Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Preview NFL 2013 - Arizona Cardinals


Só estando livre assim para os QBs acertarem o passe


Nessa série de previews já falamos de 31 times diferentes, incluindo toda a AFC East, South, North e West e das NFC East, South e North, mais o San Francisco 49ers, Seattle Seahawks e Saint Louis Rams. Você pode acessar todos os previews direto do nosso índice. Se você não tem ideia do que estou falando, recomendo que leia esse post introdutório. Btw, a falta de crases nesse texto é porque esse teclado não tem crase, então não reparem, ok?

Arizona Cardinals

2012 Record: 5-11
Ataque ajustado: 32nd
Defesa ajustada: 6th


Quase por milagre, chegamos ao final da nossa série de previews ainda antes do começo da temporada regular. E fechamos com chave de... chave de fenda, porque é hora de falar do Arizona Cardinals e seu ataque "espetacular".

Em parte, eu sinto alguma pena do Cardinals, especialmente depois daqueles times sensacionais de 2008 e 2009 com Kurt Warner e Larry Fitzgerald. Eles eram os times mais divertidos de se assistir da NFL, times explosivos liderados por dois talentos excepcionais que pareciam as zebras no começo e que quando o jogo acabava, deixavam todos com aquela cara de "alguém anotou a placa?!". O melhor exemplo provavelmente foi o lendário duelo com o Packers de Aaron Rodgers no Wild Card de 2009, que acabou 51 a 45 em OT com Rodgers e Warner combinando para 800 jardas e 9 TDs (não foi um erro de digitação), mas então foram derrotados pelos eventuais campeões Saints, Warner se aposentou, Cardinals fez uma troca ousada por Kevin Kolb para substituí-lo... e o resto todo mundo sabe como acabou.

Ainda assim, eu tinha começado esse texto com um "vamos falar da vergonha que foi o Cardinals", mas achei injusto na última hora. Não me entenda errado, algumas coisas nesse time foram vergonhosas sim, no caso o ataque. Mas ainda assim, isso seria uma injustiça imensa com a defesa do Cardinals, e precisa ser levado em conta alguns fatores atenuantes, principalmente o calendário. Mas toda vez que um time termina a temporada como o segundo pior time em eficiência ajustada da NFL na frente apenas do 2-14 Chiefs, é porque tem algo errado - muito errado - com ele.

Ontem, eu disse que é praticamente um pré-requisito obrigatório para jogar na NFC West ter uma defesa dominante, com os quatro times da divisão estando entre as sete melhores defesas da NFL. Naturalmente, o Cardinals não é a exceção: a defesa do Cards terminou o ano como a sexta melhor da liga inteira, o que é impressionante considerando a falta de ajuda que o ataque lhe deu, o que significava más posições de campo, pouco controle no relógio (ou seja, a defesa tinha que ficar tempo demais em campo e se cansar mais) e adversários que podiam ser conservadores e jogar com calma pois  estavam sempre na frente no placar e confiantes que o ataque de Arizona não iria causar estragos. É incrível então que essa defesa tenha conseguido sobreviver ao ano inteiro sem começar nenhuma briga no vestiário, muito mais terminado como uma unidade de elite e sexta melhor da NFL. 

Mas como vocês já devem ter imaginado, se você foi um time horrível que terminou com a segunda pior eficiência da liga e ainda teve uma defesa de elite, o time só pode ter tido um ataque historicamente ruim. E para a surpresa de ninguém, sim, o Arizona Cardinals teve um ataque historicamente ruim que envergonhou praticamente todo o estado do Arizona e sozinho foi responsável por tirar o Diamondbacks dos playoffs da MLB. Na verdade, usando os dados do excelente Football Outsiders para ataques ponderados, o ataque do Cardinals de 2012 foi o pior desde o do 49ers de 2005, um time historicamente ruim cujo QB titular (rookie Alex Smith) passou para 1 TD e 11 interceptações (de novo, não foi erro de digitação). Então a pergunta relevante é: como diabos o Cardinals conseguiu ter uma defesa tão boa, e como tiveram um ataque tão ruim capaz de cancelar quase todo o bom efeito dessa defesa?

Para começar, alguns dados desse ataque: em toda a NFL, o Cardinals foi o pior time - de longe - controlando o relógio, com suas campanhas durando em média apenas 2:15 cada. Isso pode e deve ser atribuído ao enorme número de 3-and-outs desse ataque: nenhum time teve mais, e nenhum time teve menos jogadas por campanha ofensiva (5.0) ou gerou menos jardas por campanha (20.1, mais do que quatro jardas a menos que o segundo pior Jaguars) do que esse. Junte todos esses fatores e não assusta saber que nenhum time na liga inteira gerou menos pontos por campanha ofensiva do que o patético 1.1 gerados pelo ataque do Cardinals, com apenas 22% de suas campanhas ofensivas terminando em touchdowns (adivinhe: pior marca da liga). E o que talvez seja ainda mais trágico do que isso é o fato de que o ataque teve esse nível horroroso e patético mesmo começando suas campanhas com a sexta melhor posição de campo entre todos os times, fruto de uma fortíssima defesa e bom special teams. E mesmo assim, o resultado ofensivo foi esse show de horrores. Vale citar também que nenhum time totalizou menos jardas do que as 4209 da equipe, apenas três cometeram mais turnovers que seus 34, e apenas o ataque do Jets lidera o Cardinals no quesito "mais ataques cardíacos provocados" (ok, esse último pode não ser bem verdade).

Achar as causas para tamanha futilidade é muito simples: é só olhar para qualquer lugar, e você vai achar uma causa. O jogo terrestre era patético. A linha ofensiva era uma ofensa ao esporte. Os quarterbacks não deviam estar nem sequer ser permitidos dentro de um estádio de futebol americano. E ai você percebe que a causa principal desse ataque horrível era simplesmente que o time não tinha bons jogadores tirando Michael Floyd e Larry Fitzgerald. O jogo terrestre simplesmente não funcionou o ano inteiro, por dois motivos: a linha ofensiva horrível era absolutamente incapaz de abrir espaços (Football Outsiders a coloca como a pior - por uma margem absurda - em jogadas de corrida), e os RBs da equipe não tinham a velocidade ou explosão suficiente para aproveitar os pequenos espaços que tinham ou mesmo para abrir espaços com força. Não a toa o Cardinals acabou com a pior marca da NFL em jardas por corrida com um ridículo 3.4 e o pior jogo terrestre da liga, por DVOA, jardas por jogo ou qualquer métrica que você queira usar. E pelo ar, as coisas não ficam muito melhores: dos 39 QBs qualificados que tentaram 100 passes ou mais, Mark Sanchez ficou em 37th em QBR com um ridículo 23.4. Os dois que conseguiram ser ainda pior? Os dois QBs do Cardinals na temporada 2012, John Skelton (13.9) e Ryan Lindley (9.8 - meu computador tentou explodir ao calcular isso). Holy sh... Quanta mediocridade em um só lugar!! É claro que parte desses problemas com QB vieram dessa horrível linha ofensiva, mas ainda assim... Ryan Lindley e John Skelton? Junto com Kevin Kolb (uma das raras trocas da NFL que deu abismalmente errado para todo mundo envolvido), os QBs de Arizona combinaram para 11 TDs e 21 interceptações, 5.6 jardas por passe, e um ataque aéreo atroz que faz alguns times da CFL parecerem o Patriots de 2007. Então não é difícil ver aonde tudo deu errado.

O Cardinals era um time que provavelmente teria ganho mais otimismo nessa espaço algumas semanas atrás, porque realmente tinha feito investimentos para sair desse patamar assustadoramente horrível. Sua linha ofensiva tinha sofrido um upgrade significativo, com a chegada de Eric Winston (ex-Texans), a perspectiva de uma temporada inteira de Levi Brown (que machucou antes da temporada passada começar) e, talvez mais importante, o draft do excelente guard Jonathan Cooper, que eu elogiei como o melhor guard a entrar na NFL anos. Atrás de essa reforçada linha ofensiva, o Cardinals também vinha com novas peças importantes, com um novo quarterback em Carson Palmer e um novo RB em Rashard Mendenhall. Nenhum desses - tirando Cooper - seria um jogador brilhante que mudaria o destino da franquia, mas em comparação ao que a equipe ofereceu ano passado, todos seriam uma melhora: Palmer não é relevante na NFL já faz alguns anos e teve um QBR de 44 ano passado com Oakland, mas ele tem um braço forte e sabe jogar uma bola para cima, o que já é melhor do que qualquer QB do time desde Warner ofereceu para seus bons recebedores, e alguém precisa enfim tirar vantagem de Larry Fitzgerald nessa equipe; Mendenhall era um RB de qualidade um ou dois anos atrás, perdeu espaço por conta de lesões mas que ainda é superior ao que o time podia oferecer; e se colocar eu e o meu editor Marcelo para jogar na linha ofensiva do Cardinals, acho que ela já ficaria melhor, então algum reforço Winston e Brown vão dar.

O problema foi que Cooper quebrou a perna, uma lesão bastante problemática para linemen e que o Cardinals, não querendo arriscar, logo o colocou no IR, o que significa que não deve jogar esse ano. Isso é um problema significativo, porque muito do que a equipe procurava ofensivamente para esse ano passava pelo calouro que eles esperava que pudesse entrar e produzir em nível Pro Bowl logo de cara. Winston e Brown vão ajudar, mas nenhum é exatamente uma força física dominante, e Arizona estava contando com Cooper pelo meio para abrir caminho para um jogo terrestre revitalizado. A saida de Cooper também deixa o meio dessa linha ofensiva simplesmente horroroso, sem nenhum outro jogador sequer decente, então Levi e Winston terão que se desdobrar ainda mais para conseguir proteger Palmer, e eu duvido que consigam sem nenhuma ajuda. Isso significa uma perda enorme para o jogo terrestre, e significa que a vida de Palmer vai envolver muito mais corridas para escapar de recebedores do que ele gostaria. Isso limita consideravelmente o tamanho dessa melhora - seria um time muito melhor se o jogo terrestre pudesse se estabelecer e Palmer trabalhasse com mais tempo e no play action - mas sugerir que esse ataque ja não deva ser consideravelmente melhor do que o de 2012 é um absurdo. Não que isso signifique muito, mas se a defesa continuar sendo esse grupo de elite, pelo menos o ataque não vai mais afundar tanto assim.

(O maior vencedor disso tudo? Provavelmente Fitzgerald, que vai jogar com um QB semi-respeitável pela primeira vez em quatro anos. E meu time de fantasy, do qual ele é titular, também)

A defesa, como eu já disse, foi incrível em 2012: Daryl Washington explodiu e teve o melhor ano da sua carreira (com nove sacks, um número absurdo para um MLB), Patrick Petterson evoluiu no cornerback de elite que todos esperavam, a secundária contou com grande produção dos veteranos William Gay, Kerry Rhodes e Adrian Wilson para terminar como a segunda melhor de toda a liga, e basicamente tudo encaixou no lugar certo para eles. Esse grupo contou com alguns jogadores fora de série - Washington, Petterson, Calais Campbell, Darnell Docket - e mais um bom conjunto de role players veteranos - Gay, Rhodes, Wilson - para ter uma temporada realmente espetacular. Alguns papeis ainda precisavam ser preenchidos - em especial, melhorar o grupo de linebackers ao redor de Washington - mas a fundação estava pronta.

E a equipe conseguiu: trouxe dois bons OLBs (Lorenzo Alexander, saindo de um carrer-year, e John Abraham, que vai ter muito mais espaço do que em Atlanta com Dockett e Campbell na linha de frente) e trouxe de volta Karlos Dansby para compor o meio dessa defesa. Foram adições muito boas e nas posições mais carentes do time, que provavelmente colocariam essa defesa um nível acima. O problema é que assim como chegaram alguns veteranos muito sólidos para completar esse grupo, os veteranos muito sólidos que completaram o grupo ano passado foram todos embora: Rhodes, Gay e Wilson estão fora da cidade, e agora o Cardinals está tentando tapar esses buracos com alguns journeymen muito pouco comprovados como Javier Arenas e Yeremiah Bell. O wild card provavelmente é como Tyrann Mathieu vai se comportar e render essa temporada, mas ainda é um ponto de interrogação. Mathieu é dinâmico e atlético suficiente para causar um impacto, mas sempre foi indisciplinado, baixo e teve alguns problemas na cobertura, então as dúvidas existem. Vale citar também que Daryl Washington está suspenso pelos primeiros quatro jogos da equipe, o que deve ter um impacto bem negativo na franquia.

E em resumo, é de se esperar que a defesa continue muito sólida contra corridas e até melhore sua pressão com Abraham por lá, mas a principal força dessa defesa em 2012 - sua espetacular secundária - não existe mais. Então ainda que continue com grandes talentos - em especial Peterson - esse grupo está basicamente se reinventando entre uma temporada e outra, o que geralmente é um problema. Eles ainda devem ser muito bons defensivamente, mas quão muito bons vai depender de como essa defesa aérea vai segurar sem os bons jogadores do ano passado, e é um risco. Mas o ataque vai ser melhor - em parte porque pior não tem como ser, mas enfim - ainda que seu potencial seja limitado pelo fato de que Cooper está machucado e PAlmer não é um grande QB. Mas com uma tabela mais fácil do que o corredor da morte de 2012 (tabela mais difícil da NFL por uma boa margem) - ainda que seja difícil mesmo assim - e um ataque que pode passar de "historicamente atroz" para "abaix o da média", o Cardinals tem tudo para ser um time decente em 2013. Calendário muito difícil e essas questões sobre sua defesa ainda são um problema que me fazem colocar o Cardinals apenas a 6 ou 7 vitórias, mas se essa defesa conseguir manter o nível e a intensidade com suas novas contratações, é um time que vai dar muito trabalho em 2013, ainda que dificilmente vá ter cacife para desbancar Niners ou Seahawks. Mesmo assim, um 2013 melhor do que 2012 está ao alcance da equipe.

Preview NFL 2013 - Índice

Algumas pessoas vieram me perguntar como fazer para acessar direto os preview de cada time sem precisar ficar clicando em um milhão de links, afinal, são 32 previews!! A série finalmente está completa, sim.

Mas sorte, porque seus problemas acabaram! Chegou no mercado o novo...

Ops, errei. É que depois de alguns pedidos, decidi criar esse índice para todos os previews para facilitar o acesso e a leitura de todo mundo. Aproveitem para tirar o tempo perdido. Todos já estão ai. 

Recomendo especificamente os de Lions e Colts (boas explicações de como estatísticas que são aleatórias podem afetar grosseiramente uma temporada); Jaguars (a eterna pergunta: porque alguns times ruins continuam ruins?); e Ravens (explicando porque playoffs não significam nada para o ano seguinte). Aproveitem.


AFC East

NFC East

AFC North

NFC North

AFC South

NFC South

AFC West

NFC West

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Preview NFL 2013 - Saint Louis Rams

Trenzinho Carreta Furacão, edição Saint Louis


Nessa série de previews já falamos de 30 times diferentes, incluindo toda a AFC East, South, North e West e das NFC East, South e North, mais o San Francisco 49ers e o Seattle Seahawks. Você pode acessar todos os previews direto do nosso índice. Se você não tem ideia do que estou falando, recomendo que leia esse post introdutório. Btw, a falta de crases nesse texto é porque esse teclado não tem crase, então não reparem, ok?

Saint Louis Rams

2012 Record: 7-8-1
Ataque ajustado: 21st
Defesa ajustada: 7th


Parabéns! Acabamos de chegar no ganhador de 2012 do "Troféu de Melhor Time que Ninguém Presta Atenção" da NFL! Seu prêmio são mais 1000 palavras sobre o Rams!

Por algum motivo, muita gente correu para descartar o Rams como um time insignificante durante e ao final da temporada, mesmo com a equipe terminando 7-8-1 com uma tabela insanamente difícil e terminando 4-1-1 dentro da divisão. Na verdade, Saint Louis terminou em 15th em eficiência ajustada na NFL (logo atrás e quase empatado com Minnesota) e, usando as estatísticas de eficiência ponderadas (ou seja, que atribuem maior peso aos jogos mais tardios no campeonato), o Rams termina com um bom 12th lugar, na frente de times como Vikings, Houston e Atlanta. Claro que isso não significa que o Rams seja melhor que o Atlanta, especialmente porque essa melhora ao longo do ano não teve uma causa direta como um jogador voltando de lesão ou uma mudança de coordenador (como foi o caso do Tampa Bay despencando sem Carl Nicks), e então no fundo os jogos do começo do campeonato tem tanta significância quanto os do final (especialmente porque o Falcons relaxou quando garantiu sua vaga). Mas ainda assim, é algo impressionante, certo? Serve para mostrar um pouco que esse time do Rams é, na verdade, bem sólido.

Então porque ninguém presta atenção neles? Primeiro, porque eles jogam numa divisão insanamente difícil com dois dos melhores times da NFL ano passado, 49ers e Seahawks. Não só esses dois chamam toda a atenção (merecidamente, mas enfim) como os dois logo mostraram que iriam garantir a divisão e deixaram o Rams para trás e fora da briga, o que deixou a equipe de Saint Louis em uma posição secundária na temporada. Um outro motivo foi o mesmo do Panthers: a equipe melhorou mais para o final da temporada, ganhando quatro dos últimos seis jogos depois de começar a temporada com um irrelevante 3-6-1, outro motivo que fez muita gente descartar a equipe cedo e não prestar atenção quando ela jogou seu melhor futebol. E por fim, o fato de que o Rams teve a segunda tabela mais forte de toda a NFL: oito de seis jogos foram contra times de playoffs, e mais dois contra Bears (melhor time da NFL a não ir para a pós-temporada) e Lions (muito melhor do que seu record indica) - só o Cardinals teve uma tabela pior. Por isso que as métricas ajustadas por adversário são generosas com o Rams: eles não tiveram uma grande temporada, mas tiveram uma temporada decente contra uma tabela extremamente difícil, e essa tabela tornou difícil ver o quão bom era o Rams já que toda semana estavam enfrentando (e perdendo de) pedreiras. Então motivos nós temos para não ter prestado atenção no Rams, mas o importante é saber exatamente o que estamos perdendo com isso.

Para começar, estamos perdendo uma das melhores defesas da NFL. Ter uma defesa dominante é quase um pré-requisito para jogar na NFC West atualmente, na verdade: das sete melhores defesas de 2012, quatro são dos times da West, inclusive a número 2 e a número 4 que foram tema dos dois últimos previews (49ers e Seattle, respectivamente). O Rams não é exceção, terminando 2013 com a sétima melhor defesa da liga. E talvez até mais importante é o fato de que não só é uma defesa forte e dominante, mas também uma defesa muito jovem e com muitas peças em evolução. 

A defesa começa por dois jogadores que durante anos foram dois dos mais underrateds jogadores defensivos da NFL, Chris Long e James Laurianaitis, dois daqueles "excelentes jogadores presos em um time horrível" por anos a fio. Long, em particular, foi sempre o que mais me chamou a atenção por um simples motivo: ele nunca para de se mexer. É assustador, mas ele é daqueles DEs que não dão um passo, travam uma batalha parada com o OL adversário para abrir um espaço e usam esse espaço para atacar o QB: ele está sempre mexendo as pernas, sempre buscando um contorno ou coisa assim, sempre se movimentando lateralmente para fechar espaços... enfim, é basicamente o jogador com o motor mais impressionante da NFL, e por isso um dos meus favoritos de assistir. Nos últimos dois anos, quando Saint Louis finalmente deu a ele um bom parceiro na linha defensiva (Robert Quinn) Long totalizou 24.5 sacks (sétima melhor marca nesse período) e ancorou o que promete ser uma defesa muito dominante. Quinn teve também uma temporada muito boa em 2012 (sua primeira como titular) com 10.5 sacks, então é realmente uma dupla que tem tudo para ser muito dominante, especialmente com Quinn indo para sua terceira temporada e com bastante potencial de evoluir ainda mais.

Atrás dessa forte dupla de frente, o Rams também montou um grupo de linebackers muito forte. Em uma defesa 4-3 base, os OLBs não são daqueles que vão para a blitz na maior parte do tempo como Aldon Smith ou DeMarcus Ware, mas prometem ser sólidos: em adição ao eterno James Laurianaitis (apenas "James" daqui para frente porque ninguém merece escrever Laurianaitis), a equipe draftou o bom e problemático Alec Ogletree e trouxe o veterano Will Weatherspoon para compor seu trio de LBs. Laurianaitis é um dos melhores MLBs da liga e Ogletree era considerado o melhor LB dessa classe de calouros (apesar dos problemas extra-campo), e considerando que essa defesa terrestre já foi uma sólida 8th melhor contra o jogo terrestre em 2013, existe ainda mais potencial aqui. A chave provavelmente vai ser como os DTs se comportam em 2012, já que a equipe não possui um dominante, mas com esse ótimo pass rush e bom grupo de LBs, ainda tem tudo para ser um bom grupo.

O draft de Ogletree mostra novamente uma tendência desse time do Rams nos anos recentes, que é a de se preocupar mais com talento e menos com problemas fora de campo. Ogletree era o típico caso de jogador muito talentoso que acaba caindo no draft pelos seus problemas, mas o Rams se focou (e admitiu isso depois) apenas no que ele pode oferecer dentro de campo. Na verdade, foi essa mentalidade que o time usou para montar sua secundária em 2012, trazendo o talentoso, problemático e um pouco overrated Cortland Finnigan na free agency, e no draft foi atrás de Jannoris Jenkins, um talento de primeira rodada que caiu para a segunda rodada por ter sido preso algumas vezes. A estratégia deu certo: a defesa aérea saltou para 10th melhor da liga em 2012, conseguiu um sólido número de 17 intereptações mesmo contra uma tabela forte e gerou bastante interesse ao redor da liga. O sucesso dessa estratégia em 2012 provavelmente foi o que motivou a seleção de Ogletree, e vai continuar inspirando esse tipo de posicionamento até algo dar errado.

E ai chegamos ao maior ponto positivo dessa defesa: idade. Os dois veteranos dessa defesa, Long e James, ainda estão em seu auge (28 e 27, respectivamente). Quinn está indo apenas para seu terceiro ano, Jenkins para seu segundo. Ogletree é calouro, e Finnegan - o mais velho desse núcleo - faz 29 em fevereiro. Para um time como o Rams que provavelmente ainda está pensando alguns anos no futuro, essa é uma ótima notícia: seu núcleo ainda vai jogar junto por um bom tempo, e ainda tem muito espaço para evoluir. Para 2013 isso não necessariamente vai ajudar tanto, considerando algum possível sophomore slump de Jenkins (que pareceu ser um pouco "exposto" mais para o fim da temporada) e pelo fato da equipe ter perdido seus dois safeties titulares (Quintin Mikell foi para o Panthers e Craig Dahl para o 49ers) sem nenhum bom substituto disponível, então é possível esperar alguma piora dessa unidade. Mas mesmo assim o Rams deve continuar com uma das melhores linhas de frente de qualquer time na liga, e isso provavelmente vai ser suficiente para ancorar uma defesa extremamente forte, especialmente se os CBs continuarem com a boa fase.

O ataque é mais problemático. Desde que fizeram de Sam Bradford a primeira escolha do draft em 2010, esse grupo terminou a temporada 30th, 32nd e 21st em ataque ajustado. Enquanto um otimista pode olhar e falar que pelo menos o grupo evoluiu para 2012, um realista vai apontar que esses são três péssimos números. Embora seja mais do que óbvio que não seja possível atribuir tudo isso a Bradford quando ele tem jogado em um ataque muito fraco e sem o pessoal adequado para ajudá-lo, o fato é que ele também não tem se destacado positivamente. Nesses três anos, Bradford ainda não mostrou o que se esperava dele quando se tornou a primeira escolha do draft: seu braço não é forte e ele tem mostrado dificuldade nas bolas longas (como o grande Bill Barnwell nota, Bradford é o QB que menos tenta passes de mais de 20 jardas na NFL), e sua precisão no resto dos passes deixa muito a desejar. Ele não compensa seu baixo aproveitamento com ganhos longos e vice versa, e isso é um problema quando seu QB ainda tem metade de um contrato de 6 anos, 78M para cumprir (com absurdos 50M garantidos). Parte disso não é culpa de Bradford - ele nunca jogou com uma boa linha ofensiva ou teve alvos competentes além de Steven Jackson e Danny Amendola - mas ele também não se destacou com o que teve em mãos de alguma forma, ou mostrou as ferramentas de um grande QB na NFL.

E embora não seja exatamente culpa de Bradford, o fato é que ele gerou muitos problemas, junto com uma série de decisões da diretoria  cujos resultados foram desastrosos (algumas eu também critiquei na época). O primeiro problema é que Bradford foi a última 1st pick no antigo CBA. O grande problema a ser resolvido no lockout de 2011 foi a questão dos contratos de calouros, que tinham escalado demais e saído de controle. Isso foi eficientemente controlado no novo CBA, mas times que ainda mantinham jogadores com seus contratos antigos se viram em uma situação complicada. Para efeito de comparação, Bradford ganhou um contrato de 6 anos, 78M quando calouro... a próxima 1st pick, Cam Newton, assinou um de 4 anos, 22M. Então é uma diferença brutal, e isso tem causado alguns problemas para o Rams. Esse foi, inclusive, o motivo pelo qual a equipe deveria ter mantido a 2nd pick em 2012 (e Robert Griffin) ao invés de trocá-la e manter Bradford: Sam come um pedaço imensamente maior do espaço salarial da equipe do que Griffin (falamos segunda no preview do Seahawks sobre a enorme vantagem que é ter um franchise QB em contrato de calouro). Eu entendo os motivos que levaram o Rams a tomar essa decisão - em particular que o retorno por uma eventual troca de Bradford seria muito menor do que o que Griffin trouxe - mas na época muita gente já defendia manter Griffin pela questão salarial, o que fica ainda mais claro quando vemos o resultado disso um ano depois. Na verdade, se o Rams tivesse feito a coisa mais fácil em 2010 e draftado Ndamukong Suh em primeiro (que era claramente o melhor jogador do draft na época), poderia ter hoje Suh E Griffin no seu time, então tem isso também - bem como o fato de que Bradford pode ser cortado ao final dessa temporada para economizar salário enquanto Griffin revive o esporte em Washington.

Um tema clichê nos previews do Rams desde 2011 é que esse é o ano que Bradford tem ao seu redor o melhor grupo da sua vida. Foi dito em 2011, foi dito em 2012, e tem que ser dito em 2013: pela primeira vez ele tem um bom LT em Jake Long, o que via dar muita estabilidade na linha ofensiva, e adicionaram duas armas importantes para seu QB nessa offseason em Jared Cook (muito talento, nunca despontou como esperado) e Tavon Austin (8th pick nesse draft), que a equipe espera que possa adicionar dois alvos confiáveis e explosivos para Bradford finalmente se desenvolver... apesar de ele já ter 26 anos. Então é fato que no papel o Rams está oferecendo a ele um grupo melhor do que ele já viu em anos, mas isso já foi dito antes e não rendeu nenhum tipo de resultado, então não me culpem se me sinto um pouco cético. Também vale citar que Bradford perdeu o seu melhor recebedor em Amendola, que quando esteve saudável era o principal alvo aéreo da equipe. Como Barnwell nota em seu excelente preview, Bradford completou 66.5% de seus passes para Amendola e apenas 56.8% para o resto de seu time, uma diferença absurda que só reforça a importância de Amendola saindo do slot como uma opção nesse ataque. Mas Amendola saiu, e nao se sabe ainda se Tavon Austin vai conseguir realizar essa função ou ser usado em um papel mais explosivo estilo DeSean Jackson (a comparação mais comum para Austin) em rotas longas que não vão oferecer para Bradford a opção de segurança que ele precisa. Então ainda existe algum motivo para dúvida, ainda que no papel esse ataque tenha evoluido um pouco (principalmente por causa de Long, na verdade) - de novo. Vamos ver se dessa vez a melhora no papel se traduz para uma melhora dentro de campo.

Mas o fator mais duvidoso nesse ataque é o jogo terrestre, simplesmente porque ele pode cair para qualquer lado. A equipe se livrou do grande Steven Jackson, um dos melhores RBs da sua geração, por questões salariais antes de dar o comando da equipe aos jovens Daryl Richardson e Isaiah Pead, e é difícil saber exatamente qual vai ser o impacto disso na equipe. Jackson foi um grande RB, isso é inegável, mas já tem 30 anos, sendo 8 deles como o titular de uma equipe fraca tendo que carregar nas costas o time com uma carga de trabalho imensa, e nos últimos anos viu sua produtividade decair um pouco. Jackson sempre foi uma grande válvula de escape para Bradford por sua versatilidade recebendo passes, algo que provavelmente não vai acontecer (ou pelo menos no mesmo nível) com a nova dupla de RBs, mas ao mesmo tempo vale destacar que em 2012 Jax teve uma média de 4.1 jardas por corrida e Richardson teve 4.8 atrás da mesma linha ofensiva. Claro que é mais fácil ter uma média alta com menos corridas e em situações mais favoráveis, mas ainda é uma boa diferença e Richardson projeta como sendo uma opção mais jovem e explosiva para esse jogo terrestre. É difícil saber exatamente o impacto dessa mudança, mas diria vai ter impacto importante no destino dessa equipe.

Em resumo, o Rams é um bom time que muita gente negligencia. Mas infelizmente para eles, eles ainda tiveram alguma sorte em 2012 (uma vitória acima da sua Pythagorean Expectation) e apesar de não ser o inferno de 2012, a tabela ainda vai ser consideravelmente difícil em 2013 com um Cardinals reforçado e quatro jogos contra a fortíssima NFC South. A defesa vai continuar sendo forte como sempre, com potencial para evoluir (jovens jogadores, Ogletree chegando) ou regredir (sem seus safeties), mas dividindo a diferença ainda tem tudo para ser uma das melhores da liga. O wild card para a equipe, naturalmente, é seu ataque, e como Bradford vai render naquela que pode ser sua última chance como titular da equipe com uma linha ofensiva reforçada e um conjunto totalmente diferente ao seu redor. Eu confesso que não me sinto otimista em relação a essa última, acredito que vá ser um ataque decente mas não bom o suficiente, e por isso não vejo o Rams sendo melhor do que 7-9 ou 8-8, o que não quer dizer que seja um time ruim: se enfrentasse a tabela de um time como Chiefs ou jogasse na AFC South, seria um forte candidato a ganhar 10 jogos e ir aos playoffs. Por enquanto, vai ter que se contentar com uma forte defesa e com o trabalho que sempre dá aos favoritos Niners e Seahawks enquanto pensa no que fazer com Sam Bradford.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Preview NFL 2013 - Seattle Seahawks

Talentos especiais de Golden Tate: Voar
e transformar interceptações em touchdowns



Nessa série de previews já falamos de 28 times diferentes, incluindo toda a AFC East, South, North e West e das NFC East, South e North, mais o San Francisco 49ers. Hoje continuamos a falar da NFC West pelo Seattle Seahawks. Você pode acessar todos os previews direto do nosso índice. Se você não tem ideia do que estou falando, recomendo que leia esse post introdutório. Btw, a falta de crases nesse texto é porque esse teclado não tem crase, então não reparem, ok?

Seattle Seahawks

2012 Record: 11-5
Ataque ajustado: 4th
Defesa ajustada: 4th


Uma coisa muito interessante de sempre se observar em qualquer esporte é que, dependendo de como se comportam as tendências de mercado e as regras do CBA envolvendo contratos e tetos salariais, alguns ativos passam a ser mais valiosos do que outro por gerarem uma vantagem competitiva. Meu exemplo favorito: Moneyball. Muitas pessoas erroneamente acreditam que a essência do Athletics na era Moneyball era simplesmente usar estatísticas avançadas para descobrir quais jogadores eram bons ou ruins, mas não é verdade. A questão do Moneyball era outra: como o time de Oakland era o mais pobre de toda a MLB e com um dono muquirana, em uma liga sem teto salarial ou controle sobre os contratos oferecidos, então ele simplesmente não podia contratar ou bancar os melhores jogadores da liga. Assim, eles precisavam achar outra forma de se manterem competitivos explorando alguma "falha" de mercado (o termo "ineficiência" é melhor, mas enfim), e foram fazer isso usando um sistema que lhes dava uma informação na hora de tomar decisões que nenhum outro time tinha e portanto lhes permitia melhor identificar o valor de jogadores e achar quem contribuía com o que o time precisava. O uso de estatísticas avançadas - o que acabou popularizando e expandindo disso tudo - na verdade era apenas o instrumento que a equipe usou para atingir o objetivo de conseguir montar um time competitivo com pouco dinheiro, achando valor onde os times não viam.

No caso da NFL, não existe uma ineficiência de mercado como era o caso da MLB no começo da década, mas ainda existem algumas situações que oferecem aos times uma vantagem comparativa. Com um salary cap rígido, regras de distribuição de receitas e tudo mais, não existem times pobres ou ricos dentro de campo ou na hora de contratar jogadores, todos possuem os mesmos recursos. Mesmo assim, existe alguns ativos específicos que geram distorções positivas para os times que os possuem, e lhes oferecem um tipo de vantagem competitiva que hoje em dia é extremamente importante. E isso ajuda a explicar porque o Seahawks está em uma situação extremamente confortável em relação ao resto da NFL. No caso do Seattle, isso pode ser resumido em um simples número:

US$ 1,450,000.00

Um milhão, quatrocentos e cinquenta mil doletas. Esse é o valor TOTAL que o Seattle Seahawks vai pagar para quarterbacks em 2013, incluindo os que já foram dispensados. Pense nisso por um segundo, e lembre que Philip Rivers ganha 17M por ano, que Tony Romo e Joe Flacco vão ganhar perto dos 20M por ano, e que se o segundo semestre de 2012 não foi uma aberração, Russell Wilson é bem melhor que todos esses. A NFL tem se tornado cada vez mais, com as novas regras, uma liga que se fundamenta no jogo aéreo, e então um bom quarterback tem um peso cada vez maior, e portanto ganham salários cada vez maiores. No mercado aberto, um QB como Wilson ganharia cerca de 18M por ano, mas como ele ainda está preso ao seu contrato de calouro, ele vai receber menos de 1M em 2013, 2014 e 2015 antes de receber um novo contrato. Isso significa que nesses três anos, o Seahawks vai ter cerca de 17M a mais do que deveria ter para oferecer a outros jogadores, reforçando o resto do seu time e adicionando talentos que seria impossível caso Wilson estivesse comendo 18M do seu teto salarial.

E desde que o novo CBA começou a controlar contratos de calouros, essa é a maior vantagem competitiva que um time pode ter: um (ou pelo menos que muita coisa indica que seja) franchise QB preso em um contrato de calouro, ganhando uma merreca e abrindo todo o espaço salarial do mundo para reforçar o resto do time. Esse é um dos motivos secretos pelos quais times como Seattle, 49ers e Washington estão conseguindo oferecer e manter tantos outros jogadores com contratos altos por enquanto. E enquanto outros times também se beneficiam dessa vantagem comparativa (49ers, Colts, Redskins e talvez Panthers), o Seahawks tem vantagem por dois motivos: Andrew Luck, Robert Griffin e Cam Newton foram todos 1st ou 2nd picks do draft, e portanto seu salário inicial é muito mais alto (quatro vezes mais) do que o de Wilson; e como ele foi draftado em 2012 e não 2011, a penchincha de Wilson vale por uma temporada a mais do que a de Colin Kaepernick (que só tem dois anos). Então pelos próximos dois anos (mais esse), o Seattle terá mais espaço relativo para reforçar o resto do seu time do que qualquer outro na NFL, e isso é uma grande vantagem.

Claro, isso depende da sua avaliação de como Russell Wilson é um franchise QB. Durante a primeira metade da temporada regular em 2012, ele foi basicamente Christian Ponder (ou pior, se contarmos o Fail Mary como uma interceptação), e durante a segunda metade, seus números são quase idênticos aos de Colin Kaepernick em San Francisco (apesar de uma tabela bem mais fácil, mas enfim). Qual deles é o verdadeiro Wilson? Eu me inclino a imaginar que seja mais próximo do segundo: Wilson era calouro e claramente teve problemas enfrentando adversários mais altos em um jogo muito mais veloz, uma situação diferente do que no College onde sua falta de altura não fazia tanta diferença. Mas Wilson se adaptou muito bem a NFL e ao seu novo sistema e começou a compensar essa falta de altura com muito scramble (para abrir sua visão sem jogadores na frente) e sua inteligência para ler defesas, algo que foi desenvolvendo ao longo do ano. Alguns fatores indicam que a reta final de Wilson teve algo de insustentável e deve sofrer alguma regressão (em especial uma taxa de interceptações historicamente insustentável), mas as ferramentas que ele mostrou são reais e fazem dele um jogador especial com 2m10 ou 1m40 de altura. Ele também terminou a temporada em 8th em QBR (69.6, embora esse números tenha sido bem aumentado pelo Fail Mary) e 6th em produtição ajustada por jogo, um ano espetacular, então não é como se não tivesse talento no meio. Mesmo com o potencial de regressão que Wilson apresenta, ele ainda vai ser um excelente QB indo para frente.

E mesmo assim, o ataque de Seattle não depende exclusivamente dele. Assim como seus rivais da Califórnia, o Seahawks baseia seu ataque em um fortíssimo jogo terrestre que terminou 2012 como o melhor da NFL nas costas de um monstro chamado Marshawn Lynch (terceiro melhor RB de 2012, per Football Outsiders) e das corridas de Wilson (não é coincidência que os três melhores ataques terrestres da NFL - San Fran, Washington e Seattle - são liderados por QBs que correm bem com a bola), o que abre muito mais o espaço aéreo do time. Lynch teve uma média incrível de cinco jardas por carregada, e tirando Adrian Peterson nenhum RB da NFL é melhor correndo e ganhando jardas após o contato, o que é importante considerando que essa linha ofensiva foi 19th na NFL apenas um ano atrás. Então o jogo terrestre vai continuar sendo a força motriz desse grupo, o que é ótimo considerando que o jogo aéreo enfrenta algumas dúvidas.

Não por causa de Wilson, já cobrimos como ele é bom. Mas porque o Seattle não tem um grande corpo de recebedores, uma fraqueza que eles tentaram cobrir trocando por Percy Harvin, que (previsivelmente) machucou logo na primeira semana e deve perder pelo menos seis jogos (possivelmente a temporada inteira). Sobra para a equipe Doug Baldwin, Golden Tate e Sidney Rice, três jogadores decentes mas nenhum realmente confiável, o que não é compensado com a presença de um bom TE como é o caso por exemplo do 49ers (Zach Miller não é grande coisa). Não que seja um grupo ruim, é um grupo com três bons role players com características que complementam bem seu QB, mas falta aquele alvo de confiança para desenvolver o entrosamento com Wilson e virar uma arma que exija dobras na marcação (o que aconteceu com Michael Crabtree no 49ers ano passado, por exemplo). Jogar com um grande QB como Wilson sem dúvida ajuda qualquer grupo de recebedores a parecer bom, então não existe realmente motivos para o Seahawks entrar em pânico sobre seu grupo de WRs, mas é um ponto fraco da equipe que pode acabar sendo exposto contra bons adversários.

A parte boa é que o ataque do Seattle não é como o do Packers ou do Saints que precisa produzir sozinho e compensar todas as áreas da equipe que não são tão boas. Na verdade, o Seahawks é um dos times mais completos e profundos de toda a liga, e não só conta com um ótimo ataque, mas também com uma das melhores defesas da NFL, ainda que com alguns pontos de interrogação. Em particular, a grande força dessa unidade vem da sua secundária, melhor do que talvez qualquer outra da liga: a equipe tem dois All-Pros em Richard Sherman (que foi engolido nos playoffs, mas enfim) e Earl Thomas (talvez o melhor FS da atualidade) e mais uma excelente dupla no CB Brandon Browner e no SS Kam Chancellor. É uma unidade extremamente física e atlética que faz um inferno da vida dos adversários com empurrões e trombadas sempre que possível, e não é a toa que foi a terceira melhor secundária de 2012 - no papel, para mim é A melhor (uma curiosidade dessa secundária: a unidade foi exatamente a mesma em 2011 e 2012, só que em 2011 eles foram a que mais marcou faltas de pass interference com essas trombadas, e em 2012 a secunda com menos faltas. Vai ver os juizes acostumaram). O problema do Seattle é a linha de frente: foi a 12th melhor defesa contra o jogo terrestre apenas, e na verdade foi uma área que despencou ao longo da temporada, sendo inclusive destruída nos playoffs por Michael Turner, um cara que agora não consegue encontrar emprego na NFL. Eles também tiveram sua dose de problemas criando pressão, especialmente quando Chris Clemons esteve machucado (enfim rompendo o ligamento nos playoffs). Esse último, na verdade, foi um problema que a equipe buscou resolver na free agency, trazendo o bom mas overrated Cliff Avril e o bom Michael Bennett se aproveitando daquele espaço salarial que o contrato de Russell Wilson lhes permite. Os dois são bons pass rushers que tem problemas contra corridas, então não resolvem muito o problema contra o jogo terrestre, mas são dois enormes ativos contra o jogo aéreo (se saudáveis, pelo menos, os dois já enfrentaram algumas lesões na pré-temporada) e também ajudam nessa área de ir atrás do QB. Então pelo menos no papel, é uma unidade que se reforçou consideravelmente sem perder nenhum jogador importante (tirando Bobby Wagner para suspensão, mas são só 4 jogos) e que ainda foi excelente ano passado (embora alguém cínico poderia apontar que piorou bastante chegando no final da temporada, 7th em DVOA ponderado).

Quando falamos de um time que deu um salto tão grande como esse, sempre podemos ficar com um pé atrás e olhar para alguns fatores que podem indicar uma regressão, e que acontece um pouco aqui. Mas os fatores de regressão do Seattle são interessantes porque podem significar a diferença entre "Superpotência favorita ao Super Bowl" e "time muito bom candidato ao Super Bowl", mas não são nem de longe tão fortes como os de Colts ou Vikings. É que para times que estão nesse patamar que o Seahawks está, as pequenas coisas podem fazer a maior diferença enfrentando outros times de elite. Mas vale citar que o Seahawks teve uma grande sorte com jogadores ficando saudáveis em 2012, inclusive entre jogadores com histórico de lesões como Russell Okung, e que isso já começou a dar errado em 2013 com várias lesões, e mais outras provavelmente acontecerão. Um outro ponto é que a defesa do Seattle foi extremamente eficiente forçando turnovers rumo a um saldo de +13, quinta melhor marca da liga, e algo que dificilmente vai se repetir em 2013 já que é uma estatística com grande flutuação ano a ano. Uma possível regressão do Russell Wilson já foi citada antes, também.

E por fim, tem o motivo mais bizarro de uma possível queda que eu escrevi em todos esses playoffs: PEDs. Nos últimos três anos, SETE jogadores do Seahawks foram suspensos pela NFL pelo uso de substâncias proibidas, e todos seguiam o mesmo padrão: calouros ou segundo-anistas que superaram em muito suas expectativas e seu status anterior. As últimas três suspensões foram para Bowner, Wagner e Sherman, três dos jogadores mais importante para a incrível volta por cima do time em 2013 (sim, Sherman evitou suspensão, mas foi pelo mesmo erro processual que o Ryan Braun usou em 2011, e todos sabem como essa história acabou). A NFL chegou mesmo a considerar uma investigação ou punição sobre a equipe do Seahawks já que nenhum outro time na NFL teve tantos jogadores importantes (e nessas circunstâncias duvidosas) sendo pego no antidoping, enfim decidindo por não tomar nenhuma ação imediata. Eu não faço idéia se o Seahawks como time está envolvido nisso ou se é simples coincidência, mas o fato é que alguns jogadores importantes para o time estavam ou estão se beneficiando de uso de PEDs, e agora não só esses jogadores serão testados com mais rigor (depois da primeira vez eles entram automaticamente no sistema de prevenção de PEDs da NFL) como a própria NFL vai manter a equipe em uma rédea muito mais curta em testes para os demais jogadores. Então se - e eu repito, SE - existe um benefício da equipe do Seahawks do uso de PEDs como essas suspensões parecem indicar, existe uma margem para erro. Eu não quero pular para nenhum tipo de conclusão ou fazer acusações, principalmente porque não temos todos os dados da questão, mas isso levanta algumas perguntas: qual foi o impacto dos PEDs na grande melhora de jogadores como Browner, Sherman e Wagner? Será irão conseguir manter o mesmo nível alto com esse controle maior (ou seja, menos PEDs)? Será que o time tem mais jogadores que estão usando PEDs e correm o risco de serem pegos pela NFL? Infelizmente não da para saber a resposta, o impacto disso pode ser enorme como pode ser absolutamente nulo, e não temos como prever: nenhuma equipe da NFL enfrentou situação semelhante nos anos recentes. Mas se estamos olhando do ponto de vista da possibilidade, então sim, existe um risco aqui para o Seahawks. E eu, como amante da NFL, só posso torcer para que não passe de fumaça sem fogo.

(Por algum motivo, PEDs ainda é um tabu enorme no mundo dos esportes americanos depois do que aconteceu na MLB ao longo dos últimos 15 anos, e as pessoas são extremamente chatas com relação a isso, então para esclarecer de uma vez por todas: esse último parágrafo é composto apenas de especulações com base em alguns fatos recentes - no caso, as sete suspensões do Seattle por PEDs nos últimos anos e a possível investigação da NFL - e não possui qualquer conteúdo definitivo ou especializado, ou mesmo tenta provar - ou sequer concluir - que exista uma grande conspiração Biogenesis por trás disso tudo. Estamos apenas analisando possibilidades que apareceram recentemente com base em fatos. Se não concordarem, ótimo, nada é melhor no mundo dos esportes do que debater de forma inteligente e racional com pessoas com opiniões diversas, mas não me torrem o saco por tocar nesse assunto tabu só porque todo mundo encolhe de medo quando ele aparece. Obrigado)


Mas sinceramente, em termos de two-way teams (ou seja, times que são bons dos dois lados da bola), Niners e Seahawks são os melhores que você vai encontrar na NFL: duas defesas de elite (Seattle construída em torno da secundária, SF em torno da linha de frente) e que simplesmente desgasta os adversários com seu jogo físico, dois ataque explosivos baseados no chão e com enorme potencial, e dois times extremamente completos entre o primeiro e o último jogador do seu plantel. Eles são times capazes de executar todos os tipos de função em um campo de futebol americano, se adaptar a qualquer estilo e enfrentar qualquer adversário por conta da sua flexibilidade, e por isso são para mim os dois melhores times da NFL na atualidade. Se a defesa está num dia ruim, eles podem vencer qualquer adversário no volume de ataque, e se o ataque não estiver produzindo bem, podem ganhar jogos de placar baixo com suas defesas. Os dois tem suas falhas, mas também tem tantas forças que compensam com sobras. É realmente impossível escolher entre um dos dois para ir melhora, então faço para o Seahawks a mesma previsão que fiz para o Niners: 11 ou 12 vitórias e uma vaga nos playoffs. Seattle tem um calendário mais fácil e um estádio mais difícil para visitantes, mas também possui alguns fatores de regressão mais interessantes como já vimos antes. Para mim a disputa entre esses dois vai acabar sendo decidida em fatores menores como jogos por uma posse de bola, melhor sorte com uma lesão ou outra ou mesmo no confronto direto. E se tudo der certo, estamos assistindo o nascimento de uma das melhores rivalidades da NFL pelos próximos anos.