E o prêmio de pior roubada de base da temporada vai para...
Com a temporada regular da MLB finalmente acabando, me parece uma boa hora para olhar para essa ótima temporada regular e distribuir alguns prêmios. Eu particularmente adoro esses prêmios, especialmente no baseball, porque eles são ao mesmo tempo simples e complexos: temos estatísticas e métricas extremamente avançadas a nossa disposição, mas tem muita gente que insiste em olhar para os números errados e superficiais sem olhar para os que realmente nos trazem a verdadeira performance. Ao mesmo tempo, podemos ter duas pessoas que usam os mesmos métodos de análise, mas valorizam coisas diferentes de forma diferente. São múltiplas possibilidades.
Então vamos dar uma passada pelos três prêmios principais da MLB e ver quem deveria (e quem provavelmente vai) levar cada um deles: MVP, Cy Young e Rookie of the Year. Deixo de fora Manager of the Year porque é o prêmio mais subjetivo de todos os tempos, depende demais de termos que não podemos observar e normalmente vai para o time que deu a melhor mudança de record de um ano para outro.
Ao final da minha explicação e análise, eu acrescentei duas categorias: "Também mereceriam o prêmio", para jogadores que, embora não sejam as minhas escolhas, também seriam escolhas válidas para o prêmio, e "menções honrosas", jogadores que não seriam escolhas válidas por estarem abaixo dos demais, mas que também merecem ser lembrados pelas boas temporadas que fizeram.
Antes de começarmos, aviso que vamos falar bastante de estatísticas por aqui. Então se não as conhece e quer conhecê-las, recomendo uma passada por esse post antes, onde eu explico praticamente todas as sabermetrics mais usadas (e que usaremos aqui hoje) de forma bastante longa e didática. Então vamos começar, por...
AL MVP : Mike Trout
Parece que foi ontem - mas na verdade foi em 2012 - que um calouro chamado Mike Trout tomou a liga de assalto e se tornou, da noite para o dia, uma das maiores estrelas dos esportes americanos. O recém-chegado de 20 anos não precisou de muito tempo para se estabelecer como o melhor jogador do mundo, e terminou o ano com números históricos: ele rebateu .326/.399/.564 para um wRC+ de 167 - a melhor marca da MLB na temporada - roubando 49 bases (melhor marca da MLB), sendo um dos melhores defensores do ano e, se você gosta dessas coisas, ainda rebateu 30 HRs e anotou 123 corridas. A temporada do garoto foi tão histórica que se tornou o primeiro jogador em toda a história do baseball a ter uma temporada com WAR de 10.0 ou acima com menos de 21 anos (e ele tinha 20), também de longe a melhor marca da temporada. Sem dúvida foi o melhor jogador de 2012, e teve a melhor temporada de um jogador de 20 anos da história do baseball, mas ainda assim Trout não ganhou o MVP - ganhou Miguel Cabrera, um excelente rebatedor que ganhou a Tríplice Coroa naquele ano... e que terminou com números ofensivos quase idênticos a Trout (167 a 166 em wRC+), mas o CF do Angels estava em outra estratosfera como corredor e defensor (duas áreas onde Trout foi um dos melhores e Cabrera um dos piores do ano) e portanto foi um jogador muito melhor. A justificativa de muitos era que Cabrera levou o Tigers aos playoffs enquanto o Angels não chegou na pós-temporada, mas até essa justificativa foi patética: o Angels na verdade ganhou mais jogos naquela temporada que Detroit (89 a 88), e o time de Michigan só foi aos playoffs porque jogava em uma divisão fraquíssima. Então se você está acompanhando, o principal motivo para Trout não ter vencido o troféu que mereceu em 2012 foi "o time dele joga em uma divisão mais difícil que o time de Miguel Cabrera". E é um péssimo motivo. Trout foi roubado.
Em 2013, tivemos mais do mesmo: de novo Trout foi o melhor jogador do baseball por quilômetros, rebatendo .323/.432/.557 (177 de wRC+, segunda melhor marca da MLB), roubando 33 bases, jogando sua boa defesa de costume, e novamente terminando o ano com o melhor WAR do baseball (10.5, mais de 2 acima do segundo melhor). Novamente, a temporada fez história: foi apenas a segunda vez na história do baseball que um jogador de 21 anos ou menos teve 10+ de WAR em uma temporada (o primeiro, claro, foi ele mesmo em 2012), e apenas a quarta vez desde Ted Williams que um jogador teve 10+ de WAR em dois anos consecutivos (os outros três? Mantle, Mays e Bonds). De novo, Trout era o melhor jogador do baseball, e o melhor jogador de 21 anos da história... e de novo ele perdeu o MVP para Miguel Cabrera. Ainda que Trout novamente merecesse o prêmio, dessa vez a vitória de Cabrera foi mais justificável: ele teve uma temporada histórica em seu próprio direito, com uma das melhores performances ofensivas da história do baseball (.348/.442/.636, 192 wRC+, 44 HRs), e o Tigers dessa vez realmente foi um time muito superior ao Angels. Trout merecia ter ganho, de novo, mas não foi um absurdo tão grande como foi em 2012.
Mas agora, em 2014, não tem nada que tire o prêmio das mãos do fenômeno do Angels. Ele novamente lidera a MLB com seu bastão, rebatendo .291/.382/.567 com wRC+ de 170 e 35 HRs. Sua defesa e velocidade nas bases pioraram nesse ano quando Trout deu mais ênfase em seu jogo aos home runs, mas ele ainda gera valor suficiente com eles para liderar a MLB em WAR confortavelmente (8.1 - nenhum outro jogador passa de 6.6). Em outras palavras, ele ainda é o melhor jogador do baseball com folga, como foi nos últimos dois anos. Mas dessa vez, não tem nenhum argumento que justifique dar o prêmio a outra pessoa: o seu Angels é o melhor time da MLB com 96 vitórias, e Trout seu melhor jogador, então não tem a desculpa dos playoffs. Também não tem nenhum outro jogador como Cabrera em 2013 colocando uma temporada histórica, ou mesmo colocando ótimos números superficiais como em 2012. E se você não gosta de estatísticas avançadas e inteligentes, mesmo assim Trout tem um caso para ser o MVP: ele lidera a MLB em corridas anotadas (113) e é segundo (primeiro na AL) em corridas impulsionadas (110), sem falar que é o quarto em Home Runs e o melhor jogador do melhor time do baseball. Tudo aponta para Trout como o melhor jogador do baseball, e esse é finalmente o ano que ele receberá o troféu que deveria ter sido seu por direito em 2012 e 2013.
Também mereceriam o prêmio: Ninguém, de verdade.
Menções honrosas: Corey Kluber (espere um pouco); Michael Brantley (temporada espetacular quando menos se esperava); Alex Gordon (talvez o jogador mais completo de 2014); Jose Bautista (lidera MLB em OBP); Jose Abreu (segundo melhor bastão da MLB).
NL MVP: Clayton Kershaw
Para falar do MVP da National League, primeiro temos que responder a duas perguntas que são feitas desde que o prêmio de MVP existe. A primeira é: pitchers podem ser MVPs? E a segunda é: a performance de um time deveria afetar a escolha do MVP? Vamos por partes, então, como diria Simon Blackquill.
Vamos começar pela primeira: pitchers podem ser MVPs? Essa é uma discussão muito antiga, que ganhou muita força em 1999 e 2000, quando Pedro Martinez submeteu o melhor biênio de um arremessador da história do universo conhecido... mas não ganhou o MVP, porque alguns votantes (curiosamente, de New York, sendo que Pedro jogava em Boston. Hmm....) estupidamente declararam que arremessadores não poderiam ganhar o prêmio, e o deixaram totalmente de fora de seus ballots.
O argumento dessas pessoas é simples: um arremessador joga apenas uma vez a cada cinco dias, enquanto um rebatedor joga todo dia, então um arremessador não tem tanto impacto quanto um jogador de "linha" ao longo de uma temporada. Mas esse argumento não é bem verdade. Um arremessador pode jogar apenas um quinto dos jogos de um rebatedor normal, mas ele impacta esses jogos muito mais. Por exemplo, David Price enfrentou 947 rebatedores nessa temporada, maior marca da MLB. Mas o jogador que mais foi ao bastão esse ano, Ian Kinsler, o fez apenas 700 vezes. Se voce considerar que metade de um at bat é o arremessador e metade o rebatedor, então na verdade um arremessador vai afetar a temporada bem mais do que alguém que vai ao bastão rebater. É claro, um jogador "de linha" afeta o jogo em outras maneiras além de ir ao bastão - o que ele faz correndo nas bases, e principalmente, jogando na defesa. Ian Kinsler, por exemplo, jogou 1362 entradas como defensor, participando de 350 jogadas e vendo 412 bolas sendo rebatidas para sua região do campo. Então é verdade que, no total - entre suas 350 jogadas como defensor, 700 idas ao bastão, mais 190 vezes em base (onde afetaria com sua velocidade) - Ian Kinsler teve uma influência total maior do que David Price enfrentando 947 rebatedores, mas a diferença não é tão grande assim a ponto de você automaticamente excluir um arremessador da comparação com um rebatedor. Se um pitcher é superior aos rebatedores ao ponto de tirar essa diferença que existe entre a posição de ambos, então é totalmente natural que ele ganhe o prêmio de MVP. Então um pitcher PODE ser MVP, e deve ser considerado nessa conversa se foi bom o bastante.
O segundo ponto é mais controverso, e depende apenas da opinião de cada um: a performance coletiva (em particular, se ele vai ou não aos playoffs) de um time deveria influenciar a votação de MVP? Minha resposta pessoal, e o critério que eu adoto: sim, deve influenciar. Mas não sendo, como muitos usam, um fator limitante, ou maior do que os outros - ou seja, o fato de um jogador não estar indo aos playoffs não deveria automaticamente excluí-lo de concorrer ao prêmio. Eu vejo a performance coletiva como um dos muitos fatores que influenciam a escolha do MVP, sem ser mais importante do que os outros. Isso pode, de certa forma parecer injusto com um jogador, já que baseball é um esporte onde um único jogador influencia muito menos do que na NFL ou NBA, por exemplo. Mas eu encaro desse modo: um jogador que adicionou 7 vitórias ao total do seu time foi melhor, claro, que um que adicionou 6.5. Ele é o melhor jogador. Mas um cara que, ao adicionar 6.5, fez seu time passar de 82 vitórias para 88.5 e uma vaga de wild card teve um peso maior no resultado final do que um jogador que, digamos, fez seu time passar de 72 para 79. Esse jogador foi mais valioso, por assim dizer. Claro, não existe nenhuma forma de precisar exatamente quanto isso deveria pesar, mas ai que entra o bom senso e o fator humano da questão. Então sim, o record final do seu time importa, embora não seja um fator determinante.
Tendo respondido essas duas perguntas, para sabermos quem é o MVP da NL, precisamos começar com quem foi o melhor jogador lá esse ano. Para mim, o melhor jogador foi Jonathan Lucroy. O catcher do Brewers não tem os números ofensivos espetaculares que seus concorrentes Giancarlo Stanton e Andrew McCutchen tem (e que compõem seu principal argumento pelo prêmio), mas ainda assim tem números excelentes no bastão, rebatendo .303/.372/.472 com wRC+ de 134 que ainda é o sexto maior da NL inteira entre jogadores com pelo menos 600 idas ao bastão (ele também é o primeiro catcher da história da MLB com 50+ rebatidas duplas). Mas Lucroy tem uma coisa ao seu favor que Cutch e Stanton não podem dizer: ele é um fantástico jogador do outro lado da bola, um dos melhores Cs defensivos de todo o baseball, enquanto que Cutch e Stanton, enquanto não são defensores ruins, não estão tendo boas temporadas com suas luvas. Além disso, Lucroy é um catcher - não existe posição mais difícil de se jogar no baseball do que essa, e portanto ter um exímio defensor E rebatedor na posição é muito mais importante do que tê-lo em um OF ou 1B.
Quando consideramos seu impacto enorme dos dois lados da bola mais sua posição, onde rebatedores como ele são raros e a prêmio (e os que são raramente são tão bons defensivamente), eu considero Lucroy o melhor jogador da NL em 2014. E embora seu WAR (6.2) está abaixo de Kershaw (6.8) e Cutch (6.4), tem um motivo para isso: WAR ainda não inclui uma "descoberta" recente das sabermetrics, que é o pitch framing. Pitch framing é a capacidade de um catcher de, quando está recebendo bolas atrás do home plate, transformar balls em strikes, e evitar que o contrário aconteça. É uma habilidade extremamente importante, e Lucroy é o melhor no quesito: depois de liderar todos os catchers em 2013, StatCorner (pioneiro no desenvolvimento dessa estatística) coloca Lucroy em segundo em corridas "salvas" com framing na temporada 2014, "salvando" 21.3 corridas em relação a um jogador médio na posição. WAR não inclui framing pela dificuldade em quantificar isso que ainda temos (como eu disse, é um campo de pesquisa muito recente), mas se pelo menos 10 dessas 21.3 corridas fossem computadas como "Above Replacement" em WAR, isso já seria suficiente para colocar o WAR de Lucroy acima dos 7 e como o melhor da MLB. Ainda que não vá entrar em detalhes numéricos porque, afinal, hoje em dia ainda não sabemos como, para mim isso tudo é suficiente para colocar Lucroy como o melhor jogador da NL em 2014, um pouco a frente de Kershaw que, apesar de estar tendo uma temporada inacreditável em um nível "por jogo", perdeu bastante tempo machucado e tem apenas 190 IP e 718 rebatedores enfrentados, muito abaixo dos principais arremessadores da temporada.
Mas ai entra a questão: o Brewers não vai para os playoffs apesar da temporada fantástica de Lucroy, enquanto o Dodgers está ganhando a divisão apertado nas costas de Kershaw. Se a diferença entre os dois fosse considerável - digamos, se Lucroy fosse um jogador nível Mike Trout - eu estaria argumentando a favor de Lucroy como o MVP apesar da performance de seu time. Mas para mim, a diferença na temporada entre os dois é bem pequena - na verdade, é principalmente pelo tempo que Kershaw perdeu machucado, pois o arremessador do Dodgers é superior como jogador - então eu prefiro dar o prêmio para Kershaw (sem ele, o Dodgers estaria lutando desesperadamente pela segunda vaga do Wild Card) do que para Lucroy (sem ele, o Brewers não teria sido uma surpresa na temporada, mas no final acabaria fora dos playoffs da mesma maneira). É um pouco injusto, talvez, mas não é uma disputa fácil. Lucroy ou Kershaw, para mim os dois estão tão próximos que qualquer um deles poderia tranquilamente vencer o prêmio. Mas fico com Clayton Kershaw.
Menções honrosas: Anthony Rendon (vai ser uma estrela); Carlos Gomes (o Alex Gordon da NL); Johnny Peralta (PEDs!); Jason Heyward (se pelo menos a força no bastão voltasse...).
AL Cy Young: Corey Kluber
Eu sei que Felix Hernandez muito provavelmente vai ganhar esse prêmio. Mas ele não devia, porque o melhor arremessador de 2014 da AL está sendo Corey Kluber, o fenômeno do Indians que surgiu de onde ninguém esperava. O caso a favor de Kluber é simples: ele e Felix lançaram quase o mesmo número de entradas na temporada (Kluber tem até 1.2 a mais, mas enfim), então essa disputa depende apenas de qual dos dois foi melhor, mais individualmente dominante, em um nível "por jogo", ou "por entrada".
A primeira vista, pode parecer que esse foi Felix, porque ele possui o melhor ERA, 2.07 contra 2.53. Mas isso é besteira. Já faz muito tempo que se descobriu que ERA não é a melhor estatística para medir o quão bem um arremessador tem arremessado. ERA mede o resultado final apenas das jogadas, e é altamente influenciado por fatores que não tem nada a ver como a habilidade e atuação do arremessador em questão, como a atuação da sua defesa, o estádio onde jogam, ou mesmo sorte. Sendo assim, não é a toa que o ERA de Kluber é pior, já que ele joga em frente a pior defesa de todo o baseball: "Defensive Rating" do Fangraphs coloca o Indians como a segunda pior defesa da MLB, enquanto tanto UZR como DRS (duas estatísticas diferentes para defesa) colocam a do Indians como a pior do baseball por uma distância enorme. Para efeito de comparação, DRS diz que a defesa do Mariners (onde Felix joga) "custou" ao seu time 12 corridas ao longo do ano... enquanto a do Indians custou 78 corridas (!!). UZR diz que a do Mariners, por outro lado, "salvou" 9 corridas acima da média... enquanto que a do Indians "custou" 70 corridas abaixo da média. Supondo que a falta de ajuda da defesa tenha custado igualmente para cada arremessador (ou seja, dividindo por cinco), a incompetência da defesa sozinha explicaria a diferença de ERA entre os arremessadores. Então não podemos culpar Kluber pela defesa horrível que joga atrás dele.
Ao invés disso, podemos e devemos olhar para as coisas que um arremessador de fato controla: walks, strikeouts, HR e FIP. (FIP, em particular, é uma estatística interessante que pega apenas esses fatores e projeta quanto seria o ERA do jogador considerando apenas o que um arremessador de fato controla, desconsiderando defesa, sorte, e parte dos efeitos de estádio. Desnecessário dizer, ele é muito melhor do que ERA em termos de correlação com resultados futuros). Kluber da um show em todas essas: ele é o terceiro melhor arremessador da MLB em K%, eliminando 28% dos rebatedores que enfrenta, e 22nd melhor evitando walks (apenas 4 lugares atrás de Felix). Seu FIP é o melhor entre os arremessadores da AL, com 2.39, superior aos 2.54 de Felix, e isso antes de considerar que Felix joga em um estádio mais favorável a arremessadores que Kluber. E embora eu não seja tão fã de WAR com pitchers, ele lidera todos os arremessadores no quesito com 7.0. Não a AL. Toda a MLB, acima até de Kershaw e seus 6.8 (Felix tem 6.1).
Então Felix é o favorito a ganhar o prêmio, está tendo uma temporada incrível em seu próprio mérito, e tem mais nome. Mas Kluber tem sido um arremessador melhor do que ele nessa temporada, mais dominante, e deveria ganhar o Cy Young por direito.
(Na noite que eu termino essa coluna, Felix cede 8 ER em 4.2 IP para elevar seu ERA para 2.34 e dar ainda mais legitimidade ao argumento "Kluber para Cy Young"? Claro que sim. Perdão, torcedores do Mariners.)
Também mereceriam o prêmio: Felix Hernandez
Menções honrosas: Jon Lester (ponto alto de duas temporadas conturbadas); Chris Sale (machucou e não jogou entradas suficientes); Garrett Richards (idem); Phil Hughes (melhor K/BB ratio da história do baseball, mais um vitimado por uma defesa horrível).
NL Cy Young: Clayton Kershaw
Quer dizer... eu preciso mesmo explicar essa? Nem vou perder meu tempo. Mas vou aproveitar para falar de outro ponto.
Enquanto a temporada histórica de Kershaw dispensa explicações, um ponto rápido para ajudar a colocar a temporada de Kershaw (e de todos os outros muitos arremessadores que estão tendo o melhor ano da carreira em 2014) em perspectiva, para ajudar a entender porque de repente todos os arremessadores estão dando saltos enormes.
O fato é que, desde os anos 60, a MLB nunca esteve tão favorável a arremessadores como é hoje em dia. Os números de rebatedores vem regredindo continuamente, e esse ano atingiu seu ponto mais baixo - desde 1973, quando foi criado o Designated Hitter, a MLB não apresentava números tão ruins em AVG, OBP, e mesmo o slugging, mais alto hoje do que nos anos 70, está em seu patamar mais baixo desde 1992. Os rebatedores estão andando menos (7.6%) E sofrendo strikeouts mais frequentemente (20.3%) do que em qualquer outro ponto desde 73. Hoje, ser arremessador é muito mais fácil do que o era a 10, 20, mesmo 30 anos, e esse é um forte motivo pelo qual tantos arremessadores (incluindo Kershaw) de repente viram um salto nos seus números.
Entre os motivos temos alguns mais simples (maior difusão e proficiência de arremessos difíceis como splitter, slider e cutter; estatísticas avançadas que permitem ao arremessador maior estudo sobre os adversários; maior uso de shifts e estratégias defensivas mais avançadas; zona de strike muito maior) e alguns não tanto (estatísticas defensivas muito mais avançadas fazem com que seja mais fácil para times acharem grandes defensores ou eliminarem os péssimos; menor uso de esteróides; maior compreensão sobre BABIP por parte dos times; muito mais pitch framing).
Para colocar em perspectiva, que tal isso: hoje, a slash line média dos rebatedores da MLB é de .251/.314/.387. Em 2000, quando Pedro Martinez teve sua lendária temporada de 1.67 ERA, a slash line média era de .270/.345/.437. Quando teve 1.39 de FIP em 1999, recorde da MLB, a slash line média era de ..271/.345/.434. Em 2014, essa é quase a slash line de Kyle Seager (.273/.340/.467), 11th da MLB em WAR, e melhor que a slash line do candidato a MVP da AL Alex Gordon (.264/.345/.430), 9th em WAR. E isso era um rebatedor MÉDIO da MLB na época (hoje seria algo como Dionner Navarro piorado um rebatedor médio). É um simples fato, mas hoje tem muito mais agindo em favor dos arremessadores do que em qualquer outro ponto dos últimos 40 anos, o que explica os números anormais que estamos vendo em 2014.
Sabendo disso tudo, ainda está impressionado pela temporada histórica de Clayton Kershaw? Sem dúvida. Mas faz muito mais sentido agora, certo?
Também mereceriam o prêmio: Ninguém chega perto
Menções honrosas: Jordan Zimmerman (tão underrated); Adam Wainwright (a consistência em pessoa); Johnny Cueto (um pouco overrated por ERA); Stephen Strasburg (melhor changeup da MLB); Madison Bumgarner (mais novo que Matt Harvey, 2 anéis, 15 IP e 0 ER em World Series)
AL Rookie of the Year: Jose Abreu
Se Masahiro Tanaka estivesse ficado saudável, talvez teríamos alguma disputa ou alguma discussão por aqui. Talvez. Mas sem ele, não existe ninguém para sequer desafiar Jose Abreu, que rebateu 35 HRs (#4 da MLB) com .318/.384/.587 de slash line que é a segunda melhor da MLB (166 wRC+) depois de Trout. Ele não foi só o melhor rookie como um dos melhores jogadores de todo o baseball em 2014. Ponto.
Mas e se não incluíssemos no ROY jogadores que tiveram carreira profissional fora da MLB (ou seja, Tanaka e Abreu), quem seria o favorito ao prêmio? Os arremessadores Colin McHugh (mais consistente) e Marcus Stroman (mais dominante), ou até mesmo Yordano Ventura, teriam bons argumentos para levar o prêmio para casa. Mas meu voto iria para Kevin Kiermaier, OF do Rays, que em 103 jogos foi absolutamente dominante por um decepcionante time de Tampa Bay. Ele rebateu sólidos .262/.314/.445 em um estádio desfavorável, e dobrou como um dos melhores defensores de campo externo do baseball em 2014, e tem o maior WAR entre calouros não-Abreus com 3.7. Ele teria meu voto em um ano decepcionante para rebatedores calouros.
Também mereceriam o prêmio: Nope, nenhum outro
Menções honrosas: Kevin Kiermaier (ver acima); Masahiro Tanaka (maldito cotovelo!); Dellin Betances (uma das performances de bullpen mais dominantes dos últimos anos); Colin McHugh (ótima temporada perdida em um time ruim); Brock Holt (defensor mais versátil do baseball); Yordano Ventura (segunda fastball mais rápida de 2014).
NL Rookie of the Year: Jacob deGrom
O prêmio de MVP, a meu ver, tem uma preposição simples: você tem que escolher o jogador que, ao longo do ano, mais agregou valor ao seu time. Em outras palavras, tempo de jogo importa - é melhor você afetar um time por 160 jogos do que por 120, ainda que o que o fez por 120 tenha sido um pouco melhor em um nível "por jogo". É a natureza do prêmio.
Para calouro do ano? Não existe uma direção clara. Apenas diz para votar no melhor calouro da temporada, mas o que isso significa exatamente isso? Votar no jogador que, ao longo do ano, foi o melhor no somatório da sua temporada, naquele que gerou mais valor total para sua equipe? Ou votar em um jogador que foi mais individualmente dominante no tempo que jogou, ainda que não tenha jogado tanto (como acontece frequentemente com calouros) e agregado tanto valor total como outros? É uma decisão pessoal, sem uma diretriz clara.
Digo isso porque, na disputa pelo ROY da NL, temos dois jogadores que se enquadram nos dois casos, e qualquer um pode muito bem ser o calouro do ano: Billy Hamilton, o velocista do Reds que foi titular desde o primeiro dia, jogou 150 jogos e foi um dos melhores corredores (56 bases roubadas) E defensores da liga inteira (ainda que não consiga rebater ou chegar em base), agregando mais valor total do que qualquer outro calouro da NL; ou Jacob deGrom, o arremessador do Mets que jogou apenas 22 jogos e arremessou 140 entradas, mas que foi absolutamente dominante nesse tempo limitado?
Eu particularmente sou um grande fã do Corolário de Bill Walton - eu prefiro um jogador que atingiu um nível muito alto por menos tempo a um jogador que foi consistentemente bom por um período de tempo maior mas sem nunca ter atingido aquele nível especial. Então eu fico com deGrom, porque no tempo que jogou, ele foi realmente especial: se qualificasse com entradas o suficiente, deGrom seria 6th na NL em ERA, quarto em FIP, e até 13th em WAR apesar de ser um dos dois únicos jogadores do Top30 (Jake Arrieta o outro) a lançar menos de 150 entradas). Só Kershaw, Strasburg e Arrieta conseguiram melhor aproveitamento nos strikeouts que deGrom (25.5%), e isso antes de entrar no mérito de que deGrom não era esperado que fosse nada demais na MLB depois de passagens sem destaque pelas ligas menores durante quatro anos. Ele ganhou esse prêmio pelas suas atuações, mas digamos que não atrapalha ter uma história tão improvável de sucesso.
Então Hamilton foi o jogador melhor na totalidade do ano, e se fosse um prêmio de MVP, ele teria meu voto. Mas ele nunca foi tão bom quanto deGrom foi em nenhum momento, e como o ROY nos permite escolher qual dos dois preferimos, meu voto fica com deGrom, o melhor arremessador calouro do Mets desde Doc Gooden. Nada má essa companhia.
Também mereceriam o prêmio: Billy Hamilton
Menções honrosas: Chris Owing (começou bem o ano, depois caiu); Travis D'Arnaud (irregular, mas rebatendo .266/.314/.469 desde que voltou da AAA); Kolten Wong (foi um ano bem fraco para calouros da NL...).
Prêmio de honra por conjunto da obra: Derek Jeter
Esse não é um prêmio pelo que Derek Jeter fez em 2014, quando aliás está tendo uma temporada ruim. Mas assim como o Oscar tem um prêmio de honra por contribuições totais ao longo da carreira, a MLB também deveria ter um prêmio anual para premiar jogadores (se aposentando ou já aposentados) de forma a honrar jogadores que fizeram muito pelo jogo, e carreiras importantes. Eu deveria ter pensado nisso em 2013, quando dava tempo de honrar Mariano Rivera ou Todd Helton com esse prêmio, mas 2014 é a hora perfeita para criar esse prêmio e dá-lo para Derek Jeter.
Acho que todo mundo conhece as credenciais de Derek Jeter como jogador - ele é o sexto jogador com mais rebatidas válidas da história do baseball, um dos cinco melhores shortstops da história do baseball, um dos melhores jogadores da sua geração. Ele foi o capitão de uma das maiores dinastias do baseball (os Yankees do final dos anos 90) e tem anéis de campeão suficientes para encher uma mão, sem falar em uma enorme coleção de rebatidas e momentos (até defensivos!) decisivos e importantes ao longo de sua carreira de playoffs. Ele se aposenta como um líder e um grande vencedor, alguém que mostrou incrível consistência e longevidade ao longo da sua carreira. Vou contar para meus netos que vi Derek Jeter jogar.
Mas mais do que o jogador que Jeter era dentro de campo, o que vamos mais sentir falta é de quem ele era fora de campo. Jeter era o perfeito profissional, o perfeito jogador: muita classe dentro e fora de campo, entrevistas interessantes, muito carisma, alguém que nunca desceu ao nível dos Barry Bonds e Alex Rodriguez em termos de esteróides e que sempre se conduziu com imensa compostura e classe ao longo da carreira. O tipo de jogador que imediatamente virou a cara do baseball, o símbolo do jogo em um nível cultural, um verdadeiro embaixador - e mais, o embaixador respeitável, de cara limpa, que o jogo precisava urgentemente durante uma era turbulenta marcada por rebatedores de 130kg de músculo e duas testas rebatendo 60 home runs. Eu digo isso como um torcedor fanático do Red Sox que odeia o Yankees quase religiosamente: poucos jogadores eram mais fáceis de gostar, de respeitar e de admirar do que Derek Jeter. Eu sentirei falta de vê-lo rebatendo line drives e correndo as bases, mas eu REALMENTE sentirei falta de saber que você pode contar com ele para falar a coisa certa na hora certa, elogiar um adversário que merece, e nos lembrar do lado bom do baseball, longe dos Bud Seligs, longe dos A-Rods que atrapalham o esporte.
Minhas memórias favoritas de Derek Jeter são duas (sim, duas) que os torcedores do Yankees certamente gostarão de esquecer, pois ambas são da lendária ALCS de 2004, quando NYY abriu 3-0 na série, e estava ganhando por 4-3 com 2 eliminados e Mariano Rivera no pontinho no G4, e o Red Sox de alguma forma (não me pergunte, até hoje eu não sei) conseguiu reverter a situação, se tornou o primeiro time a virar uma série 0-3 na história do baseball, enfim derrotou seus amargos inimigos e venceu sua primeira World Series em 86 anos algumas semanas depois. E sim, minhas memórias favoritas de Jeter são da mais amarga derrota da história da franquia, porque embora Jeter se aposente como um dos maiores vencedores da história do esporte, é na adversidade e na derrota que você conhece os jogadores pelo que realmente são.
Voltem comigo então para o G6 daquela fatídica ALCS. O Red Sox reagiu contra Rivera em dois jogos seguidos, e Ortiz duas vezes deu a vitória ao Red Sox na prorrogação. A maré é toda a favor de Boston, e o time tem a vantagem (3-1) no G6 graças a um esforço sobre-humano de Curt Schilling, e o Yankees está começando a encarar a real perspectiva da maior humilhação da história da franquia. Foi ai que A-Rod, com Jeter na primeira base, mostra sua verdadeira face, tentando trapacear para chegar em base - no caso, dando um golpe de karate na mão de Bronson Arroyo para evitar o tag e a eliminação. A bola sai voando com seu golpe, A-Fraud chega na segunda base e Jeter anota a corrida... até que os juízes voltam atrás, eliminam Fraud e obrigam Jeter a voltar para a primeira base, custando uma corrida ao time da casa. Depois de algum debate e chuva de copos dos torcedores, o telão do estádio enfim mostra a jogada e a trapaça de A-Rod, e nesse momento a TV filma o rosto de Jeter. Ele estava fixamente olhando para seu companheiro, e a expressão no seu rosto dizia apenas uma coisa, muito clara: "O que diabos você pensa que está fazendo?! O que você acha que acabou de fazer?!" Ele está mais incrédulo do que qualquer outro, absolutamente revoltado que um jogador do seu time tenha tentado fazer algo tão sujo. A decisão dos juízes pode ter custado a derrota histórica ao seu time, e ele não desgruda o olhar do camisa 13 que ousou profanar o jogo daquela maneira. Ele continha com aquele olhar de horror e nojo, e quando Fraud senta no dugout, Jeter fica de pé do outro lado, o mais longe possível. Podemos fazer piada com o histórico de jogadores dopados do Yankees (e eu faço), mas eles tinham em Babe Ruth um jogador que era sinônimo supremo de espirito esportivo e jogo limpo, e era exatamente esse espirito de Ruth que Jeter mostrou com aquela cara de incredulidade total em relação ao seu companheiro. Ele não ligava se era um Yankee ou não, ele só ligava para aquela demonstração suprema de falta de espirito esportivo.
O Red Sox venceu o jogo, e no G7, já era óbvio o que iria acontecer. Não tinha como segurar o Red Sox naquele ponto, e de fato eles abriram 8-1 logo no começo da partida com dois Home Runs de Johnny Damon. Mesmo com quatro entradas por jogar, o jogo parece que acabou. Os jogadores do Red Sox estão felizes e relaxados, e os jogadores do Yankees no dugout estão cabisbaixos e entregues. A exceção? Jeter. Ele foi o único jogador que continuou de pé, aplaudindo os companheiros, incentivando seu time, gritando, berrando e torcendo até o final. Talvez ele fosse o único que percebesse a importância dessa derrota para sua franquia, ou talvez ele fosse o único que se importasse. Eu não sei. Mas hoje, 10 anos depois, eu ainda consigo ver a cena: Jeter de pé, debruçado na grade, tentante chamar seus companheiros para um ultimo rally, uma tentativa inútil de salvar a série. Ele não salvou, e o Red Sox venceu a World Series oito dias depois. Ninguém parecia mais devastado que ele.
Para mim, essas sempre serão as imagens definitivas de Derek Jeter. A gente sabe como é bom ganhar, e as vezes como é fácil ganhar, mas como era Jeter perdendo, Jeter na adversidade? Sempre acreditando, sempre tentando, o jogador que se importava mais que todos os outros com a camisa que vestia. O mesmo jogador que já tinha quatro anéis de World Series era quem mais queria a vitória, quem mais se importava com o resultado final, que acreditava até o último out, e ao mesmo tempo, alguém que respeitava demais o jogo para perdoar um companheiro que tentou trapacear flagrantemente para conseguir a vitória. Derek Jeter foi um grande jogador, mais mais do que isso, foi uma grande figura e um grande profissional na Major League Baseball. Alguém que viverá por muitos anos mesmo depois que nós dois tenhamos partido. Eu agradeço por ter visto esse cara jogar e acompanhado sua carreira, e se um jogador símbolo do Yankees inspirou esses últimos 7 parágrafos de um torcedor fanático do Red Sox, você sabe que ele conseguiu algo realmente especial na sua vida. Como disse Bryce Harper, Derek Jeter é o capitão de todo o baseball. Sentiremos sua falta, Capitão.
Antes de terminar, alguns outros prêmios que me deu vontade de criar:
AL Surprise Performance of the Year: Michael Brantley
NL Surprise Performance of the Year: Josh Harrison
AL Mariano Rivera (Best Reliever): Wade Davis
NL Mariano Rivera: Aroldis Chapman
AL Defensive Player of the Year: Alex Gordon
NL Defensive Player of the Year: Juan Lagares
AL Breakout Player of the Year: Jose Altuve
NL Breakout Player of the Year: Anthony Rizzo
AL Non-Qualified Player of the Year: Steve Pearce
NL Non-Qualified Player of the Year: Russell Martin
Bacana... se o Tulo não tivesse se machucado ele coparia o NL MVP e titulo de rebatidas.
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