Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Pensamentos rápidos e aleatórios sobre o Super Bowl XLIX

Malcolm Butler, para a história


O Super Bowl XLIX agora é passado. New England, que da última vez saiu de Arizona com uma das mais surpreendentes derrotas da história da NFL, agora sai coroado com seu quarto título, depois de 10 anos do último. Tom Brady se juntou a Joe Montana e Terry Bradshaw como os únicos QBs a vencerem quatro anéis, Bill Belichick se juntou a Chuck Noll como os únicos técnicos com quatro Super Bowls (em títulos totais ainda ficam atrás de Vince Lombardi e George Halas) e Malcolm Butler virou uma celebridade da noite para o dia. 

A noite de ontem foi intensa demais para escrever uma coluna séria e coerente sobre o Super Bowl, e o tempo também está em falta no momento. Ainda assim, tem algumas coisas que precisam ser ditas - ou melhor, que eu quero dizer - sobre esse Super Bowl que não podem passar de hoje. Então deixo aqui alguns pensamentos e considerações curtos sobre esse magnífico Super Bowl.


- Antes de mais nada, parabéns ao New England Patriots e aos seus muitos torcedores. O Patriots tem alguns dos torcedores mais chatos que eu já conheci, mas também tem os mais fanáticos e mais apaixonados, e a franquia em si é um exemplo ímpar de consistência e excelência no futebol americano. Nos últimos 14 anos, New England foi a seis Super Bowls, venceu quatro, e só deixou de ir aos playoffs duas vezes. Eles venceram 76% de seus jogos (170) de temporada regular nesse período, de longe a melhor marca da NFL (Colts, 150 e 67%, em segundo). Eles venceram 21 jogos de playoffs nesses 14 anos, quase o dobro de Colts e Steelers (12 cada), os segundo colocados. Ter um QB histórico como Tom Brady - especialmente nessa era que cada vez mais protege os QBs e os passes, fazendo um QB ter condições de impactar mais um jogo do que a 20 anos atrás - sem dúvida que ajuda, mas mesmo além dele, a organização sempre foi um exemplo de eficiência, maximizando seus ativos no Draft, achando valor em jogadores menores, sempre se reinventando e retomando o topo. Bob Kraft é o melhor dono da NFL, e Belichick o melhor técnico, e não a toa sempre trabalharam juntos, tirando o melhor um do outro. Sabe, ao contrário de outra franquia que tinha um dos melhores técnicos da NFL mas cujo dono quis demiti-lo para contratar alguém que fosse seu pau mandado. Uma boa franquia começa de cima, e o Patriots tem isso mais que qualquer um. Uma vitória merecida, para o time e a sua torcida, e com sabor extra depois que muita gente correu para descartar New England quando perdeu do Chiefs na semana 4.


- Na minha vida, o melhor Super Bowl de todos foi em 2009 (mas o da temporada 2008), entre Arizona Cardinals e Pittsburgh Steelers. Em termos de jogo bem jogado, emoção, reviravoltas e puro e simples nível de entretenimento, eu não tenho certeza que um dia algum Super Bowl superará aquele. Ele foi perfeito demais. 

Mas o Super Bowl XLIX foi um dos melhores de todos os tempos em seu próprio mérito. O primeiro tempo foi feio e cansativo, e o jogo não pegou fogo até o quarto período. Mas foi um quarto período para a história. Duas campanhas perfeitas de um dos maiores QBs da história do esporte para virar um jogo que muitos deram como perdido, a quase virada de Seattle, a recepção absolutamente bizarra do Jermaine Kearse (qualquer torcedor do Pats que disse que não teve flashbacks pra recepção do David Tyree ou está mentindo ou não assistia NFL na época), Seattle praticamente garantindo o jogo, dois erros técnicos grosseiros em um espaço de 30 segundos (chegaremos neles), e uma jogada improvável (e isso é um understatement) para uma das maiores reviravoltas da história do Super Bowl. Considerando quanto tempo faltava, onde a bola estava, o que estava em jogo, o fato do Seahawks ter Marshawn Lynch pronto para entrar na end zone - tinha três tentativas para isso - e quem fez a jogada (um calouro não-draftado da divisão II da NCAA), acho que não caio em hipérbole ao dizer que foi uma das jogadas mais improváveis da história do futebol americano. Foi tão maluca, tão surreal, que eu fiquei dois segundos parado tentando processar o que aconteceu antes de finalmente cair a grande ficha. É exatamente assim que você quer que seu domingo termine.


- Eu não sei se foi Darrell Bevell ou Pete Carroll que chamou a jogada final de Seattle - supostamente foi Carroll - mas, considerando situação, conjuntura, alternativas e que era o freaking Super Bowl, foi a pior chamada de um técnico da história do futebol americano. Você tem Marshawn Lynch - talvez o melhor RB da NFL e sem dúvida o melhor da liga em termos de força física e de conseguir jardas extras, o cara que é seu melhor jogador ofensivo e foi a alma do seu time por três anos - você tem um tempo pra pedir, você ainda tem tempo no relógio, e três jogadas para conseguir UMA JARDA. Um touchdown te da 99% de chance de vencer, e New England não tem esperanças de segurar Marshawn Lynch (4.4 YPC, 102 jardas na partida), tendo a pior defesa da temporada contra o jogo terrestre em situações de "força", per Football Outsiders. A única esperança - mínima - do Patriots ali era conseguir um turnover milagroso, mas Seattle nunca chamaria uma jogada para dar essa chance sendo que dar a bola nas seguras mãos de seu RB tem uma chance maior de sucesso.

Mas ao invés de dar a bola para Lynch, inexplicavelmente, Seattle decidiu ir para um passe, que Malcolm Butler interceptou. Não existe NENHUM motivo cabível pro Seahawks ir pro passe ali. Considerando que só precisava de uma jarda e que a única esperança do Patriots era um turnover, não tem porque ir para uma jogada onde você coloca a bola no ar e arrisca essa interceptação. Sim, ir para a corrida pode ter um fumble, mas indo para o passe você pode sofrer um sack (que dificultaria consideravelmente as ultimas tentativas), um fumble ou uma interceptação, muito mais opções negativas. Além disso, a corrida também tem muito mais chance de sucesso: nos últimos dois anos, dentro da linha de uma jarda, times converteram 57% de suas jogadas de corrida em touchdowns (e sofreram fumbles em 0.9% delas), enquanto que só 49% de suas jogadas de passe viraram TDs (com 6.2% das jogadas virando um turnover e/ou um sack, as duas jogadas que Seattle absolutamente devia evitar). E isso antes de entrar no mérito que você tem MARSHAWN LYNCH, seu melhor jogador e RB mais imparável da NFL, para correr com a bola, que você teve o melhor ataque terrestre da temporada, e que o Patriots foi o pior time de 2014 defendendo a corridas em situações de curtas distâncias. Então não só você tirou a bola das mãos do seu craque, mas fez isso para ir atrás de uma jogada de maior risco e menor chance de sucesso, em um lance onde você ABSOLUTAMENTE devia evitar um turnover a todo custo. Foi uma decisão historicamente estúpida, que custou um Super Bowl ao seu time nos segundos finais. É verdade que uma interceptação ali não é um cenário provável e a INT foi um pior cenário possível, mas porque ir para uma jogada que te da esse pior cenário possível? Em um vácuo, a decisão ja foi ruim, mas considerando os times e os jogadores envolvidos, ela se torna genuinamente horrível. Adicione que ela foi a jogada decisiva de um Super Bowl, na linha de 1 jarda, faltando 30 segundos e que causou uma mudança de mais de 80 pontos percentuais na expectativa de vitória das equipes, e você tem a pior chamada da história da NFL.

O TM Warning conseguiu vídeos exclusivos do que se passava na cabeça do Pete Carroll naquele momento.




- Pior do que a decisão de ir para o passe naquela situação foram as desculpas que Carroll e Bevell deram depois do jogo para explicá-la. Bevell disse que ainda tinha muito tempo no relógio e o time queria gastá-lo até o fim, o que é uma explicação que faz sentido só se você estava em Seattle e consumiu 1 kg da maconha "Marshawn Lynch". Esqueça a interceptação - qual o upside disso? Se é TD, tem exatamente o mesmo efeito de uma corrida, e New England ainda recebe a bola com 30s e dois tempos pra tentar um FG. Se o passe é incompleto, você para o relógio sem queimar um tempo do Pats. Porque diabos então você chamaria essa jogada para gastar o relógio?!

As de Carroll não foram muito melhores. Embora ele tenha assumido a responsabilidade pela chamada e pela derrota, ele disse que o fez porque o Patriots estava em formação de goal-line, o que simplesmente não era verdade (o próprio Darrelle Revis confirmou o que a gente viu). E depois, para piorar, defendeu a chamada dizendo que, como o Pats estava em sua formação de goal-line (não estava), achou que não era um bom matchup para correr e que portanto chamou um passe para "queimar uma jogada" ou "jogar a jogada fora". Não, sério, eis o que ele disse no original, via Ian O'Connor da ESPN: "It [the goal-line defense] is not the right matchup for us to run the football, so on second down we were throwing the ball to kind of waste the play". 

... oh, God. Isso é muito ruim. 2nd and goal, 30 segundos no relógio, no freaking SUPER BOWL, perdendo de 4, você não confia na sua maior força e chama uma jogada para jogar uma descida fora?! É a pior explicação de uma chamada ruim que eu vi nos últimos tempos. Para usar uma analogia do Michael Lewis, parece uma rotina dos irmãos Marx, onde um está pegando fogo e o outro tenta apagar jogando nele um balde escrito "QUEROSENE".



- Quanto de culpa teve Russell Wilson na interceptação decisiva?

Como sempre, é muito difícil dizer com certeza, mas podemos tentar. Primeiro de tudo, a chamada do passe não foi dele - veio do banco, e ele não me pareceu fazer nenhum grande ajuste na linha a não ser talvez redistribuir os jogadores. Então o maior erro da jogada já passa por fora de Wilson.

Dada que a jogada chamada já era um passe, então a primeira coisa que chama a atenção é que Wilson fez a leitura certa na linha de scrimmage. Eis a situação da jogada antes do snap.



Considerando que o Hawks vai para o passe, Wilson olha para a parte de baixo do campo e ve Kearse e Lockette no mano a mano com Browner (marcando Kearse próximo a linha) e Butler (marcando Lockette a distância). Identificando o elo fraco da defesa do Pats (Butler, o quinto CB do time), a jogada ainda vai tirar vantagem desse matchup. Kearse vai "atacar" Browner, bloqueando-o próximo a linha, e com o DB que marca a linha fora da jogada, Lockette vai usar essa liberdade para cortar em direção ao espaço no meio sem ninguém acompanhando-o. A jogada, no primeiro momento, funciona como esperado - Kearse tira o CB da jogada, e Lockette corta para o meio com muito espaço próximo a linha. Wilson vê que Browner não conseguiu acompanhar Lockette no slant, vê o camisa 83 sem acompanhamento, e lança o passe na direção do espaço para onde ele se dirige. É a jogada que Seattle queria.



Eis o grande problema do passe: Wilson joga para Lockette porque viu que Browner está fora do lance, abrindo espaço no meio, mas em nenhum momento ele vê Butler se aproximando da jogada. Não sei se ele literalmente não vê Butler (que estava atrás de Browner no seu campo de visão) ou se achou que ele não chegaria no lance, mas é um erro grave de leitura, especialmente porque Butler não está acompanhando Lockette - ele está cortando diretamente para o mesmo lugar que ele e se colocando na mesma zona para "receber" o passe. E o passe sai ruim - não é um passe baixo ou um passe próximo ao corpo de Lockette onde ele possa usar o corpo de "escudo" e pelo menos evitar uma interceptação, mas um passe alto e na frente do seu corpo, onde Butler tem espaço de sobra para fazer uma jogada na bola.

A minha impressão é que ele não viu Butler, seja porque estava fora do seu campo de visão ou por um erro de leitura mesmo. Se visse o DB do Patriots, ele possivelmente ainda teria ido atrás de Lockette - que era sua primeira leitura em uma jogada rápida, e que conseguiu a separação na linha que ele esperava, a jogada que eles queriam desde o começo - mas certamente teria feito um passe mais próximo do seu corpo, e não um tão longe e tão pendurado para o defensor fazer uma jogada. Então foi um erro de leitura, e um passe ruim que permitiu ao defensor fazer a jogada. Mas ainda assim, é difícil colocar demais no prato dele: ele fez a leitura certa antes da jogada, conseguiu a separação do WR que queria, e ninguém esperava que um calouro não-Draftado de West Alabama fizesse uma jogada fantástica dessas. Cada um pode tirar as próprias conclusões a partir dos fatos que eu mostrei acima, mas a meu ver, embora tenhamos que reconhecer que Wilson (que fez ótima partida) fez uma jogada ruim (especialmente na leitura da defesa), na hierarquia isso só vem depois de dar muitos méritos ao Butler por uma jogada fantástica e improvável e de dar os devidos pescotapas no Carroll por essa chamada atroz. 


- A péssima, SB-losing decisão do Carroll acabou tirando o foco de uma inexplicável e péssima decisão do Bill Belichick de não pedir um tempo depois a primeira descida de Seattle. A jogada de Seattle acabou com pouco mais de 1m no relógio, e New England tinha dois tempos para pedir. Inexplicavelmente, Belichick não pediu tempo, e o relógio correu para 25 segundos antes da jogada seguinte de Seattle. 

É uma decisão horrível. New England estava com vantagem de 4 pontos, então mesmo se tomasse um TD, ainda poderia empatar com um field goal. O problema é que deixar o relógio correr esses 40 segundos praticamente tirava todo o tempo que o Patriots poderia ter para empatar. Se New England pede um tempo e toma um TD na jogada seguinte, teria quase 1 minuto e um tempo pra empatar o jogo com um FG. Como não pediu, se Lockette faz o TD ali, o time teria 20, 15 segundos e dois tempos pra empatar, muito menos e uma situação infinitamente mais difícil. Caso ele peça tempo, o pior cenário que poderia acontecer em termos de tempo no relógio seria caso Seattle corresse 2x e não anotasse o TD, forçando New England a usar o último TO e depois gastarem mais 40s do relógio... mas dai teriam uma quarta descida, e se é pra ter 20 segundos no relógio, tenho certeza que é bem melhor uma 4th down do que uma 2nd and 1. Não usar o timeout ali poderia ter custado o jogo ao Pats. Belichick é o melhor técnico da NFL e um dos melhores da história da liga, mas foi um erro grosseiro da parte dele. 


- Quer dizer que até mesmo o Imperador Palpatine da NFL tem um lado sentimental? Talvez minha foto favorita do Super Bowl. Aliás, Greg Popovich - outro técnico histórico famoso pelo mal humor e pela fama de durão - também chorou um monte ano passado quando foi campeão da NBA. É o outro lado de ser um filha da mãe ultracompetitivo. Quando você alcança o seu objetivo final depois de tanta superação, é ainda mais gostoso e emocionante. 




- Por falar em Popovich, é coincidência que Spurs e Patriots - os dois times mais vitoriosos e consistentes dos EUA no milênio - finalmente deram a volta por cima e ganharam títulos em 2014 (tecnicamente o do Pats foi 2015, mas você entendeu. A temporada era 2014) com suas estrelas aos 37 anos e no final de suas carreiras? A do Patriots foi mais sofrida, a do Spurs mais dominante, mas ambas incrivelmente memoráveis. 


- O primeiro tempo, em particular, foi uma aula de tática da parte do Patriots. Seattle dominou o ano todo usando sua tática habitual, e seu jogo de sempre, mas New England sabe que não tem tanto talento em campo como seu adversário, mas tem muito mais técnico. E uma das coisas que fez de New England tão bom o ano todo foi sua capacidade de se adaptar e se preparar para cada adversário que enfrentou.

Ontem não foi exceção. Sabendo que Seattle tinha mais talento, New England se propôs a vencer o jogo na tática, e no primeiro tempo deu uma aula disso. Seattle gosta de jogar com os safeties no fundo do campo, tirando a opção das bolas longas e protegendo as costas de seus CBs, enquanto confia no físico de seus cornerbacks para controlar a linha de scrimmage por conta própria. Mas Sherman, Thomas e Chancellor estavam jogando com lesões, e New England começou o jogo disposto a explorar isso, fazendo passes curtos e laterais e forçando os defensores um tanto baleados de Seattle a fazer tackles em campo aberto, tendo algum sucesso em jardas após a recepção. Mas depois que Jeremy Lane saiu com uma fratura feia no braço, o Seahawks foi forçado a usar seu reserva, Tharold Simon. Era o que o Pats precisava.

New England imediatamente começou a atacar Simon, claramente o elo fraco da defesa do time de Washington. Aproveitando que os safeties de Seattle jogam em profundidade e que Simon não tinha condição de marcar próximo a linha os WRs de New England, o ataque do Patriots começou a explorá-lo e os espaços atrás dele em rotas curtas, slants e passes a partir do backfield para Shane Vereen. Simon não teve condições de aguentar a atenção - 7 passes, 96 jardas e 2 TDs para Brady lançando na sua direção - e foi batido várias vezes seguidas. Simon não conseguia marcar Edelman sem ajuda de um safety, mas deslocar um safety iria tirar Seattle da sua zona de conforto, e era o que New England queria. Quando o Hawks tentava deslocar algum jogador do meio para ajudar Simon, Brady fazia-os pagar com Vereen ou uma rota cruzando pelo meio. Até que por fim, Seattle cedeu e em uma jogada colocou Earl Thomas próximo a linha de scrimmage para marcar os passes curtos. Era a oportunidade que New England esperava. Brady alinhou Gronkowski aberto no mano a mano contra KJ Wright, pela primeira vez sem ajuda do safety nas costas, e um duelo que sem uma cobertura atrás Gronk vai vencer 95% das vezes. Gronk facilmente bateu Wright para um TD longo, na coroação de uma sequência perfeita do ataque de New England. O outro TD do Patriots no primeiro tempo veio, claro, em um slant de LaFell em cima de Simon, que continuou a ser atacado com os safeties em profundidade.

O primeiro tempo foi uma aula tática do Patriots pra cima do Seahawks, e só não conseguiu abrir vantagem por causa dos próprios erros. A interceptação besta de Brady na red zone, a facemask de Arrington, a corrida cedida num draw do Seattle que deveria encerrar o primeiro tempo que foi para 17 jardas - sem os dois primeiros erros, New England vai para o vestiário vencendo por 7 pontos, e sem o terceiro, por 10 pontos. Ao invés disso, errou e o jogo permaneceu apertado. 

No segundo tempo, Seattle retomou o controle do jogo mesmo sem um grande ajuste tático, mas simplesmente porque começou a executar muito melhor. A única mudança foi passar Michael Bennett para o interior da linha, e deu muito certo - ele demoliu os linemen inexperientes do Patriots no interior, e ele e Cliff Avril fizeram do Patriots a vida miserável, destruindo a linha ofensiva e deixando Brady sem tempo nem ritmo no pocket para fazer seus passes, que dependem tanto de timing, funcionarem (a saída de Cliff Avril com uma concussão foi um fator chave para o ataque do Patriots voltar a funcionar no quarto período). A saída de Avril fez o Patriots retomar o domínio da linha (aumentando as atenções sobre Bennett) e ganhar tempo para Brady no pocket, e assim pode voltar a executar seu esquema bem pensado: atacar Simon (que foi absolutamente abusado por Edelman na red zone), e explorar o meio do campo quando os linebackers de Seattle se deslocavam para cobrir os CBs batidos de Seattle. Mesmo que a jogada decisiva da partida tenha sido na defesa, foi uma performance fabulosa de Belichick e da comissão técnica montando e adaptando um plano de jogo perfeito para o ataque que levou a melhor sobre a excelente defesa do Seahawks.


- Por falar em decisões técnicas, Pete Carroll recebeu críticas totalmente merecidas por sua ridícula chamada no passe decisivo, mas ele também cometeu um outro erro crucial na partida que pode ter custado seu time. No começo do terceiro quarto, Seattle chegou na linha de 8 jardas do Patriots, mas viu Lynch ser pego em uma jogada de option que deu errado para nenhum ganho. Com uma 4th and 1 da linha de 8 jardas, Carroll decidiu chutar um FG. Mike McCarthy ficaria orgulhoso.

Algumas pessoas dirão que o era cedo no jogo para arriscar, que o jogo estava empatado, e que ele fez bem em ficar com os pontos. Essas pessoas também estão erradas. New England estava destruindo a defesa do Seahawks taticamente desde a entrada de Simon, e embora a defesa fosse eventualmente achar seu pass rush e dominar o terceiro período, Seattle ainda não sabia disso porque era a primeira campanha do segundo tempo. Ninguém realmente podia esperar que o jogo terminaria 17-14 com esse FG sendo o da vitória. Contra um grande ataque contra o Patriots, que estava tendo grande sucesso porque sabia exatamente como atacar sua defesa, você quer garantir o máximo possível de pontos, e estando DENTRO da linha de 10 do adversário só precisando de uma jarda para ganhar uma nova série de descidas, esse é o tipo de chance que você precisa converter. Mas não. Carroll se contentou com um FG, assim como Mike McCarthy antes dele. E assim como Mike McCarthy antes dele, chutar esse FG ao invés de anotar um TD custou pontos que, eventualmente, lhe custariam a vitória.

Se você quer ficar técnico, o modelo probabilístico do Football Analysis diz que Seattle devia tentar a quarta descida se tivesse 45% de chance ou mais de converter o first down. Nos dois anos que Seattle chegou ao Super Bowl, a equipe converteu 62% de suas tentativas em jogadas que faltavam uma jarda para primeira descidas, inclusive 64% das tentativas correndo. Considerando esse dado, que o Seahawks tem o melhor RB de força da NFL, o ataque terrestre #1 da liga, e que New England teve a PIOR defesa terrestre da NFL em situações curtas, é seguro dizer que a chance do Seahawks converterem essa quarta descida era bem superior a 45%. Carroll tomou uma decisão ruim que, embora sozinha não tenha custado o jogo ao seu time, diminuiu as chances de vitória da equipe e fez bastante falta no final. Carroll não tem como saber como o jogo se desenrolará até o final, para saber que aqueles quatro pontos seriam a diferença fatal da partida, mas justamente por não saber ele tem que pensar em tomar a decisão que da o máximo de pontos possíveis ao seu time. Se fosse uma 4th and 20, a chance de converter seria mínima, então o FG geraria mais pontos do que a probabilidade mínima de converter a descida e ficar com o TD. Mas dentro da linha de 10, precisando de só uma jarda e com Lynch, a chance de converter era altíssima e teria aumentado em muito a chance de 7 pontos. Carroll tomou a decisão errada, a primeira e menos custosa das duas, mas não menos digna de nota.

Coloque da seguinte maneira: se Carroll tentasse a conversão de quarta descida, falhasse, e perdesse o jogo por 3 pontos, todos os tradicionalistas iriam correndo apontar que essa decisão custou o jogo. Agora que o time perdeu por os 4 pontos da sua covardia de tentar um FG ao invés de tentar um FG, você não ouvirá uma palavra na mídia tradicional a respeito porque Carroll tomou a decisão "comum". Mas deveria. É muito pior ter um resultado ruim a partir de uma má decisão do que ter um resultado ruim a partir de uma boa decisão, porque o resultado o técnico não controla. O processo sim. Ele tem que tomar a decisão cujo processo da ao time a melhor chance de vencer, e não foi isso que ele fez.


- Esses playoffs foram absolutamente sensacionais em praticamente todos os aspectos, tirando imprevisibilidade. Mas o que eu mais gostei deles, de longe, foi que eles funcionaram como um ecossistema extremamente impiedoso com técnicos. Não só porque o melhor de todos ficou com o título, Belichick, mas porque um a um os técnicos conservadores, covardes e incompetêntes (e mesmo técnicos que não são nenhum deles, mas simplesmente tiveram decisões que foram) foram caindo justamente por causa de seus próprios erros. Um a um, os playoffs foram eliminando-os através de seus próprios erros.

O primeiro a cair foi o mais covarde e conservador de todos, Jim Caldwell, que aterrorizou torcedores do Lions o ano todo com sua paixão por field golas e um conservadorismo quase amador. Os torcedores do Lions reclamarão da amadora arbitragem que não marcou a falta em Brandon Pettigrew em uma 3rd down crucial, e com razão, mas a verdade é que mesmo depois disso o time ainda tinha uma 4th and 1 no campo de ataque, que poderia converter para manter o ataque vivo, continuar com a bola e eventualmente anotar pontos. Detroit conseguiu 1st downs em 66% de suas conversões de uma jarda nos últimos dois anos, e a defesa de Dallas é abaixo da média. Mas Caldwell foi pelo livro, e optou por devolver a bola para um dos melhores ataques da NFL sem nenhuma outra ação ofensiva - ganhando por apenas 4 pontos. Dallas pegou a bola, anotou o touchdown, e o Lions teve que fazer uma campanha desesperada para anotar um FG que poderia ter anotado uma campanha antes. Eventualmente, a temporada do Lions acabou em uma 4th and 3 - uma conversão que Detroit só conseguiu em 51% das tentativas nos últimos dois anos, bem abaixo dos 66% daquela 4th and 1 de antes. Detroit falhou, e foi eliminado.

Caldwell passou o bastão a Jason Garrett, que corajosamente arriscou duas quartas descidas contra Detroit e foi premiado por isso. Mas contra Green Bay, foi conservador na hora errada, e isso lhe custou caro. Com o final do primeiro tempo chegando ao fim, Dallas teve uma 4th and 1 no campo de ataque faltando pouco mais de 30 segundos no relógio e um tempo para pedir. Garrett optou por tentar um FG de 45 jardas, um FG bastante difícil em um dia ventoso e de baixíssima temperatura, ao invés de tentar uma conversão (que Dallas converteu 69% das vezes, inclusive) para pelo menos aproximar o FG ou mesmo sonhar com um TD. O time se complicou na hora de formar o FG, fez uma falta, errou o FG subsequente, e viu o Packers aproveitar a ótima posição de campo para anotar um FG antes do intervalo. Um erro de 6 pontos. A temporada de Dallas acabou - surpresa! - com eles desesperadamente tentando converter uma 4th and 2 no território do Packers, que acabou na infame recepção que não valeu (corretamente) do Dez Bryant.

Mas o bastão dos técnicos tomando decisões covardes e conservadores passou para Mike McCarthy, que determinado a superar seus adversários, teve o jogo mais medroso, covarde, conservador, irracional, inconsequente... enfim, o pior jogo que eu já vi de um técnico em 14 anos de NFL. Basicamente, ele não confiou no jogo terrestre em duas 4th and 1 da linha de 1 jarda após turnovers de Seattle, preferindo chutar FGs em ambas as vezes, mas preferiu confiar no jogo terrestre ao invés de dar a bola nas mãos do seu QB MVP em duas conversões curtas e importantes no campo adversário, e correu 5 das 6 jogadas finais da partida (em duas campanhas diferentes) quando o time precisava de uma primeira descida. É muita burrice pra comentar todas aqui, mas ele foi o grande culpado em uma das maiores entregadas da história da NFL.

Por fim, Pete Carroll e seu FG (e sua chamada na 2nd down, mas essa não tenha sido causada por conservadorismo) no Super Bowl também caíram. Eu sempre defendi que técnicos na NFL são conservadores demais - seja pelo medo de errar e ser execrado na mídia, falta de confiança, ou pura burrice - e deixam ótimas oportunidades de melhorar suas chances de vitória na mesa, oportunidades essas que não passam por técnicos melhores como Sean Payton, Bill Belichick, e os irmãos Harbaugh. Esse playoff expôs vários desses conservadorismos e puniu cada um deles de forma exemplar. Quem sabe agora os técnicos não começam a agir com alguma inteligência ao invés de sempre seguir o manual.


- Temporada fantástica de Seattle apesar da derrota. Mas vai ser interessante como esse time vai se virar agora que perdeu o benefício salarial de pagar contratos de calouros para alguns de seus melhores jogadores. Sherman e Thomas já foram pagos, Wilson e Lynch receberão gigantescos aumentos essa offseason, e contribuidores como Bruce Irvin, Bobby Wagner e Cliff Avril logo exigirão novos contratos. Vai ser dificílimo manter todo o time junto, ainda mais manter a profundidade que faz de Seattle tão temível, e esse SB mostrou algumas limitações que Seattle poderia adereçar se tivesse condições (principalmente WR e TE). Vai ser um desafio interessante para John Schneider, um dos melhores e mais low-profile GMs da NFL, manter esse time junto ou mesmo reconstruí-lo conforme seguem se agrupando em torno de Wilson e dessa jovem e talentosa defesa.

By the way, Richard Sherman deve fazer mesmo Tommy John Surgery, e possivelmente perderá a temporada 2015 da NFL já que o tempo de recuperação dessa cirurgia na MLB é entre 12 e 18 meses (por outro lado, a MLB tem testes decentes pra PEDs. Na NFL recupera-se disso em duas semanas).


- Eu ia deixar esse ponto final fora da coluna, porque não queria gerar polêmica. Mas considerando o quanto a questão é apertada e vira uma questão de opinião, eu decidi que quero dar a minha. Ela existe, e não tem nada que você pode fazer a respeito além de concordar, discordar, debater, argumentar. Ela é minha opinião e ponto.

Mas, para mim, Tom Brady recuperou o cinturão de "Melhor QB da sua geração".

O debate Brady-Manning é muito mais apertado e parelho do que as pessoas que querem argumentar um dos lados parecem pensar. Não é nem um pouco fácil achar uma vantagem, e a verdade é que esse cinturão vai passando de um para o outro conforme o tempo avança. Brady começou melhor com seus três títulos; daí Manning bateu recordes, venceu seu primeiro título, e dominou a NFL por alguns anos; dai Brady teve a incrível temporada 18-1 e quase encerrou o debate de vez; dai Brady machucou e Manning carregou mais alguns times medíocres a ótimas temporadas ganhando alguns MVPs no processo; dai Brady voltou com tudo e ganhou mais um MVP e chegou a mais um Super Bowl enquanto Manning se machucava; dai Manning voltou ao Broncos, quebrou mais recordes, e depois mais alguns recordes, e depois ainda achou mais recordes para quebrar, chegando ao Super Bowl mais uma vez; e agora Brady ganha seu quarto anel e terceiro Super Bowl MVP, igualando os recordes de Joe Montana, seu ídolo de infância e melhor QB de todos os tempos. É uma batalha mais disputada e com mais viradas e reviravoltas do que Federer vs Nadal em Wimbledon em 2008. No fundo, quem ganha somos nós, que vimos esses dois titãs do esporte, dois dos 5 melhores QBs da história, disputando um contra o outro e contra o resto do mundo durante 16 anos.

Mas pra mim, Brady recuperou - talvez em definitivo se Manning realmente aposentar - o cinturão depois do que ele fez. Não só no Super Bowl, mas em todo o ano, mantendo junto e funcionando mais um ataque remendado e cheio de jogadores que ninguém mais quis e levando mais uma vez esse time ao topo do pódio. New England venceu 13 dos últimos 15 jogos do campeonato, de forma muito dominante, e Brady foi o centro de tudo. Ele inclusive adicionou mais dois jogos icônicos para seu invejável currículo - a incrível atuação contra o Ravens, onde venceu o jogo sozinho com exatamente zero corridas de seu ataque no segundo tempo, e um Super Bowl fantástico. O Super Bowl foi a coroação de uma temporada fantástica, aos 37 anos, e um jogo para ficar marcado no seu currículo ao lado de tantos outros, uma demolição fantástica e sistemática do poderoso time do Seahawks. Eu ligo zero para recordes como passes, TDs ou jardas em Super Bowls, porque não da pra levar a sério as estatísticas de passe da atualidade, mas a forma como ele fez contra uma excelente defesa que chamou a atenção. Tirando aquele terceiro período onde sua linha entrou em colapso e uma interceptação ruim no primeiro tempo, Brady foi simplesmente imparável e cirúrgico, achando falha atrás de falha na fortíssima defesa de Seattle. Revendo hoje as 4 campanhas de touchdown, é desmoralizador de se assistir como ele continuava movendo as correntes com passes curtos, e isso com zero ajuda do jogo terrestre, seus RBs totalizando para 53 jardas a 2.9 jardas por corrida. Merecidamente ganhou o MVP.

E assim como aqueles que acham que ter 4 títulos faz de você automaticamente melhor que quem tem 2 estão muito errados, também estão aqueles que acham que essa diferença não tem importância alguma. Tudo depende de contexto, e embora Brady tenha sido secundário nos primeiros títulos a uma grande defesa com um playbook conservador, ele também foi quem apareceu em horas decisivas ao longo de sua carreira. Um QB não ganha títulos sozinho, sem a menor dúvida, mas o New England Patriots não teria ganho esse título se não fosse Thomas Edward Patrick Brady. E isso é bom o suficiente pra mim. Mais uma vez. E pensar que teve gente que achava que ele tinha que ir pro banco na semana 4 em favor do Jimmy Garoppolo... 


- Essa foi de longe a mais desgastante temporada de NFL que eu já cobri. Dentro de campo, fora de campo. Foi uma das mais mal conduzidas, e aconteceram coisas que me fizeram questionar minha dedicação ao esporte. Em campo, foi uma das mais intensas, movimentadas, com playoffs fantásticos e muitas coisas acontecendo rapidamente. E acabou em um excelente Super Bowl, muitos gritos, e uma namorada que me deixou profundamente orgulhoso chorando pelo seu time, que enfim ganhava um título. Eu preciso de férias da NFL pela primera vez na minha vida, recarregar as baterias antes de assistir vídeos e analisar o próximo Draft, estudar fantasy e lineups, e lembrar de todas as besteiras que meu SF fez nessa offseason. A temporada foi ótima, acabou de forma ainda mais fantástica possível, e aqui me despeço da temporada 2014 da NFL.

Ou melhor, nas palavras do grande Bill Belichick:

On to the offseason...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O que fazer com a D-League?

Essa imagem é perfeita demais pra ilustrar um post sobre D-League

Agradecimentos especiais a Scott Rafferty, pela conversa sobre o assunto e me ajudar a esclarecer alguns pontos, e ao Keith Schlosser pela ajuda com os salários da D-League


Algum tempo atrás, eu fiz um post chamado "Como Melhorar a NFL?", no qual eu ofereci 30 sugestões do que eu mudaria na NFL se fosse o comissário ou simplesmente o manda-chuva. Algumas idéias eram no sentido de tornar a liga em si mais divertida ou engraçada de se acompanhar, mas outras foram coisas absolutamente sérias que eu achava que fariam um bem a NFL como um todo. O post foi um grande sucesso, então eu comecei a trabalhar em um post igual para a NBA.

E meus pensamentos sobre como melhorar a NBA logo voaram para a D-League, porque é uma instituição interessante que não é nem de longe tão bem utilizada como poderia - e deveria - ser. Então minhas primeiras idéias foram no sentido de decidir o que fazer com a D-League, e elas acabaram ficando tão elaboradas e interessantes que ganharam uma coluna própria. O post com as minhas mudanças para melhorar a NBA ainda sairá algum dia, mas primeiro, queria discutir minha idéia para a D-League.

A D-League, para quem não sabe, é a Liga de Desenvolvimento da NBA. Ela surgiu no começo da década passada como uma liga "alternativa" controlada pela NBA, onde jogadores sem espaço na liga principal poderiam jogar, se desenvolver e mostrar serviço para os times da liga principal. Hoje, a divisão conta com 18 times, sendo que 17 são afiliados diretos de times da NBA e o último, o Fort Wayne Mad Ants, é "dividido" entre os outros. 

Durante muito tempo, a D-League foi mais motivo de piada do que outra coisa. Ser mandado para a D-League, enquanto jogador da NBA, era quase que uma humilhação. Mas com o tempo, isso foi mudando, e a D-League foi assumindo um papel mais ativo e sério na vida dos jogadores e da NBA. Com o boom atual de talento, os times tem menos espaços em seus planteis e preferem deixar jovens talentos se desenvolvendo com calma na D-League ao invés de mofar no banco, e com jogadores chegando cada vez mais jovens (e mais crus) na NBA do College, muitas vezes não estão tão prontos assim para contribuir, e ficam na D-League ganhando rodagem e experiência. Eventualmente, a D-League também ganhou dois outros papeis: o de servir de plataforma para veteranos que (por algum motivo) saíram da NBA mostrar seu jogo em busca de algum contrato com a liga (Tyrus Thomas é o melhor exemplo recente), e mais recentemente e mais interessante, de servir de caminho até o Draft. Alguns jogadores que não puderam terminar de jogar na NCAA para declarar para o Draft (geralmente por suspensão ou dispensa da universidade) optaram por terminar a temporada na D-League antes de se declarar para o Draft. Glen Rice Jr foi (até onde eu sei) o Jackie Robinson dessa idéia, mas logo ganhou força: ano passado, depois de ser suspenso indefinidamente em UNC, PJ Hairston jogou o resto da temporada pelo Texas Legends da D-League (associados do Mavericks) antes de se declarar para o Draft, e é muito provável que Robert Upshaw, recém-dispensado em Washington, siga o mesmo caminho até a NBA.

Então já foi mostrado recentemente que a D-League tem espaço para existir. Times estão sendo cada vez mais agressivos procurando talentos lá, e a liga tem ganho mais funções com o tempo que beneficiam os jogadores e a NBA. Mas a D-League não pode parar por ai - ela precisa continuar evoluindo e acumulando cada vez mais papeis, facilitando a vida dos times da NBA e melhorando a qualidade de jogo. Enquanto a D-League tiver algo a oferecer, a NBA precisa continuar explorando as possibilidades. E para mim, se a D-League vai atingir uma forma ideal, o basquete profissional precisa olhar para o lado e aprender as lições da MLB.

No baseball profissional, existem as ligas menores. Temos a MLB, a divisão principal, mas abaixo dela temos a AAA, a AA, e diversas As, várias diferentes ligas "abaixo" da MLB, onde cada time da liga principal possui uma ou mais "afiliadas" e onde mantém seus jogadores em desenvolvimento. No baseball, quando um jogador é escolhido no Draft, raríssimas vezes ele vai ir jogar entre os profissionais. O mais comum é que vá para uma das ligas menores - de acordo com sua habilidade e o quão "pronto" ele está - e lá passe alguns anos treinando, se desenvolvendo e se preparando para o esporte profissional, até finalmente estar pronto e ser "convocado" para a MLB. Jogadores jovens que não estão indo bem na MLB podem ser mandados por um tempo para a AAA ou a AA (as duas mais "altas") para aperfeiçoar algum fundamento ou corrigir alguma falha, enquanto que veteranos em busca de um novo contrato podem assinar um contrato para passar algum tempo nas ligas menores mostrando serviço.

E é isso que, a meu ver, a D-League precisa ser: uma divisão de "base" para todos os times da NBA. Cada time teria o seu afiliado (totalizando, obviamente, 30 times) e, ao invés do formato atual onde os jogadores das D-Leagues assinam contratos com as afiliadas da D-League, as afiliadas e os times principais seriam uma coisa só. 

Como essa empreitada funcionaria? Que bom que perguntou. Aperte os cintos...


Como funcionaria a nova D-League?


- Antes de mais nada, cada time teria que ter um time afiliado. 17 times atualmente já possuem um, então esses não precisam se preocupar. Os 13 restantes criariam sua própria filial até que a D-League totalizasse 30 times, organizados em duas conferências de acordo com a localização geográfica de cada um (para encurtar viagens). Esses 30 times jogariam em um campeonato semelhante a NBA, mas um mês mais curtos e sem os desgastantes 4-on-5. Ao final do campeonato, assim como a divisão principal, os 16 melhores times se classificariam aos playoffs e jogariam séries de cinco jogos até decidir o campeão. A natureza mais competitiva do torneio ajudaria o desenvolvimento dos jogadores.

- Os planteis da NBA expandiriam para 16 jogadores ao invés de 15, com 13 jogadores "ativos" a cada partida - basicamente o que é hoje, com um lugar extra para um inativo que pode ficar no elenco e treinar com o time principal. Cada plantel de D-League teria 20 lugares vagos, com pelo menos 13 sendo obrigatórios de estarem preenchidos.

- Entre os contratos da NBA, nada mudaria - as regras seriam idênticas, os contratos de calouros ainda garantidos, e tudo mais. A única coisa que mudaria nos contratos de divisão principal como são regidos atualmente é a forma como os times poderiam (ou não) enviar jogadores que assinaram um contrato de NBA para suas divisões de "base", sua afiliada na D-League.

Qualquer jogador ainda no seu contrato de calouro pode ser enviado para as ligas menores (e chamado de volta) quantas vezes a equipe quiser, embora seu contrato, naturalmente, continuará contando contra o salary cap do time principal. Jogadores a partir do seu segundo contrato profissional, no entanto, precisam negociar isso ao assinar - qualquer jogador ao assinar seu contrato estipula o total de vezes que pode ser mandado em uma dada temporada para a D-League (com 3 vezes sendo o maior número permitido) e qualquer jogador pode incluir em seu contrato uma cláusula que impede que o time o mande para a D-League. Qualquer jogador enviado a D-League a partir de um contrato profissional de NBA continuaria contando contra o salary cap da equipe normalmente, mesmo se não-garantido (a não ser, claro, que o time o dispense posteriormente).

- A novidade é que agora os times podem oferecer "D-League Contracts" para qualquer jogador que quiserem. Atualmente, os jogadores da D-League assinam contratos com os times da D-League, mas agora tudo será uma coisa só, com algumas peculiaridades salariais. Escolhas de primeira rodada ainda tem garantido um contrato nos moldes atuais (dois anos garantidos + dois team options de acordo com uma escala salarial equivalente a posição que foi escolhido), mas podem negociar (como fez, por exemplo, Josh Huestis) um contrato de D-League se assim quiserem. Jogadores escolhidos fora da primeira rodada continuam nos moldes atuais - podem assinar um contrato como negociarem, tanto de liga principal como de D-League (explicaremos como estes funcionarão em um minuto).

Qualquer jogador draftado depois da primeira rodada tem seus direitos vinculados ao time que o escolheu na hora de assinar seu primeiro contrato, mas se passado o período de negociações pós-Draft time e jogador não tiverem assinado um acordo, o time precisa oferecer um contrato mínimo (um ano, salário mínimo na D-League de 13 mil dólares) para manter os direitos sobre o jogador. O jogador não é obrigado a aceitá-lo, mas continuará com os direitos vinculados ao time até que seja negociado, dispensado ou assine um contrato (nem que seja o mínimo). Se o jogador assinar esse contrato mínimo, se torna um Free Agent restrito ao final de seu contrato (e estará sujeito as regras normais de FAs restritos). Caso o time não queira oferecer esse contrato ao jogador, pode simplesmente renunciar  aos seus direitos, e assim ele se torna um Free Agent.

- Os contratos de D-League funcionariam da seguinte maneira: qualquer jogador que assinar um contrato desses vai direto para a DL, sem passar pelo plantel oficial da NBA, mas suas especificações dependem do tempo de carreira do jogador.

Se for seu primeiro contrato (seja ele uma escolha de Draft ou um jogador não-draftado) profissional, ele pode assinar um contrato de um a quatro anos seguindo o esquema de "tiers" atual da D-League (A, B ou C, que correspondem a um salário anual de 25k, 19k e 13k, respectivamente), mais um S-"tier" de 50.000 dólares reservado a escolhas de segunda rodada - cada time da D-League só pode ter dois contratos S-tier de cada vez no seu elenco. Ao final desse contrato, ele vira um FA restrito. Jogadores que estão assinando seu segundo contrato profissional (ou posteriores) também podem assinar contratos de um a quatro anos, mas só pelos salários dos tiers A, B ou C, e ao final desse contrato viram free agentes irrestritos. Esses quatro anos podem incluir team options ou player options, como na NBA.

- Qualquer time da NBA pode subir a qualquer momento um jogador em um contrato de D-League, mas se ele passar 14 dias (totais e cumulativos ao longo do ano) no plantel principal da equipe, isso ativa uma cláusula em seu contrato e transforma-o em um contrato de NBA. A duração desse "novo" contrato será a mesma restante em seu contrato de D-League, com iguais team/player options, mas agora seu salário anual passa a ser o equivalente a um salário mínimo de NBA MAIS o seu salário na D-League, e o novo contrato inclui o máximo (três) de opções para um time devolver um jogador a D-League. No momento que um contrato de D-League é "ativado" e passa a ser um de NBA, o valor desse contrato passa a contar sobre o salary cap e não pode ser transformado de volta em um contrato menor. O time e o jogador também tem a opção de, quando "ativada" a cláusula, negociarem um novo contrato profissional que substitua o antigo (obrigatoriamente um de NBA, entretanto), seguindo as regras normais da NBA.

- Pegando uma premissa do Scott Rafferty, do crabdribbles.com e do "Upside and Motor", que diz ter pego essa premissa do Reddit NBA, uma boa providência seria expandir o Draft para três rodadas. Considerando que com esse formato todo o "controle" sobre os direitos de um jogador fica mais importante, é uma boa forma de dar aos times uma forma de se antecipar a jogadores menos conhecidos. Além disso, isso também exporia (de uma forma positiva) mais esses jogadores para a mídia e para o público, algo importante para promover a nova D-League e esses futuros talentos em potencial.

- Todo ano, um mês depois do Draft, os times podem "recrutar" para seus times da NBA até dois jogadores da D-League (com contrato de D-League apenas) de qualquer outra franquia da NBA que não estejam em seu primeiro contrato. As condições são simples: uma vez "recrutado" um jogador, ele automaticamente ativa a cláusula que transforma seu contrato de DL em um de NBA, com a diferença que ele não pode ser devolvido a D-League até o fim do ano. O time que detém os direitos do jogador e de seu contrato atual pode "bloquear" o recrutamento, mas se o fizer ELE é obrigado a chamar o jogador para seu time principal e ativar sua cláusula (em ambos os casos, o time que ficar com o jogador pode optar por assinar um contrato novo com ele). É uma forma de impedir que bons e promissores jogadores fiquem mofando muito tempo na D-League por causa de um time que queira economizar, e força a "mobilidade" dos melhores prospectos.

- Jogadores com mais de 6 anos desde que foram draftados também podem optar por outra modalidade de contrato de D-League, chamado "Veteran Contract". O VC é um contrato de um ano, mínimo e não garantido, com uma cláusula especial sobre subidas a NBA. Um jogador em um VC pode ser convocado a qualquer momento do ano por QUALQUER time da NBA, sob as mesmas condições dos outros, e o time que detém originalmente seus direitos pode bloquear essa convocação sob as mesmas condições. A diferença do VC é poder ser convocado por qualquer time a qualquer momento da temporada, tornando-a uma boa opção para veteranos como Tyrus Thomas que querem usar a D-League para mostrar serviço em busca de um time na NBA.

- Quando um jogador na lista dos contundidos perder pelo menos cinco jogos na NBA por conta de uma lesão, ele tem direito a uma passagem de 7 dias pela D-League como "reabilitação", independente do que esteja previsto no seu contrato e quantas opções de "devolução" estejam previstas no mesmo. Essa passagem de reabilitação não conta como uma das três vezes que um time da NBA pode mandar um jogador para a D-League, mas não pode passar de 7 dias. Se passar, ativa uma "devolução".

- Jogadores em contratos de D-League contam como ativos de cada time, e podem ser negociados livremente em trocas. Para efeitos salariais, apenas contam os salários de contratos de NBA, ou seja, os que contam contra o salary cap da NBA.

- Para jogadores que ainda não passaram pelo Draft mas estão fora da NCAA (como aconteceu com PJ Hairston), eles podem assinar um contrato mínimo (ou seja, Tier C, de 13 mil dólares) de um ano com qualquer time da D-League, mas não podem ser chamados para a NBA sob hipótese alguma sem passarem pelo Draft antes. O time cuja afiliada o jogador passou não tem qualquer direito ou exclusividade sobre ele quando ele se declara para o Draft. 


Como isso beneficiaria a NBA?

A NBA (todas as ligas americanas, na verdade. A NBA até não é a pior) não gosta de mudança ou de admitir a necessidade dela. Ela resistiu a entrada de jogadores negros (a regra não-escrita dos anos 50 era que cada time só poderia ter no máximo dois jogadores negros. O único time que desafiava essa "regra" era o Celtics. Adivinhe que time ganhou 8 títulos seguidos?), resistiu a criação de uma linha de três pontos (a ABA já usava uma muito antes), e Larry O'Brien teve que ser CONVENCIDO de que era uma boa idéia criar o Dunk Contest no All-Star Weekend mesmo com Doc J e David Thompson concordando em participar. Mas mudanças acontecem, querendo ou não, e é nosso trabalho nos adaptar a elas.

E a chegada de novos talentos é uma coisa que mudou radicalmente nos últimos anos, tanto para a NBA como para a NCAA. Os jogadores chegam ao esporte profissional muito mais jovens, e também mais crus e despreparados, do que nunca. A mentalidade do one-and-done - do recruta que passa apenas um ano na NCAA antes de ir para a NBA, já que as regras os obrigam - tomou conta do esporte universitário e dos principais recrutas do país. E pior, também tomou conta dos principais times da NCAA. Até times como Duke agora abraçam os one-and-dones, e sabendo que você só contará com seus principais recrutas por uma temporada, os times parecem cada vez menos preocupados em desenvolver seus jogadores, só colocando-os pra jogar durante esse ano, tentando conseguir suas vitórias, e depois seguindo em frente com um novo recruta. Entre a falta de fundamento antes de chegar a NCAA (pelo qual os AAU Camps são parcialmente responsáveis) e a falta de desenvolvimento no College entre as principais universidades e recrutas, cada vez mais jogadores crus chegam na NBA incapazes de contribuir, e cada vez mais bons talentos se tornam jogadores marginais porque nunca aprenderam a jogar basquete de verdade. Não é uma coincidência que todo ano temos menos calouros contribuindo em alto nível na NBA.

A D-League seria uma alternativa para solucionar - ou remediar - esses problemas. Como cada time teria sua afiliada, ela poderia servir como uma plataforma de desenvolvimento, tanto técnico como tático, já que cada time poderia implementar na sua filial seu esquema de jogo da NBA para facilitar sua transição. Ao invés de usar os jogos da D-League apenas como uma forma de não manter os jogadores parados, agora ele terá uma organização inteira por trás dele trabalhando para desenvolvê-lo, treinar seus fundamentos, lhe ensinar o esquema de jogo que precisa aprender. Assim como o baseball faz com a AAA, a D-League passaria a ser uma etapa a mais no desenvolvimento do jogador, entre a AA (a NCAA) e a MLB (a NBA). Alguns jogadores estão prontos para ir direto para a liga principal, mas a grande maioria não está, e muitos ainda precisam de tempo para desenvolver seu talento.

Além disso, como o Spurs prova a 15 anos (e é ignorado) e o Hawks está provando em 2015, a NBA dos últimos tempos está se direcionando cada vez mais para o jogo coletivo, e um esquema tático bem executado é uma arma poderosíssima para um time. Ter grandes defensores ou grandes criadores é ótimo, mas você pode ter um bom ataque ou uma boa defesa se todos seus jogadores conhecerem o esquema tático, executarem suas funções, contribuírem para o coletivo e não tirarem nada da mesa, como o Hawks está fazendo. Milwaukee tem a segunda melhor defesa da NBA mesmo não tendo um grande defensor no seu elenco, e Atlanta e Charlotte já mostraram que é possível montar uma grande defesa em torno de apenas um grande defensor. Executar uma tática da melhor maneira - especialmente para role players e jogadores de banco - é fundamental para um time que quer ser campeão, e agora os times teriam uma forma de "treinar" esses jogadores nas suas "categorias de base" da DL, ou mesmo uma forma de pegar algum jogador do elenco principal e mandá-lo para ficar algumas semanas treinando o playbook do time na D-League, sem que ele fique parado mas sem precisar ficar colocando-o em quadra e prejudicando seu time.

Times também podem usar a D-League não só para desenvolver jogadores e para ensinar fundamentos específicos ou táticas para seus jogadores, como também de laboratório (usar algum jogador em uma posição nova, um novo estilo de jogo, etc) ou mesmo como aprendizado para a comissão técnica. Se tem um jovem técnico ou assistente que quer preparar, pode deixá-lo na D-League, ver como ele implementa o esquema de jogo, ver como ele lida com um ambiente mais competitivo... ou mesmo "desenvolver" também o jovem técnico. Aumenta em muito a flexibilidade e as opções de cada equipe.

A NBA tende a se beneficiar com isso também. Aumentaria o interesse na D-League, poderia servir como laboratório para eventuais mudanças que esteja estudando ("limpar" o aro, mudanças na quadra, etc), e muito mais importante, teria um impacto na qualidade do jogo. Você criaria uma opção  que geraria jogadores mais preparados, com mais tempo para treinar seus fundamentos, o que aumentaria a profundidade e a oferta de jogadores de qualidade na liga como um todo. Você teria times tecnicamente mais bem preparados e mais bem treinados, mais profundos. E você teria, acima de tudo, uma maior e mais eficiente capitalização no talento dos jogadores da NBA. Ao invés de ver jogadores como Tony Mitchell, Chris Walker, McAdoo e tantos outros - talentosos, atléticos, mas crus, o tipo de prospecto que você olha e fala "se aprender a jogar basquete, vai ser fantástico" - se perdendo e nunca chegando a contribuir na NBA pela falta de uma formação adequada, agora você oferece a eles um lugar onde podem tirar essa diferença e talvez realizar a promessa que traziam. Não que eu imagine que de repente tudo vai se encaixar, todos os jogadores com algum defeito realizarão suas limitações e complementarão essas falhas, e a NBA terá 40 All Stars todo ano - a questão é que agora você passa a oferecer uma situação muito melhor e mais elaborada, não só para esses jogadores, mas para os times da NBA em si se tornarem melhores e mais competitivos.

Você da a jovens jogadores uma melhor chance de sucesso, aumenta o nível técnico e tatico da NBA, e da aos times novas ferramentas para melhorar a si mesmo e aos seus jogadores. Tem bastante potencial de melhoria com essa idéia.

Claro, é improvável que aconteça. Isso exigira que vários times que alegam "pobreza" (mesmo com pessoas pagando 600M de dólares por times "ruins" e de mercado pequeno) - desculpa que usam para não ter uma afiliada na D-League - abrindo os cofres e montando toda uma nova estrutura de uma nova equipe (por outro lado, se tem uma hora pra isso acontecer, é agora, que os valores das franquias da NBA estão subindo alucinadamente). Isso exigiria alguns ajustes salariais importantes, especialmente por parte da luxury tax, embora isso também pudesse gerar alguns nichos de incentivo (por exemplo, poderiam descontar salários de jogadores promovidos de contratos da D-League da  multa da luxury tax). E mais central, a NBA odeia mudanças radicais dessas, especialmente uma que envolveria alguns ajustes na estrutura já estabelecida da liga, ainda que mínimos.

Ainda assim, o momento para isso acontecer é agora. O atual ("novo") CBA é extremamente favorável aos times financeiramente, e o valor das equipes está subindo como nunca, então isso vai contra o argumento dos gastos. Além disso, um empreendimento desse tipo criaria empregos para jogadores de basquete e aumentaria os gastos da equipe, então o sindicato dos jogadores pode ver essa como uma medida favorável na próxima negociação de CBA, o que pode dar mais poder de negociação aos donos tirarem ainda mais dinheiro do negócio como forma de "financiar" essa expansão da D-League.

Além disso, a própria D-League, mesmo frágil e ainda menor como é hoje, está ganhando um papel cada vez mais importante e ativo, conforme os times e os jogadores vão descobrindo os benefícios que podem extrair disso. Então o debate sobre como usá-la está mais relevante do que nunca. Mas alguns times estão relutantes e outros estão acomodados, e se a NBA se mover para tornar a D-League uma liga como eu estou sugerindo aqui faria muito por acelerar esse melhor uso, e isso se repercutiria no jogo como o conhecemos. É trabalho da NBA fortalecer seu produto, e essa seria uma medida nessa direção, que beneficiaria os times, o produto e, quem sabe, poderia mudar a vida de muitos jovens jogadores que nunca atingem seu potencial pela falta de uma etapa de desenvolvimento em suas carreiras. 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Distribuindo prêmios para a NFL - 2014

Run, JJ, Run!!!


A temporada da NFL chegou ao fim, e nós chegamos aos playoffs. Eu sei, eu sei, a cobertura do TMW tem estado... deficiente, pra dizer o mínimo. Bom, foi por uma boa causa, embora uma que talvez só seja sentida daqui a uns meses. Vocês saberão do que se trata quando chegar a hora.

Como eu não queria pegar o bonde andando e cair de paraquedas no meio de análises complexas - até porque não tenho acompanhado em tantos detalhes como gostaria essas duas últimas semanas, por motivos profissionais e pessoais - não vou falar aqui de playoffs ainda. Naturalmente, vocês podem todos acompanhar meus comentários pelo twitter (www.twitter.com/tmwarning) ou pelo facebook (TM Warning), onde eu falo disso o tempo todo. Vocês também podem acompanhar meus palpites (e o de vários outros) pelo blog The Playoffs

Mas antes eu queria falar sobre um último tema da temporada regular: prêmios. Todo ano, é quase tradição aqui fazer minhas escolhas para os principais prêmios (e outros não tão principais assim) da temporada e justificá-las, e esse ano não vai ser diferente. Lembrando que, no fundo, isso é uma questão de opinião - eu tenho a minha e farei questão de justificá-las, porque todas são profundamente pensadas e pesadas, mas você pode ter uma diferente. 

Então sem enrolações, vamos ver quem teria meu voto para os principais prêmios da temporada (e mais uns outros): Comeback Player of the Year, Coach of the Year, Offensive e Defensive Rookie of the Year, Offensive e Defensive Player of the Year, e MVP. E mais alguns outros que eu criei, mais pro final.


Comeback Player of the Year: Rolando McClain

Sejamos sinceros, esse é um prêmio um tanto quanto estúpido. Não que não seja legal celebrar jogadores que, de alguma forma, deram a volta por cima em suas carreiras. O estúpido é tentar pesar esses jogadores e essas situações uma contra a outra para decidir quem foi o "Cara que deu a volta por cima do ano". Isso é ainda mais ridículo quando se considera que estamos falando da NFL, uma liga cujo jogo envolve mastodontes de 150kg correndo e pulando uns em cima dos outros. Lesões são o lugar-comum da NFL, então todo ano você tem uns 40 jogadores diferentes importantes voltando de uma lesão séria. É uma amostra enorme de jogadores.

Além disso, outro problema é como você deve votar nesse prêmio, como escolher o vencedor dentro dessa amostra enorme. Seu voto deve ir para quem? Para quem superou a maior adversidade? Para quem jogou melhor em 2014 entre todos os que superaram algum tipo de adversidade? Para o que fez maior diferença em um time melhor? Ou só para o que tem a história mais interessante? Alguma combinação deles? Todos os prêmios individuais sofrem de alguma ambiguidade, mas esse talvez seja a pior de todas.

Então vira muito algo individual. Cada um que crie seu próprio critério e escolha um jogador de acordo com isso (razão número 294 de porquê esse prêmio devia ser abolido). E esse ano - como todos os anos, já que lesões são o lugar-comum da NFL - temos uma boa variedade de jogadores que merecia esse prêmio se escolhidos: Jeremy Maclin, Maurkice Pouncey, Justin Forsett (meu segundo colocado), James Harrison, Jay Ratliff - para citar alguns. 

Mas meu vencedor é Rolando McClain, por uma enorme combinação de fatores: ele foi um dos melhores jogadores em sua posição na temporada; ele teve um papel importantíssimo em um bom time; ele chamou bastante atenção ao longo do ano com suas jogadas... e em grande parte porque ele quem superou a maior e mais bizarra adversidade entre todos esses citados.

A verdade é que, doze meses atrás, Rolando McClain estava fora da NFL. Draftado em 2010 pelo Raiders com uma escolha de primeira rodada, McClain era um talentosos mas problemático que nunca correspondeu ao hype dentro de campo e gerou problemas suficientes fora dele para que Oakland o dispensasse durante a temporada 2012. Ele assinou um contrato não-garantido com Baltimore antes de decidir que não estava mais em condições de continuar jogando futebol americano profissional, e decidiu se aposentar dos campos. Voltou para Alabama para terminar sua graduação, e ficou longe do esporte profissional por um ano, sem lugar na liga nem interesse em voltar. Eventualmente manifestou seu interesse em participar dos treinos de offseason do Ravens mas foi dispensado, e acabou assinando um contrato não-garantido com o Cowboys para voltar a NFL.

Ele foi um grande sucesso desde então. Longe de problemas (a não ser lesões), McClain brilhou para uma defesa que desesperadamente precisava de ajuda (e estaria sem Sean Lee a temporada toda), com duas impressionantes interceptações no começo do ano e sendo uma força contra o jogo terrestre. McClain conseguiu "Stops" - quando ele é responsável por interromper o avanço do jogador - em 15% das jogadas terrestres nas quais esteve envolvido, a segunda maior marca da liga atrás de Chris Borland (com 21,3%) e confortavelmente na frente do terceiro, Luke Kuechly (com 12.9%). Mesmo perdendo três jogos, foi o melhor ou segundo melhor jogador da defesa do Cowboys essa temporada. 

Então McClain tem meu voto porque é quem melhor combina fatores favoráveis ao prêmio, alguém que estava literalmente fora do esporte e voltou para atuar em alto nível para um time que desesperadamente precisava disso.

Ballot hipotético: 1. Rolando McClain; 2. Justin Forsett; 3. Maurkice Pouncey.


Coach of the Year: Bruce Arians

Esse é, de longe, o prêmio que eu mais odeio na NFL e em qualquer outro esporte. É o supremo prêmio de resultados sobre processo. É muito difícil perceber que técnico é o melhor e faz o melhor trabalho ano a ano, especialmente se ele está fazendo esse trabalho a mais tempo. Então como é difícil discernir que técnico tem o maior impacto isolado, os votantes geralmente voltam suas atenções para o time que mudaram de técnico e sofreram grandes melhoras no processo - cegamente creditando tal evolução ao novo técnico, e não quaisquer outras mudanças do processo. 

Então normalmente eu estaria apenas reclamando do prêmio e passando por ele rapidamente. Mas esse ano, existe um técnico que realmente merece esse prêmio, e ele é Bruce Arians. O trabalho que ele fez para manter junto um time do Cardinals em decomposição esse ano - ganhando 11 jogos e uma vaga nos playoffs no processo - foi fantástico, e merece ser reconhecido.

A verdade é que o Cardinals não foi tão bom como seu record (11-5) parece indicar. Mesmo antes da lesão de Carson Palmer, eles tinham diversos indicadores mostrando que esse record enganava: seu Pythagorean Wins era de um time 8-8 (4-1 em jogos decididos por até 7 pontos, e 5-1 em jogos decididos por oito), e DVOA coloca o Cardinals como apenas o 22nd melhor time da NFL na temporada. Embora sejam fatores sutis, o fato é que Arizona não era a máquina que muitos times imaginavam mesmo quando estava ganhando vários jogos.

Mesmo admitindo que não era um time tão bom assim e que teve muita sorte, o que o grupo de Arians fez esse ano ainda foi impressionante. DEZ dos jogos do time foram iniciados por Ryan Lindley ou Drew Stanton de QB, e eu não preciso dizer sobre como isso é algo péssimo para qualquer time absolutamente incapaz de correr com a bola (3.3 jardas por corrida, pior marca da liga). A defesa também sofreu imensamente desde o ano passado. Em 2013, o Cardinals e sua sufocante defesa contou com as performances de Darnell Dockett, Karlos Dansby, John Abraham, Daryl Washington, Jeremiah Bell e Tyrann Mathieu rumo a terminar a temporada como a segunda melhor defesa do ano, mas esse ano não tinham mais nada disso - Bell aposentou, Dockett e Washington perderam a temporada com suspensões, Abraham e Dansby saíram antes da temporada, e mesmo Mathieu começou apenas 6 jogos na temporada por conta de lesões. Essa é uma quantidade impressionante de problemas para um time que sequer foi aos playoffs em 2013 e não contou com nenhum enorme reforço tirando Jared Veldheer.

Então é verdade, o Cards não era tão bom assim. Ms a verdade é que eles não deveriam nem ter sido bons NESSE ponto, considerando os QBs que jogaram 60% dos snaps para Arizona, a falta de um jogo terrestre, e as enormes perdas na defesa. Que esse time chegasse a 8-8 (como seu Pythagorean Record) já é um milagre enorme, especialmente lembrando que eles jogam na divisão mais forte da NFL e tiveram o terceiro calendário mais difícil de toda a NFL. Bruce Arians fez magia com o que tinha, e colocou a equipe em uma situação que, com meia dúzia de golpes de sorte, poderia arrancar uma vaga nos playoffs. Ele merece esse prêmio.

Ballot hipotético: 1. Bruce Arians. 2. Bill Belichick. 3. Mike Zimmer


Defensive Rookie of the Year: Aaron Donald

Esse prêmio teria sido de Chris Borland se ele tivesse jogado mais do que oito jogos na temporada, mas a presença de Patrick Willis, um começo lento e uma lesão tiraram dele os jogos que precisaria para garantir o prêmio. Ele teria sido uma escolha merecida, e até certo ponto "fácil": Borland é o tipo de jogador que simplesmente chama a atenção. Ele está sempre fazendo jogadas espetaculares, acumulando números incríveis, e jogando em altissimo nível na posição que seu time perdeu não um, mas DOIS All-Pro MLBs (que, aliás, foram os dois melhores de 2013 pelo rating da PFF). Um bom exemplo: Chris Borland liderou todos os LBs da MLB em "Stops" no jogo terrestre, conseguindo um em 21.3% (!!!!) dos seus snaps de jogadas terrestres. O atual Defensive Player of the Year, Luke Kuechly, foi terceiro entre os MLBs com... 12.9%. A  diferença entre Borland (#1) e Kuechly (#3) é quase a mesma entre Kuechly (#3) e AJ Hawk (#56). Ele teria sido uma escolha válida.

Mas ele jogou apenas 8 jogos completos, então é difícil votar nele quando outros jogadores foram tão dominantes quanto, mas jogando mais snaps e mais jogos. Então meu voto fica entre os dois monstros da primeira metade da primeira rodada, Kahlil Mack e Aaron Donald. Depois de muito pensar, fico com Donald, um monstro no interior da linha defensiva de Saint Louis e uma força destrutiva tanto contra a corrida como contra o passe. Ele terminou o ano com 9 sacks (segundo melhor entre DTs) e 29 QB hurries (sexto melhor), e só Kyle Williams, Ndamukong Suh e Gerald McCoy afetaram diretamente mais jogadas de passe (Sacks, hits, hurries e passes desviados) que Donald. Ele terminou quarto entre DTs em Stop% e sexto em produtividade no pass rush, e terminou o ano como o DT mais bem rankeado pelas notas da Pro Football Focus (cometeu apenas duas faltas o ano todo também). E ele fez tudo isso apesar de enfrentar marcações duplas quase toda jogada.

Mack foi um monstro na temporada contra a corrida, somou 40 QB Hurries e terminou o ano como o jogador mais bem rankeado da SUA posição, então não é uma disputa fácil. Mas para mim a constante presença e efeito nos ataques que Donald teve ao longo do ano faz dele um pouco melhor, e merecedor desse prêmio.

Ballot hipotético: 1. Aaron Donald; 2. Kahlil Mack. 3. Chris Borland; 4. CJ Mosley; 5. Anthony Barr


Offensive Rookie of the Year: Odell Beckham Jr

De longe o voto mais fácil de todo essa lista. 

Apesar de ter jogado em apenas 12 partidas (e sido titular em 11) por conta de uma lesão no começo do ano, OBJ terminou o ano décimo em jardas recebidas, nono em recepção e quarto em touchdowns na temporada inteira. Se pegarmos suas estatísticas na temporada (91 recepções, 1305 jardas e 12 touchdowns) e projetarmos seus números para uma temporada completa (16 jogos), ele "terminaria" a temporada com ridículas 121 recepções para 1740 jardas e 16 touchdowns (a primeira ficaria em segundo, e as outras duas liderariam a liga). Ele também recebeu 70% das bolas lançadas na sua direção, um número ridículo para um WR que recebe tantas bolas longas. Você pode muito bem fazer um argumento de que Beckham foi um dos quatro melhores WRs da temporada (junto de Dez Bryant, Jordy Nelson e Antonio Brown), e mesmo com três jogos a menos, a diferença dele para seu competidor mais próximo pelo prêmio entre WRs (Mike Evans) é significativa - 23 recepções e 250 jardas. Oh, talvez você tenha ouvido falar também, mas ele também teve uma recepção legalzinha.




Então sim, é bem fácil dar o prêmio para Odell Beckham Jr. Ele foi espetacular e extremamente dominante quando esteve em campo, e foi de longe o calouro mais memorável da temporada.

O quanto jogar com um bom QB ajudou Odell Beckham Jr em relação aos seus companheiros? Bastante. Eli Manning teve talvez sua melhor temporada como profissional, e foi um QB bem acima da média, enquanto Mike Evans e Sammy Watkins ficaram presos recebendo passes de caras como Mike Glennon, Josh McCown, EJ Manuel e Kyle Orton. Mas ainda assim, tem vários WRs - não só calouros, no geral - que jogam com QBs bem melhores que Eli Manning e mesmo assim não conseguem esses números de vídeo game que OBJ teve. Em uma espetacular classe de WRs que tem tudo para ser uma das melhores da história da NFL, Beckham ficou consideravelmente acima da sua competição como o melhor da temporada. 

A classe de WRs calouros foi, de longe, a que mais recebeu atenção (merecida) da mídia e dos torcedores, mas não quer dizer que tenha sido a única a se destacar na temporada. Outros jogadores de outras posições também merecem destaque.

Os QBs de 2014 - bastante celebrados antes o Draft - foram em certa medida uma decepção. Blake Bortles (vou evitar criticar mais o coitado do que já fiz) foi um fracasso homérico, com quase duas vezes mais turnovers (21) que touchdowns (11) e, em QBR, foi o segundo pior QB da temporada entre os 44 com pelo menos 100 passes lançados (21.3 - apenas EJ Manuel foi pior); Johnny Manziel chamou muito mais atenção pelos problemas extra-campo que pelo que fez dentro deles; e Derek Carr, apesar dos 21 TDs, completou apenas 58% dos seus passes a 5.5 jardas por passe (pior marca da NFL). Não que todo eles sejam fracassos sem salvação, claro, mas para quem esperava mais da classe no curto prazo foi uma decepção. A exceção foi nosso salvador, Teddy "Footballgame" Bridgewater, que foi o melhor QB dessa classe durante dois anos antes do Draft para, na hora do vamos ver, vários "olheiros anônimos" ficarem procurando motivos estúpidos para criticá-lo. Bridgewater caiu até a #32, o Vikings ficou com o steal do Draft, e não tem qualquer duvida que atualmente ele é muito melhor que Manziel e Bortles. A lição, como sempre: "olheiros anônimos" são muito, muito burros.

Talvez por ter pegado fogo só na segunda metade da temporada, talvez porque isso aconteceu em um time irrelevante, talvez porque todo mundo estava babando demais nos WRs para se importar, mas a verdade é que Bridgewater teve uma temporada incrível que não recebeu a devida atenção. Apesar de estar recebendo pouquíssima ajuda de seus companheiros - o Vikings teve a sexta pior OL protegendo o passe e um grupo horrível de WRs (Cordarelle Patterson, que recebeu 49% dos passes lançados na sua direção e teve 384 jardas, foi o segundo WR mais usado do time) - Bridge terminou o ano com 64.4% de passes completados e 7.1 jardas por passe, e esses números ainda não traduzem o quão bom ele foi na reta final da temporada. Nos últimos sete jogos do ano, Bridge completou 68.2% dos seus passes para 7.8 jardas por passe com 12 TDs e 7 interceptações, sendo que três delas foram desviadas por seus próprios WRs. De acordo com o rating da PFF, nessas sete semanas apenas Rodgers e Drew Brees geraram mais valor para suas equipes que Teddy. Bridgewater também terminou o ano acertando 75.3% de seus passes (!!!) quando sob pressão, a melhor marca da NFL desde pelo menos 2008 (quando essa estatística passou a existir) e algo fundamental para sobreviver atrás de uma péssima linha ofensiva. Foi uma performance espetacular do camisa 5, e deixa poucas dúvidas de quem era no final das contas o melhor QB do Draft.

Por fim, o fato de jogarem na posição mais anônima da NFL impediu que recebessem muitas honras, mas dois dos melhores calouros de 2014 passaram a temporada dominando o interior de linhas ofensivas de forma impressionante. Joel Bitonio foi o LG titular do Browns, e Zack Martin o RG titular do Cowboys, e ambos tiveram temporadas absolutamente dominantes: em 32 jogos, os dois COMBINARAM para ceder um sack e 5 QB hits TOTAIS, estiveram entre os guards mais importantes contra o jogo terrestre e ajudaram a ancorar duas das melhores linhas ofensivas do esporte. A posição em que jogam não ajuda, mas em termos de dominância dentro da posição, provavelmente foram os dois melhores calouros tirando OBJ.

Foi uma classe realmente incrível para calouros ofensivos, e depois do #1, vocês podem mudar a ordem do meu ballot a vontade e ainda chegar em algo totalmente válido.

Ballot hipotético: 1. Odell Beckham Jr; 2. Teddy Bridgewater; 3. Zack Martin; 4. Mike Evans; 5. Joel Bitonio.
Hon. mention: Jeremy Hill.



Defensive Player of the Year: Justin Houston

Meu eterno problema com o "X Player of the Year": ele é ridículo quando você também tem o MVP para entregar. No caso dos jogadores de defesa, isso não é um problema porque é raríssimo um defensor ganhar o MVP, mas no caso dos jogadores de ataque, fica complicado. Se você foi o MVP e NÃO foi o melhor jogador pelo menos da sua posição, então você muito provavelmente não deveria ter sido o MVP. Então pra que criar um prêmio redundante, que vai premiar alguém duas vezes? Por isso eu longamente defendo que quem ganha o prêmio de MVP não deveria ser permitido ganhar também o respectivo "Player of the Year". Na verdade, no caso dos jogadores de ataque, eu vou um passo além: acho que o Offensive Player of the Year é o melhor jogador que NÃO era da posição do ganhador do MVP. Se Aaron Rodgers ganhar o MVP, então ele foi o melhor QB e pronto, é estúpido dar o "Offensive Player of the Year" para outro QB se Rodgers foi melhor, e é ainda mais dar duas vezes o prêmio para Rodgers. Então se ele ganha o MVP, e o prêmio vai para o melhor não-QB de ataque da temporada. É a única forma de tornar esse prêmio relevante (outra solução seria abolir os "Player of the Year" e dar logo um MVP ofensivo e um MVP defensivo).

Então sim, é extremamente óbvio quem foi o melhor defensor de 2014. Isso não é discutível. JJ Watt é #1 no meu ballot. Mas como aqui no TM Warning ele também ganha o MVP (chegaremos lá), então o Defensive Player of the Year vai para meu #2, que é Justin Houston.

Houston teve provavelmente a temporada menos comentada que um jogador que terminou com 22 sacks já teve na história, embora o fato dele ter chegado a esse número com 4 sacks na última semana provavelmente tenha algo a ver com isso. Mas vai mais além de ter chegado a meio sack do recorde histórico de Michael Strahan (22.5 sacks). Houston foi a força (humana) mais destrutiva da NFL em 2014, e por uma confortável margem. Além de seus 22 sacks, que lideraram a NFL, ele também teve 8 QB hits e 50 (!!) QB Hurries. Isso é um monte de jogadas de passe que ele influenciou positivamente. Ele totalizou 85 jogadas de pressão na temporada, que é 13 a mais do que qualquer outro jogador (tirando obviamente Watt, que liderou a categoria) teve no ano (72 de Ryan Kerrigan e Michael Bennett). Se a NFL é uma liga que cada vez mais valoriza o passe, então ter um jogador capaz de influenciar esse enorme número de jogadas de passe é um ativo valiosíssimo. E Houston foi o melhor não-JJ da NFL fazendo isso no ano inteiro.

E não é como se Houston fosse um pass rusher unidimensional que só ataca o QB e pronto. Ele também teve 50 stops totais (melhor entre 3-4 OLBs) e 22 stops contra o jogo terrestre (4th entre OLBs), e fez tudo isso sem cometer nenhuma falta na temporada e atraindo mais faltas do que qualquer outro pass rusher. Ele destruiu times em jogadas terrestres e de passe, aterrorizou quarterbacks o ano todo e, no final, teve o maior impacto defensivo do que qualquer outro ser humano normal teve nessa temporada. Com Watt fora da jogada, ele é meu DPOY.

Ballot hipotético: 1. JJ Watt; 2. Justin Houston; 3. Ndamukong Suh; 4. Von Miller; 5. Vontae DAvis.
Hon. mention: Cameron Wake; Terrell Suggs; Calais Campbell; Luke Kuechly; Chris Harris Jr.


Offensive Player of the Year: Aaron Rodgers

Antes de começar a falar de como Rodgers foi o melhor jogador de ataque da temporada, apresento a vocês dois QBs:

QB A: 69.9% de aproveitamento, 8.5 jardas por passe, 7.8 TD%; 113.2 rating; 82.75 QBR (liderou a NFL em todos esses quesitos)
QB B: 65.5% de aproveitamento, 8.4 jardas por passe, 7.3 TD%, 112.2 rating; 82.64 QBR

Muito boas temporadas, não? Ambos são excelentes QBs, ambos venceram 12 partidas para suas equipes, e ambos contam com a ajuda de um bom RB e de um dos três melhores WRs da temporada. 

Os mais observadores provavelmente já perceberam que são os números de Aaron Rodgers e Tony Romo. Então ainda que Rodgers tenha sido o melhor quarterback da temporada, Romo chegou bem perto de seus números, e é mais do que hora de reconhecer o que ele tem feito e...

Espera, você está me dizendo que na verdade Romo é o QB A?! O que liderou a NFL em aproveitamento, jardas por passe, TD%, rating e QBR, e ainda teve cinco viradas em quartos períodos (líder da NFL)?! Oh, boy... ai sim, fomos surpreendidos novamente. 

Isso quer dizer que Romo foi o melhor QB de 2014? Não necessariamente. Enquanto é um mito ridículo (que muitas pessoas querem propagar para fazer seus argumentos parecerem mais fortes) que Rodgers não tem muita ajuda em Green Bay - ele tem uma linha ofensiva muito underrated, uma excelente dupla de WRs e um ótimo RB - é fácil ver que Romo também tem muita ajuda em Dallas, e mesmo mais. Ele jogou com o líder em jardas terrestres da NFL, também conta com duas espetaculares armas (Dez e Witten) e, talvez mais importante, contou com a melhor linha ofensiva da NFL inteira. Nenhum QB teve mais tempo no pocket do que Tony Romo nessa temporada, e isso sem dúvida é uma grande vantagem. Além disso, tem o fato de que, no plano ofensivo de Dallas, Romo era "secundário" ao ataque terrestre - os QBs de Dallas deram 476 passes contra 508 corridas - e portanto, no plano de jogo geral, Romo acaba tendo menos impacto que Rodgers (os QBs de Green Bay deram 536 passes contra 435 corridas). Esse é o principal motivo pelo qual Romo deu 100 passes a menos na temporada do que o camisa 12 do Packers. Some a isso a questão do calendário - Green Bay enfrentou um calendário mediano, 18h na NFL, enquanto que Dallas enfrentou o segundo mais fácil - e o resultado é que, em contexto, a performance e influência total de Rodgers supera a de Romo. Por pouco, mas supera. Rodgers simplesmente precisou fazer mais esse ano.

E isso não é para demérito de Tony Romo, que foi fantástico a temporada inteira e terminou o ano liderando todas as categorias estatísticas relevantes para QB exceto INT% (Rodgers foi o #1) e DVOA (foi #2 atrás de Rodgers). Embora eu coloque Rodgers na frente dele pelos motivos que já expliquei, Romo foi tão bom quanto Rodgers e claramente o segundo melhor QB da temporada. E é mais do que hora de parar com o ridículo mito (em geral propagado por pessoas que só querem causar polêmica) de que Tony Romo é um problema para o Cowboys - ele tem sido um ótimo QB por anos a fio preso em um time horrível que exige demais dele. Com um bom jogo terrestre e uma ótima linha ofensiva pela primeira vez em anos, Romo teve uma temporada fantástica, pau a pau com o provável MVP da NFL. Outros QBs tiveram anos muito bons - Big Ben e Tom Brady vem a mente - mas Rodgers e Romo, em 2014, estiveram um patamar acima de todos os demais.

Entre os não-QBs, o primeiro nome que vem a mente provavelmente é DeMarco Murray, que liderou a liga em jardas terrestres (com incríveis 1845) e passou boa parte da temporada ameaçando quebrar a marca das 2000, antes de desacelerar na segunda metade da temporada. Ele terminou com quase 500 jardas a mais que o segundo colocado (LeVeon Bell com 1261), então a diferença total foi considerável.

Ainda assim, eu não estou muito convencido de que a temporada de Murray foi tão boa quanto parece. Sua produção total certamente superou todos os demais, mas essa maior produção veio principalmente de uma carga de trabalho muito superior: Murray correu com a bola 90 vezes mais do que o segundo colocado em corridas (LeSean McCoy), 102 vezes mais que LeVeon Bell e 112 vezes mais do que Marshawn Lynch. E enquanto ele merece bastante crédito por manter a eficiência em uma carga tão grande de trabalho, não é como se tivesse feito seu trabalho com uma eficiência muito superior a concorrência: suas 4.7 jardas por corrida são virtualmente idênticas as marcas de Bell e Lynch, e fica atrás de RBs como Justin Forsett (5.4), Jamaal Charles (5.0) e Arian Foster (4.8). Além disso, também tem o fato de que DeMarco Murray joga atrás da melhor linha ofensiva da NFL, uma unidade que abriu mais buracos e grandes espaços do que qualquer outro no jogo terrestre tirando, talvez, a do Packers. Embora seja difícil dizer com certeza o quanto do desempenho de um corredor é mérito dele ou da linha ofensiva, não é difícil ver que Murray teve mais "ajuda" nesse quesito do praticamente todos os outros grandes corredores da NFL. Murray teve, em média, 2.3 jardas por corrida ANTES do primeiro contato, enquanto Marshawn Lynch, por exemplo, teve 1.6 e Arian Foster teve 2.0. Então somando todos os fatores, a temporada de Murray não parece mais tão espetacular. Sim, ele teve uma produção total maior do que qualquer outro RB (e não foi por muito - em jardas totais ele está apenas 46 a frente de Bell), mas ela não veio dele ter sido particularmente mais dominante que os outros por corrida, e sim porque o Cowboys simplesmente fez ele correr mais do que outros RBs - e isso antes de considerar que ele teve mais ajuda da sua linha ofensiva nessas corridas do que qualquer um. Então embora Murray tenha sido o RB que mais produziu em 2014, ele não foi tão individualmente dominante para merecer entrar nesse prêmio sobre jogadores que tiveram um ano superior, e é discutível sequer se foi o melhor RB da temporada.

Se quer achar o melhor não-QB ofensivo de 2014, então é para Antonio Brown que você precisa olhar. O WR liderou a NFL em jardas e recepções, e foi segundo em touchdowns - por uma boa margem. Suas 129 recepções foram 18 a mais do que o segundo colocado (Demaryus Thomas) e 80 jardas a mais. Aliás, suas 129 recepções não foram só de longe a melhor marca da temporada - é a melhor marca dos últimos 12 anos e a segunda melhor marca da história da NBA. E não é como se ele tivesse acumulado passes fáceis perto da linha de scrimmage - apenas 7 jogadores na NFL inteira tiveram mais recepções em passes de 20+ jardas, e ele converteu 48% dos passes longos lançados na sua direção em recepções, a quarta melhor marca da NFL entre recebedores com pelo menos 25 alvos em tais passes. Brown também aparece como terceiro jogador entre WRs com mais jardas após a recepção e, talvez mais incrível para um jogador tão usado (e tão usado em jogadas longas), ele teve uma recepção em 71.6% das bolas lançadas na sua direção - a sexta melhor marca entre WRs com mais de 80 passes lançados na sua direção, e entre os 10 jogadores com mais passes direcionados da NFL, o que mais se aproxima do aproveitamento de Brown é Jordy Nelson... que tem 64.7%. Some a isso suas habilidades retornando punts - ele foi o quarto retornador com mais jardas em 2014, com um TD - e a verdade é que foi uma das mais impressionantes temporadas de um WR nos últimos anos.

Para fechar, um outro não-QB merece consideração para o prêmio. Não pelo que produziu individualmente, mas porque seu efeito no resto do ataque de seu time é incrível. Rob Gronkowski, a primeira vista, teve apenas uma boa temporada - uma linha de 82 recepções, 1124 jardas e 12 TDs, uma slash line muito boa para um TE, mas não espetacular. Ai você lembra que Gronk, que perdeu o final da temporada 2013 por conta de uma lesão grave no joelho, começou o ano bastante limitado pela sua equipe. Ele foi titular em apenas 10 jogos, e nos primeiros quatro jogos da equipe jogou apenas 60% dos snaps, não sendo usado como o centro do ataque da equipe. Isso mudou depois da surra que o Pats levou do Chiefs na semana 4 - Gronk jogou 85% dos snaps na semana seguinte e voltou a ser o TE em tempo integral do time. E ai você começa a observar o impacto que essa mudança - de jogador complementar, sendo poupado, para centro do ataque - teve no ataque como um todo. Eis os números para o ataque do Patriots entre as semanas 1-4 e as 11 semanas que Gronkowski jogou a 100% (não considerando o jogo da semana 17 contra o Bills, no qual Gronk foi poupado):



E a diferença nos números de Tom Brady...



So... Hmm... Yeah.

Claro, é difícil atribuir toda essa enorme mudança a só um jogador, mas o timing desse salto não é coincidência. O efeito que Gronk tem no ataque de New England é espetacular. Rápido e atlético demais para ser coberto por linebackers, forte e grande demais para ser marcado por defensive backs, a presença de Gronk em campo faz toda a defesa se dobrar na sua direção, sempre cautelosa e precisando designar dois jogadores na sua direção geral - o que, naturalmente, abre muito mais espaço para o jogo terrestre e, principalmente, linhas de passe para os WRs de um time que não tem grandes jogadores capazes de criar separação. Então seus números individuais são bons (e ficam ainda mais impressionantes quando você lembra que ele só foi titular em 10 jogos), mas o impacto que Gronk teve no resto do seu time foi ainda mais impressionante e o que o coloca na disputa por esse prêmio.

Ballot hipotético: 1. Aaron Rodgers; 2. Tony Romo; 3. Antonio Brown; 4. Rob Gronkowski; 5. DeMarco Murray
Menção honrosa: LeVeon Bell; Marshawn Lynch.


Most Valuable Player: JJ Watt

Para mim, hoje, existe algo que é indiscutível.

JJ Watt é o melhor jogador da NFL.

De novo, eu não acho que isso é passível de debate. A NFL tem muitos bons defensores na atualidade, mas a diferença entre Watt e os próximos "melhores defensores da NFL" é realmente absurda, e muito maior do que a diferença entre os melhores jogadores ofensivos da NFL, de qualquer outra posição. Watt é possivelmente o defensor mais individualmente dominante da NFL desde Lawrence Taylor, amplamente considerado o maior de todos os tempos.

O problema, claro, é que o prêmio não é para o melhor jogador - é para o jogador "mais valioso", seja lá o que isso quer dizer. Porque, hmm, ninguém realmente sabe o que isso quer dizer. É ambíguo, e a NFL não tem nenhuma intenção de esclarecer como deveriamos pensar esse prêmio. Eles QUEREM que tenha ambiguidade, quer que as pessoas discutam e criem suas teorias, e escrevam colunas sobre isso. Quanto mais difícil for decidir, mais as pessoas conversarão sobre isso, e é o que a liga quer. E é essa distinção - entre melhor e mais valioso - que cria uma brecha para que o melhor jogador da NFL não ganhe o prêmio de MVP.

Então como o melhor jogador da NFL não é o mais valioso? Os argumentos contra Watt, e a favor de Aaron Rodgers, se baseiam em dois pontos. Dois pontos que não são desprovidos de valor, claro, mas que acabam sendo usados como algo mais definitivo do que deveriam.

1 - O Quarterback é mais valioso do que os outros jogadores do time

Ou seja, a questão do valor posicional. Que não deixa de ser um fato - em um jogo de futebol americano, o quarterback É a posição mais valiosa, a que mais tem chance de impactar um jogo. 95% das jogadas da partida passam pelas mãos de um QB, afinal de contas, e não tem um ato mais individual para se ganhar ou perder jardas na NFL que o passe.

Mas sugerir que só por jogar em uma posição mais importante um jogador não é automaticamente mais valioso do que outro. Depende muito do quanto cada um fez dentro da sua situação. Um RB que corre 100 vezes tem mais chance de impactar uma temporada do que um que corre 50 vezes, mas não quer dizer que o RB1 foi mais valioso - se o segundo tem 5.0 YPC e o primeiro 2.0, então o impacto total do primeiro será consideravelmente maior. O mesmo vale para a posição: o QB tem mais chances e maior impacto no jogo do que um DE, mas a diferença entre Watt e qualquer outro defensor da liga é um abismo MUITO maior do que Rodgers e os outros QBs de elite da NFL.

Esse argumento também pode se virar facilmente - se o valor total de Rodgers é maior que o de Watt porque Rodgers joga em uma posição mais valiosa, então quer dizer que a maior parte do seu valor vem da sua posição, e não do jogador? Se Watt e Rodgers tem um impacto semelhante, mas grande parte do impacto de Rodgers vem em jogar em uma certa posição, então Watt tem muito mais mérito porque atingiu esse impacto sem a "ajuda" de jogar em uma posição que está acima do resto.

Além disso, em termos de posição, o pass rusher tende a ser um pouco underrated. Se o QB é a posição mais importante do jogo, então a segunda mais importante, logicamente, é aquela que atrapalha ao máximo o  QB adversário. E esse é de longe JJ Watt. Um QB sem pressão vai completar muito mais passes do que um sem pressão, então um DE que como JJ Watt coloca pressão muito consistentemente - e MUITO mais frequentemente do que qualquer outro defensor na NFL - tem um impacto incrível de tornar QBs bons em medíocres. Para ilustrar esse ponto, eu queria pegar alguns exemplos de QBs médios na NFL e mostrar a diferença entre quando eles tem pressão e eles não tem pressão. Perguntando para meus seguidores no twitter quem são os QBs mais "médios" da NFL, os mais citados foram Alex Smith, Andy Dalton, Ryan Tannehil e Matt Stafford. Então olhem o quadro abaixo...



Yep, a diferença é considerável. É a diferença entre 2014 Drew Brees (69.2%, 7.5 Y/A, 1.9 TD/INT Ratio, 97 Rating) e 2010 Blaine Gabbert (50.8%, 5.4 Y/A, 1.1 TD/INT, 65.4 Rating). Então considerando que Watt é um pass rusher que pressiona QBs com uma frequência absurda em relação aos demais defensores da NFL (seu rating como pass rusher, via PFF, foi de +91.9. O segundo melhor, Justin Houston, teve +37.0...), e que o time dele não tem NENHUM outro pass rusher acima da média, então um jogador que praticamente sozinho é capaz de transformar QBs de Brees a Gabbert tem um impacto imenso em qualquer partida. E como eu disse, a diferença entre Watt e o resto dos defensores da NFL é MUITO maior que a entre Rodgers e os demais QBs.


2 - O time de Rodgers foi aos playoffs e o de Watt não

Eu entendo a necessidade do argumento da campanha. Mais VALIOSO implica em valor, então você não vai votar em um cara que participou de uma temporada sem valor algum. O problema é que "playoffs" não só é um parâmetro arbitrário, como também (especialmente quando usado como "sim ou não" para eliminar os jogadores do prêmio) ignora totalmente as circunstâncias ao redor da classificação ou não para os playoffs.

No caso do Texans, o time terminou 9-7 a temporada (um ano depois de um 2-14) e só não foi aos playoffs porque, na última semana, o Ravens ganhou do Browns liderado por Connor Shaw como QB (com uma virada no segundo tempo). Então você está me dizendo que o que torna a temporada individual de JJ Watt mais ou menos valiosa é se, em um jogo totalmente independente, o Ravens consegue ou não vencer o Browns com seu terceiro QB reserva?? Esse é o grande motivo pro Watt não ser MVP? Eu sinceramente espero que todo mundo perceba o absurdo desse argumento.

Além disso, tem a questão do time. Nenhum jogador vai para os playoffs sozinho - tem outros 54 jogadores no time que tem seu impacto nisso. Rodgers teve uma temporada fantástica e foi o jogador mais importante do Packers e seu 1st-round bye, sem dúvidas, mas ele também jogou com uma defesa acima da média que terminou o ano como a 14h melhor da NFL (e 9th em turnovers forçados),  enquanto o ataque do Texans terminou 23rd em DVOA e teve que se virar com Ryan Fitzpatrick e Case Keenum de QBs o ano todo. E mesmo no ataque, Rodgers esteve cercado por grandes jogadores - Eddie Lacy, a melhor dupla de WRs da NFL, uma linha ofensiva que teve ótimo ano - enquanto que JJ Watt teve no máximo UM companheiro acima da média esse ano na defesa (mais sobre isso em um segundo). Rodgers teve um impacto enorme, mas os resultados finais do Packers também se devem a um excelente time ao seu redor, enquanto Watt teve pouquissima ajuda para ficar de fora dos playoffs em uma virada esquisita do Ravens contra o terceiro QB do Browns.


A verdade, no entanto, é outra. A verdade é que Rodgers muito provavelmente vai ganhar o MVP simplesmente porque não temos como medir o impacto de JJ Watt de forma a comparar os dois. Embora não seja uma coisa 100% precisa, podemos ter uma noção do que Rodgers fez esse ano para seu time - as jardas, o aproveitamento, touchdowns, interceptações, QBR, conversões de terceiras descidas, etc - enquanto para Watt temos que nos basear apenas em estatísticas fragmentadas como sacks, tackles for loss, e semelhantes. Se JJ Watt, no começo de uma jogada, é bloqueado por três jogadores, passa pelo meios dos três e força o QB a sair do pocket para evitar ser pressionado - e no processo encontra um defensor que não foi bloqueado por causa da atenção extra dada a Watt, que atinge o QB enquanto ele lança, e a bola fica pendurada para um defensor interceptar... como a jogada é registrada? O defensor é registrado como um QB hit, o defensor com uma interceptação, e Watt com nada... mesmo a jogada só tendo possível graças a ele, que atraiu bloqueadores (permitindo que seu companheiro chegue livre no QB rapidamente) e forçou o QB a sair do pocket na direção desse segundo defensor. A jogada aconteceu graças a ele mas ele não foi creditado. E por isso é tão difícil medir o impacto total de Watt. É mais FÁCIL votar em Aaron Rodgers, porque nós podemos ver o impacto total dele.

Futebol americano não é como baseball, onde cada jogada acontece em uma situação quase isolada (o duelo rebatedor vs arremessador) e toda jogada pode ser medida independentemente de forma a creditar os envolvidos no lance. Mas tem um site que tenta fazer exatamente isso, chamado Pro Football Focus. O PFF mede o impacto total de cada jogador em cada lance separadamente - não só o impacto no RESULTADO, mas em todo o processo. Se JJ Watt atravessa rapidamente pelo meio dos bloqueios e da um sack em um QB que ainda está fazendo o dropback, ele recebe muitos créditos por isso. Mas se em uma jogada Watt ocupa três bloqueadores e abre espaço para um companheiro livre dar o sack... ele ainda vai ganhar muitos créditos pelo espaço que criou para o companheiros (independente da jogada acabar em sack ou não). Claro que não é uma abordagem 100% exata, mas é um parâmetro interessante para avaliar defensores e jogadores de linha. Segundo os ratings da PFF, JJ Watt terminou o ano com +107.3, a melhor marca da história do site. O segundo melhor defensor foi Von Miller... com +54. Então JJ Watt foi DUAS VEZES mais impactante do que o segundo melhor defensor da NFL? Inacreditável. E by the way, Rodgers foi um +40, embora os ratings da PFF não incluam um ajuste de posição.

Mas claro, essa é só uma forma imprecisa de avaliar. Eu entendo se você preferir votar em Rodgers, e acho que Rodgers é uma escolha válida, vindo de um ano fantástico. Eu acredito que o MVP foi Watt, mas a questão é que eu não tenho como provar isso. No final, só posso argumentar o meu lado. E é isso que eu farei.

Tirando da minha expertise - anos e anos assistindo e analisando NFL, além das dezenas e até centenas de horas que eu passo assistindo, estudando e analisando a NFL - que eu posso insistir que você deveria confiar, eu pensei em uma forma de tentar ilustrar de forma prática porque Watt foi o jogador mais valioso da NFL além do que já fiz. É totalmente impreciso, especulativo e até opinativo, mas é o que nos resta.

Deixa eu começar com um fato: a defesa do Texans foi #6 em DVOA. Sexta melhor defesa do ano. É uma marca excelente, mas fica mais ridícula quando eu te perguntar qual o segundo melhor jogador defensivo do time. Se você pensou em Brian Cushing, o nome mais famoso, você está bem frio porque Cushing teve uma temporada bem ruim depois de múltiplas lesões. Jadeveon Clowney não jogou nem 150 snaps por conta de lesões. O Texans não teve UM outro defensor defensor realmente bom essa temporada - o segundo melhor provavelmente foi um DB, Kareem Jackson ou Jonathan Joseph, mas nenhum foi realmente bom esse ano. Usando o rating do PFF de novo, o Texans teve ZERO defensores com rating acima de +10 (!!!!) além de JJ Watt, com todos os outros defensores fora o meu MVP totalizando -57.5 de rating. É surreal que esse time tenha conseguido terminar 6th overall, não? JJ Watt fez isso praticamente sozinho. Se você trocasse JJ Watt com um outro DE mediano - digamos, Ricky Jean-François, que teve +0.3 de Rating - a defesa do Texans seria HORRÍVEL, algo como uma das oito piores da NFL. Então JJ Watt sozinho foi a diferença entre, digamos, a defesa do Texans ser a 25h melhor (o que, via PFF, ela seria com essa troca) e ser a #6 melhor. Da última vez que eu vi, o jogo é 50% pontuar e 50% impedir que os outros pontuem. Então defesa e ataque tem o mesmo peso. Se um QB sozinho é a diferença entre o 24h ataque e o 6th ataque da liga sem nenhuma ajuda ao seu redor, ele é o MVP (Peyton Manning em 2009, alguém?), mas se um defensor é essa diferença, ele não pode ganhar porque não é um QB? Porque foi essa a diferença do time com JJ Watt e sem JJ Watt.

Digamos que fizessemos o mesmo com Rodgers. Lembra quando eu disse que Watt teve ZERO companheiros de defesa com Rating acima de +10? Rodgers teve SETE companheiros assim, quatro dos seus linemen, seu RB e seus dois WRs titulares. É uma quantidade considerável de talento - +58.4 tirando Rodgers. Agora vamos trocar Rodgers por, digamos, Alex Smith (que foi o mais citado como sendo um QB mediano e teve QBR de quase 50). Quanto cairia o ataque do Packers? Menos do que se imagina, e bem menos do que cairia a defesa do Texans. O ataque do Chiefs liderado por Alex Smith terminou o ano como o #12 da NFL em DVOA e #15 pelo Pro-Football Reference, e é bem fácil ver a diferença enorme de talento entre os dois ataques. O Chiefs teve talvez a pior coleção de WRs da NFL enquanto o Packers tem talvez a melhor dupla (Cobb e Nelson), e a linha ofensiva do Packers é bastante superior a do Chiefs (Football Outsiders coloca a OL do Packers como aproximadamente a #9 e a do Chiefs como a #18, e PFF coloca Packers em #3 e Chiefs em #22). Em RB parece ter uma queda, mas é menor do que se espera - Charles teve 5.1 YPC contra 4.8 YPC de Eddy Lacy, mas Lacy teve 2.8 jardas depois do contato e Charles 2.5 - e Green Bay na verdade terminou com o sexto melhor ataque terrestre de 2014, uma posição atrás do Chiefs apesar de ser um ataque muito mais orientado para o passe. Então se um ataque muito inferior do Chiefs liderado por Smith conseguiu ser entre #12 e #15 da NFL, é bem razoável supor que trocando Rodgers por esse QB mediano o Packers ainda teria um ataque consideravelmente acima da média, algo entre #8 e #11.  Bem menor.

Então esse é meu argumento arbitrário, imaginativo e impossível de ser provado mas que tenta passar algum resultado prático: tirando a campanha de time (que é afetada por muitas coisas além do controle dos jogadores) e focando apenas no lado da bola influenciado por aquele jogador, o Packers foi uma unidade melhor (#1) do que a do Texans (#6), mas fez isso talvez com a maior coleção de talentos da NFL desse lado da bola, enquanto a defesa do Texans é absolutamente medíocre depois de Watt. Então Watt teve um impacto muito maior para fazer da defesa do Texans boa do que Rodgers, com muito menos ajuda. Obviamente os números acima são aproximações e especulações, mas não é difícil ver a enorme diferença de talento coletivo e o impacto que Watt teve em um time muito inferior. Então é, troque Rodgers por Smith e o Packers não teria um bye, e talvez nem fosse aos playoffs. Mas troque Watt por 90% dos DEs da NFL e o Texans não teria nem sonho de brigar por uma vaga nos playoffs - para efeito de comparação com o exercício de imaginação acima, uma boa comparação seria o Redskins do ano passado, que terminou 23rd em ataque, 21st em defesa e 4-12 de Pythagorean Expectation e 3-13 de record.

No final do dia, JJ Watt teve um impacto no seu time maior do que Aaron Rodgers ou qualquer outro jogador da NFL. Mesmo que eu não possa provar, é nisso que eu acredito.

Ballot hipotético: 1. JJ Watt; 2. Aaron Rodgers; 3. Tony Romo; 4. Rob Gronkowski; 5. Antonio Brown


Bem, com os prêmios oficiais da NFL já resolvidos, hora de alguns prêmios alternativos...

Melhor jogador de 2014 que você não ouviu falar: Chris Harris Jr, CB, Broncos
Runner up: Pernell McPhee, OLB, Ravens
A posição de CB é outra difícil de ver em estatísticas, então as pessoas decidem quem são os melhores principalmente pelo nome. Richard Sherman! Darrelle Revis! E por ai vai. E em termos de consistência, eles provavelmente são mesmos. Mas isolando cada ano, é possível achar CBs que tiveram uma temporada melhor.

Em 2014, esses seriam Chris Harris e Vontae Davis. Davis pra mim foi o melhor CB de 2014, mas todo mundo conhece Davis. Chris Harris eu ficaria surpreso se você tivesse ouvido falar, mas ele foi uma força dominante para a defesa do Broncos essa temporada. Quarterbacks tiveram um rating de 47.8 lançando na direção de Harris em 2014, a segunda melhor marca da NFL, e isso nem diz toda a história do quão dominante ele foi. Harris cedeu .57 jardas por snap na cobertura, quase VINTE pontos a frente do segundo colocado (Sherman, 0.76), e talvez mais importante, sua versatilidade foi chave para a defesa do Broncos: 25% dos snaps de Harris vieram no slot, e ele foi de longe o CB mais dominante cobrindo o slot na temporada, segurando QBs a um rating de 59.8 (mais de 10 abaixo do segundo melhor) e 0.57 jardas por snap, ambas a melhor marca da liga. Isso permitia enorme flexibilidade ao Broncos, tanto alinhar Talib e Harris abertos como podia deslocar Harris para dentro do slot ou até para cobrir TEs. Denver terminou o ano com a quinta melhor defesa aérea da liga, e Harris foi uma grande parte do motivo.

Então parabéns - agora você sabe que talvez o melhor CB de 2014 foi um cara que você deve ter ouvido falar ZERO vezes nas grandes mídias.


Jogador mais decepcionante de 2014 (ataque): Josh Gordon, WR, Browns
Runner up (QBs e calouros não qualificam): Andre Ellington, RB, Cardinals
Josh Gordon foi possivelmente o melhor WR de 2013, liderando a liga em jardas com 1643 (quase 150 a mais que o segundo colocado) e adicionando 9 touchdowns - e isso lembrando que ele perdeu dois jogos suspenso. Então depois dessa temporada onde apareceu como um dos melhores WRs da NFL, todo mundo esperava que Gordon continuasse jogando em altíssimo nível e fosse a principal arma de um novo ataque do Browns comandando por Johnny Manziel.

A temporada de Gordon foi um fiasco antes de começar, pois uma suspensão por uso de drogas (mais uma...) o tirou da temporada 2014. Uma apelação acabou reduzindo sua suspensão para "apenas" 10 jogos, mas foi um enorme setback para um jogador extremamente talentoso com problemas extra-campo. Quando esteve em campo, Gordon não exatamente se destacou - 300 jardas e 24 recepções em 5 jogos - e para piorar esteve envolvido em mais uma polêmica fora de campo, e ainda pior, que também envolveu Manziel e Justin Gilbert, as duas escolhas de primeira rodada do time. Supostamente Manziel e Gilbert teriam perdido um treino (assim como Gordon) por terem ficado até tarde em uma festa na casa do WR. OS detalhes são escassos e contraditórios, então não sabemos ao certo, mas o fato é que os três foram suspensos pelo time para a rodada final e a diretoria parece estar bastante irritada com Gordon, pela sua falta de comprometimento e pela suposta má influência nos demais. Não exatamente o ano que todos esperavam para o talentoso jogador.

Ellington, por outro lado, teve um explosivo 2013 e pareceu um achado no fim do Draft, mas em 2014 assumiu um papel maior na equipe e foi um grande fracasso como RB titular da franquia antes de se machucar.


Jogador mais decepcionante de 2014 (defesa): Patrick Peterson, CB, Cardinaks
Runner up: Michael Johnson, DE, Buccaneers
De novo a questão da dificuldade de avaliar CBs corretamente. Se perguntassem a alguém os melhores CBs da NFL, Peterson provavelmente seria um dos primeiros nomes citados. E não a toa, já que ele tem boas temporadas em seu nome. Mas a verdade é que Peterson - que assinou um enorme contrato de 70M de dólares na offseason - teve um 2014 bastante decepcionante e abaixo do que pode oferecer.

O que chama a atenção em Peterson não é só o quanto os QBs não tinham medo de lançar na sua direção - um passe a cada 6.2 snaps, uma marca acima da média da NFL e bastante alta para um CB de elite - mas também o sucesso que conseguiram nessas tentativas. Quarterbacks lançando na direção de PP tiveram um rating de 97, uma das piores marcas da NFL entre CBs com pelo menos 50% dos snaps na cobertura. Ele até fez um bom trabalho evitando recepções quando na marcação, mas o problema é que permitia muitas jardas após a recepção (17h pior da NFL no quesito) e muitas vezes se encontrava fora de posição para grandes ganhos. Foi uma temporada fraca para Peterson, e embora não tenha sido um ano horroroso, é muito menos do que se esperaria de um dos melhores jovens CBs da NFL entrando em um contrato de 70M.


Pior escolha do Draft até aqui: #3, Jaguars escolhe Blake Bortles
Só porque eu queria lembrar todo mundo que eu avisei que a) essa era uma péssima escolha e b) Bridgewater era de longe o melhor QB dessa classe. So there.


Técnico mais morfético do ano: Jim Caldwell, Lions
Runner ups: Jay Gruden, Redskins
Menção honrosa: Mike Smith, Falcons
Esse prêmio muito bem poderia ser do Gruden. A forma como ele manejou e destruiu totalmente a confiança E o valor de troca de seus DOIS principais quarterbacks - um dos quais foi uma escolha #2 de Draft, Rookie of the Year e custou ao time, entre outras, a escolha #2 DESSE Draft - foi uma obra de arte que eu não sei como ele poderia ter conduzido pior, a não ser que desse uma conferência de imprensa pelado para mostrar uma imagem do Colt McCoy tatuada na virilha enquanto jogava dardos em uma foto do RG3.

Mas o Redskins iria feder anyway, enquanto que Caldwell - o técnico de um bom time do Lions - fez uma diferença consistente (e negativa) em um time que poderia ter sido muito melhor. Eu não sei o quão bom Caldwell é no dia-a-dia do vestiário, mas dentro de campo ele é um dos piores da NFL tomando decisões. Mais notavelmente, Caldwell é talvez o técnico mais covarde e conservador da NFL, alguém que sempre prefere chutar Field Goals seguros ao invés de arriscar pelo maior prêmio do touchdown, nunca tenta conversões de dois pontos fora do óbvio, e simplesmente age da forma mais "não vamos perder" possível, em contraste a um técnico como Belichick que age de forma "vamos fazer o possível para aumentar nossas chances de ganhar". Ele fez isso o ano todo e custou pontos importantes para o Lions (o jogo contra o Falcons em Londres é um ótimo exemplo), e todo torcedor de Detroit sabia que isso poderia ser um enorme problema indo aos playoffs.

Dito e feito, aconteceu. Os torcedores de Detroit podem reclamar (não sem razão) dos juízes, mas a verdade é que o que realmente custou a partida contra o Cowboys nos playoffs foi Caldwell sendo covarde e não tentando um 4th and 1 crucial no quarto período que devolveu a bola a Dallas para vencer o jogo. Já faz alguns anos que eu acho que o Lions é um ótimo time sendo atrasado por um péssimo técnico, e 2014 foi um exemplo muito mais prático disso acontecendo dentro de campo.


Melhor contratação discreta da offseason: Antoine Bethea, Safety, 49ers
Runner up: Henry Melton, DT, Cowboys
Bethea foi contratado sem alarde algum para substituir Donte Whitner como SS de uma das melhores defesas da NFL, e muitas pessoas acharam que era um risco desnecessário. Mas em 2014 Bethea teve talvez sua melhor temporada como profissional, foi talvez o melhor safety da temporada inteira e de longe o melhor jogador de uma secundária que viu seus CBs titulares perderem 22 jogos combinados e ainda terminar como a quinta melhor da NFL em DVOA (e isso antes de lembrar que Aldon Smith perdeu metade da temporada). Bethea foi uma grande parte do motivo pelo qual a defesa de San Francisco continuou como uma das melhores da NFL mesmo em um ano onde jogou a maior parte dos jogos sem seus melhores defensores.

Enquanto isso, o underrated Melton foi discretamente a força motriz por trás de uma defesa do Cowboys que deveria ter sido muito pior do que foi de fato, e peça importante na boa campanha da equipe. Melton chegou sem fanfarra para substituir o excelente Jason Hatcher na linha defensiva, e o time não perdeu nada com a troca, com Melton tendo uma temporada digna de All-Star mas chamando quase nenhuma atenção no processo.


Pior contratação da temporada em 2014: Josh McCown, QB, Bucs
Runner ups: Jayrus Byrd, Safety, Saints; Michael Johnson, DE, Bucs
Foi uma péssima idéia na hora pagar 10M de dólares a Josh McCown, que teve 8 jogos espetaculares para o Bears em 2013 depois de uma carreira inteira sendo apenas um reserva mediano. McCown voltou a ser o que sempre foi essa temporada, com QBR de 35 e rating de 70 e 14 interceptações em 11 péssimos jogos como titular. Ainda que os nossos runner ups tenham sido contratações mais caras e talvez mais desastrosas, eles ainda tem chance de render no resto de seus longos contratos. McCown foi horrível do primeiro ao último segundo.

Não que Byrd e Johnson, talvez os dois principais free agents da temporada, não tenham feito a sua parte. Byrd foi horrível enquanto jogou no que foi a segunda pior defesa da temporada antes de se machucar, e Johnson teve apenas 4 sacks e 9 QB hits na temporada antes de ir para o banco em um time fraco do Bucs. Mas são jogadores com um histórico de serem dos melhores nas suas posições, então é cedo para dizer que foram contratações genuinamente desastrosas no médio prazo.


Least Valuable Player: Trent Richardson, RB, Colts
Runner up: Matt Kalil, OT, Vikings
Não só porque Richardson custou ao Colts uma escolha de primeira rodada nesse Draft, que acabou sendo a #26 (Marcus Smith) e que o Browns usou para subir e pegar MAnziel, mas porque o impacto que ele tem no Colts no dia-a-dia é verdadeiramente impressionante. Indy fez de tudo para dar mais espaço ao muito melhor Ahmad Bradshaw, mas mais uma lesão o tirou da temporada, e lá se foi o Colts insistir em Richardson para tentar tirar QUALQUER valor dessa troca. Desnecessário dizer, não deu certo - Richardson teve apenas 3.3 jardas por corrida (atrás da mesma OL que Bradshaw tinha com seus 4.7 YPC e Dan Herron e seus 4.4 YPC) e continua se provando o RB menos capaz de aproveitar espaços de toda a NFL. Indy finalizou o ano com o quinto pior ataque terrestre da liga graças a ele, e o ataque do Colts (não só o terrestre, como o ataque como um todo) deu um enorme salto quanto o Colts esqueceu a teimosia e mandou Richardson para o banco em favor de Herron. Quando seu time explode ofensivamente porque seu RB que custou uma escolha de primeira rodada foi para o banco em favor de uma escolha de sexta rodada que tinha corrido nove vezes na carreira antes dessa temporada, então tem algo errado ai. Richardson é o LVP da temporada 2014 da NFL.


Agradecimentos especiais ao Carlos Leite pela capa do JJ Watt, e aos meus seguidores do twitter por me ajudar a decidir quem era o QB mais mediano da NFL.