplo). Para finalizar, a estatística ainda é ajustada com base no resto da liga, tendo o mesmo efeito do OPS+ para comparar diferentes eras, se tornando assim um indicador sobre quantas corridas um jogador gerou com seu bastão relativo ao "médio" na liga. Então sendo 100 a "média" de qualquer normalização, se um jogador termina a temporada com wRC+ de 150, isso significa que ajustando para o estádio no qual jogou metade de seus jogos, ele gerou 50% a mais de corridas do que um jogador médio na liga. Da mesma forma, se ele teve um wRC+ de 80, ele foi 20% menos produtivo no bastão do que um jogador comum. É a forma mais condensada e avançada para medir, em um vácuo, a produção no bastão de um jogador em comparação com o resto da MLB.


Estatísticas de defesa
Principal estatística: UZR

Se você acha que as estatísticas usadas antigamente (ou nem tão antigamente por GMs) pra medir a eficiência ofensiva dos jogadores era primitiva, esperem até ver essa aqui. Ate Bill James, a única estatística defensiva que existia eram os chamados Erros.

Muito simplesmente, um Erro é quando um jogador comete algum erro que resulta em uma vantagem para o adversário, seja um jogador que deveria ser eliminado e não foi, um errou de lançamento que resultou em uma base extra para um jogador, etc. Por exemplo, se eu rebato a bola para o Shortstop de forma que ele possa me eliminar antes de chegar na primeira base, mas o shortstop fura a bola e eu consigo chegar em base, ele cometeu um erro (e isso não conta como rebatida válida para mim). Se eu consigo uma rebatida simples, mas na hora de jogar a bola de volta o RF lança a bola longe e eu consigo correr até a segunda base (o que eu não conseguiria se ele não errasse o arremesso), conta como uma rebatida simples pra mim e um erro do RF. E por ai vai.

Ok, por onde eu começo a falar dos problemas dessa estatística?? Primeiro, ela é extremamente subjetiva, quem determina o que "deveria" ter acontecido é o juiz da mesa, e ele que vai portanto interpretar se a jogada foi um erro, merito do rebatedor, e por ai vai. Duas pessoas podem interpretar diferente o mesmo lance, e por ai vai. Mas segundo e muito mais importante, ela é extremamente limitada! Se você cometeu um erro, é porque estava na bola no primeiro lugar, então você tem algum mérito por isso. Eu posso ter feito uma excelente jogada, lido perfeitamente a rebatida, me movimentado numa velocidade sobre humana pra chegar numa bola... Só que na hora que eu pulei pra pegar a bola e fazer a eliminação, a bola bateu na minha luva e caiu, e o juiz me deu um erro. Isso é extremamente injusto, pois com qualquer defensor da Liga alem de mim teria sido uma rebatida simples, mas por causa da minha habilidade superior, eu consegui chegar na bola... E fui penalizado por isso. Antigamente, os erros eram somados e quem cometia menos era o melhor defensor, mas imagine a seguinte situação: Numa temporada, dois RFs terminam com zero erros. Só que um deles é extremamente rapido, inteligente, chega em mais bolas do que nenhum outro jogador chega... E o outro é um gordão, lento e preguiçoso, que não comete erros simplesmente porque nunca chega em nenhuma bola por conta da sua falta de habilidade. Como você diferencia entre os dois? Como é possível saber, sem assistir a um jogo, qual o melhor defensor? Será que um jogador com mais erros as vezes não é um defensor melhor, e comete erros porque faz mais jogadas?

Por isso foi criado o Ultimate Zone Rating (UZR), a minha segunda estatística preferida depois de WAR, uma daquelas estatísticas que é extremamente difícil de calcular, mas extremamente precisa e extremamente fácil de entender. Para calcular o UZR, você divide o campo em 64 zonas e computa onde cada bola rebatida foi cair, com que velocidade e com que inclinação. E dai, a cada jogada que envolve um jogador defensivo, usasse essa base de dados pra ver qual foi o resultado da jogada envolvendo esse jogador em relação a todas as outras jogadas defensivas que envolveram essa bola sendo rebatida dessa forma para o mesmo lugar, e ve como essa jogada defensiva - em relação ao "normal" desse tipo de jogada - afetou as chances do adversário de anotar uma corrida.

Um exemplo pra ilustrar: Imagine que o primeiro rebatedor de um jogo sobe ao bastão. Nessa situação (nenhum eliminado, bases vazias), um time marca em média cerca de 0,5 corridas (não tenho o número exato aqui). Agora o primeiro rebatedor rebate a bola para o campo direito, com velocidade/ângulo e para um certo lugar onde, 95% das jogadas, ele é eliminado. No entanto, o RF estava desatento e saiu atrasado, permitindo que a bola passasse por ele para uma rebatida dupla. Nesse caso, o UZR computa para o RF a diferença entre o que aconteceu nos casos casos computados anteriormente (uma média ponderada entre todas as situaçōes, mas na grande maioria dos casos seria um eliminado e nenhum em base, e nessa situação um time anota em média 0,35 corridas) e o que aconteceu de fato (uma rebatida dupla - nessa nova situação, nenhum eliminado e um homem na segunda base, um time anota em média 1,2 corridas). Nesse caso, portanto, o jogador sairá da jogada com um UZR igual a 0,35 - 1,2 = - 0,85. Em outras palavras, defensivamente, esse RF custou ao time (estatisticamente) 0,85 corridas em relação a um jogador "médio".

Portanto, o UZR é dificil de calcular, mas bem fácil de interpretar: Ele representa o número de corridas que a defesa daquele jogador impediu (estatisticamente!) em relação a um jogador médio da mesma posição. Quando eu digo que o melhor defensor da MLB em 2011 é o Brendan Ryan com um UZR de 15,2, isso significa que ter Ryan no seu time ao invés de um Shortstop "médio" evitou que fossem marcadas 15,2 corridas contra o Mariners. Quando eu digo que o Curtis Granderson é o pior CF defensivo da MLB com um UZR de -15,9, é fácil entender que sua defesa é tão ruim que substituindo-o defensivamente por um CF médio teria evitado quase 16 corridas contra o Yankees. E por ai vai. Facil de entender, muito preciso e muito útil - eu realmente adoro essa estatística.


Estatísticas de arremesso
Principais estatísticas: ERA, BABIP, FIP

Tradicionalmente, arremessadores sempre foram medidos por uma estatística muito útil chamado ERA (e antigamente, bons arremessadores só eram bons se tivessem bolas muito rápidas - mais uma estupidez dogmática que faz a gente entender porque a MLB era a Liga que pior aproveitava talento nos EUA).

O ERA - Earned Runs Average - pega todas as Earned Runs (Quando um pitcher está arremesando e cede uma corrida, é computado uma Earned Run  A NÃO SER QUE essa corrida pudesse ter sido evitada, em algum momento, mas não foi por causa de um Erro da defesa - seja esse erro pra ele chegar em base, pra eliminar um terceiro jogador que teria encerrado a entrada antes dessa corrida, e por ai vai. Se for o caso, é uma Unearned Run, e não conta no ERA) cedidas por um pitcher, divididas pelo número de entradas arremessadas, multiplicadas por 9. Em outras palavras, mede quantas corridas um arremessador cede a cada nove entradas (ou um jogo completo) arremessado, e é uma boa medida de avaliar a produção de um pitcher até um dado momento.

Mas o ERA tem uma limitação: Ele mede apenas o que aconteceu, mas não separa exatamente o que nisso foi graças ao arremessador ou aos demais fatores. Dois pitchers exatamente iguais, mas um jogando com uma excelente defesa e outro jogando com uma defesa ruim, provavelmente vão ter ERAs diferentes mesmo se jogarem igualmente bem, porque a quantidade de corridas cedidas por um time certamente será menor quanto melhor for a defesa, mesmo que a ruim não cometa Erros. E além disso, tem o fator sorte: O quanto ela influencia na produção de um arremessador? E se, ao longo de uma temporada, essa sorte normalmente "zera" (mas nem sempre), quando ela vai mudar e como isso influencia o arremessador (quem joga fantasy sabe do que eu falo)?

Essa última de "sorte" parece um pouco forçada, não é? Então volte comigo pro final dos anos 90, quando um cara chamado Voros McCracken - um fã de baseball que brincava com estatísticas nas horas vagas - concluiu que tinha apenas três fatores em um jogo de baseball que o arremessador controlava: Home Runs cedidos, Walks, e Strikeouts (quando um jogador é eliminado com três strikes). Em outras palavras, ele concluiu que, sobre as bolas que os rebatedores colocavam em jogo (Home Run tecnicamente não entra em jogo), os arremessadores não tinham nenhum controle.

Parece um absurdo, certo? Afinal, grandes arremessadores, com grandes arremessos, deveriam ser capazes de segurar os adversários a um aproveitamento menor uma vez que a bola é colocada em jogo. A comunidade da MLB achou um absurdo sem tamanho, e mesmo a comunidade das Sabermetrics achou algo ridículo, e o próprio Bill James começou a coletar dados pra mostrar que Voros estava errado. Mas ele não estava. E foi aí que surgiu a estatística chamada BABIP - Bating Average for Balls in Play (Ou aproveitamento das rebatidas pras bolas em jogo). Os estudos de Voros - futuramente comprovados pela comunidade estatística - mostram que o valor dessa estatística (a proporção das bolas colocadas em jogo que efetivamente viram rebatidas) tende a ser praticamente igual pra todos os pitchers, geralmente em torno dos .300 (pitchers cujo jogo depende mais de bolas que caem - bolas de curva, sinkers, splitters, knucleball, etc - tendem a ter um BABIP um pouco mais baixo, mas nao tanto).  Ainda que as vezes tenhamos alguns pitchers com uma temporada acima ou abaixo dessa média, nunca isso se manteve ao longo das demais temporadas. Portanto, o BABIP é bem simples de interpretar: Se um pitcher está com um BABIP muito fora da curva, é porque a sorte tem interferido bastante nesse tipo de jogada - seja acima (tendo azar) ou abaixo (tendo sorte) do nível normal, isso indica que dificilmente o pitcher vá continuar com esse tipo de atuação por muito tempo.

Adição rapida sobre BABIP: Alguns fatores podem afetar o BABIP de um pitcher, principalmente a composição das suas eliminaçōes (eliminaçōes pelo chao, pelo ar, etc), então alguns sites tem um BABIP "projetado"ou "normal" para o pitcher de acordo com essa composição. Essas variaçōes não são enormes, mas podem afetar de forma significante em alguns casos mais extremos, então em alguns casos vale ver o BABIP "projetado" pra um pitcher ao invés de usar o da Liga como referencia. Exemplo rapido - Em 2009, Andy Pettitte teve um BABIP de .297 e Joel Pineiro um BABIP de .295. No entanto, examinando os tipos de rebatidas que eles induziam, Pineiro foi o principal pitcher da Liga eliminando jogadores por bola rasteira - que tem maior chance de eliminação - de forma que era normal que ele tivesse um BABIP mais baixo, de forma que ele possivelmente teve azar no ano. PEttite, ao contrario, eliminou mais jogadores por lineuots - que tem menor chance de eliminação - e portanto seu BABIP deveria ter sido acima do normal, de forma que ele provavelmente teve sorte em 2009.

Mas o BABIP explica apenas a parte da sorte nas bolas em jogo que o arremessador tem. Isso não é a única coisa que influencia o ERA de um arremessador. A defesa da equipe, por exemplo, tem um papel importante nisso. Por isso foi criado o FIP - Fielding Independent Pitching - que mede exatamente o que o nome sugere, o seu ERA uma vez removidas as influências da defesa e demais fatores (inclusive sorte) focando exatamente nas três coisas que um pitcher é capaz de controlar: Strikeouts, Walks e Home Runs. A conta é complicada e alguns centros ainda divergem no melhor método pra calcular o FIP, mas a interpretação é simples: Quanto seria, aproximadamente, o ERA de um pitcher levando em conta APENAS a sua performance individual, e não fatores como sorte ou defesa. Portanto se um pitcher está com um ERA de 3.30, você pode olhar e pensar "nossa, esse cara ta destruindo!"... Mas ai você ve que ele também está com um BABIP de .270 e um FIP de 4.4, e percebe que não é exatamente assim, e que ele tem tido uma boa ajuda tanto da sua defesa como da sorte e demais fatores que ele não controla, e provavelmente vai sofrer uma regressão conforme a temporada avança pois esses fatores tendem a nivelar. Da mesma forma, um pitcher com um ERA de 3.8 mas com um BABIP de .300 e um FIP de 3.7 tem um mérito individual muito maior que o outro, mas não tem sido tão ajudado.

Tangente rápida/curiosidade: Como voces devem ter percebido, isso é extremamente util quando se está jogando fantasy. Ano passado, Josh Beckett estava com um ERA de 2.10 e vindo de três one-hitters consecutivos lá pelo meio da temporada e meu amigo aproveitou isso pra pular pra primeiro na nossa Liga de fantasy baseball. Eu imediatamente liguei pra ele e avisei "Cara, troque Beckett agora pela melhor oferta que voce tiver (Albert Pujols e algum pitcher que eu não lembro) antes que ele mude de ideia!". Ele achou que eu estava louco ou zuando com a cara dele, mas eu tinha meus motivos: Beckett estava com um BABIP de .220 e um FIP de 3.1 praticamente gritando "REGRESSÃO!" na minha cara, enquanto que Pujols voltava de lesão devagar mas tava com um BABIP - não confiem em BABIP pra rebatedores a não ser em casos muito extremos, btw - abaixo de .200. e o pitcher que vinha junto na troca tinha um FIP respeitavel. Ele fez a troca, Beckett regrediu e não voltou a arremessar naquele nível, Pujols pegou fogo, e meu amigo ganhou a Liga de fantasy. A lição, como sempre: As vezes fãs realmente sabem mais que GMs, até em times de fantasy.


Estatísticas gerais
Principais estatísticas: VORP, WAR

Ok, estamos quase acabando. Agora que temos estatísticas eficientes para medir a produtividade e eficiência de jogadores em termos de arremessos, rebatidas e defesa, ta na hora de juntar tudo isso em uma só medida para a produtividade geral de um jogador num campo de baseball. E pra isso temos duas estatísticas principais, VORP e WAR.

Embora eu não seja muito fã de Value Over Replacement Player (VORP), algo como valor acima de um jogador substituto, por não levar em conta defesa, eu decidi colocar ela aqui por um simples motivo: Ela é precisa e é extremamente fácil de entender. Ela basicamente mede a capacidade de um jogador de produzir corridas (ou, no caso dos arremessadores, evitá-las) acima do que produziria um jogador de Replacement Level (Algo como "Nível de substituição"), que geralmente é definido como sendo entre 70 e 85% de um jogador médio daquela posição, com a porcentagem dependendo da posição. Portanto, se eu te digo que o VORP do Jose Bautista ano passado foi de 77, quer dizer que ele produziu 77 corridas a mais para o seu time no ataque (Rebatendo, chegando em base, correndo nas bases, tudo) do que um RF um pouco abaixo da média (no caso dos pitchers, o contrário, evitou X corridas a mais do que um arremessador assim). Simples, direto, leva em conta quase todos os aspectos relevantes (tirando defesa) como roubos de base, velocidade nas bases, jogos perdidos, etc e é bem fácil de entender, bom pra comparar jogadores... Pena que seja dificílimo calcular. Mas tudo bem, tem sites que calculam pra gente.

Então ok, VORP é uma boa estatística pra comparar jogadores. Mas mesmo assim, nao ganha de WAR - Wins Above Replacement. Outra estatística difícil de calcular, mas que pega o VORP e leva a um outro nível, incorporando defesa e qualquer outro aspecto presente no jogo de um determinado jogador e nos diz quantas vitórias um certo jogador da a um time sobre o famoso "Replacement Player". Ou seja, ele é mais preciso que o VORP porque o VORP é uma medida apenas ofensiva e o WAR mede todos os aspectos desse jogador e no que ele afeta o jogo, mas ao invés de nos dizer em corridas, nos diz em vitórias, mais fácil impossível. Portanto se ano passado Jose Bautista (8.3) foi o lider em WAR, isso quer dizer que se tirassemos ele do Jays e colocassemos no lugar um substituto um pouco abaixo da média da posição, o Jays teria 8.3 vitórias a menos, levando em conta ai também o quanto ele perdeu de jogos e tudo mais. E ela é minha favorita porque, se você pegar uma lista de WAR de uma temporada, vai ver que não necessariamente ela te da os melhores jogadores, mas te da os mais valiosos de uma forma as vezes sutil: Por exemplo, em 2009 o melhor WAR da Liga (8.6) foi do Ben Zobrist, acima dos MVPs Joe Mauer (8.1) e Albert Pujols (8.5). Apesar de Mauer e Pujols terem números ofensivos melhores, Zobrist (que também teve bons números ofensivos e um OBP quase ofensivo de .406) provavelmente foi mais valioso pra Tampa por dois motivos: Primeiro, ele não perdeu nenhum jogo na temporada inteira; e segundo, ele jogou em SETE posiçōes diferentes ao longo da temporada, passando a maior parte do tempo mudando entre 2B e RF... E teve um UZR positivo em todas elas, inclusive 15 e 10 em 2B e RF, respectivamente. Ele cobria qualquer buraco do time, e isso significava demais pra flexibilidade do time.

WAR tem apenas um pequeno problema: Como as duas Ligas possuem regras diferentes quanto ao DH, o WAR normaliza a AL e a NL de forma separada pra tirar essa diferença. O problema é que isso assume que o talento nos dois lados é aproximadamente igual... E quanto não é o caso e temos uma clara disparidade, fica um pouco difícil usar WAR pra comparar jogadores de diferentes Ligas - especialmente pitchers. Ainda assim, um problema pequeno pra uma estatística sensacional.


Resumo final

Ufa, ta acabando. Então vamos lá ver o que vimos hoje:

Principais estatísticas de ataque: OBP (Aproveitamento para chegar em base e evitar eliminaçōes), SLG% (Medida de força pra quantas bases um jogador consegue por rebatida), OPS (produtividade total no bastão), OPS+ (OPS ajustada por estádio, era e com pesos adequados) e wRC+ (medida condensada do valor de um jogador rebatendo, ajustado por era e estádio); são as medidas usadas pra verificar a produtividade de um jogador no bastão e como ele contribui assim para a equipe.

Principal estatística de defesa: UZR (Quantas corridas um jogador cede a menos defensivamente que um jogador "médio" na mesma situação) é usada pra medir a eficiência defensiva de um jogador.

Principais estatísticas de arremesso: ERA (Corridas cedidas por nove entradas), BABIP (Bolas em jogo que viram rebatidas) e FIP (ERA tirando tudo que não está no controle do arremessador); são usadas pra avaliar a produtividade real de um arremessador e o quanto ele tem sido ajudado por sorte e demais fatores além do seu controle.

Principais estatísticas gerais: VORP (Quantas corridas a mais - ou a menos - um jogador  - ou pitcher -gera para seu time em relação a um jogador de RL), WAR (Quantas vitórias um certo jogador te da acima de um jogador de RL); são usadas pra avaliar o valor total de um jogador a um determinado time.

Deu pra entender tudo? Espero que sim, porque deu um trabalho do cão. Foi mal se ficou muito longo, mas queria fazer o mais detalhado e intuitivo o possível pra quem está vendo isso pela primeira vez, e também pra servir caso alguém precise consultar os detalhes algum dia. Espero que tenham aproveitado e que se interessem mais agora por baseball e pelo que os números nos dizem. Até a próxima.