Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

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terça-feira, 22 de outubro de 2013

Pontos importantes da semana 7 da NFL

"E ai para comemorar o novo logo vamos bater alguns recordes negativos da NFL!"



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Mais uma rodada se passou, mais uma vez vamos abordar, extensamente e nos mínimos detalhes, alguns topicos de interesse que surgiram. Mas antes, um anúncio importante...

Aberta a temporada de mailbags


É com grande prazer que anuncio que estamos abrindo novamente as portas para novos mailbags. Para quem não sabe o que é um mailbag, funciona assim: é uma coluna na qual eu publico emails dos leitores (podem ser perguntas, comentários, whatever) e os respondo, esvaziando minha caixa de entrada, aproveitando para trazer algumas opiniões e comentários interessantes, descontrair um pouco, e interagir com os leitores (minha coisa favorita em ter um blog). É uma forma também de todo mundo participar um pouco, expressar suas opiniões, e aliviar o clima as vezes muito analítico e complicado que fica nessas colunas. Já fizemos uma edição antes um pouco tímida e nunca fizemos de novo, embora as vezes um email interessante inspirasse uma coluna ou algo do tipo. Então agora acho que é um bom momento para tentar de novo, então todo mundo que quiser pode mandar quantos emails quiser para o nosso próximo Mailbag, que deve acontecer quinta que vem.

Se quiser participar, é bem fácil. É só mandar um (ou, na verdade, quantos quiser, não tem limite) email  para "tmwarning@hotmail.com" (de preferência com o título "Mailbag", para facilitar minha vida). No corpo do email é só mandar sua pergunta/comentário/whatever e, se quiser, seu nome e cidade para identificação (opcional). Quinta feira que vem vamos publicar e comentar/responder os melhores aqui e no site do Esporte Interativo, então fiquem ligados.

E vocês podem mandar basicamente o que quiserem no email. Pode ser uma pergunta, uma dúvida ou algo assim, pode ser um comentário interessante, uma opinião, o que vocês quiserem. Pode ser sobre a NFL, pode ser sobre o esporte, pode ser sobre outra liga, sobre um time, sobre um jogador, ou sobre algo que nada tem a ver com nada. Pode ser sobre mim, sobre o blog, sobre algum texto, sobre o que quer que seja - não precisa nem ser sobre esporte desde que seja interessante e/ou engraçado. Vou tentar publicar o máximo possível de emails (dependendo do quanto chegarem), e vou dar preferência com base nos critérios de relevância, interesse da pergunta/questão/comentário e o quanto eu gostar pessoalmente da questão. Já aviso que, obviamente, vou dar preferência aos esportes, mas se tiverem perguntas interessantes de outros assuntos (direta, indireta ou não-relacionados a esportes) também terão seu espaço. Então aproveitem a chance e mandem o que tiverem interesse, quantas vezes quiserem, e veja se sua pergunta aparece quinta feira aqui e no Yahoo. Participem!

As lesões que afetam os quarterbacks


Um dos assuntos que dominou as atenções nas últimas semanas ao redor da NFL foi a quantidade assustadora de lesões a jogadores importantes que aconteceram. Apenas nas últimas semanas vimos Bryan Hoyer, Vince Wilfork, Jerod Mayo, Leon Hall, Reggie Wayne, Sam Bradford, Brian Cushing, Julio Jones, Sean Weatherspoon, Danieal Manning, Ahmad Bradshaw, Dwight Freeney, Ian Williams, Ryan Clady e Russell Okung serem todos colocados no IR, designados para perder toda a temporada por conta de lesões. Jermichael Finley sofreu uma lesão no pescoço que algumas pessoas, espero que overreacting, disseram que poderia encerrar sua carreira. Além disso, diferentes lesões a jogadores como Michael Vick, EJ Manuel, Jay Cutler e MAtt Schaub estão causando todo tipo de mudança em times ao redor da NFL, e essa quantidade - que parece ter se concentrado no mês de Outubro por algum motivo - começa a chamar a atenção.

Claro, uma parte dessas lesões são explicáveis pela natureza do jogo ou simplesmente fruto do azar. Não é esse o ponto. Futebol americano é um esporte jogado em alta velocidade, por jogadores muito grandes e pesados, e com muito contato físico - para um jogador cair no lugar errado, de forma errada, ser atingido em um ponto vulnerável e tudo mais em toda essa correria e altíssima velocidade é muito fácil, e só precisa de um OL de 140kg caindo sobre sua perna para acabar com seu ano. Da mesma forma, com as novas mudanças que a NFL está impondo para diminuir as concussões também levam a muitos tipos de lesões: agora que os defensores não podem mais visar a cabeça ou a parte superior do corpo de seus alvos, a alternativa que lhes resta para dar tackles é atingir a perna dos WRs, e com jogadores muito fortes se jogando nas suas pernas a alta velocidade, tudo que precisa é de um pouco de azar, de um pé preso na grama ou de um salto mal calculado para seu joelho ir para o inferno. Isso tudo, infelizmente, faz parte do jogo.

No momento, eu estou muito mais interessado no efeito do que nas causas. A questão é que nas últimas duas semanas, um número muito grande de QBs se viu vítimas de lesões, e considerando que o quarterback é de longe a posição mais importante para qualquer time no curto ou médio prazo, as consequências também são maiores mesmo não se tratando de um QB de elite (embora meu editor jure que o Jay Cutler é Top15). Normalmente, isso talvez não tivesse tanta repercuss ão - apenas consequências para os times para substituí-los e pronto - mas acontece que estamos em um momento particularmente interessante para qualquer discussão envolvendo quarterbacks por uma série de motivos:

  • Primeiro, porque estamos em um ponto da história da NFL onde, devido as grandes mudanças de regras que vem ocorrendo nos últimos 10 anos para proteger QBs e WRs e incentivar ao máximo o jogo aéreo, quarterbacks hoje são mais importantes do que nunca. Claro que ter um QB de elite não te garante um título e que é impossível vencer sem ter um desses no seu time - os dois últimos Super Bowls foram vencidos por Eli Manning e Joe Flacco, inclusive - mas ter um QB de elite no seu time hoje faz uma diferença muito maior do que 20 anos atrás por conta dessas regras que incentivam o passe: Tom Brady não fica fora dos playoffs (saudável) desde 2002, e Peyton Manning desde 2001. Drew Brees não foi ano passado mas antes disso foi por três anos seguidos, e Aaron Rodgers não perde a pós temporada desde seu primeiro ano como titular, para dar alguns exemplo. Ter um QB desse nível, hoje, te da uma chance muito maior de chegar aos playoffs do que em qualquer ponto na história da NFL.
  • Segundo, porque a classe 2014 de QBs no draft é considerada uma das melhores e mais profundas em algum tempo, um draft que oferece um legítimo franchise quarterback em Teddy Bridgewater e possui mais um grande número de jogadores muito interessantes para sair na primeira ou na segunda rodada - um mock draft que eu cheguei a ver faz algumas semanas tinha QUATRO QBs saindo nas primeiras cinco escolhas (e mais Johnny Manziel na oitava). Então mesmo que quem fez esse mock draft estivesse fumando alguma coisa no processo, o ponto fica: o que não falta em 2014 são prospects interessantes na posição.
  • E terceiro, porque desde que o novo CBA controlou o salário dado a calouros, achar um bom jogador no draft significa que você vai ter quatro anos desse jogador a um preço extremamente baixo. Ao invés de pagar 86M para um jogador que não lançou uma bola sequer na NFL como fez o Rams com Sam Bradford (última 1st pick do velho CBA), times agora podem prender seu QB calouro por quatro anos por menos de 20M se ele sair no topo da primeira rodada - um jogador como Russell Wilson custa ao Seahawks cerca de 1.5M pelo ano passado, esse e os próximos dois. Um bom QB em contrato de calouro é um dos maiores ativos que um time pode ter nesse momento. 
Em outras palavras, esse é o momento perfeito para times começarem seus questionamentos relacionados a QBs caso não tenham uma situação sob controle nesse aspecto. E um aspecto que sempre vai levantar um questionamento é uma lesão no seu titular, especialmente se ele tiver algum fator (e muitos tem) que inspire dúvidas sobre seu futuro. Então com quatro times (Texans, Bears, Rams e Eagles) vendo seus QBs se machucarem e colocarem seu futuro em dúvida, isso levanta algumas possibilidades interessantes com 2014 em mente (Cleveland e Buffalo já foram cobertos aqui)

Philadelphia Eagles

O Eagles é o menos surpreendente de todos esses, porque antes da temporada a grande questão já era sobre qual dos três QBs do elenco seria o titular... e se algum deles seria o QB para Chip Kelly carregar para o futuro na equipe, com a resposta mais comum sendo "nenhum". Michael Vick acabou sendo o titular do time para começar o ano, e os resultados foram mistos: o time ganhou 2 jogos e perdeu 3 com ele no comando (com uma dessas vitórias sendo com Nick Foles entrando no meio da partida) atrás de um bom ataque. Quando Vick se machucou, Foles entrou bem e assumiu a titularidade pelos dois jogos seguintes, tendo uma partida muito sólida contra o Buccaneers e depois tendo um jogo horrível contra o Cowboys, saindo machucado com uma concussão para a entrada do terceiro QB do time, o calouro Matt Barkley... que lançou três interceptações para terminar de perder a partida. Agora o status de Foles para semana que vem está no ar, e com Vick voltando de lesão, ressurgem as questões sobre qual deve ser o titular da equipe.

A vantagem para o Eagles é que uma das perguntas - qual é a solução a médio prazo? - já está respondida desde o começo do ano, e não é nenhum deles. Kelly teve um ano para avaliar diferentes jogadores, ver se algum dos três apresentava as características certas para seu ataque, mas duvido muito que ele tenha visto alguma coisa ao longo da temporada que tenha mudado o que todo mundo já acreditava antes da temporada começar. O ataque de Kelly é complexo e envolve um QB capaz de executar diferentes tipos de jogadas - corridas, passes longos, etc - mas ainda mais importante, precisa de um QB capaz de fazer leituras e tomar decisões com grande rapidez. O segredo desse ataque é colocar diferentes jogadas possíveis dentro de uma mesma formação - um passe pelo meio, um handoff atrasado, uma corrida com o QB, um passe longo, etc - que vão forçar a defesa a reagir de formas diferentes e transformando a defesa em um cobertor curto, e portanto cabe ao QB fazer a leitura de qual dessas jogadas a defesa está deixando desmarcada e colocar a bola lá nessa fração de segundos. Infelizmente, esse jogador não existe no elenco do Eagles hoje - é só assistir meia hora de vídeos desse ataque para ver a quantidade de jogadas na qual o QB forçou sua primeira leitura da jogada (independente do resultado) com uma outra alternativa muito mais favorável se abrindo que teria sido mais vantajosa em caso de uma leitura mais rápida ou mais correta. Nem Foles nem Vick conseguem fazer esse tipo de leitura, e Barkley ainda é uma incógnita sem experiência na NFL. Se Kelly quer maximizar o potencial de seu ataque ao longo da sua estadia em Philly, ele precisa de um QB que não está lá no momento.

Sobre a questão de quem deve ser o titular indo para a frente, deveria ser Vick quando ele estiver saudável. Vick não é e nunca foi conhecido por tomar boas e decisões e fazer boas leituras de jogo, e isso tem atrapalhado o ataque do Eagles, mas ele pelo menos tem feito um bom trabalho simplesmente fazendo coisas acontecerem. Suas interceptações estão sob controle (1.5%, ótima marca) e, apesar dos três fumbles, ele tem compensado isso sendo o QB mais valioso correndo com a bola por uma boa margem, a frente de Andrew Luck e Russell Wilson mesmo tendo tido dois jogos a menos. Seu QBR de 65 é o 10th entre QBs, e Football Outsiders coloca Vick como o 14th passador mais produtivo (ajustado) da NFL, e isso é antes de somar seu valor como corredor. Sua dificuldade tomando decisões prejudica a equipe, mas sua capacidade de correr com a bola facilmente oferece uma dimensão ainda mais preocupante para as defesas que enfrentam o Eagles. E quanto ao seu record de 2-3 como titular, não consigo ver porque a culpa seria de Vick: nesses cinco jogos, a horrível defesa da equipe tomou 159 pontos, quase 32 por jogo, enquanto o ataque anotou sólidos 135 no período - Philadelphia na verdade tem o segundo melhor ataque ajustado da NFL. Então falar que o problema do time é Vick ou o ataque de Kelly simplesmente não é verdade, e enquanto é um fato que o camisa 7 não é o jogador ideal para fazer esse esquema funcionar a todo vapor, ele é quem da ao time atualmente a melhor chance de vencer, como seu QBR indica. Kelly sabe disso, e por isso Vick deve jogar se estiver saudável. 

Houston Texans

Mas se o Eagles era a questão mais fácil para a posição, os outros três times são muito mais complexos. O Texans, em particular, é o que apresenta maior dificuldade na hora de tomar uma decisão. 

Depois de um começo genuinamente muito ruim para a temporada - incluindo um recorde da NFL, quatro jogos seguidos com uma pick six - Matt Schaub vinha em um jogo razoável contra o Saint Louis Rams quando se machucou e foi substituído pelo seu reserva, TJ Yates. A torcida, por incrível que pareça, aplaudiu e torceu para a lesão de Schaub... sendo castigados pouco depois quando Yates lançou sua própria pick six. Karma is a bitch. Mas com Yates não sendo a resposta para nada e Schaub ainda fora, o time acabou dando a oportunidade de jogar contra o Chiefs para o terceiro QB do time, Case Keenum, um calouro redshirt (entrou na liga em 2012 mas não jogou) não draftado de Houston. Keenum teve um jogo decente mas com muitos erros, completando 15/25 passes para 275 jardas e um TD, mas também sofreu cinco sacks e dois fumbles, terminando a partida com um QBR de 35. Com uma semana de bye pela frente (o que pode significar uma semana a mais para Schaub voltar ou uma semana a mais para integrar Keenum ao playbook) e Keenum tendo mostrado alguns bons lançamentos contra uma das melhores defesas da NFL, é de se perguntar qual vai ser o curso do Texans indo em frente.

A questão chave aqui é o quanto o Texans acredita que Schaub possa dar a volta por cima e retomar seus melhores anos. Apesar de nunca ter sido elite, Schaub era um QB muito bom alguns anos atrás, liderando a NFL em jardas em 2009. Entre 2009 e 2011 (antes da lesão), Schaub completou mais de 64% de seus passes para 8 jardas por passe, 4.7 TD% e 2.3 Int%, números bastante respeitáveis (além de um QBR perto de 65). Depois da lesão que encerrou sua temporada em 2011, seus números despencaram: seu aproveitamento permanece o mesmo, mas perdeu mais quase uma jarda por passe (7.1 atualmente), viu seus TDs despencarem para 3.6% e suas interceptações para 2.9%, números bastante ruins como seu QBR abaixo dos 50 indica. Então relacionado ou não, o fato é que desde a lesão Schaub não tem sido o mesmo jogador, então existe uma legítima questão sobre se ele consegue ou não voltar a produzir naquele nível de antes, que junto da boa defesa do time e um jogo terrestre consistente (não tem sido em 2013, mas pode vir a ser com mais saúde e alguns novos jogadores na linha ofensiva) voltaria a produzir um candidato ao título. A resposta para essa questão é a chave para o Texans e sua situação de QB para o futuro. Se o Texans acreditar que Schaub pode se recuperar - ele vai ter 33 anos em 2014, btw - então faz sentido ficar com o jogador por mais um tempo, esperar 2014 chegar e Brian Cushing/Danieal Manning voltarem (quem sabe até Ed Reed saudável), dar uma remodelada na linha ofensiva e fazer uma nova tentativa no esquema defesa forte e ataque coadjuvante e estável. Se acharem que não vale o risco? Bom, agora eles tem algumas alternativas pela frente.

O QBR de Keenum foi ruim essa semana por causa do seu fumble que acabou com as chances de uma virada e os cinco sacks sofridos, mas o que ele mostrou contra uma boa defesa do Chiefs deve ter agradado ao pessoal de Houston. Keenum teve diversos bons passes, saiu muito bem do pocket (as vezes demais, mas com o tempo melhora) para estender jogadas ou criar novos ângulos de passe (algo que Schaub não faz atualmente) e manteve a defesa honesta por vezes, conectando com diversos bons passes longos, mostrando porque a diretoria gostava tanto dele antes da temporada. Keenum acabou não sendo draftado por uma situação parecida com a de Russell Wilson - baixo demais para o jogo, principalmente - mas tem mostrado algumas armas interessantes. Claro que um jogo não é amostra nenhuma, mas oferece uma opção interessante ao time. 

Caso concluam que Schaub merece mais tempo para tentar voltar ao seu velho jogo, então não tem segredo: ele vai voltar a ser titular assim que estiver saudável, com Keenum ganhando a reserva na frente de Yates. Mas caso decidam pelo contrário, e Schaub tenha perdido sua janela na equipe, então o time tem duas opções para o futuro: ou o QB de 2014 é Keenum, ou ele não está no time hoje e o time precisa ir buscá-lo em outro lugar (draft ou free agency). Nesse caso, isso levanta um cenário interessante: se Schaub não for mais ser o titular, o time poderia escalar Keenum até o final da temporada (que já parece perdida, ainda mais agora que Arian Foster e Ben Tate também machucaram) para terem uma amostra melhor do que eles tem no garoto antes de tomar uma decisão. Um jogo não diz nada sobre um jogador, mas os outros 9 jogos que Keenum teria entre agora e o final do ano (mais esse contra o Chiefs) já oferecem uma amostra muito maior e mais confiável do que eles possuem no garoto. Ao final da temporada, com um bom conhecimento do verdadeiro nível do garoto, eles poderiam tomar a decisão de insistir com ele uma temporada inteira ou se precisam procurar seu futuro em outro lugar (talvez até trocando Schaub ainda essa temporada por uma escolha de draft). Não acho que seja o mais provável que aconteça, mas é uma possibilidade interessante aberta pela lesão de Schaub e a boa partida do calouro.

Chicago Bears

A questão do Chicago Bears é diferente. Ao contrário de Schaub, Jay Cutler não vinha em uma temporada ruim: 64.9% de aproveitamento nos passes para 7.4 jardas por passe, 5.3% de TD% e 31 Int% e um QBR de 66.3 - seu aproveitamento é a melhor marca da carreira, seus 7.4 Y/A é sua segunda melhor marca desde que chegou a Chicago, e tanto seu TD% e seu QBR são seus melhores números como um Chicago Bear. Protegido por uma linha ofensiva melhor e com um esquema ofensivo que explora muito melhor a boa opção de checkdown da equipe (Matt Forte) - sem falar na chegada de Martellus Bennett e a evolução e Alshton Jeffery - Cutler tem esse ano o melhor grupo ao seu redor e estava tendo sua melhor temporada na carreira em Illinois, e seu record de 4-2 os colocava entre os candidatos a uma vaga de wild card ou até um título de divisão. Então Cutler se machucou na virilha, podendo perder até seis semanas da temporada, a defesa tomou 45 pontos do fraco Redskins, e agora os prognósticos da equipe parecem muito menos favoráveis para o resto do ano.

Ao contrário de Houston, Chicago não tem um reserva interessante que intriga a equipe com seu potencial: o reserva de Cutler é Luke McCown, um QB de 34 anos que não tem sido mais que um reserva durante toda a carreira e que não ameaça a titularidade de ninguém. O problema aqui é que Cutler é um free agent ao final da temporada, e com alguns bons flashes ao longo da sua carreira e bons números em Denver (e eventualmente em Chicago), ele provavelmente vai conseguir um contrato bem gordo no mercado, seja do Bears ou de outro time. Provavelmente não chegando nos valores Romo/Flacco/Ryan que nos acostumamos nessa offseason, mas espero algo na casa dos 80/90M, e a questão é se o Bears estaria disposto a pagar esse valor considerando que o time já está em uma complicada situação salarial (embora tenha a opção de cortar 18M de salário mandando Julius Peppers embora ao final do ano). A lesão é um fator que pode ser decisivo, nesse cenário, por dois motivos: primeiro, porque com Cutler fora mais seis jogos (aproximadamente), isso vai reduzir consideravelmente a chance do time chegar longe com o camisa 6. Isso pode parecer pouca coisa, mas não é: uma temporada boa, na qual o QB jogou bem e o time foi longe, vai sempre aumentar em muito o interesse da equipe em reassinar com esse jogador em relação a uma temporada 8-8 e uma volta para casa cedo. Os GMs sempre terão uma visão viesada para as performances recentes de um jogador, por isso é tão importante esses "contract years" -  o ano final dos contratos que, por bem ou mal, acabam sendo a base para os futuros contratos desses jogadores. Uma temporada 11-5 chegando na segunda rodada dos playoffs sempre vai te valorizar mais do que uma temporada 8-8, então a redução drástica da chance de sucesso do Bears esse ano com essa lesão vai afetar essa possível renovação. A outra questão é de saúde: Cutler tem sido um pouco vulnerável a lesões (ou pelo menos tem sido visto como sendo) nos anos recentes, e isso preocupa na hora de assinar um QB de 30 anos para um contrato longo e caro. Em 2010, Cutler se machucou na final de conferência contra o Packers em um jogo onde o Bears teve boas chances de surpreender os eventuais campeões; em 2011, Cutler perdeu os últimos sete jogos da temporada e acabou com o que era até aquele ponto uma sólida temporada da equipe; e agora ele sofre uma nova lesão que vai tirá-lo da equipe por algum tempo. Ainda que possa ser injusto dizer por causa disso que Cutler é injury prone (todas as lesões foram coisas diferentes, então é como se fosse uma lesão crônica recorrente), o que importa nesses momentos é a percepção, e o Bears estaria muito menos inclinado a pagar o dinheiro alto que Cutler vai pedir se acreditar que ele não ficará saudável conforme a idade avança.

Esse é o cenário no qual eu acredito que o Bears não estaria seriamente considerando deixar Cutler ir embora se fosse quatro anos atrás ou quatro anos para o futuro: Cutler é um QB sólido que agora está jogando junto dos melhores coadjuvantes que teve em algum tempo, Marc Trestman está desenvolvendo um bom repertório com o jogador, e sua boa atuação em 2013 provavelmente lhe renderia um contrato com a equipe que poderia virar um albatroz em uns dois anos. Mas considerando que essa renovação aconteceria nas vésperas de uma draft class extremamente profunda em QBs e quando os times ainda estão aprendendo as melhores formas de lidar com o novo CBA (com "QB em contrato de calouro" sendo um dos ativos mais importantes da NFL), ela deixa de ser uma certeza. Essa lesão prejudica a última chance de Cutler de mostrar ao time que ele pode ser "o cara" em Chicago e levar o time aos playoffs mais uma vez, e considerando o medo de novas lesões e o quanto um QB de 31 anos (em 2014) iria entupir seu teto salarial já apertado pelos próximos anos, pode levar a diretoria da franquia a arriscar em um novo jogador com um salário controlado pelos próximos quatro anos. Cutler provavelmente foi o grande perdedor aqui, embora ainda ache que algum time no mercado (Cardinals, talvez?) vá pagar os 80M ou mais que ele pedirá.

Saint Louis Rams

Esse era o mais previsível de todos, talvez, e a lesão de Sam Bradford - fora da temporada - só agiliza o processo. Bradford e o Rams na verdade foram vítimas de um CBA que saiu de controle, onde os internos estavam controlando o asilo e deram poder demais para os jovens que acabavam de chegar na NFL. O lockout e a greve dos jogadores de 2011 aconteceram mais por conta de divisões de receita entre times e jogadores e nunca foi de fato um risco a não-realização da temporada (ou mesmo de parte dela), mas entre as coisas que precisavam de fato ser arrumadas (e foram) estava a parte relativa ao salário dos calouros, que estavam ganhando dinheiro demais logo de cara e que, no caso de uma lesão ou um bust, entupiam o teto de um time por quase seis anos. Pense que Bradford, última 1st pick sob o velho CBA, ganhou um contrato de 6 anos e 86M (com 50M garantidos), enquanto que a primeira 1st pick do novo CBA (Cam Newton) assinou um de 4 anos e 22M (totalmente garantidos) - quase 1/3 do contrato de Bradford. Então em relação aos times com QBs de drafts recentes - Newton, Colin Kaepernick, Andrew Luck, RG3, Ryan Tannehill, Russell Wilson - o Rams se encontrava (e se encontra) em uma desvantagem, já que é obrigado a comprometer uma parte muito maior de seu salary cap para Bradford.

Por isso eu achei que eles foram burros em não draftar RG3 em 2012 (mesmo que achasse Bradford um grande QB, o contrato era mil vezes menor e muito mais protegido), e por isso cada vez mais Bradford - que não conseguiu corresponder as expectativas de quando foi escolhido 1st overall - começava a se desenhar como um albatroz na folha salarial da equipe. E também por isso o final dessa temporada é um momento tão crítico para o Rams decidir sobre o futuro da franquia em relação a Bradford: o camisa 8 tem mais dois anos e 34 milhões para receber do Rams caso fique no time para o ano que vem, mas se ele for cortado antes da temporada começar, Saint Louis salva quase 10M em seu teto salarial (embora tenha que arcar com o resto do salário) para 2014, algo importante para um time que está ainda longe de alcançar 49ers e Seahawks na NFC West. Então essa é uma decisão importante que vai afetar o futuro da franquia, e precisa ser tomada ao final dessa temporada... e com a amostra de Bradford que o time já tem até agora, que não foi boa (ele é basicamente um QB mediano na NFL, e nenhum jogador assim deveria ganhar 17M por ano), e agora essa lesão significa que Sam não terá mais os últimos jogos da temporada para fazer seu caso e mostrar que ele merece ser o quarterback do time. Agora é um dilema sobre se vale a pena insistir nele mais dois anos pagando 17M por ano, ou desistir do experimento, seguir em frente, e cortar 10M da sua folha salarial no processo.

Vale lembrar que o Rams tem duas escolhas de primeira rodada esse ano que provavelmente estarão na metade de cima do draft, já que eles possuem a sua própria e mais a do Redskins (2-4). Então em um draft profundo, e considerando que o time tem os ativos para ou adereçar outra necessidade imediata (OL?) além do QB ou juntar um pacote para subir de posição e pegar um QB melhor (talvez até a 1st pick, dependendo de quem for o dono dela), não consigo ver o Rams decidindo que prefere pagar um salário maior por dois anos a mais de medíocridade do que a chance de economizar e ainda tentar achar um novo QB do futuro, não com Sam Bradford, e muito menos com Sam Bradford voltando de uma lesão séria como essa. Acho que Bradford lançou seu último passe como um membro do Rams.


Historicamente ruim


Duas semanas atrás, quando o Bill Simmons escreveu uma coluna sobre NFL, ele disse que a expressão "historicamente ruim" tinha se tornado a expressão mais usada da história dos esportes e que era usada para absolutamente tudo hoje em dia - basicamente, como ele mesmo disse, nosso uso dessa expressão está historicamente ruim. Mas se tem um time que merece o uso - e o uso contínuo - dessa expressão, é o nosso time historicamente ruim de 2013... o Jacksonville Jaguars.

Não preciso explicar exatamente porque o Jaguars é tão ruim, todo mundo aqui tem TV/internet e provavelmente já viu cinco minutos desse show de horrores. O time não pontua, o time não consegue segurar os adversários, e muito além de estar 0-7 e longe da sua primeira vitória, o time na verdade perdeu TODOS seus jogos até agora por pelo menos 10 pontos. O time é tão ruim mas tão ruim que virou quase folclórico a essa altura, e ninguém duvida de que seja o pior time da liga na atualidade.

Mas quão ruim o Jaguars realmente é, historicamente? Bom, é o que eu quero saber. Então usando a base de dados do Pro-Football Reference, vamos ver os times desde 1970 - a fusão entre a NFL e a AFL - que foram tão ruins ou piores quanto esse time para começar a temporada.

Primeiro dado que eu procurei foi dos times que, assim como o Jaguars de 2013, conseguiram perder seus primeiros sete jogos por 10 ou mais pontos - jogos de uma posse de bola ainda podem ser atribuídos a alguma falta de sorte, mas 10 pontos em cada um desses sete jogos é um pouco demais, certo? Bom, acontece que o Jaguars conseguiu algo bastante raro com essa façanha: apenas um outro time nesses 43 anos de NFL conseguiu tamanha futilidade, o Houston Oilers de 1984. Aquele time do Oilers terminou o ano 3-13. Outros cinco times além desses dois também tiveram seis derrotas por 10 pontos ou mais nos primeiros sete jogos da temporada: 1971 Buffalo Bills (1-13), 1986 Indianapolis Colts (3-13), 1976 New York Jets  (3-11), 1973 Oilers (1-14), 1972 Eagles (1-12-1). Em outras palavras, apenas um outro time na era post-merger da NFL conseguiu essa façanha, e apenas UM outro apenas conseguiu atingir esse nível em 6 das primeiras 7 partidas desde 1980.

O Jaguars também se destaca na temporada por ter anotado o menor número de pontos e ter cedido o maior número de pontos na temporada até aqui, anotando 76 pontos (10.9 por jogo) e cedendo 222 (31.7 por jogo). Colocando esses números em contexto histórico (sempre desde o merger), os dois aparecem entre os piores números da história da NFL: 76 pontos anotados nos primeiros 7 jogos da equipe é a 28th pior marca desde 1970, e os 222 pontos cedidos formam a 15th pior marca no mesmo período. Ambas marcas muito ruins, mas não as piores, o que deveria oferecer algum consolo, certo? Bom, na verdade não por um simples motivo: nenhum time na história da NFL aparece nas duas listas na frente do Jaguars. Ou seja, nenhum time foi pior anotando pontos E pior cedendo pontos nos primeiros 7 jogos de uma temporada do que Jacksonville essa temporada, o que o coloca novamente em um nível quase único.

Mas já sabemos nesse espaço que vitórias e derrotas não representam o verdadeiro nível de um time, e que na verdade a melhor forma de medir o quão bom (ou, nesse caso, quão ruim) um time é ou foi é olhar para o seu saldo de pontos. Então vamos olhar o saldo de pontos do Jaguars após sete jogos (-146) e comparar com os outros times na nossa amostra. O resultado é realmente impressionante: depois de 7 jogos, nesses 44 anos de história da NFL, apenas UM time conseguiu começar a temporada com um saldo pior do que o Jaguars de 2013. Foi o Saint Louis Rams de 2009, que eventualmente teve a 1st pick e gastou em Sam Bradford. O Jaguars está também empatado em segundo lugar com o Oilers de 1973, que já foi citado anteriormente. Considerando então saldo de pontos como sendo nossa amostra mais precisa, podemos concluir que o Jaguars foi o segundo pior time (empatado) da história da NFL depois de sete jogos (desconsiderando fatores como calendário, claro).

Por fim, qual é exatamente o patamar que o time precisa alcançar para oficialmente levar o cinturão de pior time de todos os tempos? A primeira resposta de muitos provavelmente seria o 0-16 Lions de 2008, mas não me parece ser o caso - aquele time teve o saldo de pontos de um time acima de 3 vitórias, por exemplo. Olhando por saldo de pontos, o cinturão de pior time de todos os tempos pertence a um que dificilmente será superado, o Tampa Bay Buccaneers de 1976, que inclusive perdeu todos os seus jogos. Esse Bucs teve um saldo de -287 pontos, o que é ainda mais impressionante quando lembramos que em 1976 o calendário da NFL tinha apenas 14 jogos... o que nos da -20.5 de saldo de pontos POR JOGO. Entre a era dos 16 jogos, a pior marca é do 2-14 Baltimore Colts de 1981, com -274 de saldo, -17.1 por jogo. São essas marcas que o Jaguars precisa superar para atingir o nível histórico de pior time da era moderna da NFL: -275 ou menos de saldo de pontos para superar o Colts de 1981, ou -329 ou menos de saldo para superar o Bucs de 76 no saldo de pontos. Então se o Jaguars mantiver o ritmo atual até o final da temporada, perdendo todos os 16 jogos pelo mesmo saldo de pontos que tem agora, com quantos ele vai terminar o ano? Com -334, é claro, quebrando ambas as marcas!!! Sua média de 20.9, atualmente, é também a pior da história da NFL (considerando apenas temporadas completas).

Então o Jaguars não é o pior time da história da NFL... ainda. Mas está caminhando para atingir essa duvidosa distinção, confirmando de uma vez por todas que se existe um time que merece ser descrito como "historicamente ruim" na NFL hoje em dia, é o Jacksonville Jaguars.

(Errata: Originalmente eu disse que o pior time em 16 jogos era o Baltimore Ravens de 1981, mas como alguns leitores atentos repararam, isso é impossível: o Ravens só foi criado em 1996, e o time de Baltimore em 1981 era o então Baltimore Colts. Agradeço aos que avisaram, já foi corrigido).

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Os pontos importantes da semana na NFL - Week 1

"Você ganha um touchdown! Você ganha um touchdown!!
Todo mundo ganha um touchdown!!"


Como vocês provavelmente sabem, essa é minha primeira vez escrevendo periodicamente para um grande portal como o Esporte Interativo. Eu preciso cumprir uma certa cota semanal, e como é a minha primeira vez fazendo isso, eu não tenho nenhum tipo de formato de post que eu costume usar. Então essas próximas semanas serão basicamente um período de testes, com um determinado formato semanal para falar de NFL (e MLB/NBA, eventualmente), então vamos experimentar com esse formato, ver o que está funcionando, o que não está, e o que está faltando. E para isso vou contar também com a opinião de vocês, leitores, sobre o que mudar, o que manter, o que melhorar, novos formatos de post que achem interessantes, e por ai vai. 

Esse é o primeiro que eu tive interesse em botar em prática, uma passagem pelos pontos importantes e pelos momentos mais relevantes dessa rodada. Eu queria deixar BEM claro o seguinte: isso aqui NÃO é um recap da rodada, e o nosso intuito não é passar por todos os jogos ou falar de todos os jogadores, bons ou não. Outras pessoas podem fazer isso, mais rápido e melhor do que eu, e eu também não acho que isso se enquadre na proposta do blog. A proposta aqui é para dar uma olhada nos fatores, dentro de cada jogo, que são relevantes ao maior cenário da NFL. Por exemplo, todo mundo sabe que Peyton Manning foi espetacular com seus 7 TDs, eu não preciso te falar isso. Mas eu estou interessado em olhar para aquele jogo entre dois candidatos aos playoffs e olhar onde que aconteceram os acertos e erros de cada time para chegar nesse placar tão desequilibrado, porque isso vai ser importante para o big picture da NFL ao longo do ano. Vamos olhar a performances que foram importantes mas receberam pouco crédito, fatores pouco observados que estão influenciando alguns pontos importantes, e por ai vai. Então de novo, o objetivo não é passar por todos os jogos e falar alguma coisa relevante: muitas vezes teremos dois ou mais pontos sobre um mesmo jogo, e jogos sem comentário nenhum. Vamos fazer alguns testes também, ver como fica melhor, e ajustando conforme for indo. Mas não fique irritado porque seu time não apareceu aqui, ou porque eu não falei de um jogo particularmente divertido (Chargers-Houston, por exemplo), é só porque esses jogos não tiveram algum ponto de análise ou comentário mais interessante. Btw, essa coluna está ficando para terça feira para poder incluir o jogo de segunda a noite, mas conforme as coisas forem indo, pode passar de volta para segunda.

Outra coisa importante para se lembrar é que foi apenas a primeira semana. Qualquer conclusão tirada agora provavelmente vai estar errada: a amostra é muito pequena, o viés é enorme, não sabemos o que é performance e o que é outlier, e por ai vai. Então tirar conclusões agora é um enorme erro. O que é muito mais construtivo é pegar algumas questões anteriores a temporada, ver como elas se saíram pontualmente, e parar por ai. Tirar conclusões a partir de uma amostra tão ridiculamente pequena é um enorme erro.

Dito isso, vamos começar nosso experimento com o melhor jogo do dia...

O mestre do disfarce


Se você me perguntar dos meus personagens favoritos, em qualquer tipo de mídia, eu provavelmente vou passar um tempo desnecessariamente alto pensando em uma resposta boa para te dar. E um dos nomes que vai aparecer no meio do meu Top10 - provavelmente até Top5 - é o de Hiruma Yoichi, um dos protagonistas de um mangá de futebol americano chamado Eyeshield 21 (para quem gosta do gênero, recomendo a leitura), o quarterback do time principal. O Hiruma é tão legal porque ele é o perfeito underdog: ele não nasceu com um físico privilegiado ou com um talento fora do comum, ele é um bom jogador mas não espetacular, só que ele compensa isso com uma habilidade incrível para enganar e manipular os adversários. Ele está sempre um passo adiante de todo mundo, sempre manipulando os procedimentos para causar as impressões desejadas e guardando as cartas para jogar no momento certo. Hiruma é considerado o rei da enganação e da missdirection, e sua marca registrada são as jogadas ou estratégias que vão contarias a toda lógica ou senso comum, simplesmente porque ninguém espera que isso aconteça - e quando as pessoas já começam a esperar esse tipo de comportamento, ele já está um passo a frente de qualquer maneira e volta a usar as táticas simples e fáceis. Mais do que qualquer outra coisa, essa acaba sendo a identidade que o time adota: tricky plays, muita confusão, o time contra o qual você não pode abaixar sua guarda por um segundo sequer.

Se você está procurando um Hiruma na NFL, não precisa olhar mais longe do que Jim Harbaugh, Head Coach do San Francisco 49ers. Se existe hoje um técnico que adora confundir os adversários e parece estar um passo a frente de todo mundo, é o ex-QB do Colts. Volte comigo para 2012 por um minuto. O 49ers tinha acabado de vencer um jogo espetacular contra o New England Patriots e praticamente garantido um título de divisão e a folga na primeira rodada. Os dois últimos jogos eram secundários, já que a equipe pouco tinha a ganhar com eles, já que o Falcons não seria alcançado e as chances da equipe ser ultrapassada também eram pequenas. Então o que Jim Harbaugh fez foi simples: ele mudou o playbook da equipe para esses dois últimos jogos, tirando praticamente todas as jogadas de option ou da formação pistol. A equipe jogou então com metade do seu playbook naquelas duas últimas partidas como uma isca para seu adversário de primeira rodada nos playoffs. Quando Green Bay Packers - seu eventual adversário - foi estudar filme do 49ers para preparar sua defesa para o confronto, eles não viram nenhuma jogada de pistol ou de option nos filmes e não se prepararam para enfrentar esse tipo de jogada. O resultado foi que o 49ers baseou todo seu ataque justamente em torno da formação pistol, e Colin Kaepernick usou as options para correr 181 jardas naquela partida, recorde para um QB na história da NFL. O ataque do Niners queimou a defesa para 579 jardas e 45 pontos, Kaepernick pareceu a encarnação do Bo Jackson no Tecmo Bowl, e o Packers foi eliminado dos playoffs de forma humilhante.

Durante a offseason, Green Bay fez de sua missão de vida parar o option, especialmente quando Packers-Niners foi anunciado como abertura da temporada. A equipe enviou seus técnicos e assistentes para diversas faculdades para estudar melhor o read option e como defender QBs móveis, com a história mais famosa sendo a visita da comissão técnica de GB a Texas A&M para estudar o read option com Johnny Manziel. Eles draftaram focando justamente em parar esse tipo de jogada. Todo seu plano de jogo foi focado em torno de como parar o jogo terrestre do seu adversário, afinal era óbvio que o Niners iria usar sua maior força contra a fraqueza de Green Bay, ao invés de usar sua fraqueza (seu corpo de recebedores duvidoso) contra a maior força do Packers (uma das melhores e mais profundas secund árias da NFL). Mas quando o jogo começou, foi exatamente o que ninguém esperava que aconteceu: o 49ers usou a option apenas sete vezes para manter a defesa honesta, manteve Kaepernick dentro do pocket, e simplesmente destruiu a secundária adversária com seus passes, passando para 412 jardas e 3 TDs rumo a vitória aproveitando a atenção extra dedicada ao jogo terrestre. Quando o Packers achou que tinha achado a forma de defender o ataque do 49ers, Jim Harbaugh já estava um passo a frente e modificou todo o esquema de jogo: Green Bay passou a offseason inteira se preparando para defender o jogo terrestre, e Harbaugh montou todo seu esquema ofensivo em torno do ataque aéreo, e pegou todo mundo desprevinido. E essa capacidade de Harbaugh de estar sempre um passo a frente e de planejar para cada situação melhor do que quase qualquer técnico da NFL é o que faz do 49ers um time tão perigoso. Assim como Hiruma Yoichi era, nas palavras de seu rival, o ás escondido de seu time.

Faço minhas as palavras do grande Bill Barnwell: quando você acha que tem as respostas, Jim Harbaugh muda as perguntas.

O dilema dos quarterbacks móveis


Colin Kaepernick e Robert Griffin receberam muita atenção ano passado como constituindo, junto de Russell Wilson e Cam Newton, um novo tipo de quarterback que estava mudando a cara da NFL. Essa nova leva de quarterbacks móveis, hiperatléticos e que destruíam defesas correndo ou fazendo jogadas de options foi considerada por muitos um marco no esporte, que estaria caminhando em uma direção que favoreceria esse tipo de jogador. A chegada do read option foi o grande assunto envolvendo Griffin e Kaepernick, e depois que Kap correu para 181 jardas nos playoffs, a internet praticamente explodiu. Durante essa offseason, praticamente todos os times e analistas táticos do esporte se dedicaram a explorar o read option, encontrar maneiras de pará-lo e tudo mais. Em mais de um preview sobre o Washington e principalmente o 49ers, eu li que eles não alcançariam o mesmo sucesso em 2013 porque a NFL estava ficando mais esperta e preparada contra esse tipo de jogada, então não teria mais o efeito surpresa.

O que as pessoas constantemente esquecem é que Griffin e Kaepernick não são apenas extremamente atléticos e excelentes corredores: eles também são passadores extremamente preciso e com braços muito fortes. Eles são capazes de criar estrago nas jogadas de option e de correr para bons ganhos, mas o que faz deles dois dos melhores jovens QBs da NFL é a habilidade de ambos com seus braços. Kap completou 63% de seus passes em 2012 para um NFL-high 8.3 jardas por passe (e isso sem sequer ter treinado UMA vez entre os titulares até assumir o time) e RG3 completou 65.5% dos seus com 8.1 jardas por passe. Por algum motivo, muitas pessoas desconsideraram ambos como apenas corredores, e esqueceram do resto.

Isso esteve bastante evidente essa rodada. Como já dissemos, Harbaugh soltou Kaepernick em cima da secundária do Packers, desmembrando e dissecando essa defesa para 412 jardas, 3 TDs e nenhuma interceptação. 353 de suas jardas vieram em passes de dentro do pocket, e ele completou quase 70% de seus passes na partida, um excelente lembrete para todos que esquecem da capacidade de seu braço direito. Algo me diz que coordenadores defensivos não cometerão esse erro de novo.

O mesmo era válido para Griffin, espetacular tanto como corredor e passador. E enquanto a sua lesão no joelho levantava algumas perguntas sobre como ele iria continuar correndo com a bola - ou mesmo se iria continuar correndo - muitas pessoas perderam a verdadeira questão: o quanto essa lesão vai afetar sua incrível precisão nos passes? Griffin pode continuar com um ótimo QB na NFL se parar de correr, mas não se parar de acertar passes. E ontem isso foi um problema, especialmente no primeiro tempo: RG3 não conseguiu passar a bola quando precisou jogá-la a uma distância maior. Não sou um especialista em mecânica de QB, mas diversas vezes me chamou a atenção a falta de apoio que Griffin colocava na sua perna ou a falta de estabilidade nela durante a pressão (como se Griffin estivesse ansioso por tirá-la logo da grama). Isso pode ser um fator psicológico (medo de uma nova lesão) ou mesmo uma consequência que lhe tirou um pouco da força no apoio, mas foi algo que teve uma consequência visível nos seus passes, sem controle ou sem a firmeza necessária. Claro, pode ter sido uma coisa da primeira semana, muito tempo sem jogar, estava descalibrado, em um dia ruim e tudo mais, é possível. Além disso, Griffin melhorou no segundo tempo e terminou com números decentes, o que sem dúvida é positivo. Mas é uma coisa importante de se monitorar indo para frente, para a temporada 2013 e para a carreira do Rookie of the Year de 2012.

Questões da offseason na abertura da temporada


Tirando Packers e Niners, Ravens vs Broncos era provavelmente um dos jogos mais antecipados da rodada pelos fatores "Maior chance de se encontrarem nos playoffs" e "Nos enfrentamos nos playoffs passados e não gostamos de como terminou". Entre essas duas, outra coisa que eu achei interessante nesse jogo era ver como dois times bons e candidatos ao Super Bowl, mas que entraram na temporada com significativos pontos de interrogação, iriam se comportar em relação a essas falhas enfrentando um bom adversário. Era esperado que elas fossem questões significativas na temporada, e seria interessante ver como isso iria acontecer na primeira rodada. E de fato, o que nós vimos em relação ao ataque do Ravens e a defesa do Broncos foi o que esperávamos ver.

No caso do ataque do Ravens, como eu escrevi no seu preview, a questão era como a equipe iria encarar essa mudança do foco ofensivo, com Joe Flacco assumindo um papel e uma responsabilidade ainda maiores, especialmente sem seu melhor WR de 2012, Anquan Boldin - e posteriormente também Dennis Pitta. As perdas de Boldin e Pitta deixaram Baltimore em uma situação complicada em relação aos seus recebedores, porque foram os dois jogadores de segurança pelo meio do campo durante todo o ano passado, os alvos para quem Flacco olhava quando precisava de uma jogada de segurança ou de alto aproveitamento. Com Boldin em SF e Pitta no departamento médico, o Ravens não possui um jogador para essa função: Ed Dickson não tem o entrosamento e a habilidade para isso, Dallas Clark está velho e não bloqueia nem no twitter, e o melhor WR que sobrou na equipe, Torrey Smith, não tem as características para isso. Smith é um bom jogador, sem dúvida, mas é um jogador de alta velocidade que está no seu melhor quando usado em rotas longas - um tipo de rota que também tira o máximo proveito do braço forte de seu QB. Mas ele não possui o tipo de separação, mãos firmes e força física para dominar o meio do campo como Boldin fazia: usá-lo como um possession WR é ineficiente porque ele não possui as características para executar esse papel e tira o melhor receiver da equipe da sua zona de conforto, mas ao mesmo tempo, o Ravens não tem quem possa fazer essa função. O resultado foi uma zona: quando a equipe conseguiu impor o jogo terrestre, manter a defesa longe de Flacco (mais disso em um segundo), encurtar as descidas e fazer funcionar o jogo de meia distância, o ataque rendeu muito bem e dominou o jogo. Quando a defesa do Broncos apertou e o time começou e enfrentar mais - e mais longas - terceiras descidas, o ataque não teve uma resposta porque não tinha um jogador de confiança para se armar em torno. Não a toa o time terminou apenas 8-22 em terceiras descidas na partida. Então foi um problema já anunciado e que a equipe sentiu na hora de entrar em campo.

A outra incógnita era a defesa do Broncos, que estava jogando sem seus principais jogadores: Von Miller, suspenso, Derek Wolfe e Champ Bailey, machucados. E no começo, foi realmente um desastre: tirando o safety Duke Ihenacho - que foi um monstro o jogo todo - o começo foi desastroso, principalmente porque Denver não conseguiu colocar qualquer tipo de pressão em cima de Joe Flacco. A defesa tentou compensar isso enviando diferentes tipos de blitz, mas mesmo assim não conseguiram chegar no QB, e isso só serviu para tirar ainda mais jogadores da marcação dos passes. Flacco não foi o mesmo QB dos playoffs - eu já tinha avisado - mas foi eficiente quando teve tempo e calma no pocket para castigar a defesa. Isso mudou, principalmente, quando Michael Oher saiu machucado depois de um TD corrido. A saída do RT convidou o Broncos a atacar mais esse lado da linha ofensiva ofensiva, e dessa vez tiveram sucesso: a pressão começou a chegar mais, Flacco teve que ter menos tempo para passar a bola, e ai a falta de bons recebedores no time de Maryland apareceu, colocando o controle do jogo nas mãos do time da casa - e digamos que não atrapalhou Peyton Manning começar a destruir tudo no seu caminho. Mas sem Von Miller e Wolfe, a grande incógnita era justamente a capacidade do time de colocar pressão no QB, e a defesa decepcionou nesse quesito até ver Oher sair machucado. A secundária também foi menos do que eficiente cobrindo os fracos recebedores de Baltimore, então a não ser que Manning decida que vai passar para 7 TDs toda semana, é um problema para esse bom time de Denver.

Em tempo: eu já tinha achado a troca ruim, mas depois de Boldin terminar o dia com 208 jardas, 1 TD e 13 recepções (enquanto os WRs do Ravens totalizaram 15 recepções para 215 jardas e um TD), já podemos oficializar que Boldin por uma escolha de sexta rodada foi a troca mais absurda da temporada?

A revolução será televisionada


Outro ponto de enorme interesse essa rodada era ver como o ataque de Chip Kelly - famoso na NCAA por sua extrema velocidade, altíssimo número de jogadas e características explosivas de maneira geral - iria estrear na NFL com um dos QBs mais dinâmicos da história do jogo e um dos melhores RBs da NFL. E o Eagles não decepcionou: apenas no primeiro tempo de jogo, o Eagles já teve mais jogadas ofensivas do que o Carolina Panthers teve na sua partida inteira contra o Seahawks. O ritmo desse jogo foi realmente uma coisa incrível: toda jogada era imediata, a defesa não tinha tempo de parar, pensar, planejar ou descansar, o ataque era extremamente agressivo - ao ponto que, com uma 4th and 1 na linha de 20 do campo adversário, o ataque simplesmente se montou e executou sua jogada sem hesitar um segundo sequer - e tudo parecia fluir perfeitamente. O jogo chegou a um ponto em que o primeiro quarto acabou - depois de quatro turnovers e muuuita correria - e eu levantei para ir preparar o jantar quando percebi que era só o primeiro quarto, e não o primeiro tempo, que havia terminado. O ritmo alucinante do Eagles claramente pegou o adversário despreparado, e a defesa do Redskins parecia totalmente perdida, sem saber o que fazer ou o que esperar de seu adversário. O primeiro tempo foi não só um massacre, mas um massacre de encher os olhos.

Mas também mostrou o outro lado desse esquema absurdo, que chegou a prejudicar o próprio time. O primeiro que chamou a atenção, ainda no primeiro tempo, foi a falha de comunicação dentro do ataque. Diversas vezes a linha ofensiva se confundiu na hora de determinar seus bloqueios - especialmente em jogadas de passe - e um número um pouco alarmante de vezes Michael Vick viu algum defensor chegando livre na sua fuça. Eu imagino que esse tipo de falha de comunicação seja razoavelmente comum em defesas desse tipo, especialmente para uma equipe que estava fazendo seu primeiro jogo assim (e fora de casa, onde o barulho é bem maior) e cujo QB não é um especialista pré-snap como Tom Brady ou Manning, então não imagino que seja um grande problema. É só algo a se observar. Outro efeito colateral disso foi o cansaço físico de seus jogadores: chegando no segundo tempo, o ataque do Eagles parou de produzir em parte porque cansou e porque seus jogadores não estavam mais acompanhando o ritmo. A defesa ficou mais ligada nas jogadas, entendeu melhor alguns nuances desse esquema novo, mas em grande parte os jogadores simplesmente não tiveram perna para acompanhar 60 minutos desse ritmo. Novamente, foi apenas o primeiro jogo e eles provavelmente vão se acostumar a isso, mas a questão que fica é legítima: em um time com tantos jogadores sujeitos a lesões (Michael Vick, LeSean McCoy, DeSean Jackson, Jason Peters, etc), será que com o tempo isso vai levar a melhor sobre a saúde dos jogadores, ou conseguirão manter o ritmo por 17 rodadas? Fico curioso para ver.

Enquanto isso não acontece, pelo menos, é realmente um jogo totalmente diferente de se contemplar e que parece se encaixar perfeitamente nas peças que Kelly encontrou na sua nova equipe. Não sei se vai dar playoffs, mas o Eagles já lidera nosso "League Pass Power Rankings" para a semana 1.

O que faz uma boa arbitragem?


Nessa rodada, a arbitragem que mais chamou a atenção foi, infelizmente, a de Niners-Packers. E isso aconteceu por um incidente complicado: em uma 3rd and 6 na red zone, o ataque do 49ers não conseguiu um passe e Kaepernick tentou levar ele mesmo para o first down, mas saiu pela linha lateral duas jardas antes. Com Kaepernick fora de campo, Clay Matthews deu um tackle voador no pescoço do QB que ele tinha dito que iria "bater com força" e o derrubou no chão, imediatamente levando a uma falta pessoal de 15 jardas. Alguns jogadores do 49ers correram para defender seu QB, em especial Joe Staley, que segurou Matthews pelos pads enquanto dizia algumas verdades na cara dele. Isso, absurdamente, rendeu também uma falta pessoal a Staley (apesar de que foi Matthews que deu dois socos nele e não o contrário), o que significava que as duas faltas iriam se cancelar e o 49ers iria enfrentar uma 4th and 2. Mas os árbitros erraram na interpretação da regra, e deram a San Francisco outra 3rd and 6, que eles imediatamente converteram em um TD. O 49ers venceu a partida, 34 a 28, e o Packers ficou reclamando desse erro do juiz.

Então foi um duplo erro: o juiz errou ao marcar a falta de Staley que gerou a segunda falta, e ele errou ao declarar que as duas faltas canceladas significariam repetir a descida que originou o TD. Então ainda que o resultado correto - 1st and goal da linha de 3 jardas - provavelmente teria um resultado bem semelhante ao final da jogada (o TD), a questão é que você precisa julgar juizes pelo processo e não pelo resultado, e houve um duplo erro nesse caso que chamou a atenção da NFL.

Então com base nesse erro, a NFL e todo mundo assumiu que foi uma má arbitragem na partida. E eu me pergunto se foi mesmo: eu assisti o jogo e, tirando esse lance, a arbitragem sempre teve controle completo da partida. A nova moda na NFL, especialmente entre recebedores, é que toda vez que um certo jogador não consegue pegar uma determinada bola, ele imediatamente vira para um juiz pedindo uma flag. Isso acontece, é claro, porque as regras que a NFL vem implementando desde o começo da década passada limita demais tudo que a defesa pode fazer para evitar o passe - desde marcar recebedores até derrubar o QB - e hoje em dia praticamente qualquer contato com o WR é marcado como falta. E eu odeio isso, porque futebol americano É um esporte de contato. Claro, você vai achar inúmeras situações na NFL onde um jogador de defesa claramente evita que o recebedor adversário chegue em um passe através de um contato ilegal, e nessas jogadas o pass interference deve ser chamado. O que incomoda são as jogadas de contato natural em um esporte físico que é jogado em alta velocidade e que de repente viraram faltas, o que praticamente faz com que um DB não possa chegar a um metro de um recebedor. E se tem um dado que eu gostei muito em SF-GB foi esse: a arbitragem não marcou NENHUMA interferência. Zero.

Então para mim, isso é em alguns aspectos até mais importante do que um juiz que não cometa um erro tão polêmico, mas que estrague o jogo marcando faltas a toda jogada e perca o controle do jogo. A arbitragem no resto da partida de domingo a tarde foi impecável, e é muito mais fácil corrigir um erro de interpretação de regra como esse do que ensinar um juiz a ter um firme comando do jogo e deixá-lo fluir bem sem perder o controle. As pessoas costumam olhar só as grandes coisas coisas, mas o que torna um jogo bem apitado ou mais assistível são as menores - e de preferencia, as que nem notarmos. Então na hora de definir uma boa ou má arbitragem, não se atenha apenas a um lance ou dois e sim preste atenção em como esses juizes estão conduzindo a partida. Se você não os perceber, é porque fizeram um bom trabalho.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Preview NFL 2013 - Philadelphia Eagles

"Então, qual deles que é o nosso quarterback, mesmo?"


Para saber do que estamos falando aqui e dessas estatísticas, recomendo a leitura desse post antes
Se quiser opinioes e analises sobre o Draft, voces podem ler o Running Diary da primeira rodada ou o manual de como avaliar um Draft na NFL


Depois de terminar a série de previews da AFC East para a temporada 2013 da NFL, passamos a falar da NFC East, começando pelo atual campeão dela, Washington Redskins, e depois pelo Dallas Cowboys e pelo popular New York Giants. Hoje, vamos terminar a divisão falando da sua maior incógnita, Philadelphia Eagles. Se você não tem ideia do que estou falando, recomendo que leia esse post introdutório. Btw, a falta de crases nesse texto é porque esse teclado não tem crase, então não reparem, ok?

Philadelphia Eagles

2012 Record: 4-12
Ataque ajustado: 25th
Defesa ajustada: 26th


Existe três tipos de times que são extremamente difíceis de se prever de uma temporada para a outra na NFL: times que trocaram o QB entre as temporadas; times com indefinições ou disputas de QBs; e times que jogaram tudo fora e decidiram remodelar desde o começo.

O primeiro é bem simples. O quarterback é o jogador mais importante de um time de futebol americano, sendo que 95% das jogadas ofensivas passam pelas mãos dele, e mais de 50% delas terminam com o QB passando, correndo, tomando sack ou fugindo pela sua vida. É a posição com maior produção individual de qualquer esporte coletivo do mundo, e eu não preciso ir muito longe na história da NFL para mostrar o impacto que grandes QBs têm em determinar quais times são bons ou não ao longo dos anos. Então não é de surpreender que o maior tipo de mudança que um time pode sofrer de um ano a outro é mudar a figura que ocupa a posição mais crucial da equipe. Claro, cada caso é um caso e existem dezenas de fatores que influenciam no sucesso ou não de um QB dentro de um time, mas é justamente isso que torna tão difícil imaginar de antemão como o encaixe QB-time vai funcionar em casos de mudanças. Isso é flagrantemente óbvio quando esse QB novo é um calouro sem nenhuma amostra na NFL para saber como ele vai render em uma Liga diferente (em relação a NCAA), mas também acontece com veteranos (exemplo, Carson Palmer indo para o Cardinals): ele vai para um time novo, com um esquema tático diferente, forças e fraquezas diferentes e que vai pedir coisas diferentes. Como projetar o sucesso (ou falta dele) passado nesse novo time? Ele será mais eficiente por ter melhores WRs e uma OL mais sólida? Será que será menos eficiente porque seu novo time irá pedir que ele lance mais bolas sem o auxílio de um jogo terrestre que abra as defesas? Será que esse novo esquema tático vai ressaltar alguma qualidade ou fraqueza do seu jogo que ninguém tenha percebido? É uma tremenda incógnita, e por isso é dificílimo de se projetar a mudança que isso pode causar ano a ano.

(Isso é ainda mais válido por um simples fato: grandes QBs raramente trocam de times por troca ou Free Agency, é um acontecimento muito raro. Tom Brady ou Peyton Manning seriam geniais no Dolphins, no Rams, no meu ex-time de flag ou onde estão de fato - embora obviamente se adaptariam de formas diferentes a situações diferentes - mas eles muito dificilmente gerarão esse tipo de dúvida por raramente trocariam de time. Os QBs que mudam de time são geralmente veteranos medianos, jogadores sem grande história de sucesso ou jogadores jovens que ainda não se provaram na NFL.)

O segundo, de certa forma, é uma variação do primeiro. A dúvida entre dois QBs diferentes não só trás as mesmas dúvidas levantadas anteriormente, mas também levanta (especialmente no caso de QBs com características diferentes, o que normalmente é o caso) questões sobre qual será a abordagem dessa equipe numa dada temporada. Pense no 49ers se tivesse na dúvida entre Colin Kaepernick e Alex Smith como exemplo: os dois tem características diferentes. Smith é um cara menos móvel que gosta de passar de dentro do pocket, tem melhor aproveitamento mas menos explosão, enquanto Kaepernick tem muito mais força no braço e é um QB mais produtivo num ataque de alta velocidade. Ainda que o 49ers seria um grande time com qualquer um dos dois, a escolha mudaria radicalmente o estilo de jogo da equipe: se escolhesse Smith, o time provavelmente iria se focar em um estilo de jogo mais lento, controlando o relógio e vencendo as batalhas dos turnovers, o que explora as forças (controle de jogo, precisão) do seu QB e esconde suas falhas (falta de força, principalmente). Se escolhessem Kaepernick, o time provavelmente iria jogar num ritmo mais rápido, com mais jogadas de option e usando o ataque como o determinador do seu ritmo de jogo (e não a defesa). Então essa decisão não afeta apenas a posição e o jogo aéreo, e sim toda a estratégia da equipe, e por isso é complicado avaliar um time quando a decisão ainda não está tomada.

A terceira é, talvez, a mais rara de todas na NFL. Reconstruir tudo é mais difícil que na NBA ou na MLB pelo número de jogadores relevantes que um time de futebol americano necessita, e ainda mais considerando que a mobilidade de jogadores (especialmente em trocas) é muito menor na NFL que em qualquer outra Liga. São poucos os times que chegam naquele ponto em que podem se livrar de mais de metade do time, mudar o técnico e toda a comissão, e basicamente recomeçar um projeto novo. Recentemente, eu consigo pensar em dois que fizeram isso, e um deles (Lions) foi menos por opção e mais por necessidade, pois o time estava ruim demais e não precisavam se desfazer de muita coisa. E embora aqui seja uma coisa muito caso a caso, os motivos que levam a incertezas aqui são mais do que óbvios: ninguém sabe os jogadores que jogarão juntos, como eles jogarão juntos, qual vai ser a abordagem tática, como o time vai se adaptar aos testes ao longo do ano, e por ai vai.

E é por isso que é tão difícil prever ou saber o que esperar do Eagles para 2013. A equipe se encaixa nos dois últimos critérios de incerteza dos quais falamos e, dependendo do resultado da disputa entre os QBs da equipe, podemos ter um time que se encaixa nos três critérios, e justamente por causa disso não tem um time mais difícil de prever para a temporada que vem na NFL. Mas vamos devagar, caso a caso, para tentar achar os pontos principais dessa confusão toda.

Para entender essa reconstrução pela qual o Eagles está passando, vamos voltar um pouco no tempo para a temporada 2010, quando a equipe terminou 10-6 e ganhou a divisão pela última vez. Depois de trocar Donovan McNabb, o titular da equipe por quase 10 anos, o técnico Andy Reid deu o comando do time para um QB jovem e com poucos jogos no currículo, mas que tinha mostrado algo promissor nesses poucos jogos - Kevin Kolb. Mas quando Kolb se machucou, Reid teve que recorrer ao seu QB reserva que tinha passado dois anos na cadeia, Michael Vick. Apesar das óbvias desconfianças, Vick teve em 2010 a melhor temporada da sua carreira: em apenas 12 jogos, ele teve 63% de aproveitamento, com 250 jardas aéreas por jogo, 21 TDs contra apenas 6 interceptações, sem falar nas 56 jardas terrestre por jogo com mais 9 TDs. Vick terminou a temporada com o quarto melhor rating da NFL (100.2, o melhor da sua carreira) e quinto em QBR (68.2), e apesar de uma derrota na primeira rodada dos playoffs para o eventual campeão Packers, tudo parecia muito bem encaminhado na Philadelphia.

Na offseason o Eagles decidiu que, tendo o terceiro melhor ataque da Liga em 2010 e projetando uma temporada inteira de Michael Vick a la Steve Young, decidiu reforçar a defesa, e o fez agressivamente. Trouxe o que era considerado o melhor Free Agent da temporada, Nnamdi Asomugha, por anos o melhor CB da NFL, e trouxe também o segundo maior prêmio da FA, o pass rusher Jason Babin, além do valorizado DT Cullen Jenkins. Além disso, o time trocou Kolb para o Cardinals em troca de mais um CB All-Star (Dominique Rodgers-Cromartie), e juntando aos All-Stars que sua defesa já tinha (particularmente Trent Cole e Asante Samuel), a franquia montou o que seus próprios jogadores chamaram de "Dream Team", o que projetava ser um dos melhores times da Liga em 2011.

Não aconteceu. Michael Vick regrediu como era esperado, o resto do ataque não conseguiu manter o ritmo sem seu QB produzindo a níveis estelares, e o ataque caiu para o oitavo melhor da NFL. A defesa, apesar de suas três novas estrelas, continuou sendo apenas a 11th melhor da Liga, e o time viu seu record cair para 8-8 no que foi considerado um enorme fiasco. Mas na verdade, o problema não foi o Eagles sendo um time ruim. Na verdade, o Eagles foi um time igualmente bom mas muito mais azarado, terminando com o mesmo Pythagorean Expectation do ano passado (10-6) e um record absurdo de 2-5 em jogos decididos por uma posse de bola apesar de um calendário que passou do 20th mais difícil para o 10th mais difícil da Liga. O problema mesmo foi a questão da percepção, sobre como o time que deveria dar um grande salto com suas grandes contratações não evoluiu em nada e ainda viu seu record cair e tirá-lo dos playoffs. Mesmo que não houvesse grandes motivos para pânico, a questão expectativas vs realidade (e o record bruto do time) fizeram a diretoria e a mídia entrarem num modo de ataque para cima da equipe, e ai tudo foi ladeira abaixo.

A temporada 2012 do Eagles foi a típica temporada "tudo que pode dar errado, vai dar errado". Apesar de ser o melhor jogador da secundária da equipe em 2011, Asante Samuel reclamou de ficar no banco e foi imediatamente trocado. A diretoria entrou em pânico e demitiu o coordenador defensivo Juan Castillo apesar de números sólidos da defesa, e tudo foi para o inferno a partir desse ponto, com Asomugha e Cromartie saindo do papel ao qual estavam acostumados e rendendo muito pouco, Jason Babin e Trent Cole tendo um ano horrível (8,5 sacks entre os dois... juntos!), e basicamente do o resto da defesa sendo horrível. Uma defesa do mesmo nível de antes (11th) antes da demissão de Castillo, a equipe terminou com a sétima pior defesa da temporada e a PIOR de toda a NFL pelos números ponderados (que atribuem maior valor aos jogos quanto mais perto do fim da temporada). Do outro lado, o ataque foi um problema por conta das lesões que sofreu e pelos enormes problemas de Vick. O camisa 7 teve a pior temporada de toda sua carreira em QBR, jogando apenas 10 jogos e sofrendo um incrível número de 11 fumbles nesses 10 jogos (contra apenas um TD terrestre), sendo um número enorme deles na red zone. Além disso, os principais backs da equipe (DeSean Jackson e LeSean McCoy) combinaram para perder 10 jogos e, talvez ainda mais importante, apenas um dos principais jogadores de linha ofensiva de 2010 E 2011 juntos conseguiu jogar mais de 13 jogos na temporada (Evan Mathis), com todos os outros (inclusive seus melhores jogadores em Jason Peters e Todd Herremmans) sofrendo lesões que os tiraram da temporada. A combinação disso tudo foi desastrosa, com o time terminando 4-12 e sem nenhum consolo analítico (a Pythagorean Expectation da equipe foi exatamente de 4-12 e o time venceu metade dos jogos decididos por uma posse de bola) além do fato que todos os torcedores do Eagles vieram correndo adivinhar quando comecei essa série, que a equipe foi a quarta pior de toda a NFL recuperando fumbles (36%). Se em 2011 era possível ter esperanças por conta do azar da equipe, em 2012 o time foi um dos piores da NFL por qualquer métrica disponível aos seres humanos.

Entre a decepção de 2011 e o fracasso retumbante de 2012, os cabeças da franquia decidiram que era hora de jogar tudo para o alto, fingir um ataque cardíaco e seguir em outra direção. A equipe demitiu o técnico Andy Reid, no comando da equipe há 14 anos, e toda sua comissão técnica para começar do zero. Para isso, trouxe da NCAA Chip Kelly, um HC sem experiência na NFL mas famoso por seus ataques altamente explosivos e criativos, considerado uma das mentes ofensivas mais interessantes do futebol americano. A direção também não perdeu tempo em se livrar de quase toda sua problemática defesa, com quase todos os principais jogadores (Asomugha, Cromartie, Babin, Jenkins, Jarred Page, entre outros) sendo dispensados e poupando apenas Cole e Nate Allen, entre os principais jogadores que acompanharam a franquia nesses anos. E apesar do ataque não ter passado por grandes mudanças de pessoal, ainda deve passar por mudanças enormes dentro de campo por mudar do ataque de Andy Reid para o de Kelly.

Então foi assim que o Eagles chegou até aqui, e é a partir disso que devem seguir em frente para reconstruir um time que chegou a um Super Bowl (2004) e mais quatro finais de conferência (2001, 2002, 2003, 2008) sob o comando de Reid. Então dentro do possível, o que podemos esperar ou tirar dessa que deve ser uma radical mudança na franquia?

Em primeiro lugar, eu acho que existe pouco interesse na defesa do time para 2013 do ponto de vista analítico. Kelly é um técnico de mentalidade ofensiva e temos pouca amostra do que seus coordenadores defensivos devem implementar desse lado da quadra. Com números razoáveis em 2012 e a chegada do bom NT Isaac Sopoaga para ocupar bloqueadores, a expectativa é que a defesa terrestre do time continue sendo uma unidade decente indo para frente, mas mais do que isso é muito difícil analisar porque grande parte da defesa do time vai ser composta de garotos com pouca rodagem, jogadores que tinham pouco espaço em outros clubes, e algumas peças que já estavam na equipe mas tiveram rendimentos muito pouco convincentes em 2012. Ainda que seja interessante ver como a nova comissão técnica lida com esse grupo, ainda é uma incógnita grande e não devemos esperar grandes coisas da defesa para 2012.

O ataque é um caso a parte. Não foi um grupo que sofreu grandes cortes desde a temporada passada, o que claramente indica que a diretoria e a nova comissão técnica estão satisfeitos com as peças que têm nas mãos e acha que esses são os jogadores que podem funcionar no esquema de Kelly. O time trouxe ainda duas adições espetaculares via Draft (Draft esse que eu elogiei amplamente) em Lane Johnson e Zach Ertz (chegaremos lá) e conta com um excelente núcleo (quando saudável) desse lado da bola, e Kelly vai ter bastante material para trabalhar. Então deixando de lado a questão do QB por enquanto, vamos ver o que podemos esperar dessa unidade.

A primeira coisa que chama a atenção vendo Chip Kelly quando era técnico de Oregon é que seus ataques gostam de jogar em grande velocidade. Seja correndo ou em jogadas aéreas, é um esquema com muita movimentação, improviso e que se beneficia de jogadores rápidos e explosivos. Isso encaixa bem com o que ele tem, com LeSean McCoy sendo um dos melhores RBs da Liga e DeSean Jackson sendo um dos jogadores mais explosivos de toda a NFL. Na verdade, eu sempre achei que Jackson era um pouco mal utilizado com Reid: o ex-técnico sempre explorou muito bem sua velocidade nas rotas longas, mas achava que sendo um dos retornadores mais dinâmicos da Liga, o Eagles pecava ao não criar tantas jogadas que dessem a bola para Jax em espaços abertos próximos a linha de scrimmage, onde ele poderia causar estragos com a bola nas mãos (pense Percy Harvin). Com Kelly, isso deve ser uma arma mais usada, especialmente agora que o time trouxe Lane Johnson, um dos OTs mais atléticos que eu já vi e que é perfeito para esse estilo de passe curtos e lateral que exige um tackle de grande mobilidade para acompanhar os corredores perto da linha. Ertz também é um encaixe interessante, é um TE muito atlético cujo potencial recebendo passes é enorme, criando missmatches por conta do seu tamanho e velocidade, outro bom encaixe para um ataque dinâmico e explosivo. Com um pouco mais de sorte com lesões (especialmente com a linha ofensiva), Kelly deve ter um prato cheio para implementar seu estilo, combinando jogadores mais veteranos e completos como Peters e Herremans, mais sólidos na proteção, com a explosão dos jovens Johnson e Danny Watkins. O fato da equipe não possuir um recebedor "possession" de meia distância deve ser disfarçado pelo melhor uso das rotas curtas em velocidade de Jax e Jeremy Maclin, ou então do uso de seus dois TEs pelo meio estilo Patriots com a velocidade de Jackson abrindo a defesa nas rotas longas. Então em geral, devemos esperar um ataque muito mais dinâmico e explosivo que em 2012, e só Deus sabe as invenções que Kelly vai conseguir tirar com um ataque tão variado (de novo, supondo que o pessoal fique saudável) e com tantos jogadores interessantes.

A grande dúvida aqui, claro, é quem vai ser o quarterback da equipe. O Eagles entra no training camp com três opções possíveis: Vick, Nick Foles, ou o calouro Matt Barkley. Cada uma faz sentido, e cada uma pode levar o ataque do time numa direção diferente.

Começando por Michael Vick, que terminou a temporada passada no banco mas parece o candidato com mais chances de ficar com a vaga. Um dos pontos mais interessantes, caso Vick seja nomeado o titular, para mim é a forma como ele deve ser usado. Reid sempre tentou adequar o camisa 7 ao papel de passador de pocket, com sua velocidade e explosão sendo mais usada com improviso do que como algo planejado. Em 2010 deu certo, Vick foi um dos melhores pocket passers da NFL, mas desde então sua falta de precisão e sua falta de paciência para ler defesas causou boa parte de suas regressões como passador, e essa frustração contribuiu para o grande número de turnovers do QB pois ele parecia ficar desconfortável no pocket e corria para qualquer lado sem pensar quando um passe fácil não aparecia. Com Kelly, isso deve ser diferente. Em Oregon, ele sempre mostrou muita criatividade usando quarterbacks móveis e atléticos em jogadas desenhadas para tirar vantagem desses atributos, ao invés de tentar adaptar seus QBs ao estilo de pocket passer. Acho que esse é o ingrediente crucial aqui e que deve fazer Vick começar a temporada como titular: Chip Kelly sabe usar QBs móveis e atléticos como tal, sabe que se for para usar Vick como um pocket passer ele tem opções melhores, e a explosão e velocidade lateral do quarterback se encaixa muito bem no esquema rápido e de muita movimentação que é a preferência do novo técnico. Os problemas dele para esse esquema são claros, pois Vick não tem a mesma precisão nos passes curtos e médios em velocidade e não é o melhor jogador do mundo tomando decisões rápidas, mas pelo menos no curto prazo ele é quem oferece o maior potencial para esse ataque por causa de suas pernas.

No entanto, Barkley e Foles oferecem algo que Vick não pode, que é um possível QB para o futuro. Vick tem 33 anos e, por conta do seu estilo que depende demais do seu físico, está se aproximando do final da sua carreira e dificilmente teria gasolina para ser um QB por anos a fio para essa equipe. Isso não acontece com os outros dois, já que Foles tem 24 e Barkley 22 anos. Então embora Vick ofereça um potencial maior no curto prazo para esse ataque explosivo, se o foco da franquia for já começar um processo de adaptação para o futuro, a posição pode cair nas mãos de um dos mais novos.

É difícil julgar Foles pelo que vimos ano passado dele, afinal foi um ataque muito machucado e disfuncional  durante boa parte da temporada. Ele certamente não se destacou muito nos seis jogos que foi titular, mostrando um braço forte mas pouca precisão e pouca mobilidade fora do pocket (dois ingredientes importantes para o esquema ofensivo de Kelly) e um QBR abaixo de 50. Mas ainda era um QB calouro, sem uma linha ofensiva e com DeSean Jackson e LeSean McCoy batalhando lesões, de forma que é realmente difícil usar o pouco que vimos dele ano passado como uma sólida base de análise. Eu não acho que o instrumental de Foles seja tão impressionante assim, mas caso se destaque no training camp, acho possível que roube a vaga por ser uma versão mais jovem do que Vick e com potencial maior por conta do seu braço do que Barkley.

Eu não acho que seria o caso por um simples motivo: Barkley é ainda mais novo e tem um instrumental mais adequado ao esquema que o Eagles deve implementar essa temporada. Ainda que ele não tenha um braço tão forte como o de Foles ou Vick (o que certamente tira uma dinâmica importante do ataque aéreo da equipe nas ultimas temporadas), ele é quem melhor apresenta a mistura de habilidade atlética, precisão, velocidade e capacidade de ler as jogadas e as defesas. Apesar de ser um calouro, Barkley jogou quatro anos em USC com um playbook muito próximo do estilo da NFL e sempre se destacou chamando jogadas, lendo defesas e basicamente jogando como um QB pronto para a NFL. Apesar de ser principalmente um pocket passer, ele tem uma mobilidade e velocidade muito boa e que pode usar para provocar o tipo de mudanças na defesa que Kelly gosta, saindo do pocket e fazendo jogadas em velocidade enquanto a defesa se desmonta. Sua precisão na curta e média distância provavelmente é a melhor entre os três quarterbacks do elenco, e embora ele talvez não tenha o potencial de Foles por conta dos passes longos, eu acho que ele a opção mais sólida do elenco, alguém mais pronto que Foles, com o instrumental adequado ao esquema de seu novo técnico e com mais perspectiva de futuro que Vick. Ainda que seu impacto seja um pouco limitado pela falta de força no braço, eu continuo achando esse um aspecto um pouco overrated para alguém que acabou de entrar na Liga. Afinal, o maior QB da história da NFL, Joe Montana, caiu para o final da terceira rodada porque todos julgavam que seu braço era fraco demais para jogar na NFL. So yeah, scouts eram incompetentes desde 1979. Sem querer comparar os dois jogadores diretamentes, claro, mas quando você tem um calouro experiente, inteligente e completo como Barkley, você não pode descartá-lo só por causa de um pequeno problema como esse.

Esse é o dilema de QBs que o Eagles, agora, enfrenta. Acho difícil arriscar um palpite concreto agora porque tudo depende muito de como esses jogadores irão render no training camp e se adaptar ao longo da pré-temporada ao novo playbook da equipe. Eu pessoalmente acho que Vick seria o candidato mais provável nesse momento porque oferece a esse ataque um potencial maior, mas é muito fácil imaginar o time indo em outra direção e entregando as chaves a alguém mais novo. Só que vindo de uma temporada decepcionante e um fiasco magistral, a equipe parece ansiosa por algum resultado imediato, e Vick é quem provavelmente oferece a melhor chance disso.

Então, em resumo, o que mais sabemos do Eagles é que está muito difícil saber alguma coisa de verdade do que esperar para 2013. O técnico mudou, toda a comissão técnica mudou, as posturas da equipe mudaram de cima a baixo. A defesa foi quase inteira reformulada, e o ataque deve passar por uma mudança bem grande de estilo de jogo. Ninguém sequer sabe quem vai ser o QB da equipe! Então sim, é em difícil saber o que esperar desse grupo. O que a gente sabe é que a defesa deve continuar sendo bem fraca enquanto passa por uma grande reformulação, ainda que a mudança de coordenador e a saida de alguns veteranos improdutivos possa ajudar esse grupo a voltar ao bom caminho. O ataque ainda depende demais da saúde de seus jogadores (vários dos quais já se mostraram propensos a lesões), de uma indefinição de QB que pode jogar a franquia em praticamente três direções diferentes e basicamente de como alguns jogadores vão se adaptar a um esquema novo no ataque. Ainda que essa unidade deva estar consideravelmente melhor que em 2012, a falta de talento na defesa, as múltiplas incertezas dos dois lados do campo e as prováveis adaptações que terão de ser feitas ao longo da temporada me fazem achar que o Eagles não deve passar de uma temporada 6-10 ou algo semelhante. Mas considerando tudo que a franquia fez desde o ano passado - a troca de técnicos, contratar um dos melhores da NCAA em Chip Kelly, a manutenção das peças certas, um excelente Draft - são bons sinais de que o time da Philadelphia está no caminho certo para reconstruir o que foi um dos principais times dos anos 2000.