Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Preview NFL 2013 - Indianapolis Colts

Só assim pra defesa do Colts conseguir derrubar alguém



Para saber do que estamos falando aqui e dessas estatísticas, recomendo a leitura desse post antes
Se quiser opinioes e analises sobre o Draft, voces podem ler o Running Diary da primeira rodada ou o manual de como avaliar um Draft na NFL


Depois de terminar a série de previews da AFC East, os previews da NFC East, os previews da AFC North e os previews da NFC North, começamos a falar da AFC South pelo seu atual campeão, Houston Texans. Hoje então é a vez do queridinho de 2012, Indianapolis Colts. Se você não tem ideia do que estou falando, recomendo que leia esse post introdutório. Btw, a falta de crases nesse texto é porque esse teclado não tem crase, então não reparem, ok?

Indianapolis Colts

2012 Record: 11-5
Ataque ajustado: 18th
Defesa ajustada: 31st


O Indianapolis Colts foi um dos times mais carismáticos e atraentes da temporada 2012 da NFL. Um time que simplesmente chamava a atenção e te fazia torcer a favor deles. Eles eram um time ruim, vindo de uma horrível temporada 2-14 com um técnico novo e um QB calouro muito talentoso que parecia ser um time para alguns anos. Daí o seu técnico Chuck Pagano é diagnosticado com câncer e é obrigado a se ausentar da temporada para se tratar, o time se reune em torno disso e começa a ganhar jogo atrás de jogo começando com uma virada espetacular para cima do Packers e eventualmente chegando aos playoffs. Na falta de uma palavra melhor, o  Colts foi o time que se destacava e que fazia você se sentir bem quando os via vencer. Em parte por causa da Chuckstrong, em parte porque Andrew Luck era quase um herói trágico carregando um time horrível nas costas e em parte porque sempre é divertido torcer para uma zebra, Indianapolis virou o time sensação de 2012. E com um time jovem e que contratou forte na última offseason, a expectativa era o que a equipe melhorasse ainda mais, certo?

Acreditem, eu adorei acompanhar o Colts essa temporada. Assisti mais jogos deles do que provavelmente qualquer outro que não fosse meu 49ers, torci por Luck e Pagano e realmente os achava um dos times mais "likeable" da NFL. É por isso que vai ser tão difícil dizer o que eu preciso para os propósitos dessa coluna. Vou até colocar em itálico para tornar menos difícil...

O Colts foi o time mais sortudo e overachiever de toda a NFL.

É triste, mas é a verdade. Lembra quando falamos do Detroit Lions e eu disse que basicamente tudo no universo conspirou contra eles esse ano, foi uma típica temporada onde tudo deu errado, e essa era a maior esperança da equipe de dar a volta por cima em 2013? Para o Colts foi exatamente o oposto. Embora não seja no sentido de "escolha qualquer métrica ou estatística imaginável e ela esteve contra a equipe" (algumas métricas até indicam uma evolução para a equipe), o fato é que nenhum time teve uma diferença tão grande entre seu verdadeiro nível de jogo e seu record como Indianapolis, o que naturalmente indica uma regressão imensa vindo nessa direção. Se a temporada do Lions deu tudo errado, na do Colts tudo deu certo, quase como uma moeda que cai coroa toda hora. Não vai continuar caindo, e por isso o Colts vai sentir os efeitos da regressão.

Se você é do tipo que perde horas na Football Reference analisando diferentes times, provavelmente chamou sua atenção que, apesar de seu excelente record, o Colts teve um saldo de pontos negativo. Pesquisando um pouco, você vai perceber que o Colts foi o único time 11-5 (ou melhor) na história da NFL a ter um saldo negativo, o que naturalmente é algo muito preocupante quando a principal métrica que temos usado nos últimos 18 posts para avaliar times é a Pythagorean Expectations - uma medida que usa o saldo de pontos como base. E de fato, esse foi o grande problema da equipe: seu PE foi de apenas SETE vitórias, quatro a menos do que seu record. Basicamente, então, o Colts foi um time 7-9 de fato que terminou 11-5. Mas espera, fica pior: de acordo com a pesquisa do grande Bill Barnwell, o Colts é apenas o segundo time desde o último lockout a terminar quatro vitórias acima da sua Pythagorean Expectation (o outro? 92' Colts, caiu de 9-7 para 4-12), mas seis outros times superaram sua PE por três ou mais vitórias em uma temporada. Esses times combinaram para cair em média 4 vitórias por temporada no ano seguinte, e embora a amostra seja pequena, o fato dela ser exatamente o que esperamos na teoria é bastante significativo. E o Colts teve uma diferença de uma vitória a mais.

Essa grande diferença aconteceu em parte por conta do seu absurdo record de 9-1 em jogos decididos por uma posse de bola. Como sempre, essa estatística não é sustentável e sempre tende a 50% de aproveitamento, e também como é comum, se tivessem sido "normais" nisso teriam acabado 5-5 e terminado a temporada 7-9 no total.  Essa estatística pode sofrer uma pequena influência para o futuro que é a seguinte: historicamente, esse 50% esperado pode ser distorcido caso um time tenha um QB capaz de controlar a bola, evitar erros, maximizar seu tempo no relógio e garantir mais posses de bola. Na atualidade, três e apenas três QBs possuem um record em jogos assim que são estatísticamente significantes (ou seja, com uma amostra suficientemente grande) para superar os 50-50 esperados (podem se divertir adivinhando quais são os três, a resposta vem semana que vem). A amostra de Luck são apenas 10 jogos e, desnecessário dizer, inútil a esse ponto para qualquer significado estatístico, mas ele é um grande talento que pode vir a mostrar que realmente tem uma influência nesses jogos de uma posse de bola. Mas realmente não da para afirmar nada a esse ponto e são pouquíssimos os QBs (mesmos os grandes) que conseguem influenciar esse tipo de coisa, então ainda tem muito chão para darmos o benefício da dúvida ao Colts.

O terceiro motivo é que o Colts fez tudo isso contando com o calendário mais fácil da NFL, de longe. Vale destacar também que o Colts foi 3-3 contra times acima de 8-8, mas ganhando os dois jogos decididos por uma posse de bola e tendo um saldo nesses jogos de -49 (!!!) nesses seis jogos, indo 8-2 contra o resto dos times abaixo de 8-8 com um saldo de +19 (sem contar a derrota por 15 pontos nos playoffs para o Ravens). Então é fato que o Colts se aproveitou muito do seu calendário facílimo, tendo muita dificuldade contra os bons times. Juntando todas essas coisas, Football Outsiders coloca o Colts com eficiência ajustada (por calendário) com um mísero -16%, oitava pior marca da Liga e atrás de times como Cleveland e Buffalo. Então o Colts não foi tão bom assim como pareceu em 2012 e é um grande candidato a regressão não importa o quão otimista eu tente ser. A expectativa é que esse 11-5 record vire facilmente 6-10 ou algo semelhante sem essa sorte em jogos decididos por uma posse e com um calendário mais competente (e o de 2013 envolve a NFC West).

Embora, é claro, alguns fatores ajam a favor do Colts para o futuro. O primeiro é ter um dos melhores jovens quarterbacks da Liga em Andrew Luck. Luck não só é um dos meus jogadores favoritos por todo seu imenso potencial e inacreditável talento, como é a prova ambulante de como estatísticas normais para QBs são uma péssima maneira de avaliar talentos. Vejam esses números e me digam quem é melhor:

QB A: 339/627, 54,3%, 4373 jardas, 23 TDs, 18 INTs, 7.0 Y/A QB B: 345/565, 61,1%, 4019 jardas, 22 TDs, 14 INTs, 7.1 Y/A

Acho que 90% das pessoas vão concordar que o B foi melhor, certo? Bom, eis o dado que eu omiti dessa linha:

QB A: 64.99 QBR 
QB B: 44.73 QBR

O quarterback A é Luck, o B é Carson Palmer, e acho que não precisava do QBR para saber que Luck é um jogador infinitamente melhor do que Palmer. Por isso eu insisto que estatísticas normais são extremamente limitadas quando tentamos medir o que um QB fez em uma temporada. Luck tem números muito ruins quando olhamos os tradicionais, mas quando colocamos isso no contexto do time - um time basicamente igual ao que foi 2-14 um ano antes, sem nenhum jogador ofensivo bom tirando Reggie Wayne e a segunda pior defesa da Liga - Andrew teve que carregar a equipe nas costas e fazer praticamente tudo sozinho. E ele sempre conseguiu colocar seu time nas melhores situações para vencer dentro desse contexto, decidindos jogos no final e fazendo praticamente todas as funções possíveis nesse ataque. Ele teve que se virar com apenas dois bons WRs (TY Hilton, um calouro que deve evoluir, e o eterno Reggie Wayne) e a pior linha ofensiva de toda a NFL: Football Outsiders coloca Luck como o QB que mais foi atingido durante a temporada, sendo atingido 122 vezes temporada passada (7,6 vezes por partida), 29 vezes a mais que o segundo colocado (Aaron Rodgers). Na verdade, Rodgers ficou mais perto do 20th colocado no quesito do que de alcançar Luck. É um milagre que o calouro tenha conseguido ficar saudável e ainda produzir tanto nessa temporada. Então acreditem quando as estatísticas avançadas mostram que Luck foi na verdade um dos melhores QBs esssa temporada, porque ele fez milagre com esse time.

Claro que a diretoria do Colts, com toneladas de cap space (principalmente porque paga a seu melhor jogador um contrato de calouro sob o novo CBA), não ficou parada vendo o futuro da sua franquia ser jogado para cá e para lá como uma boneca de pano. Foi no mercado e caiu no que alguns chamam de "Talento Marginal". Eu comecei a escrever uma longa explicação econômica envolvendo preço de reserva e acabei apagando para não ficar cansativo, mas basta dizer o seguinte: isso acontece quando seu time precisa de um determinado jogador (digamos, um TE) e vai para a free agency com essa mentalidade, em busca de seu jogador. Ele está disposto a pagar por isso, já que precisa dessa peça. Enfim, durante a free agency, ele se interessa por um certo TE. Ele não é elite, é um jogador mediano, mas é um dos melhores disponíveis e ele realmente precisa dessa posição. Então ele vai lá e, para não arriscar perder o jogador que precisa, oferece a ele um contrato mais caro do que o normal - valor de um sólido titular, até - para garantir. E o jogador assina, a equipe conseguiu o jogador que precisava e pronto. O problema é que você pagou muito caro e acima do valor de mercado por isso, e quando olhamos para seu desempenho em relação ao que ele ganha, ele ganha demais e isso vai contar contra seu teto salarial. Isso acontece demais principalmente nas primeiras fases da free agency, e é por isso que eu disse que times inteligentes como o Ravens não se precipitam e esperam essa poeira baixar antes de ir atrás de jogadores no mercado. E o Colts foi o time que mais gastou em talentos marginais essa temporada.

Mas ainda assim, dentro de campo, os jogadores terão um impacto positivo e muito importante. O Colts gastou muito mal seu dinheiro pela quantidade, mas pelo menos trouxe bons jogadores para posições carentes, de forma que o elenco será de fato melhor esse ano. O maior problema da equipe, a linha ofensiva, tem duas novas importações vindo diretamente da excelente e underrated linha ofensiva de 
Detroit, o guard Donald Thomas e o tackle Gosder Cherilus. Embora eu sempre ache perigoso tirar jogadores de um esquema sólido e mudá-los para uma situação diferente e achar que renderão igual, Thomas e principalmente Cherilus são dois jogadores extremamente sólidos que seriam uma adição a esse ataque simplesmente por tirarem os que já estão ocupando as posições deles. Mas são duas peças importantes para um time que quer ser levado a sério de novo e principalmente para proteger seu Franchise QB, que não vai aguentar tomar 120 pancadas todo ano sem quebrar.

Outra sólida adição foi Ahmad Bradshaw. Embora o Colts não tenha sido um time horrível correndo com a bola (16th overall), boa parte disso foi motivado em parte pelo fato de que seu melhor corredor foi... wait for it... Andrew Luck! É isso aí, apesar dele não ter nem de longe a fama de corredor que os outros três membros da Gang of Four (Wilson, Griffin e Kaepernick), o fato é que Luck é um dos corredores mais eficientes da NFL, um jogador extremamente inteligente que sabe perfeitamente quando correr e quando não. Nenhum corredor foi mais eficiente em toda a liga ano passado nas terceiras descidas entre QBs, nem Griffin, nem Russell Wilson, nem Cam Newton. Então apesar da boa colocação do jogo terrestre da equipe, tire Luck da equação e o resultado é um ataque terrestre bem fraco. Por isso a chegada de Bradshaw - nem de longe tão bom como no seu auge, mas ainda capaz - pode ser um ponto importante para tirar a pressão das costas de Andrew Luck, adicionar mais uma arma na red zone e simplesmente tornar esse ataque melhor (especialmente atrás de uma melhorada linha). Vick Ballard e Donald Brown não são titulares de NFL (os dois combinaram para 3.9 jardas por carregada temporada passada, embora a péssima linha ofensiva tenha atrapalhado) e podem funcionar melhor como uma mudança de estilo em relação a Bradshaw, que sem dúvida vai ser um upgrade nesse ataque.

A defesa também teve seus reforços (em geral todos talentos marginais pagos a preço de titular, mas enfim), com a equipe trazendo Eric Walden, Jean-Ricky François, LaRon Landry (se saudável) e Greg Toler... e acreditem, essa defesa precisa urgente desses reforços. Foi a segunda pior de toda a temporada, na frente apenas da defesa historicamente ruim de New Orleans. A defesa terrestre foi a pior da liga (por isso Françoise e Walden) e a aérea foi "apenas" a sexta pior (por isso Landry e Toler), mas não me parece ser o tipo de contratação que vá causar mudanças drásticas nisso. François era o NT reserva de uma grande defesa e tem apenas dois jogos como titular (curiosamente vai jogar junto com outro NT que sofreu demais quando saiu da fortíssima defesa de San Francisco, Aubrayo Franklin); Walden era um jogador de rotação em um bom time; Landry era um dos melhores safeties da NFL antes das muitas lesões mas que está há dois anos sem uma temporada produtiva; e Toler sempre foi um reserva/special teams que provavelmente vai ter que lidar com uma carga maior do que nunca. Todas são peças que o time precisava em termos de posição e provavelmente vão servir para evoluir certos aspectos da equipe (especialmente em relação aos fraquíssimos jogadores que devem substituir), mas todas me parecem muito longe de serem uma solução para essa defesa que deve continuar muito ruim. Mesmo o principal calouro da equipe, Bjorn Werner, é um DE talentoso mas ainda muito cru e cujo impacto para essa temporada deve ser pequeno. A equipe fez algumas melhoras nesse grupo muito ruim, mas nenhuma de impacto o suficiente para alavancar uma defesa que foi a segunda pior da NFL.

Em resumo, só pela regressão da temporada anterior era possível esperar que Indianapolis caísse para algo como 6-10 com um calendário menos fácil, talvez até pior. A equipe trouxe algumas adições interessantes (especialmente no ataque) mas ainda é um time com diversas falhas e simplesmente com falta de talento na defesa (e um pouco no ataque, embora não tanto). Esses novos jogadores vão ajudar em algumas áreas, mas não é o tipo de contratação que sozinha vai colocar um time medíocre nos playoffs novamente.

O Colts só tem uma área de real otimismo para 2013, e é Andrew Luck. Já falamos de como seus números enganam a primeira vista e de como ele praticamente levou esse time nas costas sem nenhuma ajuda, e também já falamos sobre suas eficiências como corredor. Mas aqui vai mais um dado impressionante sobre Andrew Luck: ano passado, Luck liderou a NFL com sete campanhas para vencer o jogo no quarto período temporada passada, incluindo uma impressionante em 20 segundos contra o Vikings. Apenas dois conseguiram mais desde que o Football Reference começou a manter registro disso, e entre os QBs que conseguiram exatamente sete estão as melhores temporadas da carreira de Tom Brady e Peyton Manning. Meu ponto é o seguinte: Andrew Luck é absurdamente bom, e ele deve melhorar ainda mais para a temporada que vem em relação a última. Ele foi bom em 2012 e deve ser ainda melhor em 2013: seus coadjuvantes melhoraram lhe dando mais opções (tirando Wayne, quase todos seus recebedores eram calouros ou segundo anistas que devem evoluir bastante), sendo um QB que gosta de ficar no pocket vai ser ainda mais ajudado pela sua melhor linha ofensiva, e ele também vai estar um ano melhor. Essa melhora de um QB sensacional vai ser suficiente para colocar o Colts de volta nos 11-5 e nos playoffs? Muito provavelmente não, mas não porque ele não é bom o suficiente e sim porque o time ainda é ruim e vai regredir para o ano que vem. Mas essa melhora pode ser suficiente para colocar esse time que deveria ir 6-10 em um 8-8? Eu acredito que sim. E mesmo que essa temporada seja um passo atrás para a franquia (pelo menos em termos de record quando ignoramos todos os fatores aqui citados), o fato é que o futuro a médio prazo é brilhante com Luck no comando.

E se você ainda não está convencido de como Luck é bom porque não teve bons números essa temporada, me permita colocar um segundo caso aqui:

QB A: 339/627, 54,3%, 4373 jardas, 23 TDs, 18 INTs, 7.0 Y/A
QB B: 326/575, 56,3%, 3739 jardas, 26 TDs, 28 INTs, 6.5 Y/A

Quarterback A é Andrew Luck. Quarterback B é Peyton Manning na sua temporada de calouro. Boa noite e dirijam com cuidado.

(Ps. QBR não tinha sido criado em 1998, por isso não coloquei)

2 comentários:

  1. Para mim fica uma dúvida. Como já dito, a tabela do Colts foi fraca, em quanto isso pode ter favorecido o desempenho do Luck?

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    1. É um bom ponto, e algum efeito possivelmente teve.

      Mas vale lembrar que a) uma parte disso é absorvida pelo QBR (já que ajusta por situações), e talvez mais importante que b) a tabela do Colts foi mediana (17th, per Football Outsiders) se tratando das defesas adversárias (e 32nd disparado se tratando de ataques), então o desvio é menor. Algum efeito deve ter tido, mas não grande o suficiente para mudar a maior parte desses argumentos. Por exemplo, as defesas enfrentadas por um QB que eu critiquei aqui (Andy Dalton) foram as terceiras mais fáceis da NFL. O impacto não é tão significante nesse caso.

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