Super Kap dando o troco no Panthers
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No próximo bimestre, começaremos uma série chamada Sports Mythbusters. A idéia é bem simples, pegar clichês, mitos ou lugares comuns dos esportes americanos e colocá-los a prova. Então estamos aceitando sugestões, e qualquer mito, frase comum, chavão ou coisa assim dos esportes que vocês querem ver testada e comprovada (ou ao contrário, que quer ver desmentida) podem mandar que vamos analisar os melhores. Mais uma chance de vocês sugerirem nossas pautas. Podem mandar emails com as sugestões para tmwarning@hotmail.com, para o twitter @tmwarning, ou simplesmente colocar nos comentários quando der na telha.
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Jogando como uma zebra
Quando seu time entra em uma partida com um spread de +8, isso é um sinal seguro de que poucas pessoas esperam que você ganhe. Na hora de criar um spread, os modelos de Vegas criam uma simulação de quantas vezes um time deve vencer uma dada partida, e quanto menor a chance de um "azarão" vencer um dado jogo, maior vai ser o seu spread. Um spread de +8 indica que os modelos de Vegas esperam que você vença seu jogo apenas 25.8% do tempo, e a realidade pode ser ainda mais complicada: na história da NFL, apenas 18.3% dos times que foram zebras por exatos 8 pontos conseguiram vencer suas partidas. Desde 2004 (quando as regras começaram a mudar e favorecer o jogo aéreo), as porcentagens tem sido mais favoráveis, mas ainda abaixo do esperado: apenas 12 dos 58 times desfavorecidos por oito pontos conseguiram vencer suas partidas, 20.7%.
Claro, você não precisa ser um especialista em estatística ou em Vegas para saber que o Saints era uma grande zebra nessa partida. O Seahawks foi provavelmente o melhor time da temporada regular, terminando #1 em DVOA por uma larga margem, 20 pontos percentuais na frente do Saints (um respeitável quarto lugar). Além disso, o Saints ainda tinha que jogar em Seattle, que possui a maior home-field advantage da NFL desde que abriu o Century Link Field, um lugar extremamente barulhento com uma torcida fanática. Considerando ainda que o Saints não terminou tão bem a temporada regular (caindo para 7th em DVOA ajustado), era claro que o Seahawks ia ser o franco favorito.
A questão é que quando você está em uma situação tão desfavorável, você tem que saber que sua margem de erro é muito menor. Você tem chance de vencer, sempre, mas para isso você não só precisa ter um bom plano de jogo e tudo mais, você também precisa executar isso de forma muito mais eficiente do que normalmente, evitando todo tipo de erros e dando a menor janela possível para seus adversários tirarem vantagem. Eles já estão em vantagem em relação a você, então você tem que fazer de tudo para evitar criar ainda mais.
E foi exatamente isso que o Saints não fez, e foi isso que custou ao time o jogo. O plano de jogo da equipe, quando começou a partida, era bem claro (e foi, inclusive, o que eu disse no preview): correr bastante com a bola para encurtar as descidas, controlar o relógio e não expor Drew Brees a excelente secundária de Seattle. Sean Payton até incluiu um truque interessante: alinhar seu ataque em muitas formações de apenas um WR (uma formação que o time quase nunca usa, mas que times como SF e Arizona tiveram muito sucesso contra Seattle) para neutralizar a secundária do adversário e forçar um CB (em geral Richard Sherman) e ficar marcando um TE próximo da linha. E na verdade o Saints executou muito bem seu plano de jogo, correndo para 106 jardas só no primeiro tempo, controlando o relógio e deixando Brees lançando pouco.
Mas não importa o quão bom for seu plano de jogo, você não vai conseguir vencer um time como o Seahawks em casa cometendo tantos erros e dando tanta margem para seu adversário aproveitar. A primeira campanha do Saints terminou com Mark Ingram soltando um screen pass que deveria ser para uma conversão de 3rd down tranquila, e em seguida, Thomas Morstead deu um punt de 16 (não, sério, 16) jardas que deu a Seattle a bola na linha de 40 jardas do campo de ataque, que rendeu ao Hawks um FG... depois que o safety de NO recebeu uma falta pessoal de 15 jardas em uma 3rd and 11. A campanha seguinte, New Orleans fez um bom trabalho movendo a bola e chegando no campo de ataque, mas o kicker Shayne Graham errou um FG de 45 jardas (mais sobre isso em um minuto). Depois de outro FG de Seattle, o Saints recuperou a bola... e duas jogadas depois, Mark Ingram sofreu um fumble recuperado por Seattle na linha de 24 jardas do campo de ataque, dando ao Seahawks uma ótima posição de campo mais uma vez. Dessa vez, Marshawn Lynch aproveitou e transformou isso em um touchdown para fazer 13-0 Seahawks. Algumas campanhas depois, New Orleans chegou na linha de 29 do campo de ataque... para tentar e falhar em converter uma quarta descida. Seattle aproveitou e anotou mais um FG para deixar em 16 pontos a diferença no intervalo, um buraco enorme para voltar fora de casa, em um tempo ruim, contra a melhor secundária da NFL.
No segundo tempo, New Orleans colocou a cabeça no lugar, parou de cometer erros e esse foi um dos motivos que levou o time a conseguir voltar para o jogo, mas o buraco que o time tinha cavado para si mesmo acabou sendo grande demais. Entre o FG errado, o punt e o fumble que renderam a Seattle ótima posição de campo, são 13 pontos que você deixa de ganhar ou dá de presente para seu adversário (e isso sem contar a boa posição de campo após errar o FG ou falhar na conversão de quarta descida). Em um jogo contra uma defesa tão boa, em que você sabe que precisa de cada ponto e oportunidade a seu favor, você não pode cometer tantos erros e esperar sair com a vitória. E mesmo depois que o time improvavelmente conseguiu reagir e recuperar a bola nos segundos finais, o jogo acabou, é claro, com um erro grosseiro do time: Drew Brees fez grande jogada para acertar um passe para Marques Colston faltando 5 segundos, o que significa que o time teria uma última chance de conseguir um Hail Mary da linha de 35 jardas do campo de ataque para tentar empatar o jogo. Só que Colston esqueceu de sair pela lateral para parar o relógio, e ao invés disso tentou um passe lateral horrível que acabou com as chances da equipe de vez. É o tipo de erro mental que destrói um time, e esse aconteceu logo no momento decisivo.
E a verdade é que esse festival de erros do Saints, que deram diversas oportunidades para Seattle, na verdade esconderam um jogo bem ruim do Seahawks (ofensivamente, pelo menos) que poderia ter levado a uma derrota. Russell Wilson teve apenas 9/18 passes para 108 jardas, números péssimos, e até a corrida final de Marshawn Lynch o ataque terrestre conseguiu apenas 4.2 jardas por corrida (não ruim, mas não ótimo). Era tudo que o Saints queria quando se preparou para essa partida, e poderia ter levado a um resultado diferente se o time visitante conseguisse se controlar e se ater a um jogo mais eficiente. Você pode cometer alguns erros quando é o favorito, mas é difícil demais ganhar um jogo tão desfavorável se você continua dando chances ao adversário. E foi por isso que o Saints perdeu.
Dificuldades técnicas
Um outro ponto que acabou muito custoso ao Saints nessa partida foi, bem, o trabalho do seu técnico. Eu gosto muito do Sean Payton como técnico, acho ele um dos melhores da NFL e um dos grandes motivos pelos quais o Saints voltou aos playoffs em 2013, mas o trabalho dele nesses playoffs deixou muito a desejar. Ele quase custou ao seu time a partida contra o Eagles com algumas decisões incompreensíveis (a mais maluca talvez fosse correr com a bola em uma 3rd and 11 próximo de FG range quando ainda faltavam 13 minutos no relógio e o time estava apenas 6 pontos na frente. A corrida não chegou em FG range, o time foi para o punt, e o Eagles eventualmente viraria a partida aproveitando essa burrice), mas contra o Seattle a margem para erro era ainda menor e portanto suas decisões acabaram custando ainda mais caro.
Você poderia questionar também se foi uma boa idéia Payton segurar tanto o braço de Drew Brees até o jogo já estar 16-0 - ele não lançou uma bola que passou da linha de scrimmage até o segundo quarto, e só lançou uma bola para um não-RB na mesma altura - mas além desses detalhes, o que chamou minha atenção foi como ele lidou com situações complicadas de quarta descida.
A primeira foi o já mencionado FG errado por Graham. Na situação, o Saints estava enfrentando uma 4th and 4 na linha de 27 jardas do campo de ataque, o que nos da um FG de 45 jardas. Claro, em um vácuo, o FG era a decisão comum. É uma distância confiável para um bom kicker, e é difícil converter uma 4th and 4 contra uma defesa tão boa quanto a do Seahawks, então você pode garantir os pontos - ainda que a 4th Down Calculator indique que você tem mais a ganhar tentando a conversão. O problema é que o jogo não acontece em um vácuo, e sim em um estádio onde estava chovendo e ventando muito, e o pior, ventando contra o chute de Graham. Esse mesmo vento já tinha influenciado o punt de 16 jardas do Morstead, e portanto era claro que a chance de acertar um FG dessa distância era muito menor nessas condições, o que faria a tentativa de conversão ser a decisão lógica (ainda mais considerando que um FG errado da ao adversário uma posição de campo melhor). Mas Payton, normalmente muito agressivo, decidiu chutar, e o chute de Graham não tinha a menor chance de entrar desde o momento que saiu do chão.
Pouco depois, no segundo quarto, o Saints se viu em situação semelhante. 4th and 4 na linha de 29 jardas do campo do Seattle, um FG de 47 jardas. Dessa vez, Payton tentou a conversão e não o FG, e Michael Bennett (o melhor jogador em campo) pressionou um arremesso ruim de Brees que acabou incompleto. Eu realmente não tenho nenhum problema com essa conversão: o time perdia por 13 (então precisava do máximo de pontos possíveis contra uma ótima defesa), as condições não eram favoráveis a um chute, e o 4th Down Calculator indica que você tem mais a ganhar indo para a conversão (e isso antes de levar em conta o quão difícil seria tirar a vantagem no segundo tempo contra a defesa do Seahawks). Então foi uma boa decisão. A questão é que se você acha o FG vantajoso para 45 jardas contra o vento, porque você vai achar um FG de 47 jardas A FAVOR do vento pior? Claro, a situações eram diferentes, mas se tem uma que faz mais sentido ir para o chute é a segunda. As situações eram diferentes, por isso digo que ele fez certo em tentar a conversão, mas só torna a primeira ainda mais inexplicável (e custosa).
Por fim, Payton teve outra decisão em 4th down para tomar no final da partida. Faltando 4 minutos e perdendo por 8, o Saints teve uma 4th and 15 da linha de 30 jardas do campo do Seattle. O FG seria de 48 jardas e sem dúvida ajudaria o Saints em sua busca pela virada, e uma conversão de 15 jardas contra essa defesa sem dúvida tem uma chance de sucesso muito pequena, de forma que não era a melhor opção. O FG seria o mais simples... de novo, se não fosse o vento. O vento voltou muito forte no quarto período, e mais uma vez estava contrário ao chute de Graham. 48 jardas com vento é um chute extremamente difícil, e Graham já tinha errado um em condições pouco menos desfavoráveis. A chance do FG entrar, embora seja difícil precisar, com certeza era muito baixa - tanto que assim que o FG foi chutado, ele já desviou para muito longe do alvo e nunca sequer chegou perto do Y. Então considerando a baixíssima probabilidade de certo no FG e a ótima posição de campo que você da ao Seattle em caso de erro - Lynch anotou o TD quatro jogadas depois - porque você iria tentar o FG? Mesmo que achasse que uma 4th and 15 teria uma chance de insucesso semelhante, porque não ir para o punt e tentar colocar Seattle na sua linha de 10? Com vento forte é mais difícil passar a bola, e assim você aumenta suas chances de recuperar a posse com tempo no relógio e o placar inalterado. O FG errado deu a Seattle grande posição de campo, e sabemos como isso acabou. Se enfrentando um jogo tão difícil você tem que minimizar seus erros, então a atuação de Sean Payton não ajudou.
É fácil (e errado) colocar a culpa em Andrew Luck
Então o Colts tomou uma surra do Patriots e foi eliminado dos playoffs. E claro, como sempre acontece, todo mundo teve que correr para achar alguém em colocar a culpa. A simples lógica de "venceu o melhor time, que entrou com o melhor plano de jogo e executou esse plano melhor" parece não ser boa o bastante, então todo mundo precisa de um bode expiatório. E foi ai que muita gente se voltou contra Andrew Luck.
O QB do time perdedor sempre está sujeito a levar a culpa. E no caso de Luck, muita gente correu para apontar que ele tinha lançado quatro interceptações (sete em dois jogos) e que isso prejudicou sua equipe, e todo tipo de derivação dessa narrativa que vocês podem imaginar. Claro, sempre é ruim quando seu QB está lançando interceptações. Uma, logo na primeira campanha do jogo, deu a bola ao Patriots na linha de duas jardas e um TD na jogada seguinte. Outra (que não foi culpa sua e veio depois do fulback soltar um passe curto) evitou que o Colts aproveitasse um safety em um punt bizarro.
O problema desse raciocínio é colocar em um contexto de jogo como essas interceptações ocorreram. O Colts entrou em campo procurando explorar a grande fraqueza de New England, sua defesa terrestre, e para isso precisou correr muito com a bola, especialmente pelo meio da linha defensiva de seu adversário. Bom, não funcionou - os dois guards de Indianapolis tiveram péssimas atuações, Donald Brown foi mal com a bola nas mãos, e isso significou basicamente que o time não conseguiu encurtar as descidas e precisou que seu QB convertesse todo tipo de jogada longa a cada campanha. Não ajuda que a defesa de Indianapolis se tornou apenas a segunda da história da NFL a tomar jogos consecutivos de 40 pontos, o que diminuiu ainda mais a margem do Colts para gastar o relógio e fez o time precisar ainda mais do jogo aéreo.
Em outras palavras, para o Colts se manter no jogo, eles precisaram que Andrew Luck os mantesse lá sem ajuda de um jogo terrestre. Para piorar, com Reggie Wayne machucado, o Colts só tinha um recebedor bom no seu time (TY Hilton), e a defesa do Pats fez seu plano de jogo exatamente para tirar Hilton do jogo, sabendo que Luck ficaria sem outras opções. Então o resultado não foi agradável para Andrew Luck, que teve que jogar praticamente sozinho, o dia todo, atrás no placar, precisando acertar passes para recebedores que não estavam muito livres ou com um bom espaço para poder avançar. A falta de separação que seus WRs e TEs conseguiam obrigava Luck a colocar cada bola em um espaço pequeno cercado de defensores. Então é claro que alguns arremessos de Luck foram ruins e acabaram nas mãos dos defensores, mas é isso que acontece quando você não tem alternativa senão ficar forçando esses passes o jogo todo. Pouquíssimas vezes Luck teve o luxo de lançar para um recebedor que tinha espaço, e na maioria das vezes era um WR com dois defensores em volta pegando uma bola colocada exatamente no alcance das suas mãos e fora do alcance do defensor. Como você pode culpar alguém por isso?
A verdade é que se não fosse Luck mantendo o Colts na partida com arremesso ridículo atrás de arremesso ridículo o jogo todo (alguns entre os mais bonitos que eu vi na temporada inteira), o jogo teria acabado muito antes e Indianapolis não estaria ainda com chances no meio do terceiro período. Como disse alguém no twitter, não teve nada mais emocionante nesses playoffs do que ver Luck lançando para algum jogador fora da tela da TV. Ganhou o melhor time, o mais bem preparado e o mais experiente, mas não tenham a menor dúvida: o Colts perdeu apesar de Andrew Luck, não por causa dele.
O lixo de um é o tesouro do outro
Só por diversão, temos dois RBs desse final de semana:
RB A - 24 corridas, 166 jardas, 4 TDs
RB B - 3 corridas, 1 jarda, 0 TDs
Os dois RBs foram trocados recentemente de seus times antigos para os atuais. Um custou uma escolha de primeira rodada. Outro custou uma escolha de sétima rodada. Tempo!!
Claro, todo mundo já deve saber a essa altura que o RB A, LeGarrette Blount, foi o que custou a escolha de sétima rodada e o RB B, Trent Richardson, foi o que custou uma escolha de primeira rodada. Esse é o parte de porque o Patriots tem um time tão bom e competitivo a tanto tempo: eles são excelentes achando talentos sub-valorizados a preços baixos (Blount ganha um salário mínimo, btw) e tirando o máximo deles colocando-os em um contexto favorável e um plano de jogo inteligente, e foi o mesmo com Blount, que foi chutado de Tampa Bay mesmo correndo para 1000 jardas como calouro para se tornar o RB #1 de um time como o Patriots. Enquanto isso, o Colts pagou um preço altíssimo em inflacionado por um jogador com mais "status" e que nunca tinha feito nada para mostrar que era um bom jogador. Um foi uma operação de baixo risco que rendeu ótima recompensa, outro foi uma troca de altíssimo risco que até agora foi um fiasco homérico. O Patriots ri com seu sucesso, enquanto o Colts vai ter que montar um time ao redor do seu excelente QB sem poder contar com essa escolha valiosa. Esses erros e sucessos contam e muito para o sucesso de cada equipe na NFL.
A ascensão e queda de Riverboat Ron
Uma das histórias mais divertidas da temporada foi a transformação de Ron Rivera em Riverboat Ron. Ron Rivera era um dos técnicos mais conservadores da NFL, um cara que se recusava a pensar de forma alternativa e tentar conversões curtas mesmo tendo Cam Newton e três bons RBs a sua disposição. Esse pensamento retrógrado causou muitas derrotas aos seus times ao longo dos últimos anos, e também foi bastante prejudicial para Carolina no começo do ano, de forma que até escrevi sobre isso em uma coluna depois da semana 2. Mas em algum momento ao longo da temporada, inexplicavelmente (eu assumo que envolveu uma experiência de quase morte e sonhos com espíritos), Rivera entendeu que estava prejudicando seu time com isso, e decidiu que iria se tornar o técnico mais agressivo da NFL. De repente, o Panthers estava indo para todo tipo de 4th and 1 e 4th and 2 durante os jogos, convertendo um número ridículo dessas jogadas e tendo grande sucesso com essa agressividade. Rivera até se deu o apelido de Riverboat Ron para simbolizar sua transformação, e não tenho dúvida de que essa transformação teve papel importante na grande temporada do Panthers.
Domingo, no seu primeiro jogo de playoffs como técnico do Panthers, Riverboat Ron teve uma chance de mostrar seu novo e mais agressivo eu. Depois de uma 1st and goal da linha de 6 jardas e duas corridas de Mike Tolbert e Cam Newton, o Panthers se viu em uma situação de 3rd and 1 para anotar o TD. Tolbert correu com a bola e foi parado para nenhum ganho, criando uma 4th and 1 e uma clássica situação de Riverboat Ron.
A decisão de Rivera aqui deveria ser clara como água: ele tem que tentar o touchdown. Não tem nem muito o que discutir. Você tem um dos melhores ataques de curta distância da NFL e o melhor QB de curta distância da NFL, e anotar o TD te da quatro pontos a mais do que um FG. A 4th DQ diz que um time vai converter na média 68% dessas jogadas, o que dá ao time uma expectativa de anotar 4.8 pontos ao tentar a conversão, enquanto ganha apenas 3 chutando o FG. Além disso, existe um benefício oculto em tentar a conversão que muita gente ignora: mesmo em caso de falha, você ainda vai ter seu adversário preso na linha de meia jarda, uma situação muito difícil que pode render um safety para a defesa, ou pelo menos uma boa chance de recuperar a bola em grande posição de campo (especialmente em uma defesa tão boa como a de Carolina). Considerando ainda que esse era um jogo entre duas defesas muito fortes e que anotar TDs seria difícil, você tem ainda mais motivos para aproveitar essa chance que pode ser a única. Então Rivera estava 100% certo quando alinhou para tentar a conversão.
Apesar da boa chamada, Newton foi pego na linha de meia jarda e o Panthers saiu sem o TD. Mas tudo funcionou mesmo assim, porque como já disse é a vantagem de tentar a conversão: o 49ers não conseguiu nada da linha de meia jarda (quase sendo interceptado), na hora de ir para o punt o time alinhou em uma formação mais conservadora que o normal (por conta da falta de espaço para evitar um bloquei), o que deu bastante espaço para o retorno de Ted Ginn até a linha de 31 jardas. No lance seguinte, Cam Newton mandou uma bomba perfeita para Steve Smith anotar o TD, um TD que acabou sendo consequência direta da agressividade do time na 4th down.
No entanto, pouco depois, o Panthers se viu com uma decisão quase igual para Riverboat Ron. Depois de uma corrida de Newton, Carolina esteve em uma 2nd and goal da linha de 1 jarda. Newton tentou um scramble que não deu em nada na 2nd down, e Tolbert foi parado novamente na linha de uma jarda na terceira descida, criando mais um 4th and goal da linha de uma jarda. Mas dessa vez, provavelmente por conta dos seus insucessos nessas situações na partida, decidiu ir para o FG. O PAnthers anotou o FG para abrir 10-6 no placar, mas San Francisco logo recebeu a bola, gastou os 4 minutos restantes na partida para anotar o TD e virar 13-10, e o Niners dominou o resto do jogo a partir desse ponto sem dar chance ao rival.
É difícil dizer que um lance apenas como esse mudou todo o jogo e foi o responsável em transformar um primeiro tempo de total dominação de Carolina em um segundo tempo perfeito de San Francisco, mas é fácil ver que Ron Rivera errou feio ao chutar o FG e o quanto isso custou ao seu time. A lógica para tentar a conversão é a mesma de antes: você tem um bom ataque terrestre, o TD vale muito mais pontos que o FG, e você coloca o ataque adversário em péssima situação caso não funcione. E nesse caso ainda por cima tem a questão do tempo, já que você provavelmente recebe a bola em tempo de tentar uma última campanha sem deixar nada para o adversário, mais um motivo para tentar o TD. Claro, muita gente vai apontar que foi bom porque o time não vinha conseguindo anotar o TD nessa situação, mas isso é overreact a uma amostra pequena: Carolina converteu 90% das situações semelhantes ao longo da temporada, e a defesa de SF permitiu TDs em 66% de jogadas na linha de uma jarda ao longo dos últimos dois anos. Além disso, tinha a questão da posição de campo e do relógio a serem considerados. Então tentar era uma decisão clara. Rivera ficou com medo e chutou o FG. Carolina anotou os três pontos, mas devolveu a bola para SF na linha de 20 jardas ao invés da de uma jarda, SF anotou o TD para virar o jogo faltando 5 segundos e foi para o vestiário na frente, 13-10, em um primeiro tempo dominado por Carolina, e o time nunca mais olhou para trás.
Os cenários que Rivera deixou de considerar são um bom exemplo de porque ele errou. Se o TD é anotado, o time abre 14-13 e iria para o vestiário em vantagem mesmo após o TD de San Francisco. Se a conversão é falha, San Francisco começa da linha de uma jarda, provavelmente vai para o punt, e Carolina ainda teria tempo de tentar um FG ou mesmo um TD, indo para o vestiário na frente 7-6 ou mesmo 10-6 ou 14-6. Ao invés disso, foram para o intervalo perdendo de 13-10, algo que poderia ser evitado se Riverboat Ron tivesse falado mais alto na lateral. Ao invés disso Rivera ficou com medo pelo seu insucesso anterior, esqueceu um fator importante que fez do seu time tão bem sucedido, e seu time pagou o preço.
A diferença que um treinador faz
A falha de Rivera em ser Riverboat Ron custou ao seu time no final do primeiro tempo, e coincidentemente ou não, foi o momento que o jogo mudou (SF iria ganhar o jogo por 17-3 a partir daquele ponto). Mas teve outro motivo para essa mudança drástica, e também teve a ver com técnicos. Dessa vez, com Jim Harbaugh e Vic Fangio.
Um dos motivos pelos quais o Panthers foi tão bom no primeiro tempo, especialmente no ataque, foi porque eles pegaram o Niners desprevenido em seu plano de jogo. Assim como ano passado SF pegou Green Bay de surpresa com o read option, Carolina também incluiu em seu plano de jogo uma série de pequenos ajustes e formações diferentes que tinha usado pouco durante a temporada regular e que, certamente, não estavam nos vídeos estudados pelo Niners. Ao invés do pacote pesado de corridas, o time usou muitos disfarces para deixar Cam Newton a vontade no pocket e pegando a defesa desprevenida nas laterais. O time também usou alguns read options para correr com a bola e também, menos comum neles, para fazer simples play actions e deixar seus WRs velozes no mano-a-mano contra a secundária desfalcada de SF. A defesa não estava esperando isso, e Carolina aproveitou para fazer seu ataque funcionar (menos na linha de uma jarda).
Mas no intervalo, especialmente com a vantagem proporcionada pelo erro de Riverboat Ron, o Niners fez seus ajustes. Ofensivamente, o time pouco fez de excepcional, alguns ajustes na proteção e mais lançamentos na direção de Anquan Boldin (especialmente explorando Dayton Florence). Mas defensivamente, o time voltou preparado para o novo plano de Carolina. Com a vantagem (que subiu para 20 na primeira campanha ofensiva do time) e maior confiança na sua defesa terrestre, o time começou a ser muito mais agressivo ofensivamente, mandando muitas blitzes de diferentes locais e pressionando os CBs na linha de scrimmage, tirando a opção dos passes curtos e rápidos e obrigando Cam Newton a fazer seus passes depois de algum tempo, em geral sem espaço no pocket ou fugindo de um sack. Newton não funciona tão bem nessas situações, ainda tem alguns hábitos ruins (especialmente lançar a partir do pé de trás) e não tem a criatividade e precisão de Wilson ou Aaron Rodgers. Muitas vezes ele tentou ganhar tempo no pocket esperando seus WRs ficarem livres para logo ser engolido pelo pass rush, e quando tentou sair pouco espaço teve para fazer qualquer coisa. O read option parou de funcionar e foi abandonado, e ai o Panthers teve que voltar para seu plano tradicional, que não teve sucesso contra uma fortíssima defesa. A maior diferença foi a pressão gerada, com cinco sacks só no segundo tempo em cima de Cam (contra apenas um no primeiro). O ataque de Carolina não iria mais ameaçar o resto do jogo, o ataque terrestre de SF começou a achar espaços, e o time carimbou sua viagem a Seattle. Então nunca subestimem a importância dos ajustes dentro de jogo dos técnicos. O 49ers ajustou brilhantemente, e Carolina não conseguiu responder.
Em tempo, já que o assunto é a importância de um técnico, San Francisco passou 8 anos sem sequer ir aos playoffs, ganhando 7, 2, 4, 7, 5, 7, 8 e 6 jogos entre 2003 e 2010. No ano seguinte chegou Jim Harbaugh, e San Francisco ganhou 13, 11.5 e 12 jogos nos três anos seguintes, chegando a três finais de conferência consecutivas. Um bom lembrete sobre o impacto que um bom técnico pode ter, para todos os times que estão mudando seus técnicos nessa offseason.
Quando tudo da certo, e você não aproveita
Um primo próximo do que falamos sobre o Saints, sobre como quando você enfrenta um adversário que é franco favorito você não pode continuar dando a ele presentes e oportunidades para causar estrago. A situação do Chargers, embora semelhante, não é a mesma. Se o Saints deu oportunidades ao adversário e não podia, o Chargers foi o time que recebeu diversas oportunidades (uma parte delas menos por causa de erros do Broncos e mais por pura sorte) para tentar a zebra, mas não conseguiu aproveitar. E as duas são mortais, lembrando que San Diego era +9.5 para esse jogo - isso significa que esperam que você vença 22.2% do tempo apenas (curiosamente, na história da NFL, times + 9.5 venceram 22.1% das vezes antes desse jogo).
Deixando de lado um instante a má atuação do Chargers durante os primeiros 40 minutos de jogo e a boa atuação da defesa do Broncos, a verdade é que o placar deveria ser muito mais elástico do que foi. O Broncos foi o time que vacilou ao longo da partida, as vezes por más jogadas, as vezes por puro azar. O que eu falei que o Saints não podia fazer com o Seattle, o Broncos fez um pouco aqui. A questão é que o Chargers não transformou isso em nada.
Logo na primeira campanha do Broncos (após uma boa campanha de SD terminar em um sack e um punt), Peyton Manning teve a bola na linha de 29 do campo de ataque e tentou achar um Wes Welker em velocidade na end zone. Mas o passe foi muito ruim e sem controle, e ficou pendurado tempo o suficiente para o CB Shareece Wright cortar a rota do passe e se colocar em posição para conseguir uma interceptação. A bola foi perfeito no meio do peito de Wright, que não conseguiu segurar e fazer a interceptação. Algumas jogadas depois, Manning transformou o erro de Wright em 7 pontos com um passe para Demaryius Thomas. Depois de outro punt, Chargers teve uma nova chance: em um passe esquisito para Julius Thomas, o TE de Denver não conseguiu controlar a bola direito, tomou um tackle e soltou a carne, que foi recuperada por San Diego. No replay é quase impossível ver com certeza se foi fumble, down by contact ou passe incompleto, então permaneceu a marcação original, para sorte do Chargers. De novo, o time não aproveitou a boa posição de campo (linha de 45): o time avançou 26 jardas antes de Philip Rivers tomar um sack, e Nick Novak errar o FG. Então San Diego poderia ter evitado os 7 pontos de Denver e/ou anotado mais pontos seus com esse fumble sortudo, mas ao final dessas campanhas, o placar ainda era 7-0 para Denver. Aproveitando a boa posição de campo do FG errado, Manning logo anotou outro TD para fazer 14-0, um 14-0 que o Chargers teve a chance de evitar ou fazer algo melhor e não aproveitou.
Mas espera, tem mais. Faltando 3 minutos para o fim do primeiro tempo, o Broncos recuperou a bola novamente e se lançou em uma campanha. O time chegou dentro da linha de 5 jardas, mas na terceira descida, um bom passe de Manning para Eric Decker não foi seguro pelo WR, pipocou no ar, e Donald Butler fez ótima jogada na bola pendurada para conseguir com uma interceptação, salvando assim pelo menos três pontos. Com 30 segundos e dois tempos para pedir, San Diego preferiu ajoelhar na bola mesmo sabendo que ela começaria com Denver no segundo tempo. Logo no retorno, Eric Decker quebrou seis tackles e tinha caminho livre até a end zone, mas tropeçou sozinho e caiu na linha de 40 jardas. Logo depois, Manning fez passe lindo para um livre Wes Welker na end zone, que deixou a bola cair e forçou o FG de Denver. Então o que deveria ter sido 10 ou mesmo 14 pontos para Denver acabou resultado em apenas três, por pura sorte e pela boa jogada de Butler. Pouco depois, Matt Prater ainda erraria um FG de 47 jardas.
Eventualmente no quarto período, Philip Rivers e o ataque do Chargers acordou, anotou 14 pontos porque a defesa do Broncos inexplicavelmente decidiu que não precisava cobrir Keenan Allen e ainda recuperou um onside kick milagroso para trazer a diferença para sete pontos, antes de Manning tirar o jogo de alcance com dois passes cruciais em terceiras descidas (uma em 3rd and 18). O Chargers chegou perto de conseguir uma grande zebra, mas a verdade é que o jogo não foi nem tão apertado como pareceu pelo que os dois times jogaram, e também não é difícil ver aonde o Chargers não conseguiu. O Broncos e o acaso deram várias oportunidades para o Chargers, e eles não aproveitaram. Tiveram uma interceptação na mão para evitar 7 pontos do Broncos e não conseguiram. Recuperaram um fumble em grande posição de campo, não geraram pontos e ainda deram boa posição para o Broncos anotar mais sete. Conseguiram sair de alguma forma tomando só 3 pontos quando deveriam ter tomado 14, e mesmo assim só foram anotar um TD no quarto período.
Se o Saints nos ensinou que quando você quer superar um time superior você não pode continuar atirando no próprio pé e dando chances ao adversário, então o Chargers é um exemplo de como você também não pode deixar passar todas as chances que colocam nas suas mãos, senão o buraco fica grande demais para sair depois. O Chargers não conseguiu, e é por isso que a Bolo Tie não está indo para New England semana que vem.
Semana passada, tivemos que correr um pouco para conseguir cobrir tudo que a NFL estava nos oferecendo. Então falamos rapidamente da rodada de Wild Card que tinha passado, e fizemos dois previews para os jogos do final de semana, para falar dos jogos de sábado e dos jogos de domingo. Ta tudo ai para você ler e pensar "o que, esse animal achou que o Colts ia ganhar?! No que ele estava pensando?!" (em minha defesa, foi a primeira vez em nove anos que a segunda rodada dos playoffs não teve uma zebra de pelo menos 4 pontos. Eu quis apostar em uma zebra, e apostei na que tinha Andrew Luck e enfrentava a pior defesa).
Mas deixando isso tudo no passado (btw, ainda estou 6-2 nos playoffs!), e deixando as duas finais de conferências que foram um presente dos céus ainda no futuro (sério, se um fã de NFL imparcial fosse escolher as Finais de Conferência ideais em Setembro, ele escolheria essas duas), vamos dar uma olhada em alguns fatores importantes ou interessantes que chamaram minha atenção nos jogos (um tanto decepcionantes) desse final de semana. Já aviso também que vou dar mais espaço aos times eliminados e ao que rolou de importante no jogo em si do que nas coisas que os times podem carregar para o futuro, porque essas últimas terão um espaço maior nos previews da rodada.
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New Orleans Saints 15 vs 23 Seattle Seahawks
Jogando como uma zebra
Quando seu time entra em uma partida com um spread de +8, isso é um sinal seguro de que poucas pessoas esperam que você ganhe. Na hora de criar um spread, os modelos de Vegas criam uma simulação de quantas vezes um time deve vencer uma dada partida, e quanto menor a chance de um "azarão" vencer um dado jogo, maior vai ser o seu spread. Um spread de +8 indica que os modelos de Vegas esperam que você vença seu jogo apenas 25.8% do tempo, e a realidade pode ser ainda mais complicada: na história da NFL, apenas 18.3% dos times que foram zebras por exatos 8 pontos conseguiram vencer suas partidas. Desde 2004 (quando as regras começaram a mudar e favorecer o jogo aéreo), as porcentagens tem sido mais favoráveis, mas ainda abaixo do esperado: apenas 12 dos 58 times desfavorecidos por oito pontos conseguiram vencer suas partidas, 20.7%.
Claro, você não precisa ser um especialista em estatística ou em Vegas para saber que o Saints era uma grande zebra nessa partida. O Seahawks foi provavelmente o melhor time da temporada regular, terminando #1 em DVOA por uma larga margem, 20 pontos percentuais na frente do Saints (um respeitável quarto lugar). Além disso, o Saints ainda tinha que jogar em Seattle, que possui a maior home-field advantage da NFL desde que abriu o Century Link Field, um lugar extremamente barulhento com uma torcida fanática. Considerando ainda que o Saints não terminou tão bem a temporada regular (caindo para 7th em DVOA ajustado), era claro que o Seahawks ia ser o franco favorito.
A questão é que quando você está em uma situação tão desfavorável, você tem que saber que sua margem de erro é muito menor. Você tem chance de vencer, sempre, mas para isso você não só precisa ter um bom plano de jogo e tudo mais, você também precisa executar isso de forma muito mais eficiente do que normalmente, evitando todo tipo de erros e dando a menor janela possível para seus adversários tirarem vantagem. Eles já estão em vantagem em relação a você, então você tem que fazer de tudo para evitar criar ainda mais.
E foi exatamente isso que o Saints não fez, e foi isso que custou ao time o jogo. O plano de jogo da equipe, quando começou a partida, era bem claro (e foi, inclusive, o que eu disse no preview): correr bastante com a bola para encurtar as descidas, controlar o relógio e não expor Drew Brees a excelente secundária de Seattle. Sean Payton até incluiu um truque interessante: alinhar seu ataque em muitas formações de apenas um WR (uma formação que o time quase nunca usa, mas que times como SF e Arizona tiveram muito sucesso contra Seattle) para neutralizar a secundária do adversário e forçar um CB (em geral Richard Sherman) e ficar marcando um TE próximo da linha. E na verdade o Saints executou muito bem seu plano de jogo, correndo para 106 jardas só no primeiro tempo, controlando o relógio e deixando Brees lançando pouco.
Mas não importa o quão bom for seu plano de jogo, você não vai conseguir vencer um time como o Seahawks em casa cometendo tantos erros e dando tanta margem para seu adversário aproveitar. A primeira campanha do Saints terminou com Mark Ingram soltando um screen pass que deveria ser para uma conversão de 3rd down tranquila, e em seguida, Thomas Morstead deu um punt de 16 (não, sério, 16) jardas que deu a Seattle a bola na linha de 40 jardas do campo de ataque, que rendeu ao Hawks um FG... depois que o safety de NO recebeu uma falta pessoal de 15 jardas em uma 3rd and 11. A campanha seguinte, New Orleans fez um bom trabalho movendo a bola e chegando no campo de ataque, mas o kicker Shayne Graham errou um FG de 45 jardas (mais sobre isso em um minuto). Depois de outro FG de Seattle, o Saints recuperou a bola... e duas jogadas depois, Mark Ingram sofreu um fumble recuperado por Seattle na linha de 24 jardas do campo de ataque, dando ao Seahawks uma ótima posição de campo mais uma vez. Dessa vez, Marshawn Lynch aproveitou e transformou isso em um touchdown para fazer 13-0 Seahawks. Algumas campanhas depois, New Orleans chegou na linha de 29 do campo de ataque... para tentar e falhar em converter uma quarta descida. Seattle aproveitou e anotou mais um FG para deixar em 16 pontos a diferença no intervalo, um buraco enorme para voltar fora de casa, em um tempo ruim, contra a melhor secundária da NFL.
No segundo tempo, New Orleans colocou a cabeça no lugar, parou de cometer erros e esse foi um dos motivos que levou o time a conseguir voltar para o jogo, mas o buraco que o time tinha cavado para si mesmo acabou sendo grande demais. Entre o FG errado, o punt e o fumble que renderam a Seattle ótima posição de campo, são 13 pontos que você deixa de ganhar ou dá de presente para seu adversário (e isso sem contar a boa posição de campo após errar o FG ou falhar na conversão de quarta descida). Em um jogo contra uma defesa tão boa, em que você sabe que precisa de cada ponto e oportunidade a seu favor, você não pode cometer tantos erros e esperar sair com a vitória. E mesmo depois que o time improvavelmente conseguiu reagir e recuperar a bola nos segundos finais, o jogo acabou, é claro, com um erro grosseiro do time: Drew Brees fez grande jogada para acertar um passe para Marques Colston faltando 5 segundos, o que significa que o time teria uma última chance de conseguir um Hail Mary da linha de 35 jardas do campo de ataque para tentar empatar o jogo. Só que Colston esqueceu de sair pela lateral para parar o relógio, e ao invés disso tentou um passe lateral horrível que acabou com as chances da equipe de vez. É o tipo de erro mental que destrói um time, e esse aconteceu logo no momento decisivo.
E a verdade é que esse festival de erros do Saints, que deram diversas oportunidades para Seattle, na verdade esconderam um jogo bem ruim do Seahawks (ofensivamente, pelo menos) que poderia ter levado a uma derrota. Russell Wilson teve apenas 9/18 passes para 108 jardas, números péssimos, e até a corrida final de Marshawn Lynch o ataque terrestre conseguiu apenas 4.2 jardas por corrida (não ruim, mas não ótimo). Era tudo que o Saints queria quando se preparou para essa partida, e poderia ter levado a um resultado diferente se o time visitante conseguisse se controlar e se ater a um jogo mais eficiente. Você pode cometer alguns erros quando é o favorito, mas é difícil demais ganhar um jogo tão desfavorável se você continua dando chances ao adversário. E foi por isso que o Saints perdeu.
Dificuldades técnicas
Um outro ponto que acabou muito custoso ao Saints nessa partida foi, bem, o trabalho do seu técnico. Eu gosto muito do Sean Payton como técnico, acho ele um dos melhores da NFL e um dos grandes motivos pelos quais o Saints voltou aos playoffs em 2013, mas o trabalho dele nesses playoffs deixou muito a desejar. Ele quase custou ao seu time a partida contra o Eagles com algumas decisões incompreensíveis (a mais maluca talvez fosse correr com a bola em uma 3rd and 11 próximo de FG range quando ainda faltavam 13 minutos no relógio e o time estava apenas 6 pontos na frente. A corrida não chegou em FG range, o time foi para o punt, e o Eagles eventualmente viraria a partida aproveitando essa burrice), mas contra o Seattle a margem para erro era ainda menor e portanto suas decisões acabaram custando ainda mais caro.
Você poderia questionar também se foi uma boa idéia Payton segurar tanto o braço de Drew Brees até o jogo já estar 16-0 - ele não lançou uma bola que passou da linha de scrimmage até o segundo quarto, e só lançou uma bola para um não-RB na mesma altura - mas além desses detalhes, o que chamou minha atenção foi como ele lidou com situações complicadas de quarta descida.
A primeira foi o já mencionado FG errado por Graham. Na situação, o Saints estava enfrentando uma 4th and 4 na linha de 27 jardas do campo de ataque, o que nos da um FG de 45 jardas. Claro, em um vácuo, o FG era a decisão comum. É uma distância confiável para um bom kicker, e é difícil converter uma 4th and 4 contra uma defesa tão boa quanto a do Seahawks, então você pode garantir os pontos - ainda que a 4th Down Calculator indique que você tem mais a ganhar tentando a conversão. O problema é que o jogo não acontece em um vácuo, e sim em um estádio onde estava chovendo e ventando muito, e o pior, ventando contra o chute de Graham. Esse mesmo vento já tinha influenciado o punt de 16 jardas do Morstead, e portanto era claro que a chance de acertar um FG dessa distância era muito menor nessas condições, o que faria a tentativa de conversão ser a decisão lógica (ainda mais considerando que um FG errado da ao adversário uma posição de campo melhor). Mas Payton, normalmente muito agressivo, decidiu chutar, e o chute de Graham não tinha a menor chance de entrar desde o momento que saiu do chão.
Pouco depois, no segundo quarto, o Saints se viu em situação semelhante. 4th and 4 na linha de 29 jardas do campo do Seattle, um FG de 47 jardas. Dessa vez, Payton tentou a conversão e não o FG, e Michael Bennett (o melhor jogador em campo) pressionou um arremesso ruim de Brees que acabou incompleto. Eu realmente não tenho nenhum problema com essa conversão: o time perdia por 13 (então precisava do máximo de pontos possíveis contra uma ótima defesa), as condições não eram favoráveis a um chute, e o 4th Down Calculator indica que você tem mais a ganhar indo para a conversão (e isso antes de levar em conta o quão difícil seria tirar a vantagem no segundo tempo contra a defesa do Seahawks). Então foi uma boa decisão. A questão é que se você acha o FG vantajoso para 45 jardas contra o vento, porque você vai achar um FG de 47 jardas A FAVOR do vento pior? Claro, a situações eram diferentes, mas se tem uma que faz mais sentido ir para o chute é a segunda. As situações eram diferentes, por isso digo que ele fez certo em tentar a conversão, mas só torna a primeira ainda mais inexplicável (e custosa).
Por fim, Payton teve outra decisão em 4th down para tomar no final da partida. Faltando 4 minutos e perdendo por 8, o Saints teve uma 4th and 15 da linha de 30 jardas do campo do Seattle. O FG seria de 48 jardas e sem dúvida ajudaria o Saints em sua busca pela virada, e uma conversão de 15 jardas contra essa defesa sem dúvida tem uma chance de sucesso muito pequena, de forma que não era a melhor opção. O FG seria o mais simples... de novo, se não fosse o vento. O vento voltou muito forte no quarto período, e mais uma vez estava contrário ao chute de Graham. 48 jardas com vento é um chute extremamente difícil, e Graham já tinha errado um em condições pouco menos desfavoráveis. A chance do FG entrar, embora seja difícil precisar, com certeza era muito baixa - tanto que assim que o FG foi chutado, ele já desviou para muito longe do alvo e nunca sequer chegou perto do Y. Então considerando a baixíssima probabilidade de certo no FG e a ótima posição de campo que você da ao Seattle em caso de erro - Lynch anotou o TD quatro jogadas depois - porque você iria tentar o FG? Mesmo que achasse que uma 4th and 15 teria uma chance de insucesso semelhante, porque não ir para o punt e tentar colocar Seattle na sua linha de 10? Com vento forte é mais difícil passar a bola, e assim você aumenta suas chances de recuperar a posse com tempo no relógio e o placar inalterado. O FG errado deu a Seattle grande posição de campo, e sabemos como isso acabou. Se enfrentando um jogo tão difícil você tem que minimizar seus erros, então a atuação de Sean Payton não ajudou.
Indianapolis Colts 23 vs 43 New England Patriots
É fácil (e errado) colocar a culpa em Andrew Luck
Então o Colts tomou uma surra do Patriots e foi eliminado dos playoffs. E claro, como sempre acontece, todo mundo teve que correr para achar alguém em colocar a culpa. A simples lógica de "venceu o melhor time, que entrou com o melhor plano de jogo e executou esse plano melhor" parece não ser boa o bastante, então todo mundo precisa de um bode expiatório. E foi ai que muita gente se voltou contra Andrew Luck.
O QB do time perdedor sempre está sujeito a levar a culpa. E no caso de Luck, muita gente correu para apontar que ele tinha lançado quatro interceptações (sete em dois jogos) e que isso prejudicou sua equipe, e todo tipo de derivação dessa narrativa que vocês podem imaginar. Claro, sempre é ruim quando seu QB está lançando interceptações. Uma, logo na primeira campanha do jogo, deu a bola ao Patriots na linha de duas jardas e um TD na jogada seguinte. Outra (que não foi culpa sua e veio depois do fulback soltar um passe curto) evitou que o Colts aproveitasse um safety em um punt bizarro.
O problema desse raciocínio é colocar em um contexto de jogo como essas interceptações ocorreram. O Colts entrou em campo procurando explorar a grande fraqueza de New England, sua defesa terrestre, e para isso precisou correr muito com a bola, especialmente pelo meio da linha defensiva de seu adversário. Bom, não funcionou - os dois guards de Indianapolis tiveram péssimas atuações, Donald Brown foi mal com a bola nas mãos, e isso significou basicamente que o time não conseguiu encurtar as descidas e precisou que seu QB convertesse todo tipo de jogada longa a cada campanha. Não ajuda que a defesa de Indianapolis se tornou apenas a segunda da história da NFL a tomar jogos consecutivos de 40 pontos, o que diminuiu ainda mais a margem do Colts para gastar o relógio e fez o time precisar ainda mais do jogo aéreo.
Em outras palavras, para o Colts se manter no jogo, eles precisaram que Andrew Luck os mantesse lá sem ajuda de um jogo terrestre. Para piorar, com Reggie Wayne machucado, o Colts só tinha um recebedor bom no seu time (TY Hilton), e a defesa do Pats fez seu plano de jogo exatamente para tirar Hilton do jogo, sabendo que Luck ficaria sem outras opções. Então o resultado não foi agradável para Andrew Luck, que teve que jogar praticamente sozinho, o dia todo, atrás no placar, precisando acertar passes para recebedores que não estavam muito livres ou com um bom espaço para poder avançar. A falta de separação que seus WRs e TEs conseguiam obrigava Luck a colocar cada bola em um espaço pequeno cercado de defensores. Então é claro que alguns arremessos de Luck foram ruins e acabaram nas mãos dos defensores, mas é isso que acontece quando você não tem alternativa senão ficar forçando esses passes o jogo todo. Pouquíssimas vezes Luck teve o luxo de lançar para um recebedor que tinha espaço, e na maioria das vezes era um WR com dois defensores em volta pegando uma bola colocada exatamente no alcance das suas mãos e fora do alcance do defensor. Como você pode culpar alguém por isso?
A verdade é que se não fosse Luck mantendo o Colts na partida com arremesso ridículo atrás de arremesso ridículo o jogo todo (alguns entre os mais bonitos que eu vi na temporada inteira), o jogo teria acabado muito antes e Indianapolis não estaria ainda com chances no meio do terceiro período. Como disse alguém no twitter, não teve nada mais emocionante nesses playoffs do que ver Luck lançando para algum jogador fora da tela da TV. Ganhou o melhor time, o mais bem preparado e o mais experiente, mas não tenham a menor dúvida: o Colts perdeu apesar de Andrew Luck, não por causa dele.
O lixo de um é o tesouro do outro
Só por diversão, temos dois RBs desse final de semana:
RB A - 24 corridas, 166 jardas, 4 TDs
RB B - 3 corridas, 1 jarda, 0 TDs
Os dois RBs foram trocados recentemente de seus times antigos para os atuais. Um custou uma escolha de primeira rodada. Outro custou uma escolha de sétima rodada. Tempo!!
Claro, todo mundo já deve saber a essa altura que o RB A, LeGarrette Blount, foi o que custou a escolha de sétima rodada e o RB B, Trent Richardson, foi o que custou uma escolha de primeira rodada. Esse é o parte de porque o Patriots tem um time tão bom e competitivo a tanto tempo: eles são excelentes achando talentos sub-valorizados a preços baixos (Blount ganha um salário mínimo, btw) e tirando o máximo deles colocando-os em um contexto favorável e um plano de jogo inteligente, e foi o mesmo com Blount, que foi chutado de Tampa Bay mesmo correndo para 1000 jardas como calouro para se tornar o RB #1 de um time como o Patriots. Enquanto isso, o Colts pagou um preço altíssimo em inflacionado por um jogador com mais "status" e que nunca tinha feito nada para mostrar que era um bom jogador. Um foi uma operação de baixo risco que rendeu ótima recompensa, outro foi uma troca de altíssimo risco que até agora foi um fiasco homérico. O Patriots ri com seu sucesso, enquanto o Colts vai ter que montar um time ao redor do seu excelente QB sem poder contar com essa escolha valiosa. Esses erros e sucessos contam e muito para o sucesso de cada equipe na NFL.
San Francisco 49ers 23 vs 10 Carolina Panthers
A ascensão e queda de Riverboat Ron
Uma das histórias mais divertidas da temporada foi a transformação de Ron Rivera em Riverboat Ron. Ron Rivera era um dos técnicos mais conservadores da NFL, um cara que se recusava a pensar de forma alternativa e tentar conversões curtas mesmo tendo Cam Newton e três bons RBs a sua disposição. Esse pensamento retrógrado causou muitas derrotas aos seus times ao longo dos últimos anos, e também foi bastante prejudicial para Carolina no começo do ano, de forma que até escrevi sobre isso em uma coluna depois da semana 2. Mas em algum momento ao longo da temporada, inexplicavelmente (eu assumo que envolveu uma experiência de quase morte e sonhos com espíritos), Rivera entendeu que estava prejudicando seu time com isso, e decidiu que iria se tornar o técnico mais agressivo da NFL. De repente, o Panthers estava indo para todo tipo de 4th and 1 e 4th and 2 durante os jogos, convertendo um número ridículo dessas jogadas e tendo grande sucesso com essa agressividade. Rivera até se deu o apelido de Riverboat Ron para simbolizar sua transformação, e não tenho dúvida de que essa transformação teve papel importante na grande temporada do Panthers.
Domingo, no seu primeiro jogo de playoffs como técnico do Panthers, Riverboat Ron teve uma chance de mostrar seu novo e mais agressivo eu. Depois de uma 1st and goal da linha de 6 jardas e duas corridas de Mike Tolbert e Cam Newton, o Panthers se viu em uma situação de 3rd and 1 para anotar o TD. Tolbert correu com a bola e foi parado para nenhum ganho, criando uma 4th and 1 e uma clássica situação de Riverboat Ron.
A decisão de Rivera aqui deveria ser clara como água: ele tem que tentar o touchdown. Não tem nem muito o que discutir. Você tem um dos melhores ataques de curta distância da NFL e o melhor QB de curta distância da NFL, e anotar o TD te da quatro pontos a mais do que um FG. A 4th DQ diz que um time vai converter na média 68% dessas jogadas, o que dá ao time uma expectativa de anotar 4.8 pontos ao tentar a conversão, enquanto ganha apenas 3 chutando o FG. Além disso, existe um benefício oculto em tentar a conversão que muita gente ignora: mesmo em caso de falha, você ainda vai ter seu adversário preso na linha de meia jarda, uma situação muito difícil que pode render um safety para a defesa, ou pelo menos uma boa chance de recuperar a bola em grande posição de campo (especialmente em uma defesa tão boa como a de Carolina). Considerando ainda que esse era um jogo entre duas defesas muito fortes e que anotar TDs seria difícil, você tem ainda mais motivos para aproveitar essa chance que pode ser a única. Então Rivera estava 100% certo quando alinhou para tentar a conversão.
Apesar da boa chamada, Newton foi pego na linha de meia jarda e o Panthers saiu sem o TD. Mas tudo funcionou mesmo assim, porque como já disse é a vantagem de tentar a conversão: o 49ers não conseguiu nada da linha de meia jarda (quase sendo interceptado), na hora de ir para o punt o time alinhou em uma formação mais conservadora que o normal (por conta da falta de espaço para evitar um bloquei), o que deu bastante espaço para o retorno de Ted Ginn até a linha de 31 jardas. No lance seguinte, Cam Newton mandou uma bomba perfeita para Steve Smith anotar o TD, um TD que acabou sendo consequência direta da agressividade do time na 4th down.
No entanto, pouco depois, o Panthers se viu com uma decisão quase igual para Riverboat Ron. Depois de uma corrida de Newton, Carolina esteve em uma 2nd and goal da linha de 1 jarda. Newton tentou um scramble que não deu em nada na 2nd down, e Tolbert foi parado novamente na linha de uma jarda na terceira descida, criando mais um 4th and goal da linha de uma jarda. Mas dessa vez, provavelmente por conta dos seus insucessos nessas situações na partida, decidiu ir para o FG. O PAnthers anotou o FG para abrir 10-6 no placar, mas San Francisco logo recebeu a bola, gastou os 4 minutos restantes na partida para anotar o TD e virar 13-10, e o Niners dominou o resto do jogo a partir desse ponto sem dar chance ao rival.
É difícil dizer que um lance apenas como esse mudou todo o jogo e foi o responsável em transformar um primeiro tempo de total dominação de Carolina em um segundo tempo perfeito de San Francisco, mas é fácil ver que Ron Rivera errou feio ao chutar o FG e o quanto isso custou ao seu time. A lógica para tentar a conversão é a mesma de antes: você tem um bom ataque terrestre, o TD vale muito mais pontos que o FG, e você coloca o ataque adversário em péssima situação caso não funcione. E nesse caso ainda por cima tem a questão do tempo, já que você provavelmente recebe a bola em tempo de tentar uma última campanha sem deixar nada para o adversário, mais um motivo para tentar o TD. Claro, muita gente vai apontar que foi bom porque o time não vinha conseguindo anotar o TD nessa situação, mas isso é overreact a uma amostra pequena: Carolina converteu 90% das situações semelhantes ao longo da temporada, e a defesa de SF permitiu TDs em 66% de jogadas na linha de uma jarda ao longo dos últimos dois anos. Além disso, tinha a questão da posição de campo e do relógio a serem considerados. Então tentar era uma decisão clara. Rivera ficou com medo e chutou o FG. Carolina anotou os três pontos, mas devolveu a bola para SF na linha de 20 jardas ao invés da de uma jarda, SF anotou o TD para virar o jogo faltando 5 segundos e foi para o vestiário na frente, 13-10, em um primeiro tempo dominado por Carolina, e o time nunca mais olhou para trás.
Os cenários que Rivera deixou de considerar são um bom exemplo de porque ele errou. Se o TD é anotado, o time abre 14-13 e iria para o vestiário em vantagem mesmo após o TD de San Francisco. Se a conversão é falha, San Francisco começa da linha de uma jarda, provavelmente vai para o punt, e Carolina ainda teria tempo de tentar um FG ou mesmo um TD, indo para o vestiário na frente 7-6 ou mesmo 10-6 ou 14-6. Ao invés disso, foram para o intervalo perdendo de 13-10, algo que poderia ser evitado se Riverboat Ron tivesse falado mais alto na lateral. Ao invés disso Rivera ficou com medo pelo seu insucesso anterior, esqueceu um fator importante que fez do seu time tão bem sucedido, e seu time pagou o preço.
A diferença que um treinador faz
A falha de Rivera em ser Riverboat Ron custou ao seu time no final do primeiro tempo, e coincidentemente ou não, foi o momento que o jogo mudou (SF iria ganhar o jogo por 17-3 a partir daquele ponto). Mas teve outro motivo para essa mudança drástica, e também teve a ver com técnicos. Dessa vez, com Jim Harbaugh e Vic Fangio.
Um dos motivos pelos quais o Panthers foi tão bom no primeiro tempo, especialmente no ataque, foi porque eles pegaram o Niners desprevenido em seu plano de jogo. Assim como ano passado SF pegou Green Bay de surpresa com o read option, Carolina também incluiu em seu plano de jogo uma série de pequenos ajustes e formações diferentes que tinha usado pouco durante a temporada regular e que, certamente, não estavam nos vídeos estudados pelo Niners. Ao invés do pacote pesado de corridas, o time usou muitos disfarces para deixar Cam Newton a vontade no pocket e pegando a defesa desprevenida nas laterais. O time também usou alguns read options para correr com a bola e também, menos comum neles, para fazer simples play actions e deixar seus WRs velozes no mano-a-mano contra a secundária desfalcada de SF. A defesa não estava esperando isso, e Carolina aproveitou para fazer seu ataque funcionar (menos na linha de uma jarda).
Mas no intervalo, especialmente com a vantagem proporcionada pelo erro de Riverboat Ron, o Niners fez seus ajustes. Ofensivamente, o time pouco fez de excepcional, alguns ajustes na proteção e mais lançamentos na direção de Anquan Boldin (especialmente explorando Dayton Florence). Mas defensivamente, o time voltou preparado para o novo plano de Carolina. Com a vantagem (que subiu para 20 na primeira campanha ofensiva do time) e maior confiança na sua defesa terrestre, o time começou a ser muito mais agressivo ofensivamente, mandando muitas blitzes de diferentes locais e pressionando os CBs na linha de scrimmage, tirando a opção dos passes curtos e rápidos e obrigando Cam Newton a fazer seus passes depois de algum tempo, em geral sem espaço no pocket ou fugindo de um sack. Newton não funciona tão bem nessas situações, ainda tem alguns hábitos ruins (especialmente lançar a partir do pé de trás) e não tem a criatividade e precisão de Wilson ou Aaron Rodgers. Muitas vezes ele tentou ganhar tempo no pocket esperando seus WRs ficarem livres para logo ser engolido pelo pass rush, e quando tentou sair pouco espaço teve para fazer qualquer coisa. O read option parou de funcionar e foi abandonado, e ai o Panthers teve que voltar para seu plano tradicional, que não teve sucesso contra uma fortíssima defesa. A maior diferença foi a pressão gerada, com cinco sacks só no segundo tempo em cima de Cam (contra apenas um no primeiro). O ataque de Carolina não iria mais ameaçar o resto do jogo, o ataque terrestre de SF começou a achar espaços, e o time carimbou sua viagem a Seattle. Então nunca subestimem a importância dos ajustes dentro de jogo dos técnicos. O 49ers ajustou brilhantemente, e Carolina não conseguiu responder.
Em tempo, já que o assunto é a importância de um técnico, San Francisco passou 8 anos sem sequer ir aos playoffs, ganhando 7, 2, 4, 7, 5, 7, 8 e 6 jogos entre 2003 e 2010. No ano seguinte chegou Jim Harbaugh, e San Francisco ganhou 13, 11.5 e 12 jogos nos três anos seguintes, chegando a três finais de conferência consecutivas. Um bom lembrete sobre o impacto que um bom técnico pode ter, para todos os times que estão mudando seus técnicos nessa offseason.
San Diego Chargers 17 vs 24 Denver Broncos
Quando tudo da certo, e você não aproveita
Um primo próximo do que falamos sobre o Saints, sobre como quando você enfrenta um adversário que é franco favorito você não pode continuar dando a ele presentes e oportunidades para causar estrago. A situação do Chargers, embora semelhante, não é a mesma. Se o Saints deu oportunidades ao adversário e não podia, o Chargers foi o time que recebeu diversas oportunidades (uma parte delas menos por causa de erros do Broncos e mais por pura sorte) para tentar a zebra, mas não conseguiu aproveitar. E as duas são mortais, lembrando que San Diego era +9.5 para esse jogo - isso significa que esperam que você vença 22.2% do tempo apenas (curiosamente, na história da NFL, times + 9.5 venceram 22.1% das vezes antes desse jogo).
Deixando de lado um instante a má atuação do Chargers durante os primeiros 40 minutos de jogo e a boa atuação da defesa do Broncos, a verdade é que o placar deveria ser muito mais elástico do que foi. O Broncos foi o time que vacilou ao longo da partida, as vezes por más jogadas, as vezes por puro azar. O que eu falei que o Saints não podia fazer com o Seattle, o Broncos fez um pouco aqui. A questão é que o Chargers não transformou isso em nada.
Logo na primeira campanha do Broncos (após uma boa campanha de SD terminar em um sack e um punt), Peyton Manning teve a bola na linha de 29 do campo de ataque e tentou achar um Wes Welker em velocidade na end zone. Mas o passe foi muito ruim e sem controle, e ficou pendurado tempo o suficiente para o CB Shareece Wright cortar a rota do passe e se colocar em posição para conseguir uma interceptação. A bola foi perfeito no meio do peito de Wright, que não conseguiu segurar e fazer a interceptação. Algumas jogadas depois, Manning transformou o erro de Wright em 7 pontos com um passe para Demaryius Thomas. Depois de outro punt, Chargers teve uma nova chance: em um passe esquisito para Julius Thomas, o TE de Denver não conseguiu controlar a bola direito, tomou um tackle e soltou a carne, que foi recuperada por San Diego. No replay é quase impossível ver com certeza se foi fumble, down by contact ou passe incompleto, então permaneceu a marcação original, para sorte do Chargers. De novo, o time não aproveitou a boa posição de campo (linha de 45): o time avançou 26 jardas antes de Philip Rivers tomar um sack, e Nick Novak errar o FG. Então San Diego poderia ter evitado os 7 pontos de Denver e/ou anotado mais pontos seus com esse fumble sortudo, mas ao final dessas campanhas, o placar ainda era 7-0 para Denver. Aproveitando a boa posição de campo do FG errado, Manning logo anotou outro TD para fazer 14-0, um 14-0 que o Chargers teve a chance de evitar ou fazer algo melhor e não aproveitou.
Mas espera, tem mais. Faltando 3 minutos para o fim do primeiro tempo, o Broncos recuperou a bola novamente e se lançou em uma campanha. O time chegou dentro da linha de 5 jardas, mas na terceira descida, um bom passe de Manning para Eric Decker não foi seguro pelo WR, pipocou no ar, e Donald Butler fez ótima jogada na bola pendurada para conseguir com uma interceptação, salvando assim pelo menos três pontos. Com 30 segundos e dois tempos para pedir, San Diego preferiu ajoelhar na bola mesmo sabendo que ela começaria com Denver no segundo tempo. Logo no retorno, Eric Decker quebrou seis tackles e tinha caminho livre até a end zone, mas tropeçou sozinho e caiu na linha de 40 jardas. Logo depois, Manning fez passe lindo para um livre Wes Welker na end zone, que deixou a bola cair e forçou o FG de Denver. Então o que deveria ter sido 10 ou mesmo 14 pontos para Denver acabou resultado em apenas três, por pura sorte e pela boa jogada de Butler. Pouco depois, Matt Prater ainda erraria um FG de 47 jardas.
Eventualmente no quarto período, Philip Rivers e o ataque do Chargers acordou, anotou 14 pontos porque a defesa do Broncos inexplicavelmente decidiu que não precisava cobrir Keenan Allen e ainda recuperou um onside kick milagroso para trazer a diferença para sete pontos, antes de Manning tirar o jogo de alcance com dois passes cruciais em terceiras descidas (uma em 3rd and 18). O Chargers chegou perto de conseguir uma grande zebra, mas a verdade é que o jogo não foi nem tão apertado como pareceu pelo que os dois times jogaram, e também não é difícil ver aonde o Chargers não conseguiu. O Broncos e o acaso deram várias oportunidades para o Chargers, e eles não aproveitaram. Tiveram uma interceptação na mão para evitar 7 pontos do Broncos e não conseguiram. Recuperaram um fumble em grande posição de campo, não geraram pontos e ainda deram boa posição para o Broncos anotar mais sete. Conseguiram sair de alguma forma tomando só 3 pontos quando deveriam ter tomado 14, e mesmo assim só foram anotar um TD no quarto período.
Se o Saints nos ensinou que quando você quer superar um time superior você não pode continuar atirando no próprio pé e dando chances ao adversário, então o Chargers é um exemplo de como você também não pode deixar passar todas as chances que colocam nas suas mãos, senão o buraco fica grande demais para sair depois. O Chargers não conseguiu, e é por isso que a Bolo Tie não está indo para New England semana que vem.