Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Preview NFL 2013 - Arizona Cardinals


Só estando livre assim para os QBs acertarem o passe


Nessa série de previews já falamos de 31 times diferentes, incluindo toda a AFC East, South, North e West e das NFC East, South e North, mais o San Francisco 49ers, Seattle Seahawks e Saint Louis Rams. Você pode acessar todos os previews direto do nosso índice. Se você não tem ideia do que estou falando, recomendo que leia esse post introdutório. Btw, a falta de crases nesse texto é porque esse teclado não tem crase, então não reparem, ok?

Arizona Cardinals

2012 Record: 5-11
Ataque ajustado: 32nd
Defesa ajustada: 6th


Quase por milagre, chegamos ao final da nossa série de previews ainda antes do começo da temporada regular. E fechamos com chave de... chave de fenda, porque é hora de falar do Arizona Cardinals e seu ataque "espetacular".

Em parte, eu sinto alguma pena do Cardinals, especialmente depois daqueles times sensacionais de 2008 e 2009 com Kurt Warner e Larry Fitzgerald. Eles eram os times mais divertidos de se assistir da NFL, times explosivos liderados por dois talentos excepcionais que pareciam as zebras no começo e que quando o jogo acabava, deixavam todos com aquela cara de "alguém anotou a placa?!". O melhor exemplo provavelmente foi o lendário duelo com o Packers de Aaron Rodgers no Wild Card de 2009, que acabou 51 a 45 em OT com Rodgers e Warner combinando para 800 jardas e 9 TDs (não foi um erro de digitação), mas então foram derrotados pelos eventuais campeões Saints, Warner se aposentou, Cardinals fez uma troca ousada por Kevin Kolb para substituí-lo... e o resto todo mundo sabe como acabou.

Ainda assim, eu tinha começado esse texto com um "vamos falar da vergonha que foi o Cardinals", mas achei injusto na última hora. Não me entenda errado, algumas coisas nesse time foram vergonhosas sim, no caso o ataque. Mas ainda assim, isso seria uma injustiça imensa com a defesa do Cardinals, e precisa ser levado em conta alguns fatores atenuantes, principalmente o calendário. Mas toda vez que um time termina a temporada como o segundo pior time em eficiência ajustada da NFL na frente apenas do 2-14 Chiefs, é porque tem algo errado - muito errado - com ele.

Ontem, eu disse que é praticamente um pré-requisito obrigatório para jogar na NFC West ter uma defesa dominante, com os quatro times da divisão estando entre as sete melhores defesas da NFL. Naturalmente, o Cardinals não é a exceção: a defesa do Cards terminou o ano como a sexta melhor da liga inteira, o que é impressionante considerando a falta de ajuda que o ataque lhe deu, o que significava más posições de campo, pouco controle no relógio (ou seja, a defesa tinha que ficar tempo demais em campo e se cansar mais) e adversários que podiam ser conservadores e jogar com calma pois  estavam sempre na frente no placar e confiantes que o ataque de Arizona não iria causar estragos. É incrível então que essa defesa tenha conseguido sobreviver ao ano inteiro sem começar nenhuma briga no vestiário, muito mais terminado como uma unidade de elite e sexta melhor da NFL. 

Mas como vocês já devem ter imaginado, se você foi um time horrível que terminou com a segunda pior eficiência da liga e ainda teve uma defesa de elite, o time só pode ter tido um ataque historicamente ruim. E para a surpresa de ninguém, sim, o Arizona Cardinals teve um ataque historicamente ruim que envergonhou praticamente todo o estado do Arizona e sozinho foi responsável por tirar o Diamondbacks dos playoffs da MLB. Na verdade, usando os dados do excelente Football Outsiders para ataques ponderados, o ataque do Cardinals de 2012 foi o pior desde o do 49ers de 2005, um time historicamente ruim cujo QB titular (rookie Alex Smith) passou para 1 TD e 11 interceptações (de novo, não foi erro de digitação). Então a pergunta relevante é: como diabos o Cardinals conseguiu ter uma defesa tão boa, e como tiveram um ataque tão ruim capaz de cancelar quase todo o bom efeito dessa defesa?

Para começar, alguns dados desse ataque: em toda a NFL, o Cardinals foi o pior time - de longe - controlando o relógio, com suas campanhas durando em média apenas 2:15 cada. Isso pode e deve ser atribuído ao enorme número de 3-and-outs desse ataque: nenhum time teve mais, e nenhum time teve menos jogadas por campanha ofensiva (5.0) ou gerou menos jardas por campanha (20.1, mais do que quatro jardas a menos que o segundo pior Jaguars) do que esse. Junte todos esses fatores e não assusta saber que nenhum time na liga inteira gerou menos pontos por campanha ofensiva do que o patético 1.1 gerados pelo ataque do Cardinals, com apenas 22% de suas campanhas ofensivas terminando em touchdowns (adivinhe: pior marca da liga). E o que talvez seja ainda mais trágico do que isso é o fato de que o ataque teve esse nível horroroso e patético mesmo começando suas campanhas com a sexta melhor posição de campo entre todos os times, fruto de uma fortíssima defesa e bom special teams. E mesmo assim, o resultado ofensivo foi esse show de horrores. Vale citar também que nenhum time totalizou menos jardas do que as 4209 da equipe, apenas três cometeram mais turnovers que seus 34, e apenas o ataque do Jets lidera o Cardinals no quesito "mais ataques cardíacos provocados" (ok, esse último pode não ser bem verdade).

Achar as causas para tamanha futilidade é muito simples: é só olhar para qualquer lugar, e você vai achar uma causa. O jogo terrestre era patético. A linha ofensiva era uma ofensa ao esporte. Os quarterbacks não deviam estar nem sequer ser permitidos dentro de um estádio de futebol americano. E ai você percebe que a causa principal desse ataque horrível era simplesmente que o time não tinha bons jogadores tirando Michael Floyd e Larry Fitzgerald. O jogo terrestre simplesmente não funcionou o ano inteiro, por dois motivos: a linha ofensiva horrível era absolutamente incapaz de abrir espaços (Football Outsiders a coloca como a pior - por uma margem absurda - em jogadas de corrida), e os RBs da equipe não tinham a velocidade ou explosão suficiente para aproveitar os pequenos espaços que tinham ou mesmo para abrir espaços com força. Não a toa o Cardinals acabou com a pior marca da NFL em jardas por corrida com um ridículo 3.4 e o pior jogo terrestre da liga, por DVOA, jardas por jogo ou qualquer métrica que você queira usar. E pelo ar, as coisas não ficam muito melhores: dos 39 QBs qualificados que tentaram 100 passes ou mais, Mark Sanchez ficou em 37th em QBR com um ridículo 23.4. Os dois que conseguiram ser ainda pior? Os dois QBs do Cardinals na temporada 2012, John Skelton (13.9) e Ryan Lindley (9.8 - meu computador tentou explodir ao calcular isso). Holy sh... Quanta mediocridade em um só lugar!! É claro que parte desses problemas com QB vieram dessa horrível linha ofensiva, mas ainda assim... Ryan Lindley e John Skelton? Junto com Kevin Kolb (uma das raras trocas da NFL que deu abismalmente errado para todo mundo envolvido), os QBs de Arizona combinaram para 11 TDs e 21 interceptações, 5.6 jardas por passe, e um ataque aéreo atroz que faz alguns times da CFL parecerem o Patriots de 2007. Então não é difícil ver aonde tudo deu errado.

O Cardinals era um time que provavelmente teria ganho mais otimismo nessa espaço algumas semanas atrás, porque realmente tinha feito investimentos para sair desse patamar assustadoramente horrível. Sua linha ofensiva tinha sofrido um upgrade significativo, com a chegada de Eric Winston (ex-Texans), a perspectiva de uma temporada inteira de Levi Brown (que machucou antes da temporada passada começar) e, talvez mais importante, o draft do excelente guard Jonathan Cooper, que eu elogiei como o melhor guard a entrar na NFL anos. Atrás de essa reforçada linha ofensiva, o Cardinals também vinha com novas peças importantes, com um novo quarterback em Carson Palmer e um novo RB em Rashard Mendenhall. Nenhum desses - tirando Cooper - seria um jogador brilhante que mudaria o destino da franquia, mas em comparação ao que a equipe ofereceu ano passado, todos seriam uma melhora: Palmer não é relevante na NFL já faz alguns anos e teve um QBR de 44 ano passado com Oakland, mas ele tem um braço forte e sabe jogar uma bola para cima, o que já é melhor do que qualquer QB do time desde Warner ofereceu para seus bons recebedores, e alguém precisa enfim tirar vantagem de Larry Fitzgerald nessa equipe; Mendenhall era um RB de qualidade um ou dois anos atrás, perdeu espaço por conta de lesões mas que ainda é superior ao que o time podia oferecer; e se colocar eu e o meu editor Marcelo para jogar na linha ofensiva do Cardinals, acho que ela já ficaria melhor, então algum reforço Winston e Brown vão dar.

O problema foi que Cooper quebrou a perna, uma lesão bastante problemática para linemen e que o Cardinals, não querendo arriscar, logo o colocou no IR, o que significa que não deve jogar esse ano. Isso é um problema significativo, porque muito do que a equipe procurava ofensivamente para esse ano passava pelo calouro que eles esperava que pudesse entrar e produzir em nível Pro Bowl logo de cara. Winston e Brown vão ajudar, mas nenhum é exatamente uma força física dominante, e Arizona estava contando com Cooper pelo meio para abrir caminho para um jogo terrestre revitalizado. A saida de Cooper também deixa o meio dessa linha ofensiva simplesmente horroroso, sem nenhum outro jogador sequer decente, então Levi e Winston terão que se desdobrar ainda mais para conseguir proteger Palmer, e eu duvido que consigam sem nenhuma ajuda. Isso significa uma perda enorme para o jogo terrestre, e significa que a vida de Palmer vai envolver muito mais corridas para escapar de recebedores do que ele gostaria. Isso limita consideravelmente o tamanho dessa melhora - seria um time muito melhor se o jogo terrestre pudesse se estabelecer e Palmer trabalhasse com mais tempo e no play action - mas sugerir que esse ataque ja não deva ser consideravelmente melhor do que o de 2012 é um absurdo. Não que isso signifique muito, mas se a defesa continuar sendo esse grupo de elite, pelo menos o ataque não vai mais afundar tanto assim.

(O maior vencedor disso tudo? Provavelmente Fitzgerald, que vai jogar com um QB semi-respeitável pela primeira vez em quatro anos. E meu time de fantasy, do qual ele é titular, também)

A defesa, como eu já disse, foi incrível em 2012: Daryl Washington explodiu e teve o melhor ano da sua carreira (com nove sacks, um número absurdo para um MLB), Patrick Petterson evoluiu no cornerback de elite que todos esperavam, a secundária contou com grande produção dos veteranos William Gay, Kerry Rhodes e Adrian Wilson para terminar como a segunda melhor de toda a liga, e basicamente tudo encaixou no lugar certo para eles. Esse grupo contou com alguns jogadores fora de série - Washington, Petterson, Calais Campbell, Darnell Docket - e mais um bom conjunto de role players veteranos - Gay, Rhodes, Wilson - para ter uma temporada realmente espetacular. Alguns papeis ainda precisavam ser preenchidos - em especial, melhorar o grupo de linebackers ao redor de Washington - mas a fundação estava pronta.

E a equipe conseguiu: trouxe dois bons OLBs (Lorenzo Alexander, saindo de um carrer-year, e John Abraham, que vai ter muito mais espaço do que em Atlanta com Dockett e Campbell na linha de frente) e trouxe de volta Karlos Dansby para compor o meio dessa defesa. Foram adições muito boas e nas posições mais carentes do time, que provavelmente colocariam essa defesa um nível acima. O problema é que assim como chegaram alguns veteranos muito sólidos para completar esse grupo, os veteranos muito sólidos que completaram o grupo ano passado foram todos embora: Rhodes, Gay e Wilson estão fora da cidade, e agora o Cardinals está tentando tapar esses buracos com alguns journeymen muito pouco comprovados como Javier Arenas e Yeremiah Bell. O wild card provavelmente é como Tyrann Mathieu vai se comportar e render essa temporada, mas ainda é um ponto de interrogação. Mathieu é dinâmico e atlético suficiente para causar um impacto, mas sempre foi indisciplinado, baixo e teve alguns problemas na cobertura, então as dúvidas existem. Vale citar também que Daryl Washington está suspenso pelos primeiros quatro jogos da equipe, o que deve ter um impacto bem negativo na franquia.

E em resumo, é de se esperar que a defesa continue muito sólida contra corridas e até melhore sua pressão com Abraham por lá, mas a principal força dessa defesa em 2012 - sua espetacular secundária - não existe mais. Então ainda que continue com grandes talentos - em especial Peterson - esse grupo está basicamente se reinventando entre uma temporada e outra, o que geralmente é um problema. Eles ainda devem ser muito bons defensivamente, mas quão muito bons vai depender de como essa defesa aérea vai segurar sem os bons jogadores do ano passado, e é um risco. Mas o ataque vai ser melhor - em parte porque pior não tem como ser, mas enfim - ainda que seu potencial seja limitado pelo fato de que Cooper está machucado e PAlmer não é um grande QB. Mas com uma tabela mais fácil do que o corredor da morte de 2012 (tabela mais difícil da NFL por uma boa margem) - ainda que seja difícil mesmo assim - e um ataque que pode passar de "historicamente atroz" para "abaix o da média", o Cardinals tem tudo para ser um time decente em 2013. Calendário muito difícil e essas questões sobre sua defesa ainda são um problema que me fazem colocar o Cardinals apenas a 6 ou 7 vitórias, mas se essa defesa conseguir manter o nível e a intensidade com suas novas contratações, é um time que vai dar muito trabalho em 2013, ainda que dificilmente vá ter cacife para desbancar Niners ou Seahawks. Mesmo assim, um 2013 melhor do que 2012 está ao alcance da equipe.

3 comentários:

  1. Oi Vitor,
    Impressionante sua disposição para analisar as 32 equipes da NFL.
    Terminada essa sua saga, qual o seu palpite para o Super Bowl 48?

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    1. Achei que não ia dar tempo, mas deu... por pouco hehe

      Não gosto de dar palpites para Super Bowl porque os playoffs são aleatórios demais, dependem demais de uma ou outra jogada de sorte. Se em 16 jogos, como temos visto, a influência de fatores já é tão grande, imagina em um só. Então evito meu palpite pro Super Bowl. O que eu POSSO te dizer é que, no papel, Broncos e Seahawks/49ers são os melhores times da NFL.

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    2. Bom... não deixa de ser um palpite rsrsrs
      Acho que é quase unânime a força dos Broncos na AFC, não é mesmo? Resta ver se Peyton Manning vai realmente provar que é decisivo. Eu hoje apostaria em Denver e San Francisco, com Seattle no encalço. Vai ser uma grande temporada.
      Abç

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