Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Chris Paul, Los Angeles Clippers e o NBA Hornets


"Eu gostava do Hornets antes dele virar mainstream"


Calma fãs de NFL, eu sei que a temporada está na reta decisiva, mas esse assunto é importante e bombástico demais pra não falar no momento. Deixemos a NFL quieta por enquanto, até porque só temos quatro vagas de playoffs realmente em disputa no momento por lá. Vamos nos concentrar no enorme rolo que foi a questão do Chris Paul e sua saída de New Orleans. Essa questão começou, na verdade muito tempo atrás, e não foi nada além de um grande resumo de várias histórias que já vinham desenvolvendo.

A primeira foi a compra do Hornets pela NBA quando o antigo dono quis se desfazer do time. A NBA era uma entidade um pouco desgastada pelo fiasco que aconteceu com o Seattle Supersonics, e quando o dono antigo do time anunciou sua intenção de vender o time pela dificuldade financeira da equipe de jogar num mercado pequeno e devastado pelo Furacão Katrina, a NBA não achou nenhum comprador que estivesse disposto a comprar o time E manter o Hornets em New Orleans. Eu já bati nessa tecla antes, mas a NBA é um modelo de gestão brutal com os times de mercado pequeno, que não ganham tanto dinheiro com cotas de televisão, venda de ingressos e receitas com suas arenas e ainda jogam em cidades pouco atraente para os grandes jogadores da Liga. Como a NBA não queria outra franquia mudando de cidade, eles decidiram comprar o Hornets até que outro comprador - disposto a manter o time por lá - aparecesse.

Claro que isso era um desastre esperando pra acontecer, afinal o Hornets agora era um time com 29 donos, os 29 donos dos mesmos times que disputam com o Hornets títulos, vagas nos playoffs e, claro, jogadores. Lembram de quando o Hornets trocou o Marcus Thornton pelo Carl Landry, o que aumentou a folha salarial do time? Os outros donos - em especial o Mark Cuban - cairam matando em cima, dizendo que estavam pagando mais dinheiro por um jogador que estava jogando em outro time, o que também não deixava de ser verdade. A sorte é que o Hornets era um time pouco expressivo na NBA para ter grandes problemas envolvendo os donos. Ou pelo menos até outra história cruzar com essa, que é um dos novos grandes problemas dos times de mercado pequeno.

No ano que passou, Lebron James, Deron Williams e Carmelo Anthony nos mostraram uma simples verdade: Superstars, na maioria, não querem jogar em times de mercado pequeno. Eles querem jogar em cidades grandes, ganhar dinheiro e jogar juntos de outros grandes jogadores, não ficar em times pequenos de cidades pequenas que não tem dinheiro pra contratar jogadores milionários. É uma triste verdade, mas tem acontecido cada vez mais, e os times de mercado pequeno tem que torcer pra montar uma boa base em volta do seu Superstar (San Antonio) antes que eles saiam ao final dos seus contratos pra times mais caros em cidades maiores. E vimos também que a alternativa que essas franquias tem é trocar seus Franchise Players. Raptors e Cavs não trocaram seus jogadores e perderam os dois a preço de nada, enquanto Denver e Jazz trocaram Deron e Carmelo antes do final dos seus contratos, juntaram vários ativos e estão numa reconstrução muito mais interessante do que times que perderam seus superstars de graça. Ou seja, nesses casos, ou o time pequeno troca seu All-Star, ou então recomeça do zero.

E ai que chegamos ao problema: O contrato do Chris Paul pode acabar ao final da temporada, ele não quer renovar de jeito nenhum (Não da pra culpá-lo. Ele é um dos jogadores mais leais da NBA, mas jogar num time sem dono, cujo melhor teammate acabou de ir pra Indiana, sem dinheiro  nem perspectivas de futuro... Não rola) e portanto a única alternativa pro Hornets é trocá-lo pra tentar juntar os ativos e começar de novo. E aí o Hornets, que era um time pouco importante, de repente se ve com a necessidade de trocar o melhor armador da NBA, talvez o melhor armador puro de todos os tempos. Em um segundo, o Hornets passou de time irrelevante para time que pode definir os próximos anos da NBA.

Quando a NBA comprou o Hornets, o David Stern deixou claro que as decisões de basquete do time estavam totalmente a cargo do GM Dell Demps, que as decisões dele seriam imediatamente acatadas e que a Liga não ia se envolver nas decisões, que seu papel era somente achar um novo dono para a franquia. Mas ai, ao final do CBA e assim que foram liberadas as trocas, o Demps e o Hornets fecharam uma troca de três times com Lakers e Rockets que mandaria CP3 pro Lakers, Pau Gasol para o Rockets e Lamar Odom, Luis Scola, Kevin Martin, Goran Dragic e uma escolha futura do de primeira rodada do Knicks pro Hornets.  O Hornets precisava trocar seu Superstar pra não perdê-lo por nada, e o Dell Demps costurou um acordo com outros dois times, ao ponto que a troca foi anunciada. Só que ela ainda precisava passar pela aprovação do dono do Hornets. Ou seja, a NBA. E daí ela não passou, porque o David Stern vetou a troca alegando "razões de basquete' para tal.

Primeiro, eu queria deixar bem claro que não gostava dessa troca pra quase ninguém. Pra mim, só um time sairia em vantagem dessa troca, que era o Rockets. O Rockets acumulou talentos jovens por muito tempo pra fazer um movimento grande, e conseguiria um dos melhores da Liga no Gasol, alguém que de repente poderia ser colocado para fazer par com o Nenê (Rockets estava pesado atrás dele e não tenho dúvidas de que jogar ao lado do Gasol teria sido um motivo forte pro Nenê ir pra lá) e complementado com os jovens que já estavam no time, Kyle Lowry, Courtney Lee, etc, para montar um time muito competitivo. O Rockets perderia dois bons jogadores, mas levaria para casa um superstar e ainda seria um lugar atraente para um dos melhors FAs do mercado. Mas o Lakers, pra mim, é um time que saia perdendo porque perdia sua grande força do garrafão. Chris Paul e Kobe Bryant no mesmo time, dois jogadores que gostam de jogar com a bola, não iam ser tão efetivos como separados e o Lakers se tornaria um time com um garrafão fraco, especialmente se o Andrew Bynum machucasse o joelho num jogo de Janeiro contra o Grizzlies... Sabe, como ia acontecer de qualquer jeito. Mas pro Hornets, eu também não gostava da troca. O time que o Hornets ia montar era muito interessante, com Dragic, Martin, Trevor Ariza, Scola e Emeka Okafor com Odom vindo do banco, um time bem equilibrado que podia até mesmo ir aos playoffs, mas isso é tudo que o time ia ganhar. O time ia ser bom por algum tempo, mas Scola e Odom já estão do lado errado dos 30 anos e o Kevin Martin também já tem 29. O Hornets ia montar um time bom que logo ia se desmontar e não ia ganhar nenhum tipo de ativo de longo prazo que pudesse auxiliar o time na sua reconstrução. Em dois anos, esse time estaria acabado e o Hornets ia ter que recomeçar do zero do mesmo jeito, e mesmo nesses dois anos não seria um time capaz de brigar seriamente pelo título. Era bom no curto prazo, mas não no médio/longo prazo. Mas de qualquer forma, podia não ser a melhor troca do mundo e ter muitos riscos envolvidos, mas ao mesmo tempo era uma troca 100% defensável e todos tinham assumido um risco por uma recompensa, não era assalto à mão armada nos moldes de Gasol-para-o-Lakers.

Acontece que foi uma troca que foi fechada entre os três GMs e anunciada para a mídia. E foi só depois que o David Stern vetou, alegando que não era boa pro Hornets. Pra mim até não era tão boa como o time poderia conseguir de outra forma, mas não foi esse o verdadeiro motivo. O verdadeiro motivo foi que alguns dos outros donos, em especial o Cuban, foram ao Stern chiar que o Lakers estava pegando mais um Superstar e bla bla bla. Eles nem se preocuparam em pensar se o Lakers seria mesmo um time melhor com o CP3 (Pra mim não), só começaram a reclamar de que o Lakers estava polarizando a Liga e etc e tal, e aí o Stern se viu pressionado por alguns dos donos e vetou a troca pra agradá-los. Não foi uma decisão pensando no time ou mesmo na ética, ela foi apenas política pra satisfazer meia dúzia de donos que chiaram. Passaram por cima da decisão do Demps (que o Stern tinha prometido que seria definitiva) e destruíram os planos de dois times no processo de forma covarde. 

Pra mim não tem desculpa, foi um abuso de poder do Stern pra agradar esses donos da nova geração que ficam de mimimi porque não entendem que certos times - Lakers, Knicks, Celtics - simplesmente TEM mais apelo aos jogadores do que Mavericks, Hornets ou Suns. História conta no basquete, mas parece que muitos desses donos novos querem que  não aconteça. O CP3 querer jogar no Lakers é algo comum, qualquer jogador de basquete quer jogar em times tão grandes e com tanta história assim. E o problema é que isso destruiu totalmente os planos de Rockets e Lakers. O Rockets, como eu disse, vinha acumulando jovens pra gastar num movimento grande, e quando apareceu a chance, Stern vetou. O Rockets perdeu a chance de conseguir seu superstar e agora Scola e Martin vão jogar sabendo que o time estava tentando trocá-los, não é todo jogador que tem a cabeça pra jogar da mesma forma. Esse veto pode ter acabado com a chance do Houston de conseguir um Superstar, o que atrasaria o planejamento do time em dois ou três anos... Mas isso ninguém se importou. O mesmo vale para o Lakers, que envolveu dois dos seus principais jogadores na troca, dois jogadores que sempre tiveram algumas questões sobre seu foco, e que uma vez que a troca foi vetada depois de anunciada, podia gerar nos dois uma certa má vontade para continuar num time que quase trocou os dois (O que aconteceu com o Odom, que exigiu uma troca e acabou indo pro Mavs em troca de jububas - uma troca que, como o Kobe fez questão de frisar, o Cuban não reclamou...). O Hornets pode simplesmente buscar uma alternativa na troca, mas tanto Lakers como Houston tiveram seu planejamento muito danificado por causa do veto, o Lakers foi obrigado a trocar um dos seus melhores jogadores (Embora o Denis do Bola Presa ache que a trade exception que o time ganhou na troca faça parte de um plano maior) e pode ver o outro perder um pouco do seu foco, enquanto que vetou ao Rockets a chance que eles estavam esperando desde que começaram a juntar esse banco de pirralhos talentosos (E embora seja de uma forma indireta, ele também afetou o planejamento de um outro time, o Knicks. O Knicks não tinha ninguém pra trocar por Paul agora, mas se ele virasse FA ao final da temporada, NY seria o destino do armador. Mas quando a troca foi anunciada, com Paul indo para um time onde ele sem dúvidas assinaria uma extensão ao final da temporada, o time decidiu que não ia mais assinar ocm ele e assinou o Tyson Chandler por um preço astronômico que comeu todo o resto do teto salarial. Horas depois, a troca foi vetada, o Paul continuou em New Orleans com risco de virar FA ao final da temporada, mas o Knicks já tinha feito uma troca que iria fazer com quem ele não pudesse assinar o armador ao final da temporada).

Quando o mundo da NBA ainda estava em choque pelo veto, entra na história o Clippers, outro dos times que estavam na briga pelo armador de New Orleans e primo pobre do Lakers. O Clippers é um dos times mais interessantes da Liga por causa do seu bom núcleo de Blake Griffin, Eric Gordon e DeAndre Jordan, e conseguiu fechar com Demps uma troca por Paul. A troca enviaria Eric Bledsoe (Armador pirralho muito talentoso), Al-Farouq Aminu (Bom ala, também no segundo ano), o contrato expirante do Chris Kaman e a escolha de primeira rodada de 2012 do Minnesota Timberwolves, que não deve ser das três primeiras mas deve ser alta o suficiente num Draft muito bom, e em troca o Hornets mandaria o Paul. A troca foi anunciada e bombou no twitter, mas dessa vez todo mundo preferiu esperar pelo parecer do David Stern, que também vetou a troca e pediu um valor muito alto pelo armador (Queria tudo isso MAIS Gordon) e esfriou a conversa.

E aqui está a questão: Ao contrário do primeiro veto - um veto que ocorreu exclusivamente por pressão dos outros donos e que é 100% indefensável - nesse veto o Stern fez uma jogada brilhante pensando exclusivamente em termos técnicos. Para a NBA, é interessante que o Hornets seja um time o mais atraente possível para atrair possiveis compradores, e portanto ele tem que ter as melhores perspectivas possível. Pra mim, o veto ainda foi antiético porque passou novamente por cima da promessa de que o Demps teria total autonomia nas decisões, mas foi brilhante porque o Stern percebeu que o Clippers era uma franquia desesperada atrás do Chris Paul e que estava disposta a oferecer ainda mais para juntar o combo Paul/Blake. Com esse veto, ele conseguiu fazer o Clippers oferecer ainda mais, e o Clippers - ao invés de manter sua posição e jogar com o desespero do Hornets em fazer essa troca, o que seria o jogo inteligente já que não tinha nenhuma outra troca possível pra New Orleans - mordeu a isca e aumentou ainda mais a proposta, tornando uma proposta que já era boa ainda melhor pro Hornets, que dessa vez aceitou. Agora o time de NO ganhou a 1st pick de Minny, Aminu, Gordon e Kaman, o que é muito melhor do que qualquer uma das propostas anteriores. Agora o time vai possivelmente ser muito ruim em 2011, mas pelo menos tem uma ótima perspectiva de futuro: O time ganhou um ótimo armador muito jovem (23 anos) e com potencial para ser um All Star, um ótimo arremessador que sabe armar, atacar a cesta e é bom defensor. Também ganhou um ala promissor, um bom center com contrato expirante (O que pode render ao time mais uma troca inteligente pois esses são os jogadores mais procurados do mercado) e uma escolha de primeira rodada do Wolves que possivelmente não vai ser top 5 (Temos mais de cinco times piores que o Wolves), mas provavelmente também estará no top 12 de um Draft muito bom. E aí que está a questão: O Hornets será uma droga em 2012, e provavelmente terminará com uma escolha muito alta no Draft, que repito, é um Draft muito bom. Se o Hornets for a desgraça que todo mundo espera, o time pode sair desse Draft com duas escolhas altas, digamos... Austin Rivers (12th pick) e Anthony Davis (3rd pick), pra juntar com Gordon e formar um EXCELENTE núcleo pro futuro!! Essa troca faz do Hornets um time muito ruim agora, mas da ao time muito potencial pra começar sua reconstrução com tudo em 2013 e juntar um ótimo núcleo pra recomeçar. Foi uma excelente troca, e o Hornets agora realmente tem chance de ter uma boa reconstrução.

Pro Clippers, eu achei que ela foi mal conduzida (se tivessem forçado teriam conseguido manter o Gordon e ainda realizar a troca, talvez incluindo o Mo Williams nela ou uma escolha de Draft futura), pois se tivessem feito o certo - esperado, tido paciência e usado sua posição mais forte pra não deixar o preço aumentar - teriam um time de Chris Paul (26 anos), Eric Gordon (23), Caron Butler (Bom veterano, defende bem e sabe pontuar), Blake Griffin (22 anos) e DeAndre Jordan (23) anos, ainda com Chauncey Billups (excelente veterano, bom líder) no banco, era um excelente time, time pra pensar em título logo de cara e um time que tinha tudo pra só evoluir nos próximos anos, especialmente com boas adições para o banco, um pontuador e um homem de garrafão pra se juntarem ao Billups e ao Randy Foye. Mesmo assim, a troca não foi ruim - mas ela foi arriscada. O Gordon tinha potencial imenso e em três anos podia ser o melhor SG da NBA dependendo de como o corpo do Dwyane Wade (não) aguentasse os próximos anos, e trocar ele pelo Chris Paul junto da escolha do Wolves foi um preço talvez alto demais a se pagar por um jogador que talvez saia do seu time em dois anos (não há garantias de que ele vá renovar) e também tem problemas sérios nos joelhos, ainda que seja o melhor armador da NBA. Foi um preço alto, talvez alto demais dependendo de como os joelhos e o fim do contrato do Paul acabarem se desenrolando. Mas o fato é que pra um time que vive há tanto tempo na mediocridade, uma medida arriscada e ousada dessas é importante pra dar ao time outra cara, pra colocar o time de vez entre os grandes pra todo mundo ver. Se tivessem mantido o Gordon, talvez tivessem até o um time melhor, mas a recompensa que eles podem ganhar aqui é ainda maior, e a troca do CP3 não só deu ao Clippers um time, e sim todo um respeito e importancia ao redor da Liga. Foi um risco alto, mas a recompensa também pode ser alta.

E o David Stern, o grande vilão dos bastidores, acabou conseguindo o que queria, deu ao Hornets uma excelente base cheia de valor que é atrativa para um dono que entenda de basquete e veja o potencial do lugar. A forma como ele lidou com a troca com Lakers e Rockets foi inaceitável, com uma incrível falta de ética para agradar donos mimados e chorões que simplesmente não queriam ver Chris Paul no Lakers sem nem se perguntar se o Lakers seria um time mais forte. Todos saíram perdendo com esse veto, inclusive a Liga, que viu sua credibilidade ainda mais afetada. Mas na segunda troca, com o Clippers, o Stern jogou suas cartas perfeitamente e conseguiu realmente o maior valor que o Hornets conseguiria numa troca. O que não justifica a forma como tratou Lakers e Rockets, mas agora ele pelo menos pode admitir que já cumpriu sua função como GM do NBA Hornets, um time que tem um futuro muito interessante.

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