Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O que fazer com a D-League?

Essa imagem é perfeita demais pra ilustrar um post sobre D-League

Agradecimentos especiais a Scott Rafferty, pela conversa sobre o assunto e me ajudar a esclarecer alguns pontos, e ao Keith Schlosser pela ajuda com os salários da D-League


Algum tempo atrás, eu fiz um post chamado "Como Melhorar a NFL?", no qual eu ofereci 30 sugestões do que eu mudaria na NFL se fosse o comissário ou simplesmente o manda-chuva. Algumas idéias eram no sentido de tornar a liga em si mais divertida ou engraçada de se acompanhar, mas outras foram coisas absolutamente sérias que eu achava que fariam um bem a NFL como um todo. O post foi um grande sucesso, então eu comecei a trabalhar em um post igual para a NBA.

E meus pensamentos sobre como melhorar a NBA logo voaram para a D-League, porque é uma instituição interessante que não é nem de longe tão bem utilizada como poderia - e deveria - ser. Então minhas primeiras idéias foram no sentido de decidir o que fazer com a D-League, e elas acabaram ficando tão elaboradas e interessantes que ganharam uma coluna própria. O post com as minhas mudanças para melhorar a NBA ainda sairá algum dia, mas primeiro, queria discutir minha idéia para a D-League.

A D-League, para quem não sabe, é a Liga de Desenvolvimento da NBA. Ela surgiu no começo da década passada como uma liga "alternativa" controlada pela NBA, onde jogadores sem espaço na liga principal poderiam jogar, se desenvolver e mostrar serviço para os times da liga principal. Hoje, a divisão conta com 18 times, sendo que 17 são afiliados diretos de times da NBA e o último, o Fort Wayne Mad Ants, é "dividido" entre os outros. 

Durante muito tempo, a D-League foi mais motivo de piada do que outra coisa. Ser mandado para a D-League, enquanto jogador da NBA, era quase que uma humilhação. Mas com o tempo, isso foi mudando, e a D-League foi assumindo um papel mais ativo e sério na vida dos jogadores e da NBA. Com o boom atual de talento, os times tem menos espaços em seus planteis e preferem deixar jovens talentos se desenvolvendo com calma na D-League ao invés de mofar no banco, e com jogadores chegando cada vez mais jovens (e mais crus) na NBA do College, muitas vezes não estão tão prontos assim para contribuir, e ficam na D-League ganhando rodagem e experiência. Eventualmente, a D-League também ganhou dois outros papeis: o de servir de plataforma para veteranos que (por algum motivo) saíram da NBA mostrar seu jogo em busca de algum contrato com a liga (Tyrus Thomas é o melhor exemplo recente), e mais recentemente e mais interessante, de servir de caminho até o Draft. Alguns jogadores que não puderam terminar de jogar na NCAA para declarar para o Draft (geralmente por suspensão ou dispensa da universidade) optaram por terminar a temporada na D-League antes de se declarar para o Draft. Glen Rice Jr foi (até onde eu sei) o Jackie Robinson dessa idéia, mas logo ganhou força: ano passado, depois de ser suspenso indefinidamente em UNC, PJ Hairston jogou o resto da temporada pelo Texas Legends da D-League (associados do Mavericks) antes de se declarar para o Draft, e é muito provável que Robert Upshaw, recém-dispensado em Washington, siga o mesmo caminho até a NBA.

Então já foi mostrado recentemente que a D-League tem espaço para existir. Times estão sendo cada vez mais agressivos procurando talentos lá, e a liga tem ganho mais funções com o tempo que beneficiam os jogadores e a NBA. Mas a D-League não pode parar por ai - ela precisa continuar evoluindo e acumulando cada vez mais papeis, facilitando a vida dos times da NBA e melhorando a qualidade de jogo. Enquanto a D-League tiver algo a oferecer, a NBA precisa continuar explorando as possibilidades. E para mim, se a D-League vai atingir uma forma ideal, o basquete profissional precisa olhar para o lado e aprender as lições da MLB.

No baseball profissional, existem as ligas menores. Temos a MLB, a divisão principal, mas abaixo dela temos a AAA, a AA, e diversas As, várias diferentes ligas "abaixo" da MLB, onde cada time da liga principal possui uma ou mais "afiliadas" e onde mantém seus jogadores em desenvolvimento. No baseball, quando um jogador é escolhido no Draft, raríssimas vezes ele vai ir jogar entre os profissionais. O mais comum é que vá para uma das ligas menores - de acordo com sua habilidade e o quão "pronto" ele está - e lá passe alguns anos treinando, se desenvolvendo e se preparando para o esporte profissional, até finalmente estar pronto e ser "convocado" para a MLB. Jogadores jovens que não estão indo bem na MLB podem ser mandados por um tempo para a AAA ou a AA (as duas mais "altas") para aperfeiçoar algum fundamento ou corrigir alguma falha, enquanto que veteranos em busca de um novo contrato podem assinar um contrato para passar algum tempo nas ligas menores mostrando serviço.

E é isso que, a meu ver, a D-League precisa ser: uma divisão de "base" para todos os times da NBA. Cada time teria o seu afiliado (totalizando, obviamente, 30 times) e, ao invés do formato atual onde os jogadores das D-Leagues assinam contratos com as afiliadas da D-League, as afiliadas e os times principais seriam uma coisa só. 

Como essa empreitada funcionaria? Que bom que perguntou. Aperte os cintos...


Como funcionaria a nova D-League?


- Antes de mais nada, cada time teria que ter um time afiliado. 17 times atualmente já possuem um, então esses não precisam se preocupar. Os 13 restantes criariam sua própria filial até que a D-League totalizasse 30 times, organizados em duas conferências de acordo com a localização geográfica de cada um (para encurtar viagens). Esses 30 times jogariam em um campeonato semelhante a NBA, mas um mês mais curtos e sem os desgastantes 4-on-5. Ao final do campeonato, assim como a divisão principal, os 16 melhores times se classificariam aos playoffs e jogariam séries de cinco jogos até decidir o campeão. A natureza mais competitiva do torneio ajudaria o desenvolvimento dos jogadores.

- Os planteis da NBA expandiriam para 16 jogadores ao invés de 15, com 13 jogadores "ativos" a cada partida - basicamente o que é hoje, com um lugar extra para um inativo que pode ficar no elenco e treinar com o time principal. Cada plantel de D-League teria 20 lugares vagos, com pelo menos 13 sendo obrigatórios de estarem preenchidos.

- Entre os contratos da NBA, nada mudaria - as regras seriam idênticas, os contratos de calouros ainda garantidos, e tudo mais. A única coisa que mudaria nos contratos de divisão principal como são regidos atualmente é a forma como os times poderiam (ou não) enviar jogadores que assinaram um contrato de NBA para suas divisões de "base", sua afiliada na D-League.

Qualquer jogador ainda no seu contrato de calouro pode ser enviado para as ligas menores (e chamado de volta) quantas vezes a equipe quiser, embora seu contrato, naturalmente, continuará contando contra o salary cap do time principal. Jogadores a partir do seu segundo contrato profissional, no entanto, precisam negociar isso ao assinar - qualquer jogador ao assinar seu contrato estipula o total de vezes que pode ser mandado em uma dada temporada para a D-League (com 3 vezes sendo o maior número permitido) e qualquer jogador pode incluir em seu contrato uma cláusula que impede que o time o mande para a D-League. Qualquer jogador enviado a D-League a partir de um contrato profissional de NBA continuaria contando contra o salary cap da equipe normalmente, mesmo se não-garantido (a não ser, claro, que o time o dispense posteriormente).

- A novidade é que agora os times podem oferecer "D-League Contracts" para qualquer jogador que quiserem. Atualmente, os jogadores da D-League assinam contratos com os times da D-League, mas agora tudo será uma coisa só, com algumas peculiaridades salariais. Escolhas de primeira rodada ainda tem garantido um contrato nos moldes atuais (dois anos garantidos + dois team options de acordo com uma escala salarial equivalente a posição que foi escolhido), mas podem negociar (como fez, por exemplo, Josh Huestis) um contrato de D-League se assim quiserem. Jogadores escolhidos fora da primeira rodada continuam nos moldes atuais - podem assinar um contrato como negociarem, tanto de liga principal como de D-League (explicaremos como estes funcionarão em um minuto).

Qualquer jogador draftado depois da primeira rodada tem seus direitos vinculados ao time que o escolheu na hora de assinar seu primeiro contrato, mas se passado o período de negociações pós-Draft time e jogador não tiverem assinado um acordo, o time precisa oferecer um contrato mínimo (um ano, salário mínimo na D-League de 13 mil dólares) para manter os direitos sobre o jogador. O jogador não é obrigado a aceitá-lo, mas continuará com os direitos vinculados ao time até que seja negociado, dispensado ou assine um contrato (nem que seja o mínimo). Se o jogador assinar esse contrato mínimo, se torna um Free Agent restrito ao final de seu contrato (e estará sujeito as regras normais de FAs restritos). Caso o time não queira oferecer esse contrato ao jogador, pode simplesmente renunciar  aos seus direitos, e assim ele se torna um Free Agent.

- Os contratos de D-League funcionariam da seguinte maneira: qualquer jogador que assinar um contrato desses vai direto para a DL, sem passar pelo plantel oficial da NBA, mas suas especificações dependem do tempo de carreira do jogador.

Se for seu primeiro contrato (seja ele uma escolha de Draft ou um jogador não-draftado) profissional, ele pode assinar um contrato de um a quatro anos seguindo o esquema de "tiers" atual da D-League (A, B ou C, que correspondem a um salário anual de 25k, 19k e 13k, respectivamente), mais um S-"tier" de 50.000 dólares reservado a escolhas de segunda rodada - cada time da D-League só pode ter dois contratos S-tier de cada vez no seu elenco. Ao final desse contrato, ele vira um FA restrito. Jogadores que estão assinando seu segundo contrato profissional (ou posteriores) também podem assinar contratos de um a quatro anos, mas só pelos salários dos tiers A, B ou C, e ao final desse contrato viram free agentes irrestritos. Esses quatro anos podem incluir team options ou player options, como na NBA.

- Qualquer time da NBA pode subir a qualquer momento um jogador em um contrato de D-League, mas se ele passar 14 dias (totais e cumulativos ao longo do ano) no plantel principal da equipe, isso ativa uma cláusula em seu contrato e transforma-o em um contrato de NBA. A duração desse "novo" contrato será a mesma restante em seu contrato de D-League, com iguais team/player options, mas agora seu salário anual passa a ser o equivalente a um salário mínimo de NBA MAIS o seu salário na D-League, e o novo contrato inclui o máximo (três) de opções para um time devolver um jogador a D-League. No momento que um contrato de D-League é "ativado" e passa a ser um de NBA, o valor desse contrato passa a contar sobre o salary cap e não pode ser transformado de volta em um contrato menor. O time e o jogador também tem a opção de, quando "ativada" a cláusula, negociarem um novo contrato profissional que substitua o antigo (obrigatoriamente um de NBA, entretanto), seguindo as regras normais da NBA.

- Pegando uma premissa do Scott Rafferty, do crabdribbles.com e do "Upside and Motor", que diz ter pego essa premissa do Reddit NBA, uma boa providência seria expandir o Draft para três rodadas. Considerando que com esse formato todo o "controle" sobre os direitos de um jogador fica mais importante, é uma boa forma de dar aos times uma forma de se antecipar a jogadores menos conhecidos. Além disso, isso também exporia (de uma forma positiva) mais esses jogadores para a mídia e para o público, algo importante para promover a nova D-League e esses futuros talentos em potencial.

- Todo ano, um mês depois do Draft, os times podem "recrutar" para seus times da NBA até dois jogadores da D-League (com contrato de D-League apenas) de qualquer outra franquia da NBA que não estejam em seu primeiro contrato. As condições são simples: uma vez "recrutado" um jogador, ele automaticamente ativa a cláusula que transforma seu contrato de DL em um de NBA, com a diferença que ele não pode ser devolvido a D-League até o fim do ano. O time que detém os direitos do jogador e de seu contrato atual pode "bloquear" o recrutamento, mas se o fizer ELE é obrigado a chamar o jogador para seu time principal e ativar sua cláusula (em ambos os casos, o time que ficar com o jogador pode optar por assinar um contrato novo com ele). É uma forma de impedir que bons e promissores jogadores fiquem mofando muito tempo na D-League por causa de um time que queira economizar, e força a "mobilidade" dos melhores prospectos.

- Jogadores com mais de 6 anos desde que foram draftados também podem optar por outra modalidade de contrato de D-League, chamado "Veteran Contract". O VC é um contrato de um ano, mínimo e não garantido, com uma cláusula especial sobre subidas a NBA. Um jogador em um VC pode ser convocado a qualquer momento do ano por QUALQUER time da NBA, sob as mesmas condições dos outros, e o time que detém originalmente seus direitos pode bloquear essa convocação sob as mesmas condições. A diferença do VC é poder ser convocado por qualquer time a qualquer momento da temporada, tornando-a uma boa opção para veteranos como Tyrus Thomas que querem usar a D-League para mostrar serviço em busca de um time na NBA.

- Quando um jogador na lista dos contundidos perder pelo menos cinco jogos na NBA por conta de uma lesão, ele tem direito a uma passagem de 7 dias pela D-League como "reabilitação", independente do que esteja previsto no seu contrato e quantas opções de "devolução" estejam previstas no mesmo. Essa passagem de reabilitação não conta como uma das três vezes que um time da NBA pode mandar um jogador para a D-League, mas não pode passar de 7 dias. Se passar, ativa uma "devolução".

- Jogadores em contratos de D-League contam como ativos de cada time, e podem ser negociados livremente em trocas. Para efeitos salariais, apenas contam os salários de contratos de NBA, ou seja, os que contam contra o salary cap da NBA.

- Para jogadores que ainda não passaram pelo Draft mas estão fora da NCAA (como aconteceu com PJ Hairston), eles podem assinar um contrato mínimo (ou seja, Tier C, de 13 mil dólares) de um ano com qualquer time da D-League, mas não podem ser chamados para a NBA sob hipótese alguma sem passarem pelo Draft antes. O time cuja afiliada o jogador passou não tem qualquer direito ou exclusividade sobre ele quando ele se declara para o Draft. 


Como isso beneficiaria a NBA?

A NBA (todas as ligas americanas, na verdade. A NBA até não é a pior) não gosta de mudança ou de admitir a necessidade dela. Ela resistiu a entrada de jogadores negros (a regra não-escrita dos anos 50 era que cada time só poderia ter no máximo dois jogadores negros. O único time que desafiava essa "regra" era o Celtics. Adivinhe que time ganhou 8 títulos seguidos?), resistiu a criação de uma linha de três pontos (a ABA já usava uma muito antes), e Larry O'Brien teve que ser CONVENCIDO de que era uma boa idéia criar o Dunk Contest no All-Star Weekend mesmo com Doc J e David Thompson concordando em participar. Mas mudanças acontecem, querendo ou não, e é nosso trabalho nos adaptar a elas.

E a chegada de novos talentos é uma coisa que mudou radicalmente nos últimos anos, tanto para a NBA como para a NCAA. Os jogadores chegam ao esporte profissional muito mais jovens, e também mais crus e despreparados, do que nunca. A mentalidade do one-and-done - do recruta que passa apenas um ano na NCAA antes de ir para a NBA, já que as regras os obrigam - tomou conta do esporte universitário e dos principais recrutas do país. E pior, também tomou conta dos principais times da NCAA. Até times como Duke agora abraçam os one-and-dones, e sabendo que você só contará com seus principais recrutas por uma temporada, os times parecem cada vez menos preocupados em desenvolver seus jogadores, só colocando-os pra jogar durante esse ano, tentando conseguir suas vitórias, e depois seguindo em frente com um novo recruta. Entre a falta de fundamento antes de chegar a NCAA (pelo qual os AAU Camps são parcialmente responsáveis) e a falta de desenvolvimento no College entre as principais universidades e recrutas, cada vez mais jogadores crus chegam na NBA incapazes de contribuir, e cada vez mais bons talentos se tornam jogadores marginais porque nunca aprenderam a jogar basquete de verdade. Não é uma coincidência que todo ano temos menos calouros contribuindo em alto nível na NBA.

A D-League seria uma alternativa para solucionar - ou remediar - esses problemas. Como cada time teria sua afiliada, ela poderia servir como uma plataforma de desenvolvimento, tanto técnico como tático, já que cada time poderia implementar na sua filial seu esquema de jogo da NBA para facilitar sua transição. Ao invés de usar os jogos da D-League apenas como uma forma de não manter os jogadores parados, agora ele terá uma organização inteira por trás dele trabalhando para desenvolvê-lo, treinar seus fundamentos, lhe ensinar o esquema de jogo que precisa aprender. Assim como o baseball faz com a AAA, a D-League passaria a ser uma etapa a mais no desenvolvimento do jogador, entre a AA (a NCAA) e a MLB (a NBA). Alguns jogadores estão prontos para ir direto para a liga principal, mas a grande maioria não está, e muitos ainda precisam de tempo para desenvolver seu talento.

Além disso, como o Spurs prova a 15 anos (e é ignorado) e o Hawks está provando em 2015, a NBA dos últimos tempos está se direcionando cada vez mais para o jogo coletivo, e um esquema tático bem executado é uma arma poderosíssima para um time. Ter grandes defensores ou grandes criadores é ótimo, mas você pode ter um bom ataque ou uma boa defesa se todos seus jogadores conhecerem o esquema tático, executarem suas funções, contribuírem para o coletivo e não tirarem nada da mesa, como o Hawks está fazendo. Milwaukee tem a segunda melhor defesa da NBA mesmo não tendo um grande defensor no seu elenco, e Atlanta e Charlotte já mostraram que é possível montar uma grande defesa em torno de apenas um grande defensor. Executar uma tática da melhor maneira - especialmente para role players e jogadores de banco - é fundamental para um time que quer ser campeão, e agora os times teriam uma forma de "treinar" esses jogadores nas suas "categorias de base" da DL, ou mesmo uma forma de pegar algum jogador do elenco principal e mandá-lo para ficar algumas semanas treinando o playbook do time na D-League, sem que ele fique parado mas sem precisar ficar colocando-o em quadra e prejudicando seu time.

Times também podem usar a D-League não só para desenvolver jogadores e para ensinar fundamentos específicos ou táticas para seus jogadores, como também de laboratório (usar algum jogador em uma posição nova, um novo estilo de jogo, etc) ou mesmo como aprendizado para a comissão técnica. Se tem um jovem técnico ou assistente que quer preparar, pode deixá-lo na D-League, ver como ele implementa o esquema de jogo, ver como ele lida com um ambiente mais competitivo... ou mesmo "desenvolver" também o jovem técnico. Aumenta em muito a flexibilidade e as opções de cada equipe.

A NBA tende a se beneficiar com isso também. Aumentaria o interesse na D-League, poderia servir como laboratório para eventuais mudanças que esteja estudando ("limpar" o aro, mudanças na quadra, etc), e muito mais importante, teria um impacto na qualidade do jogo. Você criaria uma opção  que geraria jogadores mais preparados, com mais tempo para treinar seus fundamentos, o que aumentaria a profundidade e a oferta de jogadores de qualidade na liga como um todo. Você teria times tecnicamente mais bem preparados e mais bem treinados, mais profundos. E você teria, acima de tudo, uma maior e mais eficiente capitalização no talento dos jogadores da NBA. Ao invés de ver jogadores como Tony Mitchell, Chris Walker, McAdoo e tantos outros - talentosos, atléticos, mas crus, o tipo de prospecto que você olha e fala "se aprender a jogar basquete, vai ser fantástico" - se perdendo e nunca chegando a contribuir na NBA pela falta de uma formação adequada, agora você oferece a eles um lugar onde podem tirar essa diferença e talvez realizar a promessa que traziam. Não que eu imagine que de repente tudo vai se encaixar, todos os jogadores com algum defeito realizarão suas limitações e complementarão essas falhas, e a NBA terá 40 All Stars todo ano - a questão é que agora você passa a oferecer uma situação muito melhor e mais elaborada, não só para esses jogadores, mas para os times da NBA em si se tornarem melhores e mais competitivos.

Você da a jovens jogadores uma melhor chance de sucesso, aumenta o nível técnico e tatico da NBA, e da aos times novas ferramentas para melhorar a si mesmo e aos seus jogadores. Tem bastante potencial de melhoria com essa idéia.

Claro, é improvável que aconteça. Isso exigira que vários times que alegam "pobreza" (mesmo com pessoas pagando 600M de dólares por times "ruins" e de mercado pequeno) - desculpa que usam para não ter uma afiliada na D-League - abrindo os cofres e montando toda uma nova estrutura de uma nova equipe (por outro lado, se tem uma hora pra isso acontecer, é agora, que os valores das franquias da NBA estão subindo alucinadamente). Isso exigiria alguns ajustes salariais importantes, especialmente por parte da luxury tax, embora isso também pudesse gerar alguns nichos de incentivo (por exemplo, poderiam descontar salários de jogadores promovidos de contratos da D-League da  multa da luxury tax). E mais central, a NBA odeia mudanças radicais dessas, especialmente uma que envolveria alguns ajustes na estrutura já estabelecida da liga, ainda que mínimos.

Ainda assim, o momento para isso acontecer é agora. O atual ("novo") CBA é extremamente favorável aos times financeiramente, e o valor das equipes está subindo como nunca, então isso vai contra o argumento dos gastos. Além disso, um empreendimento desse tipo criaria empregos para jogadores de basquete e aumentaria os gastos da equipe, então o sindicato dos jogadores pode ver essa como uma medida favorável na próxima negociação de CBA, o que pode dar mais poder de negociação aos donos tirarem ainda mais dinheiro do negócio como forma de "financiar" essa expansão da D-League.

Além disso, a própria D-League, mesmo frágil e ainda menor como é hoje, está ganhando um papel cada vez mais importante e ativo, conforme os times e os jogadores vão descobrindo os benefícios que podem extrair disso. Então o debate sobre como usá-la está mais relevante do que nunca. Mas alguns times estão relutantes e outros estão acomodados, e se a NBA se mover para tornar a D-League uma liga como eu estou sugerindo aqui faria muito por acelerar esse melhor uso, e isso se repercutiria no jogo como o conhecemos. É trabalho da NBA fortalecer seu produto, e essa seria uma medida nessa direção, que beneficiaria os times, o produto e, quem sabe, poderia mudar a vida de muitos jovens jogadores que nunca atingem seu potencial pela falta de uma etapa de desenvolvimento em suas carreiras. 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Distribuindo prêmios para a NFL - 2014

Run, JJ, Run!!!


A temporada da NFL chegou ao fim, e nós chegamos aos playoffs. Eu sei, eu sei, a cobertura do TMW tem estado... deficiente, pra dizer o mínimo. Bom, foi por uma boa causa, embora uma que talvez só seja sentida daqui a uns meses. Vocês saberão do que se trata quando chegar a hora.

Como eu não queria pegar o bonde andando e cair de paraquedas no meio de análises complexas - até porque não tenho acompanhado em tantos detalhes como gostaria essas duas últimas semanas, por motivos profissionais e pessoais - não vou falar aqui de playoffs ainda. Naturalmente, vocês podem todos acompanhar meus comentários pelo twitter (www.twitter.com/tmwarning) ou pelo facebook (TM Warning), onde eu falo disso o tempo todo. Vocês também podem acompanhar meus palpites (e o de vários outros) pelo blog The Playoffs

Mas antes eu queria falar sobre um último tema da temporada regular: prêmios. Todo ano, é quase tradição aqui fazer minhas escolhas para os principais prêmios (e outros não tão principais assim) da temporada e justificá-las, e esse ano não vai ser diferente. Lembrando que, no fundo, isso é uma questão de opinião - eu tenho a minha e farei questão de justificá-las, porque todas são profundamente pensadas e pesadas, mas você pode ter uma diferente. 

Então sem enrolações, vamos ver quem teria meu voto para os principais prêmios da temporada (e mais uns outros): Comeback Player of the Year, Coach of the Year, Offensive e Defensive Rookie of the Year, Offensive e Defensive Player of the Year, e MVP. E mais alguns outros que eu criei, mais pro final.


Comeback Player of the Year: Rolando McClain

Sejamos sinceros, esse é um prêmio um tanto quanto estúpido. Não que não seja legal celebrar jogadores que, de alguma forma, deram a volta por cima em suas carreiras. O estúpido é tentar pesar esses jogadores e essas situações uma contra a outra para decidir quem foi o "Cara que deu a volta por cima do ano". Isso é ainda mais ridículo quando se considera que estamos falando da NFL, uma liga cujo jogo envolve mastodontes de 150kg correndo e pulando uns em cima dos outros. Lesões são o lugar-comum da NFL, então todo ano você tem uns 40 jogadores diferentes importantes voltando de uma lesão séria. É uma amostra enorme de jogadores.

Além disso, outro problema é como você deve votar nesse prêmio, como escolher o vencedor dentro dessa amostra enorme. Seu voto deve ir para quem? Para quem superou a maior adversidade? Para quem jogou melhor em 2014 entre todos os que superaram algum tipo de adversidade? Para o que fez maior diferença em um time melhor? Ou só para o que tem a história mais interessante? Alguma combinação deles? Todos os prêmios individuais sofrem de alguma ambiguidade, mas esse talvez seja a pior de todas.

Então vira muito algo individual. Cada um que crie seu próprio critério e escolha um jogador de acordo com isso (razão número 294 de porquê esse prêmio devia ser abolido). E esse ano - como todos os anos, já que lesões são o lugar-comum da NFL - temos uma boa variedade de jogadores que merecia esse prêmio se escolhidos: Jeremy Maclin, Maurkice Pouncey, Justin Forsett (meu segundo colocado), James Harrison, Jay Ratliff - para citar alguns. 

Mas meu vencedor é Rolando McClain, por uma enorme combinação de fatores: ele foi um dos melhores jogadores em sua posição na temporada; ele teve um papel importantíssimo em um bom time; ele chamou bastante atenção ao longo do ano com suas jogadas... e em grande parte porque ele quem superou a maior e mais bizarra adversidade entre todos esses citados.

A verdade é que, doze meses atrás, Rolando McClain estava fora da NFL. Draftado em 2010 pelo Raiders com uma escolha de primeira rodada, McClain era um talentosos mas problemático que nunca correspondeu ao hype dentro de campo e gerou problemas suficientes fora dele para que Oakland o dispensasse durante a temporada 2012. Ele assinou um contrato não-garantido com Baltimore antes de decidir que não estava mais em condições de continuar jogando futebol americano profissional, e decidiu se aposentar dos campos. Voltou para Alabama para terminar sua graduação, e ficou longe do esporte profissional por um ano, sem lugar na liga nem interesse em voltar. Eventualmente manifestou seu interesse em participar dos treinos de offseason do Ravens mas foi dispensado, e acabou assinando um contrato não-garantido com o Cowboys para voltar a NFL.

Ele foi um grande sucesso desde então. Longe de problemas (a não ser lesões), McClain brilhou para uma defesa que desesperadamente precisava de ajuda (e estaria sem Sean Lee a temporada toda), com duas impressionantes interceptações no começo do ano e sendo uma força contra o jogo terrestre. McClain conseguiu "Stops" - quando ele é responsável por interromper o avanço do jogador - em 15% das jogadas terrestres nas quais esteve envolvido, a segunda maior marca da liga atrás de Chris Borland (com 21,3%) e confortavelmente na frente do terceiro, Luke Kuechly (com 12.9%). Mesmo perdendo três jogos, foi o melhor ou segundo melhor jogador da defesa do Cowboys essa temporada. 

Então McClain tem meu voto porque é quem melhor combina fatores favoráveis ao prêmio, alguém que estava literalmente fora do esporte e voltou para atuar em alto nível para um time que desesperadamente precisava disso.

Ballot hipotético: 1. Rolando McClain; 2. Justin Forsett; 3. Maurkice Pouncey.


Coach of the Year: Bruce Arians

Esse é, de longe, o prêmio que eu mais odeio na NFL e em qualquer outro esporte. É o supremo prêmio de resultados sobre processo. É muito difícil perceber que técnico é o melhor e faz o melhor trabalho ano a ano, especialmente se ele está fazendo esse trabalho a mais tempo. Então como é difícil discernir que técnico tem o maior impacto isolado, os votantes geralmente voltam suas atenções para o time que mudaram de técnico e sofreram grandes melhoras no processo - cegamente creditando tal evolução ao novo técnico, e não quaisquer outras mudanças do processo. 

Então normalmente eu estaria apenas reclamando do prêmio e passando por ele rapidamente. Mas esse ano, existe um técnico que realmente merece esse prêmio, e ele é Bruce Arians. O trabalho que ele fez para manter junto um time do Cardinals em decomposição esse ano - ganhando 11 jogos e uma vaga nos playoffs no processo - foi fantástico, e merece ser reconhecido.

A verdade é que o Cardinals não foi tão bom como seu record (11-5) parece indicar. Mesmo antes da lesão de Carson Palmer, eles tinham diversos indicadores mostrando que esse record enganava: seu Pythagorean Wins era de um time 8-8 (4-1 em jogos decididos por até 7 pontos, e 5-1 em jogos decididos por oito), e DVOA coloca o Cardinals como apenas o 22nd melhor time da NFL na temporada. Embora sejam fatores sutis, o fato é que Arizona não era a máquina que muitos times imaginavam mesmo quando estava ganhando vários jogos.

Mesmo admitindo que não era um time tão bom assim e que teve muita sorte, o que o grupo de Arians fez esse ano ainda foi impressionante. DEZ dos jogos do time foram iniciados por Ryan Lindley ou Drew Stanton de QB, e eu não preciso dizer sobre como isso é algo péssimo para qualquer time absolutamente incapaz de correr com a bola (3.3 jardas por corrida, pior marca da liga). A defesa também sofreu imensamente desde o ano passado. Em 2013, o Cardinals e sua sufocante defesa contou com as performances de Darnell Dockett, Karlos Dansby, John Abraham, Daryl Washington, Jeremiah Bell e Tyrann Mathieu rumo a terminar a temporada como a segunda melhor defesa do ano, mas esse ano não tinham mais nada disso - Bell aposentou, Dockett e Washington perderam a temporada com suspensões, Abraham e Dansby saíram antes da temporada, e mesmo Mathieu começou apenas 6 jogos na temporada por conta de lesões. Essa é uma quantidade impressionante de problemas para um time que sequer foi aos playoffs em 2013 e não contou com nenhum enorme reforço tirando Jared Veldheer.

Então é verdade, o Cards não era tão bom assim. Ms a verdade é que eles não deveriam nem ter sido bons NESSE ponto, considerando os QBs que jogaram 60% dos snaps para Arizona, a falta de um jogo terrestre, e as enormes perdas na defesa. Que esse time chegasse a 8-8 (como seu Pythagorean Record) já é um milagre enorme, especialmente lembrando que eles jogam na divisão mais forte da NFL e tiveram o terceiro calendário mais difícil de toda a NFL. Bruce Arians fez magia com o que tinha, e colocou a equipe em uma situação que, com meia dúzia de golpes de sorte, poderia arrancar uma vaga nos playoffs. Ele merece esse prêmio.

Ballot hipotético: 1. Bruce Arians. 2. Bill Belichick. 3. Mike Zimmer


Defensive Rookie of the Year: Aaron Donald

Esse prêmio teria sido de Chris Borland se ele tivesse jogado mais do que oito jogos na temporada, mas a presença de Patrick Willis, um começo lento e uma lesão tiraram dele os jogos que precisaria para garantir o prêmio. Ele teria sido uma escolha merecida, e até certo ponto "fácil": Borland é o tipo de jogador que simplesmente chama a atenção. Ele está sempre fazendo jogadas espetaculares, acumulando números incríveis, e jogando em altissimo nível na posição que seu time perdeu não um, mas DOIS All-Pro MLBs (que, aliás, foram os dois melhores de 2013 pelo rating da PFF). Um bom exemplo: Chris Borland liderou todos os LBs da MLB em "Stops" no jogo terrestre, conseguindo um em 21.3% (!!!!) dos seus snaps de jogadas terrestres. O atual Defensive Player of the Year, Luke Kuechly, foi terceiro entre os MLBs com... 12.9%. A  diferença entre Borland (#1) e Kuechly (#3) é quase a mesma entre Kuechly (#3) e AJ Hawk (#56). Ele teria sido uma escolha válida.

Mas ele jogou apenas 8 jogos completos, então é difícil votar nele quando outros jogadores foram tão dominantes quanto, mas jogando mais snaps e mais jogos. Então meu voto fica entre os dois monstros da primeira metade da primeira rodada, Kahlil Mack e Aaron Donald. Depois de muito pensar, fico com Donald, um monstro no interior da linha defensiva de Saint Louis e uma força destrutiva tanto contra a corrida como contra o passe. Ele terminou o ano com 9 sacks (segundo melhor entre DTs) e 29 QB hurries (sexto melhor), e só Kyle Williams, Ndamukong Suh e Gerald McCoy afetaram diretamente mais jogadas de passe (Sacks, hits, hurries e passes desviados) que Donald. Ele terminou quarto entre DTs em Stop% e sexto em produtividade no pass rush, e terminou o ano como o DT mais bem rankeado pelas notas da Pro Football Focus (cometeu apenas duas faltas o ano todo também). E ele fez tudo isso apesar de enfrentar marcações duplas quase toda jogada.

Mack foi um monstro na temporada contra a corrida, somou 40 QB Hurries e terminou o ano como o jogador mais bem rankeado da SUA posição, então não é uma disputa fácil. Mas para mim a constante presença e efeito nos ataques que Donald teve ao longo do ano faz dele um pouco melhor, e merecedor desse prêmio.

Ballot hipotético: 1. Aaron Donald; 2. Kahlil Mack. 3. Chris Borland; 4. CJ Mosley; 5. Anthony Barr


Offensive Rookie of the Year: Odell Beckham Jr

De longe o voto mais fácil de todo essa lista. 

Apesar de ter jogado em apenas 12 partidas (e sido titular em 11) por conta de uma lesão no começo do ano, OBJ terminou o ano décimo em jardas recebidas, nono em recepção e quarto em touchdowns na temporada inteira. Se pegarmos suas estatísticas na temporada (91 recepções, 1305 jardas e 12 touchdowns) e projetarmos seus números para uma temporada completa (16 jogos), ele "terminaria" a temporada com ridículas 121 recepções para 1740 jardas e 16 touchdowns (a primeira ficaria em segundo, e as outras duas liderariam a liga). Ele também recebeu 70% das bolas lançadas na sua direção, um número ridículo para um WR que recebe tantas bolas longas. Você pode muito bem fazer um argumento de que Beckham foi um dos quatro melhores WRs da temporada (junto de Dez Bryant, Jordy Nelson e Antonio Brown), e mesmo com três jogos a menos, a diferença dele para seu competidor mais próximo pelo prêmio entre WRs (Mike Evans) é significativa - 23 recepções e 250 jardas. Oh, talvez você tenha ouvido falar também, mas ele também teve uma recepção legalzinha.




Então sim, é bem fácil dar o prêmio para Odell Beckham Jr. Ele foi espetacular e extremamente dominante quando esteve em campo, e foi de longe o calouro mais memorável da temporada.

O quanto jogar com um bom QB ajudou Odell Beckham Jr em relação aos seus companheiros? Bastante. Eli Manning teve talvez sua melhor temporada como profissional, e foi um QB bem acima da média, enquanto Mike Evans e Sammy Watkins ficaram presos recebendo passes de caras como Mike Glennon, Josh McCown, EJ Manuel e Kyle Orton. Mas ainda assim, tem vários WRs - não só calouros, no geral - que jogam com QBs bem melhores que Eli Manning e mesmo assim não conseguem esses números de vídeo game que OBJ teve. Em uma espetacular classe de WRs que tem tudo para ser uma das melhores da história da NFL, Beckham ficou consideravelmente acima da sua competição como o melhor da temporada. 

A classe de WRs calouros foi, de longe, a que mais recebeu atenção (merecida) da mídia e dos torcedores, mas não quer dizer que tenha sido a única a se destacar na temporada. Outros jogadores de outras posições também merecem destaque.

Os QBs de 2014 - bastante celebrados antes o Draft - foram em certa medida uma decepção. Blake Bortles (vou evitar criticar mais o coitado do que já fiz) foi um fracasso homérico, com quase duas vezes mais turnovers (21) que touchdowns (11) e, em QBR, foi o segundo pior QB da temporada entre os 44 com pelo menos 100 passes lançados (21.3 - apenas EJ Manuel foi pior); Johnny Manziel chamou muito mais atenção pelos problemas extra-campo que pelo que fez dentro deles; e Derek Carr, apesar dos 21 TDs, completou apenas 58% dos seus passes a 5.5 jardas por passe (pior marca da NFL). Não que todo eles sejam fracassos sem salvação, claro, mas para quem esperava mais da classe no curto prazo foi uma decepção. A exceção foi nosso salvador, Teddy "Footballgame" Bridgewater, que foi o melhor QB dessa classe durante dois anos antes do Draft para, na hora do vamos ver, vários "olheiros anônimos" ficarem procurando motivos estúpidos para criticá-lo. Bridgewater caiu até a #32, o Vikings ficou com o steal do Draft, e não tem qualquer duvida que atualmente ele é muito melhor que Manziel e Bortles. A lição, como sempre: "olheiros anônimos" são muito, muito burros.

Talvez por ter pegado fogo só na segunda metade da temporada, talvez porque isso aconteceu em um time irrelevante, talvez porque todo mundo estava babando demais nos WRs para se importar, mas a verdade é que Bridgewater teve uma temporada incrível que não recebeu a devida atenção. Apesar de estar recebendo pouquíssima ajuda de seus companheiros - o Vikings teve a sexta pior OL protegendo o passe e um grupo horrível de WRs (Cordarelle Patterson, que recebeu 49% dos passes lançados na sua direção e teve 384 jardas, foi o segundo WR mais usado do time) - Bridge terminou o ano com 64.4% de passes completados e 7.1 jardas por passe, e esses números ainda não traduzem o quão bom ele foi na reta final da temporada. Nos últimos sete jogos do ano, Bridge completou 68.2% dos seus passes para 7.8 jardas por passe com 12 TDs e 7 interceptações, sendo que três delas foram desviadas por seus próprios WRs. De acordo com o rating da PFF, nessas sete semanas apenas Rodgers e Drew Brees geraram mais valor para suas equipes que Teddy. Bridgewater também terminou o ano acertando 75.3% de seus passes (!!!) quando sob pressão, a melhor marca da NFL desde pelo menos 2008 (quando essa estatística passou a existir) e algo fundamental para sobreviver atrás de uma péssima linha ofensiva. Foi uma performance espetacular do camisa 5, e deixa poucas dúvidas de quem era no final das contas o melhor QB do Draft.

Por fim, o fato de jogarem na posição mais anônima da NFL impediu que recebessem muitas honras, mas dois dos melhores calouros de 2014 passaram a temporada dominando o interior de linhas ofensivas de forma impressionante. Joel Bitonio foi o LG titular do Browns, e Zack Martin o RG titular do Cowboys, e ambos tiveram temporadas absolutamente dominantes: em 32 jogos, os dois COMBINARAM para ceder um sack e 5 QB hits TOTAIS, estiveram entre os guards mais importantes contra o jogo terrestre e ajudaram a ancorar duas das melhores linhas ofensivas do esporte. A posição em que jogam não ajuda, mas em termos de dominância dentro da posição, provavelmente foram os dois melhores calouros tirando OBJ.

Foi uma classe realmente incrível para calouros ofensivos, e depois do #1, vocês podem mudar a ordem do meu ballot a vontade e ainda chegar em algo totalmente válido.

Ballot hipotético: 1. Odell Beckham Jr; 2. Teddy Bridgewater; 3. Zack Martin; 4. Mike Evans; 5. Joel Bitonio.
Hon. mention: Jeremy Hill.



Defensive Player of the Year: Justin Houston

Meu eterno problema com o "X Player of the Year": ele é ridículo quando você também tem o MVP para entregar. No caso dos jogadores de defesa, isso não é um problema porque é raríssimo um defensor ganhar o MVP, mas no caso dos jogadores de ataque, fica complicado. Se você foi o MVP e NÃO foi o melhor jogador pelo menos da sua posição, então você muito provavelmente não deveria ter sido o MVP. Então pra que criar um prêmio redundante, que vai premiar alguém duas vezes? Por isso eu longamente defendo que quem ganha o prêmio de MVP não deveria ser permitido ganhar também o respectivo "Player of the Year". Na verdade, no caso dos jogadores de ataque, eu vou um passo além: acho que o Offensive Player of the Year é o melhor jogador que NÃO era da posição do ganhador do MVP. Se Aaron Rodgers ganhar o MVP, então ele foi o melhor QB e pronto, é estúpido dar o "Offensive Player of the Year" para outro QB se Rodgers foi melhor, e é ainda mais dar duas vezes o prêmio para Rodgers. Então se ele ganha o MVP, e o prêmio vai para o melhor não-QB de ataque da temporada. É a única forma de tornar esse prêmio relevante (outra solução seria abolir os "Player of the Year" e dar logo um MVP ofensivo e um MVP defensivo).

Então sim, é extremamente óbvio quem foi o melhor defensor de 2014. Isso não é discutível. JJ Watt é #1 no meu ballot. Mas como aqui no TM Warning ele também ganha o MVP (chegaremos lá), então o Defensive Player of the Year vai para meu #2, que é Justin Houston.

Houston teve provavelmente a temporada menos comentada que um jogador que terminou com 22 sacks já teve na história, embora o fato dele ter chegado a esse número com 4 sacks na última semana provavelmente tenha algo a ver com isso. Mas vai mais além de ter chegado a meio sack do recorde histórico de Michael Strahan (22.5 sacks). Houston foi a força (humana) mais destrutiva da NFL em 2014, e por uma confortável margem. Além de seus 22 sacks, que lideraram a NFL, ele também teve 8 QB hits e 50 (!!) QB Hurries. Isso é um monte de jogadas de passe que ele influenciou positivamente. Ele totalizou 85 jogadas de pressão na temporada, que é 13 a mais do que qualquer outro jogador (tirando obviamente Watt, que liderou a categoria) teve no ano (72 de Ryan Kerrigan e Michael Bennett). Se a NFL é uma liga que cada vez mais valoriza o passe, então ter um jogador capaz de influenciar esse enorme número de jogadas de passe é um ativo valiosíssimo. E Houston foi o melhor não-JJ da NFL fazendo isso no ano inteiro.

E não é como se Houston fosse um pass rusher unidimensional que só ataca o QB e pronto. Ele também teve 50 stops totais (melhor entre 3-4 OLBs) e 22 stops contra o jogo terrestre (4th entre OLBs), e fez tudo isso sem cometer nenhuma falta na temporada e atraindo mais faltas do que qualquer outro pass rusher. Ele destruiu times em jogadas terrestres e de passe, aterrorizou quarterbacks o ano todo e, no final, teve o maior impacto defensivo do que qualquer outro ser humano normal teve nessa temporada. Com Watt fora da jogada, ele é meu DPOY.

Ballot hipotético: 1. JJ Watt; 2. Justin Houston; 3. Ndamukong Suh; 4. Von Miller; 5. Vontae DAvis.
Hon. mention: Cameron Wake; Terrell Suggs; Calais Campbell; Luke Kuechly; Chris Harris Jr.


Offensive Player of the Year: Aaron Rodgers

Antes de começar a falar de como Rodgers foi o melhor jogador de ataque da temporada, apresento a vocês dois QBs:

QB A: 69.9% de aproveitamento, 8.5 jardas por passe, 7.8 TD%; 113.2 rating; 82.75 QBR (liderou a NFL em todos esses quesitos)
QB B: 65.5% de aproveitamento, 8.4 jardas por passe, 7.3 TD%, 112.2 rating; 82.64 QBR

Muito boas temporadas, não? Ambos são excelentes QBs, ambos venceram 12 partidas para suas equipes, e ambos contam com a ajuda de um bom RB e de um dos três melhores WRs da temporada. 

Os mais observadores provavelmente já perceberam que são os números de Aaron Rodgers e Tony Romo. Então ainda que Rodgers tenha sido o melhor quarterback da temporada, Romo chegou bem perto de seus números, e é mais do que hora de reconhecer o que ele tem feito e...

Espera, você está me dizendo que na verdade Romo é o QB A?! O que liderou a NFL em aproveitamento, jardas por passe, TD%, rating e QBR, e ainda teve cinco viradas em quartos períodos (líder da NFL)?! Oh, boy... ai sim, fomos surpreendidos novamente. 

Isso quer dizer que Romo foi o melhor QB de 2014? Não necessariamente. Enquanto é um mito ridículo (que muitas pessoas querem propagar para fazer seus argumentos parecerem mais fortes) que Rodgers não tem muita ajuda em Green Bay - ele tem uma linha ofensiva muito underrated, uma excelente dupla de WRs e um ótimo RB - é fácil ver que Romo também tem muita ajuda em Dallas, e mesmo mais. Ele jogou com o líder em jardas terrestres da NFL, também conta com duas espetaculares armas (Dez e Witten) e, talvez mais importante, contou com a melhor linha ofensiva da NFL inteira. Nenhum QB teve mais tempo no pocket do que Tony Romo nessa temporada, e isso sem dúvida é uma grande vantagem. Além disso, tem o fato de que, no plano ofensivo de Dallas, Romo era "secundário" ao ataque terrestre - os QBs de Dallas deram 476 passes contra 508 corridas - e portanto, no plano de jogo geral, Romo acaba tendo menos impacto que Rodgers (os QBs de Green Bay deram 536 passes contra 435 corridas). Esse é o principal motivo pelo qual Romo deu 100 passes a menos na temporada do que o camisa 12 do Packers. Some a isso a questão do calendário - Green Bay enfrentou um calendário mediano, 18h na NFL, enquanto que Dallas enfrentou o segundo mais fácil - e o resultado é que, em contexto, a performance e influência total de Rodgers supera a de Romo. Por pouco, mas supera. Rodgers simplesmente precisou fazer mais esse ano.

E isso não é para demérito de Tony Romo, que foi fantástico a temporada inteira e terminou o ano liderando todas as categorias estatísticas relevantes para QB exceto INT% (Rodgers foi o #1) e DVOA (foi #2 atrás de Rodgers). Embora eu coloque Rodgers na frente dele pelos motivos que já expliquei, Romo foi tão bom quanto Rodgers e claramente o segundo melhor QB da temporada. E é mais do que hora de parar com o ridículo mito (em geral propagado por pessoas que só querem causar polêmica) de que Tony Romo é um problema para o Cowboys - ele tem sido um ótimo QB por anos a fio preso em um time horrível que exige demais dele. Com um bom jogo terrestre e uma ótima linha ofensiva pela primeira vez em anos, Romo teve uma temporada fantástica, pau a pau com o provável MVP da NFL. Outros QBs tiveram anos muito bons - Big Ben e Tom Brady vem a mente - mas Rodgers e Romo, em 2014, estiveram um patamar acima de todos os demais.

Entre os não-QBs, o primeiro nome que vem a mente provavelmente é DeMarco Murray, que liderou a liga em jardas terrestres (com incríveis 1845) e passou boa parte da temporada ameaçando quebrar a marca das 2000, antes de desacelerar na segunda metade da temporada. Ele terminou com quase 500 jardas a mais que o segundo colocado (LeVeon Bell com 1261), então a diferença total foi considerável.

Ainda assim, eu não estou muito convencido de que a temporada de Murray foi tão boa quanto parece. Sua produção total certamente superou todos os demais, mas essa maior produção veio principalmente de uma carga de trabalho muito superior: Murray correu com a bola 90 vezes mais do que o segundo colocado em corridas (LeSean McCoy), 102 vezes mais que LeVeon Bell e 112 vezes mais do que Marshawn Lynch. E enquanto ele merece bastante crédito por manter a eficiência em uma carga tão grande de trabalho, não é como se tivesse feito seu trabalho com uma eficiência muito superior a concorrência: suas 4.7 jardas por corrida são virtualmente idênticas as marcas de Bell e Lynch, e fica atrás de RBs como Justin Forsett (5.4), Jamaal Charles (5.0) e Arian Foster (4.8). Além disso, também tem o fato de que DeMarco Murray joga atrás da melhor linha ofensiva da NFL, uma unidade que abriu mais buracos e grandes espaços do que qualquer outro no jogo terrestre tirando, talvez, a do Packers. Embora seja difícil dizer com certeza o quanto do desempenho de um corredor é mérito dele ou da linha ofensiva, não é difícil ver que Murray teve mais "ajuda" nesse quesito do praticamente todos os outros grandes corredores da NFL. Murray teve, em média, 2.3 jardas por corrida ANTES do primeiro contato, enquanto Marshawn Lynch, por exemplo, teve 1.6 e Arian Foster teve 2.0. Então somando todos os fatores, a temporada de Murray não parece mais tão espetacular. Sim, ele teve uma produção total maior do que qualquer outro RB (e não foi por muito - em jardas totais ele está apenas 46 a frente de Bell), mas ela não veio dele ter sido particularmente mais dominante que os outros por corrida, e sim porque o Cowboys simplesmente fez ele correr mais do que outros RBs - e isso antes de considerar que ele teve mais ajuda da sua linha ofensiva nessas corridas do que qualquer um. Então embora Murray tenha sido o RB que mais produziu em 2014, ele não foi tão individualmente dominante para merecer entrar nesse prêmio sobre jogadores que tiveram um ano superior, e é discutível sequer se foi o melhor RB da temporada.

Se quer achar o melhor não-QB ofensivo de 2014, então é para Antonio Brown que você precisa olhar. O WR liderou a NFL em jardas e recepções, e foi segundo em touchdowns - por uma boa margem. Suas 129 recepções foram 18 a mais do que o segundo colocado (Demaryus Thomas) e 80 jardas a mais. Aliás, suas 129 recepções não foram só de longe a melhor marca da temporada - é a melhor marca dos últimos 12 anos e a segunda melhor marca da história da NBA. E não é como se ele tivesse acumulado passes fáceis perto da linha de scrimmage - apenas 7 jogadores na NFL inteira tiveram mais recepções em passes de 20+ jardas, e ele converteu 48% dos passes longos lançados na sua direção em recepções, a quarta melhor marca da NFL entre recebedores com pelo menos 25 alvos em tais passes. Brown também aparece como terceiro jogador entre WRs com mais jardas após a recepção e, talvez mais incrível para um jogador tão usado (e tão usado em jogadas longas), ele teve uma recepção em 71.6% das bolas lançadas na sua direção - a sexta melhor marca entre WRs com mais de 80 passes lançados na sua direção, e entre os 10 jogadores com mais passes direcionados da NFL, o que mais se aproxima do aproveitamento de Brown é Jordy Nelson... que tem 64.7%. Some a isso suas habilidades retornando punts - ele foi o quarto retornador com mais jardas em 2014, com um TD - e a verdade é que foi uma das mais impressionantes temporadas de um WR nos últimos anos.

Para fechar, um outro não-QB merece consideração para o prêmio. Não pelo que produziu individualmente, mas porque seu efeito no resto do ataque de seu time é incrível. Rob Gronkowski, a primeira vista, teve apenas uma boa temporada - uma linha de 82 recepções, 1124 jardas e 12 TDs, uma slash line muito boa para um TE, mas não espetacular. Ai você lembra que Gronk, que perdeu o final da temporada 2013 por conta de uma lesão grave no joelho, começou o ano bastante limitado pela sua equipe. Ele foi titular em apenas 10 jogos, e nos primeiros quatro jogos da equipe jogou apenas 60% dos snaps, não sendo usado como o centro do ataque da equipe. Isso mudou depois da surra que o Pats levou do Chiefs na semana 4 - Gronk jogou 85% dos snaps na semana seguinte e voltou a ser o TE em tempo integral do time. E ai você começa a observar o impacto que essa mudança - de jogador complementar, sendo poupado, para centro do ataque - teve no ataque como um todo. Eis os números para o ataque do Patriots entre as semanas 1-4 e as 11 semanas que Gronkowski jogou a 100% (não considerando o jogo da semana 17 contra o Bills, no qual Gronk foi poupado):



E a diferença nos números de Tom Brady...



So... Hmm... Yeah.

Claro, é difícil atribuir toda essa enorme mudança a só um jogador, mas o timing desse salto não é coincidência. O efeito que Gronk tem no ataque de New England é espetacular. Rápido e atlético demais para ser coberto por linebackers, forte e grande demais para ser marcado por defensive backs, a presença de Gronk em campo faz toda a defesa se dobrar na sua direção, sempre cautelosa e precisando designar dois jogadores na sua direção geral - o que, naturalmente, abre muito mais espaço para o jogo terrestre e, principalmente, linhas de passe para os WRs de um time que não tem grandes jogadores capazes de criar separação. Então seus números individuais são bons (e ficam ainda mais impressionantes quando você lembra que ele só foi titular em 10 jogos), mas o impacto que Gronk teve no resto do seu time foi ainda mais impressionante e o que o coloca na disputa por esse prêmio.

Ballot hipotético: 1. Aaron Rodgers; 2. Tony Romo; 3. Antonio Brown; 4. Rob Gronkowski; 5. DeMarco Murray
Menção honrosa: LeVeon Bell; Marshawn Lynch.


Most Valuable Player: JJ Watt

Para mim, hoje, existe algo que é indiscutível.

JJ Watt é o melhor jogador da NFL.

De novo, eu não acho que isso é passível de debate. A NFL tem muitos bons defensores na atualidade, mas a diferença entre Watt e os próximos "melhores defensores da NFL" é realmente absurda, e muito maior do que a diferença entre os melhores jogadores ofensivos da NFL, de qualquer outra posição. Watt é possivelmente o defensor mais individualmente dominante da NFL desde Lawrence Taylor, amplamente considerado o maior de todos os tempos.

O problema, claro, é que o prêmio não é para o melhor jogador - é para o jogador "mais valioso", seja lá o que isso quer dizer. Porque, hmm, ninguém realmente sabe o que isso quer dizer. É ambíguo, e a NFL não tem nenhuma intenção de esclarecer como deveriamos pensar esse prêmio. Eles QUEREM que tenha ambiguidade, quer que as pessoas discutam e criem suas teorias, e escrevam colunas sobre isso. Quanto mais difícil for decidir, mais as pessoas conversarão sobre isso, e é o que a liga quer. E é essa distinção - entre melhor e mais valioso - que cria uma brecha para que o melhor jogador da NFL não ganhe o prêmio de MVP.

Então como o melhor jogador da NFL não é o mais valioso? Os argumentos contra Watt, e a favor de Aaron Rodgers, se baseiam em dois pontos. Dois pontos que não são desprovidos de valor, claro, mas que acabam sendo usados como algo mais definitivo do que deveriam.

1 - O Quarterback é mais valioso do que os outros jogadores do time

Ou seja, a questão do valor posicional. Que não deixa de ser um fato - em um jogo de futebol americano, o quarterback É a posição mais valiosa, a que mais tem chance de impactar um jogo. 95% das jogadas da partida passam pelas mãos de um QB, afinal de contas, e não tem um ato mais individual para se ganhar ou perder jardas na NFL que o passe.

Mas sugerir que só por jogar em uma posição mais importante um jogador não é automaticamente mais valioso do que outro. Depende muito do quanto cada um fez dentro da sua situação. Um RB que corre 100 vezes tem mais chance de impactar uma temporada do que um que corre 50 vezes, mas não quer dizer que o RB1 foi mais valioso - se o segundo tem 5.0 YPC e o primeiro 2.0, então o impacto total do primeiro será consideravelmente maior. O mesmo vale para a posição: o QB tem mais chances e maior impacto no jogo do que um DE, mas a diferença entre Watt e qualquer outro defensor da liga é um abismo MUITO maior do que Rodgers e os outros QBs de elite da NFL.

Esse argumento também pode se virar facilmente - se o valor total de Rodgers é maior que o de Watt porque Rodgers joga em uma posição mais valiosa, então quer dizer que a maior parte do seu valor vem da sua posição, e não do jogador? Se Watt e Rodgers tem um impacto semelhante, mas grande parte do impacto de Rodgers vem em jogar em uma certa posição, então Watt tem muito mais mérito porque atingiu esse impacto sem a "ajuda" de jogar em uma posição que está acima do resto.

Além disso, em termos de posição, o pass rusher tende a ser um pouco underrated. Se o QB é a posição mais importante do jogo, então a segunda mais importante, logicamente, é aquela que atrapalha ao máximo o  QB adversário. E esse é de longe JJ Watt. Um QB sem pressão vai completar muito mais passes do que um sem pressão, então um DE que como JJ Watt coloca pressão muito consistentemente - e MUITO mais frequentemente do que qualquer outro defensor na NFL - tem um impacto incrível de tornar QBs bons em medíocres. Para ilustrar esse ponto, eu queria pegar alguns exemplos de QBs médios na NFL e mostrar a diferença entre quando eles tem pressão e eles não tem pressão. Perguntando para meus seguidores no twitter quem são os QBs mais "médios" da NFL, os mais citados foram Alex Smith, Andy Dalton, Ryan Tannehil e Matt Stafford. Então olhem o quadro abaixo...



Yep, a diferença é considerável. É a diferença entre 2014 Drew Brees (69.2%, 7.5 Y/A, 1.9 TD/INT Ratio, 97 Rating) e 2010 Blaine Gabbert (50.8%, 5.4 Y/A, 1.1 TD/INT, 65.4 Rating). Então considerando que Watt é um pass rusher que pressiona QBs com uma frequência absurda em relação aos demais defensores da NFL (seu rating como pass rusher, via PFF, foi de +91.9. O segundo melhor, Justin Houston, teve +37.0...), e que o time dele não tem NENHUM outro pass rusher acima da média, então um jogador que praticamente sozinho é capaz de transformar QBs de Brees a Gabbert tem um impacto imenso em qualquer partida. E como eu disse, a diferença entre Watt e o resto dos defensores da NFL é MUITO maior que a entre Rodgers e os demais QBs.


2 - O time de Rodgers foi aos playoffs e o de Watt não

Eu entendo a necessidade do argumento da campanha. Mais VALIOSO implica em valor, então você não vai votar em um cara que participou de uma temporada sem valor algum. O problema é que "playoffs" não só é um parâmetro arbitrário, como também (especialmente quando usado como "sim ou não" para eliminar os jogadores do prêmio) ignora totalmente as circunstâncias ao redor da classificação ou não para os playoffs.

No caso do Texans, o time terminou 9-7 a temporada (um ano depois de um 2-14) e só não foi aos playoffs porque, na última semana, o Ravens ganhou do Browns liderado por Connor Shaw como QB (com uma virada no segundo tempo). Então você está me dizendo que o que torna a temporada individual de JJ Watt mais ou menos valiosa é se, em um jogo totalmente independente, o Ravens consegue ou não vencer o Browns com seu terceiro QB reserva?? Esse é o grande motivo pro Watt não ser MVP? Eu sinceramente espero que todo mundo perceba o absurdo desse argumento.

Além disso, tem a questão do time. Nenhum jogador vai para os playoffs sozinho - tem outros 54 jogadores no time que tem seu impacto nisso. Rodgers teve uma temporada fantástica e foi o jogador mais importante do Packers e seu 1st-round bye, sem dúvidas, mas ele também jogou com uma defesa acima da média que terminou o ano como a 14h melhor da NFL (e 9th em turnovers forçados),  enquanto o ataque do Texans terminou 23rd em DVOA e teve que se virar com Ryan Fitzpatrick e Case Keenum de QBs o ano todo. E mesmo no ataque, Rodgers esteve cercado por grandes jogadores - Eddie Lacy, a melhor dupla de WRs da NFL, uma linha ofensiva que teve ótimo ano - enquanto que JJ Watt teve no máximo UM companheiro acima da média esse ano na defesa (mais sobre isso em um segundo). Rodgers teve um impacto enorme, mas os resultados finais do Packers também se devem a um excelente time ao seu redor, enquanto Watt teve pouquissima ajuda para ficar de fora dos playoffs em uma virada esquisita do Ravens contra o terceiro QB do Browns.


A verdade, no entanto, é outra. A verdade é que Rodgers muito provavelmente vai ganhar o MVP simplesmente porque não temos como medir o impacto de JJ Watt de forma a comparar os dois. Embora não seja uma coisa 100% precisa, podemos ter uma noção do que Rodgers fez esse ano para seu time - as jardas, o aproveitamento, touchdowns, interceptações, QBR, conversões de terceiras descidas, etc - enquanto para Watt temos que nos basear apenas em estatísticas fragmentadas como sacks, tackles for loss, e semelhantes. Se JJ Watt, no começo de uma jogada, é bloqueado por três jogadores, passa pelo meios dos três e força o QB a sair do pocket para evitar ser pressionado - e no processo encontra um defensor que não foi bloqueado por causa da atenção extra dada a Watt, que atinge o QB enquanto ele lança, e a bola fica pendurada para um defensor interceptar... como a jogada é registrada? O defensor é registrado como um QB hit, o defensor com uma interceptação, e Watt com nada... mesmo a jogada só tendo possível graças a ele, que atraiu bloqueadores (permitindo que seu companheiro chegue livre no QB rapidamente) e forçou o QB a sair do pocket na direção desse segundo defensor. A jogada aconteceu graças a ele mas ele não foi creditado. E por isso é tão difícil medir o impacto total de Watt. É mais FÁCIL votar em Aaron Rodgers, porque nós podemos ver o impacto total dele.

Futebol americano não é como baseball, onde cada jogada acontece em uma situação quase isolada (o duelo rebatedor vs arremessador) e toda jogada pode ser medida independentemente de forma a creditar os envolvidos no lance. Mas tem um site que tenta fazer exatamente isso, chamado Pro Football Focus. O PFF mede o impacto total de cada jogador em cada lance separadamente - não só o impacto no RESULTADO, mas em todo o processo. Se JJ Watt atravessa rapidamente pelo meio dos bloqueios e da um sack em um QB que ainda está fazendo o dropback, ele recebe muitos créditos por isso. Mas se em uma jogada Watt ocupa três bloqueadores e abre espaço para um companheiro livre dar o sack... ele ainda vai ganhar muitos créditos pelo espaço que criou para o companheiros (independente da jogada acabar em sack ou não). Claro que não é uma abordagem 100% exata, mas é um parâmetro interessante para avaliar defensores e jogadores de linha. Segundo os ratings da PFF, JJ Watt terminou o ano com +107.3, a melhor marca da história do site. O segundo melhor defensor foi Von Miller... com +54. Então JJ Watt foi DUAS VEZES mais impactante do que o segundo melhor defensor da NFL? Inacreditável. E by the way, Rodgers foi um +40, embora os ratings da PFF não incluam um ajuste de posição.

Mas claro, essa é só uma forma imprecisa de avaliar. Eu entendo se você preferir votar em Rodgers, e acho que Rodgers é uma escolha válida, vindo de um ano fantástico. Eu acredito que o MVP foi Watt, mas a questão é que eu não tenho como provar isso. No final, só posso argumentar o meu lado. E é isso que eu farei.

Tirando da minha expertise - anos e anos assistindo e analisando NFL, além das dezenas e até centenas de horas que eu passo assistindo, estudando e analisando a NFL - que eu posso insistir que você deveria confiar, eu pensei em uma forma de tentar ilustrar de forma prática porque Watt foi o jogador mais valioso da NFL além do que já fiz. É totalmente impreciso, especulativo e até opinativo, mas é o que nos resta.

Deixa eu começar com um fato: a defesa do Texans foi #6 em DVOA. Sexta melhor defesa do ano. É uma marca excelente, mas fica mais ridícula quando eu te perguntar qual o segundo melhor jogador defensivo do time. Se você pensou em Brian Cushing, o nome mais famoso, você está bem frio porque Cushing teve uma temporada bem ruim depois de múltiplas lesões. Jadeveon Clowney não jogou nem 150 snaps por conta de lesões. O Texans não teve UM outro defensor defensor realmente bom essa temporada - o segundo melhor provavelmente foi um DB, Kareem Jackson ou Jonathan Joseph, mas nenhum foi realmente bom esse ano. Usando o rating do PFF de novo, o Texans teve ZERO defensores com rating acima de +10 (!!!!) além de JJ Watt, com todos os outros defensores fora o meu MVP totalizando -57.5 de rating. É surreal que esse time tenha conseguido terminar 6th overall, não? JJ Watt fez isso praticamente sozinho. Se você trocasse JJ Watt com um outro DE mediano - digamos, Ricky Jean-François, que teve +0.3 de Rating - a defesa do Texans seria HORRÍVEL, algo como uma das oito piores da NFL. Então JJ Watt sozinho foi a diferença entre, digamos, a defesa do Texans ser a 25h melhor (o que, via PFF, ela seria com essa troca) e ser a #6 melhor. Da última vez que eu vi, o jogo é 50% pontuar e 50% impedir que os outros pontuem. Então defesa e ataque tem o mesmo peso. Se um QB sozinho é a diferença entre o 24h ataque e o 6th ataque da liga sem nenhuma ajuda ao seu redor, ele é o MVP (Peyton Manning em 2009, alguém?), mas se um defensor é essa diferença, ele não pode ganhar porque não é um QB? Porque foi essa a diferença do time com JJ Watt e sem JJ Watt.

Digamos que fizessemos o mesmo com Rodgers. Lembra quando eu disse que Watt teve ZERO companheiros de defesa com Rating acima de +10? Rodgers teve SETE companheiros assim, quatro dos seus linemen, seu RB e seus dois WRs titulares. É uma quantidade considerável de talento - +58.4 tirando Rodgers. Agora vamos trocar Rodgers por, digamos, Alex Smith (que foi o mais citado como sendo um QB mediano e teve QBR de quase 50). Quanto cairia o ataque do Packers? Menos do que se imagina, e bem menos do que cairia a defesa do Texans. O ataque do Chiefs liderado por Alex Smith terminou o ano como o #12 da NFL em DVOA e #15 pelo Pro-Football Reference, e é bem fácil ver a diferença enorme de talento entre os dois ataques. O Chiefs teve talvez a pior coleção de WRs da NFL enquanto o Packers tem talvez a melhor dupla (Cobb e Nelson), e a linha ofensiva do Packers é bastante superior a do Chiefs (Football Outsiders coloca a OL do Packers como aproximadamente a #9 e a do Chiefs como a #18, e PFF coloca Packers em #3 e Chiefs em #22). Em RB parece ter uma queda, mas é menor do que se espera - Charles teve 5.1 YPC contra 4.8 YPC de Eddy Lacy, mas Lacy teve 2.8 jardas depois do contato e Charles 2.5 - e Green Bay na verdade terminou com o sexto melhor ataque terrestre de 2014, uma posição atrás do Chiefs apesar de ser um ataque muito mais orientado para o passe. Então se um ataque muito inferior do Chiefs liderado por Smith conseguiu ser entre #12 e #15 da NFL, é bem razoável supor que trocando Rodgers por esse QB mediano o Packers ainda teria um ataque consideravelmente acima da média, algo entre #8 e #11.  Bem menor.

Então esse é meu argumento arbitrário, imaginativo e impossível de ser provado mas que tenta passar algum resultado prático: tirando a campanha de time (que é afetada por muitas coisas além do controle dos jogadores) e focando apenas no lado da bola influenciado por aquele jogador, o Packers foi uma unidade melhor (#1) do que a do Texans (#6), mas fez isso talvez com a maior coleção de talentos da NFL desse lado da bola, enquanto a defesa do Texans é absolutamente medíocre depois de Watt. Então Watt teve um impacto muito maior para fazer da defesa do Texans boa do que Rodgers, com muito menos ajuda. Obviamente os números acima são aproximações e especulações, mas não é difícil ver a enorme diferença de talento coletivo e o impacto que Watt teve em um time muito inferior. Então é, troque Rodgers por Smith e o Packers não teria um bye, e talvez nem fosse aos playoffs. Mas troque Watt por 90% dos DEs da NFL e o Texans não teria nem sonho de brigar por uma vaga nos playoffs - para efeito de comparação com o exercício de imaginação acima, uma boa comparação seria o Redskins do ano passado, que terminou 23rd em ataque, 21st em defesa e 4-12 de Pythagorean Expectation e 3-13 de record.

No final do dia, JJ Watt teve um impacto no seu time maior do que Aaron Rodgers ou qualquer outro jogador da NFL. Mesmo que eu não possa provar, é nisso que eu acredito.

Ballot hipotético: 1. JJ Watt; 2. Aaron Rodgers; 3. Tony Romo; 4. Rob Gronkowski; 5. Antonio Brown


Bem, com os prêmios oficiais da NFL já resolvidos, hora de alguns prêmios alternativos...

Melhor jogador de 2014 que você não ouviu falar: Chris Harris Jr, CB, Broncos
Runner up: Pernell McPhee, OLB, Ravens
A posição de CB é outra difícil de ver em estatísticas, então as pessoas decidem quem são os melhores principalmente pelo nome. Richard Sherman! Darrelle Revis! E por ai vai. E em termos de consistência, eles provavelmente são mesmos. Mas isolando cada ano, é possível achar CBs que tiveram uma temporada melhor.

Em 2014, esses seriam Chris Harris e Vontae Davis. Davis pra mim foi o melhor CB de 2014, mas todo mundo conhece Davis. Chris Harris eu ficaria surpreso se você tivesse ouvido falar, mas ele foi uma força dominante para a defesa do Broncos essa temporada. Quarterbacks tiveram um rating de 47.8 lançando na direção de Harris em 2014, a segunda melhor marca da NFL, e isso nem diz toda a história do quão dominante ele foi. Harris cedeu .57 jardas por snap na cobertura, quase VINTE pontos a frente do segundo colocado (Sherman, 0.76), e talvez mais importante, sua versatilidade foi chave para a defesa do Broncos: 25% dos snaps de Harris vieram no slot, e ele foi de longe o CB mais dominante cobrindo o slot na temporada, segurando QBs a um rating de 59.8 (mais de 10 abaixo do segundo melhor) e 0.57 jardas por snap, ambas a melhor marca da liga. Isso permitia enorme flexibilidade ao Broncos, tanto alinhar Talib e Harris abertos como podia deslocar Harris para dentro do slot ou até para cobrir TEs. Denver terminou o ano com a quinta melhor defesa aérea da liga, e Harris foi uma grande parte do motivo.

Então parabéns - agora você sabe que talvez o melhor CB de 2014 foi um cara que você deve ter ouvido falar ZERO vezes nas grandes mídias.


Jogador mais decepcionante de 2014 (ataque): Josh Gordon, WR, Browns
Runner up (QBs e calouros não qualificam): Andre Ellington, RB, Cardinals
Josh Gordon foi possivelmente o melhor WR de 2013, liderando a liga em jardas com 1643 (quase 150 a mais que o segundo colocado) e adicionando 9 touchdowns - e isso lembrando que ele perdeu dois jogos suspenso. Então depois dessa temporada onde apareceu como um dos melhores WRs da NFL, todo mundo esperava que Gordon continuasse jogando em altíssimo nível e fosse a principal arma de um novo ataque do Browns comandando por Johnny Manziel.

A temporada de Gordon foi um fiasco antes de começar, pois uma suspensão por uso de drogas (mais uma...) o tirou da temporada 2014. Uma apelação acabou reduzindo sua suspensão para "apenas" 10 jogos, mas foi um enorme setback para um jogador extremamente talentoso com problemas extra-campo. Quando esteve em campo, Gordon não exatamente se destacou - 300 jardas e 24 recepções em 5 jogos - e para piorar esteve envolvido em mais uma polêmica fora de campo, e ainda pior, que também envolveu Manziel e Justin Gilbert, as duas escolhas de primeira rodada do time. Supostamente Manziel e Gilbert teriam perdido um treino (assim como Gordon) por terem ficado até tarde em uma festa na casa do WR. OS detalhes são escassos e contraditórios, então não sabemos ao certo, mas o fato é que os três foram suspensos pelo time para a rodada final e a diretoria parece estar bastante irritada com Gordon, pela sua falta de comprometimento e pela suposta má influência nos demais. Não exatamente o ano que todos esperavam para o talentoso jogador.

Ellington, por outro lado, teve um explosivo 2013 e pareceu um achado no fim do Draft, mas em 2014 assumiu um papel maior na equipe e foi um grande fracasso como RB titular da franquia antes de se machucar.


Jogador mais decepcionante de 2014 (defesa): Patrick Peterson, CB, Cardinaks
Runner up: Michael Johnson, DE, Buccaneers
De novo a questão da dificuldade de avaliar CBs corretamente. Se perguntassem a alguém os melhores CBs da NFL, Peterson provavelmente seria um dos primeiros nomes citados. E não a toa, já que ele tem boas temporadas em seu nome. Mas a verdade é que Peterson - que assinou um enorme contrato de 70M de dólares na offseason - teve um 2014 bastante decepcionante e abaixo do que pode oferecer.

O que chama a atenção em Peterson não é só o quanto os QBs não tinham medo de lançar na sua direção - um passe a cada 6.2 snaps, uma marca acima da média da NFL e bastante alta para um CB de elite - mas também o sucesso que conseguiram nessas tentativas. Quarterbacks lançando na direção de PP tiveram um rating de 97, uma das piores marcas da NFL entre CBs com pelo menos 50% dos snaps na cobertura. Ele até fez um bom trabalho evitando recepções quando na marcação, mas o problema é que permitia muitas jardas após a recepção (17h pior da NFL no quesito) e muitas vezes se encontrava fora de posição para grandes ganhos. Foi uma temporada fraca para Peterson, e embora não tenha sido um ano horroroso, é muito menos do que se esperaria de um dos melhores jovens CBs da NFL entrando em um contrato de 70M.


Pior escolha do Draft até aqui: #3, Jaguars escolhe Blake Bortles
Só porque eu queria lembrar todo mundo que eu avisei que a) essa era uma péssima escolha e b) Bridgewater era de longe o melhor QB dessa classe. So there.


Técnico mais morfético do ano: Jim Caldwell, Lions
Runner ups: Jay Gruden, Redskins
Menção honrosa: Mike Smith, Falcons
Esse prêmio muito bem poderia ser do Gruden. A forma como ele manejou e destruiu totalmente a confiança E o valor de troca de seus DOIS principais quarterbacks - um dos quais foi uma escolha #2 de Draft, Rookie of the Year e custou ao time, entre outras, a escolha #2 DESSE Draft - foi uma obra de arte que eu não sei como ele poderia ter conduzido pior, a não ser que desse uma conferência de imprensa pelado para mostrar uma imagem do Colt McCoy tatuada na virilha enquanto jogava dardos em uma foto do RG3.

Mas o Redskins iria feder anyway, enquanto que Caldwell - o técnico de um bom time do Lions - fez uma diferença consistente (e negativa) em um time que poderia ter sido muito melhor. Eu não sei o quão bom Caldwell é no dia-a-dia do vestiário, mas dentro de campo ele é um dos piores da NFL tomando decisões. Mais notavelmente, Caldwell é talvez o técnico mais covarde e conservador da NFL, alguém que sempre prefere chutar Field Goals seguros ao invés de arriscar pelo maior prêmio do touchdown, nunca tenta conversões de dois pontos fora do óbvio, e simplesmente age da forma mais "não vamos perder" possível, em contraste a um técnico como Belichick que age de forma "vamos fazer o possível para aumentar nossas chances de ganhar". Ele fez isso o ano todo e custou pontos importantes para o Lions (o jogo contra o Falcons em Londres é um ótimo exemplo), e todo torcedor de Detroit sabia que isso poderia ser um enorme problema indo aos playoffs.

Dito e feito, aconteceu. Os torcedores de Detroit podem reclamar (não sem razão) dos juízes, mas a verdade é que o que realmente custou a partida contra o Cowboys nos playoffs foi Caldwell sendo covarde e não tentando um 4th and 1 crucial no quarto período que devolveu a bola a Dallas para vencer o jogo. Já faz alguns anos que eu acho que o Lions é um ótimo time sendo atrasado por um péssimo técnico, e 2014 foi um exemplo muito mais prático disso acontecendo dentro de campo.


Melhor contratação discreta da offseason: Antoine Bethea, Safety, 49ers
Runner up: Henry Melton, DT, Cowboys
Bethea foi contratado sem alarde algum para substituir Donte Whitner como SS de uma das melhores defesas da NFL, e muitas pessoas acharam que era um risco desnecessário. Mas em 2014 Bethea teve talvez sua melhor temporada como profissional, foi talvez o melhor safety da temporada inteira e de longe o melhor jogador de uma secundária que viu seus CBs titulares perderem 22 jogos combinados e ainda terminar como a quinta melhor da NFL em DVOA (e isso antes de lembrar que Aldon Smith perdeu metade da temporada). Bethea foi uma grande parte do motivo pelo qual a defesa de San Francisco continuou como uma das melhores da NFL mesmo em um ano onde jogou a maior parte dos jogos sem seus melhores defensores.

Enquanto isso, o underrated Melton foi discretamente a força motriz por trás de uma defesa do Cowboys que deveria ter sido muito pior do que foi de fato, e peça importante na boa campanha da equipe. Melton chegou sem fanfarra para substituir o excelente Jason Hatcher na linha defensiva, e o time não perdeu nada com a troca, com Melton tendo uma temporada digna de All-Star mas chamando quase nenhuma atenção no processo.


Pior contratação da temporada em 2014: Josh McCown, QB, Bucs
Runner ups: Jayrus Byrd, Safety, Saints; Michael Johnson, DE, Bucs
Foi uma péssima idéia na hora pagar 10M de dólares a Josh McCown, que teve 8 jogos espetaculares para o Bears em 2013 depois de uma carreira inteira sendo apenas um reserva mediano. McCown voltou a ser o que sempre foi essa temporada, com QBR de 35 e rating de 70 e 14 interceptações em 11 péssimos jogos como titular. Ainda que os nossos runner ups tenham sido contratações mais caras e talvez mais desastrosas, eles ainda tem chance de render no resto de seus longos contratos. McCown foi horrível do primeiro ao último segundo.

Não que Byrd e Johnson, talvez os dois principais free agents da temporada, não tenham feito a sua parte. Byrd foi horrível enquanto jogou no que foi a segunda pior defesa da temporada antes de se machucar, e Johnson teve apenas 4 sacks e 9 QB hits na temporada antes de ir para o banco em um time fraco do Bucs. Mas são jogadores com um histórico de serem dos melhores nas suas posições, então é cedo para dizer que foram contratações genuinamente desastrosas no médio prazo.


Least Valuable Player: Trent Richardson, RB, Colts
Runner up: Matt Kalil, OT, Vikings
Não só porque Richardson custou ao Colts uma escolha de primeira rodada nesse Draft, que acabou sendo a #26 (Marcus Smith) e que o Browns usou para subir e pegar MAnziel, mas porque o impacto que ele tem no Colts no dia-a-dia é verdadeiramente impressionante. Indy fez de tudo para dar mais espaço ao muito melhor Ahmad Bradshaw, mas mais uma lesão o tirou da temporada, e lá se foi o Colts insistir em Richardson para tentar tirar QUALQUER valor dessa troca. Desnecessário dizer, não deu certo - Richardson teve apenas 3.3 jardas por corrida (atrás da mesma OL que Bradshaw tinha com seus 4.7 YPC e Dan Herron e seus 4.4 YPC) e continua se provando o RB menos capaz de aproveitar espaços de toda a NFL. Indy finalizou o ano com o quinto pior ataque terrestre da liga graças a ele, e o ataque do Colts (não só o terrestre, como o ataque como um todo) deu um enorme salto quanto o Colts esqueceu a teimosia e mandou Richardson para o banco em favor de Herron. Quando seu time explode ofensivamente porque seu RB que custou uma escolha de primeira rodada foi para o banco em favor de uma escolha de sexta rodada que tinha corrido nove vezes na carreira antes dessa temporada, então tem algo errado ai. Richardson é o LVP da temporada 2014 da NFL.


Agradecimentos especiais ao Carlos Leite pela capa do JJ Watt, e aos meus seguidores do twitter por me ajudar a decidir quem era o QB mais mediano da NFL.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Escolhas altas de Draft garantem sucesso?

Não se preocupe, Greg Oden - você não está sozinho nessa coluna


Na temporada 2014-15, uma das histórias mais chamativas e polêmicas é o Philadelphia 76ers fazendo um esforço muito forte para se tornar o primeiro time 1-81 da história, desgraçando o esporte, a NBA, e seus torcedores no processo. No momento, o Sixers tem o pior ataque da NBA e a oitava pior defesa, com saldo de -12.8 pontos por 100 posses de bola, uma marca historicamente ruim que seria uma das piores marcas desde 1996 pelo menos (quando começa a database do NBA Stats). Para efeito de comparação, o Sixers de 2014 foi o pior da NBA com -10.7/100 posses, e essa marca esteve muito próxima alguns dias atrás (-15.9) do pior time da história da NBA (em W%), o Bobcats pós-lockout, que teve -15.5.

Tem que ser muito, muito ruim para chegar nesse ponto, e Philly chegou nisso se recusando a contratar jogadores, trocando todos os jogadores que poderiam contribuir um pouco que seja por nada (muitas vezes menos para acumular ativos em retorno e mais para se livrar de alguém que poderia ajudar a vencer jogos), draftando jogadores que ainda não estarão prontos para jogar por mais um tempo (Noel perdeu e Embiid deve perder a temporada de calouro inteira por lesão, Saric vai ficar na Europa mais dois anos), e enchendo seu elenco com jogadores ruins e irrelevantes ao invés de pegar alguém que realmente saiba jogar basquete. Em outras palavras, o Sixers está em meio a um gigantesco esforço a longo prazo para ser o pior possível. 

Por que um time faria isso consigo mesmo e com seus torcedores? Por causa do sistema de loteria atual. É um fato que, na NBA de hoje, é quase impossível ganhar um título sem uma estrela, um jogador Top10 ou Top15 na liga. Mas esses jogadores são raros, e nada fáceis de se adquirir uma vez que já estão estabelecidos na liga. A melhor forma de conseguir essas estrelas é achando uma no Draft, e o melhor lugar para isso é o topo do draft, onde teoricamente são escolhidos os melhores jogadores. Então o jeito mais fácil de conseguir uma estrela dessas é tendo uma escolha alta de Draft, e a melhor forma de conseguir isso hoje em dia é tendo o pior record da liga. O formato da loteria atual favorece isso: se você termina com a pior campanha da NBA, você tem 25% de chance de sair com a primeira escolha, e 100% de chance de sair com uma escolha Top4. É ai que você quer estar para achar os melhores jogadores possíveis que, em alguns anos, possam formar a espinha dorsal de um time vencedor.

Com a forma como a loteria hoje é montada, não existe lugar pior para se estar do que na classe média da NBA, quando você não é ruim o suficiente para ter escolhas altas de Draft e se reforçar com melhores jogadores, mas também não tem um time bom o suficiente para brigar pelo título, sem espaço salarial para fazer um splash. Nessa situação, é preferível você desmontar sua equipe, trocar seus jogadores estabelecidos por jovens talentos e escolhas de Draft, ser ruim um pouco, e reconstruir seu time usando escolhas de Draft.

Mas com o Sixers fazendo tudo isso de forma muito mais intensa, descarada e vergonhosa do que nunca foi feito antes (e olha que a idéia de "tank" vem desde 1984, quando Rockets e Bulls desesperadamente tankaram por Hakeem e Jordan), o debate reaqueceu, e uma mudança na loteria parece inevitável. No começo do ano eu fiz um post sugerindo três formas de mudar a loteria tendo em mente resolver os problemas que o formato atual cria: diminuir tanking, aumentar os incentivos para os times se reforçarem, e tornar a NBA mais divertida de acompanhar. Ainda acho que os três são bastante válidos, mas me permitam uma solução menos radical, em três passos:

1) Aumentar o sorteio para os 4 primeiros lugares do Draft, não só os 3 primeiros. Aumenta assim a chance de times do topo caírem, especialmente considerando o ponto 3 (abaixo).

2) Suavize as odds entre os times. Ou seja, diminua a chance do primeiro e aumente a chance do último ser sorteado, e obviamente, faça isso ao longo de todas as 14 escolhas. Assim você diminui o incentivo e as chances de sucesso para os piores times, e aumenta as chances de times no topo da loteria se reforçarem e darem o próximo passo.

3) Crie a seguinte regra: se um time for sorteado para a loteria (ou seja, para uma das 4 primeiras escolhas), esse time não participa do sorteio pelos próximos dois anos. Ele mantém sua escolha, claro, mas ela não estará participando do sorteio, e só sera encaixada depois. Essa é uma manobra crucial que impede (ou pelo menos dificulta) tanking a longo prazo (como o Sixers está fazendo) e impede que times consistentemente medíocres continuem dando sorte na loteria (Cavs, alguém?).

São três passos simples que mudariam totalmente o que o Sixers está fazendo, por exemplo, e dificultaria muito mais times que querem fazer o mesmo no futuro. As soluções estão ai, falta colocá-las em prática. And yet I digress.

*********

Mas enfim, eu estou fugindo do assunto da coluna. A pergunta que eu queria fazer aqui era: Tanking realmente trás bons resultados? Em outras palavras, será que escolher no topo da loteria realmente ajuda os times a se tornarem, eventualmente, candidatos ao título em pouco tempo? Ou será que não é tão simples assim, que depende de muitos outros fatores, e que times tem conseguido sucesso através de outros lugares?

Então é isso que essa coluna vai fazer de agora em diante. Vamos olhar para todas as escolhas Top4 de Draft (as quatro que você pode conseguir com o pior record da NBA) e ver aonde cada uma levou a franquia que as selecionou, para tentar entender o quão exatamente foi benéfico para as franquias essa escolha, e se não foi, ver o motivo. Depois, vamos fazer o contrário - olhar para todos os campeões pós-Jordan e entender de onde vieram suas principais peças e seu(s) Franchise Player(s), para entender melhor se o tank tem sido benéfico para esses times. Eu estabeleci também a aposentadoria de Jordan (1998 - e não venha me falar que ele jogou pelo Wizards, aquilo nunca aconteceu) como a nossa data limite, uma mistura de "esses jogadores ainda são conhecidos" e "uma amostra um pouco maior". Então vamos olhar para esses jogadores e ver o que exatamente eles fizeram pelas suas franquias.


Escolhas #1 de Draft

A primeira escolha do Draft, naturalmente, é a mais desejada e valiosa de todas. Ainda assim, vou começar essa parte com a seguinte estatística: desde 1995, apenas UM time na NBA inteira foi campeão com um jogador que draftou #1 - o Spurs, com Duncan e David Robinson. Na verdade, apenas CINCO deles sequer chegaram a uma Final de NBA com o time que os draftou (Duncan,  Kenyon Martin, Iverson, LeBron, Dwight Howard). Não exatamente o modelo de sucesso desejado.

Um dos motivos disso, é claro, é que normalmente para você ter a primeira escolha do Draft você precisa ser muito ruim, e se você é muito ruim, é uma montanha muito maior para subir até as Finais mesmo com uma estrela. Muitos times ainda cometem o erro de querer apressar demais as coisas ao redor de sua nova estrela para chegar mais rápido ao sucesso, e nisso oferecem contratos caros e longos e contratam as peças erradas, o que acaba atravancando o desenvolvimento do time. Ainda assim, não é uma boa forma de começar para quem está tankando.

Além disso, um outro ponto importante: graças a loteria, nem sempre ter a pior campanha significa ter a melhor escolha. Desde 1996, só DUAS VEZES o time com pior campanha teve sua escolha sorteada para ser a #1 (Cavs em 2003 e Magic em 2004). Então junto do nome do time que teve a primeira escolha em cada Draft, colocarei também qual colocação ele tinha antes da loteria começar (AKA qual pior campanha ele teve) para dar uma noção do quão aleatório pode ser ficar com a primeira escolha.


1998 Draft: Michael Olowokandi (Clippers, 3a pior campanha)
Yep, uma forma deprimente de começar essa lista. Olowokandi foi um dos maiores busts da história da NBA, a primeira escolha em um Draft que teve lendas da NBA como Vince Carter, Paul Pierce e Dirk Nowitzki. Olowokandi nunca foi um bom jogador, tendo sua carreira marcada por lesões e inconsistência. Quando saudável chegou a ter números decentes em rebotes e tocos, mas nunca mais do que isso e arremessou apenas 43.5% na sua carreira, número horrível para um pivô. Jogou apenas cinco temporadas com o Clippers e estava fora da NBA em 2007.

Curiosidade do dia: O Boston Celtics ainda tem um cap hold de 940 mil dólares na sua folha salarial até 2016 por Olowokandi. Não, sério.


1999 Draft: Elton Brand (Bulls, 3a pior campanha)
Brand foi escolhido #1 pelo Bulls e imediatamente alcançou muito sucesso individual, com duas temporadas seguidas com 20 pontos e 10 rebotes e se estabelecendo como um dos melhores jovens talentos da NBA e possível Franchise Player para Chicago, ainda que sua estadia em Chicago não tenha se traduzido em campanhas vitorias. Até que a diretoria teve a estúpida decisão de trocá-lo ao final da sua segunda temporada para o Clippers pela escolha #2 daquele Draft (Tyson Chandler).

Eu (e muitos outros) até hoje questionam porque diabos o Bulls faria isso quando Brand já era uma certeza. A história mais repetida é que o Bulls não estava ganhando com Brand (32 vitórias em ambos os anos com ele) e que, apaixonados por uma classe de calouros com muito potencial (em especial... wait for it... EDDY CURRY!) e já tendo a escolha #4 daquele ano (eventualmente Curry), decidiu que preferiria transformar Brand na escolha #2 para recomeçar sua reconstrução com dois jovens com mais potencial (Chandler e Curry). Com Chandler sendo um projeto ainda bem cru, a troca também serviria para abrir espaço para Curry se tornar o Franchise Player do time.

Bom, a troca foi um imenso fracasso. Falarei mais de Curry e Chandler quando chegar a vez deles, mas em resumo, Chandler nunca se desenvolveu como esperado em Chicago e Curry foi um bust bastante caro, que manteve o Bulls travado por anos até ser finalmente salvo por Isiah Thomas. Enquanto isso, Brand continuou tendo ótima carreira em Los Angeles, uma garantia de 20-10 toda noite. Lesões atrapalharam a segunda metade da sua carreira e lhe roubaram do seu auge, mas ele ainda era um sólido PF e possível All-Star enquanto saudável, e isso foi bem mais do que o Bulls conseguiu por ele.


2000 Draft: Kenyon Martin (Nets, 7a pior campanha)
2000 foi talvez o pior Draft da história da NBA, então o Nets pode ficar feliz por ter saído com pelo menos um jogador decente dele. Kenyon Martin nunca foi realmente um grande jogador, ele era mais um bom role player, alguém capaz de pegar uns rebotes, defender bem e acompanhar o resto do time em transição. Só foi a um All-Star na carreira e nunca teve uma temporada com double-double de média, por exemplo. Não é bem o que você espera de uma escolha #1.

Ainda assim, o Nets teve algum sucesso com Martin, chegando eventualmente a duas Finais de NBA em 2002 (perdendo para o Lakers) e 2004 (perdendo para o Spurs). Claro, isso se deveu muito mais a Richard Jefferson (draftado em 2001) e a troca que trouxe Jason Kidd de Phoenix, mas Martin foi parte desses times. Então ele nunca virou o jogador que se espera de uma escolha #1, mas foi um jogador bom o suficiente para ajudar o Nets a ter sucesso na NBA. Eventualmente ele foi trocado para o Nuggets por escolhas de Draft (em uma sign-and-trade), escolhas usadas depois para trazer Vince Carter de Toronto. Role player decente, nunca um grande jogador.

Curiosidade do dia: Martin era um tremendo babaca fora de quadra, brigando com o companheiro Alonzo Mourning por fazer piada com a grave doença no rim do companheiro, sendo suspenso duas vezes pelo próprio time, brigando com George Karl em Denver e quase chegando as vias de fato com um torcedor. Eventualmente ele acalmou e chegou a uma final de conferência com Denver em 2009, mas no geral ele deu mais problemas do que resultados no Colorado.


2001 Draft: Kwame Brown (Wizards, 3a pior campanha)
Kwame Brown é um dos piores jogadores da história da NBA selecionados com a escolha #1. Ainda naquela época onde colegiais crus estavam inundando a NBA, ganhando muito dinheiro e status cedo demais, e fracassando, Brown talvez tenha sido o ápice dessa era, um jogador muito hypeado vindo direto do colegial que foi vitimado por ser escolhido na hora errada, pelo time errado, com as expectativas erradas. Jogou quatro anos em Washington antes de ser trocado, nunca desenvolveu como esperado, e basicamente foi vaiado aonde quer que fosse. A história de Kwame Brown me insira mais pena do que outra coisa, mas é mais um exemplo de jogador com muita expectativa e potencial sendo escolhido #1, e nunca se desenvolvendo em nada útil.


2002 Draft: Yao Ming (Rockets, 5a pior campanha)
Yao é o primeiro jogador dessa lista de escolhidos #1 no Draft a realmente ser um franchise player. Um C tremendamente habilidoso, Yao desenvolveu bem rápido quando chegou na NBA, e depois de três anos já estava mandando 22-10 na cabeça das pessoas, arremessando 52% e ancorando uma boa defesa.

O problema do gigante chinês foram as lesões: seu corpo não era capaz de aguentar sua enorme altura, peso e o stress físico de uma pessoa de 2m27 correndo e pulando com os melhores atletas do mundo 40 minutos por dia. Seus pés autodestruiram na sua quarta temporada, e Yao nunca mais conseguiu ficar saudável tempo suficiente para seguir sua carreira na NBA. Aos 28 anos ele já estava praticamente aposentado. Uma gigante (sem trocadilho) pena, porque um Yao saudável era um dos melhores pivôs da NBA e um legítimo Franchise Player, alguém que provavelmente teria levado o Rockets (junto de Tracy McGrady) longe nos playoffs se tivesse tido a oportunidade.


2003 Draft: LeBron James (Cavaliers, pior campanha)
Agora sim!! Um franchise player sendo escolhido #1 do Draft! LeBron foi uma estrela por Cleveland desde o primeiro minuto que pisou em uma quadra da NBA, tendo médias de 21-5-6 como calouro e só melhorando a partir dai, eventualmente ganhando dois MVPs e tendo bastante sucesso.

Ainda assim, Cleveland nunca ganhou um título com LeBron porque nunca foi capaz de montar um bom time ao redor dele. Um ano depois de LeBron ter sido escolhido, Cleveland perdeu seu segundo melhor jogador (Carlos Boozer) e o pobre James teve que passar o começo da sua carreira jogando com Eric Snows, Drew Goodens e Sasha Pavlovics da vida. Alguns bons jogadores eventualmente vieram (Mo Williams, Jamison, Hickson), mas LeBron nunca teve um grande time lá por dois motivos: porque com LeBron o time nunca mais foi ruim o suficiente para ter boas escolhas de Draft e juntar talentos, e porque o time nunca teve uma diretoria inteligente e competente capaz de fazer movimentos para reforçar o time.

O Cavs ainda chegou a uma Final em 2007, mas foi basicamente nas costas de um esforço sobre-humano de LeBron e um Leste ridiculamente ruim. Em 2009 e 2010 o time teve mais duas chances e bateram na trave - em 2009 perdendo para o Magic porque ninguém no time era capaz de parar Dwight Howard, e em 2010 LeBron implodiu contra o Celtics. Eventualmente, LeBron decidiu sair de Cleveland como free agent depois disso, e em boa parte isso se deve ao fato de que ele nunca jogou com um bom time enquanto em Ohio, e ninguém no time tinha feito o suficiente para convencê-lo de que as coisas poderiam mudar no futuro.

Então o caso de LeBron é bastante interessante porque, dessa vez, o time que teve a pior escolha conseguiu EXATAMENTE o jogador com o qual todos sonham quando começam a tankar pela escolha #1 do Draft, mas não foi capaz de montar em torno dele um time bom o suficiente para chegar no seu objetivo final. E acabou perdendo esse jogador por nada anos depois, e passando quatro anos na miséria.


2004 Draft: Dwight Howard (Magic, pior campanha)
Pelo segundo ano seguido, o pior time da NBA tem a primeira escolha do Draft, um jogador saído direto do colegial é escolhido #1... e ainda mais raro, ele conseguiu se tornar o Franchise Player esperado. Ainda que não tenha sido imediato, Dwight logo se tornou um dos melhores reboteiros e defensores da NBA, e a âncora do time de Orlando. Entre 2007 e 2011, Dwight teve 5 All Stars, 3 Defensive Player of the Year, e médias de 20 pontos, 14 rebotes, 2.4 tocos. Eventualmente, Orlando conseguiu montar o time certo ao seu redor e, em 2009, venceu os favoritos Cavaliers para chegar as Finais da NBA contra o Lakers atrás de uma pós-temporada monstruosa de Dwight (incluindo um 40-14 no jogo decisivo contra Cleveland). Dwight eventualmente saiu de Orlando para jogar pelo Lakers em uma das separações mais ridículas da história da NBA, mas o saldo foi positivo: 5 All Stars, três DPOY, uma Final, e a âncora dos dois lados da quadra de um time que durante um bom tempo foi um candidato ao título no Leste.

Ainda assim, fica a sensação de que esses times de Dwight nunca realmente atingiram seu auge, porque Dwight nunca dominou como podia/devia. De longe o melhor C da NBA e colocando números impressionantes, Dwight ainda assim nunca foi um jogador que se impunha ofensivamente, concentrava o jogo no ataque e arremessava 18 vezes por jogo como Ewing, Robinson ou outros Cs antes dele. Durante aquele período 2007-2011 que eu citei no qual Dwight teve 20 pontos por jogo, ele foi apenas terceiro, terceiro, quarto e quarto em FGs tentados por jogo DENTRO DO PRÓPRIO TIME. Só no último ano Dwight liderou a equipe no quesito. Howard tinha o pedigree de Alpha Dog, mas nunca teve essa mentalidade, as vezes passa a impressão de que isso impediu seus times de serem ainda melhores.

Ainda assim, outro caso de sucesso, um Franchise Player draftado #1 que foi o pilar de um time que competiu nos playoffs por anos a fio, mesmo que sem um título.


2005 Draft: Andrew Bogut (Bucks, 6a pior campanha)
Bogut é o caso de um jogador muito sólido que nunca foi uma estrela e que nunca esteve na situação certa para contribuir para sua equipe. Saudável, Bogut é um dos Centers mais completos da NBA, um excelente defensor e passador capaz de contribuir dos dois lados da quadra mesmo sem nunca ser dominante. Mas não é o tipo de estrela que sozinho consegue mudar um time, e era disso que o Bucks precisava. Assim, Bogut acabou sendo mais um em um time cheio de jogadores talentosos mas que nunca foi excepcional, contribuindo como podia mas em um time onde essa sua contribuição era desperdiçada.

Bogut eventualmente explodiu na temporada 2010, com 16-10-2 e 2.5 tocos por jogo, terminando o ano como segundo melhor defensor da liga e o melhor jogador em um divertidissimo time do Bucks (o famoso time do Fear the Deer") que encerrou o ano com 46 vitórias... até que Bogut sofreu uma feia lesão no cotovelo em uma jogada desleal (cenas fortes) que o tirou dos playoffs e acabou com o melhor time que teve na sua carreira no Bucks. Bogut demorou para se recuperar dessa lesão e acabou perdendo muito mais tempo com novas lesões, eventualmente sendo trocado pelo Bucks por Monta Ellis (que foi um fracasso e acabou dispensado dois anos depois).

Bogut é um jogador muito bom (mesmo que não espetacular) quando saudável que deu azar: era o jogador errado na situação errada, machucou bem quando o Bucks tinha seu melhor time, e perdeu alguns anos por conta de outras lesões menores. Ainda hoje, Bogut é exatamente isso - um excelente All-Around Center quando saudável que provavelmente nunca irá a um All-Star Game. Tem coisas bem piores na NBA, mas não é o que você espera da sua escolha #1, especialmente considerando que Deron Williams e Chris Paul saíram pouco depois (#3 e #4).


2006 Draft: Andrea Bargnani (Raptors, 5a pior campanha)
Considerando que Adam Morisson, Tyrus Thomas e Shelden Williams também saíram no Top5, essa escolha poderia ter sido pior. Mas não é como se Bargnani tivesse tido muito sucesso na NBA. Ele foi draftado principalmente por suas habilidades como arremessador, algo que foi razoavelmente bem ao longo da carreira. O problema é que isso era tudo que ele tinha: um péssimo defensor e ainda pior reboteiro, nunca um bom passador ou se movimentando sem a bola, e não alguém capaz de criar seu arremesso muito bem. Bargnani nunca se desenvolveu no parceiro de garrafão para Chris Bosh que o Raptors sonhava, foi basicamente um jogador medíocre que coloca estatísticas razoáveis em um time horrível, e foi trocado assim que um comprador apareceu na típica troca "Não deixe a porta bater quando sair!". Jogador ruim, escolha ainda pior (a escolha #2? LaMarcus Aldridge).

Curiosidade do dia: Toronto estava tão desesperado para achar um parceiro para Bosh no garrafão que, em 2004, gastou uma escolha #8 de Draft no brasileiro Babby, sem dúvida um dos piores jogadores a pisar em uma quadra de NBA. Algumas escolhas que vieram depois: Andre Iguodala, Al Jefferson, Josh Smith, Tony Allen, JR Smith, e claro... Anderson Varejão.


2007 Draft: Greg Oden (Trail Blazers, 6a pior campanha)
Mesmo sem ter sido um grande jogador no College, Oden era considerado um dos melhores prospectos da NBA em muito tempo por causa do seu imenso potencial como reboteiro e protetor de aro. Ainda assim, Oden apresentava uma série de riscos: não tinha nenhum jogo ofensivo; já tinha tido problemas com lesões; e sua estrutura física frágil tornavam ele um imenso risco para lesões futuras. O Blazers pegou Oden mesmo assim, e foi um dos maiores fracassos da história da NBA: Oden jogou 82 jogos por Portland em dois anos apenas antes de se aposentar por conta de repetidas lesões no pé.

Além da óbvia frustração por gastar uma escolha #1 em alguém que jogou só 82 jogos por você antes de aposentar, esse fracasso é exponencialmente mais doloroso que o normal por dois motivos. Primeiro que o Blazers já possuía um excelente núcleo com Brandon Roy e LaMarcus Aldridge, e só precisava de uma peça final para montar um elenco para brigar por títulos, então perder a chance com uma #1 pick aqui é ainda pior. E segundo, para terminar de torturar torcedores do Blazers, na época muita gente (entre elas eu, que escrevi isso repetidamente na época) achava que o Blazers não deveria pegar Oden com sua escolha, e sim uma máquina de pontuar vinda da universidade de Texas que, ao contrário do pivô, ERA uma certeza. Você não deixa passar uma certeza para pegar um pivô com potencial e enorme risco de lesão. Esse pontuador? Kevin Durant, é claro. Em 2007, o Blazers esteve a um GM inteligente de montar um núcleo de Brandon Roy, Kevin Durant e LaMarcus Aldridge! Ao invés disso, escolheram Oden e os joelhos de Roy explodiram. Porque o Blazers nunca aparece na discussão dos times mais amaldiçoados de todos os tempos, mesmo?


2008 Draft: Derrick Rose (Bulls, 9a pior campanha) 
Na época do Draft, o consenso era de que a primeira escolha de 2008 devia ser Michael Beasley, então só por isso o Bulls já desviou de um problema. Mas Rose imediatamente entrou bem em um time bastante profundo (Hinrich, Ben Gordon, Luol Deng, Joakim Noah) que levou os então campeões Celtics a 7 jogos nos playoffs, e dois anos depois explodiu como Franchise Player e MVP da liga, sendo o melhor jogador de um time do Bulls que venceu 62 jogos e foi o melhor da NBA. O Bulls acabou caindo perante LeBron e o Heat nas Finais de conferência, mas parecia que seria um eterno candidato ao título atrás de Rose.

Todo mundo sabe o que aconteceu depois, então não vou entrar em detalhes: Rose machucou e nunca mais ficou saudável, e uma possível dinastia Bulls no Leste nunca aconteceu, abrindo caminho para o Heat dominar a conferência por 4 anos. Chicago conseguiu o jogador certo, mas infelizmente a NBA tem esse problema: não adianta ser bom, tem que ser bom E dar sorte. Poderia ter sido LeBron em 2007 estourando o joelho. Poderia ter sido Kobe em 2001. Mas foi Rose em 2011. A janela ainda está aberta para Rose voltar, ficar saudável e o Bulls voltar a competir na NBA, mas preciso ver para começar a acreditar. Má sorte com um grande talento.


2009 Draft: Blake Griffin (Clippers, 2a pior campanha)
Griffin era uma certeza desde o primeiro dia de Draft, tanto que o Clippers já tinha contrato assinado com ele duas semanas antes da noite do Draft em si. Então foi uma escolha fácil e que deu resultados - Griffin foi uma estrela desde que colocou os pés na NBA, e ano passado foi um dos cinco melhores jogadores da liga e terceiro no meu voto hipotético para MVP. Então eles acertaram em cheio aqui.


2010 Draft: John Wall (Wizards, 5a pior campanha)
Wall também era amplamente considerado o melhor jogador do Draft, e embora não seja o melhor jogador da classe atualmente, não decepcionou também. É um sólido All-Star e melhor jogador de um dos melhores times do Leste na atualidade, um dos melhores PGs da NBA e alguém que fez por merecer um gordo contrato. Não tem muito o que dizer aqui.


2011 Draft: Kyrie Irving (Cavs, via Clippers, 8a pior campanha)
Irving é a típica boa escolha de um Draft ruim. Ele não é um franchise player e foi bastante overrated nos seus primeiros anos da NBA (nos quais não conseguiu levar o Cavs aos playoffs em um ridículo Leste), mas é um possível All-Star (já foi 2x) e bom o suficiente para justificar a escolha #1. Coloque da seguinte maneira: Irving é muito talentoso, e um bom jogador individualmente. Mas se você quer que ele seus seu FP e montar um time ao redor dele, você está em maus lençóis a não ser que o melhor jogador da NBA decida ir pro seu time na free agency.


2012 Draft: Anthony Davis (Pelicans/Hornets, 3a pior campanha)
E enfim chegamos ao nosso "corte" da nossa lista, porque é quase impossível tirar alguma conclusão dos jogadores das duas últimas classes. Na verdade, o ideal era parar lá por 2010, mas eu gosto demais do Monocelha para não inclui-lo nessa coluna, considerando que ele talvez já seja um dos 5 melhores jogadores da NBA na atualidade. Depois do Hornets ter ganho uma loteria nada suspeita (bem quando a NBA era dona do time e queria vendê-lo e com um dos melhores prospectos em anos saindo na loteria), eles rapidamente se inventaram em torno do Brow, e passaram de time ridículo a candidato aos playoffs (ainda que eu não goste de algumas das decisões do time no processo). Brow já é um Franchise Player, e só deve melhorar com o tempo.


Resultado final: Em um resultado chocante, é uma boa coisa ter a escolha #1 do Draft. Existe uma grande possibilidade de que ela vai te render um jogador muito bom: das 15 primeiras escolhas que comentamos, 11 foram a pelo menos um All-Star Game (10 considerando apenas os que foram para um ASG pela equipe que os draftou).

Ainda assim, só três (LeBron, Dwight e Unibrow) se tornaram legítimos Franchise-Changing players, jogadores historicamente bons capazes sozinhos de ancorar uma franquia. Duas outras tiveram possíveis Franchise Players (Rose e Yao) e os perderam por lesão (pelo menos por ora). Considerando apenas jogadores que podem ser considerados "superestrelas", temos apenas quatro (Bron, Brow, Dwight e Griffin), mais Rose e Yao quando saudáveis. Em 15 anos, isso não é tanto assim. Sem dúvida tem um bom contingente, e Davis e LeBron são jogadores historicamente bons, mas se estamos tratando por "superestrelas", tivemos entre 4 (sem Rose e Yao) a 6 (com Rose e Yao) em 15 anos. Não é a proporção que você esperaria da primeira escolha. Sem dúvida ela te trás um bom jogador, mas não é a garantia de um jogador que vai mudar sua franquia para o futuro.

Olhando por outro ponto de vista, nesses 15 anos, apenas em 2003(LeBron), 2004 (Howard), 2012 (Brow), e talvez 2002 (Yao), 2008(Rose) e 2009 (Griffin) o melhor jogador acabou saindo com a primeira escolha do Draft.

Além disso, tem outro problema: se você acompanhou, é bem difícil ganhar a escolha #1 mesmo se você tem o pior record da liga. Nesses 15 anos, apenas duas vezes o pior time da NBA ficou com a #1; uma vez o segundo pior; quatro vezes o terceiro pior; nenhuma vez com o quarto pior; três vezes o quinto pior; duas vezes com o sexto pior; e uma vez cada com o sétimo, oitavo e nono piores times.

E para piorar, tem aquele fato de novo: nenhum desses jogadores levou um time ao título. E vendo individualmente cada um deles, não é difícil ver o motivo. As vezes você tem que ser tão ruim para conseguir uma escolha alta que é bem difícil montar em volta um time em torno da sua estrela (LeBron, e em parte Dwight Howard). Alguns já conseguem trazer a estrela para um time mais pronto, mas a estrela não dura o suficiente (Yao, Rose). E muitos outros não vencem simplesmente porque não trouxeram um jogador bom o suficiente para um time que já estava na loteria em primeiro lugar, e o jogador não era capaz sozinho de mudar o destino da franquia.

Então ter a primeira escolha no Draft é bom. Você tem boas chances de sair de lá com um futuro All-Star, no mínimo, e ainda tem a chance de sair com um Franchise Player ou até melhor. Mas confiar nessa primeira escolha para mudar o destino da sua franquia e vencer um título é traiçoeiro, porque você depende de muitas probabilidades dando certo ao mesmo tempo: você precisa vencer a loteria para chegar na #1, e como a gente viu, isso é bem difícil; você precisa ter a sorte daquele ano ter um jogador que realmente é um FP e não só um bom jogador (dependendo da sua conta, isso aconteceu entre três e seis vezes nos últimos 15 anos, então a chance não é tão grande); se você conseguir esse jogador, você ainda tem que montar um time ao redor dele porque o seu provavelmente fede; e se conseguir esse jogador para um time já avançado, você ainda tem que torcer para ele ficar saudável o suficiente.

Em resumo, você está contando que muita coisa junta vai dar certo quando você aposta o destino da sua franquia em uma escolha #1. Por isso muitos dizem que o maior benefício de ter o pior record da NBA não é só a maior chance da escolha #1, e sim por te GARANTIR uma escolha Top4. E é por isso que nós vamos olhar para as 4 primeiras escolhas de cada Draft. Por enquanto, fica a conclusão sobre a primeira escolha que cada um pode tirar. A minha é: apostar na primeira escolha do Draft para mudar o destino da sua franquia e te levar a um título não parece tão bom assim.


Escolhas #2 de Draft

Eu ia guardar essa informação bombástica para o final dessa seção, mas que seja, é algo importante e que precisa ser revelado agora: a escolha #2 do Draft está amaldiçoada. O que, você está rindo?! É verdade! Existe uma maldição em cima da escolha #2 do Draft, também conhecida como "A Maldição de Sam Bowie". Desde que o Blazers (sempre eles!) passou Michael Jordan no Draft de 1984 para pegar Sam Bowie, essa escolha carrega uma incrível maldição, muito poderosa.

Mas eu não quero estragar o resto dessa parte da coluna, então vou entrar em detalhes sobre a Maldição de Sam Bowie (esse nome é muito bom - não parece o nome de um general confederado morto na guerra civil americana?!) apenas no epílogo da parte sobre as Escolhas #2 do Draft.


1998 Draft: Mike Bibby (Vancouver Grizzlies)
Mike Bibby nunca foi uma estrela (ou um All-Star), mas foi um bom armador ao longo da sua carreira. Chegou a Vancouver com alguma fama (foi campeão da NCAA por Arizona) e teve bons três primeiros anos por lá (7.6 assistências por jogo) antes de ser trocado para Sacramento por Jason Williams e Nick Anderson (que machucou logo nos primeiros jogos e se aposentou depois de apenas 15 jogos pelo Grizzlies).

Foi em Sacramento que Bibby explodiu como um jogador All-Around em uma série de fortes e extremamente divertidos do Kings, imediatamente tendo os melhores cinco anos de sua carreira e chegando longe nos playoffs repetidas vezes. Ele acabou envelhecendo rápido depois de ir para Atlanta no final de sua carreira, mas o Mike Bibby do Kings era um jogador memorável e divertido de se assistir, ainda que nunca tenha sido uma estrela. Uma troca que o Grizzlies teve muitas oportunidades de lamentar.


1999 Draft: Steve Francis (Rockets, via Grizzlies)
Francis na verdade foi escolhido pelo Grizzlies, mas depois de se recusar a jogar pelo time e alguns incidentes desagradáveis, acabou sendo trocado para o Rockets em uma troca extremamente confusa de três times e 11 jogadores. Mas Francis logo se firmou como Steve Franchise, um dos jovens PGs mais promissores da liga: 18-5-7 e Rookie of the Year, depois 20-7-6 no seu segundo ano. Quando Yao Ming veio ao time em 2002 (depois de uma temporada ruim em 2001 devido a uma lesão de Francis), parecia que o Rockets tinha o melhor núcleo jovem da liga e iria dominar por anos a fio. Francis era basicamente um demônio da Tasmânia, um PF preso em um corpo de PG que enterrava na cabeça de todo mundo e vivia no ar.

OS primeiros anos foram bons, com Yao evoluindo e Francis continuando com seu ótimo desempenho. Mas sua estadia em Houston acabou depois de uma série de desentendimentos com o técnico Stan Van Gundy, supostamente porque ele não gostava do estilo de jogo do bigodudo, e foi logo trocado para Orlando por Trady McGrady. Francis começou muito bem em Orlando (21-6-7, vários game-winners), mas sua carreira de repente despencou por um dos motivos mais únicos da história da NBA: o Magic trocou seu melhor amigo Cuttino Mobley (que veio para Orlando com ele do Rockets) para o Clippers, e sem seu melhor amigo, Francis parou de ter com quem compartilhar suas experiências, tristezas e felicidades na NBA, começou a ficar triste e frustrado, entrou em depressão, e isso afetou demais seu jogo. Francis nunca se recuperou e nunca mais foi o mesmo, brigou com todo mundo em Orlando, foi trocado para o Knicks (Isiah de novo!) e estava fora da NBA antes de completar 30 anos. Uma das quedas mais estranhas e decepcionantes de um grande talento da NBA recentemente. Francis era um legítimo All-Star e possível Franchise Player, que nunca atingiu seu auge por motivos externos. Uma pena.


2000 Draft: Stromile Swift (Vancouver Grizzlies)
Sim, o Vancouver Grizzlies teve a escolha #2 do Draft por três anos seguidos. Trocaram uma por 15 jogos de Nick Anderson, a outra por nada, e com a que sobrou, escolheram Stromile Swift. Não é a toa que o time mudou para Memphis.

Swift foi um grande bust desde o minuto que pisou na NBA. Em cinco anos de Vancouver/Memphis, Swift nunca teve mais do que 11.8 pontos e 6.3 rebotes (médias do seu segundo ano), levava enterradas na cabeça toda hora, e parecia sempre estar lidando com uma lesão ou outra. Swift era tão ruim que, depois de seus cinco anos de Grizzlies, assinou com o Rockets na free agency... só que um ano depois o Rockets trocou Swift DE VOLTA PARA MEMPHIS junto com a escolha #8 do Draft (Rudy Gay) em troca de Shane Battier. Memphis trocou ele novamente um ano depois, e Swift estava fora da NBA aos 29 anos.


2001 Draft: Tyson Chandler (Bulls, via Clippers)
Como já foi dito, Chandler foi trocado por Elton Brand na noite do Draft para Chicago, que queria juntar Chandler com Eddy Curry em sua linha de frente do futuro. Mas Chandler foi um relativo bust para Chicago: era muito cru quando chegou a NBA, e demorou para se desenvolver atrás de Curry. Eventuamente Chandler arrumou um lugar como um defensor/reboteiro vindo do banco, mas com seu jogo ofensivo pouco desenvolvido e problemas de faltas, ainda tinha pouco espaço no time. O Bulls acabou trazendo Ben Wallace para seu lugar, e trocou seu decepcionante pivô para o New Orleans/Oklahoma City Hornets por (wait for it...) JR Smith!!! E PJ Brown, mas de novo, JR Smith!!!

Chandler acabou florescendo como defensor/reboteiro/finalizador de pontes aéreas jogando junto de Chris Paul no Hornets, e mais tarde (depois de ser trocado mais duas vezes - uma para o Bobcats por Emeka Okafor, outra para o Mavericks por Erick Dampier e Eduardo Najera) acabou tendo seu auge em Dallas (onde foi campeão como o segundo melhor jogador daquele time) e no Knicks (onde foi DEfensive Player of the Year e All-Star), muito longe daquele garoto cru que decepcionou no Bulls. Hoje, a imagem que temos de Chandler é de grande defensor e reboteiro que ajudou Dirk a ser campeão, mas isso só aconteceu depois de muitas etapas e muito sofrimento.

Curiosidade do dia: em 2009, o Oklahoma City Thunder trocou por Tyson Chandler com o Hornets, só para cancelar a troca quando Chandler não passou no exame médico por conta de uma lesão no pé. Dois anos depois, Chandler foi peça fundamental do Mavs que chegou nas Finais da NBA depois de passar por (wait for it... wait for it...) o Oklahoma City Thunder nas finais do Oeste!!


2002 Draft: Jay Williams (Chicago Bulls)
Williams foi ok como um calouro em Chicago, com 10 pontos, 5 assistências por jogo, e um triple double lindo contra o Nets (26-13-14). Foi inconsistente, mas mostrou alguma promessa ao longo da temporada e terminou bem o ano... até que sofreu um assustador acidente de moto na offseason, que destruiu seu corpo e chegou a danificar nervos da sua perna. Williams demorou muito para se recuperar, e nunca mais jogou uma partida profissional de basquete na carreira.

Curiosidade do dia: Williams hoje é um analista de College Basketball na ESPN, que eu confesso que gosto.


2003 Draft: Darko Milicic (Pistons, via Grizzlies)
O Pistons conseguiu essa escolha graças a uma troca de 1997 na qual o Grizz mandou uma escolha protegida por Otis Thorpe. E o Pistons rolou a escolha até 2003, onde a proteção era apenas Top1. Consegue imaginar Jerry West passando mal na loteria quando apenas Cavs e Grizzlies sobraram, e ou o Grizz conseguia LeBron James ou não conseguia ninguém? Por isso você não troca escolhas futuras por caras como Otis Thorpe.

Enfim, essa escolha foi para um bom time do Pistons que, precisando de um homem de garrafão (Rasheed Wallace só foi para Detroit alguns meses depois), pegou imediatamente Darko Milicic, um jogador vindo da Europa com muito hype e nada de concreto. As três escolhas seguintes: Carmelo Anthony, Chris Bosh, Dwyane Wade. So... yeah. Não é difícil ver porque Milicic é considerado um dos maiores busts da história. Milicic nunca recebeu os minutos que precisava em um time do Pistons que brigava pelo título (e, de fato, ganhou o título naquele ano), sua confiança foi destruída, ele nunca se desenvolveu, nunca foi tão bom assim em primeiro lugar, e estava fora da NBA aos 26 anos. Uma triste história.

Curiosidade do dia: no Combine pré-Draft daquele ano, Darko Milicic acertou 15 bolas de três pontos seguidas para os olheiros, que imediatamente ficaram malucos com seu potencial e acreditaram que ele seria um grande 3pt shooter na NBA. Ele nunca acertou uma bola de três na sua carreira nos EUA.


2004 Draft: Emeka Okafor (Bobcats, via Clippers)
Um jogador de sucesso no College que muitos (inclusive eu) achavam na época que devia ser a escolha #1, Okafor teve um bom ano de calouro pelos recém-criados Bobcats (que trocou sua escolha #4 com o Clippers para subir até o #2), com 15 pontos e 10 rebotes. E foi provavelmente o auge da sua carreira: Okafor machucou e perdeu boa parte da sua segunda temporada, e depois disso nunca mostrou evolução: os 15.1 pontos por jogo como calouro acabaram sendo a melhor marca da sua carreira, e só uma vez superou os 10.9 rebotes por jogo do mesmo ano. Eventualmente foi trocado para New Orleans (por Chandler), onde foi apenas mais um jogador em um time medíocre. Okafor acabou tendo uma carreira decente como protetor de aro e reboteiro, mas nunca se desenvolveu ou foi mais do que um role player na NBA.


2005 Draft: Marvin Williams (Hawks)
Williams não conseguiu sequer ser titular por UNC em 2004/05, mas de alguma forma o Hawks achou uma boa idéia selecionar o ala na frente de Chris Paul, o melhor jogador da classe. Para tornar ainda mais bizarro, o Hawks era um time com boa base - Joe Johnson, Josh Smith - e que DESESPERADAMENTE precisava de um PG! E com CP3 e Deron Williams disponíveis, o Hawks preferiu passar os dois para pegar Williams.

Desnecessário dizer, Williams foi um bust - um jogador medíocre que nunca fez nada demais na NBA - enquanto CP3 e Deron viraram dois dos melhores armadores da NBA inteira, com CP3 se tornando um dos melhores armadores de todos os tempos. Gastar uma escolha #2 em um cara ruim como Williams já é ruim; fazer isso com dois jogadores tão bons como Paul e Deron logo depois é ainda pior. Outro grande bust para as escolhas #2.


2006 Draft: LaMarcus Aldridge (Trail Blazers, via Bulls)
Finalmente um bom jogador, que claro, foi trocado na noite do Draft pelo time que o escolheu. O Bulls escolheu Aldridge com a escolha #2 e o trocou para o Blazers por Tyrus Thomas, a escolha #4. Como vocês verão mais em breve, foi uma PÉSSIMA escolha do Bulls. Mas um dos motivos para isso foi que Aldridge acabou virando um dos melhores PFs da NBA, uma máquina de arremessos e âncora constante de vários sólidos times do Blazers que tem média de 19 pontos por jogo na carreira. Não sei se Aldridge seria considerado um Franchise Player, mas ele é um excelente jogador e constante All-Star que está só agora atingindo seu auge e ainda tem chão pela frente. Uma raríssima escolha #2 que deu certo - menos para o Bulls, claro.


2007 Draft: Kevin Durant (Supersonics)
Desnecessário dizer qualquer coisa, certo? Ele é um dos melhores pontuadores da história da NBA, o MVP e segundo melhor jogador da liga. Provavelmente vai encerrar a carreira como um dos 30 ou 20 melhores jogadores da história do jogo. A primeira legítima superestrela e Franchise-Changing player entre as escolhas #2.


2008 Draft: Michael Beasley (Heat)
Outro bust histórico, especialmente considerando que as escolhas #4 e #5 desse Draft foram Russell Westbrook e Kevin Love. O que é ainda pior, Rose #1 foi uma escolha bastante impopular na época, (não por mim, defendi muito que Rose devia ser #1) quando Beasley era o favorito para a escolha, uma máquina indestrutível em Kansas State (26 pontos, 13 rebotes por jogo). Mas o Bulls foi de Rose no que foi uma das melhores decisões de Draft dos últimos anos, porque Beasley foi um gigantesco bust: um fominha que não fazia nada além de arremessar e não defendia ninguém, Beasley jogou dois anos decepcionantes em fracos times de Miami antes de ser trocado por um pacote de Trakinas para o Wolves (para abrir espaço salarial para LeBron/Bosh). Lá ele teve mais uma temporada arremessando demais para um time irrelevante antes de finalmente ir parar no banco em 2012 - ele começou 29 jogos desde então com média de 9 pontos por jogo. Aos 26 anos, Beasley hoje está fora da NBA (China).


2009 Draft: Hasheem Thabeet (Grizzlies) 
Mais um bust histórico na #2 - e você achou que eu estava brincando sobre a Maldição do Sam Bowie. Thabeet era um projeto atlético e cru como shot blocker que o Grizzlies achou que era uma boa idéia pegar na frente de James Harden, Ricky Rubio, Tyreke Evans, Stephen Curry e DeMar DeRozan (todos escolhidos no Top10). Logo no seu ano de calouro, ficou claro que ele realmente era capaz de dar tocos - o problema era que não era capaz de fazer mais nada em uma quadra de basquete, inclusive... hm... jogar basquete. Em 5 anos de NBA, Thabeet jogou 224 jogos por 4 times diferentes, com médias de 2 pontos, 3 rebotes e 2 faltas por jogo. Hoje Thabeet tem 27 anos e não está mais em um time da NBA (D-League).


2010 Draft: Evan Turner (76ers)
Oh boy...

Antes do Draft, dois jogadores eram vistos como potenciais Franchise Players: John Wall e Evan Turner. Digamos que estavam todos errados. Turner foi irrelevante em suas duas primeiras temporadas na Philadelphia atrás de Andre Iguodala, e mesmo quando finalmente virou titular e ganhou espaço, pouco produziu como um jogador que parecia não ter posição determinada (13-6-4 não é uma má média, mas também não chama a atenção). Eventualmente Turner ficou preso na máquina de tank do Sixers e foi trocado por migalhas para o Pacers, onde mais atrapalhou que ajudou. Acabou assinando como Free Agent com o Celtics, onde tem sido apenas um reserva decente. De novo, não exatamente o que se tem em mente com a escolha #2.


2011 Draft: Derrick Williams (Timberwolves)
O Wolves deu o azar de escolher a seguir da única escolha de Draft entre 2011 e 2013 que o Cavaliers não cometeu um grande erro. Não da nem para criticar a escolha - Williams era considerado por muitos (inclusive eu) o melhor jogador do Draft e provável escolha #1 - mas dento de campo, Williams foi apenas mais um bust. Lento e sem arremesso demais para jogar de SF, fraco e sem físico para jogar de PF, Williams acabou preso entre posições na NBA e afundou no banco atrás de Kevin Love. Até teve números decentes no seu segundo ano, mas não fez nada para convencer o mundo de que podia jogar na NBA, e acabou trocado para o Kings. Hoje tem médias de 4 pontos e 2 rebotes vindo do banco de Sacramento.


2012 Draft: Michael Kidd-Gilchrist (Bobcats)
Cedo demais para dizer qualquer coisa de MKG - eu só inclui o Draft de 2012 aqui por causa do Unibrow, e me parece agora uma má idéia. Até agora, MKG é um jogador interessante cujo desenvolvimento tem sido atrapalhado por lesões: um ótimo defensor e jogador muito físico/atlético que tem dificuldades com seu arremesso. Seu jumper parecia estar melhorando, por isso é tão decepcionante vê-lo perder tanto tempo com lesões, e como defensor parecia estar caminhando para a elite da NBA. Ficamos no aguardo.


Resultado final: A maldição de Sam Bowie ataca de novo!!!

Não adianta, é o destino das escolhas #2 do Draft. Desde que Bowie foi escolhido na frente de Michael Jordan, a maldição vem forte. Eis a relação de todos os jogadores escolhidos #2 overall desde 1985 até 2011: Wayman Tisdale, Len Bias (RIP), Armen Gillian, Rik Smits, Danny Ferry, Gary Payton, Kenny Anderson, Alonzo Mourning, Shawn Bradley, Jason Kidd, Antonio McDyess, Marcus Camby, Keith Van Horn, Mike Bibby, Steve Francis, Stromile Swift, Tyson Chandler, Jay Williams, Darko Milicic, Emeka Okafor, Marvin Williams, LaMarcus Aldridge, Kevin Durant, Michael Beasley, Hasheem Thabeet, Evan Turner e Derrick Williams.

Sei que você está pensando "Vitor, você está maluco, tem muitos bons jogadores ai". Calma, agora vamos separar esses 27 jogadores.

Desses 27 jogadores, um caiu morto antes de jogar (Bias), 10 foram busts (Ferry, Bradley, Swift, Jay Williams, Darko, Marvin Williams, Beasley, Thabeet, Turner e Williams), e outros quatro (Smits,  Gillian, Tisdale e Okafor) tiveram carreiras decentes mas nunca foram grandes jogadores - entre esses 14, só tem UM All-Star (um do Smits em 98 no fim da linha, com médias de 16-7 que até hoje ninguém sabe como aconteceu). Então 11 (contando Bias) de 27 escolhidos #2 do Draft foram TOTAL BUSTS, e 15 de 27 (mais de metade!) não foram bons o suficiente.

Dos outros 12 jogadores (Payton, Anderson, Mourning, Kidd, McDyess, Camby, Van Horn, Bibby, Francis, Chandler, Aldridge e Durant) temos bons jogadores e boas carreiras, mas ai que está: 10 deles não tiveram essas boas carreiras pelos times que os draftaram!

Aldridge (Bulls), Francis (Grizzlies), McDyess (Clippers) e Keith Van Horn (76ers) foram trocados ou durante o Draft ou antes da temporada começar, e nenhum deles trouxe em retorno qualquer coisa útil para os respectivos times, tendo feito suas carreiras em outro lugar. Marcus Camby (Raptors), Chandler (Clippers/Bulls) e Mike Bibby (Grizzlies) só foram estourar como jogadores depois de trocados pelas equipes, e apenas Chandler (para o Clippers) trouxe de volta um bom retorno. Jason Kidd foi despejado de Dallas por brigar com as outras estrelas de Dallas por minutos, arremessos, e a cantora Toni Braxton (não é brincadeira) e só virou um Franchise Player em Phoenix e depois New Jersey. Mourning foi trocado depois de três (boas) temporadas pelo Hornets para o Heat - onde teve seus melhores anos - por Glen Rice e sapatos velhos (Matt Geiger, Khalid Reeves e uma escolha de Draft que virou Tony Delk). E Kenny Anderson foi trocado depois de quatro temporadas no Nets por nada para o Hornets. 10 dos 12 jogadores que foram bons e/ou tiveram boas carreiras foram trocados ou durante o Draft, ou logo depois do Draft, ou nas suas primeiras temporadas. Nenhum virou um Franchise Player para o time que os draftou.

Então se você está acompanhando, no quesito "consiga a escolha #2, escolha um jogador, faça dele sua estrela pelos próximos 12 anos, aposente sua camisa", apenas DOIS jogadores escolhidos com a escolha #2 tiveram sucesso desde que começou a Maldição de Sam Bowie: Gary Payton e Kevin Durant. E se você está acompanhando... ambos foram draftados por uma franquia que não existe mais!!!! Não duvide da Maldição de Sam Bowie. Ela é real.

Mas em um assunto mais prático, qual é o saldo desses 15 anos de Draft que analisamos as escolhas #2? Sinceramente, muito ruim. Apenas um Franchise-chaning player ou superestrela (Durant), e apenas dois sólidos All-Stars (Francis e Aldridge). 3 em 15 anos é MUITO ruim (não estou contando Chandler porque ele só foi virar um bom jogador muito depois e depois de ter passado por vários times), e isso sem falar que um número absurdo deles (Williams, Williams, Thabeet, Beasley, Swift, Milicic) foram busts tão grandes que sequer viraram jogadores úteis - boa parte deles acabou fora da NBA ou com espaço mínimo.

Então o índice de sucesso individual foi baixíssimo, e de novo, pouco sucesso coletivo. Apenas um jogador selecionado nas duas primeiras escolhas dos últimos 15 anos foi campeão em um papel importante (Chandler), e mesmo assim foi um jogador que foi um bust para quem o draftou, passou por quatro times e se reinventou múltiplas vezes antes de ter finalmente seu espaço na NBA. Tirando ele, apenas Durant foi as Finais. Então mais uma vez, escolher no lugar #2 do Draft não tem ajudado muitos times nos últimos anos - apenas três conseguiram se reforçar rumo a uma mudança com um bom jogador, apenas um foi as Finais, e nenhum título.


Escolhas #3 de Draft

1998 Draft: Raef LaFrentz (Nuggets)
LaFrentz nunca foi um grande jogador, nunca chegando a 14 pontos ou 8 rebotes, mas que merece crédito por ter sido, de certa forma, um pioneiro. Um pivô de 2m10 e bom shot blocker, LaFrentz foi um dos primeiros pivôs da NBA a viver como um arremessador de três, tendo marcas melhores que 38% da linha dos três pontos quatro vezes diferentes na carreira e terminando sua vida profissional com 36.6%. LaFrentz foi um jogador decente para o Nuggets antes de ser trocado em uma enorme troca que mandou LaFrentz, Avery Johnson e Nick Van Exel para o Mavericks por Tim Hardaway e Juwan Howard. Ele foi um jogador útil, mas nada demais, o resto da carreira, protegendo o aro e chutando de três. No fundo, LaFrentz deu azar - se tivesse entrado na NBA 10 anos depois, teria tido muito mais mercado com seu conjunto de habilidades. Em 1998, ninguém ainda entendia bem o quão valioso é ter alguém capaz de espaçar a quadra E proteger o aro.


1999 Draft: Baron Davis (Hornets)
Davis nunca foi uma estrela, mas foi um jogador muito bom durante um bom tempo. Depois de estourar na sua terceira temporada pelo Hornets (19-9), Davis foi a dois All-Stars (inclusive com um incrível 23-8 com 2.5 steals em 2004) antes de ser trocado para Golden State (por Speedy Claxton e Dale Davis). No WArriors Davis continuou sendo um bom jogador jogando principalmente em times medianos. Lá ele teve temporadas de 19, 20 e 21 pontos por jogo com 8 assistências e comandou aquele divertido time de 2007 que fez história ao derrotar o Dallas Mavericks na primeira rodada dos playoffs como uma 8th seed (sem falar na antológica enterrada em cima do Andrei Kirilenko uma rodada depois). Nunca foi uma estrela, e muito da sua carreira pós-Hornets envolveu ser um bom jogador em times ruins. Mas no seu auge, ele era um All-Star e um grande jogador de pós-temporada, e teve uma carreira boa o suficiente para justificar uma escolha #3.


2000 Draft: Darius Miles (Clippers)
Darius Miles foi um dos talentos mais frustrantes da era "Too much, too young, too fast" da NBA, quando jogadores de colegial estavam indo direto para a NBA, recebendo muito dinheiro e atenção e falhando em desenvolver seus talentos. Miles foi um dos melhores exemplos, um ala talentoso que teve uma temporada decente de novato, sendo o primeiro jogador a ir direto do HS para a NBA a conseguir 1st Team All-Rookie (embora majoritariamente pela falta de talento no resto do Draft), mas nunca conseguiu desenvolver.

Em meio a más atuações, jogos letárgicos e desinteresse por defesa, Miles era o tipo de jogador que te deixava pronto para desistir dele... e quando você estava quase desistindo, ele colocava 40 pontos para fazer todo mundo pensar que ele finalmente ia atingir seu potencial e lhe dar um novo contrato e uma nova chance que ele não merecia. Eventualmente, em uma das suas muitas "últimas chances", Miles machucou o joelho, perdeu duas temporadas como consequência, voltou a NBA só para ferrar sua ex-franquia (Portland) e estava fora do basquete profissional aos 27 anos. Bust memorável.

Ps. Procure no google por "Bola Presa" + "Contagem regressiva para o Blazers se lascar" para os detalhes.


2001 Draft: Pau Gasol (Grizzlies, via Hawks)
No Draft de 2001, a primeira escolha estava sendo (na época) disputada por três jogadores vindos do High School: Kwame Brown (eventual #1), Tyson Chandler (#2) e Eddy Curry (#4). O Hawks trocou a escolha #3 desse Draft para o Grizzlies por Shareef Abdur-Rahim e Jamaal Tinsley, e Vancouver - queimado por algumas escolhas questionáveis em anos recentes - decidiu que preferia uma certeza a apostar nesses crus colegiais, então mudou de foco e pegou Pau Gasol, que já tinha experiência profissional na Europa. Foi a melhor coisa que eles poderiam ter feito, considerando que Curry foi um gigantesco bust e Gasol eventualmente evoluiu em uma estrela, um dos mais habilidosos e talentosos jogadores de garrafão da NBA, e foi o astro de um bom time de Memphis que foi a três playoffs seguidos no forte Oeste.

Memphis acabou trocando Gasol para o Lakers em uma das trocas mais polemicas da história da NBA. Gasol era uma estrela, e o Lakers o conseguiu por migalhas: Kwame Brown (irc!), Javaris Crittenton (IRC!!), Aaron McKie (?!), duas escolhas baixas de primeira rodada (eventualmente Donte Greene e Greivez Vazquez)... e os direitos sobre uma escolha de segunda rodada do irmãozinho gordo de Pau, Marc Gasol. No começo a troca foi um sucesso para o Lakers (três finais seguidas, dois títulos com Gasol como seu segundo astro) e um fracasso para o Grizzlies, até que usaram o alivio salarial da troca para trazer Z-Bo, Marc Gasol virou um dos melhores Centers da NBA, e Memphis se remontou em todo desses dois como um eterno candidato a playoffs no Oeste. Então eventualmente a troca funcionou para o Grizzlies também.


2002 Draft: Mike Dunleavy Jr (Warriors)
Dunleavy é o tipo de jogador que você espera conseguir com uma escolha do meio da primeira rodada, um role player útil capaz de arremessar de fora e dar bons passes, mas que sozinho não consegue mudar muita coisa. É aquele cara que, em um bom time, pode fazer a diferença, mas em um time mediano não vai mudar nada. Também não ajuda o fato de que o pobre Dunleavy passou quase toda sua carreira em uma série de times ruins: foi um titular consistentemente em uma série de times ruins de Golden State antes de ser trocado para Indiana, quando o Pacers estava tentando se livrar de todos seus jogadores pós-Malice at the Palace. Então quando o Warriors finalmente estava indo aos playffs, Dunleavy foi trocado para um péssimo time do Pacers em desmonte, onde gastou o resto da sua carreira. Só aos 33 anos no Bulls que Dunleavy foi fazer o seu papel verdadeiro de role player complementar em um bom time.


2003 Draft: Carmelo Anthony (Nuggets)
Considerado o segundo melhor jogador do Draft de 2003, Melo caiu no colo do Nuggets que logo se remontou em torno da sua nova estrela, que foi brilhante desde o primeiro ano: 21 pontos por jogo aos 19 anos, depois explodiu aos 21 e aos 22 anos com 26 e 29 pontos por jogo, respectivamente. Com Melo, o Nuggets chegou a quatro playoffs consecutivos, mas nunca passou da primeira rodada e só tinha vencido três jogos no total até a chegada de Chauncey Billups. Foi a melhor coisa que aconteceu a Melo e o Nuggets: finalmente com um armador de verdade, agora o time tinha alguém para controlar a bola, impedir que os jogadores a segurassem demais, oferecesse aos arremessadores e pontuadores do time a bola nas posições mais adequaras, controlasse o ritmo do jogo, e tudo que faltava ao time. Billups também foi fundamental mantendo o Nuggets no topo enquanto Melo lidava com algumas lesões menores, e nos playoffs, Billups e Melo levaram o Nuggets até as Finais de conferência. Foi provavelmente a melhor chance de Melo e Denver chegarem nas Finais, mas esbarraram em um forte time do Lakers e perderam em 6. Um ano depois Melo decidiu que não queria jogar mais por Denver e eventualmente forçou uma troca para o Knicks (Galinari, Wilson Chandler, Timofey Mozgov e escolhas de Draft), onde tem estado preso desde então como a única estrela de um time medíocre, sem muitas chances de título. Não exatamente o que Melo esperava, mas difícil dizer que essa escolha não deu muito certo para Denver.


2004 Draft: Ben Gordon (Bulls)
Ben Gordon era o protótipo do Heat Check Guy: um excelente pontuador e fantástico arremessador que pouco mais fazia por Chicago. Isso fez dele uma importante peça - especialmente vindo do banco - em uma série de divertidos times do Bulls, culminando na sua antológica performance contra o Celtics nos playoffs de 2009 naquela agora-lendária série de 7 jogos. Enquanto em Chicago, Gordon foi muito bem como pontuador e ataque instantâneo, passando de 20 pontos por jogo duas vezes... até que Gordon virou free agent, Detroit ofereceu um contrato milionário que ele aceitou, e sua carreira foi por água abaixo a partir dai. Ele nunca mais atingiu 14 pontos por jogo na vida ou foi mais que uma quarta opção em Detroit, bastante criticado por causa do seu contrato, desenvolveu uma má atitude e falta de interesse geral que só piorou sua situação. Hoje está mofando no banco do Magic.

Curiosidade do dia: Ben Gordon arremessou mais que 40% de três pontos em cada uma das suas cinco temporadas em Chicago, e em sete das suas oito primeiras temporadas na NBA. Sua média na carreira é de 40.1% de 3PT.


2005 Draft: Deron Williams (Jazz, via Trail Blazers)
Por algum motivo, todo mundo esquece disso hoje em dia, mas o Blazers teve na mão a escolha para selecionar Chris Paul (afinal, ele era o melhor jogador do Draft e tudo mais) e preferiu trocá-la pela escolha #6 (Martell Webster) e duas outras escolhas (eventualmente Linas Kleiza e Joel Freeland). Então se você está acompanhando, o Blazers pegou Sam Bowie na frente de Michael Jordan, Greg Oden na frente de Kevin Durant, e trocou a escolha que poderia ser Chris Paul por Martell Webster.

O Jazz se aproveitou da troca para selecionar Deron Williams, e Williams foi um enorme sucesso jogando no esquema de Jerry Sloan em Utah. Desde que virou titular em 2006/07 até 2010, Deron foi um dos melhores PGs da NBA, e sua média no período foi de 18 pontos e 10 assistências, tendo seu auge em 2009 com 19-11 e 47 FG%. Nesses quatro anos de Deron titular, Utah foi aos playoffs em todos, e chegou uma vez nas Finais do Oeste e duas nas Semifinais do Oeste com Deron sendo sua grande estrela e um dos melhores PGs da NBA.

Essa história, todo mundo sabe, não teve um final feliz: Deron brigou com Jerry Sloan (que se aposentou), passou de herói a vilão em Utah, e forçou uma troca para o Nets, que acabou acontecendo pouco depois (por Derrick Favors, Devin Harris, uma escolha futura que virou Enes Kanter, e outra escolha futura que foi trocada por Trey Burke - e acabou sendo Gorgui Dieng). No Brooklyn Deron ainda tem sido bom, mas nunca mais repetiu suas atuações de Utah e ninguém mais pensa nele como um dos grandes PGs da liga. Ainda assim, foi uma ótima escolha do Jazz que rendeu frutos.


2006 Draft: Adam Morrison (Bobcats)
Um dos mais famosos busts da NBA recente, Morrison foi uma máquina de pontuar por Gonzaga (28 ppg, 43 3PT%) antes de ser escolhido pelo Bobcats. Logo ficou claro que Morrison não tinha sido uma boa escolha: ele não tinha velocidade ou força parar criar separação na NBA, não defendia ninguém e seu arremesso de três estava tendo dificuldades para se adaptar a linha de três da NBA. Depois de uma decepcionante temporada de novato, Morrison estourou o ligamento e perdeu a temporada seguinte, foi trocado para o Lakers, e jogou apenas três temporadas no total na NBA antes de sair da liga em 2010. Estava fora da NBA aos 25 anos.

Curiosidade do dia: depois de jogar na Europa um tempo, Morrison voltou a Gonzaga para terminar os estudos, onde também é assistente no time de basquete.


2007 Draft: Al Horford (Hawks)
Apesar de alguns problemas recentes de lesão, Al Horford tem sido um dos mais estáveis e consistentes homens de garrafão na NBA desde que foi escolhido. Ele não é uma estrela que vai dominar jogos com freqüência, mas saudável é um All-Star que te garante 16 pontos e 10 rebotes toda noite, com ótimos passes e ótima defesa, e vai chutar 55% de quadra. Não vai mudar sozinho uma franquia, mas vai ajudar bastante, ancorar uma boa defesa e fazer o trabalho sujo. Muito bom jogador.


2008 Draft: OJ Mayo (Grizzlies, via Timberwolves)
O Wolves tinha a terceira escolha do Draft e pegou OJ Mayo, considerando que Rose/Beasley/Mayo era o claro Top3 daquele ano antes do Draft. Mas ao invés de manter Mayo, o Wolves trocou aquela escolha (em um pacote maior, mas esses são os que importam) para o Grizzlies por Mike Miller e a escolha #5 do Draft... Kevin Love! Se você está prestando atenção, em dois drafts consecutivos o Grizzlies trocou Kevin Love por OJ Mayo e pegou Hasheem Thabeet sobre Stephen Curry e James Harden... e ainda foi um dos melhores times do Oeste durante anos a fio. Eu não entendo a NBA.

Não da para dizer que Mayo foi um bust nem nada - ele teve 18 pontos por jogo de média em seus dois primeiros anos em Memphis chutando 38% de três, e depois virou uma peça importante vindo do banco naquele bom time de 2011. O problema é que sua carreira pareceu ter seu auge ai - depois de uma temporada 2012 decepcionante, Memphis decidiu que não queria pagar muito dinheiro para Mayo, que foi a Dallas. Mayo foi bem em um time decepcionante de Dallas, depois virou uma peça útil e fora de forma no banco de Milwaukee... certamente alguém que tem lugar na NBA, mas nem de longe o que esperavam antes do Draft, ou mesmo quando o pegaram #3.


2009 Draft: James Harden (Thunder)
Outra vez o Thunder achou ouro no Draft - só que dessa vez o time já tinha achado três vezes, e esse terceiro não teve tanto espaço como poderia. Harden era uma peça chave para o Thunder vindo do banco, chegando a ter médias de 16-4-4 em 2011... até que OKC decidiu que não queria pagar Harden mesmo ele sendo um dos seus melhores jogadores, e o trocou para o Rockets (por Jeremy Lamb, Kevin Martin e duas futuras 1st round picks, uma delas que já virou Steven Adams). No Rockets, com espaço e liberdade para atuar com a bola nas mãos, Harden logo virou uma grande estrela: 26-5-6 no seu primeiro ano e 25-5-6 no segundo, então é seguro dizer que o Thunder não tomou uma decisão sábia trocando aquele que virou um dos 10 melhores jogadores da NBA por migalhas. Harden hoje é uma legítima estrela e possivelmente vai assombrar os fãs do Thunder por anos a fio, especialmente se KD sair na free agency ano que vem.


2010 Draft: Derrick Favors (Nets)
Favors foi a peça chave daquela troca que mandou Deron Williams para o Nets em 2010. Até agora em sua curta carreira, Favors tem sido... irregular. Jogar em um time confuso de Utah não tem ajudado, e ele não tem recebido tantos minutos assim. Em um nível por-minutos, ele tem sido produtivo, algo como 15-11 com 2 tocos por 36 minutos, e esse ano pareceu ter dado um salto ofensivo, mais envolvido e mais eficiente do que nunca. Ele ainda tem 23 anos e tem o físico e habilidade atlética para virar um bom defensor, e ainda que pareça muito improvável que Favors vire uma estrela algum dia, ele ainda pode ser um sólido jogador acima da média por anos a fio.


2011 Draft: Enes Kanter (Jazz, via Nets)
A outra peça fundamental na troca por Deron (a escolha futura de primeira rodada), Kanter até agora tem sido um jogador pouco produtivo. Ele não é um grande defensor, e embora seu físico gere todo tipo de problemas para os adversários, ele não sabe muito bem usar isso de costas para a cesta ou algo parecido - ele tem médias de 16-10 nos ultimos anos por 36 minutos, mas nunca passa de 25 minutos por jogo na prática. Ele tem melhorado em 2014/15 - só 22 anos, by the way - mas ainda não se entrosou bem com Favors ou deu mostras de que vai ser mais do que um jogador de rotação na NBA. Utah não tem pressa e provavelmente vai continuar insistindo em Kanter e Favors (que ainda são jovens) se o preço não for absurdo, mas até agora nenhum parece que vai virar nada de excepcional.


2012 Draft: Bradley Beal (Wizards)
Bradley Beal, até agora, tem sido exatamente o que se esperava dele antes do Draft: um bom jogador ofensivo cujo principal foco é o arremesso de fora, bom o suficiente em outras áreas (especialmente como ball handler) para contribuir, mas sendo só secundário a sua produção ofensiva. Não é nem vai ser uma estrela, mas tem tudo para ser um bom jogador ofensivo e talvez um All-Star algum dia.


Resultado final: Graças a Deus a escolha #3 não tem nenhuma maldição. As escolhas #3 dos ultimos 15 anos não geraram nenhum Franchise-changing Superstar (Aquele jogador historicamente bom como Durant, LeBron ou Unibrow), mas gerou um ótimo número de estrelas (Harden, Gasol, Williams e Carmelo), outros dois All-Stars (Horford e Davis), um possível All-Star (Beal), e só dois grandes busts (Morrison e Miles). Em termos de aproveitamento, é uma boa safra, quase 7 em 15 anos. Ainda assim, apenas um (Gasol) e TALVEZ dois (Harden) jogadores acabaram sendo o melhor de suas classes.

Mas de novo, em termos de sucesso, nada excepcional. Apenas um dos 15 jogadores venceram um título (Gasol), e foi depois de ter sido trocado por um time que tinha decidido voltar a se reconstruir. Apenas um outro (Harden) chegou a uma final de NBA, e foi como reserva de um time que tinha duas outras estrelas maiores de titular (Durant e Westbrook). Carmelo (só com Billups a bordo) e Deron chegaram perto, mas falharam e logo forçaram uma troca, e os times que os trocaram ainda não estão em boa forma. Então enquanto tivemos ótimos jogadores saindo com a escolha #3, também é difícil achar times que tenham usado essa escolha alta rumo a uma Final de NBA ou um período prolongado de competição pelo título.


Escolhas #4 de Draft


1998 Draft: Antawn Jamison (Warriors, via Raptors)
Jamison foi escolhido pelo Raptors na escolha #4 e imediatamente trocado pela #5 + dinheiro. Como a #5 foi Vince Carter, é seguro dizer que o Raptors acabou fazendo a coisa certa.

Jamison é o típico jogador que nunca foi excepcional, mas foi muito bom por muito tempo e teve uma excelente carreira. Um ótimo jogador ofensivo, Jamison teve média de quase 19-8 na sua carreira, teve uma temporada 25-9 por Golden State, e ficou acima de 20 ppg três outras vezes. Sem falar em ter jogado por uma série de times divertidos de Warriors, Mavericks e Wizards. Jamison se aposentou ano passado depois de 16 temporadas bem sucedidas e 2 All-Stars.


1999 Draft: Lamar Odom (Clippers)
Yep, aquele. Odom é outro exemplo de jogador muito bom, com um skill set muito único e que foi bastante útil em alguns bons times, mas que nunca foi realmente uma estrela (ou um All-Star). Na verdade, Odom jogou quatro temporadas pelo Clippers apenas, com as últimas duas sendo marcadas por lesões e inconsistência, e o time não reassinou com ele. Ainda que Odom tenha sido um bom jogador com uma boa carreira, difícil dizer alguém que é dispensado depois de quatro anos do seu time foi um sucesso.

Odom acabou assinando com o Heat na offseason - depois que o Heat conseguiu o espaço salarial necessário porque o agente do Anthony Carter ESQUECEU de exercer sua player option - e foi uma peça importante na troca que trouxe Shaq a Miami. Odom acabou naqueles horríveis times do Lakers do meio dos anos 2000 que eventualmente foram salvos por Chris Wallace Pau Gasol, e era o quarto melhor jogador dos bicampeões Lakers. Nada espetacular, mas também sólido.


2000 Draft: Marcus Fizer (Bulls)
Quem?!

Fizer foi um PF que ninguém entendeu quando foi escolhido pelo Bulls em 2000, considerando que eles já tinham Elton Brand, e muitos acharam que tinha sido pego para uma futura troca. Essa troca nunca aconteceu, Fizer ficou mofando no banco atrás de Brand (e depois Curry/Chandler), eventualmente estourou um joelho, e estava fora da NBA aos 27 anos.


2001 Draft: Eddy Curry (Bulls)
Uma coluna bem infeliz para o Bulls. Tirando Rose na escolha #1, Bulls apareceu nessa coluna só com um acerto relativo (Ben Gordon) e um caminhão de erros: trocar Brand por Chandler, trocar Aldridge por Tyrus Thomas, e escolher Jay Williams e Marcus Fizer com as outras duas. E agora, Eddy Curry.

Não tem nada mais engraçado na NBA que reler colunas pré-Draft 2001 e ver Curry ser comparado a Shaq e Wilt Chamberlain. Um cara enorme, muito forte e muito gordo, todo mundo achava que Curry tinha o potencial para ser um pivô extremamente dominante na NBA. Só que ai ele chegou na NBA de fato e todo mundo viu que ele não conseguia pegar rebotes, defender o aro, ou mesmo se mover direito em quadra. Tudo que ele tinha era aquele jogo de costas para a cesta, o que era suficiente para fazer algumas pessoas acharem que ele tinha salvação quando na verdade ele era péssimo. E claro, ele convenceu Isiah Thomas a trocar não uma, mas DUAS escolhas de primeira rodada por ele. Essas escolhas acabaram virando Joakim Noah e, depois, LaMarcus Aldridge (que o Bulls estupidamente trocou). Quando Eddy Curry fez 25 anos, ninguém o queria mais - jogou apenas 26 jogos na carreira depois disso antes de se aposentar. Outro dos maiores busts de todos os tempos.

Curiosidade do dia: Eddy Curry tem 100% de aproveitamento em bolas de três na carreira. 2 de 2.


2002 Draft: Drew Gooden (Grizzlies)
Gooden foi basicamente um jogador irrelevante ao longo da carreira, nunca com mais que 14.4 pontos ou 9.2 rebotes em uma temporada, além de prover zero defesa ou passes. Algumas temporadas decentes e até chegou em uma Final de NBA por Cleveland, mas nunca foi um jogador que mudasse alguma coisa.

O engraçado da carreira de Gooden foram as trocas constantes e os nomes envolvidos: na temporada de calouro, foi trocado para o Magic em troca de Mike Miller e uma escolha futura de Draft (eventualmente Kendrick Perkins); ele depois foi mandado para o Cavs em troca de Tony Battie (!!) junto de (wait for it...) Anderson Varejão; ele depois foi trocado pelo Cavs junto de Shannon Brown e Larry Hughes em uma troca de quatro times que trouxe a Cleveland Ben Wallace, Delonte West e uma escolha de segunda rodada que acabou virando (wait for it...!) Danny Green; mais tarde foi trocado pelo Bulls por John Salmons; e depois de ir ao Mavs como free agent, foi trocado junto de Josh Howard por Caron Butler e DeShawn Stevenson, que ajudaram o Mavs a ser campeão em 2011. Eventualmente também foi envolvido na troca que trouxe Jamison ao Cavs. Por algum motivo eu acho muito engraçado Gooden ter estado envolvido em todas essas trocas com todos esses nomes, e o fato de que ele jogou por 10 times (33% da NBA!!!) ao longo de sua carreira.


2003 Draft: Chris Bosh (Raptors)
OS scouts da época achavam que Chris Bosh era magro demais para jogar no profissional, e que portanto Darko era um prospecto muito melhor. Scouts são burros. Lembrem disso.

Bosh foi uma escolha de enorme sucesso para o Raptors, e não demorou para se estabelecer como um dos melhores PFs da NBA, uma legítima estrela capaz de arremessar de fora, jogar no garrafão, ou colocar a bola no chão e criar a partir do drible. O problema é que o Raptors foi absolutamente incapaz de montar qualquer coisa ao redor do seu time: nos próximos três anos, Toronto escolheu 3x no Top10 (incluindo uma escolha #1) e gastou todas em jogadores de garrafão medíocres (o brasileiro Babby, Charlie Villanueva e Bargnani). Depois disso o time ficou menos horrível e Bosh começou a levar Toronto mais longe, mas dai o time ficou preso no topo da loteria/parte de baixo dos playoffs, sem condições de se reforçar mas muito longe de ter um time decente. Como acabou, todo mundo sabe: Bosh foi para Miami e ganhou dois títulos com LeBron e Wade. Bosh foi uma grande escolha que virou um grande jogador, mas a culpa é da diretoria de Toronto por não aproveitar.


2004 Draft: Shaun Livingston (Clippers, via Bobcats)
Antes do Draft, o Clippers trocou sua escolha #2 (eventualmente Okafor) para o Bobcats pela #4, uma escolha de segunda rodada (Lionel Chalmers) e um acordo sobre o Draft de expansão (não pergunte). E selecionou Livingston, um adolescente com muito potencial vindo direto do High School. Livingston teve um papel limitado nos primeiros anos mas demonstrou grande potencial como defensor e armador... até que sofreu uma lesão horrível no joelho, que o tirou da temporada, custou dois anos para voltar as quadras e o roubou de toda sua explosão e habilidade atlética.

Livingston nunca voltou a ser o que era e perdeu todo seu potencial, mas em um final feliz, Livingston conseguiu retomar sua carreira, um jogador útil capaz de jogar/defender três posições e pontuar de costas para a cesta que voltou aos playoffs ano passado como um importante jogador no Nets. Confesso que poucas vezes fiquei mais feliz por um atleta profissional que não envolvesse meu time.


2005 Draft: Chris Paul (Hornets)
O Hornets achou ouro com Paul depois que três times estupidamente passaram por ele, e Paul logo se revelou um Franchise-chaning player por New Orleans, um Isiah Thomas 2.0 e um dos 12 melhores PGs da história da NBA. Suas temporadas 2008 (21-12, líder em roubos, deveria ter sido MVP) e 2009 (23-11, líder em roubos) estão no Panteão das maiores de um PG em todos os tempos. O prolema, como acontece com tantas outras estrelas draftadas no topo do Draft, é que Paul era bom demais para um time que era ruim demais. Sua chegada e seu impacto imediatamente levantaram em muito a franquia, só que o time ao seu redor era ruim e não tinha boas peças de troca para trazer um bom complemento veterano, e agora com Paul o time não era mais ruim o suficiente para juntar várias escolhas altas de Draft. Então pobre Paul ficou preso carregando nas costas times fracos e sem esperança do Hornets, até que seu contrato chegou ao fim e ele foi trocado para Los Angeles (tecnicamente duas vezes) antes que o Hornets perdesse o jogador por nada. Ele mudou o destino do Clippers desde então junto de Blake Griffin.


2006 Draft: Tyrus Thomas (Bulls, via Trail Blazers)
Já critiquei muito essa escolha do Bulls, e com razão: Aldridge virou um All-Star e um dos melhores PFs da NBA, enquanto Tyrus Thomas foi um grande bust pra Chicago, nunca passando de 10.8 pontos e 6.4 rebotes e decepcionando de maneira geral. A única coisa boa a se dizer sobre Thomas no Bulls é que pelo menos conseguiram se livrar dele na quarta temporada para o Bobcats em uma das piores trocas da NBA moderna: Tyrus Thomas (jogou três anos e meio em Charlotte, foi anistiado e estava fora da NBA aos 26 anos) por Acie Law (meh), Ronald Murray (meh)... e uma escolha futura de primeira rodada. Que AINDA é de Chicago no presente momento, um doce ativo para trocas ou para tentar achar um jogador para o futuro.


2007 Draft: Mike Conley (Grizzlies)
Não foi uma escolha popular na época, e foi ainda mais criticada quando o Grizzlies eventualmente deu uma extensão contratual de 45M/5 anos para Conley, mas a verdade é que deu muito certo: Conley evoluiu em um dos melhores armadores da NBA, um excelente jogador all-around capaz de defender em altíssimo nível, armar o time e atacar a cesta mesmo com o pouco espaço que o Grizzlies costuma gerar. Conley não é uma estrela, mas é um ótimo jogador que é hoje provavelmente o segundo melhor do time com melhor record da NBA.


2008 Draft: Russell Westbrook (Supersonics)
Yep, três vezes o Sonics/Thunder achou ouro no Top4 do Draft. Eles acharam um Franchise-changing player (Durant), uma superestrela em Westbrook, e uma futura estrela em Harden (que só virou uma quando saiu, mas enfim). Essa é a sequência de Drafts que convenceu o mundo do basquete de que tankar era uma boa idéia e o caminho mais rápido para o sucesso (mais sobre isso daqui a pouco). Na época, Westbrook #4 foi uma surpresa e muita gente achou que tinha sido uma escolha ruim, só que Westbrook acabou virando um dos 15 melhores jogadores da NBA. Acontece. Nem todo mundo consegue ter esse tipo de seqüência. Quer dizer, Durant, Westbrook E Harden em Drafts consecutivos?! É que nem pegar um raio em uma garrafa. Três vezes seguidas.


2009 Draft: Tyreke Evans (Kings)
Evans tacou fogo na NBA em 2009, quando se tornou o quarto calouro da história (junto de Oscar, MJ e LeBron) a ter 20-5-5 de média (20-5-6, 46 FG%). Todo mundo engoliu o hype criado por essa temporada de calouro e achou que Evans estava pronto para explodir como a próxima estrela da NBA... só que não aconteceu. Tyreke decaiu na sua segunda temporada, batalhando algumas lesões. E na terceira. E na quarta. Sua temporada de calouro acabou sendo seu auge, e em cada uma das quatro temporadas subsequentes suas médias de pontos e rebotes foram caindo, ele parecia cada vez mais sem posição na NBA, até que o Kings decidiu não renovar seu contrato. Evans acabou no Pelicans e, em 2014/15, tem tido um certo renascimento na carreira (16-6-6, segundo melhor jogador do time), mas nunca chegou a ser a estrela que todos esperavam.


2010 Draft: Wesley Johnson (Timberwolves)
Yep, é isso ai, em drafts consecutivos o Wolves pegou Johnny Flynn sobre Stephen Curry e Wes Johnson sobre Boogie Cousins. Pelos velhos tempos... KAAAAAAAAAAHN!!!!

Johnson era considerado uma escolha "segura" no draft, alguém que já entrava na NBA com 23 anos depois de ter passado três anos no College. O enunciado era que ele fazia tudo um pouco: arremessava de fora, defendia, jogava com a bola nas mãos, etc. O que todo mundo logo descobriu é que não é que ele fazia um pouco de tudo... é que ele não sabia fazer nada direito. Ele durou duas temporadas horríveis em Minnesota antes de ser trocado sem cerimonia para Phoenix, e de lá para o Lakers, onde faz parte de um dos piores times da NBA. Ele nunca teve PER acima de 11 na carreira.


2011 Draft: Tristan Thompson (Cavaliers)
Outra escolha ruim de Draft do Cavs. Ta certo que o Draft não era muito bom, mas tinha vários jogadores melhores (e mais bem cotados) que Thompson disponíveis, como Valanciunas, Klay Thompson e Kawhi Leonard. Thompson nunca foi nada mais do que medíocre, um jogador que só tem uma habilidade em nível NBA: rebotes de ataque. Fora isso, ele não consegue arremessar, passar a bola, criar seu próprio arremesso, jogar de costas para a cesta ou defender o aro consistentemente. E ele ainda assim provavelmente vai ganhar uma extensão de uns 48M essa offseason simplesmente porque seu agente é o mesmo de LeBron James


2012 Draft: Dion Waiters (Cavaliers)
Outro fracasso do Cavs. Com Waiters, é comum as pessoas confundirem ser um jogador talentoso com ser um bom jogador. Waiters tem talento - sabe driblar, arremessar e criar a partir do drible - mas não é um bom jogador em um time. Ele arremessa demais e quando quer, não se movimenta tanto sem a bola, é um péssimo defensor, não parece ter noção da hora certa de fazer cada coisa, e não faz nenhum companheiro de time melhor. Em dois anos ele já brigou com Irving e LeBron, e atualmente está mofando no banco do Cavs com médias de 9 pontos e 38% nos arremessos. Algumas das próximas escolhas do mesmo Draft: Lillard, Terrence Ross, Harrison Barnes, Andre Drummond.


Resultado final: Dos 15 jogadores #4, vimos alguns casos se repetindo de bons, sólidos jogadores que nunca viraram estrelas, como Odom, Tyreke, Conley ou Jamison. É o que você quer garantir na loteria. Mas em termos de upside, apenas um Franchise-changing superstar (Paul) e duas grandes estrelas (Westbrook e Bosh), o que não é ruim considerando que essa é a quarta escolha, especialmente considerando os bons jogadores que também tivemos (apenas quatro grandes busts - Johnson, Curry, Fizer e Thomas).

E de novo, o mesmo tema: falta de sucesso. Apenas Westbrook chegou a uma Final de NBA com o time que o escolheu, e os dois jogadores da classe que ganharam anéis de campeões com alguma relevância fizeram isso depois de saírem do time que os draftou: Bosh saiu de Toronto como FA para ganhar um título em Miami, e Odom virou free agent uma vez e foi trocado outra antes de chegar no Lakers (e mesmo assim só foi campeão cinco anos depois). Poucos times que fizeram essas escolhas viram seu destino mudar positivamente, e os que viram não conseguiram fazer nada com isso a exceção do Thunder (que já tinha Durant do Draft anterior).


Conclusão

Em termos contáveis, eis nosso saldo final das 60 escolhas de Draft Top4 entre 1998 e 2012:

Cinco franchise-changing players. 3 escolhidos na primeira escolha, 1 na segunda e 1 na quarta (Lebron, Dwight, Davis, Durant e Chris Paul)

Nove estrelas, contando Rose e Yao. 3 na primeira escolha, 4 na terceira, e 2 na quarta (Rose, Yao, Griffin, Gasol, Melo, Deron Williams, Harden, Bosh, Westbrook)

8 consistentes All-Stars. 3 na primeira escolha, dois na segunda, dois na terceira e um na quarta: Brand, Wall, Irving, Aldridge, Francis, Baron Davis, Al Horford, Jamison

18 busts absolutos, o tipo de jogador que foi um fracasso inapelável na escolha.

Então na contagem final, temos 5 FP, 9 estrelas, 8 All-Stars, 18 busts, e os outros 20 jogadores ficam entre "muito sólido" (pense Odom/Conley) e "fraco, mas passível" (Gooden), com no meio alguns "esperamos para ver" (Beal, MKG, Favors). Então 22 de 60 escolhas (37%) no Top4 desses 15 anos renderam algo que você ficaria satisfeito, algo entre All-Star e Franchise Player. Confesso que é menos do que eu esperava - eu esperava que o Top4 consistentemente rendesse jogadores melhores para esses times. Se você tem uma escolha Top4, você tem quase tantas chances de sair de lá com um bust (30%) como com um All-Star. Isso é um pouco assustador. Além disso, talento claramente não falta nesse Top60, mas também não me parece que você tem grandes chances de sair de lá com uma estrela - 14 de 60, menos de 25% das escolhas, renderam esse tipo de jogador. Para ilustrar melhor, vamos ver como o resto da primeira rodada desses 15 Drafts rendeu nas categorias FP, estrela e All Star:

2 Franchise Players (Dirk, Wade)

10 estrelas (Pierce, Carter, Parker, Stoudamire, Roy, Rondo, Love, Curry, Cousins, Paul George )

10 All-Stars (Marion, Rip Hamilton, Artest, Z-Bo, Joe Johnson, Butler, Iguodala, Al Jefferson, Noah, Brook Lopez)

Bem parecido. Claro, o resto da primeira rodada tem muito mais escolhas, mas ainda assim é significativo o quão próximos tem sido os resultados dos times dentro do Top4 e dos times fora delas. O único considerável desequilíbrio é em Franchise Players - já que esses jogadores normalmente já são certezas ANTES da NBA, é raro que caiam das primeiras escolhas - mas ainda assim, Franchise Players em geral já são extremamente raros, menos de um a cada dois anos na nossa amostra. Considerando que menos de metade deles saíram na escolha #1 também serve para mostrar que, mesmo quando tem um FP disponível (o que não é tão comum), ainda assim não é fácil pegá-lo.

E tem também aquele complicado fato do qual não podemos escapar: nem um único desses 60 jogadores ganhou um título com o time que o escolheu. Na verdade, apenas CINCO deles sequer CHEGARAM a uma final de NBA, e três deles foram com o mesmo time (Durant, Harden e Westbrook com o Thunder de 2012). Os cinco jogadores dessa lista que chegaram a ser campeões com um papel importante (LEBron, Bosh, Gasol, Odom e Chandler) foram todos campeões depois de deixarem seus respectivos times: LeBron e Bosh saíram como free agents para pastos mais verdes depois de ficarem anos presos a times medíocres (e deixaram Cavs e Raptors sem nada); Odom virou free agent e foi trocado antes de virar campeão, onde era apenas o terceiro ou quarto melhor jogador; Gasol foi campeão depois de trocado por migalhas por um time que queria voltar a reconstruir; e Chandler passou por cinco times antes de realizar seu potencial no campeão Mavs. Para efeito de comparação, SEIS daqueles All-Stars ou melhores que foram draftados fora do Top4 foram campeões pelo time que os draftou (Dirk, Pierce, Wade, Rondo, Parker, Hamilton combinaram para 11 títulos).

Essa falta de sucesso é o que mais preocupa olhando esses 15 anos. Selecionar um grande jogador já é algo bem difícil e até raro, mesmo no topo do Draft, mas é significativo que mesmo os que conseguiram um não tenham alcançado tanto sucesso coletivo assim.

Os times que escolheram LeBron, Chris Paul e Chris Bosh nunca conseguiram montar algo em torno de suas estrelas. Os times que escolheram Deron e Gasol tiveram bons times, mas nunca bons o suficiente para realmente ser grande candidato ao título. O Denver de Carmelo era apenas razoável mesmo com Melo até a chegada de uma estrela veterana (Billups), que levou o time as Finais do Oeste, depois nunca mais. Yao e Rose quebraram. Os 8 All-Stars nunca foram bons o suficiente para levar sozinhos um time nas costas. E com uma exceção (chegaremos lá), a maior parte desses times que conseguiu um grande jogador não foi capaz de montar um time bom o suficiente. Isso é um problema grave.

Em grande parte, isso se deve ao fato de que tankar tem um custo. Se você quer sair do Draft com uma estrela ou o tipo de jogador que vai mudar o destino da sua franquia, então em geral o melhor lugar para conseguir esse tipo é o topo do Draft. E isso sem falar que, como já vimos, é raro e um tanto quanto imprevisível achar essas estrelas ano a ano, então se seu objetivo maior é conseguir uma estrela através do Draft, você provavelmente tende a se manter mais que um ano entre os piores. E para conseguir uma coisa dessas, você provavelmente teve que deixar o seu time muito ruim. Tipo, muito muito ruim. A não ser que você de um golpe de sorte a partir de um time já bom (como o Bulls em 2008, que conseguiu a #1 e Rose tendo apenas a nona pior campanha da NBA, e isso por causa de um ano em que tudo deu errado) ou de muita sorte em um projeto de tank de um ano devido a uma circunstância externa (como o Spurs tankando em 1996 porque David Robinson machucou e perdeu a temporada, e saindo com Tim Duncan), escolher no alto do Draft provavelmente significa que você tem um time bem ruim. Talvez até que tenha trocado seus jogadores mais veteranos e quem quer que pudesse ajudar você a ganhar jogos (e portanto atrapalhando o tank) por pouca coisa.

Então você fica com um time muito ruim, sem bons jogadores, porque isso aumenta suas chances de conseguir uma escolha alta... mas isso significa que mesmo se o tank funcionar e você conseguir uma estrela, você não tem nada que preste ao redor dela para construir em cima. E se sua estrela for boa o suficiente logo de cara, isso provavelmente significa que agora o seu time não é mais ruim o suficiente para contar com escolhas altas de Draft, mas também não terá nada ao redor dela para competir por um título a não ser que sua diretoria consiga ser bastante competente com poucos ativos (algo difícil nos dias de hoje, onde os times estão menos burros quanto a trocar escolhas desprotegidas de Draft, por exemplo). E isso antes de considerar que, como a NBA é estruturada hoje,  existe uma grande chance da sua estrela se mandar na free agency (ou forçar uma troca) dentro de alguns anos se você não conseguir montar um bom time ao redor dela, como aconteceu com vários jogadores dessa lista.

Se você for re-observar essa coluna, vai ver que essa história é a mais comum. Time muito ruim consegue uma escolha alta pela loteria, escolhe uma estrela, time se torna sólido ao seu redor, não consegue fazer os movimentos certos para montar um grande time com menos ativos, passa vários anos sendo bom-mas-não-bom-o-bastante-para-disputar-títulos, e eventualmente perde sua estrela porque ela se mandou na free agency ou porque você quer reconstruir mais uma vez. Denver provavelmente é o melhor exemplo: era um time horrível, pegou uma estrela em Melo no Top3 do Draft e imediatamente virou um time de playoffs... só que um time que não ia além da primeira rodada, onde ficaram presos durante anos a fio. Isso só foi mudar quando a diretoria trocou por uma estrela já estabelecida, Chauncey Billups, e o time chegou nas Finais do Oeste... e um ano depois Melo forçou uma troca para sair de Denver.

Em resumo, vendo essa análise toda, é difícil ficar convencido de que tankar realmente trás bons resultados. Estatisticamente, os números estão um tanto quanto contra você: você tem uma chance bem pequena de conseguir um Franchise-changing player mesmo com uma escolha Top4 (pelas minhas contas, 5 em 60 escolhas, o que da cerca de 8% de chance de conseguir um jogador assim com uma dessas escolhas), e mesmo uma estrela ou All-Star não são tão comuns assim como seria de imaginar. E a falta de sucesso geral desses times e desses jogadores é ainda mais preocupante, incluindo esse padrão de "não conseguir construir em torno mesmo se achar a estrela que querem". A não ser que você consiga aquele jogador historicamente excepcional (e mesmo com eles, mas em menor grau), você ainda vai precisar se desdobrar para reforçar sua equipe mesmo depois de conseguir sua estrela ou All-Star, só que agora sua tarefa vai ser muito mais difícil porque não vai mais contar com tantas escolhas altas... e isso antes de contar o quanto pode indispor jogadores a atuarem por uma equipe que foi ruim por muito tempo.

Então apesar de várias evidências da dificuldade que é transformar tank em sucesso, e da incrível falta de sucesso dos times que fizeram isso nos últimos 17 anos (zero títulos, apenas quatro desses times foram as Finais e ganharam quatro jogos TOTAIS lá), por que muitos times, analistas e torcedores ainda acham que esse é o melhor caminho para o sucesso?

Porque deu certo com o Thunder, que inclusive é o modelo que o Sixers está tentando seguir. Não apenas tankar até conseguir sua estrela, mas fazer isso consistentemente por anos a fio para conseguir VÁRIAS dessas estrelas. Deu certo para o Thunder, que em três anos pegou Durant, Westbrook e Harden - três dos 10 melhores jogadores da NBA na atualidade - e esse é o sucesso que todo mundo quer ter rumo a um título.

É claro, isso é que nem falar que todo mundo quer imitar o modelo de sucesso do Spurs. "Tudo que você tem a fazer é pegar um dos 6 melhores jogadores da história da NBA no Draft, juntar ele com um dos 4 melhores técnicos da história, cercar eles sempre dos jogadores certos, trabalhar sempre dentro do mesmo contexto voltado para o time, e ser a melhor franquia do mundo desenvolvendo role players por 15 anos para ganhar múltiplos títulos?!". Porque o Thunder fez também foi igualmente difícil, algo como pegar um raio em uma garrafa três vezes seguidas. Seja por pura sorte (ter uma escolha alta em Drafts com esses jogadores, ver Portland estupidamente passar Durant na escolha #1 e cair no seu colo um dos melhores pontuadores da história do esporte) ou por incrível competência avaliando talentos (Westbrook e Harden foram escolhas bastante surpreendentes na noite do Draft), é só você dar uma relida nas 60 escolhas analisadas nessa coluna para ver o quão difícil e improvável é você conseguir acertar três estrelas (inclusive uma sendo um talento histórico como Durant). Se quer tornar isso mais estatístico, 14 das 60 escolhas (23%) Top4 nesses 15 anos viraram uma estrela. Com essas chances, a chance de três escolhas seguidas virarem uma estrela é de ínfimos 1.2%, e isso antes de contar que uma delas era Durant (chances bem menores) E das chances de conseguir três escolhas seguidas dentro do Top5 (OKC tinha a quinta pior campanha em 2007 e a quarta pior em 2009). As chances são mínimas de conseguir algo assim, então chega a ser ingenuidade achar que qualquer time pode repetir esse modelo e sair com tanto sucesso assim.

E ainda assim, os times insistem. Nenhum desses times em 15 anos conseguiu sucesso sustentável na NBA (em termos de competir pelo título) tirando o que, como já vimos, fez algo extremamente raro e quase impossível de ser reproduzido. Nenhum ganhou um título ou chegou a mais de uma final. Então talvez seja hora de encarar o tank e o começo do Draft como a melhor forma de sucesso na NBA.


Como eles ganharam então?!

Então tank não é uma estratégia tão eficiente, e muito menos bem sucedida, na NBA moderna quanto as pessoas parecem acreditar. Então agora vamos fazer o contrário - olhar para os times que DE FATO venceram um título de NBA e tentar olhar um pouco para os caminhos que usaram para chegar lá.


1999 San Antonio Spurs
O Spurs é talvez o único time da NBA pós-Jordan a tirar sucesso de um tanking. Ainda assim, o sucesso do Spurs com esse tank confirma de certa forma tudo que eu disse, porque eles são a exceção da exceção: um time que fez um ano de tank sem necessariamente ser ruim. Eles aproveitaram uma lesão que tirou sua estrela (David Robinson, outra ex-escolha #1 que nunca tinha chegado a uma Final) da temporada para fazer um tank pontual de um ano, e tiveram a imensa sorte de conseguir a escolha #1 (com o terceiro pior record) naquele ano, e logo no ano que um dos 6 melhores jogadores da história da NBA estava saindo do College: Tim Duncan. 

Com sua nova estrela a bordo, a grande vantagem é que o Spurs não estava vazio de talento em torno da sua nova aquisição, eles já tinham um time razoável e uma segunda estrela a bordo! Duncan imediatamente assumiu o comando de Robinson, e o Spurs aproveitou sua dupla de pivôs fantásticos para ser campeões. O tank deu certo, mas só porque San Antonio já tinha uma boa estrutura anteriormente montada em torno de Timmy.


2000 Los Angeles Lakers
2001 Los Angeles Lakers
2002 Los Angeles Lakers
Eu juntei o three-peat do Lakers porque não houve nenhuma grande mudança de um ano a outro, a fórmula ainda era essencialmente a mesma. Esse é outro time que se aproveitou de duas estrelas (que, por acaso, eram dois dos cinco melhores jogadores da NBA), mas ao contrário do Spurs, o Lakers não conseguiu Shaq e Kobe através de tanking ou escolhas de Draft altas. Eles assinaram com Shaq como Free Agent em 1996, se aproveitando de seu status como franquia, da sua cidade e do dinheiro que tinham de sobra (e também que o Shaq saiu de Orlando depois de brigar com Penny Hardaway). Ainda assim, os Lakers de Shaq só foram atingir o sucesso quando Kobe Bryant se tornou um dos melhores jogadores da liga. E Kobe foi um achado no #13, escolha do Hornets que o Lakers adquiriu por Vlade Divac quando Kobe deixou claro que não iria jogar por New Orleans.

Quando Kobe virou uma estrela e Shaq finalmente atingiu seu ápice (30-14-4, 57%, MVP), o Lakers imediatamente virou um juggernault historico que engoliu três títulos e teria conseguido tantos outros se o ego de Kobe não explodisse e destruísse o time. Apesar das duas estrelas, nenhum tanking: uma delas veio por Free Agency, e a outra foi um grande talento achado na metade da primeira rodada do Draft.

(Tangente rápida: Jerry West é um dos 10 melhores jogadores da história da NBA, mas porque ele não é mais mencionado entre os maiores GMs da história do jogo? Depois de ganhar um título por Los Angeles como jogador, ele virou GM e foi responsável por montar os times campeões de Magic/Worthy/Kareem E a dinastia Shaq/Kobe em Los Angeles!! Entre jogador e GM, isso são NOVE títulos para o Lakers!! Inacreditável. Como sempre, ninguém da o valor que West merece).


2003 San Antonio Spurs
Apesar de um início de contribuição de alguns jogadores estrangeiros que viriam a ser famosos (mais sobre eles daqui a pouco), a verdade é que esse título foi vencido por San Antonio porque Tim Duncan é um monstro. A sua temporada 2003 tem meu voto para, do inicio ao final, a temporada mais underrated da história da NBA: venceu o MVP com 24-14-4 de média e dobrando como o melhor defensor da liga, e sendo de longe o jogador mais importante de San Antonio dos dois lados da quadra. Nos playoffs, ele destruiu tudo e todos na sua frente, com médias de 25 pontos, 15 rebotes, 5 assistências e 79 tocos em 23 jogos, destruindo o Lakers de Shaq e o Mavericks de Nowitzki no processo antes de finalizar o seu título com um histórico quase-quadruple double no G6 das Finais: 24 pontos, 20 rebotes, 10 assistências e 8 tocos em um jogo que eu não faço a menor idéia de porque não é mais lembrada entre as grandes performances da história dos playoffs. Duncan terminou os playoffs de 2003 com o maior Win Shares da história da pós temporada.

Então ainda que algumas peças já estivessem se encaixando em torno de Duncan, esse título ainda foi nas costas da sua superestrela ancorando responsabilidades titânicas dos dois lados da quadra e chutando mais traseiros do que deveria ser permitido.


2004 Detroit Pistons
A exceção entre as exceções da história do basquete. O Pistons de 2004 foi um time que se aproveitou de uma série de fatores para ser talvez o pior campeão da história da NBA: uma série de lesões atrasaram gravemente seus principais competidores (Sam Cassell no Wolves, Karl Malone no Lakers); o Leste era um vácuo histórico de bons times; a NBA passava talvez por sua maior entressafra de talento desde o Merger; e as regras da NBA tinham ido excessivamente na direção de times ultra-defensivos.

Ainda assim, é um tanto quanto fascinante ver como o Pistons montou esse time que é o único desde 1980 a vencer o título sem uma grande estrela. Eles pegaram Chauncey Billups (um armador talentoso mas que nunca tinha sido nada demais na NBA jogando por quatro times diferentes) como free agent em 2003 antes dele eventualmente virar um All-Star em Detroit; trocaram Jerry Stackhouse (um All-Star que conseguiram por Aaron McKie, Theo Ratliff e Carlos Delfino) por Rip Hamilton, ex-7th pick; pegaram Tayshaun Prince com a escolha #23 do Draft; pegaram Ben Wallace (um FA não-draftado) como parte do pacote de retorno quando o Free Agent Grant Hill (uma escolha #3 que, adivinhe!, nunca jogou uma Final de NBA) foi para Orlando; e por fim receberam a peça final do quebra-cabeça quando Danny Ainge mandou de presente para eles Rasheed Wallace em troca de alguns jogadores medíocres e duas futuras escolhas de Draft (eventualmente Josh Smith e Tony Allen).

Basicamente, eles montaram uma base razoável com free agents e trocas menores antes de complementar esse grupo com uma excelente escolhas de final de Draft e, com as peças encaixadas, fizeram uma troca final por uma estrela a venda (Sheed). Nenhum tanking, nenhuma escolha alta.

Ps. Se você está acompanhando, sim, eles também tinham a escolha #2 daquele Draft e pegaram Darko Milicic ao invés de Bosh, Melo ou Wade. Funhé.


2005 San Antonio Spurs
Finalmente a máquina do Spurs começa a se encaixar. Duncan ainda é o pilar do time, principalmente na defesa, mas outras peças importantes começam a surgir ao seu redor e Pop começa a aliviar um pouco a carga de sua grande estrela. Os principais fatores nessa mudança são dois estrangeiros: Tony Parker, que foi escolhido #28 no Draft alguns anos antes, e Manu Ginobili, argentino importado da Europa depois de ser escolhido na segunda rodada (escolha #57!). Então com o time campeão de 1999 se desmontando conforme a carreira de David Robinson foi terminando, San Antonio se remontou em torno de sua estrela com duas escolhas tardias de Draft que trouxeram dois futuros All-Stars e diversos role players pontuais, contratações inteligentes e um fantástico técnico.


2006 Miami Heat
Miami terminou 2003 com o quinto pior record da NBA quando sua estrela - Alonzo Mourning - perdeu a temporada com uma séria doença nos rins, e embora Mourning não voltasse mais a Miami até 2005 (quando já não era nem sombra do grande jogador que foi), Miami achou ouro naquele Draft, achando uma superestrela mesmo escolhendo fora do Top5 (Wade no #5, em uma decisão que na época foi uma grande surpresa, inclusive). Mas Miami só foi dar o salto em 2005, quando Miami trocou seu segundo melhor jogador (Lamar Odom, assinado como Free Agent) e seu terceiro melhor jogador (Caron Butler, escolha #10 do Draft uns anos atrás) pelo descontente Shaquille O'Neal. Shaq e Wade logo combinaram para uma das melhores duplas da NBA, e depois de uma lesão em Wade atrapalhar os planos para 2005, Miami finalmente venceu seu título em 2006 quando ganhou do Mavericks em uma das séries mais injustas e vergonhosas da história do basquete.

Então de novo, nenhum tank ou escolha Top4 aqui. Acharam uma superestrela fora do Top4, e aproveitaram um bom núcleo passado (construído através de drafts passados e free agents) para fazer uma troca pela segunda estrela que precisavam, e depois cercaram a dupla com jovens jogadores (incluindo um FA não draftado chamado Udonis Haslem) e alguns veteranos em fim de carreira em busca de um anel (Jason Williams, Gary Payton).


2007 San Antonio Spurs
Outro dos mais injustos títulos da história da NBA (a série contra Phoenix foi decidida por uma suspensão ridícula da NBA e um juiz que foi preso dois meses depois por manipular resultados), mas de novo na mesma fórmula de San Antonio: Duncan ancorando a defesa e fazendo a parte "suja" do ataque, Parker e Manu conduzindo a bola, e uma série de role players executando a perfeição um esquema tático brilhante de um técnico brilhante. De longe o jogador mais importante foi a estrela escolhida #1 10 anos antes, mas o time precisou da injeção de dois jovens talentos estrangeiros para chegar aonde esteve.

(E se você não acha que Tim Duncan era DE LONGE o melhor jogador do Spurs de 2007 só porque Tony Parker foi MVP das Finais, então você não entende de basquete. É simples assim.)


2008 Boston Celtics
Depois de tankar com tudo que tinha por Duncan e sair de mãos vazias (saíram com Ron Mercer na #6 e Billups na #3, mas trocaram Billups depois de CINQUENTA FREAKING JOGOS por nada), o Celtics eventualmente achou uma estrela (em menor grau, claro) em Paul Pierce um ano depois na #10, só para praticamente jogar fora seu auge inteiro com péssimas gestões, trocas e drafts. Boston eventualmente teve algum sucesso nos playoffs nas costas de Pierce, mas só porque jogava no fraquíssimo Leste, e na maior parte do tempo foi um time frustrante por anos a fio.

Em 2007, depois de uma lesão que tirou Pierce de boa parte do ano, o Celtics decidiu tentar tankar mais uma vez, dessa vez por Oden/Durant. De novo, não deu certo, e o Celtics ficou apenas com a quinta escolha. Então ao invés de insistir na reconstrução e trocar Pierce, Boston decidiu tentar o oposto: fazer uma troca por um veterano estabelecido para tentar aproveitar o resto da carreira do #34. Aproveitando que o Seattle Supersonics estava tentando se desmontar para reconstruir através do Draft, o Celtics pegou o veterano All-Star Ray Allen em troca de espaço salarial e escolhas de Draft, e usou os jovens talentos que tinha acumulado nos últimos anos - Al Jefferson (#15), Gerald Green (#18) e Bassy Telfair (via Blazers) - para trazer a grande cereja do bolo, Kevin Garnett (que não teria vindo se o time já não tivesse duas estrelas). O Big Three acabou recebendo o reforço de um jovem armador escolhido um ano antes com a escolha #21... Rajon Rondo!

Então o Celtics fez o oposto de tankar, de certa forma: ao invés de trocar sua estrela veterana por jovens e escolhas de Draft, o Celtics trocou seus jovens e escolhas de Draft (inclusive uma escolha futura que virou #5 para Minnesota... que pegou Johnny Flynn sobre Steph Curry) para duas estrelas velhas em times ruins para aproveitar os anos finais de Paul Pierce, a estrela que foi a base do time por tantos anos depois de ser escolhida bem depois do Top4. E com Rondo, esse núcleo acabou chegando a duas Finais e quatro Finais de conferência nos próximos anos.


2009 Los Angeles Lakers
2010 Los Angeles Lakers
Depois de passar boa parte do auge de Kobe na mediocridade pós-troca do Shaq, o Lakers só voltou a ser competitivo quando trouxe via troca - wait for it... - uma estrela veterana que estava presa em um time ruim e que queria reconstruir!! Usando contratos expirantes e escolhas futuras de Draft, o Lakers conseguiu roubar Pau Gasol do Memphis, e usando a estrela veterana descontente no time que a draftou e uma estrela que acharam no #13 do Draft, ganharam dois títulos seguidos.


2011 Dallas Mavericks 
Outro time bastante único aqui, sem uma segunda estrela acompanhando Dirk Nowitzki. A verdade é que, depois de conseguir sua superestrela em 1998 (trocando Robert Traylor por Dirk, a escolha #9) para se juntar a um bom time (Michael Finley, Cedric Ceballos, Steve Nash, Shawn Bradley), o Mavs passou quase 14 anos montando times competitivos sem chegar ao topo, um lembrete de como é difícil chegar a um título de NBA mesmo com um bom time (embora, para ser justo, Dirk e o Mavs teriam vencido em 2006 não fosse a arbitragem).

O Mavericks eventualmente chegou ao seu título em 2011, atrás de um esforço monstruoso de Dirk nos playoffs (28-8, 48 FG%, 46% de três pontos, 94 FT%) e um time com vários outros bons jogadores que não eram necessariamente estrelas: Tyson Chandler ancorando a defesa, Jason Terry trazendo poder de fogo do banco, Shawn Marion com defesa e velocidade, Jason Kidd rodando bem a bola, etc. Um bom exemplo de time bom que pegou uma superestrela sem precisar do topo do Draft e passou anos trocando essas boas peças ao redor dela até achar a situação certa para ganhar um título.


2012 Miami Heat
2013 Miami Heat
Eles ainda tinham aquela estrela que pegaram fora do Top4 como uma peça central, mas agora foram ajudados pelo fato de terem trazido outros dois free agents razoavelmente importantes. Primeiro, uma estrela 6-vezes All Star que saiu do time que o draftou por nada depois de passar anos sem ganhar nada por lá, e depois, o melhor jogador da NBA que saiu do time que o draftou por nada depois de passar anos sem ganhar nada por lá. Bosh e LeBron, claro, aparecem nessa lista, e Cavs e Raptors não ganham nada desde... oh, nenhum nunca ganhou nada.

Então em parte, vale a pena destacar Wade, a peça central do time por 8 longos anos que foi draftado fora do  Top4, mas o que realmente decidiu esses títulos foram os dois free agents.


2014 San Antonio Spurs
De novo, Duncan sendo a âncora e o pilar (dentro e fora de quadra) da franquia, e Parker e Manu conduzindo o ataque e fechando o Big Three, dessa vez com um esquema ofensivo ultra-inteligente, rápido e eficiente, cortesia como sempre de Pop. Mas dessa vez, a peça crucial que estava faltando era Kawhi Leonard, a jóia que o Spurs achou... na 15th escolha do Draft (que adquiriu trocando George Hill). Vale citar também o papel de Danny Green (free agent não draftado) e Tiago Splitter (#28 do Draft) em transformar o Spurs de volta em um candidato ao título. A base estava montada, mas precisou se reforçar para voltar ao topo, e fez isso sem precisar de uma escolha Top4 de Draft.



Em resumo, é difícil achar um padrão claro pelo qual ser campeão através desses ultimos 16 anos. Mas ainda da para tirar algumas lições interessantes. Depois que o Spurs foi campeão em 1999 nas costas de duas ex-1st picks frutos de tanking, tivemos os seguintes campeões: um time com um free agent e uma estrela escolhida #13 liderando; três times do Spurs que remontaram em torno de Duncan usando uma escolha #28 e uma #57, e que depois precisou de uma #15 para ganhar um título 6 anos depois; um Heat que usou uma estrela de outro time junto a uma estrela própria pega fora do Top4 (só possível por já ter bons jogadores antes da escolha); Celtics e Mavs pegaram suas estrelas #9 e #10 no mesmo Draft e eventualmente conseguiram montar o time ideal ao seu redor trocando por jogadores estabelecidos de outros times; Heat foi bicampeão atrás de uma free agency histórica e bizarra; Lakers ganhou mais dois nas costas de uma estrela escolhida #13 do Draft e de uma troca por uma estrela de outro time que quis reconstruir; e uma exceção histórica (2004 Pistons) sem uma estrela sequer.

Não é exatamente um grupo homogêneo, mas eu não vi nenhuma escolha Top4 ai tirando Duncan. E mesmo com Duncan o Spurs atingiu um ponto complicado depois da decadência de David Robinson que precisou se reforçar com dois achados incríveis no final do Draft.

E eis um tema comum em várias dessas histórias: um time sólido, mas um pouco abaixo dos principais candidatos ao título que se reinventa com uma escolha e sobe um degrau graças a uma escolha de Draft não de topo. Kawhi Leonard (#15), Kobe Bryant (#13), Parker (#28) e Manu (#57), Prince (#23) e até mesmo Rajon Rondo (#21, embora Rondo tenha explodido DEPOIS do título). Você também tem casos de um time que já tinha uma estrela trocando por uma segunda usando ativos acumulados de outros tempos: Pau Gasol, Shaq, Allen/Garnett, Rasheed, e até mesmo Chandler (embora ele não fosse uma estrela, ele foi a peça final do título do Mavs). Todos eles a partir de sólidos times com alguma base, e nenhum deles precisou de um Top4 pick tirando Duncan.

(Até OKC, que é a exceção aos times que tankaram recentemente e emergiram disso como contenders, precisou achar uma peça fundamental em Ibaka, escolha #22 do Draft)

Claro, todos ainda precisam de uma estrela, de um Alpha Dog. Mas tirando Duncan, esses jogadores vieram via Free Agency (LeBron, Shaq) ou escolhas de Draft não de topo, em geral com alguma base interior em cima da qual construir ou usar para futuras trocas (Wade #5, Dirk #9, Pierce #10, Kobe #13).

Sei que é um ponto um tanto quanto arbitrário, mas o que a história recente da NBA nos mostra é que, em termos de sucesso sustentável e de médio prazo (e, tipo, títulos) é muito melhor você ser aquele time acima da média que junta vários ativos enquanto tenta achar uma estrela no meio do Draft ou uma troca para dar o próximo, ou mesmo um time com uma boa base tentando achar uma estrela fora do Top4 do Draft e que quando a conseguir, vai ter algo em cima do que construir, do que ser um time que destrói todo seu elenco tentando ser o pior possível para conseguir uma estrela no topo do Draft e que, quando conseguir, não vai ser capaz de fazer nada com ela e acabará voltando ao limbo.

A questão, claro, é que você ainda precisa ter pelo menos uma estrela para conseguir tudo isso, e que é mais fácil conseguir uma no topo do Draft. Mas o que essa enrolação toda está nos mostrando é que, DEPOIS que você consegue uma estrela, você tem muito mais chances de ter sucesso se ela vier no meio do Draft (ou mesmo no topo, mas por fruto de pura sorte na loteria), por uma troca esperta ou mesmo um free agent descontente para um time que já tem alguma base em cima da qual se manter do que se vier para um time que se destruiu atrás desse jogador.

Não acredita ainda? Então vamos ver rapidamente como cada time candidato ao título de conferência esse ano se montou?

Cleveland sofreu por anos a fio com escolhas altas de Draft antes de ser salvo pelo puro acaso de jogar no estado natal do melhor jogador do mundo; Toronto é um time sem estrelas que vive de seu entrosamento e profundidade, e que achou DeRozan e Ross #9 e #10 do Draft, Lowry foi #24 e veio por uma troca (1st round futura, eventualmente Steven Adams), Amir Johnson foi #58 e veio de graça (80% do time titular), e que começou a ganhar depois que o time TENTOU tankar depois dos fracassos com montando times com as ex-escolhas #1 Bosh e Bargnani; Chicago foi o raro time bom e de meio de tabela que esbarrou em uma #1 por pura sorte (Rose), e que se manteve sólido com ótimo aproveitamento nas escolhas de Draft medianas (Noah #9, Butler #30, Mirotic #23); Mavericks e Spurs foi pelos mesmos motivos já expostos em títulos anteriores; Memphis tem como ponto forte um free agent com má fama (Z-Bo) e uma escolha de segunda rodada (Gasol) mesmo depois de errar grosseiramente na escolha #2 que foi Hasheem Thabeet; o Rockets se manteve no meio da tabela acumulando ativos até abrir uma brecha para trocar por uma estrela (Harden), e usou a sua presença e atratividade para trazer uma segunda na free agency (Dwight); e Portland tem como pilar uma ex-escolha #2 (Aldridge) mas que só foi voltar a ser grande porque acertou em cheio em uma série de escolhas fora do Top5 (Lillard - que foi via troca inclusive - e Batum), free agents (Matthews, Kaman), e trocas (Robin Lopez, Lillard de novo). O Clippers possivelmente é a única exceção - que tem Blake Griffin como seu segundo melhor jogador, uma ex-escolha #1 (por um time que já tinha vários jogadores interessantes, mas enfim), mas que só chegou aos playoffs quando trocou por uma estrela estabelecida em Chris Paul para fazer uma dupla.

Claro, o melhor exemplo seria um time que era do final da loteria com algum talento no seu plantel. Esse time eventualmente achou um franchise player em uma escolha menos valorizada, como a #7, trocou esse talento já no seu plantel por um All-Star já estabelecido de outro time, gastou muito bem suas escolhas intermediárias de Draft para trazer vários talentos, e eventualmente complementou esse bom núcleo com veteranos e free agents pontuais rumo a se tornar um forte candidato ao título. Mas espera... esse time existe! É o Golden State Warriors de 2014/15, que achou Stephen Curry no #7, trocou Monta Ellis por Andrew Bogut, acertou com escolhas # #11 (Thompson) e de segunda rodada (Draymond Green), e eventualmente completou esse time com bons veteranos rumo a 15-2 e o melhor saldo de pontos da NBA inteira!

Então para finalizar (ufa!), peço que olhem para tudo isso que vimos - a falta de sucesso das escolhas Top4 recentes (e mais importante, de seus times), o enorme número de busts, a forma como campeões se montaram com escolhas intermediárias, trocas e free agency, a importância de acertar suas escolhas medianas e de contar não só com o Draft mas também com um planejamento all-around. Veja o quão difícil é achar um Franchise-changing player pelo Draft, e mesmo a dificuldade dos times ruins de conseguir algo com esses jogadores, e compare com a importância e o resultado dos times que mantiveram sua folha salarial limpa, apostaram em jogadores jovens e conseguiram trocas por valores subestimados, fizeram trocas inteligentes e acertaram suas escolhas de Draft intermediárias. E agora me responda: ainda acha que tankar é o melhor jeito de atingir sucesso na NBA?

Eu duvido.