Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Preview NFL 2013 - San Diego Chargers


"It's a BAAAAAALL!"


Para saber do que estamos falando aqui e dessas estatísticas, recomendo a leitura desse post antes
Se quiser opinioes e analises sobre o Draft, voces podem ler o Running Diary da primeira rodada ou o manual de como avaliar um Draft na NFL


Nessa série de previews já falamos de 25 times diferentes, incluindo toda a AFC East, South e North e das NFC East, South e North, mais o Denver Broncos. Você pode acessar todos os previews direto do nosso índice. Se você não tem ideia do que estou falando, recomendo que leia esse post introdutório. Btw, a falta de crases nesse texto é porque esse teclado não tem crase, então não reparem, ok?

San Diego Chargers

2012 Record: 7-9
Ataque ajustado: 24th
Defesa ajustada: 18th


Se eu fosse fazer uma lista de grandes times da NFL que escorregaram (ou vão escorregar) pela história e acabar esquecidos, o Chargers da segunda metade dos anos 2000 provavelmente estaria no Top5. Começando desde 2004 (quando Drew Brees era QB), passando por 2006 (14-2 já com Phillip Rivers) e até 2009 (13-3 e favorito ao título da AFC em Vegas), foram seis anos de competição em altíssimo nível e um dos melhores times da NFL todo ano disputando títulos (entre 2004 e 2010, o time terminou apenas uma vez fora do Top10 em eficiência total: 11th em 2009). 

E não é como se fosse uma aberração ano a ano ou um time fraco sendo levado nas costas de um grande QB, era um dos times mais atolados de talento que eu lembro de ter assistido (no Madden 2008, um dos jogos que mais joguei na minha vida, o Chargers era o time com mais jogadores 99 de força no jogo). O ataque tinha um dos melhores RBs da história da NFL em LaDainian Tomlinson e o melhor FB da NFL em Lorenzo Neal, um dos dois melhores TEs em Antonio Gates, um excelente QB em Philip Rivers e uma excelente linha ofensiva que incluia três Pro-Bowlers (Marcus McNeill, Kris Dielman e Nick Hardwick). A defesa também contava com um grupo espetacular, incluindo um grupo imenso de All-Pro/Pro-Bowlers como Jamal Williams, Luis Castillo, Shawne Merriman, Shaun Phillips, Quentin Jammer e Antonio Cromartie (e mais tarde Eric Weddle). Era um time absurdamente lotado de talentos e divertidíssimo de assistir que, infelizmente, vai acabar sumindo historicamente por nunca ter ganho um título ou sequer ter ido a um Super Bowl. Lamentavelmente, a fama de time amarelão que nunca conseguiu ganhar nos playoffs (apesar de tudo que falamos aqui sobre amostras pequenas e o escambau) provavelmente vai ser o que as pessoas lembrarão de um dos melhores times da sua geração.

Para alguém como eu, que cresceu assistindo NFL e acompanhou toda essa trajetória do Chargers conforme ia se envolvendo mais e mais com o esporte (especialmente quando meu time não foi relevante entre 2002 e 2010, situação na qual é comum achar outro time legal para se "apegar"), é triste ver o que aconteceu com o Chargers entre 2011 e 2012, uma grande potência chegando no seu limite e se quebrando a partir daí. E ainda que não foi por conta de uma má gestão, ou de trocas desastrosas que destruíram a equipe, nem nada do tipo: foi um grupo que simplesmente chegou ao seu limite em termos de idade, perdeu alguns jogadores importantes e não conseguiu reposições a altura. LT envelheceu muito rápido chegando aos 30 anos, a carreira de Merriman foi para o saco por conta de lesões, e o resto do grupo - Neal, McNeill, Gates, Williams, Jammer, etc - simplesmente envelheceu e perdeu efetividade, com a maioria se aposentando ou saindo da cidade. É um processo normal, e daquele grupo dominante o único jogador que sobrou foi Rivers, outro que está envelhecendo rápido.

Um dos problemas aqui foi que a diretoria do Chargers optou por não recomeçar e tentar apenas arrumar as peças que iam falhando ou perdendo qualidade, mas não conseguiu fazê-lo: muitos dos free agents trazidos nesses últimos anos fracassaram, em parte porque o núcleo do Chargers não era mais forte o suficiente para poder continuar excelente com jogadores medianos para complementá-los, pelo contrário, precisava de jogadores de impacto maior ao redor para poder continuar produzindo. A equipe também não teve muito sucesso no draft, em parte por azar (Ryan Matthews, que devia substituir LT na equipe, não consegue ficar saudável) e em parte porque alguns jogadores (como Marcus Gilchrist) ainda não renderam os resultados esperados. Não que o time não tenha conseguido alguns bons jogadores, é só que não foi suficiente para adiar essa queda da equipe. Pensando em manter aquele bom time ainda competindo, os últimos anos não trouxeram sucesso, mas quando o foco passa a ser montar um novo time para daqui a pouco, então o Chargers tem conseguido alguns resultados interessantes. Mas chegaremos lá.

Durante esses anos dourados do Chargers - heck, até mesmo em todos os anos dourados do Chargers entre 1980 e 2010 - o ataque foi o ponto focal da equipe, o grande ponto forte em torno do qual San Diego se montou e dominou a liga. Isso é obviamente mais fácil quando você tem um dos melhores RBs de todos os tempos a sua disposição, e LT com certeza teve um papel importante liderando esse ataque durante um bom tempo, mas não foi o único motivo de sucesso do grupo. Mesmo no final da carreira de LT, quando ele decaiu com enorme e triste rapidez (e os números terrestres de SD caíam em queda livre, chegando a um triste 31st em 2009), o ataque se manteve como um dos melhores da NFL por conta de seu ataque aéreo. E se queremos procurar causas para essa perda de competitividade do Chargers nos últimos anos, é por aí que temos que começar.

Durante seu auge, o ataque de San Diego era baseado em um esquema de passes longos que exploravam o forte braço de Rivers e que se utilizava de todos os lados do campo para abrir espaços na defesa. Com WRs rápidos como Vincent Jackson e Chris Chambers, e tendo um TE de elite em Antonio Gates para as recepções garantidas pelo meio da defesa (ou mesmo uma opção fácil de passe em caso de pressão), esse ataque se baseava nos passes em profundidade e em jogadas explosivas seguindo seu estilo ofensivo desde a década de 80, o Air Coryell (o original "West Coast Offense"). E como em todo bom ataque aéreo que foca nas bolas longas, é crucial ter uma boa linha ofensiva que consiga segurar as defesas e ganhar o tempo necessário para os WRs se colocarem em posição de receber essas bombas... e pela maior parte da década, foi o caso do Chargers, cuja unidade liderada por McNeill sempre esteve entre as melhores da liga. Era o pessoal ideal para esse ataque, pois a falta de um WR mais confiável pelo meio era compensada por Gates, e tanto a OL como os WRs eram perfeitos para executar esse estilo de jogo, e o Chargers aproveitou.

Da mesma forma, é fácil ver onde tudo desandou nos últimos dois anos, especialmente 2012. Tudo que fez desse ataque tão especial foi o que fez dele um fiasco recente: os WRs de velocidade começaram a deixar o time (em especial Jackson, que foi para Tampa), idade e lesões tiraram toda a eficiência de Antonio Gates e ele deixou de ser aquela opção ultra-confiável de meia distância (e terceiras descidas), o substituto de LT (Matthews) nunca ficou saudável e o time não achou outra opção, e talvez mais importante, a linha ofensiva da equipe decaiu para um nível horrendo ao ponto de eu ter dito durante a temporada 2012 que "a linha ofensiva do Chargers é a pior protegendo o passe que eu vi em anos, e isso quer dizer alguma coisa" (um mês depois, um estudo do Football Outsiders mostrou que a pior OL da NFL em jogadas de passe foi... wait for it... a de San Diego). E para um ataque que, como já foi dito, era baseado em muitos passes longos e que exigem tempo, a pior coisa que pode acontecer é contar com uma linha ofensiva horrível que não consegue segurar a pressão e força o QB a se livrar da bola muito antes do que ele deveria - especialmente uma equipe como San Diego sem uma boa opção de checkdown como um TE de elite (lamento, Gates) ou um bom slot receiver. Essa destruição da linha ofensiva sem dúvida contribuiu para as recentes performances decepcionantes de Phillip Rivers e do ataque do Chargers, e foi esse o motivo que levou a equipe a ir buscar DJ Fluker no draft e Max Starks em Pittsburgh, de forma a dar algum alívio nesse setor.

Esse nível patético da OL e a falta de bons recebedores é algo que faz questionar em parte o quanto do grande declínio que Phillip Rivers vem sofrendo nos últimos dois anos é realmente uma perda de efetividade do QB, ou se isso pode ser explicado em parte pela queda do nível ao seu redor e o esgotamento de um esquema que tirava o máximo de suas habilidades. A resposta é provavelmente um pouco dos dois: depois de liderar a NFL três anos seguidos (2008-2010) em jardas por passe, Rivers viu seus números no quesito caírem de 8.7 (2010) para 7.9 e depois para 6.8, o que é realmente preocupante. Mas ao mesmo tempo, essa absurda queda da linha ofensiva, o declínio de Gates e a saída dos seus melhores WRs - especialmente junto do fato de que a diretoria pouco ou quase nada fez para repor essas peças - são coisas que chamam muito a atenção, especialmente para um jogador que fez tanto sucesso dentro de um esquema como Rivers. Ele também jogou para um técnico que foi horrível nos últimos anos em Norv Turner, que não soube adaptar o ataque nem tomar boas decisões em campo.  Então enquanto o potencial ofensivo do Chargers seja limitado por uma grande falta de WRs e outro TE além de Antonio Gates, a melhora da sua linha ofensiva e um novo técnico podem ajudar Rivers a voltar a boa forma, então existe motivos para acreditar em uma melhora nesse lado.

Mas se a diretoria negligenciou até certo ponto as necessidades do ataque e observou impotente enquanto o grupo caía de produção, ela certamente fez muito no sentido de reforçar a defesa nos últimos anos. Durante o auge de San Diego nos anos 2000, a defesa não era uma potência, mas era uma unidade bastante sólida. Quando alguns jogadores começaram a sair ou perder efetividade depois da temporada e 2007, a diretoria começou a direcionar seus esforços para esse lado da bola, o que ficou ainda mais evidente em anos recentes: das três escolhas mais altas do Chargers em cada um dos últimos três drafts, sete foram em jogadores de defesa e apenas duas (Fluker e Matthews) em jogadores de ataque (expandindo para quatro anos, foram 9 jogadores de defesa e 3 de ataque). E a verdade é que a equipe montou uma base interessante para esse grupo, que apesar da falta de playmakers que façam sozinhos estragos (pense Von Miller ou JJ Watt) tem achado um bom número de jogadores que realizam todo tipo de função. A linha defensiva parece pronta para o futuro com Corey Liuget (7.5 sacks como DE de uma defesa 3-4) e Kendall Reyes (5.5 sacks como calouro na mesma situação), e a linha defensiva parece bastante sólida com Donald Butler, Manti Te'o, Melvin Ingram e Dwight Freeney, sendo que os três primeiros ainda são bem jovens e tem contratos longos e baratos com a equipe. A secundária é mais problemática, em parte porque Gilchrist ainda não está jogando como esperavam quando o escolheram no draft, mas eles ainda possuem um dos melhores (talvez o melhor) FS da NFL em Eric Weddle.

Esse grupo começou a dar uma boa volta por cima ano passado, quando saiu 29th posição para a 18th em termos de defesas ajustadas, e mais um ano desses jogadores (e a chegada de Te'o) devem solidificar ainda mais esse grupo que é na verdade muito promissor. Se está contando, o Chargers montou uma base com seis titulares jovens e promissores (Liuget, Reyes, Butler, Te'o, Ingram e Weedle), e se pelo menos um desses cinco primeiros conseguir evoluir em uma força considerável para desmontar ataques e provocar dobras na marcação, esse grupo está a apenas um bom CB a virar um grupo muito confiável por anos a fio. Não elite, mas bastante confiável. Potencial não falta, e considerando a boa evolução entre 2011 e 2012, é essa a área que oferece mais otimismo para San Diego. 

Mas a volta por cima ainda provavelmente está alguns anos distante do Chargers. O time mistura um ataque com seu QB veterano, ainda apegando aos velhos tempos, com uma defesa em franca remontagem. Eu espero alguma evolução da equipe para 2013, com uma linha ofensiva reforçada e uma defesa que deve evoluir, mas não o suficiente para recolocar o time como uma força relevante na NFL, especialmente com um ataque sem WR (e com os que tem machucados) e sem um TE confiável e uma linha ofensiva que ainda deve ser abaixo da média (embora repetir o fiasco de 2012 seja difícil). A Pythagorean Expectations da equipe (8-8) e record em jogos decididos por uma posse de bola (1-5) certamente indicam que o time tem espaço para melhorar internamente também, mas vale citar que a equipe enfrentou o terceiro calendário mais fácil da NFL em 2012. Então a equipe deve ser melhor, mas quanto melhor? Acho que outro ano entre 8-8 e 7-9 é o mais provável enquanto a diretoria tenta decidir o que fazer e que caminho seguir, especialmente no ataque: reorganizar o corpo de recebedores e tentar um último hurrah com Philip Rivers, já pensar no próximo ataque para fazer par a essa boa e jovem defesa, ou talvez um meio termo: com essa AFC fraca, é possível imaginar o Chargers arrancando uma vaga de wild card a 9-7 com um pouco de sorte e eventualmente tentando a sorte novamente nos playoffs. Não apostaria minhas fichas, mas não acho impossível, e diria que é no que o GM da equipe está apostando.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Preview NFL 2013 - Denver Broncos

"E ai o passe caiu, e a mulher dele botou a culpa em mim..."


Para saber do que estamos falando aqui e dessas estatísticas, recomendo a leitura desse post antes
Se quiser opinioes e analises sobre o Draft, voces podem ler o Running Diary da primeira rodada ou o manual de como avaliar um Draft na NFL


Depois de terminar a série de previews da AFC East, os previews da NFC East, os previews da AFC North, os previews da NFC North, os da AFC South e agora também os da NFC South, e agora entramos na reta final dessa série com os previews da AFC West, começando pelo forte Denver Broncos. Se você não tem ideia do que estou falando, recomendo que leia esse post introdutório. Btw, a falta de crases nesse texto é porque esse teclado não tem crase, então não reparem, ok?

Denver Broncos

2012 Record: 13-3
Ataque ajustado: 2nd
Defesa ajustada: 5th


Uma coisa que me ficou bem clara pesquisando para fazer essa série de previews - e já foram 24 tirando esse - é que existe um grande desequilíbrio de forças na NFL atualmente: a NFC é muito, mas muito mais forte do que a AFC. Não só porque eu espero que seja assim em 2013, mas também porque foi assim em 2012: dos 12 piores times em eficiência ajustada (per Football Outsiders), incríveis 10 jogavam na AFC e apenas dois (Eagles e Cardinals) jogavam na NFC. Da mesma forma, entre os 16 melhores times da liga, apenas cinco eram da AFC, e apenas três apareciam no Top10: o campeão Ravens (8th), o eterno Patriots (3rd), e a "novidade" Broncos (2nd).

O Broncos na verdade foi um daqueles bons casos que queimam nossa língua. Ao longo da última offseason, eu critiquei a diretoria por dar um contrato tão grande (tanto em duração como valor) para um QB de 36 anos vindo de um ano parado e cinco cirurgias e tratamento com células tronco no pescoço e que já tinha apresentado sinais de decadência em sua última temporada como profissional. Meu problema era menos com a contratação (o contrato oferecia algumas proteções e Peyton Manning obviamente é um QB de elite quando joga) e mais pelo fato do Broncos ter buscado remontar boa parte da sua equipe e playbook em torno das características de Manning, o tipo de jogada de alto risco e alta recompensa que renderia um bom ano caso seu QB ficasse 100% durante a temporada inteira e que praticamente destruiria sua temporada no caso de uma lesão... e de novo, ele estava vindo de uma offseason com cinco cirurgias no pescoço aos 36 anos. 

No final, o Broncos assumiu o risco e o resultado foi o melhor possível: Manning voltou sem sentir a ausência, jogou num nível quase obsceno, foi eleito o MVP entre jogadores que não foram criados em laboratório por cientistas durante o governo Reagan (ou seja, ficou em segundo depois do Adrian Peterson), e o time de Denver foi praticamente um furacão que atropelou todo mundo: foi o primeiro na AFC em eficiência, com o segundo melhor ataque (atrás do Pats) e a segunda melhor defesa (atrás de Houston) da conferência, terminando com o melhor record e fechando a temporada com incríveis 11 vitórias consecutivas. Então sim, esse foi um que eu errei feio, Manning ficou saudável e me fez comer as palavras, e eu não poderia ter gostado mais: poucos QBs são tão legais de se ver jogar como ele, e a liga é melhor quando Peyton Manning está em campo. É bom ter o número 18 de volta.

(Manning também é capitão do meu All-Time "Não parece, mas ele é um cara extremamente bem humorado" na frente de Tim Duncan. Clique aqui e aqui se não acredita. Ele é simplesmente awesome.)

E a transformação de Denver em uma potência ofensiva sob a batuta de um Manning saudável não foi exatamente uma surpresa. Desde 2006 (ano do seu título com o Colts), os times de Peyton terminaram 1st, 2nd, 5th, 6th e 6th, terminando no Top5 pelo ar cinco anos seguidos. Com Tim Tebow no comando, o Broncos era uma força que buscava correr com a bola, minimizar os erros e passar o mínimo possível, mas para 2012 esse ataque se reinventou como um grupo que jogava em alta velocidade, era extremamente explosivo pelo ar e simplesmente parou de ser um grupo que buscava ser sólido o suficiente para ser um grupo que engolia e dominava seus adversários. O ataque terrestre, força que carregou nas costas o time um ano antes, caiu para um abaixo da média 15th e o ataque aéreo explodiu para o segundo melhor da NFL. Manning liderou a liga em QBR (84.1), Demaryius Thomas e Eric Decker explodiram para mais de 1000 jardas cada e esse ataque foi basicamente um furacão varrendo todo mundo no caminho.

O que é interessante notar é que não foi fácil assim desde o começo. Durante os primeiros cinco jogos (duas vitórias e três derrotas), o time teve algumas dificuldades, em particular Manning. Talvez por ainda estar sacudindo a ferrugem depois de tanto tempo sem jogar, talvez por ainda estar sentindo algum efeito da lesão, talvez por estar se adaptando a um novo playbook e novos companheiros, ou mesmo (e essa é a minha opinião) porque estava tentando fazer as mesmas coisas que fazia dois anos antes mas seu corpo não estava acompanhando, seu braço não tinha a mesma força nas bolas longas, ele não conseguia acompanhar lateralmente o jogo na mesma velocidade com seu pescoço e tudo mais. Provavelmente um pouco disso tudo junto. Mas é por isso que Peyton Manning é um dos melhores QBs de todos os tempos: ele se adapta a qualquer time, situação ou afins. Em parte seu corpo foi recuperando os hábitos da NFL, mas na maior parte Manning percebeu o que ele ainda podia e o que não podia mais fazer, e mudou seu estilo de jogo: menos bombas, mais passes em velocidade pelo meio, mais checkdowns quando a pressão chegava. Enquanto o corpo envelhece e os jogadores perdem seu físico e seus reflexos, tem algo que não se perde, que é seu cérebro - e Manning é o QB mais inteligente talvez de todos os tempos. Ele usou isso para maximizar cada oportunidade e situação conforme seu corpo, braço e pescoço pós-cirurgias lhe permitiam, e ele praticamente transformou seu jogo sutilmente para voltar a ser aquele jogador espetacular de antes apesar de todas as limitações. Mais do que a sequência de 11 vitórias ou o record de 13-3, para mim esse foi o feito mais impressionante da temporada 2012 do Denver Broncos.

Mas se essa transformação ofensiva da equipe não foi exatamente uma surpresa, a da defesa foi. O grupo foi relativamente bem em 2012, 18th overall (o ataque foi 23rd, por isso o "relativamente") e contava com alguns jogadores muito promissores como Elvis Dumervil e Von Miller. Mas eu realmente não esperava que pulasse para quinta melhor da liga em apenas uma temporada. Em parte isso aconteceu por alguns fatores externos (já chegaremos nele, mas não tem nada a ver com fumbles dessa vez) e em parte porque Von Miller evoluiu em um dos melhores jogadores da NFL e foi uma força do começo ao fim, Dumervil teve outra temporada de Dumervil, e o resto encaixou no lugar com alguns jovens jogadores surgindo e alguns veteranos mantendo o nível. Derek Wolfe, calouro, foi importantíssimo na linha defensiva, o veteraníssimo Keith Brooking tapou muito bem o buraco no meio da defesa jogando de MLB, e Champ Bailey continuou sendo eficiente como sempre apesar da idade. Foi uma daquelas temporadas onde tudo se encaixa no lugar certo, tudo funciona as mil maravilhas, tudo caminha na direção certa e o resultado é excelente.

E se as coisas pararem de se encaixar? Essa é a questão que o Broncos enfrenta para 2013. Ofensivamente, eu não vejo motivos para preocupação, pelo menos enquanto Manning continuar saudável (e por enquanto eu lhe darei o benefício da dúvida): a base do ano passado, e a equipe ainda adicionou um dos melhores WRs da liga em Wes Welker. Ainda que seja possível imaginar que Welker não vá continuar tão produtivo como em New England, onde jogava em um esquema tático baseado amplamente nos seus talentos e no seu entrosamento de outro mundo com Tom Brady nas option routes, mas não vejo porque a adição de um jogador tão talentoso iria deixar de reforçar esse ataque, especialmente com outro Hall of Famer no comando. Welker deve assumir as funções de slot e permitir a Eric Decker jogar de forma mais variada nesse ataque, e na pior das hipóteses vira um ataque mais variado e mais difícil de ser marcado. Na melhor, Denver chega a três receivers com mais de 1000 jardas pela primeira vez desde 2008 (Cardinals) e esse ataque sobe mais um nível. Mas o potencial desse ataque é maior do que o do ano passado, e isso quer dizer muita coisa considerando quão bom ele foi em 2012.

A defesa é o problema para a sequência. Como eu disse, 2012 foi o ano que tudo se encaixou perfeitamente: seus dois melhores jogadores foram a base para essa defesa (Miller e Dumervil), alguns jogadores jovens (Rahim Moore, Derek Wolfe) apareceram para complementar algumas deficiências, e veteranos como Keith Brooking e Champ Bailey jogaram em altíssimo nível para fechar o grupo. Foi um elenco bem completo e que tinha bons jogadores em todas as posições, com alguns jogadores fora de série causando maior estrago e forçando ajustes e os demais se aproveitando disso. Mas teve mais uma coisa que foi a favor do Broncos, como nota o grande Bill Barnwell: essa defesa ficou incrivelmente saudável em 2012, acima do "normal" considerando a enorme variação e imprevisibilidade de lesões ano a ano. Na verdade, per Football Outsiders, nenhuma defesa foi mais "sortuda" em 2012 em termos de lesões, com os 11 titulares da defesa perdendo apenas 11 jogos no total. Saúde é uma variável infelizmente muito volúvel de ano a ano, e podiamos esperar que as coisas não seriam tão boas assim em 2013 para o Broncos.

Na verdade, o primeiro e talvez mais significativo caso de perda nessa defesa não teve nada a ver com lesões, que foi a saída de Elvis Dumervil. Depois de 11 sacks em 2012, a diretoria de Denver quis renegociar e diminuir seu contrato por considerar os valores muito altos e que estariam dificultando a negociação de novos reforços. Dumervil não gostou da situação e isso se arrastou até o dia final para as negociações, onde Denver poderia cortar o jogador caso a renegociação não acontecesse. De última hora, o DE decidiu que aceitava, e então seu agente tinha que mandar um fax para o Broncos e para a NFL confirmando a renegociação... só que a besta quadrada não conseguiu usar direito um fax e acabou não enviando a tempo o fax, e então o Broncos optou por cortar Dumervil e seu salário. Questões salariais a parte, o impacto disso é enorme dentro de campo: Dumervil foi crucial para atrair marcações duplas e evitar que toda hora a defesa dobrasse a marcação em Von Miller, sem falar na pressão colocada nos QBs adversários, e substituí-lo simplesmente não vai ser possível. Denver apostou em Shaun Phillips, do rival Chargers, um bom pass rusher mas que passou toda sua carreira jogando de OLB em um esquema 3-4, e que agora - aos 32 anos - vai ter que fazer a conversão para um DE. Phillips é bom, mas não é uma conversão fácil agora que sua habilidade atlética está decaindo, e não consigo ver como ele vá suprir a ausência de Dumervil. Perder seu segundo melhor jogador é um grave golpe para qualquer defesa.

Eles também perderam outras peças relativamente importantes, em especial entre seu grupo de linebackers: Brooking saiu da equipe e deve se aposentar e Joe Mays levou seu salário e problemas extra-campo para Houston, deixando a equipe sem nenhum MLB. A equipe também perdeu Tracy Porter, que teve um papel importante como nickel corner em 2012 e que foi para Oakland (embora tenha trazido Dominique Rodgers-Cromartie para seu lugar, então não é exatamente um grande problema). Algumas peças importantes estão de saída, e isso é problemático.

Mas como esperado, as lesões voltaram para assombrar a equipe, e com tudo. Stewart Bradley, o MLB mais provável para ganhar a vaga na posição mais carente da equipe (depois das saídas de Mays e Brooking), quebrou o pulso e vai perder diversas semanas da temporada regular, deixando a posição ainda mais fraca. Depois foi a vez do veterano Bailey e do menino Wolfe de sofrerem suas lesões, com Bailey machucando seu tornozelo e Wolfe sofrendo uma lesão assustadora na coluna. A lesão de Wolfe pareceu não ter sido tão ruim como poderia, mas ainda foi uma lesão gravíssima e assustadora que vai mantê-lo parado por tempo indeterminado, e Bailey deve perder várias semanas. É difícil frisar o impacto disso no time, mas só digo que é bem grande: Wolfe fez um ótimo trabalho como DE oposto a Dumervil na sua temporada de calouro, e a expectativa era de um salto ainda maior para essa temporada -  especialmente considerando que com a saída de Dumervil, o time precisava ainda mais que Wolfe se estabelecesse como um bom pass rusher para tirar a pressão de Phillips e sua conversão para o esquema 4-3 e atraísse as dobras de marcação para livrar Miller. É uma perda extremamente significativa e o pass rush da equipe vai sofrer como consequência, o que é ainda pior quando consideramos que o melhor jogador dessa secundária - que foi um pouco exposta nos playoffs - está fora por algum tempo. Rodgers-Cromartie também está lidando com sua própria lesão no pé, e então essa secundária - que já era um pouco delicada e que dependia muito do pass rush - pode ser um elo vulnerável no começo da temporada.

E claro, temos o problema de Von Miller, seis jogos suspenso por uso de substâncias proibidas. É importante não confundir com as suspensões de metade do time do Seahawks por PEDs, já que o caso de Miller parece ser maconha e não Aderall. Miller já havia sido pego como calouro por uso de maconha e metanfetaminas, então essa foi sua segunda violação (em tempo: a suspensão inicial de Miller era de quatro jogos, ele decidiu apelar, e foi suspenso seis. Quem são os advogados desse cara?! Winston Payne está envolvido?). Isso significa que não só Miller vai perder esses seis jogos (Ravens, Giants, Raiders, Eagles, Dallas e Jaguars), como uma eventual próxima suspensão será de uma temporada inteira, então é bom Miller se cuidar. Com essa segunda suspensão ele também entra em definitivo (não pode mais sair) dos acompanhados pelo programa de drogas da NFL, então a supervisão vai ser muito mais apertada. Perigoso isso. E claro, não preciso falar exatamente do quanto essa perda é significante, Miller foi provavelmente o melhor e mais importante jogador defensivo de 2012 não chamado "Watt", e ele é fundamental para praticamente tudo que a equipe faz em campo: cobertura em terceiras descidas, jogo terrestre e principalmente colocar pressão no QB, pode escolher, ele está lá causando estragos. Se você está contando, o Denver deve começar a temporada sem seus CINCO melhores jogadores de 2012 (Brooking e Dumervil saíram, Wolfe, Bailey machucados e Miller suspenso), o que indica problemas. E mesmo quando Miller voltar, Dumervil não vai, e ninguém sabe exatamente quando Wolfe e Bailey estarão de volta. Para uma defesa que tudo caiu no lugar ano passado para ficar em quinto, esse ano pode ser a que tudo da errado e ela despenca... e tenho certeza que nenhum torcedor do Broncos esqueceu o que aconteceu nos playoffs (ainda que não de para concluir nada de um jogo só).

E é nesse pé que as coisas estão. Em uma AFC muito fraca, as duas potências (Patriots e Broncos) enfrentam algumas questões importantes quanto ao nível em que jogaram um ano atrás. A diferença é que o Patriots enfrenta essas dúvidas no ataque, e o Broncos na defesa. Uma ocorrência comum na NFL e que pode se aplicar ao Broncos, também, é quando um ataque com alguns elos mais frágeis (secundária, no caso) são "protegidos" por uma força dominante (no caso, pass rush), o fim do segundo pode expor o primeiro de forma que ninguém esperava e que não estava nas contas da própria equipe, e se a falta de Miller, a lesão de Wolfe e a saída de Dumervil tiverem esse efeito de expor a secundária, é algo que a equipe pode ter que mudar todo seu plano de jogo para resolver. No meio da temporada ainda por cima, cheio de lesões, é um cenário preocupante. Ainda que a equipe deva continuar se montando forte no geral, é um ponto fraco desse time.

O lado bom é que Denver ainda deve ter um dos melhores, senão o melhor, ataque da liga desde que Manning fique saudável. Esse ataque deve ser ainda melhor do que em 2012 com a chegada de Welker e se tem uma coisa que sabemos é que na NFL é possível ir longe com uma defesa mediana ou fraca desde que seu ataque seja destruidor, e esse promete ser. As métricas comuns também ajudam o Broncos, pois o time terminou 13-3 com um Pythagorean de 12-4 e 0-2 em jogos decididos por uma posse de bola, e como falamos no primeiro post de todos, o único time da história da NFL a consistentemente superar sua Pythagorean Expectations por tempo suficiente foi o Colts de Manning, então nada indicaria uma regressão nesse sentido - o Broncos foi na verdade um time até bem azarado com fumbles, recuperando apenas 37.5% deles. Ainda teve um fator que ajudou bastante a equipe, já que o Broncos enfrentou o segundo mais fácil de toda a liga em 2012 (atrás apenas do Colts)... mas considerando que jogam na divisão mais fraca da NFL, eles ainda projetam para ter um calendário extremamente fácil (naturalmente que na prática sempre difere das projeções, mas enfim, é o que temos agora). A defesa deve piorar consideravelmente, especialmente nesses primeiros jogos, mas isso é uma preocupação maior para quando os playoffs chegarem do que quando a equipe estiver esmagando os Raiders em novembro. Você pode ser campeão com uma defesa fraca se Peyton Manning é o seu QB, e considerando que seu ataque estará ainda melhor, a defesa preocupa mas não é algo intransponível. É fácil então apostar em algo como 12 vitórias desse time novamente, e em uma AFC que parece fraca e sem grandes times, o Broncos emerge como o grande favorito. O que não garante nada até porque o time, como já foi dito, tem algumas falhas importantes na defesa... mas já é alguma coisa. 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Preview NFL 2013 - Carolina Panthers


Homens crescidos também brincam de pular cela


Para saber do que estamos falando aqui e dessas estatísticas, recomendo a leitura desse post antes
Se quiser opinioes e analises sobre o Draft, voces podem ler o Running Diary da primeira rodada ou o manual de como avaliar um Draft na NFL


Depois de terminar a série de previews da AFC East, os previews da NFC East, os previews da AFC North, os previews da NFC North, e agora os da AFC South, começamos a falar da NFC South pelo interessante Atlanta Falconspelo campeão de 2009 New Orleans Saints e pelo promissor Tampa Bay Bucs. Hoje é a vez do Carolina Panthers. Se você não tem ideia do que estou falando, recomendo que leia esse post introdutório. Btw, a falta de crases nesse texto é porque esse teclado não tem crase, então não reparem, ok?

Carolina Panthers

2012 Record: 7-9
Ataque ajustado: 10th
Defesa ajustada: 11th


Se não fosse pelo Saint Louis Rams, o Panthers provavelmente ganharia meu "Troféu de Melhor Time que Ninguém Presta Atenção". Eles foram um time muito bom em 2012 se olharmos os dados, tiveram indicadores de azar, possuem um núcleo razoavelmente jovem e promissor... mas mesmo assim foi um time que todo mundo descartou e ninguém prestou atenção na parte boa.

E isso acontece por uma variedade de motivos, o mais importante sendo provavelmente que o Panthers só se encontrou e explodiu no final da temporada, ganhando cinco dos seus últimos seis jogos depois de começar 2-8. Outro foi porque a tabela da equipe foi uma montanha russa, alternando momentos bem difíceis com adversários bem fracos, tornando difícil separar as coisas. Outro foi porque, por algum motivo, Cam Newton virou o novo QB que todos adoram reclamar e desconstruir (na verdade, tem alguns motivos, mas chegaremos nisso) e então isso acabou dominando as manchetes sempre que alguem falava do Panthers. Mas não se enganem, o Panthers foi um bom time que está caminhando para voltar aos playoffs... só provavelmente não esse ano.

Para começar, precisamos falar pelo Cam Newton, o principal e mais polarizador jogador dessa equipe, e para isso precisamos voltar um pouco no tempo. No caso, voltamos para 2010. Newton estava terminando uma sensacional temporada em Auburn, ganhando o Heisman Trophy e liderando Auburn a um título do BCS com a melhor campanha (invicta) do país. Foi uma das melhores temporadas dos últimos anos no nível universitário, mas mesmo tendo sido o melhor jogador do país, no draft do ano seguinte Newton não era uma unanimidade. Eu já falei um pouco sobre esse draft quando falei do Titans, mas para aprofundar mais na questão de Cam, ainda tinham dúvidas se ele sequer era o melhor QB da classe (alguns defendiam, sim, Blaine Gabbert como sendo o melhor). Seu talento era inegável e seu potencial era fora de série, mas as questões sobre sua atitude e dedicação colocavam algumas dúvidas sobre como ele iria evoluir e render em uma liga onde, ao contrário da NCAA, ele não poderia dominar somente com seu talento natural. Lembrava um pouco as questões da época que o Michael Vick entrou na liga: grande talento, fenomenal potencial, o que tiver a chance de pegá-lo não pode deixar passar... mas ninguém tinha muita certeza se queria ele no seu time, também. Na época, o Chargers trocou a 1st pick para o Falcons (que pegou Vick) por outra 1st round pick (LaDainian Tomlinson) e uma escolha futura de segunda rodada (e depois usaram a sua própria 2nd rounder para pegar Drew Brees), e a gente sabe o que aconteceu com Vick, Brees e LT. Newton proporcionava uma questão semelhante, chegando perto do draft todos o viam como a 1st pick, mas todos tinham aquele olhar de "sorte que não sou eu que tenho que tomar essa decisão".

O Panthers acabou ficando com Newton, e no primeiro ano foi um sucesso. Newton foi muito bem, quebrou uma meia dúzia de records e conseguiu nota máxima no quesito "você nunca muda de canal quando esse cara está jogando" apesar do time fraco. Ele era explosivo, conseguia fazer boas jogadas com seu braço de canhão e era fenomenal correndo com a bola, e logo todo mundo subiu na Cam Bandwagon esperando para ver o que esse cara iria aprontar no seu segundo ano. Ao final da temporada, Cam ganhou Rookie of the Year e parecia uma garantia para estourar no segundo ano... o que não aconteceu. As defesas adversárias entraram para 2012 mais preparadas para enfrentá-lo, Newton não conseguiu se adaptar, e o Panthers começou muito mal a temporada. E como sempre acontece nesses casos, as pessoas pararam de olhar para o lado bom de Newton e começaram a olhar para o lado ruim (apesar de uma tabela brutal para começar o ano): sua falta de liderança (alguns companheiros de time até reclamaram disso na imprensa), o fato de sua falta de evolução ano a ano ser atribuído a uma falta de dedicação nos treinos e nos estudos, sua ineficiência dentro da red zone, o fato de que com cada derrota ele parecia mais irritado e mais inconsistente, etc. As frustrações acabaram levando a melhor de Newton, que pareceu sentir o golpe, reclamou dos companheiros e da mídia, pareceu uma criança mimada e recebeu ainda mais críticas por isso, dentro e fora do time. Quando o ângulo "Cam Newton é uma criança mimada que não tem como funcionar na NFL" já estava batido até dizer chega, o calendário do Panthers passou da fase "corredor polonês" para "AFC West", a equipe ganhou um ou dois jogos, o time parou de reclamar e focou em jogar bola, Newton explodiu e o Panthers varreu todo mundo que passou na sua frente... claro, quando ninguém mais prestava atenção na equipe.

Minha teoria sobre Cam Newton: ele nunca perdeu na vida. Nunca. Nunca perdeu na High School, e não perdeu um jogo sequer em Auburn (seu único ano como titular no College) antes de conquistar o título e o Heisman. Tudo sempre veio fácil para ele, com seu físico e seu talento natural, e ele simplesmente não sabe perder, e lidar com a derrota. Jogadores profissionais aprendem com os erros na derrota e aprendem a deixar isso para trás e focar no próximo jogo, mas como ensinar a um QB de 23 anos que nunca perdeu um jogo na vida a lidar com isso de uma hora para outra, explicar para ele que agora ele vai ter que perder por alguns anos antes de competir com os grandes, e que seu enorme talento aqui é só mais um no meio de vários? É sequer possível fazer isso? Não sei, temos exemplos históricos de jogadores assim que funcionaram e que não, e no final depende de Cam. O que eu sei é o seguinte: Newton tem apenas 24 anos e toneladas de talento. Ele já é um QB acima da média da NFL (15th em produção ajustada, 16th em QBR para 2012) e tem as ferramentas para ser ainda mais especial, com um incrível 7.8 jardas por passe (embora complete menos de 60% deles) e como um dos melhores corredores da liga entre QBs. Ele tem tudo pra evoluir em um Top10 QB daqui a poucos anos quando Manning, Brady e os vovôs estiverem aposentando. Claro, Newton ainda tem muito para se tornar um QB de elite, desde os intangíveis até coisas muito mais práticas como melhor tomada de decisões na red zone, aproveitar melhor os passes e capacidade de ler a defesa adversária antes do snap, mas se você está descartando um QB com tudo isso de positivo depois de apenas duas temporadas como profissional, você provavelmente nasceu de sete meses ou algo assim.

E não é como se Newton tivesse um ataque muito bem montado e complexo ao seu redor como, digamos, Colin Kaepernick (embora sim, eu prefira ter Kaepernick do que Newton a esse ponto). Ele é praticamente todo o ataque, liderando o time a um 8th melhor ataque terrestre apesar de seu melhor RB (DeAngelo Williams) não estar entre os 25 melhores da temporada pelas estatísticas do Football Outsiders (ou se quiser ser mais prático, Williams não passou de 750 jardas - Newton teve 7 jardas a mais, na verdade) e jogando sem nenhum outro WR confiável além de Steve Smith (seu aproveitamento nos passes realmente poderia usar um WR de meia distância). Sua linha ofensiva não é das melhores, e mesmo assim o ataque conseguiu terminar entre os 10 melhores da temporada. Isso é impressionante. Também vale destacar que um pouco dessa enorme variação - começar o ano muito mal e terminar muito bem - aconteceu por causa do calendário que passou de "brutal" para "moleza" mais ou menos lá pela rodada 9 ou 10, e o Panthers não está entre os times com maior variação (ajustada) de performance ao longo do ano. Mas ainda existe uma melhora gradual ao longo do ano, de forma que o Panthers - que terminou o ano 13th em eficiência ajustada - terminaria a temporada em 9th usando a estatística ponderada (ou seja, atribuindo maior peso as rodadas tardias da temporada).

Um dos meus problemas com esse ataque, na verdade, é como ele é construído. Eles pagaram um dinheiro enorme para DOIS RBs que deveriam ser o foco da equipe (Williams e Jonathan Stewart) sendo que os dois JUNTOS mal combinaram para 1000 jardas e são secundários nesse ataque. Times como 49ers, Redskins e Patriots já não mostraram que a melhor forma de conseguir um grupo profundo de RBs hoje em dia é apostar nas rodadas tardias do draft e seus salários menores ao invés de pagar um absurdo para alguém como Stewart não chegar nas 400 jardas? E isso sem falar no fato de que as peças colocadas ao redor de Newton (tirando a boa contratação de Greg Olsen) não são exatamente as mais inteligentes. Adicionar jogadores de velocidade como Ted Ginn significa que o Panthers quer dar mais opções para Newton explorar seu fortíssimo braço, eu entendo, mas ele já não mostrou que consegue fazer isso com os jogadores em mãos? Porque não ir atrás de um bom slot ou possession receiver para dar a ele o que ele NÃO tem e ver se isso contribui para seu desenvolvimento ou mesmo se ele é capaz de jogar dessa maneira? Eu entendo a idéia de montar um ataque em torno das forças de um certo QB (você não vai encher o ataque de jogadores de velocidade como DeSean Jackson para Alex Smith, por exemplo), mas com um jogador indo para seu terceiro ano é um absurdo assumir que você já sabe quais são exatamente suas forças e fraquezas jogando em um ataque tão incompleto. Isso é algo que me incomoda e que, pelo menos por enquanto, vai limitando o potencial desse time de verdade, tornando-o muito mais simples de defender. E Newton também.

Mas onde o Panthers realmente não recebe a atenção merecida é na defesa. Eu realmente questiono se o salto de pior da NFL para 11th melhor em uma temporada é sustentável (provavelmente não, especialmente considerando que foram o quarto time mais sortudo recuperando fumbles), mas o fato é que essa é uma unidade que está se montando muito bem. Em 2012, o grupo evoluiu muito com a chegada do espetacular calouro Luke Kuechly, uma força no meio dessa defesa tanto contra o jogo terrestre (103 tackles solos) como contra o passe (duas interceptações, oito passes desviados). Kuechly surgiu na liga como o melhor jovem MLB e um verdadeiro monstro, e juntando isso a mais uma boa temporada de Charles Johnson (12.5 sacks), essa defesa finalmente achou algo para se montar em torno, e o resultado foi positivo. Os role players foram sólidos, o meio da defesa foi uma fortaleza, e basicamente tudo encaixou no seu lugar durante esses 16 jogos.

Se você quer descartar o nível (11th overall) como sendo uma aberração, tudo bem, tem muitas coisas que nos levam a essa conclusão. Mas uma coisa não pode ser descartada, que é a evolução que esse grupo teve, especialmente com a chegada do que parece ser uma estrela em Kuechly. E em 2013, considerando que a equipe trouxe um dos meus LBs favoritos em Chase Blackburn e draftou o que muitos consideravam o melhor defensor dessa classe (Star Lotulelei), a evolução dessa defesa provavelmente vai continuar em 2013. A linha de frente, pelo menos, promete ser espetacular com duas forças dominantes na linha (Lotulelei e Johnson) e o que pode ser um dos melhores grupos de LBs (numa defesa 4-3) dos últimos anos se Jon Beason ficar saudável (o que ele não vai, mas enfim, ainda é um grupo muito bom). Pelo menos no papel esse é um grupo assustador para os ataques terrestres, especialmente considerando que o Panthers já teve uma defesa terrestre muito boa em 2012 (11th) sem Lotulelei e Blackburn. Mesmo com a regressão esperada, esse grupo ainda tem tudo para ser muito bom e evoluir rumo a um dos melhores grupos da liga.

A secundária preocupa mais, especialmente considerando que dos quatro titulares de 2012 um era um calouro, um era um veterano da equipe que sempre foi um jogador mediano, e os outros dois eram castoffs com pouca ou nenhuma experiência como titulares em tempo integral... e de repente esse grupo começou a jogar muito bem. Não que seja impossível que os jogadores simplesmente tenham evoluído ou aproveitado bem sua primeira chance a jogar todo dia, mas eu sempre fico um pouco em dúvida quando um grupo de jogadores assim de repente começa a render depois de anos de mediocridade. A equipe não fez nenhum movimento para reforçar a secundária além de trazer DJ Moore - um decente nickel - possivelmente porque confiam nesse grupo para manter o bom nível, mas ainda é uma aposta interessante. A chegada de Lotulelei provavelmente significará mais pressão no QB, o que ajuda qualquer secundária, mas as dúvidas vão acompanhar esse grupo, e eles limitam consideravelmente o potencial dessa defesa. Vão precisar de mais do que isso para provar que não foi um ano fora da curva, especialmente com a pedreira que vão enfrentar pela frente.

Mas além de toda essa evolução esperada, o caso para colocar o Panthers em 8-8 ou acima vem também do seu record em jogos decididos por uma posse de bola. O Pythagoran Expectations do time foi um pouco abaixo de 8-8, então isso já poderia indicar alguma evolução pequena, mas o fato é que a equipe terminou o ano um incrível 0-7 em jogos decididos por uma posse de bola, o que da alguma margem para confusão. Se tivessem ido 3-4 nesses jogos, terminariam o ano 10-6 com uma Pythagorean Expectation de quase 8-8, o que indicaria regressão. Agora, estão próximos da sua PE com um record que indica regressão positiva. No que acreditar? Vale citar também que, embora não se enquadrem normalmente na estatística, o Panthers terminou o ano com três vitórias por exatos oito pontos. É realmente difícil indicar qual vai ser o sentido disso, embora a Pythagorean seja em geral mais precisa medindo o verdadeiro nível de um time. 

Eu não consigo colocar o Panthers acima de 8-8 ainda por alguns simples motivos. Apesar dessa possível evolução do último parágrafo, a equipe ainda vai regredir nos fumbles (62.5% recuperados em 2012, quarta melhor marca da liga, e em geral foram fumbles na red zone do seu ataque que fizeram muita diferença) e essa defesa provavelmente vai sentir a queda da secundária, ainda que esteja melhor na linha de frente. Mas o motivos mais importante é esse: em 2012 a equipe, apesar de sua evolução ao longo do ano, sofreu bastante contra os adversários mais fortes e aproveitou os mais fracos. Foram apenas duas vitórias contra times 8-8 ou acima (Falcons, at Washington) e seis derrotas. Isso é relevante porque em 2012 o Panthers teve um calendário acima da média, mas em 2013, ele projeta ter o PIOR calendário de toda a liga. Claro que isso é baseado nos dados de 2012 e muda de um ano a outro, mas é um calendário que inclui quatro jogos contra a absurda NFC West, seis dentro dessa divisão que promete ser insanamente competitiva, e mais três jogos contra Vikings, Giants e Patriots. Então mesmo por senso comum, é uma tabela que promete ser dificílima, e por isso acho que mais um ano evoluindo e ficando nesse 7-9/8-8 vai ser mais realista, especialmente se Newton não continuar sua evolução. Mas fica o aviso para prestar mais atenção nesse time jovem e cheio de potencial para o futuro que é melhor do que muita gente imagina nesse momento.