Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Introdução - Top 100 Prospectos do Beisebol 2016

A trajetória profissional dos jogadores na Major League Baseball, desde o draft até o momento no qual eles enfim chegam a jogar nas ligas maiores, é algo que a diferencia das outras duas principais ligas americanas, a NBA e a NFL. Nessas duas, o jogador que é selecionado no draft vai direto para o time principal e já é parte do elenco, sendo usados em jogos e tudo mais. Na NBA alguns jogadores até passam algum tempo na D-League, mas é a exceção e não a regra. O comum é o jogador que já chega da faculdade, é incorporado ao elenco e passa a contribuir desde esse momento.

Na MLB, não funciona assim. Eles possuem o que é chamado de "ligas menores", uma espécie de categorias de base de cada time, mas onde os jogadores não são separados por idade mas sim por produtividade e pelo quanto estão prontos. Quando um atleta é selecionado no draft - seja direto do colegial, ou nos últimos dois anos de faculdade - ele vai para os níveis mais baixos das ligas menores para se aclimatar ao jogo profissional e se desenvolver. Então passa alguns anos nessas ligas menores se desenvolvendo, aperfeiçoando e refinando seu jogo, subindo de nível (ou não) conforme se desenvolve e vai ficando pronto para enfrentar adversários melhores. Até que enfim o time acha que ele está pronto para contribuir nas ligas maiores, e esse jogador pode subir para o time principal, na MLB. E é só ai, depois de um longo processo de desenvolvimento, que ele tem a chance de estrear e começar sua carreira profissional de fato.

Deixando de lado o que isso representa para os times, os jogadores e a MLB em si, para os torcedores isso gera um certo "problema": é muito mais difícil saber no beisebol quais são os jogadores que ainda não estão nas ligas maiores mas que logo causarão impacto por lá. Na NBA ou na NFL, eu sei perfeitamente quais são as jovens promessas do jogo (pois elas já estão lá) e quais as próximas (é só olhar o draft). Mas não no beisebol, em que essas promessas estão em ligas menores que pouca gente assiste, não tem transmissão na TV e raramente por links piratas, é mais difícil achar estatísticas ou histórias, e que pouca gente se interessa de modo geral. Então é mais difícil para os torcedores saberem o que esperar do futuro, quais são os próximos grandes craques da liga, como seu time está produzindo jovens talentos, e se um certo time pode esperar coisas boas no futuro próximo.

Para resolver essa questão, uma prática comum nos EUA são os "Top 100 Prospectos", listas especializadas que ranqueiam os 100 melhores prospectos ou promessas das ligas menores, como tentativa de informar aos torcedores tudo isso que eles desconhecem. No entanto, essas listas são poucas, muitas vezes precisando de algum tipo de assinatura ou comprar algum tipo de pacote, e nenhuma delas é em português. Então, lá atrás em 2014, decidimos fazer a mesma coisa, criar um Top 100 Prospectos nosso, com nossos próprios conhecimentos e experiência, e trazê-lo a vocês em português: passamos um bom tempo analisando tudo que podíamos sobre os prospectos das ligas menores, assistindo vídeos, compilando estatísticas, lendo relatos e análises especializadas, e tirando nossas próprias conclusões sobre esses jogadores, para então montarmos a nossa própria lista com os 100 melhores prospectos do beisebol no momento. É uma forma de tornar mais acessível e compreensível para o público brasileiro em geral a informação sobre esses jogadores, tão pouco conhecidos e que podem ter um impacto muito grande em um futuro próximo.

O que vocês estão prestes a ler é a forma como nós - Vitor Camargo, do Two-Minute Warning, e Vinicius Veiga, do Spinball Net - decidimos montar essa lista dos "100 Melhores Prospectos" do beisebol, com base em todo tipo de videos, estatísticas e opiniões educadas. Antes de passarmos para os finalmentes e para a lista em si, queria só esclarecer três tópicos: primeiro, explicar exatamente como funciona a lista, quais foram os critérios utilizados e o que isso significa; depois, explicar a forma como estamos apresentando isso, em forma de cartões, e o que significa cada parte do cartão; e por fim, um rápido glossário para quem não conhece ou não está acostumado com os termos e abreviações usados.

Espero que aproveitem.

Sobre a lista

Para compor essa lista, e julgar quais prospectos eram os melhores (e portanto foram classificados melhores) e quais acabaram sendo deixados de fora, usamos principalmente quatro critérios:

a) Potencial - Esse é talvez o mais importante. O que importa para qualquer time não é o que esses jogadores são hoje, quando ainda não estão contribuindo nas ligas maiores. O que importa é o que esses atletas serão quando atingirem esse estágio, e ainda mais, o quão bom eles podem ser depois que chegarem na MLB. Se um jogador tem, por algum motivo, chances realistas de ser um candidato a MVP em algum ponto no seu futuro, pode ter certeza que isso vai ser ótimo para seu valor.

b) Realização - Em outras palavras, o quanto do jogo desse jogador é uma certeza já realizada? Potencial é ótimo, mas o quanto desse potencial vai ser realizado de um jogador é uma incógnita. Quanto mais longe no seu desenvolvimento estiver e quanto mais perto de atingir um nível aceitável esse jogador vai estar, maior será o que já sabemos sobre ele, mais perto de contribuir na MLB estará, e menor vai ser a incerteza em torno do seu futuro. Isso é importante.

c) Risco - Isso está um pouco contido em "realização", mas pode assumir diferentes formas. Um jogador com grande potencial, mas ainda muito cru e longe de atingi-lo, oferece um risco considerável para a organização pois se seu desenvolvimento não ocorrer como esperado, ele não vai ter muito valor para oferecer nesse "pior cenário". Da mesma forma, um jogador avançado e muito próximo das grandes ligas oferece um risco muito menor de fracasso. Risco também pode aparecer sobre outras formas: risco de lesões (para jogadores que tem dificuldade em ficar saudáveis ou que estão vindo de uma contusão séria recente e ainda apresentam dúvidas sobre sua recuperação), risco de personalidade que possa atrapalhar uma carreira, risco por causa de um conjunto de habilidades que costuma ter menores chances de funcionar no longo prazo, e tudo mais. 

d) Posição - É um simples fato, mas algumas posições são mais valiosas que a outra, seja pelo seu papel defensivo maior, seja pela sua relativa escassez nas ligas maiores. Isso é importante na hora de determinar o valor desses jogadores.

Fizemos também o possível para eliminar fatores de contexto: não importa se um jogador está sendo "travado" na sua organização porque um jogador melhor ocupa a mesma posição nas ligas maiores, o que importa aqui é o valor do jogador para o mercado como um todo, não apenas para seu time.

Claro, é sempre difícil conciliar esses quatro tópicos na hora de avaliar. Naturalmente, entre dois jogadores com mesmo potencial, mas um mais avançado em seu desenvolvimento, ele será mais valioso como prospecto. O mesmo acontece se dois jogadores estão no mesmo nível mas um tem potencial muito superior. E se um for uma realidade maior, mas outro tem mais potencial? E se jogam em posições muito diferentes, ou um está voltando de lesão? Ai que entra o problema, e por isso é tão difícil montar essa lista. Chegamos no que consideramos ser o melhor resultado possível, porém, sempre vai haver alguma discordância ou pessoas que valorizam de forma diferente outros critérios.

Muitos jogadores dessa lista vão decepcionar e acabar abaixo do que falamos sobre eles, outros irão superar em muito seu status, e outros que nem estão nessa lista acabarão fazendo sucesso. Avaliar prospectos é uma das coisas mais difíceis dos esportes, e portanto vamos acertar alguns jogadores dessa lista e errar outros. Até por isso é importante não obcecar demais com a colocação precisa de cada um - obviamente consideramos os prospectos 1-10 muitos melhores que os de 40-50, mas só porque um é 54 e outro 56 não quer dizer que exista muita diferença entre eles. É tudo uma questão de ponto de vista.

Apresentação

Os prospectos estão organizados em formatos de cartas, que trará algumas informações sobre os jogadores para melhor situar os leitores sobre quem eles são, aonde estão na escala das ligas menores, e quais foram suas performances recentes. Esse é o modelo da carta que vai ser utilizado:




O modelo da carta desse ano é uma referência aos lendários baseball cards, os cartões de beisebol tão populares nos Estados Unidos desde o começo do século passado. Para quem não conhece, as cartas projetadas pela Topps são colecionadas quase como ações da bolsa de valores, ganhando ou perdendo valor de mercado com o tempo dependendo da sua raridade, da carreira do jogador em questão, e da qualidade da carta. Elas estão em circulação desde 1900, e as vezes são consideradas quase como uma representação da história do esporte, algo profundamente importante para um jogo que se liga tanto em tradição. Essas cartas - especialmente as dos craques do começo do século 20, como Honus Wagner e Ty Cobb - chegam a valer centenas de milhares de dólares e, em alguns casos, até a ultrapassar a barreira dos milhões. Um bom exemplo é esse card histórico do grande Jackie Robinson. Então como referência à história do esporte e desse fenômeno tão interessante decidimos homenagear esses cards com os cartões dessa edição do Top100.

Mas vamos aos cartões propriamente ditos. No superior da carta, mais à esquerda, você tem as informações principais sobre o prospecto: seu nome e a posição (ou posições) que ele joga ou projeta jogar ao longo de sua carreira, logo depois da sua posição nessa lista. Logo abaixo, você encontra algumas informações sobre seu desenvolvimento: sua idade, qual o seu braço dominante quando está lançando ou arremessando, qual a organização a qual pertence e, entre parênteses, qual foi a liga mais alta por onde atuou em 2015 (mesmo que por pouco tempo), para dar uma noção do quão perto das grandes ligas esse jogador está.

Abaixo dessas informações temos a grande novidade dos cartões desse ano: um total de estrelas para cada jogador, para mostrar quão bom ele é em dois quesitos específicos. Voltaremos a falar delas daqui a pouco.

No lado esquerdo da carta, assim como nos lendários cards da Topps, você encontra a foto do jogador em questão. E em um pequeno quadrado no canto direito da imagem tem um resumo com as estatísticas do jogador no último ano que atuou. Nessa linha, as estatísticas cumulativas (home runs e bases roubadas para rebatedores, entradas arremessadas, strikeouts e walks para arremessadores) valem para todo o ano inteiro, somando diferentes níveis por onde o jogador passou. Já as estatísticas relativas são aproveitamento no bastão (AVG), porcentagem em base (OBP), e slugging (SLG) para rebatedores, e ERA e FIP para arremessadores (ver glossário abaixo). Para essas não usamos as do ano todo, e sim as relativas ao nível no qual o jogador passou mais tempo significativo na temporada. Isso também está indicado entre parênteses logo depois do ano. Não necessariamente vai ser o mesmo nível mais alto que ele chegou, indicado no centro da carta, pois depende de qual ele passou mais tempo significativo.

No lado direito, na parte de cima, homenageamos Oscar Taveras com as suas iniciais e o número. Uma forma de manter viva a memória da grande promessa dos Cardinals que faleceu em 2014, quando era um dos principais nomes da nossa lista de prospectos.

Por fim, temos do lado direito do card uma breve descrição do jogador para situar os leitores, contando um pouco mais sobre suas habilidades, projeções e tudo mais. E ao final da carta, no canto inferior da imagem (lado esquerdo) uma comparação com um jogador da MLB. 

Sobre a comparação, o "estilo de jogo" do final, queria esclarecer exatamente o que isso significa. Ela nada mais é do que uma tentativa de achar um jogador recente (o ano de corte foi 2000, dando preferência para jogadores atuais) que tenha um estilo semelhante de jogo, seja por possuir o mesmo conjunto de habilidades, as mesmas forças ou fraquezas, ou mesmo uma trajetória semelhante na sua carreira. A comparação não significa NADA em termos de habilidade ou potencial, e nem foi pensada como tal. Só porque um prospecto foi comparado a um certo jogador não quer dizer que tenha o mesmo talento, que vai ser tão bom quanto ele, ou então que não possa ser melhor. Da mesma forma, só porque um prospecto foi comparado a um jogador melhor que outro não quer dizer que esse prospecto seja melhor ou pior. A comparação não foi pensada para ser assim, e portanto é inútil obcecar demais com ela. É só um "guia", mais nada.

Antes de acabar, vamos apenas retomar a questão das estrelas. Como vocês podem ver, elas foram atribuídas para dois quesitos diferentes: "Atual" e "Potencial". Elas indicam exatamente o que parecem: o quão bom o jogador é nesse determinado quesito. No quesito "Potencial", avaliamos o quão bom esse jogador seria no seu melhor cenário possível para o futuro, o quão bom ele pode ser com seu conjunto de habilidades se conseguir atingir seu máximo. E o quesito "Atual" diz o quão próximo de realizar suas habilidades ele está, quão "pronto" para utilizá-las para produzir em alto nível. É importante frisar que isso não quer dizer que o jogador esteja perto do seu potencial, ou perto de estar "pronto" - nenhum jogador de 21, 22 anos está. Isso também não quer dizer o quão bom o jogador é hoje. Só quer dizer que, para o conjunto de habilidades que aquele jogador possui, ele está mais ou menos próximo de desenvolver essas habilidades a ponto de poder produzir no curto prazo.

Também é importante frisar que essas notas não querem dizer nada em absoluto - elas são totalmente comparativas. Não é que um cara com potencial 5 estrelas tenha potencial de MVP, um 4 estrelas de All-Star, etc. Elas foram feitas por comparação: nós pegamos aquele jogador da lista que considerávamos o "cinco estrelas" de cada quesito, e a partir dele fizemos uma comparação com os demais jogadores da lista para saber onde eles se encontram em relação ao benchmark. Assim, ter uma nota baixa (digamos, um 2 em potencial) não quer dizer que o jogador não tenha nenhum potencial, ou não possa evoluir mais - só quer dizer que esse potencial é comparativamente menor em relação ao resto dos jogadores da lista.

Por fim, vale lembrar que esses dois NÃO são os únicos quesitos pelo qual julgamos jogador. Não é só porque um jogador tem mais estrelas que outro que ele será um prospecto melhor, e você vai achar jogadores acima de outros com "ratings" melhores. É porque tem muitos outros fatores em avaliação - valor da posição, fatores de risco, lesões, estilo de jogo, evolução ao longo do tempo, etc - que influenciam em onde acabamos colocando esses jogadores. As estrelas são só para evidenciar melhor dois dos componentes dessa avaliação. Vai ser comum, por exemplo, ao chegar na segunda metade da lista achar jogadores com mais estrelas do que os da primeira metade. Mas eles não estão mais alto por causa de fatores de risco, problemas de lesão, baixa amostra para serem julgados entre os profissionais, e outros fatores que fazem com que eles caiam. Como de costume, usem essa informação mais como um guia, como um auxílio, do que como a verdade absoluta.

Glossário

Esse glossário é para explicar os ternos e siglas usados nessa coluna. Se você já sabe, pode ir direto para a próxima seção e descobrir quais são os 100 melhores prospectos da MLB. As abreviações e termos usados são:

AVG - Aproveitamento no bastão. Conta quantas as idas de um jogador ao bastão renderam rebatidas.
OBP - Porcentagem em base. Mostra qual a porcentagem de idas ao bastão que o jogador chegou salvo em base.
SLG - Slugging. É uma medida de força, quantas bases totais um jogador consegue por ida ao bastão.
SB - Bases roubadas
HR - Home Runs
ERA - Número de corridas que um arremessador cede a cada 9 entradas de jogo
FIP - Estatística que mostra o ERA "real" de um jogador considerando apenas o que ele pode controlar (saiba mais sobre o assunto aqui)
IP - Número de entradas arremessadas por um pitcher
SO - Strikeouts. Número total de rebatedores que um arremessador elimina por strikes
BB - Walks. Rebatedores que um arremessador coloca em base errando os arremessos

Sobre posições
C - Catcher
1B - Primeira base
2B - Segunda base
3B - Terceira base
SS - Shortstop
OF - Jogador do campo externo
LF - Joga no lado esquerdo do campo externo
RF - Joga no lado direito do campo externo
CF - Joga na parte central do campo externo
Pitcher - Arremessador
RHP - Arremessador destro
LHP - Arremessador canhoto
Bullpen - Arremessador que não é titular, que vem do banco durante os jogos

Sobre as ligas menores, do nível mais baixo ao mais alto
R - Rookie
A- - Low-A/Short-season A
A - Mid-A
A+ - High-A
AA - Double-A
AAA - Triple-A
MLB - Major League Baseball, as ligas maiores


Acho que é isso de enrolação. Vocês estão prontos para ir para a lista de fato, e enfim conhecer os 100 melhores prospectos do beisebol.

quinta-feira, 24 de março de 2016

O herói que eu nunca vi



Quando eu era criança e minha paixão por futebol estava no seu auge - sabe, aquela idade em que futebol era a coisa mais importante do mundo - eu era apaixonado por Copas do Mundo. E nessa época tinha uma pergunta que sempre me fascinava mais que todas as outras: Como foi que a Holanda de 74 (bem como a Hungria de 54) não ganhou uma Copa do Mundo?

Claro, como toda criança brasileira que gosta de futebol, eu adorava ouvir as histórias sobre Pelé, ver os dribles de Garrincha, e admirar a genialidade de Vavá, Didi, Jairzinho, Rivelino, Gerson, Tostão, Amarildo e tantos outros grandes. Na minha coleção de fitas de Copas do Mundo - e, futuramente, DVDs - os de 58 e 70 (e depois 2002) eram de longe os mais assistidos. 

Mas essa era a parte divertida. Toda criança gosta de vencer, e o Brasil era o melhor do mundo. Tinha mais títulos, as melhores seleções, e os melhores jogadores. Torcer para o Brasil era a diversão. Mas a Holanda era quem me fazia pensar, refletir e tentar entender como algo tão descabido poderia ter acontecido. 

Com o tempo, Cruyff se tornou o meu herói trágico do futebol, o craque que nunca venceu a Copa que deveria. Ele era meu jogador favorito em todas as "Seleções de Todos os Tempos" que eu criei entre mais de 10 FIFAs, Winning Elevens e International Superstar Soccers ao longo da vida. Minha primeira camisa de um time de futebol - na quinta série, time de futsal - foi número 14 em referência ao holandês, um número que usei muitas outras vezes. 

Então talvez eu nunca tenha tido nenhum tipo de contato com Johan Cruyff, mas indiretamente ele foi responsável por uma parte do meu amor e fascínio por futebol - e, por extensão, esportes em geral. E saber que Cruyff faleceu hoje foi como perder uma parte dessa minha história com o esporte, que como todo mundo sabe é uma parte extremamente importante da minha existência. Uma parte da minha vida. Eu me senti realmente triste. 

Então hoje o herói que eu nunca vi jogar ao vivo se foi. E uma parte da minha história no futebol com ele. Mas ao mesmo tempo, eu estou tranquilo. Por que eu sei que Johan Cruyff será alguém que continuará vivo mesmo muito depois de todos nós termos partido desse mundo. 

Não sabe como isso é possível? Tudo bem. Também tem coisas que eu não entendo.

Por exemplo, como foi que a Alemanha venceu a Holanda na Copa de 74.

Um dia, quando encontrar com Cruyff em outro lugar, eu pergunto para ele.

sexta-feira, 4 de março de 2016

O grande problema do Oklahoma City Thunder

OKC tem um problema sério, e nenhuma solução à vista



Na noite de quarta feira, no jogo mais esperado do dia, OKC tinha uma vantagem de 22 pontos sobre o Los Angeles Clippers no final do terceiro quarto. Com uma revanche contra Golden State no dia seguinte, parecia o cenário perfeito para o Thunder: uma boa vitória sobre um grande time para dar confiança, e um cenário no qual você poderia descansar alguns titulares no quarto período para se preparar para o confronto do dia seguinte.

Ao invés disso, tudo desandou: OKC manteve os titulares, os arremessos pararam de cair, e OKC perdeu a calma e implodiu em meio a uma sequência de más decisões, turnovers estúpidos, arremessos ruins e falhas defensivas. Nos últimos 7 minutos e meio, Thunder anotou 5 pontos, Westbrook foi 0-6 de quadra, e viu o Clippers destruir uma vantagem de 17 pontos rumo a uma vitória que deixou o terceiro colocado do Oeste cada vez mais próximo de um confronto com o Warriors na segunda rodada dos playoffs.

Infelizmente para OKC esse cenário não é uma novidade: os quartos períodos tem sido um problema real para o time. O time está 2-6 desde a volta do All Star Game, e em quatro dessas seis derrotas o time chegou a ter a vantagem no quarto período antes de tomar a virada. Aconteceu contra o Pacers logo na volta do "feriado", depois duas viradas épicas de Warriors e Clippers, e por fim a surra de ontem a noite do Warriors em Oakland. O Thunder agora soma incríveis 10 derrotas em jogos que entrou vencendo no quarto período, pior marca da NBA, na frente até mesmo do fraquíssimo Sixers

Isso também não é um fenômeno recente ou surpreendente. Ao longo da temporada, Oklahoma City tem o segundo melhor ataque da NBA e terceiro melhor Net Rating (saldo de pontos por 100 posses de bola), mas quando chegamos nos finais dos jogos isso cai por terra. Em quartos períodos, Oklahoma tem apenas o décimo melhor ataque, e é um fraquíssimo 19th em Net Rating. Pegando apenas o final dos jogos - o famoso crunch time - e definindo nosso parâmetro como 3 minutos finais de jogos separados por 5 pontos (para mais ou para menos), os números são ainda piores: O Thunder tem o 13th melhor ataque e o oitavo PIOR Net Rating da liga. Para efeito de comparação, o Net Rating do time nessas situações é de -10.6 - exatamente o mesmo que o Philadephia 76ers tem na temporada 2015-16 da NBA.

Dificuldade em crunch time é um problema antigo em OKC, e foi um dos fatores chaves da saída do técnico Scott Brooks. A chegada de Billy Donovan deveria corrigir essas questões, em particular a estagnação ofensiva que assola o time nessas situações de fim de jogo. Mas até agora, não funcionou. O time, que já era ruim, pareceu ter ficado ainda (relativamente) pior essa temporada. E embora isso possa ser atribuído em partes a uma amostra pequena e um período ainda de adaptação ao novo técnico, é um motivo para grande preocupação em uma temporada como essa - especialmente considerando o término do contrato de Kevin Durant ao final da temporada.

Como vocês ficarão chocados em saber, eu tenho algumas ideias sobre o que pode estar causando esse problema.

Um problema - e um dos principais - é a forma como o time reestruturou seu ataque. Embora a base seja a mesma - poucos passes, muita isolação, bola na mão das estrelas - o técnico Donovan fez uma mudança importante: Russell Westbrook agora é quem é o foco ofensivo da equipe (em termos de volume), e não mais Kevin Durant.

Para mim, era uma mudança que fazia muito sentido: Westbrook evoluiu em um excelente criador (#2 na NBA em assistências, com 10.3 por jogo), então deixar a bola nas suas mãos e deixar West operar através do pick and roll (E atacando a cesta) é a melhor forma de criar chances para o resto do elenco do Thunder, um elenco que (salvo Durant e talvez Waiters) não tem condições de criar seu próprio arremesso. Ao mesmo tempo, Durant é um jogador que comanda MUITO mais atenção do que Westbrook jogando longe da bola por conta de seu arremesso, o que força maiores movimentações do adversário e abre muito mais espaço para o resto da equipe (mais ou menos como Atlanta usa Korver e o Warriors usa Curry fora da bola, por exemplo). E no geral, parece estar funcionando: Oklahoma City tem hoje um Net Rating de 109.1 de acordo com os dados oficiais da NBA (2nd melhor da história da franquia) e de 112.8 de acordo com os dados extra-oficiais do Basketball-Reference (melhor da história da franquia), em ambos os casos #2 da NBA.

No entanto, vale questionar se essa abordagem tem contribuído para os problemas do time em crunch time. Durant é um dos melhores jogadores de crunch time da NBA, mas colocar a bola integralmente nas mãos de KD significa desviar do que o time faz normalmente e mudar toda sua forma ofensiva de jogar, o que naturalmente pode causar todo tipo de estranheza. Ao mesmo tempo, manter a bola nas mãos de Westbrook também não tem se mostrado uma grande opção: por melhor que Russ seja, ele ainda tem a tendência de as vezes jogar um pouco fora de controle e ficar um pouco tunnel vision, especialmente em crunch time, e sem um bom arremesso de longe para manter defesas honestas, adversários estão mais do que satisfeitos de fechar o caminho para o garrafão e deixar Russ se complicar sozinho. Em 130 minutos de crunch time na temporada, Russ está arremessando 38% de quadra, 13% de três pontos e tem 18 turnovers contra 26 assistências. Então ainda que de modo geral faça sentido essa nova forma de OKC atuar, é possível que tenha contribuído para aumentar as dificuldades da equipe em crunch time.

Outros problemas que tem contribuído para essa dificuldade do Thunder já são bem conhecidos. A equipe não tem um ataque dinâmico ou inteligente, o tipo de ataque que envolve espaçamento de quadra e muitos passes para achar os companheiros livres que consagrou times como Warriors ou Spurs. O que OKC tem é um sistema muito estático e de pouca criatividade que se baseia no fato de ter dois talentos ofensivos transcendentais em KD e Russ Westbrook capazes de destruírem sozinhos marcações e esquemas defensivos inteiros:  nenhum time passa menos a bola do que OKC, e nenhum termina mais posses de bola através de isolações, segundo dados da Synergy Sports. Não existe um esquema complexo, jogadas bem desenhadas e decisões de alto QI de basquete envolvidas, e sim o talento sobre-humano de duas superestrelas.

Na maior parte do tempo, isso funciona porque Russ e KD são aliens e conseguem carregar nas costas o time rumo a um ataque top5. Mas isso não tem sido verdade em crunch time. Em um momento do jogo onde as defesas ficam mais ligadas e o ritmo diminui, o ataque de OKC se torna extremamente previsível, com as defesas sabendo o que o Thunder fará e ajustando de acordo: fechando o garrafão contra Westbrook e mandando marcações duplas contra Durant, despreocupadas com movimentações ou jogadas criativas e decisões em alta velocidade que podem fazê-los pagar por essas decisões. Faça isso contra o Spurs ou o Warriors e eles irão te tirar da zona de conforto com trocentas screens, movimentações, cortes e passes destinados a liberar suas estrelas e/ou conseguir arremessos de altos aproveitamentos para os role players, e se a defesa se comprometer demais com uma opção, a versatilidade e inteligência desses times imediatamente vai aproveitar os espaços deixados para atingir seus objetivos. O Thunder não tem esses elementos em alto nível no seu ataque ou nos seus jogadores, então eles se tornam previsíveis e dependem continuamente de Russ e KD fazendo jogadas individuais, só que agora com defesas muito mais atentas e preparadas especificamente para parar essas jogadas individuais.

Claro que Donovan - assim como Brooks antes dele - tem jogadas e variações específicas para serem usadas nessas situações, mas quando é algo que o time não está acostumado a fazer normalmente é muito difícil que eles executem em situações de pressão contra defesas mais atentas e bem montadas. Muito do basquete de hoje não depende de algo desenhado e sim da capacidade dos jogadores de tomarem decisões certas em alta velocidade, e isso é algo que é impossível de fazer só em momentos específicos, depende de repetições, treino e experiência. Donovan chegou com a esperança de mudar exatamente esse aspecto do seu predecessor, mas até agora, está difícil achar grandes diferenças nesse sentido. 

Por fim, existe outro grande problema em Oklahoma City, que é o elenco de apoio ao redor de suas duas estrelas. Na verdade, são dois problemas que acabam se influenciando e tendo um único resultado, que eu inclusive já citei em mais de um Hack a Cast: OKC tem muita dificuldade de achar um time ideal para usar no final dos jogos, justamente por causa dessa limitação do elenco. Desde que trocaram James Harden (não se preocupem, não vou bater nesse cavalo morto) o time não tem outra peça confiável capaz de criar o seu arremesso de forma consistente e eficiente, para ajudar a aliviar a pressão de Russ e West em crunch time (com a possível exceção de Reggie Jackson). Harden não só oferecia mais uma opção para criar jogadas com a qual a defesa precisava se preocupar - abrindo o espaço para os companheiros - como também era uma opção para desafogar o ataque quando a ação iniciaç de Russ ou KD estagnava. Se a defesa matava a jogada inicial, Harden era uma opção capaz de manter o fluxo do ataque, atacar espaços e manter o ataque em funcionamento, sem deixar a defesa voltar a se estabelecer. Mas desde sua saída, OKC não tem nenhum jogador capaz de fazer essa função. Quem cerca o Big Three de OKC hoje são role players com pouca variação ou repertório, ninguém que a defesa precise respeitar ou seja capaz de aproveitar as ações iniciais do ataque ou mesmo de manter o ataque funcionando. 

Isso leva ao segundo problema, que é o cobertor curto de opções do time. Qual é a melhor lineup para fechar jogos para OKC? Russ, KD e Ibaka são no brainers, mas quem mais? Waiters e Kanter tem uma chance melhor de desafogar o ataque e oferecer opções de pontuação, mas Waiters é ineficiente (40 FG%) e imprevisível, e ambos são enormes problemas defensivos que o adversário pode simplesmente atacar de novo e de novo até Donovan não ter opção senão tirá-los de quadra. As outras opções são jogadores defensivos como Adams ou Robertson, que não arremessam e podem ser ignorados ofensivamente, congestionando novamente assim o ataque. Não existe uma solução para essa questão no elenco de OKC hoje. Em uma NBA que cada vez mais valoriza jogadores versáteis com nenhuma falha que possa ser explorada, o Thunder simplesmente não tem jogadores assim o suficiente para cercar KD e Westbrook de forma eficiente. Cameron Payne provavelmente seria quem mais se aproxima disso no papel, mas o calouro claramente não tem a confiança do técnico ainda para ganhar minutos significativos. E esse é o grande problema que OKC enfrenta hoje: não adianta jogar de igual para igual ou até um pouco melhor do que seus principais adversários durante 43 minutos se o time não consegue manter o ritmo nos 5 minutos finais e continua entregando grandes vantagens. E apesar de tudo que se aplica sobre amostra pequena e adaptação, existem motivos legítimos para crer que essas dificuldades não são passageiras.

Com duas estrelas do nível de KD e Westbrook, talvez isso não importe - OKC tem condição de bater de frente com qualquer um com base no talento bruto de suas estrelas, e enquanto elas estiverem saudáveis, o Thunder será um candidato ao título. Mas em uma temporada com tanta competição no topo - e dois times em níveis históricos como Golden State e San Antonio - você quer apresentar o mínimo possível de fraquezas, e nesse momento, Oklahoma City tem uma significativa que começou a mostrar sua cara na pior hora possível. Isso não acaba com as chances de título da franquia, mas se continuar assim, elas diminuem consideravelmente. 

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Hack a Cast #6 - Edição Deadline



Tem Hack a Cast novo no ar!

Dessa vez, eu e o Vinicius Veiga falamos durante 1h30 sobre a Trade Deadline: quem foi trocado, quem saiu beneficiado, quem pagou demais, os vencedores e perdedores, e muito mais.

Confiram!!


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Hack a Cast - Conferência Oeste




Tem Hack a Cast novo no ar!!

Nessa edição, eu e o Vinicius Veiga continuamos nosso especial de duas partes e falamos da Conferência Oeste.

Falamos do momento do Warriors, da mudança que não é bem uma mudança do Spurs, da "pouca" atenção recebida pelo Thunder, os demais times de playoffs, e muito mais!! Confiram!!

Tabela de assuntos:

Minuto 2 – Warriors
Minuto 11 – Spurs
Minuto 26 – Thunder
Minuto 35 – Clippers
Minuto 43 – Rockets
Minuto 53 – Mavericks
Minuto 58 – Grizzlies
1h2 – Jazz
1h7 – Kings
1h14 – Blazers
1h19 – Nuggets
1h23 – Pelicans
1h27 – Suns
1h30 – Wolves
1h41 – Lakers

A coluna sobre o Warriors citada no podcast, da Revista Timeout Brasil, pode ser encontrada aqui

(Se você veio atrás do meu Team All-Two Minute Warning da NFL, é só clicar aqui!)


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

2016 All-Two Minute Warning NFL Team

"YEEEAAHH, FIRST TEAM ALL-TWO MINUTE WARNING, BABY!"



Os leitores mais antigos provavelmente já perceberam que o ritmo de postagens por aqui - nunca um ponto forte - caiu cada vez mais ao longo do tempo. Conforme a vida avança, fica mais difícil conciliar vida profissional (e, em menor escala, social) com escrever em um blog de graça sem nenhum retorno, e como vocês sabem os textos daqui são sempre gigantes e muito técnicos (o que significa que demoram pra cacete para serem escritos). Acho que é por isso que ultimamente tenho escrito menos colunas completas (pega um assunto e faz uma coluna inteira sobre ele) e mais recorrido a gimmicks como listas, rankings e tudo mais. É mais pobre, e nunca foi minha proposta, mas infelizmente está mais de acordo com meu tempo livre hoje em dia. E acabei achando melhor recorrer a colunas assim do que ficar sem posts nunca.

Dito isso, vamos à coluna de hoje. Para quem não viu, semana passada eu publiquei meus votos para os prêmios individuais da NFL: MVP, OPOY, DPOY, OROY, DROY, etc. Ai um dos meus leitores mais antigos, Marcelo Corghi, do Araras Steel Hawks, me deu um desafio diferente: meu All-Pro Team da temporada 2015 da NFL. Challenge accepted!

Então para aproveitar o gimmick e falar mais de NFL, decidi fazer meu All-Two Minute Warning NFL Team para a temporada 2015 da NFL. Antes de começarmos, alguns esclarecimentos:

- Sim, eu odeio seu time. Não importa qual ele for. E por isso, SÓ POR ISSO, eu deixei aquele jogador que você gosta de fora. Não pelas centenas de horas que eu passei nesses últimos meses assistindo, estudando e avaliando futebol americano.

- Ofensivamente, vamos com um QB, dois RBs, um FB, três WRs, um TE, dois Tackles e dois guards (independente de lado) e um Center. Ou seja, a formação tradicional do All-Pro com um WR extra, simplesmente porque hoje todo mundo joga com 3 WRs boa parte do tempo. Se o All-Pro defensivo pode ter 12 jogadores, eu posso ter 13 jogadores no meu ataque. Formações variam demais e é isso.

- Para defesa, inventei um critério pessoal para solucionar as questões das defesas 3-4 vs 4-3: dois defensores de interior de linha (DTs em 4-3, NT/DE em 3-4s qualificam), dois linebackers "tradicionais" (qualquer ILB, mais OLBs de formação 4-3) e três jogadores de "ponta" (podem ser OLBs 3-4, DEs 4-3 ou até DEs 3-4 se jogarem assim). Sim, é confuso e subjetivo, mas depois que Kahlil Mack foi votado All-Pro em duas posições diferentes, nada é verdade e tudo é permitido.

- Para a secundária, vamos de 3 CBs e 2 safeties (sem distinção entre FS/SS) pelo mesmo motivo que temos três WRs: defesas passam muito do seu tempo hoje jogando em formações de nickel, com 5 defensive backs. Como eu disse, formações variam muito hoje e meu All-TMW Team vai computar essas variações elegendo alguns jogadores extras. Me processe. 

- Para special teams, vamos com um kicker, um punter, um kickoff returner E um punt returner. Peço perdão ao Tyler Lockett em avanço, porque ele seria o óbvio vencedor se computássemos as duas categorias juntas e ele provavelmente é o maior prejudicado aqui. 

- Estou explicando apenas minhas seleções para o 1s Team All-TMW. Para o 2nd Team só vou colocar os nomes porque pretendo acabar a coluna antes do Super Bowl.

Ok, estamos prontos. Vamos a isto.


All-Two Minute Warning 2015 NFL Team

Quarterback: Carson Palmer, Arizona Cardinals.

Eu já passei muito - MUITO - tempo falando da questão dos melhores QBs da temporada e porque Carson Palmer é meu #1 quando dissertei sobre o prêmio de MVP na coluna da semana passada. Tudo que está lá ainda vale, então se quer entender meu processo de raciocínio, é só entrar lá e ler - ficou grande demais para copiar e colar aqui. Vale a leitura. 

2nd Team: Cam Newton, Carolina Panthers


Running Backs: Doug Martin, Tampa Bay Buccaneers; Adrian Peterson, Minnesota Vikings.

Pergunta: Quem foi o melhor RB de 2015?

A resposta popular tem sido Adrian Peterson, provavelmente porque o RB de Minnesota liderou a liga em jardas terrestres no que foi um ano bastante pobre para RBs. Mas eu discordo dessa visão. Até os estágios finais dessa coluna - quando decidi deixar 2 RBs no time ao invés de um só - Doug Martin era meu 1st Team RB,  não  Peterson.

Por que? Bem, Adrian Peterson liderou a liga pelo chão na frente de Martin, 1485 a 1402, e em jardas totais, 1707 a 1673, mas isso é facilmente explicado pela maior carga de Peterson: foram 39 corridas a mais e 36 toques na bola a mais que Martin (AP liderou a liga em ambos os quesitos). Então seu total pode ter sido maior. Mas quando você começa a olhar mais a fundo, percebe que Martin foi muito mais eficiente: AP teve 4.5 jardas por corrida, a sétima primeira melhor marca da NFL entre RBs (mínimo de 110 corridas), mas Doug Martin foi segundo na liga no quesito com excelentes 4.9 jardas por corrida. E isso apesar de ter menos ajuda da sua linha: o RB de Minny teve média de 2.2 jardas por corrida ANTES do contato com a defesa, enquanto o de Tampa Bay teve apenas 1.8 e teve que brilhar quebrando tackles e acumulando jardas após o contato: foram 3.1 jardas por corrida APÓS o contato, segunda melhor marca da liga depois de Le'Veon Bell (que teve menos de metade das corridas do Pocket Hamster), enquanto Peterson teve 2.3. Então apesar de Peterson ter mais jardas, Martin foi mais dominante como corredor essa temporada.

E isso sem contar as outras áreas do jogo, cada vez mais importantes para RBs na NFL moderna - bloquear e participar do jogo aéreo. Martin não se destacou em nenhuma das duas esse ano, mas Peterson é um ponto fraco nas duas a esse ponto da carreira, só que por ser Adrian Peterson o Vikings acaba deixando-o em quadra mais o que deveria nessas áreas. Existe um motivo para Peterson ter ficado no banco no final de Vikings vs Seattle nos playoffs, quando Minny teve que recorrer ao jogo aéreo. Você pode argumentar que os números de Peterson são mais difíceis por enfrentar defesas mais voltadas para pará-lo, mas considerando todos os aspectos, Martin foi meu melhor RB de 2015.

2nd Team: Todd Gurley, Saint Louis Rams; Devonta Freeman, Atlanta Falcons.


Fullback: Patrick DiMarco, Atlanta Falcons

Mike Tolbert ganhou esse prêmio simplesmente porque ele é o FB que mais corre na NFL, totalizando 256 jardas no ano e porque a principal função de um FB na NFL - bloquear - é muito mais difícil de se avaliar. Tolbert pode ter corrido mais que qualquer outro FB no ano, mas foi para pouco expressivas 4.1 jardas por corrida mesmo jogando com Cam Newton, enquanto continuou tendo dificuldades para bloquear - sabe, o mais importante para sua posição. Correr e receber passes são ótimos aditivos para um FB, mas se você não é capaz de bloquear direito, você é basicamente um RB pouco utilizado e com médias pouco expressivas. Tolbert obviamente é um jogador útil, mas olhando alémdas estatísticas de box score, ele não é o melhor FB de 2015.

Enquanto isso, DiMarco teve um ano incrível bloqueando para Devonta Freeman, especialmente no começo do ano. Lembra aquele momento da temporada que Freeman parecia o MVP do Fantasy de 2015, anotando TDs toda semana? Volte a fita e preste atenção no trabalho de DiMarco para que isso acontecesse, e você vai entender o motivo dele estar aqui. Avaliar FBs é muito difícil, mas entre todos DiMarco foi de longe quem mais se destacou para mim.

2nd Team: Marcel Reece, Oakland Raiders.


Wide Receivers: Antonio Brown, Pittsburgh Steelers; Julio Jones, Atlanta Falcons; DeAndre Hopkins, Houston Texans.

Eu falei muito a respeito da batalha entre esses três WRs na minha coluna dos prêmios da temporada na parte de Offensive Player of the Year. 

Eis o que eu escrevi sobre as temporadas de Antonio Brown e Julio Jones na mesma coluna:

"É absurdamente difícil decidir entre os dois porque ambas temporadas foram muito parecidas. Todos os números pós 2004 de jardas aéreas ou recebidas precisam ser levadas com toneladas de grãos de sal quando comparados historicamente, pois houve uma mudança absurda das regras contra defesas e a favor do jogo aéreo que simplesmente inflou as estatísticas além do bom senso. Mas considere o seguinte: Julio Jones e Antonio Brown terminaram ambos a temporada com 136 recepções, com Jones vencendo a disputa nas jardas aéreas, 1871 a 1841. Isso significa que ambos estão empatados com a segunda melhor marca de recepções em uma temporada da HISTÓRIA da NFL (Marvin Harrison em 2002, 143), e são segundo (Jones) e quarto (Brown) em jardas recebidas em uma temporada da história da liga. Isso é muito impressionante."

Quanto a Hopkins, eu não vou repetir aqui (é só ler na coluna linkada acima), mas eu fiz também um argumento de que, considerando os QBs que jogaram com Hopkins e sua brutal diferença de qualidade para os QBs de Falcons e Steelers (mesmo considerando os jogos perdidos por Big Ben), a temporada de Hopkins talvez tenha sido ainda superior às de seus companheiros de profissão, e seus números ajustando por essa diferença em qualidade seriam ainda melhores. É um argumento hipotético, claro, mas no fundo o ponto fica: DeAndre Hopkins é muito bom. Foram inquestionavelmente os três melhores WRs de 2015.

2nd Team: Allen Robinson, Jacksonville Jaguars; Odell Beckham Jr, New York Giants; Larry Fitzgerald, Arizona Cardinals.


Tight End: Rob Gronkowski, New England Patriots.

Pois é, esse lugar é cativo do Gronk enquanto ele estiver saudável. Mesmo com algumas lesões e um ano menos chamativo que o normal, Gronk ainda termina a temporada com 72 recepções, 1176 jardas e 11 TDs, além de ser um dos melhores bloqueadores (se não O melhor bloqueador) entre TEs da NFL. Além disso, nenhum jogador ofensivo não-QB influencia tanto o jogo taticamente e força mais ajustes defensivos do que Gronkowski, e nenhum ataque depende mais de um jogador do que o de New England depende de Gronk. Então isso tem que ser levado em consideração.

Se esse ano eu achei que Gronk teve competição forte pelo prêmio, foi mais por causa da grande atuação de outros TEs essa temporada. Tyler Eifert (13 TDs) e Greg Olsen (1104 jardas e 7 TDs) tiveram temporadas muito chamativas para grandes times, mas ainda melhor foi a temporada extremamente underrated de Delanie Walker, que postou uma linha de 94-1088-6 (#1 em recepções e #3 em jardas entre TEs) apesar de jogar com QBs muito inferiores aos demais TEs da lista, além de ser um dos melhores bloqueadores da NFL e consideravelmente superior no quesito que todos os TEs citados exceto Gronk. No final, a dominação de Gronk fizeram valer novamente o lugar, mas a fantástica temporada de Walker merecia ser celebrada e deu um adversário digno para o camisa 87.

2nd Team: Delanie Walker, Tennessee Titans.


Offensive Tackles: Joe Thomas, Cleveland Browns; Andrew Whitworth, Cincinnati Bengals.

Joe Thomas não é só o melhor LT da NFL, ele é um futuro Hall of Famer que já está entre os melhores da posição da HISTÓRIA da NFL, só que não recebe o devido crédito por passar a carreira toda jogando do lado da Factory of Sadness em Cleveland. Em mais um grande ano, Thomas é um no-brainer em qualquer All-NFL Team.

Encontrar um parceiro para Thomas foi mais difícil, mas entre vários candidatos dignos, eu acabei ficando com Andrew Whitworth: nenhum OT na NFL em 2015 cedeu MENOS pressões no QB do que Whitworth (4 sacks, 1 hit e só 15 hurries), e o grandalhão foi o melhor jogador e peça principal de uma linha ofensiva de Cincinnati que foi discretamente a melhor da temporada 2015. Se você assistiu Cincy durante essa temporada, você viu que o ataque do time foi construído inteiro em torno da sua linha ofensiva, com um QB talentoso mas que precisa ficar longe da pressão para produzir no seu melhor. E considerando que nenhum ataque foi mais dependente da sua linha ofensiva em 2015, e que Cincinnati terminou a temporada com o melhor ataque da NFL em DVOA, acho seguro dizer que Whitworth e seus colegas seguraram muito bem a barra. Ele tem meu segundo voto.

2nd Team: Terron Armstead, New Orleans Saints; Tyron Smith, Dallas Cowboys.


Offensive Guard: Marshall Yanda, Baltimore Ravens; Zack Martin, Dallas Cowboys.

Yanda é inquestionavelmente o melhor guard da NFL, alguém capaz de proteger o QB em alto nível (cedeu apenas 1 sack e 1 hit no ano todo, melhor marca da NFL) E dominar nas trincheiras para abrir espaço no jogo terrestre. Mesmo em uma posição pouco sexy (não existe posição menos reconhecida/valorizada na NFL), é o tipo de jogador que gera muito valor para um time consistentemente. Junto a ele fica Zack Martin, que novamente teve uma excelente temporada, dessa vez menos reconhecida por jogar em uma totalmente esquecível temporada de Dallas. Martin terminou o ano cedendo apenas um sack, 2 hits e 10 pressões (segunda melhor marca da liga entre jogadores com 1000+ snaps). Martin foi draftado como tackle, mas se continuar jogando no interior da linha, vai ser um eterno candidato a times All-Pro/All-TMWs. 

2nd Team: Richie Incognito, Buffalo Bills; Josh Sitton, Green Bay Packers.


Center: Ryan Kalil, Carolina Panthers.

No começo da temporada, muita gente achava que a linha ofensiva remendada seria um grande problema para o Carolina Panthers. Ela não foi. Pelo contrário, discretamente foi uma das grandes forças do time na temporada, especialmente protegendo Cam Newton e seus scrambles. E Kalil foi o pilar disso tudo, o veterano que manteve a fundação no lugar e permitiu ao resto encaixar, alguém que foi fundamental protegendo Newton e abrindo espaços para o jogo terrestre (especialmente em jogadas curtas). Talvez alguns Cs tenha sido melhores protegendo o QB ou abrindo espaços, mas nenhum fez os dois tão bem quanto Kalil.

2nd Team: Travis Frederick, Dallas Cowboys.


Defensive Line (interior): Aaron Donald, Saint Louis Rams; Geno Atkins, Cincinnati Bengals.

Eu já falei bastante sobre Aaron Donald na coluna sobre os prêmios da temporada, principalmente sobre como deveria ser impossível para um DT com tanto papel coletivo (ocupar bloqueadores, fechar espaços, etc) também ter um impacto direto tão impressionante através de pressões, tackles para perdas e sacks. Leia a coluna para ler meus pensamentos completos sobre o jogador, mas vou deixar essa parte aqui: 

"E acima de tudo esse é o maior argumento a favor de Donald como DPOY: jogadores de meio de linha defensiva não deveriam ter todo esse impacto direto além de todo o papel coletivo (ocupar bloqueadores, quebrar o pocket, etc), e ainda assim Aaron teve o quarto maior impacto direto em jogadas de passe da liga através de pressões (11 sacks, 26 hits, 44 hurries). Isso é surreal para um DT, onde você tem normalmente menos chances de ter esse impacto direto, e um dos grandes motivos pelos quais a defesa do Rams foi tão boa na temporada."

Sobre Atkins, o DT é o principal motivo pelo qual a defesa do Bengals voltou a ser uma força depois de um ano em baixa (no qual Atkins esteve machucado). A linha defensiva sempre foi o pilar do time, com bons nomers e jogadores talentosos como Carlos Dunlap e Michael Johnson, mas toda a linha - e portanto a defesa inteira - era montada em torno do colapso que Atkins causava na linha adversária e abria espaços por onde os seus atléticos companheiros poderiam atingir o backfield e fazer jogadas. Donald é melhor atravessando a linha, atrapalhando jogadas e causando impacto direto no jogo, mas nenhum DT na NFL hoje consegue causar colapso em uma linha ofensiva melhor do que Atkins. Dunlap, Johnson e o resto da DL de Cincy deveriam dar metade do seu salário para Geno. 

2nd Team: Kawann Short, Carolina Panthers; Linval Joseph, Minnesota Vikings.

Defensive Line (ponta): JJ Watt, Houston Texans; Kahlil Mack, Oakland Raiders; Von Miller; Denver Broncos.

JJ Watt é o melhor defensor da liga e meu voto para Defensive Player of the Year, então não preciso gastar muitas palavras explicando essa. Ele liderou a liga em sacks, jogadas de pressão, tackles for loss enfrentando mais marcações duplas e triplas do que qualquer jogador, causando mais impactos táticos e forçando mais ajustes do que qualquer defensor. Ele é o melhor jogador de defesa que a NFL ve desde Lawrence Taylor. O prêmio de Defensive Player of the Year deveria ser renomeado "Prêmio JJ Watt".

Kahlil Mack teve uma ótima temporada de calouro em 2014, principalmente por seu papel dominando o jogo terrestre, mas em 2015 elevou mais um nível no seu jogo assumindo um papel mais ativo atacando o quarterback, e Mack simplesmente destruiu tudo no seu caminho em seu novo papel: foram 16 sacks (apenas Watt teve mais) e 82 jogadas de pressão (apenas Watt e Michael Bennett tiveram mais). Durante uma surreal sequência de três jogos, Mack teve NOVE sacks (inclusive um jogo com 5 só no primeiro tempo) para ajudar o Raiders a vencer dois deles por totais 6 pontos. E embora isso diga mais sobre o quão tosco é o processo de votação dos All-Pros, vale citar que Mack foi o primeiro jogador da história a ser eleito para o All-Pro Team em DUAS posições diferentes (DE e OLB). Watt e Mack foram dois no-brainers para essa posição.

O terceiro lugar foi mais difícil, com vários bons candidatos mas ninguém se destacando acima dos demais. Acabei indo com Von Miller, que certamente tem as credenciais para isso: 11 sacks, 82 jogadas de pressão (empatado com Mack no terceiro lugar da temporada) e consistente impacto no jogo terrestre não são nada para se torcer o nariz, ainda mais considerando toda a atenção e dobras que ele atrai. Ele foi o segundo melhor OLB de 2015 tirando Mack. Mas o motivo foi um pouco diferente e talvez até injusto: Miller foi de longe o melhor jogador e pilar de uma defesa que acabou sendo a melhor da temporada em 2015, e embora obviamente ele tenha tido muitos bons companheiros, você vai reparar que apenas um outro Bronco acabou aparecendo nessa lista. Miller e (SPOILER OMITIDO) são as únicas grandes estrelas dessa defesa, e sua performance fantástica foi um dos motivos pelos quais ela foi tão boa. Então eu vou com Miller sobre a concorrência - ele tem uma leve vantagem em impacto individual E em impacto coletivo.

2nd Team: Michael Bennett, Seattle Seahawks; Olivier Vernon, Miami Dolphins; Cameron Jordan, New Orleans Saints.


Linebackers: Luke Kuechly, Carolina Panthers; Anthony Barr, Minnesota Vikings.

Então ficamos com um 4-3 OLB e um ILB para nossos linebackers.

Kuechly pode ter perdido três jogos com concussões, mas apesar disso, o jogador do Panthers foi de longe o melhor ILB da NFL em 2015. Acho que a melhor forma de descrever o camisa 59 é "força da natureza" - sua antecipação e instintos são surreais, e isso junto da sua capacidade atlética colocam Kuechly em todos os lugares do campo ao mesmo tempo. Meu exemplo favorito: lembra daquela insana recepção do Julio Jones contra o Panthers? Ta vendo aquele cara branquelo que acabou de correr 50 jardas downfield para acompanhar um dos melhores e mais rápidos WRs da NFL? É Kuechly. Tirando Patrick Willis, eu acho que nunca assisti outro MLB capaz de fazer fazer essa cobertura. Claro, foi touchdown, mas isso diz muito mais sobre a jogada linda de Jones do que uma falha de Kuechly - jogadores tão grandes e fortes como o LB não deveriam ser fisicamente capazes de acompanhar JJ em uma rota dessas.

E é assim que a vida funciona para Kuechly. Ele está em todos os lugares, faz todos os tipos de jogadas e não tem nenhuma falha no seu jogo. O camisa 59 cedeu um rating de 57.8 em passes lançados na sua direção, um número absolutamente RIDÍCULO para um linebacker, foi mais eficiente dando tackles do que qualquer jogador e foi o segundo em Stop% no jogo terrestre. Ridículo. Se Patrick Willis pegou a tocha de Ray Lewis de "MLB histórico dominando a NFL", essa tocha me parece muito segura com Luke Kuechly.

Barr é um caso engraçado, alguém que chegou na NFL como um OLB pass rusher do College e nas mãos de Mike Zimmer acabou se tornando um dos mais devastadores all-around LBs da NFL. Não sei se existe hoje na NFL um linebacker tão completo quanto Barr. Embora o segundanista não se alinhe como um OLB 4-3 tradicional em boa parte do tempo, participando ativamente de pacotes e formações híbridas como pass rusher ou jogando mais próximo da linha defensiva, Barr tem um impacto em todas as áreas do jogo de forma que não é comum para um OLB 4-3: ele é devastador em jogadas de rush (4 sacks, 5 hits e 18 hurries, segundo melhor entre 4-3 OLBs apesar de ir para blitz menos que seus concorrentes mais próximos), excelente saindo para cobertura (cedeu apenas um TD no ano apesar de ser um dos OLBs que mais defendem no jogo aéreo) e ainda consegue impor sua presença em jogadas terrestres. Sua versatilidade constitui a espinha dorsal de uma das melhores jovens defesas da NFL. Você não encontrará um jogador em toda a NFL que teve mais impacto em 2015 no jogo terrestre, na cobertura E no pass rush do que Anthony Barr.

2nd Team: KJ Wright, Seattle Seahawks; Derrick Johnson, Kansas City Chiefs.


Cornerbacks: Tyrann Mathieu, Arizona Cardinals; Josh Norman, Carolina Panthers; Patrick Peterson, Arizona Cardinals.

Aparentemente, a maior parte das pessoas veem Tyrann Mathieu como um safety apesar do fato dele ter se alinhado muito mais de cornerback esse ano. A verdade é que o Honey Badger joga uma posição híbrida CB/Safety que tem se tornado cada vez mais popular na NFL (Charles Woodson, quando foi DPOY e campeão pelo Packers, fazia uma função semelhante), mas ainda é mais próximo de um CB do que de um safety. Então é como eu voto.

E apesar de Mathieu ter perdido os dois últimos jogos da temporada com um ligamento rompido (infelizmente pela segunda vez), seu impacto foi tão grande que não tem como deixá-lo de fora do 1st Team. Na cobertura, Mathieu já faria por merecer esse 1st Team All-TMW: além de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, o camisa 32 é um dos defensores de secundária mais físicos da liga, alguém que mistura força, atleticismo, instintos e técnica para criar uma máquina de destruição em massa. Ele consegue marcar qualquer WR, de Julian Edelman a Demaryus Thomas, e os números sustentam os vídeos: 60% de passes completos e 77.6 Rating lançando na direção de Mathieu, e esses números ainda são inflados pelos snaps que Mathieu alinha mais atrás, como safety (que tendem a ser maiores). Avaliando CBs na cobertura, é comum nos maravilharmos com aqueles que não aparecem, que passam o jogo todo anulando um jogador e mal aparecem no vídeo porque ninguém lança na direção deles. Mathieu é o oposto, alguém que está o tempo todo em todos os lugares fazendo jogadas e tendo impacto em um número enorme de snaps, frequentemente cobrindo seus companheiros nessa função híbrida.

Mas assim como Barr, o maior valor de Mathieu não vem de uma coisa que ele faça muito bem, e sim do fato dele fazer TUDO em altíssimo nível. Além de suas habilidades na cobertura, Mathieu também é um dos melhores cornerbacks fazendo blitz (foi para a blitz em 39 snaps e saiu com 11 pressões, ambas as melhores marcas entre CBs), E ainda dobra como o melhor CB contra o jogo terrestre por uma enorme margem, conseguindo "Stops" em 6% das jogadas de corrida dos adversários - o segundo melhor CB da liga tem em 4.6%. A capacidade de ler e reagir às jogadas e sua velocidade indo do ponto A ao ponto B fez dele o CB de maior impacto da NFL em 2015 quando consideramos todas as áreas do jogo.

O parceiro do Honey Badger no All-TMW Team é também seu parceiro na vida real. Patrick Peterson se recuperou brilhantemente de um fraco 2014 para ter o melhor ano de sua carreira: QBs completaram apenas 47.7% de seus passes na direção de Peterson (terceira melhor marca da NFL), cedendo apenas dois TDs (e adicionando duas interceptações e seis passes desviados) e segurando QBs a um Rating de 61.8, sexta melhor marca da NFL. É claro, isso em si só não significa nada, mas da para ter uma noção do trabalho de Peterson esse ano. E ele fez isso apesar de constantemente marcar o melhor WR adversário também. Se Mathieu é uma estrela por causa de seu enorme impacto all-around, Peterson é um CB mais ortodoxo, que foca em tirar um WR do jogo. É um impacto diferente, mas não menos significante.

Por fim, o último lugar fica com aquele que foi de longe o CB mais comentado e chamativo de 2015: Josh Norman. Eis a lista de WRs que Norman marcou em 2015: Allen Robinson, DeAndre Hopkins, Brandin Cooks (x2), Mike Evans, Doug Baldwin, Jordan Matthews, TY Hilton, Randall Cobb, Justin Hunter, DeSean Jackson, Dez Bryant, Julio Jones (x2), Odell Beckham Jr.

E eis os números para QBs lançando passes na direção de Josh Norman: 51%, 9.3 jardas por passe completo (4th melhor da NFL), 2 TDs, 4 INTs, 457 jardas, e um rating de 54.0 que foi o melhor da liga entre CBs qualificados. O ano todo, foi o papel de Norman travar no melhor WR adversário, marcá-lo o jogo todo, e tirá-lo do jogo... e foi o que ele fez, mais e melhor do que qualquer outro cornerback dessa temporada. E eu não preciso te dizer o impacto que é para um ataque ter seu melhor recebedor simplesmente tirado do jogo dessa maneira. Foi uma temporada realmente fantástica para o CB do Panthers, que inclusive entrou no meu ballot para DPOY em quarto lugar.

2nd Team: Chris Harris Jr, Denver Broncos; Johnathan Joseph, Houston Texans; Richard Sherman, Seattle Seahawks.


Safeties: Harrison Smith, Minnesota Vikings; Earl Thomas, Seattle Seahawks.

Não sei se existe hoje na NFL um jogador mais consistentemente underrated do que Harrison Smith. Nos últimos dois anos, o único safety que talvez tenha sido melhor do que Smith na NFL foi Earl Thomas, que é um futuro Hall of Famer. Em 2015, Smith foi de longe o melhor safety da liga mesmo perdendo dois jogos machucado. E ainda assim, em 4 anos de NFL, Harrison Smith nunca foi a um Pro Bowl ou integrou um All-Pro Team. Por que? Eu não saberia te dizer. Só saiba que Smith é um monstro que preenche mais funções em um campo de futebol americano que qualquer outro DB (tirando talvez Mathieu) e se move com mais velocidade pelo campo fazendo jogadas que qualquer outro defensive back tirando Thomas. E ele foi mais uma vez brilhante em 2015, totalizando 11 pressões (inclusive dois sacks e quatro hits), fornecendo apoio consistente no jogo terrestre e segurando QBs a um rating impossível de 43.3 em bolas lançadas na sua área - a melhor marca da NFL inteira (não entre safeties, NFL inteira) entre jogadores que viram tantos passes quanto Smith. O camisa 22 não entrar nem no SEGUNDO time All-Pro foi um dos maiores absurdos da história recente da NFL. Um dia a NFL vai dar a Harrison Smith o valor que ele merece. Pena que não será em 2015.

Quanto a Thomas, não tem muito o que dizer. É talvez o melhor jogador no que tem sido uma das melhores defesas da história da NFL nos últimos anos. E ao contrário de Richard Sherman, que recebe mais atenção, cujo esquema do time permite isolar para maximizar suas forças, Thomas é a base em cima da qual pende todo o esquema defensivo de Seattle. Assista aos All-22 de Seattle e você logo vai ver que, apesar do esquema ser bastante simples superficialmente, a chave é que o time aproxima muito seus defensores da linha e deixa Earl Thomas as vezes quase sozinho cobrindo o fundão, uma tarefa que só é possível porque ele é uma aberração da natureza que consegue cobrir mais espaço em um campo de futebol americano do que qualquer outro jogador. E é por Thomas ser capaz de cumprir essa função que permite ao resto da defesa se focar no que eles fazem de melhor e tirar o máximo do seu estilo de jogo. Eu até acho que ETIII (Sim, ele chama Earl Thomas III) teve um ano abaixo dos seus padrões, mas mesmo um ano abaixo da média para ele é ser o segundo melhor safety da temporada.

2nd Team: Eric Berry, Kansas City Chiefs; Charles Woodson, Oakland Raiders.


Kicker: Justin Tucker, Baltimore Ravens

Quando pensamos em kickers, a primeira coisa que pensamos é em acertar FGs. E, claro, é uma parte crucial do trabalho. Analisando por esse critério, o melhor kicker de 2015 provavelmente foi Stephen Gostkowski, com uma leve margem sobre Justin Tucker. Os dois kickers empataram no segundo lugar em FGs acertados com 33 (Blair Walsh teve 34), mas o kicker do Patriots o fez com melhor aproveitamento: 33-36, contra 33-40 do kicker do Ravens.

Mas continue fuçando, e você vai perceber o motivo: FGs não são todos iguais. Um FG de 25 jardas e um FG de 55 jardas são totalmente diferentes, e logicamente você esperaria que o aproveitamento de um kicker dependeria muito do tipo de chutes que ele tenta.

Você provavelmente já entendeu aonde quero chegar. Tucker jogou para um ataque morfético, que tinha dificuldade de mover a bola e por isso forçou-o a muito mais chutes longos: 10 de seus 40 FGs foram de 50+ jardas, o dobro de Gostkowski e a maior quantidade de tentativas dessa distância da NFL. Então não é que Tucker não tenha sido tão bom quanto Gostkowski, e sim que ele foi obrigado a tentar chutes bem mais difíceis por causa da ineptidão do seu ataque. Na verdade, nos chutes mais "rotineiros" (menos de 50 jardas), Tucker foi até melhor: 29 de 30 para o kicker do Ravens, contra 29 de 31 para o do Patriots. Gostkowski merece créditos pela sua ótima precisão de 50+ e liderou todos os kickers em pontos adicionados com FGs, mas Tucker não fica muito atrás (3rd) e seu aproveitamento inferior é causado pelos chutes mais difíceis que teve de tentar. E, vale citar, nenhum dos dois errou um extra p

Mas kickers tem uma segunda tarefa além de chutar FGs, uma que frequentemente é ignorada: kickoffs. E é nessa que Turner brilha: liderou a liga em distância (72 jardas) e foi segundo em toda a liga em percentual de touchbacks com ridículos 86.5%. A distância entre Turner e o terceiro colocado, Jason Myers, foi maior (13,9 pontos percentuais) do que a diferença entre Myers e o décimo sexto do quesito, Josh Lambo (13.8 pontos percentuais). Ele também adicionou mais valor em kickoffs do que qualquer outro jogador.

Juntando os dois quesitos - kickoff e FG - tanto Gostkowski como Turner foram ótimos em ambos, mas na soma dos fatores dou uma leve vantagem para Turner por um simples motivo: a diferença a favor de Turner em kickoffs para mim é maior do que a diferença a favor de Gostkowski em FGs. Por muito pouco, mas é.

2nd Team: Stephen Gostkowski, New England Patriots


Punter: Pat McAfee, Indianapolis Colts

O engraçado é que McAfee não é só o melhor punter fazendo punts da NFL, embora ele também o seja: 47.7 de distância média (#2 da NFL), 5.28 de hang time (#8), 43.3% apenas retornados (#9) e #1 em valor adicionado. Mas você sabia que McAfee também cuida de chutar kickoffs para o Colts... e que ele é o quarto MELHOR de toda a NFL no quesito (atrás de Tucker, Gostkowski e Graham Gano) e liderou a liga em porcentagem de touchbacks? Junte a isso que ele é o melhor punter/kickoffer (existe isso?) da liga na cobertura e dando tackles, e nenhum jogador de special teams da NFL tem remotamente tanto impacto no time quanto McAfee. Ele é o melhor special teamer da liga inteira.

2nd Team: Johnny Hekker, Saint Louis (RIP!) Rams.


Kickoff returner: Cordarrelle Patterson, Minnesota Vikings

Eu até hoje não perdoei a NFL por mudar o ponto do kickoff e praticamente matar os retornos de kickoff, minha jogada favorita do futebol americano. Fuck you, Goodell.

Do que eu estava falando? Ah sim... Cordarrelle Patterson. Ele liderou a liga em jardas por retorno de kickoff (31.9), segundo em jardas totais (1020), e foi o único jogador da NFL a levar dois kickoffs para a casa. Então ele teve o maior impacto médio E touchdowns, que seria o impacto máximo. Bom suficiente para mim.

2nd Team: Ameer Abdullah, Detroit Lions.


Punt returner: Darren Sproles, Philadelphia Eagles

Eu realmente queria pedir desculpas ao Tyler Lockett aqui. Se fosse simplesmente uma posição chamada "Kicks returner", ele seria o óbvio número 1, tendo sido fantástico retornando tanto punts como kickoffs. Mas quebrando, temos jogadores que se destacaram mais nos componentes específicos. Fica a menção honrosa a Lockett aqui então (bem como um 2nd Team All-TMW).

De volta a Sproles, sua temporada fantástica retornando acabou ofuscada por um ruim e disfuncional time do Eagles, mas os números falam por si só: 37 retornos (#3 na NFL), 436 jardas (#1 na NFL), 11.8 jardas por retorno (#3 na NFL) e 2 touchdowns (único da NFL com mais de um). Temporada incrível. E talvez seja só eu, mas sempre achei Sproles um dos jogadores mais aleatoriamente excitantes de se assistir, pelo tamanho, velocidade, explosão e o fator de comédia não-intencional de um baixinho de um metro e meio correndo no meio de mamutes de 150kg. Então bônus para ele.

2nd Team: Tyler Lockett, Seattle Seahawks.