Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Preview NFL 2013 - Denver Broncos

"E ai o passe caiu, e a mulher dele botou a culpa em mim..."


Para saber do que estamos falando aqui e dessas estatísticas, recomendo a leitura desse post antes
Se quiser opinioes e analises sobre o Draft, voces podem ler o Running Diary da primeira rodada ou o manual de como avaliar um Draft na NFL


Depois de terminar a série de previews da AFC East, os previews da NFC East, os previews da AFC North, os previews da NFC North, os da AFC South e agora também os da NFC South, e agora entramos na reta final dessa série com os previews da AFC West, começando pelo forte Denver Broncos. Se você não tem ideia do que estou falando, recomendo que leia esse post introdutório. Btw, a falta de crases nesse texto é porque esse teclado não tem crase, então não reparem, ok?

Denver Broncos

2012 Record: 13-3
Ataque ajustado: 2nd
Defesa ajustada: 5th


Uma coisa que me ficou bem clara pesquisando para fazer essa série de previews - e já foram 24 tirando esse - é que existe um grande desequilíbrio de forças na NFL atualmente: a NFC é muito, mas muito mais forte do que a AFC. Não só porque eu espero que seja assim em 2013, mas também porque foi assim em 2012: dos 12 piores times em eficiência ajustada (per Football Outsiders), incríveis 10 jogavam na AFC e apenas dois (Eagles e Cardinals) jogavam na NFC. Da mesma forma, entre os 16 melhores times da liga, apenas cinco eram da AFC, e apenas três apareciam no Top10: o campeão Ravens (8th), o eterno Patriots (3rd), e a "novidade" Broncos (2nd).

O Broncos na verdade foi um daqueles bons casos que queimam nossa língua. Ao longo da última offseason, eu critiquei a diretoria por dar um contrato tão grande (tanto em duração como valor) para um QB de 36 anos vindo de um ano parado e cinco cirurgias e tratamento com células tronco no pescoço e que já tinha apresentado sinais de decadência em sua última temporada como profissional. Meu problema era menos com a contratação (o contrato oferecia algumas proteções e Peyton Manning obviamente é um QB de elite quando joga) e mais pelo fato do Broncos ter buscado remontar boa parte da sua equipe e playbook em torno das características de Manning, o tipo de jogada de alto risco e alta recompensa que renderia um bom ano caso seu QB ficasse 100% durante a temporada inteira e que praticamente destruiria sua temporada no caso de uma lesão... e de novo, ele estava vindo de uma offseason com cinco cirurgias no pescoço aos 36 anos. 

No final, o Broncos assumiu o risco e o resultado foi o melhor possível: Manning voltou sem sentir a ausência, jogou num nível quase obsceno, foi eleito o MVP entre jogadores que não foram criados em laboratório por cientistas durante o governo Reagan (ou seja, ficou em segundo depois do Adrian Peterson), e o time de Denver foi praticamente um furacão que atropelou todo mundo: foi o primeiro na AFC em eficiência, com o segundo melhor ataque (atrás do Pats) e a segunda melhor defesa (atrás de Houston) da conferência, terminando com o melhor record e fechando a temporada com incríveis 11 vitórias consecutivas. Então sim, esse foi um que eu errei feio, Manning ficou saudável e me fez comer as palavras, e eu não poderia ter gostado mais: poucos QBs são tão legais de se ver jogar como ele, e a liga é melhor quando Peyton Manning está em campo. É bom ter o número 18 de volta.

(Manning também é capitão do meu All-Time "Não parece, mas ele é um cara extremamente bem humorado" na frente de Tim Duncan. Clique aqui e aqui se não acredita. Ele é simplesmente awesome.)

E a transformação de Denver em uma potência ofensiva sob a batuta de um Manning saudável não foi exatamente uma surpresa. Desde 2006 (ano do seu título com o Colts), os times de Peyton terminaram 1st, 2nd, 5th, 6th e 6th, terminando no Top5 pelo ar cinco anos seguidos. Com Tim Tebow no comando, o Broncos era uma força que buscava correr com a bola, minimizar os erros e passar o mínimo possível, mas para 2012 esse ataque se reinventou como um grupo que jogava em alta velocidade, era extremamente explosivo pelo ar e simplesmente parou de ser um grupo que buscava ser sólido o suficiente para ser um grupo que engolia e dominava seus adversários. O ataque terrestre, força que carregou nas costas o time um ano antes, caiu para um abaixo da média 15th e o ataque aéreo explodiu para o segundo melhor da NFL. Manning liderou a liga em QBR (84.1), Demaryius Thomas e Eric Decker explodiram para mais de 1000 jardas cada e esse ataque foi basicamente um furacão varrendo todo mundo no caminho.

O que é interessante notar é que não foi fácil assim desde o começo. Durante os primeiros cinco jogos (duas vitórias e três derrotas), o time teve algumas dificuldades, em particular Manning. Talvez por ainda estar sacudindo a ferrugem depois de tanto tempo sem jogar, talvez por ainda estar sentindo algum efeito da lesão, talvez por estar se adaptando a um novo playbook e novos companheiros, ou mesmo (e essa é a minha opinião) porque estava tentando fazer as mesmas coisas que fazia dois anos antes mas seu corpo não estava acompanhando, seu braço não tinha a mesma força nas bolas longas, ele não conseguia acompanhar lateralmente o jogo na mesma velocidade com seu pescoço e tudo mais. Provavelmente um pouco disso tudo junto. Mas é por isso que Peyton Manning é um dos melhores QBs de todos os tempos: ele se adapta a qualquer time, situação ou afins. Em parte seu corpo foi recuperando os hábitos da NFL, mas na maior parte Manning percebeu o que ele ainda podia e o que não podia mais fazer, e mudou seu estilo de jogo: menos bombas, mais passes em velocidade pelo meio, mais checkdowns quando a pressão chegava. Enquanto o corpo envelhece e os jogadores perdem seu físico e seus reflexos, tem algo que não se perde, que é seu cérebro - e Manning é o QB mais inteligente talvez de todos os tempos. Ele usou isso para maximizar cada oportunidade e situação conforme seu corpo, braço e pescoço pós-cirurgias lhe permitiam, e ele praticamente transformou seu jogo sutilmente para voltar a ser aquele jogador espetacular de antes apesar de todas as limitações. Mais do que a sequência de 11 vitórias ou o record de 13-3, para mim esse foi o feito mais impressionante da temporada 2012 do Denver Broncos.

Mas se essa transformação ofensiva da equipe não foi exatamente uma surpresa, a da defesa foi. O grupo foi relativamente bem em 2012, 18th overall (o ataque foi 23rd, por isso o "relativamente") e contava com alguns jogadores muito promissores como Elvis Dumervil e Von Miller. Mas eu realmente não esperava que pulasse para quinta melhor da liga em apenas uma temporada. Em parte isso aconteceu por alguns fatores externos (já chegaremos nele, mas não tem nada a ver com fumbles dessa vez) e em parte porque Von Miller evoluiu em um dos melhores jogadores da NFL e foi uma força do começo ao fim, Dumervil teve outra temporada de Dumervil, e o resto encaixou no lugar com alguns jovens jogadores surgindo e alguns veteranos mantendo o nível. Derek Wolfe, calouro, foi importantíssimo na linha defensiva, o veteraníssimo Keith Brooking tapou muito bem o buraco no meio da defesa jogando de MLB, e Champ Bailey continuou sendo eficiente como sempre apesar da idade. Foi uma daquelas temporadas onde tudo se encaixa no lugar certo, tudo funciona as mil maravilhas, tudo caminha na direção certa e o resultado é excelente.

E se as coisas pararem de se encaixar? Essa é a questão que o Broncos enfrenta para 2013. Ofensivamente, eu não vejo motivos para preocupação, pelo menos enquanto Manning continuar saudável (e por enquanto eu lhe darei o benefício da dúvida): a base do ano passado, e a equipe ainda adicionou um dos melhores WRs da liga em Wes Welker. Ainda que seja possível imaginar que Welker não vá continuar tão produtivo como em New England, onde jogava em um esquema tático baseado amplamente nos seus talentos e no seu entrosamento de outro mundo com Tom Brady nas option routes, mas não vejo porque a adição de um jogador tão talentoso iria deixar de reforçar esse ataque, especialmente com outro Hall of Famer no comando. Welker deve assumir as funções de slot e permitir a Eric Decker jogar de forma mais variada nesse ataque, e na pior das hipóteses vira um ataque mais variado e mais difícil de ser marcado. Na melhor, Denver chega a três receivers com mais de 1000 jardas pela primeira vez desde 2008 (Cardinals) e esse ataque sobe mais um nível. Mas o potencial desse ataque é maior do que o do ano passado, e isso quer dizer muita coisa considerando quão bom ele foi em 2012.

A defesa é o problema para a sequência. Como eu disse, 2012 foi o ano que tudo se encaixou perfeitamente: seus dois melhores jogadores foram a base para essa defesa (Miller e Dumervil), alguns jogadores jovens (Rahim Moore, Derek Wolfe) apareceram para complementar algumas deficiências, e veteranos como Keith Brooking e Champ Bailey jogaram em altíssimo nível para fechar o grupo. Foi um elenco bem completo e que tinha bons jogadores em todas as posições, com alguns jogadores fora de série causando maior estrago e forçando ajustes e os demais se aproveitando disso. Mas teve mais uma coisa que foi a favor do Broncos, como nota o grande Bill Barnwell: essa defesa ficou incrivelmente saudável em 2012, acima do "normal" considerando a enorme variação e imprevisibilidade de lesões ano a ano. Na verdade, per Football Outsiders, nenhuma defesa foi mais "sortuda" em 2012 em termos de lesões, com os 11 titulares da defesa perdendo apenas 11 jogos no total. Saúde é uma variável infelizmente muito volúvel de ano a ano, e podiamos esperar que as coisas não seriam tão boas assim em 2013 para o Broncos.

Na verdade, o primeiro e talvez mais significativo caso de perda nessa defesa não teve nada a ver com lesões, que foi a saída de Elvis Dumervil. Depois de 11 sacks em 2012, a diretoria de Denver quis renegociar e diminuir seu contrato por considerar os valores muito altos e que estariam dificultando a negociação de novos reforços. Dumervil não gostou da situação e isso se arrastou até o dia final para as negociações, onde Denver poderia cortar o jogador caso a renegociação não acontecesse. De última hora, o DE decidiu que aceitava, e então seu agente tinha que mandar um fax para o Broncos e para a NFL confirmando a renegociação... só que a besta quadrada não conseguiu usar direito um fax e acabou não enviando a tempo o fax, e então o Broncos optou por cortar Dumervil e seu salário. Questões salariais a parte, o impacto disso é enorme dentro de campo: Dumervil foi crucial para atrair marcações duplas e evitar que toda hora a defesa dobrasse a marcação em Von Miller, sem falar na pressão colocada nos QBs adversários, e substituí-lo simplesmente não vai ser possível. Denver apostou em Shaun Phillips, do rival Chargers, um bom pass rusher mas que passou toda sua carreira jogando de OLB em um esquema 3-4, e que agora - aos 32 anos - vai ter que fazer a conversão para um DE. Phillips é bom, mas não é uma conversão fácil agora que sua habilidade atlética está decaindo, e não consigo ver como ele vá suprir a ausência de Dumervil. Perder seu segundo melhor jogador é um grave golpe para qualquer defesa.

Eles também perderam outras peças relativamente importantes, em especial entre seu grupo de linebackers: Brooking saiu da equipe e deve se aposentar e Joe Mays levou seu salário e problemas extra-campo para Houston, deixando a equipe sem nenhum MLB. A equipe também perdeu Tracy Porter, que teve um papel importante como nickel corner em 2012 e que foi para Oakland (embora tenha trazido Dominique Rodgers-Cromartie para seu lugar, então não é exatamente um grande problema). Algumas peças importantes estão de saída, e isso é problemático.

Mas como esperado, as lesões voltaram para assombrar a equipe, e com tudo. Stewart Bradley, o MLB mais provável para ganhar a vaga na posição mais carente da equipe (depois das saídas de Mays e Brooking), quebrou o pulso e vai perder diversas semanas da temporada regular, deixando a posição ainda mais fraca. Depois foi a vez do veterano Bailey e do menino Wolfe de sofrerem suas lesões, com Bailey machucando seu tornozelo e Wolfe sofrendo uma lesão assustadora na coluna. A lesão de Wolfe pareceu não ter sido tão ruim como poderia, mas ainda foi uma lesão gravíssima e assustadora que vai mantê-lo parado por tempo indeterminado, e Bailey deve perder várias semanas. É difícil frisar o impacto disso no time, mas só digo que é bem grande: Wolfe fez um ótimo trabalho como DE oposto a Dumervil na sua temporada de calouro, e a expectativa era de um salto ainda maior para essa temporada -  especialmente considerando que com a saída de Dumervil, o time precisava ainda mais que Wolfe se estabelecesse como um bom pass rusher para tirar a pressão de Phillips e sua conversão para o esquema 4-3 e atraísse as dobras de marcação para livrar Miller. É uma perda extremamente significativa e o pass rush da equipe vai sofrer como consequência, o que é ainda pior quando consideramos que o melhor jogador dessa secundária - que foi um pouco exposta nos playoffs - está fora por algum tempo. Rodgers-Cromartie também está lidando com sua própria lesão no pé, e então essa secundária - que já era um pouco delicada e que dependia muito do pass rush - pode ser um elo vulnerável no começo da temporada.

E claro, temos o problema de Von Miller, seis jogos suspenso por uso de substâncias proibidas. É importante não confundir com as suspensões de metade do time do Seahawks por PEDs, já que o caso de Miller parece ser maconha e não Aderall. Miller já havia sido pego como calouro por uso de maconha e metanfetaminas, então essa foi sua segunda violação (em tempo: a suspensão inicial de Miller era de quatro jogos, ele decidiu apelar, e foi suspenso seis. Quem são os advogados desse cara?! Winston Payne está envolvido?). Isso significa que não só Miller vai perder esses seis jogos (Ravens, Giants, Raiders, Eagles, Dallas e Jaguars), como uma eventual próxima suspensão será de uma temporada inteira, então é bom Miller se cuidar. Com essa segunda suspensão ele também entra em definitivo (não pode mais sair) dos acompanhados pelo programa de drogas da NFL, então a supervisão vai ser muito mais apertada. Perigoso isso. E claro, não preciso falar exatamente do quanto essa perda é significante, Miller foi provavelmente o melhor e mais importante jogador defensivo de 2012 não chamado "Watt", e ele é fundamental para praticamente tudo que a equipe faz em campo: cobertura em terceiras descidas, jogo terrestre e principalmente colocar pressão no QB, pode escolher, ele está lá causando estragos. Se você está contando, o Denver deve começar a temporada sem seus CINCO melhores jogadores de 2012 (Brooking e Dumervil saíram, Wolfe, Bailey machucados e Miller suspenso), o que indica problemas. E mesmo quando Miller voltar, Dumervil não vai, e ninguém sabe exatamente quando Wolfe e Bailey estarão de volta. Para uma defesa que tudo caiu no lugar ano passado para ficar em quinto, esse ano pode ser a que tudo da errado e ela despenca... e tenho certeza que nenhum torcedor do Broncos esqueceu o que aconteceu nos playoffs (ainda que não de para concluir nada de um jogo só).

E é nesse pé que as coisas estão. Em uma AFC muito fraca, as duas potências (Patriots e Broncos) enfrentam algumas questões importantes quanto ao nível em que jogaram um ano atrás. A diferença é que o Patriots enfrenta essas dúvidas no ataque, e o Broncos na defesa. Uma ocorrência comum na NFL e que pode se aplicar ao Broncos, também, é quando um ataque com alguns elos mais frágeis (secundária, no caso) são "protegidos" por uma força dominante (no caso, pass rush), o fim do segundo pode expor o primeiro de forma que ninguém esperava e que não estava nas contas da própria equipe, e se a falta de Miller, a lesão de Wolfe e a saída de Dumervil tiverem esse efeito de expor a secundária, é algo que a equipe pode ter que mudar todo seu plano de jogo para resolver. No meio da temporada ainda por cima, cheio de lesões, é um cenário preocupante. Ainda que a equipe deva continuar se montando forte no geral, é um ponto fraco desse time.

O lado bom é que Denver ainda deve ter um dos melhores, senão o melhor, ataque da liga desde que Manning fique saudável. Esse ataque deve ser ainda melhor do que em 2012 com a chegada de Welker e se tem uma coisa que sabemos é que na NFL é possível ir longe com uma defesa mediana ou fraca desde que seu ataque seja destruidor, e esse promete ser. As métricas comuns também ajudam o Broncos, pois o time terminou 13-3 com um Pythagorean de 12-4 e 0-2 em jogos decididos por uma posse de bola, e como falamos no primeiro post de todos, o único time da história da NFL a consistentemente superar sua Pythagorean Expectations por tempo suficiente foi o Colts de Manning, então nada indicaria uma regressão nesse sentido - o Broncos foi na verdade um time até bem azarado com fumbles, recuperando apenas 37.5% deles. Ainda teve um fator que ajudou bastante a equipe, já que o Broncos enfrentou o segundo mais fácil de toda a liga em 2012 (atrás apenas do Colts)... mas considerando que jogam na divisão mais fraca da NFL, eles ainda projetam para ter um calendário extremamente fácil (naturalmente que na prática sempre difere das projeções, mas enfim, é o que temos agora). A defesa deve piorar consideravelmente, especialmente nesses primeiros jogos, mas isso é uma preocupação maior para quando os playoffs chegarem do que quando a equipe estiver esmagando os Raiders em novembro. Você pode ser campeão com uma defesa fraca se Peyton Manning é o seu QB, e considerando que seu ataque estará ainda melhor, a defesa preocupa mas não é algo intransponível. É fácil então apostar em algo como 12 vitórias desse time novamente, e em uma AFC que parece fraca e sem grandes times, o Broncos emerge como o grande favorito. O que não garante nada até porque o time, como já foi dito, tem algumas falhas importantes na defesa... mas já é alguma coisa. 

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