Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Prêmios da Temporada 2016/17 da NBA - Parte I

Um resumo das redes sociais nas últimas semanas


Se você está chegando agora: sim, o Two-Minute Warning está de volta!!

E como prometido na coluna da semana passada, chegou a hora de falar de basquete. E bastante. A temporada terminou essa quarta feira, os playoffs começam sábado, e temos muito a tratar antes de atingirmos a parte realmente crítica da temporada da NBA.

Mas como de modo geral a primeira rodada dos playoffs é principalmente burocrática, com só algumas poucas séries realmente sendo divertidas e oferecendo potencial de surpresas, tem algo mais urgente para falarmos: os prêmios da temporada.

Eu não lembro de uma temporada mais polarizadora nesse sentido, liderada por uma discussão para MVP que atingiu proporções que eu não lembro de ter visto antes na minha vida. Para onde quer que você vire, as pessoas estão falando a respeito da corrida pelo prêmio, e atrasando em uns 20 anos a parte analítica do basquete no processo: alguns estão buscando se aprofundar cada vez mais nas análises, nas comparações, e tentando atingir um critério cada vez mais racional para separar os candidatos... enquanto que a grande maioria só está preocupada em gritar mais alto e usar parâmetros arbitrários para discutir.

Então como alguém que sempre tenta trazer essa visão mais analítica e crítica, eu não poderia deixar de passar a chance de dar minhas opiniões e trazer minhas visões para a mesa. Além disso, eu gosto de discutir esses prêmios individuais, e a chance que eles nos oferecem para discutir pontos específicos e interessantes da temporada.

E essa na verdade é uma coluna gigante que foi separada em três partes. Essa é a Parte I, que trata dos prêmios individuais da temporada: MVP, Defensive Player of the Year, Rookie of the Year, Coach of the Year, 6th Man of the Year, e Most Improved Player.

A Parte II e a Parte III virão semana que vem, com meus palpites para os times da temporada (All NBA, All Rookie, All Defense) na Parte II, e os Prêmios Alternativos na Parte III.

Parte I: Prêmios individuais da temporada
Parte II: Times ideais da temporada
Parte III: Prêmios alternativos

Vamos ao que importa.


Most Improved Player



Então vamos começar pelo prêmio que eu mais detesto: Most Improved Player, ou o jogador que mais evoluiu na temporada.

O principal motivo para eu detestar esse prêmio é que, embora todos os prêmios da NBA carreguem consigo um bom nível de subjetividades e tenham critérios muito pouco definidos, esse prêmio é de longe o que existe as piores interpretações. O prêmio é para o jogador que "Mais evoluiu", o que indicaria um jogador que fez grandes evoluções no seu jogo e atingiu um nível novo do que o esperado. Mas na grande maioria do tempo, esse prêmio é dado para algum jogador talentoso que por algum motivo viu um aumento de minutos e/ou de papel e viu seus números aumentarem... mesmo que isso tenha acontecido com o jogador fazendo exatamente o que sempre fez antes. Não acredita? Olhe os números abaixo:

A: 17.2 PPG, 9.0 RPG, 1.3 APG, 1.0 BPG, 43.0 FG%, 39.3 3PT%, 21.2 PER
B: 18.0 PPG, 8.3 RPG, 1.0 APG, 0.5 BPG, 43.3 FG%, 39.3 3PT%, 18.1 PER

Esses são os números por 36 minutos de Ryan Anderson nas temporadas 2011 e 2012 da NBA. Anderson venceu o prêmio de MIP em 2012 com números de produção virtualmente idênticos aos da temporada anterior. Então o que aconteceu? Mudanças no elenco do Orlando Magic resultaram em um aumento de minutos para Anderson, que passou de 22 minutos por jogo para 33 minutos por jogo em 2012. Esse aumento em minutos levou a um aumento proporcional na produção bruta de Anderson, e foi isso que os votantes viram e acabaram por elegê-lo o jogador que mais evoluiu de 2012... embora Anderson fosse basicamente o mesmo jogador de um ano antes, fazendo as mesmas coisas, mas só com mais minutos. Para mim isso não é evoluir. Anderson merece crédito por manter a produtividade com uma maior carga, sem dúvida, mas não houve realmente uma mudança no jogador que ele era.

Dito isso, a verdade é que temos bons candidatos a esse prêmio na temporada 2016/17 quando focamos em jogadores realmente mudando seus jogos. E de uma variedade bastante impressionante: temos veteranos que adicionaram algo ao seu repertório para tornar seus times mais eficientes (como Marc Gasol, que se tornou um letal arremessador de 3 pontos da noite para o dia); temos jovens jogadores finalmente colocando seus talentos no lugar e atingindo um novo nível de jogo (como Otto Porter e Bradley Beal); e até veteranos dando passos lentos na direção de um nível maior (Gordon Hayward).

Mas passando por todos os candidatos, esse prêmio para mim ficou entre 5 jogadores, que já é um número muito maior do que o normal, e uma mudança muito bem vinda.

Entre os cinco, talvez o caso mais interessante seja o de James Johnson. Um veterano de menor expressão, Johnson passou sete anos na NBA vagando de time em time, sem nunca achar seu lugar ou seu nicho dentro da NBA. Até que em 2017, no seu quinto time e oitavo ano de NBA, Johnson perdeu 18 quilos e se reinventou como um point-center, capaz de jogar em cinco posições, tapar todo tipo de buraco, e marcar todos tipos de jogadores. Sua versatilidade e energia se tornou uma parte chave de um surpreendente time do Miami Heat, alguém que funciona como um canivete suíço que permite a Miami usar todo tipo de formação e maximizar seu talento. Johnson só não está mais alto na minha lista por um motivo: foi menos uma questão de Johnson desenvolver habilidades novas, e mais de achar um time e um papel que maximizasse as habilidades que ele já possuía. Ainda assim, existe valor e dificuldade de sobra nesse tipo de transformação que JJ fez, e a forma como adaptou-se a essa função precisa ser reconhecida.

(Em tempo: a emergência de Johnson como uma das personalidades mais divertidas da NBA - um faixa preta em kickboxing, lutador invicto de MMA (7-0) e kickboxer (18-0) que enterra na cabeça de todo mundo, da passes insanos ( no bom e no mau sentido) o tempo todo e joga em sexta marcha o jogo inteiro não afetou nesse ranking).

Harrison Barnes é outro exemplo bom, um jogador que veio para a NBA e cresceu em meio a um esquema extremamente favorável, sendo sempre a terceira ou quarta opção de um time que prezava pelo espaçamento e movimentação de bola, e que de repente recebeu uma bolada na free agency para ser o foco de um time muito menos talentoso. Embora uma parte seja a questão de um jogador com um papel menor vendo seus números aumentarem em uma nova situação, a adaptação de Barnes em Dallas foi muito maior do que apenas isso, mostrando grande evolução com pontuador em isolações e com a bola nas mãos de modo geral - e, mais importante, se adaptou de forma impressionante a um novo papel como small ball PF, jogando sem a bola e marcando jogadores maiores em tempo quase integral. Pouca gente apostou nisso, mas Barnes está valendo cada centavo do contrato que recebeu.

Um candidato mais falado e cotado ao prêmio é Nikola Jokic, o fantástico pivô passador de Denver. Esse, na verdade, é um candidato que eu não gosto tanto quanto outros: É o caso onde me parece mais Jokic recebendo uma atribuição maior e um esquema mais focado nas suas habilidades já existentes. Mas ainda assim, a forma como Jokic cresceu e expandiu seu jogo dentro do que já fazia esse ano foi espetacular, e cada passe sem olhar nas costas da defesa foi um dos pontos altos da temporada. Mesmo que as habilidades sejam as mesmas, o nível delas sendo posto em prática é muito maior, e fazer isso mantendo a eficiência merece sua indicação ao prêmio.

Já um nome muito menos falado, mas mais merecedor, é Rudy Gobert. Gobert sempre foi conhecido por sua fantástica defesa, graças à sua enorme envergadura, mas seu desafio sempre foi conseguir fazer o suficiente no resto do jogo para justificar os minutos e o espaço em quadra. E foi o que fez essa temporada: Gobert sempre foi um jogador feroz e atlético cortando para a cesta, mas parece muito mais confortável do que nunca nessa função. O francês desenvolveu uma série de movimentos para se reposicionar ou melhorar o timing dos arremessos quando recebe a bola, e está muito mais inteligente na hora de saber quando fazer um corte mais curto, e quando cortar com força para receber um lobby. Sua média subiu para 14 pontos por jogo, de longe a maior marca da carreira, e está arremessando 66.6%. E como se não fosse suficiente, Gobert está ainda melhor defensivamente essa temporada... mas falamos disso daqui a pouco. Como o forte de Gobert sempre será sua defesa, acabamos notando menos as evoluções que fez no resto do seu jogo, mas essa evolução foi o que transformou Gobert de um ótimo defensor em um dos melhores - talvez O melhor - pivô da NBA. Aliás, vale citar que Gobert é #2 na NBA INTEIRA em Win Shares. Isso me parece significante.

Mas eu não consigo não dar esse prêmio para Giannis Antetokounmpo. Apesar da pouca idade de Giannis, o salto de "bom jogador" para "estrela" é o mais difícil de fazer, e é exatamente o que ele fez: Giannis está dominando jogos rotineiramente, e mais do que nunca o grego capitalizou na sua versatilidade pra se tornar o unicórnio mais versátil e dominante da NBA. E não só ofensivamente, onde Giannis agora rotineiramente tem jogos de 25 pontos e funciona quase como armador, mas principalmente sua enorme evolução defensiva foi o que destravou uma nova dimensão para todo o time do Bucks: Antetokounmpo tem média de 1.9 tocos e 1.7 roubos por jogo, mas mais importante, Giannis é o QUINTO melhor jogador da NBA protegendo o aro, segurando oponentes a 46.3 FG% perto do aro. O grego se tornou essa temporada o primeiro da história a ficar entre os 20 melhores jogadores da temporada em pontos, rebotes, assistências, roubos E tocos. Isso é surreal.

Quantos jogadores são capazes de funcionar como protetor de aro na defesa E armador principal no ataque? Sua capacidade de fazer qualquer função ofensiva E defensiva fazem dele um legítimo coringa, capaz de destravar qualquer lineup para Milwaukee e funcionando como um missmatch ambulante dos dois lados da quadra. E não é como se o valor de Giannis viesse só de sua versatilidade: ele é um dos pontuadores mais dominantes da NBA, com média de 23 ppg em 52.2 FG%, além de 5.4 de assistências por jogo. E acima de qualquer outra, a evolução absurda de Giannis em 2017 como um dos 12 melhores jogadores da NBA é a que mais pode afetar o balanço de poder da liga nos próximos anos.

(Minhas mais sinceras desculpas a Isaiah Thomas, que eu decidi por não incluir na votação simplesmente porque não acho que ele esteja fazendo nada de muito diferente do de sempre, exceto a parte de acertar sempre. Um dos momentos mais difíceis da coluna)

Ballot final: 1. Giannis Antetokounmpo; 2. Rudy Gobert; 3. Harrison Barnes; 4. Nikola Jokic; 5. James Johnson.


Coach of the Year





Para quem não conhece, a minha postura sobre esse prêmio é a seguinte: Greg Popovich é o melhor técnico da (história da) NBA e deveria ganhar esse prêmio todo ano. Simples assim. Então, por esse motivo, eu NÃO coloco Popovich no meu ballot anual, para dar mais debate e graça para o prêmio. Ele é o vencedor honorário, e esse ano não é diferente: o que fez para remontar seu time sem Duncan, transformando o elenco e o banco, transformando David Lee em um bom defensor, e mantendo seu time como o segundo melhor da NBA foi digno das lendas... e é só mais um dia no escritório para Popovich.

Então isso posto, a disputa desse ano de CoY me parece estar aberta entre dois nomes: Eric Spolestra e Mike D'Anthony.

Se for para dar um palpite, eu acho que D'Anthony vai ganhar. Ele é a história "sexy" do ano, o técnico rejeitado que foi piada ao redor de toda a NBA quando foi contratado e levou o desacreditado Rockets a um terceiro lugar no fortíssimo Oeste, bem como o segundo melhor ataque da liga. Esse é o tipo de coisa que acabamos esquecendo ao longo de uma temporada bem sucedida, mas a offseason do Rockets foi ridicularizada ao redor da NBA: a projeção de Vegas para o time era de vencer 41 jogos, e todo mundo deu risada do absurdo que parecia na época juntar Mike D'Anthony com James Harden e seus vines defensivos, mais as contratações de Eric Gordon e Ryan Anderson. A defesa desse time, a narrativa dizia, seria uma piada que impediria o time de ser competitivo.

Engraçado como as coisas mudam, não é mesmo? Hoje em dia todo mundo fala do ótimo encaixe que foi Harden e suas habilidades sobrenaturais de criação com o esquema aberto e veloz de D'Anthony, sobre o "ótimo" elenco de apoio do Rockets, e por ai vai... sendo que foram as mesmas coisas que todo mundo criticou seis meses atrás.

E D'Anthony tem bastante mérito nessa mudança. Seu Rockets sem nenhum All-Star ao redor de James Harden ainda não tem uma boa defesa, só 17th na NBA, mas sem dúvida já é muito melhor do que esperavam, e mais do que suficiente para se vencer se associado a um ataque devastador... o que o Rockets tem de sobra. Tirando apenas a Máquina da Morte que é o ataque de Golden State (surreais 113.3 pontos por 100 posses de bola), Houston tem o melhor ataque da NBA (111.7) e terminará a temporada com a terceira melhor campanha da liga. E isso aconteceu principalmente porque cada uma das peças falhadas que compunham esse elenco foram colocadas no lugar certo, na hora certa, para fazer o time como um todo funcionar. E, talvez ainda mais importante, seu gênio ofensivo foi exatamente o que o time precisava para enfim liberar todo o enorme potencial de James Harden, alguém que não só é um gênio em termos individuais como é alguém que torna todos os seus companheiros melhores em quadra. Existe um equilíbrio difícil entre maximizar o jogador e maximizar o elenco, mas o Rockets encontrou muito bem esse balanço em 2017, e D'Anthony merece os créditos.

Mas com todo o respeito ao ótimo trabalho de D'Anthony, o meu voto vai para Spolestra porque eu acho que o que ele fez em Miami é o mais "puro" que se pode chegar que coloca em evidência o trabalho de um grande técnico. Não existe um sistema, não existe uma estrela: Spolestra simplesmente pegou um elenco muito fraco, com peças muito díspares e que não apresentavam nenhum tipo de coesão, e fez um trabalho absolutamente fantástico em montar uma forma de jogar que encaixa todas essas peças no lugar certo, colocando cada jogador em posição de maximizar suas forças e minimizar suas fraquezas, e montou esse complicadíssimo quebra cabeça em um time coeso e eficiente que está buscando uma das maiores reviravoltas dentro de uma mesma temporada que eu lembro de ter visto.

Mesmo depois de perder Justise Winslow, as coisas encaixaram em Miami: Dragic voltou a jogar em nível All-NBA, Dion Waiters pareceu uma estrela as vezes, James Johnson (que ainda não apareceu pela última vez nessa coluna) e Wayne Ellington estão jogando o melhor nível de basquete da vida, Tyler Johnson de repente não tem um contrato tão absurdo assim... existe simplesmente um número enorme de coisas dando certo para Miami, onde deveriam estar dando errado. O time pode não chegar aos playoffs por conta de um começo ruim e da lesão de Waiters, mas é muito raro ver um time com tão pouco talento jogando tão bem e colocando tanto medo no resto da NBA dessa maneira, um testamento ao trabalho de um dos melhores e mais subestimados técnicos da NBA.

Também queria deixar uma menção honrosa para Scott Brooks, muito criticado em Oklahoma City mas que deu vida nova a John Wall e o Wizards fazendo o que faz de melhor: desenvolver jogadores. Bradley Beal está jogando melhor do que nunca e merecia consideração séria para ser um All-Star, Otto Porter enfim se desenvolveu em um jogador completo e com um dos arremessadores mais certeiros da NBA de bônus, Kelly Oubre virou um jogador muito versátil e valioso... e claro, John Wall saltou um nível e estaria na conversa para MVP se essa temporada não tivesse quatro aliens disputando. E quando você pensa a respeito, para um time sem grandes ativos ou espaço salarial, a forma de evoluir é através da evolução dos talentos jovens que já estão no elenco. Foi o que aconteceu com Washington, e embora parte possa ser só o efeito de substituir um técnico péssimo, Scott Brooks merece mutos créditos pela ótima temporada do Wizards.

Ballot final: 1. Eric Spolestra; 2. Mike D'Anthony; 3. Scott Brooks; 4. Brad Stevens; 5. Quin Snyder.
Coach of the Year Emérito: Greg Popovich.


6th Man of the Year





Outro prêmio que eu não gosto por causa do critério utilizado pelos votantes. Em geral, esse prêmio é dado para aquele jogador que vem do banco e anota o maior número de pontos, como ilustrado pelo fato do Jamal Crawford ter vencido esse prêmio três vezes. Eu acho um critério muito pobre: claro que existe valor em alguém para pontuar vindo do banco quando seus titulares estão descansando, mas existe muito mais coisas que um 6th Man pode fazer e que acabam esquecidas por quem vota nesse prêmio. Existe muito valor em ter, por exemplo, um sexto homem capaz de jogar em mais de uma posição e mais de um estilo de jogo, porque isso oferece bastante flexibilidade sobre com quem ele vai jogar, e permite mais opções ao técnico. Sua capacidade de encaixar com os titulares para gerar lineups ainda melhores, ao invés de só jogar com os reservas. Ou talvez ele tenha alguma qualidade específica que seja crucial para destravar alguma característica que o time precisa, como por exemplo James Johnson (três vezes!) esse ano com sua capacidade de jogar quase de armador no ataque e de pivô na defesa.

Para mim, pessoalmente, é isso que faz os melhores sextos homens da NBA: jogadores cuja sua função vinda do banco não é apenas manter o time flutuando sem os titulares, mas transforma a própria forma do time jogar, funcionando como um sexto titular de fato, alguém integral à identidade e ao sistema da própria equipe. Mas jogadores assim são raros, e a exceção à regra. A grande maioria dos bons reservas são reservas por um motivo. Mesmo com times ficando cada vez mais inteligentes e atento ao encaixe entre seus jogadores, o que deixa mais bons jogadores vindo do banco, ainda não é comum ver aqueles reservas tipo Manu Ginobili que estão no banco porque sua presença lá abre uma nova dimensão inteiramente diferente para a equipe.

Mas também é por esse motivo que meu voto vai para Andre Iguodala. Iggy não seria titular no Warriors de qualquer maneira por causa da presença de Kevin Durant, mas de certa forma, ele é a personificação de tudo que faz do Warriors tão bom: sua capacidade de jogar múltiplas posições , que permite qualquer tipo de lineup; sua versatilidade defensiva e capacidade de trocar marcações, núcleo da defesa #2 do Warriors; seu altíssimo QI de basquete e habilidade de passar a bola tomando boas decisões; e o fato de ser um jogador extremamente coletivo e que não liga a mínima para estatísticas. Sua presença em quadra destrava a possibilidade do Warriors jogar qualquer estilo e com qualquer formação, e muitas vezes é a entrada de Iggy que injeta a energia e vontade que as vezes falta a Golden State.

E em particular foi sua atuação após a lesão de Durant que garantiu esse prêmio para mim. Não só Iggy não entrou na formação titular do time - o que seria o movimento óbvio - como foi quando Iguodala elevou seu jogo um novo nível, retomou o auge da sua intensidade defensiva, e foi um monstro fazendo tudo o que o Warriors precisava, quando precisava, e assumindo os bastidores quando não era mais necessário. Iggy é peça crucial da identidade e do estilo de jogo do melhor time da NBA, e isso vale alguma coisa para mim. Embora não atrapalhe que Iguodala lidere todos os candidatos ao prêmio em Win Shares, com 6.9.

Aliás, junto dos meus votos a esse prêmio deixo minhas melhores desculpas aos reservas do Spurs, que infelizmente ficaram de fora do Top5. O banco de San Antonio é o melhor da NBA e chave para seu sucesso, mas é difícil demais escolher um jogador mais importante em meio a um grupo cujo sucesso depende da coletividade. Então entre David Lee, Dewayne Dedmon, Manu e Patty Mills, eu simplesmente não achei que um deles deveria entrar acima de outros candidatos ao prêmio, mas fica o registro da força desse coletivo.

Por fim, minha decisão final ficou entre 5 jogadores para as últimas 4 vagas: Tyler Johnson (14-4-3, 37 3PT% para Miami), James Johnson (já citado), Enes Kanter (14-7, 57 FG% e um papel crucial em OKC mesmo jogando um pouco fora do seu estilo), Greg Monroe (mais daqui a pouco) e Lou Williams (18-3-2). Eu acabei deixando Lou Will de fora por dois motivos simples: seus números são ótimos, mas isso foi principalmente como foco do ataque de um time péssimo (Lakers) - ao contrário dos outros, que tiveram que fazer sua contribuição de forma muito mais balanceada para times que dependiam disso para brigar por playoffs - bem como sua queda de produção desde a troca para Houston. Não foi uma decisão fácil.

Queria também aproveitar para destacar Greg Monroe pela reviravolta que foi sua temporada, mudando totalmente sua performance defensiva para se tornar um jogador mais balanceado e fundamental para a temporada do Bucks. Seus passes são ótimos, sua defesa melhorou muito, ele ainda é alguém capaz de cavar alguns pontos quando o ataque fica estagnado, e não é a toa que as melhores lineups do Bucks esse ano tem Monroe envolvido.

Com minhas melhores desculpas a Williams, Zach Randolph, Eric Gordon, Kelly Oubre e o banco inteiro do Spurs.

Ballot final: 1. Andre Iguodala; 2. Greg Monroe; 3. James Johnson; 4. Tyler Johnson; 5. Enes Kanter.


Rookie of the Year




Esse não foi um bom ano para os calouros da classe 2016 da NBA. Na verdade, em termos de produção imediata, foi a pior produção de uma classe de calouros desde a 2000, amplamente considerada uma das piores (talvez A pior) classe de Draft da história da NBA. Isso não quer dizer, é claro, que a classe seja ruim, não tenha futuro, ou esteja fadada ao fracasso. Um ano é pouquíssimo para julgar algo assim, e muito ainda vai acontecer daqui para frente. É sempre importante lembrar de ter paciência. Não vamos poder realmente julgar o que essa classe de calouros foi até daqui a pelo menos três anos.

Isso posto, HOLY CRAP, esse primeiro ano foi péssimo. A primeira escolha do Draft, Ben Simmons, não jogou um minuto sequer e perdeu a temporada com uma lesão no pé, em meio a mais um show de incompetência dos médicos e da nova diretoria da Philadelphia. Brandon Ingram, a #2, tinha literalmente o pior WS da NBA inteira até semana passada. Dragan Bender, #4, teve média de 13 minutos por jogo antes de perder o resto da temporada com uma lesão no pé. O #5, Kris Dunn, um calouro de 23 anos, teve média de 3.7 pontos por jogo, arremessando 37.7% de quadra e 29.6% de 3PTs. Você entendeu a ideia.

O melhor calouro dessa classe em 2016 foi, adequadamente, Malcolm Brogdon, uma escolha de segunda rodada (#36 geral). Brogdon já tem 24 anos, então seu potencial não é muito grande, mas o que ele já tem no momento é mais do que suficiente para fazer dele um bom jogador de NBA. O jogo de Brogdon não é chamativo ou particularmente explosivo - embora suas belas cravadas sobre LeBron e Kyrie não tenham sido nada más - mas ele é extremamente valioso por causa de duas coisas: ele faz tudo bem, e ele não faz nada mal.

Parece besteira, mas no basquete de hoje isso é mais valioso do que se pensa: ofensiva e defensivamente, o foco dos times é atacar qualquer fraqueza ou ponto vulnerável do adversário, e jogadores que não oferecem isso são extremamente valiosos na NBA moderna. Essa capacidade de fazer tudo também permite a Brogdon jogar em várias posições e em qualquer função: armar o time, jogar sem a bola quando Giannis está de armador, defender armadores, defender alas, espaçar a quadra... Brogdon faz tudo, e seu altíssimo QI de basquete faz com que ele sempre tome a decisão certa na hora certa. É o tipo de jogador que faz o time melhor, e todo mundo precisa na NBA moderna. Alguém capaz de armar o jogo até certo ponto, chutar 40% de três, defender em alto nível e não ter nenhum defeito no seu jogo é muito valioso, e é o que faz Brogdon liderar a NBA com folga entre calouros em Win Shares (4.1).

Mas essa falta de bons jogadores da classe de 2016 acabou sendo ao mesmo tempo aumentada e ofuscada por causa de dois calouros que não eram desse Draft: Joel Embiid e Dario Saric, ambos escolhidos em 2014 por Sam Hinkie e que só foram estrear na NBA esse ano.

Acho que antes de mais nada podemos concordar que Joel Embiid foi DE LONGE o melhor jogador dessa classe de calouros quando esteve em quadra. Esqueça calouro: Embiid foi um dos melhores JOGADORES da NBA em um nível por-minutos, com médias de 29-11-3 e 3.5 tocos por 36 minutos. Além de ser um monstro ofensivamente, uma combinação de atleticismo explosivo, habilidade para finalizar, ótimo domínio de bola e alcance de 25-ft, Embiid também foi um dos defensores mais dominantes da temporada, liderando toda a NBA em proteção de aro - adversários chutaram 41% perto do aro contra Embiid, 2.5 pontos melhor que o segundo lugar - e transformando o Sixers na MELHOR defesa da NBA nos minutos que esteve em quadra: o time teve 99.1 de  Defensive Rating com Embiid em quadra. San Antonio lidera a NBA com 100.9. O Sixers alias teve +3.2 de saldo por 100 posses de bola com Embiid em quadra, equivalente à 7th melhor marca de toda a NBA.

Então Embiid como jogador esteve em outra estratosfera em relação ao resto da NBA, e se ficar saudável, será um dos jogadores mais dominantes da liga e que pode mudar o jogo. Mas não é o caso ainda: Embiid jogou apenas 31 jogos, com minutos restritos em todos eles, totalizando 768 minutos em quadra apenas. Eu não consigo dar o prêmio para alguém que jogou tão pouco... mas ao mesmo tempo não consigo deixar Embiid abaixo de ninguém na minha lista, porque ninguém chega nem perto dele (nas palavras do grande Tim Bontemps, "Ou Embiid não é elegível, ou o prêmio é dele"). Então optei por deixar o camaronês de fora do meu ballot e dar para ele o prêmio de ROY Moral de 2017. Me processem.

O outro calouro de 2014 desse ano foi Dario Saric, um dos jogadores que eu mais gostei de assistir na reta final dessa temporada. O croata é um ala de 2 metros e 8 que tem um ritmo próprio, pode jogar de armador, e da alguns dos passes mais legais da NBA. Saric começou o ano devagar e teve seus altos e baixos, não sendo dos jogadores mais consistentes e sofrendo um pouco com sua adaptação à NBA, mas desde que Embiid machucou e Saric recebeu as chaves do carro, o croata tem mostrado todo seu repertório e produzido em altíssimo nível: entre 08/02 e 24/03, Saric teve média de 20 pontos, 8 rebotes, 3.5 assistências e arremessou 48% de quadra e 33% de 3PTs em 21 jogos. Esses pontos são arbitrários na temporada, claro, mas mostram um pouco do potencial enorme de Saric. Jogadores com sua combinação de altura, passe, arremesso e QI de basquete são raros - e valiosos.

Então a decisão final acabou sendo entre Saric e Brogdon. Ao longo da temporada, os números dos dois não chamam tanto a atenção: 10-3-4 com 46-40-86 arremessando para Brogdon; 13-2-6 com 41-31-78 para Saric. Saric produziu mais, mas Brogdon foi mais eficiente e é um defensor melhor. Brogdon foi mais consistente ao longo do ano, mas por outro lado não teve um período de dominância como Saric teve naqueles 21 jogos.

No final, a decisão se resumiu ao seguinte: eu acredito que Saric tem um potencial maior, consegue atingir um nível maior, e é o que 90% dos times escolheriam o croata se pudessem escolher um dos dois para seu futuro... mas fazer o que Brogdon fez em um time que briga pelos playoffs e foi dado como morto em diferentes momentos da temporada com as lesões de Middleton e Jabari Parker é especial. Brogdon encaixou de forma muito impressionante nesse time, e sua capacidade de fazer um pouco de tudo e se adaptar a qualquer função foi um fator fundamental para consolidar um elenco talentoso, mas com partes que não se encaixam da forma mais limpa dentro de quadra. Ele pode espaçar a quadra, lidar com a bola, defender... e mais importante, ele pode fazer cada uma dessas coisas quando o time mais precisa de cada uma delas. Fazer o que Brogdon fez em um time que briga por playoffs, se adaptar e tirar ao máximo de suas oportunidades, e mais importante ainda, ser parte fundamental desse crescimento e desse sucesso, é o que fez dele meu calouro do ano.

Ballot final: 1. Malcolm Brogdon; 2. Dario Saric; 3. Jaylen Brown; 4. Jamal Murray; 5. Buddy Hield.
Rookie of the Year Moral: Joel Embiid.


Defensive Player of the Year




Não vou mentir: eu tive Rudy Gobert como meu voto nesse prêmio durante a maior parte do ano. Em um momento onde a NBA está valorizando (e sabendo como medir) cada vez mais proteção de aro, Gobert reina supremo como o rei desse quesito, de longe o melhor protetor de aro da NBA. Com suas gigantescas proporções, surpreendente agilidade e ótimo posicionamento, Gobert contesta mais arremessos perto do aro do que qualquer outro jogador da liga (10.3 por jogo) e segura os adversários a 43,3% nesses arremessos, a segunda maior marca da liga entre jogadores qualificados - e isso sem contar os incontáveis arremessos que Gobert altera antes mesmo de chegarem no garrafão, de jogadores que não querem ter que enfrentar o francês e seus braços gigantes.

Mas duas coisas colocaram Gobert um nível acima defensivamente esse ano, o centro de uma das melhores defesas da NBA. O primeiro foi sua evolução defendendo lances mais longe do aro - sua especialidade - em especial pick and rolls. Com sua agilidade e envergadura, Gobert é capaz de marcar o pick and roll cobrindo os dois jogadores envolvidos, com o ballhandler sabendo que se atacar a cesta vai ter que lidar com os braços gigantes do francês, e ao mesmo tempo usando essa envergadura para cobrir uma linha de passe para o pivô que corre para a cesta. Em outras palavras, Gobert consegue defender o pick and roll praticamente sozinho, sem precisar de ajuda, o que faz dele imensamente valioso em uma liga que vive praticamente dessas duas coisas para iniciar seus ataques: atacar a cesta, e pick and roll.

A segunda coisa é o que foi dito na parte sobre MIP: Gobert melhorou muito seu jogo em outras áreas além da defesa, se tornando especialmente um sólido jogador ofensivo. Isso pode parecer que não influencia no prêmio de melhor defensor, mas indiretamente, existe um efeito: como Gobert faz mais coisas e não tem mais alguns problemas, o técnico pode usá-lo mais tempo em quadra e especialmente em situações de fim de jogo, o que significa mais minutos, mais responsabilidades, e mais oportunidades para Gobert colocar sua defesa em uso - e por sua vez, mais impacto defensivo total (recomendo fortemente esse vídeo do ótimo Mike Prada para quem quer um exemplo visual do que eu falei sobre Gobert).

Mas na reta final da temporada, nos últimos 20 jogos, o jogador que estava logo atrás de Gobert durante todo o ano na minha lista de defensores assumiu o primeiro lugar. E não é que Draymond Green não estivesse jogando excepcional defesa durante todo o ano - afinal, ele ERA o #2 da lista - mas depois da lesão de Durant, Green teve a chance de mostrar os limites da sua capacidade defensiva, e o que ele fez no período foi realmente fantástico.

O Warriors, apesar das críticas que sofreu ao longo do ano, tem a segunda melhor defesa da NBA na temporada, atrás apenas do eterno Spurs. E o que é mais impressionante dessa defesa, e foi um ponto interessante ao longo de todo o ano, foi sua capacidade de proteger o aro mesmo jogando com um pivô em Zaza Pachulia que não é bom nessa função e foi uma grande piora no quesito em relação a Andrew Bogut. Durante boa parte do ano, Golden State superou esse problema graças a seus dois melhores defensores: Green e Kevin Durant, que combinaram para uma proteção de aro fora do padrão, mas igualmente eficiente. Mas quando Durant se machucou, com a sua ausência e a falta de um substituto à altura dos seus braços gigantes, todo mundo esperava que a defesa de Golden State, mais do que o ataque, fosse a grande prejudicada por essa lesão.

Mas isso não aconteceu, e o principal motivo disso foi que Draymond Green aumentou sua defesa ainda mais um nível e compensou a ausência de KD. E isso acontece por um motivo simples: você não pode finalizar perto do aro, se você não chegar até o aro. E não existe hoje um jogador melhor fazendo essa contenção do que Draymond: se Kawhi Leonard é o defensor mano-a-mano mais dominante da NBA, Green é o mais versátil, capaz de marcar o maior número diferentes de jogadores e cumprir mais funções defensivas... e mais importante, Dray é capaz de mudar de forma absolutamente perfeita de função e marcador durante cada jogada, sabendo a hora de trocar, sabendo a hora de ir para a ajuda na defesa só para dar um toco ou para assumir um novo marcador. Durante uma mesma posse de bola, Draymond Green vai defender um pivô no garrafão, trocar em um armador durante um pick and roll, mudar para um ala para aliviar o missmatch, defender o ataque deste à cesta, e acabar a posse com um roubo de bola. É impressionante.

Essa versatilidade e capacidade de fazer tudo em altíssimo nível do lado defensivo é a base da ótima defesa de Golden State, uma máquina de trocar a marcação de altíssimo QI de basquete que é possível graças a essa versatilidade, intensidade, e dominação de Green. E quando Durant foi para a lista dos machucados, Green fez de sua missão pessoal manter a defesa no mesmo nível, e foi o que ele fez, destruindo no processo alguns dos maiores candidatos a MVP do ano como Westbrook, Kawhi e Harden (2x). Esse nível superior, para mim, foi o que definiu meu voto a favor do ala do Warriors.

E embora seja estranho ver Kawhi entrando em terceiro em um prêmio que ele ganhou dois anos seguidos, a impressão que eu tive é que Leonard teve uma ligeira queda desse lado da quadra esse ano - em parte pelo aumento de responsabilidades ofensivas, em parte porque times estão mais espertos em como diminuir seu impacto defensivo - mas ainda é um monstro e não deve nada a ninguém defensivamente. Ele ainda é um dos melhores defensores da liga, se não da história da NBA.

Andre Robertson é mais um dos muito subestimados jogadores de Oklahoma City, mas que teve uma ótima atuação e é um pilar central em uma defesa que tem discretamente jogado muito bem. E por fim, Giannis é um caso engraçado: o grego ainda tem seus problemas defensivos e não é tão dominante no mano a mano como outros jogadores, mas sua enorme versatilidade, capacidade de proteger o aro em altíssimo nível E marcar 5 posições faz dele um dos defensores de maior impacto da liga. Então Giannis talvez não seja um dos 5 melhores defensores da NBA, mas é difícil encontrar 5 jogadores que tiveram maior impacto defensivo na temporada. Faz sentido?

Ballot final: 1. Draymond Green; 2. Rudy Gobert; 3. Kawhi Leonard; 4. Andre Roberson; 5. Giannis Antetokounmpo.


Most Valuable Player


É isso ai. Chegamos no grande momento. MVP - o jogador mais valioso da temporada.

Na história da NBA, já tivemos discussões de MVP extremamente acirradas (87' e 93' vem à mente), mas desde que comecei a assistir basquete eu não lembro de ter visto nada igual a esse ano, tanto no nível dos competidores pelo prêmio, no nível de paridade entre as principais escolhas, e no nível de polarização que o debate assumiu. Todo mundo parece ter seu candidato, e passa um enorme volume de tempo discutindo por que esse jogador merece ser o MVP - ou, muito pior, discutindo porque os outros NÃO podem ser o MVP.

E acho que a coisa MAIS importante sobre a disputa pelo MVP de 2016/17 que você pode saber, e que eu me sinto na obrigação de escrever, é essa (vou até colocar em negrito e itálico para ajudar):

NÃO EXISTE SÓ UM JOGADOR MERECEDOR DO PRÊMIO ESSE ANO!

Recentemente, especialmente nas redes sociais, eu vejo uma quantidade ENORME de pessoas falando que "Não existe outra escolha válida pro MVP a não ser X", ou "Se qualquer um além do jogador Y ganhar vai ser um absurdo"... e isso é ridículo. Essa temporada tem não um, não dois, mas QUATRO jogadores tendo temporadas históricas, cada um no seu próprio mérito, e existe um argumento muito forte a ser feito para cada um deles ganhar o prêmio: Russell Westbrook, James Harden, LeBron James e Kawhi Leonard. Se qualquer um deles ganhar terá feito por merecer e será muito válido, e embora podemos sempre escolher por um deles (eu fiz minha escolha para essa coluna), a pior coisa que podemos fazer é falar ou deixar alguém nos convencer de que só existe uma escolha possível para o prêmio.

Isto posto, vamos ao que interessa: quem é minha escolha para o MVP de 2017?

Nos círculos de debate, os grandes favoritos são Westbrook e Harden, com o armador de Oklahoma City parecendo levar uma certa vantagem. O que, aliás, levou àquele que ao meu ver é o pior argumento dessa corrida: o de que Westbrook merece ganhar o prêmio porque tem média de triple double. Hmm... e dai? A marca de Westbrook é muito divertida, sem dúvida, como qualquer recorde, mas triplos duplos não significam absolutamente nada de concreto - é uma marca arbitrária criada pelo departamento de marketing do Lakers nos anos 80 para exaltar algo que Magic Johnson fazia com frequência no começo de sua carreira. Por mais que seja divertido acompanhar TDs e torcer pela média de West, não existe nada de real que diga que uma média de TD seja mais valiosa do que qualquer outra. E se o argumento for "Westbrook fez algo que ninguém fazia desde os anos 60", pois bem, nenhum outro jogador na história da NBA teve os números que Harden teve esse ano. Ou LeBron. Ou Giannis. Por que devemos valorizar mais os números de Westbrook só por eles atingirem um parâmetro arbitrário mais famoso? Não podemos confundir isso com uma análise real.

E isso é uma pena, porque existe um EXCELENTE caso a ser feito para Russ sem precisar usar esse ponto arbitrário. Deixando de lado o fato dos seus números formarem um triplo duplo ou não, Russel É o líder da NBA com quase 32 pontos por jogo, é terceiro em assistências com 10.4 por jogo, E décimo em rebotes com 10.7 por jogo. Westbrook está tendo que segurar uma carga de trabalho imensa (West tem a maior USG%, que mede quantas posses de bola do time o jogador finaliza através de arremesso, turnover ou falta cavada, da história da NBA) e não desacelerou um minuto sequer, jogando todos os jogos em quinta marcha e ainda sobrando gasolina no tanque para os jogos apertados, um dos feitos atléticos mais impressionantes que eu já vi na minha vida. Russ também foi o jogador mais devastador da liga essa temporada nos finais de jogos, mesmo que fazendo isso principalmente contra times mais fracos, e não foram poucos os jogos que ele decidiu no final por conta própria. E talvez mais importante de tudo, Westbrook manteve o Thunder relevante e nos playoffs mesmo depois da equipe ter perdido um dos 3 melhores jogadores da liga essa offseason.

Do outro lado, James Harden não tem o apelo do triplo duplo de Westbrook, mas seu caso estatístico não é muito mais fraco. Harden está com médias de 29.1 pontos, 11.2 assistências e 8.1 rebotes enquanto manteve sua impressionante eficiência. Sabe quando foi que um jogador da história da NBA teve 29 pontos, 11 assistências e mais de 50% de eFG%? Nunca. Harden é o primeiro. E faz isso do jeito de sempre: cavando uma tonelada de faltas (lidera a NBA em lances livres), moldando seu jogo em um estilo de arremessos muito eficiente (focando seus arremessos perto do aro e na linha de três), manipulando defesas e encontrando passes que apenas outros três ou quatro jogadores no mundo seriam capazes de enxergar e executar.

Além disso, Harden tem uma vantagem quando se trata da performance coletiva. Se a temporada histórica de Westbrook rendeu a Oklahoma City a décima melhor campanha e o 17th melhor ataque da NBA, Harden levou o Rockets à terceira melhor campanha e segundo melhor ataque da liga (e um dos melhores da história da NBA), o que é significativo considerando que antes da temporada muita gente tinha dado o time por morto, e as projeções tinham Houston vencendo apenas 41 jogos esse ano - e isso tudo tendo a terceira maior USG% da temporada.

Então é inegável que as temporadas de Harden e Westbrook renderam o maior foco, e merecidamente. Mas esse foco parece ter desviado a atenção de outras temporadas, igualmente históricas, e que não encontram espaço suficiente nas discussões para serem devidamente valorizadas.

Tomemos LeBron James, por exemplo, alguém que é amplamente considerado o melhor jogador da NBA. Tudo que LeBron fez esse ano foi ter médias de 26.4 pontos, 8.7 assistências e 8.6 rebotes enquanto foi o foco de tudo que o Cavs fez nos dois lados da quadra, um mestre em manipular a quadra e cobrir as fraquezas de todos seus companheiros, enquanto maximiza suas forças. E se isso não parece tão impressionante quanto a produção de West e Harden, vale citar que LeBron é um jogador muito mais eficiente: o King James está arremessando 54% de quadra, 36.3% de 3 pontos e tem eFG% de 59.3, enquanto que Russ tem 42.6 FG%, 34.4 3PT% e 47.7 eFG% e Harden tem 43.8 FG%, 34.5 3PT% e 52.3 eFG%. E para tudo que se fala sobre LeBron ter os melhores companheiros, a verdade é que o time do Cavs despenca sem ele em quadra: +7.7 de Net Rating com ele em quadra, e -8.6 com ele fora (um dado que precisa ser levado com um grão de sal, mas ainda é impressionante). É um absurdo que LeBron esteja tendo uma temporada dessas e esteja atraindo zero respeito como possível MVP.

E é claro, existe um outro ponto a ser considerado e que sempre acaba ficando esquecido quando avaliamos jogadores. No basquete, existe DUAS funções: anotar pontos, e impedir que o outro time faça o mesmo. Ainda assim, nós quase nunca trazemos a defesa à tona quando discutimos o prêmio de MVP ou quem é o melhor jogador, em parte por defesa ser muito mais difícil de se medir ou avaliar.

E se você não me ouviu falar de defesa antes nessa seção do texto, é por um motivo simples: nenhum desses três jogadores citados realmente trouxe algo para a mesa desse lado da bola na temporada. A defesa deles vai desde "irregular" (LeBron) a "consideravelmente abaixo da média" (Westbrook), e suas contribuições se dão - ou se deram, porque sabemos que LeBron é capaz de defender em alto nível quando engajado - no lado ofensivo da quadra. Mas defesa ainda é metade do jogo, e é ai que entra o caso de Kawhi Leonard.

Nenhum dos candidatos a MVP desse ano consegue chegar remotamente perto do impacto defensivo que Leonard tem. O atual bicampeão do prêmio de defensor da temporada é, simplesmente, um dos melhores defensores de perímetro da história da NBA, um pesadelo ambulante capaz de destruir até mesmo os melhores jogadores ofensivos da liga, e é um dos 3 melhores defensores da temporada. Para toda a dominação ofensiva de LeBron, West e Harden, Leonard entrega o mesmo tipo de produção do outro lado.

E não é como se Leonard fosse um jogador defensivo sem jogo no ataque: Leonard tem média de 25.7 pontos por jogo, o sétimo maior USG% da NBA, e é um jogador hipereficiente em todos os tipos diferentes de jogada no ataque, seja conduzindo a bola, seja no pick and roll, seja cortando para a cesta, seja pegando e arremessando... você decide. A linha de Leonard é um excelente 48.6-38-88 com 54.3 eFG%, e essa capacidade de arremessar de forma eficiente em qualquer tipo de jogada é o fato em torno do qual é montado todo o ataque do Spurs, atualmente #7 da NBA. Leonard é um excelente jogador ofensivo.

E na verdade, se fosse escolher quem foi o MELHOR jogador da temporada 2017 da NBA, esse foi provavelmente Kawhi Leonard. Kawhi não tem a produção ofensiva dos demais por não ser tanto um iniciador de jogadas que cria para os companheiros (3.8 assistências por jogo apenas), mas também não está tão distante assim com sua combinação de volume, eficiência, pontuação e versatilidade ofensiva, a ponto de ser um dos 8, 10 melhores jogadores de ataque da temporada... e sua defesa não tem nem comparação com nenhum dos outros três jogadores, estando em um nível completamente superior. E quando juntamos sua contribuição ofensiva (Top10) com sua contribuição defensiva (Top3), nenhum outro jogador da NBA conseguiu ser tão dominante em termos totais: nem Westbrook, nem LeBron, nem James Harden. E Leonard merece crédito de sobra por ser o pilar em torno do qual está montado o ataque E a defesa do segundo melhor time da NBA, que ostenta o sétimo melhor ataque E a melhor defesa da competição.

Mas quanto mais eu esmiuçava, estudava e pensava para tentar decidir qual seria meu voto, mais eu voltava para duas palavras: Mais valioso.  É algo totalmente subjetivo, e a NBA propositalmente não vai nunca esclarecer o que significa para incentivar mais debates e discussões... mas ainda assim, não é o prêmio do melhor jogador. É o prêmio do jogador mais valioso, e foi para esse critério que eu acabava voltando. É, como eu disse, uma questão de CRITÉRIO acima de tudo, mas foi para essa direção que eu acabei seguindo na hora de tomar a minha decisão.

Então por mais que Cleveland e San Antonio sejam totalmente montados em torno de LeBron e Kawhi, respectivamente, nenhum deles é tão profundamente dependente de sua estrela quanto Thunder e Rockets. Leonard e LeBron são ambos o pilar em torno do qual seu time é montado, com sua excelência, versatilidade e consistência, mas esses times podem por vezes se manter com "apenas" boas performances complementares desses jogadores, fazendo o time funcionar sem precisar assumir o protagonismo... enquanto que Rockets e Thunder dependiam mais profundamente não só do jogo de Harden e Westbrook, mas da dominação desses jogadores para fazer seus times funcionar. Então na minha busca pelo MVP da temporada, eu acabei restringindo a discussão aos mesmos dois jogadores que começaram a conversa: Westbrook e Harden.

E boa sorte tentando decidir entre os dois! É extremamente difícil separar esses dois grandes craques em duas temporadas tão históricas. Ambos tiveram papeis absurdamente importantes para seus times, e tiveram temporadas estatisticamente históricas. Westbrook teve a maior produção entre os dois, por pouco; Harden teve sua produção de maneira consideravelmente mais eficiente, mas também teve uma USG% menor. Westbrook foi melhor nos momentos finais das partidas, mas também viu seu time precisar de mais jogos apertados. Westbrook foi mais explosivo e teve jogos mais espetaculares; Harden foi mais consistente e raramente tirava seu time dos jogos com uma má atuação.

No final, se resumiu ao seguinte para mim: eu achei que Harden, isoladamente, teve uma temporada um pouco melhor do que Westbrook. Westbrook teve uma produção maior, mas Harden foi o mais eficiente dos dois por uma boa margem, e ele fez mais com o talento que tinha nas mãos: se considerarmos que ambos foram defensores abaixo da média esse ano (Harden foi um pouco melhor) e que suas contribuições se deram principalmente ofensivamente, a diferença é ainda mais impressionante do que a diferença de campanha entre os dois times, com o ataque liderado por Harden sendo o segundo melhor da NBA e o por Westbrook o décimo sétimo.

Parte disso se da, inclusive, pela diferença de estilo entre os dois jogadores: as assistências de Harden são mais (na falta de um termo melhor) mais "valiosas" do que as de Westbrook porque levam a mais arremessos de três pontos, enquanto as de Westbrook levam a mais arremessos de dois. Além disso, o estilo de passe de Harden é mais baseado em ler a defesa, manipulá-la, e criar espaços - espaços estes que não levam apenas a assistências, mas a novas chances que seus companheiros podem criar com esses espaços, como evidenciado por Harden ser 3rd na NBA inteira em "assistências secundárias", a assistência para a assistência. Westbrook não tem esse lado tão cerebral e de manipular as defesas para sua vantagem - o que ele faz é simplesmente bater quem quer que esteja na sua frente, forçar uma mudança na defesa, e dai usar essa mudança para achar um companheiro livre. Isso é extremamente valioso por conta própria - afinal, Westbrook gera uma penca de cestas fáceis com isso - mas ele também leva a uma estagnação caso a assistência não se concretize, não abrindo tantos espaços para continuar a jogada, e por isso Westbrook é apenas 28th na NBA nessas assistências secundárias, um número muito baixo para alguém que da tantas assistências e joga tanto com a bola nas mãos.

O problema, claro, é que isso se tomados isoladamente. Mas em contexto, Harden tem uma vantagem sobre Westbrook pela situação em que se encontra. Embora eu não engula - e você também não deveria - essa história de que Westbrook tem um péssimo elenco de apoio e muito inferior ao de Harden, o que simplesmente não é verdade, o que acontece é que as peças ao redor de Harden encaixam de forma melhor ao redor de Harden no sistema implementado pelo técnico Mike D'Anthony, enquanto que embora Westbrook tenha companheiros de time tão bons quanto, eles não possuem um encaixe tão natural uns com os outros (e com Russ), o que torna mais difícil jogar de forma a extrair o máximo de todos eles. Então embora eu ache que Harden foi melhor do que Westbrook, ele também joga em um sistema e um coletivo que favorece seu jogo mais do que o ex-colega. Como avaliar isso?

E foi enquanto eu sofria com essa questão e com esse dilema que eu achei minha resposta. E quem me ajudou a chegar nela foi um jogador que atende pelo nome de Nikola Jokic.

Jokic é um excelente jogador e uma das mais jovens estrelas da NBA, um pivô passador de excelente qualidade ao ponto de que Denver abandonou toda sua forma de jogo durante a temporada para se reconstruir ao redor das suas habilidades únicas de passe. Desse momento em diante, Jokic teve médias de 20 pontos, 11 rebotes e 6 assistências por jogo com 58 FG%, e Denver teve o melhor ataque da NBA inteira, na frente até mesmo da imbatível máquina da morte de Golden State, marcando 113.2 pontos por 100 posses de bola.

O que eu percebi então foi o seguinte: se você tirasse Jokic desse sistema construído especificamente em torno dele e de suas habilidades de passe, com 100% de certeza o sérvio não teria o mesmo desempenho e não acumularia esses números absurdos... mas ao mesmo tempo, é impossível que Denver jogasse de forma a extrair o máximo desse elenco se não fosse POR CAUSA desse sistema, que por sua vez só é possível por causa das habilidades únicas e excepcionais de Jokic. Ele é beneficiado individualmente pelo sistema, mas o sistema também depende dele para ser possível... e se esse sistema torna o time como um todo melhor e mais dominante, então Jokic deve receber créditos por tornar isso possível, e não o contrário.

E foi por isso que eu tomei minha decisão de que James Harden é o meu MVP da temporada 2017 da NBA. Sim, é verdade que o sistema do time maximiza as habilidades de James Harden e aumenta seu impacto, mas também são as habilidades de Harden que maximizam e tornam possível o funcionamento do sistema ofensivo do Rockets, e essa combinação que elevou o time inteiro do Rockets a um novo patamar... e quando você pensa a respeito, é a forma mais importante que se pode afetar um time de basquete. O elenco inteiro do Rockets só encaixa tão bem entre si, e com o sistema de D'Anthony, por causa de James Harden, e se isso faz o Rockets ser o ataque #2 e time #3 da NBA... então sim, Harden merece os créditos por fazer isso acontecer.

E embora Westbrook também tenha um sistema desenhado ao seu redor para tirar o máximo de suas habilidades (e sim, ajudá-lo a ter média de triple double), o encaixe desse time é mais difícil em parte porque o encaixe com Westbrook é mais difícil. Você precisa tirar jogadores da sua zona de conforto, adaptar mais suas habilidades para sair do caminho de Westbrook (o melhor exemplo sendo o calouro Domatas Sabonis), e isso acaba limitando mais o teto do time... que, sem a menor dúvida, só é alto como é devido ao próprio Westbrook. Boa parte disso não é culpa de Russ, é questão de montagem de elenco... mas também não é justo ignorar a importância de Harden para fazer o tão falado "sistema" funcionar em um nível tão alto.

Por isso que, no fim do dia, faz sentido que o Rockets seja um time melhor do que o Thunder. Talvez Harden estivesse em uma situação mais favorável para brilhar em um nível mais alto, mas ele FEZ acontecer e levou seu time com ele, e isso é que realmente diferenciou os dois para mim.

Então James Harden é meu MVP. Se você tem uma opinião diferente, ótimo: não existe só um critério, e muito menos só uma linha de raciocínio para se chegar em uma conclusão. Caso se de ao trabalho de procurar, vai encontrar MUITOS artigos bons e inteligentes defendendo escolhas de MVP que serão diferentes da minha (e outros que defendem a mesma). Não existe uma verdade sobre quem deva ganhar o prêmio. A única verdade que eu defendo é que não podemos limitar essa fantástica disputa a uma opinião absoluta que aponte um único jogador como merecedor.

O resto é história.

Ballot final: 1. James Harden; 2. Russell Westbrook; 3. Kawhi Leonard; 4. LeBron James; 5. Stephen Curry; 6. Giannis Antetokounmpo; 7. John Wall; 8. Isaiah Thomas; 9. Anthony Davis; 10. Rudy Gobert.

Fontes: Synergy Sports; NBA.com/stats; Basketball-Reference; NBA Stats & Info; e uma tonelada de horas no NBA League Pass.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

8 motivos para se animar com a temporada 2017 da MLB




Como você talvez tenha ouvido recentemente, o TM Warning está de volta!

E para meu primeiro post de retorno, eu estava em dúvida se iria fazer um de MLB ou de NBA. Acabei decidindo por MLB por um simples motivo: eu já tenho TRÊS colunas gigantes de NBA prontas para as próximas semanas, e como a MLB começou no último domingo, me parece justo falar um pouco de baseball antes de entrarmos nos playoffs da NBA - época que o basquete vai dominar por aqui.

Então com a temporada ainda cedo demais para tirar conclusões ou fazer qualquer tipo de análise, vamos fazer o contrário: passar rapidamente por alguns pontos de interesse da temporada, e que você pode usar para acompanhar a MLB ao longo do ano. São 162 jogos de temporada, e histórias é o que não vai faltar.

E se você é um leitor antigo que está com saudade dos textos enormes e analíticos, e está decepcionado e/ou preocupado que esse texto foge um pouco desse padrão, não se preocupe: minha ideia nesse começo de retorno é experimentar com formatos e periodicidades diferentes, e para ter semanas com textos gigantes talvez tenhamos que ter semanas com formatos mais curtos e rápidos. Ainda vamos ver. Mas só digo o seguinte: textos gigantes estão vindo por ai.

Então sem mais delongas...

8 Motivos para se animar com a temporada 2017 da MLB


1. A melhor cobertura da MLB

O baseball tem crescido cada vez mais no Brasil, e cada ano parece que a cobertura da Major League Baseball por aqui atinge um novo nível. O que não é de se surpreender: cada vez mais interessados surgem, e é natural que o nível de cobertura vá aumentando conforme mais pessoas e empresas buscam alcançar esse ritmo de crescimento. Nos últimos anos tivemos cada vez mais transmissões televisivas, livros publicados (inclusive o meu favorito, Moneyball), mais blogs e sites especializados, e uma qualidade cada vez maior por parte do público.

Esse ano não é exceção. Para começar, tem algo inédito aqui no Brasil, um trabalho único e extremamente extensivo: estou falando, claro, do Guia da Temporada 2017 da MLB, projeto em formato de e-book que eu lancei junto do Vinicius Veiga, do Casa do Beisebol, e do Erlan Valverde, do Segunda Base. É um guia de mais de 200 páginas que tem tudo que você pode querer saber sobre a temporada 2017, e mais: tem um preview de cada um dos 30 times da MLB, resumo da temporada 2016, textos contando a história do esporte, e muito mais. O livro é um excelente companheiro para se ter ao longo dessa temporada, disponível na Amazon em formato e-book por 19,99.

Além disso, temos hoje muitos blogs de alta qualidade. Eu já citei dois hoje, que são os meus favoritos: o ótimo Segunda Base, tradicional já no mercado, e o novo (mas com experiência de sobra) Casa do Beisebol, ambos com muita qualidade e um acompanhamento excelente para a temporada. Mas não são os únicos: tem vários outros sites e blogs bons, e muitos outros perfis nas redes sociais dedicados a seguir uma liga, um time e até mesmo um bom jogador. Não importa qual seja seu estilo ou sua preferência, seu time ou seu gosto, você vai achar alguma cobertura que se encaixe com o que procura.

E se você está chegando agora e quer conhecer mais, e saber como acompanhar o esporte, não tem problema. Deixo aqui dois textos que vão te ajudar não só a entender as regras e o funcionamento de uma partida, mas também a entender as estatísticas usadas no esporte, e vai te dar uma introdução a esse mundo extremamente interessante das estatísticas avançadas:

Entendendo o jogo de baseball - Um detalhamento para quem está chegando agora e quer entender não só as regras, mas como é o funcionamento de um jogo de baseball;

Baseball e as estatísticas - Um passo a passo explicando a origem e o funcionamento das principais estatísticas avançadas que você encontra disponíveis no baseball hoje

Aproveitem, porque é um momento muito bom para ser fã desse esporte no Brasil.


2. A explosão ofensiva

Se você gosta de bons ataques, jogos com placares altos e muitos Home Runs, ninguém vai te julgar. É muito normal -  a própria MLB sabe desde sempre que nada atrai mais fãs e mais audiência do que placares altos e jogos movimentados.

E se for o caso, eu tenho boas notícias para você.

A verdade é que os ataques da MLB foram minguando aos poucos desde que tiveram seu auge histórico na famosa Era dos Esteroides, no final dos anos 90/começo dos anos 2000, época um tanto quanto controversa na qual a MLB deu seus jeitinhos para facilitar o uso de PEDs pelos seus jogadores, o que resultou em uma geração de jogadores extremamente musculosos e longevos que rebatiam 50 HRs por ano. Com o passar do tempo, o antidoping da MLB foi ficando mais sério, o jogo começou a dar um ênfase maior em defesa e arremessos, e aos poucos as pontuações dos jogos foram caindo cada vez mais, enfim atingindo seu ponto mais baixo em 2014, a 8.13 corridas por jogo.

Até que algo interessante aconteceu. Veja o gráfico abaixo, que mostra a evolução de corridas por jogo nos últimos 11 anos...



Começando em 2015 e dando um salto ainda maior em 2016, os ataques começaram a voltar. E quer saber o principal motivo por trás dessa reviravolta?



É isso mesmo que você viu: não só os HRs da MLB voltaram a aumentar, mas eles atingiram em 2016 um nível ainda superior a 2000, o auge absoluto da Era dos Esteróides. Em 2016 foram rebatidos mais Home Runs do que em qualquer outro momento da história do esporte, eles ajudaram a impulsionar essa retomada dos ataques explosivos na MLB.

Tem alguns motivos para isso ter acontecido, e eu espero com o tempo começar a mostrar a vocês quais são eles. Mas por enquanto, basta dizer o seguinte: os ataques estão voltando com muita força, e vai ser muito interessante ver se essa tendência continua em 2017.


3. Uma nova geração

Ao final da temporada 2016, uma tendência engraçada, que já vinha se desenhando nos últimos anos, parecia se consolidar de uma vez por todas. O AL MVP foi Mike Trout (mais daqui a pouco), de apenas 25 anos, e o NL MVP foi Kris Bryant, de 24. Entre os finalistas de ambos os prêmios, também tivemos Mookie Betts, de 23 anos, terminando em segundo na AL, e Corey Seager, de 22, terminando em terceiro na NL. Manny Machado, de 24 anos, e Nolan Arenado, de 25, foram os quintos colocados.

Entre os arremessadores, dois dos três melhores da NL em 2016 (e os dois líderes em fWAR) foram jovens de 24 anos, Noah Syndergaard e o falecido Jose Fernandez. O líder da AL em ERA foi Aaron Sanchez, também com 24 anos.

A verdade é que a MLB está vendo um movimento sem precedentes na sua história na direção de grandes talentos e estrelas cada vez mais jovens. Os jogadores parecem estar chegando cada vez mais preparados e avançados das ligas menores e até do Draft, e os times estão parecendo perceber isso cada vez mais. Veja o gráfico abaixo:




O motivo é difícil de precisar exatamente: a redução contínua do uso de PEDs reduziu o número de jogadores mais velhos sobrevivendo de doping; o avanço das estatísticas avançadas tornou mais fácil identificar (e de forma mais confiável) jovens talentos no Draft e nas categorias de base; um melhor aproveitamento desses talentos (até em termos físicos) com métodos cada vez mais modernos de condicionamento, desenvolvimento físico e medicina esportiva; o influxo cada vez maior de jogadores estrangeiros; e por que não, talvez até mesmo uma geração excepcionalmente talentosa de novos jogadores.

E esse influxo também tem efeitos muitos positivos sobre a competitividade da liga: não só temos mais bons jogadores, como isso significa que é mais fácil e mais rápido para um time se reconstruir, e isso também tem aumentado a variância das performances dos times ao longo da temporada, tornando a liga ainda mais competitiva. Entre isso, um aumento no nível de jogo, e a chegada de cada vez mais estrelas carismáticas, o efeito é dos mais positivos para quem acompanha o esporte.


4. Mike Trout

Qualquer esporte, em qualquer época, vai ter seus grandes talentos - jogadores que entrarão para a história do esporte. Recordistas, Hall of Famers, ou simplesmente jogadores extremamente memoráveis. O baseball não é exceção, e sempre é importante valorizar aquilo que temos enquanto podemos.

Mike Trout, no entanto, vai um passo além. Em parte por não ser um jogador midiático, e em parte por jogar em um time horrível, mas Trout não recebe o valor que merece. Esqueça ser o melhor jogador do baseball na atualidade, o que Trout é desde sua primeira temporada completa nas grandes ligas em 2012: o CF do Angels talvez seja o melhor jogador de todos os tempos.

Não acredita em mim? Mas a verdade é que nenhum jogador com a idade de Trout nunca foi tão bom quanto ele na história do esporte. Em 5 temporadas, esses são os números de Mike Trout na carreira: 168 wRC+, e 47.7 fWAR. O único outro jogador em 120 anos de história do baseball que conseguiu atingir essas marcas aos 24 anos foi... ninguém! Nunca aconteceu! O que ele está fazendo é sem precedentes na história do esporte.

Um outro exemplo, cortesia de um dos meus autores favoritos, o grande Jonah Keri, em sua fantástica coluna anual sobre os 50 jogadores mais valiosos da MLB:



Essa é uma comparação entre os primeiros anos completos da carreira de Mike Trout com os cinco primeiros anos da carreira do lendário Willie Mays. Em outras palavras, nos seus cinco primeiros anos, Mike Trout tem sido praticamente igual a Mays, que é amplamente considerado um dos 3 melhores rebatedores da história do esporte... e Trout é TRÊS ANOS mais novo do que Mays era, jogando em uma época muito mais competitiva.

Então você pode discordar da minha afirmação sobre Trout ser talvez o melhor jogador da história da MLB, mas não deixe isso fechar seus olhos para o que ele está fazendo, e para a história sendo escrita diante dos seus olhos. Aproveite enquanto pode esse jogador que, na sua curta história na MLB, não está devendo nada para as maiores lendas desse esporte. Não é sempre que temos a chance de ver algo assim. E considerando que jogadores da MLB normalmente tem seu auge em torno dos 27 anos, é muito provável que ainda não vimos o melhor de Mike Trout.


5. O possível surgimento de uma nova dinastia

O Jogo 7 da World Series de 2016 não foi só um dos maiores jogos da história desse esporte, e o final perfeito para uma das suas melhores World Series. Foi também a coroação de uma temporada fantástica do Chicago Cubs, que já tinha dado mostras de se tornar uma potência em 2015, mas deu um salto ainda maior em 2016. Foram 103 vitórias, disparado a maior marca da temporada, e com uma mistura impressionante: segundo melhor ataque da liga, a quarta melhor rotação, e uma defesa que não só foi a melhor da MLB como foi uma das melhores da história do esporte. Embora isso nem sempre aconteça - na verdade, é mais exceção do que regra - a verdade é que a World Series de 2016 coroou aquele que realmente era o melhor time.

E o que é realmente assustador é que esse time do Cubs, além de excelente e dominante, ainda é extremamente jovem. Seu MVP, Kris Bryant, tem 24 anos. Anthony Rizzo, sua segunda estrela, tem 27. Seu campo interno é complementado pelos muito promissores Javier Baez, de 24 anos, e Addison Russell, de 23. Kyle Schwarber, que perdeu o ano de 2016 quase inteiro mas é um excelente rebatedor, e Willson Contreras, possível catcher do futuro, tem 24. O time até mesmo conta com uma ótima categoria de base apesar de todas as promoções, liderado por Ian Happ. É um excesso gigante de jogadores jovens, ao ponto de que o Cubs está até tendo problemas para colocar todos esses jovens talentos em campo ao mesmo tempo.

Em outras palavras, não é só que o Cubs tenha conseguido ser bom durante um ano, mas eles também fizeram isso com um elenco jovem e que ainda jogará junto por um bom tempo. Muitos times são campeões e depois se desmancham com saídas, ou veem seus principais nomes decaírem com a idade, mas Chicago ainda possui a grande maioria desses jovens jogadores sob contrato por mais bons anos, e dada a pouca idade desse núcleo o mais provável é que eles ainda MELHOREM com a idade antes de decair. E se Chicago conseguir usar esse excesso (positivo) de jovens talentos para cobrir as áreas que não são tão jovens do seu time (rotação, principalmente), com a manutenção e evolução esperada desse núcleo, podemos não estar apenas olhando para um campeão em uma temporada histórica, mas por uma nova dinastia na MLB.


6. O ótimo estado das franquias do esporte

Se você acompanha a NBA, você sabe que a liga tem muitas franquias que estão em uma situação muito ruim. Times que não tem bons talentos para o presente, mas também não tem muita perspectiva de melhora com jovens talentos, complementados por uma diretoria de competência questionável - times como Orlando, Nets ou Kings, por exemplo. Na NFL também temos essas franquias que são quase uma piada, como o 49ers ou o Jets. Não são apenas times ruins, mas franquias que parecem presas à estaca zero.

Mas, interessantemente, na MLB isso parece estar em um bom momento. Você sempre, em qualquer liga, vai ter times bons e times ruins, mas os times ruins da MLB não parecem estar tão presos e sem perspectiva como os da NBA ou NFL. Os piores times da liga - como Philadelphia, San Diego, Atlanta, Brewers e White Sox - são aqueles que possuem alguns dos melhores sistemas de base da MLB, e portanto estão no começo de uma reconstrução mas já com boas perspectivas de sucesso - não são times presos e sem futuro.

Os piores times nesse sentido são aqueles que estão presos na mediocridade, como Los Angeles Angels ou Arizona Diamondbacks, times que estão presos no meio da tabela sem perspectiva de melhora, mas mesmo esses não são times horríveis: são times com superestrelas e bons jogadores que com um pouco de sorte podem sonhar com uma vaga nos playoffs. Não é que TODOS os times da liga estejam bem ou em uma boa trajetória, mas nenhum parece ser um modelo de estagnação no fundo do poço, uma piada recorrente para quem acompanha o esporte.

Existe mais de um motivo para isso: o maior sucesso de jogadores jovens (ponto 3) ajuda muito times em reconstrução, pois torna mais seguro e mais valioso os jovens prospectos; uma nova leva de executivos mais analíticos e menos presos às tradições levou a uma melhora no nível coletivo das diretorias ao redor da liga; e talvez pela estrutura financeira nova da MLB times estão com menos medo de aceitar engolir derrotas por alguns anos enquanto acumula prospectos e prepara uma reconstrução. Qualquer que seja o motivo, é um bom sinal para a Major League Baseball e para suas perspectivas de médio prazo.


7. Um esporte com cada vez mais emoção

Baseball é um esporte que tem uma das tradições mais estúpidas da história dos esportes: a ideia de que mostrar algum tipo de emoção dentro de campo é um insulto ao esporte e à sua história. Eu acho que a ideia de que você não pode se divertir jogando o esporte que gosta é uma das coisas mais contraditórias possíveis, já que esporte é para ser divertido, mas é como o baseball viveu por muitos anos. Se algum jogador parasse tempo demais para admirar um Home Run, ou comemorasse de maneira "imprópria" uma jogada, os adversários logo começavam uma briga ou o arremessador adversário jogaria uma bola nele.

Esse tipo de tradição foi perpetuada em parte porque o baseball sempre foi e se orgulhou de ser (muitas vezes, em detrimento próprio) um esporte "separado" dos fãs, onde as pessoas "de dentro" conheciam como o jogo era e se viam como responsáveis por mantê-lo puro - quem leu ou assistiu Moneyball sabe do que estou falando. Como ele era feito é a forma que DEVIA ser feito, ou pelo menos era como seguia o raciocínio.

Felizmente já faz algum tempo que isso começou a mudar. Embora o esporte ainda esteja apenas começando a dar seus passos para eliminar esse tipo de coisa, já é notável a evolução, e até mesmo a própria MLB parece estar empenhada em deixar o jogo mais relaxado e divertido nesse sentido, ficando cada vez mais estrita e sem medo de dar punições a jogadores que começam brigas ou desentendimentos. Isso também foi bastante ajudado por uma nova geração que chegou no baseball, tanto de jogadores (cada vez mais jovens, como já foi dito) como de dirigentes, que não carregam em si esse "compromisso" de manter o jogo "puro" - especialmente se puro significar "sem diversão".

E talvez o principal fator que começou a mudar o esporte foi o influxo cada vez maior de jogadores latinos. A tradição de não permitir emoções ou manifestações pessoais dentro de campo sempre foi uma tradição norte-americana (muitas vezes dos jogadores mais... como dizer isso de forma delicada? Brancos), mas os jogadores recém-chegados da América Latina não tiveram esse tipo de formação. Para eles, o esporte é uma diversão, e é assim que se comportam - fazendo jogadas imprevisíveis e criativas, mostrando suas emoções, gritando e comemorando, e em geral se tornando jogadores muito mais relacionáveis para os torcedores comuns.

O jogador que melhor simbolizava isso, infelizmente, era José Fernandez, o arremessador do Miami Marlins morto ano passado, e um dos meus heróis no esporte. Um refugiado cubano que chegou a estar preso e teve que mergulhar em alto mar para salvar a vida da própria mãe, Fernandez foi até hoje o jogador que mais pareceu se divertir em um campo de baseball que eu já vi na vida, alguém que tinha uma animação e um entusiasmos tão genuínos e sinceros por estar livre e podendo jogar baseball  que era impossível não ficar contagiado.

Fernandez comemorava suas boas jogadas, ria dos seus lances mais incríveis, ria e vibrava quando seus ADVERSÁRIOS faziam uma jogada empolgante, e comemorava Home Runs como se tivesse acabado de ganhar uma World Series, e não ligava para o que os outros pensassem. Fernandez era uma bola de alegria e empolgação que fazia o esporte valer muito mais a pena, e tão genuíno que isso contagiava colegas e adversários igualmente - inclusive muitos que, em outros momentos da carreira, teriam sido os que iriam tirar satisfação com alguém que mostrasse tanta emoção em campo. Fernandez pode ter partido de forma trágica e prematura, mas mais do que o talento fantástico, mais do que os arremessos impossíveis, essa alegria sempre será seu legado para o esporte, para fãs, colegas, técnicos e cartolas.

E isso só faz bem para o esporte. Embora sempre tenha aquela parcela conservadora da torcida que ache isso um absurdo e uma quebra do "decoro" do esporte, existe uma parte muito maior que sabe o quão isso é bom para injetar nova vida em um esporte que parecia "morto" em muitos momentos dos últimos 20 anos. Hoje jogadores estão começando a poder se expressar e se divertir muito mais em quadra, e os torcedores e fãs podem se identificar muito mais com esses seres humanos do que com as máquinas de rebater que o baseball queria vender. A transformação e "libertação" ainda não está completa, claro, e ainda terá seus percalços. Mas ela está fazendo o baseball caminhar em uma direção muito melhor do que antes.


8. Baseball é um esporte muito divertido

Sim, sim, eu sei - o baseball ainda enfrenta bastante preconceito por pessoas que o consideram um esporte "chato", E eu entendo alguns dos motivos: é um esporte lento, onde cada confronto demora vários arremessos, tem muitas pausas nas trocas de entrada ou arremessador, e costuma demorar mais de duas horas. As principais reclamações vem da falta de dinamismo nas partidas, com um jogo que evolui lentamente, e os lances mais empolgantes são muito mais pontuais.

Mas esse ritmo lento, esse jogo que vai parando mesmo durante um confronto, é parte do que torna o baseball tão legal: como ele é um jogo que se desdobra lentamente, isso significa também que é o jogo mais fácil para quem assiste acompanhar o que está acontecendo. E não digo isso no sentido de "tem mais tempo para ir no banheiro", mas sim que essa cadência nos permite acompanhar melhor o que cada jogador está pensando, como está se ajustando, a cada momento. Baseball as vezes funciona como um jogo de probabilidades: com a contagem 0-2, o arremessador é mais provável de lançar uma bola fora da zona de strike para induzir o rebatedor (que por sua vez precisa proteger a zona de strike e não sofrer o strikeout) a ir para uma rebatida ruim... mas o rebatedor também sabe disso. Qual a melhor forma de atacar? Como o rebatedor pode se defender?

O jogo de baseball é composto de milhares de pequenos fatores que mudam essas probabilidades em uma direção ou outra, e ver isso se desdobrando ao longo do jogo é um dos fatores mais legais do esporte: para um arremessador, é importante não cair em um padrão (e se tornar previsível), então ele precisa . E o ritmo lento e candenciado do esporte nos permite acompanhar essas mudanças, acompanhar os desenvolvimentos em tempo real, e nos imergir realmente não só no que está acontecendo, mas no que está por trás do que está acontecendo.. E não é como se o esporte tivesse falta de jogadas atléticas ou impressionantes - é só procurar qualquer vídeo de highlights do Andrelton Simmons, Mike Trout ou Kevin Kiermeyer no YouTube - e essa mistura entre os dois momentos do esporte, o lento e cadenciado com o explosivo e dinâmico, é o que torna o esporte tão atraente.

Além disso, a natureza individual e repetitiva do esporte tem uma outra vantagem: produz as melhores estatísticas. A natureza extremamente individual do baseblal - o confronto entre arremessador e rebatedor, cada jogada sendo isolada em si mesma, etc - é perfeita para isolar cada fator do jogo e consolidar isso em números e análises, e não só a amostra é gigantesca (162 jogos) como pela natureza de repetição do baseball você vê cada situação específica um alto número de vezes, o que te da uma amostra grande o suficiente para tornar as estatísticas significativas, como também consegue quebrá-las em níveis muito pequenos, cada vez menores, para entender o que está acontecendo em quadra. Existe um motivo para a revolução analítica pela qual vários esportes passam ter se originado no baseball.

Então sim, pode ser que baseball realmente não seja o esporte para você, que tenha tentado e desistido. Não tem problema. Mas se não for o caso, você realmente deveria dar uma chance. Existe um número altíssimo de fatores contribuindo para um esporte cada vez mais divertido, cada vez mais empolgante, e as vezes as pessoas não se aproximam disso por um preconceito ou ideia preconcebida.

sexta-feira, 31 de março de 2017

O TM Warning está de volta

"I'm back!"


É isso ai mesmo que você leu: O Two-Minute Warning está oficialmente de volta depois de um longo, longo hiato. E por "de volta", leia-se que voltaremos a ter aqui uma atividade regular, como nos velhos tempos.

O que acontece é que infelizmente, com a idade e com as mudanças da vida, ficou cada vez mais difícil dedicar ao blog o tempo e atenção que ele merecia. Não é novidade para os leitores antigos que eu sempre gostei de fazer textos grandes e analíticos, e esses textos eram demorados e desgastantes. O tempo começou a diminuir, e também a motivação para continuar fazendo essa atividade dessa maneira. E embora a atividade do blog continue firme e forte nas redes sociais - em especial no Twitter - o TM Warning acabou ficando em segundo, terceiro, quarto plano, e acabou basicamente morrendo.

Ao mesmo tempo, com o tempo, a falta do blog começou a pesar mais. Tanto como fonte de diversão, como uma forma de esvaziar a cabeça do mundo real. Afinal, eu amo basquete, baseball, futebol americano, e falar e escrever de tudo isso. E conforme isso foi pesando mais e mais, foi aumentando a vontade de retomar o blog e esse desafio.

E é por isso que eu decidi que vou retomar. Mas queria fazer isso direito: com alguma regularidade, com padrão, e com um formato definido. O desafio, claro, é encontrar um formato que funcione, que de a motivação necessária, que seja compatível com meu tempo livre, e que seja interessante suficiente para engajar vocês, leitores.

Por isso, ainda não posso dizer que a volta é definitiva. Podemos chamar um período de experiência: pelos próximos dois ou três meses, vou experimentar com diferentes periodicidades, formatos, tipos de coluna, etc. Ao longo deles, espero entender melhor o que funciona ou não para mim, e claro, para vocês também. Saber como o público vai reagir a isso, e se estaria disposto também a acompanhar o que eu escrevo. E só ao final dessa experiência poderei dar meu veredito de como será daqui para frente.

Por isso também peço a colaboração de todos vocês. Feedbacks serão muito bem vindos: sobre periodicidade, formato, colunas, temas, etc. Quero suas sugestões, suas críticas, suas recomendações, etc. Não vale a pena fazer todo esse trabalho se ninguém for ler e ninguém gostar, então quero saber exatamente o que vocês estão pensando de tudo isso para poder melhorar cada vez mais essa experiência e talvez achar o formato que eu procuro.

É isso. Semana que vem começamos, e a primeira coluna do RETORNO deve vir próxima do final da semana, a princípio.

Valeu!

quarta-feira, 15 de março de 2017

Guia da temporada MLB — 2017



Depois de muito trabalho, muito espera e muitas horas no Fangraphs, é com enorme prazer que anunciamos a grande novidade do Segunda Base, em parceria com o TM Warning, para 2017: O Guia da Temporada 2017 da MLB!!

Um projeto inédito no Brasil, o Guia MLB 2017 foi um esforço conjunto para trazer até você, o leitor, a cobertura completa não só de tudo que você precisa saber sobre a MLB para a temporada que se aproxima, mas também contém um giro por toda a história do esporte, desde os primórdios do beisebol até se tornar o esporte que conhecemos hoje.

O guia é composto principalmente de três partes. A maior, e mais importante, é a prévia de temporada 2017 da MLB. Começando com um resumo da fantástica temporada 2016, o Guia trás, para cada um dos 30 times da MLB, uma análise muito completa e aprofundada sobre tudo que você precisa saber: além de uma ficha completa de cada time, ele trás análises de fatores como a situação atual da franquia no cenário do beisebol norte-americano, seu elenco com suas forças e fraquezas, como está projetada sua situação de arremessadores, e como o estado das suas categorias de "base" posiciona o time para o futuro. Além disso, trouxemos previsões oficiais de sites especializados para o total de vitórias de todas as franquias para 2017, para saber como as estatísticas estão enxergando esses times no momento atual.

Mas o Guia não se limita a falar do futuro. Ele também trás um forte conteúdo histórico, com textos especiais que contam - através de assuntos específicos - a história de toda a Major League Baseball, e os fatores que contribuíram para seu desenvolvimento e suas mudanças ao longo dos anos: A Dead Ball Era, Babe Ruth, a relação do esporte com as Guerras Mundiais, a entrada de jogadores negros e latinos, e muito mais. Não existe esporte que seja mais conectado com seu passado que o beisebol, e entender os passos que foram tomados para chegar até aqui é fundamental para entender a própria MLB.

Por fim, em um caráter mais pessoal, nós trouxemos histórias pessoais dos autores sobre nossa própria relação com o esporte, contando cada um uma história sobre como entramos em contato com o beisebol, e também o que fez com que nos apaixonássemos pelo esporte.

E além disso, o Guia também tem um conteúdo mais do que especial voltado para quem gosta de apostar no esporte, seja um veterano ou um novato. Com um manual do apostador e várias dicas, esse é um ótimo ativo para qualquer um que goste das apostas, tanto para quem já conhece o mercado como para quem está começando agora.


É realmente um trabalho único, completo, e totalmente imperdível!!

Para adquirir o Guia MLB 2017, é muito simples. Basta clicar no link abaixo e comprar na Amazon a versão e-book por R$ 19,99.



O que está esperando? Garanta já o seu Guia MLB 2017, o maior e mais completo Guia sobre a MLB de lingua portuguesa já feito, e fique por dentro de tudo que você precisa saber sobre a temporada que se aproxima!!

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*Um agradecimento mais do que especial ao grande Marcelo Mazzini, designer do Segunda Base. Mais um projeto em que ele nos ajudou. Somos muito grato a ele.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Palpites da Semana - Rodada 3


As duas primeiras semanas da temporada regular da NFL são bastante cruéis e enganadoras. Sim, as campanhas delas são importantes para disputar quem vai para os playoffs e tudo mais, mas a principal função delas é criar ilusões em nossas mentes para depois destruí-las.
E em geral elas trabalham em conjunto: a primeira é uma semana onde, com muito pouca base anterior, nós adoramos tirar conclusões, criar cenários para o resto do ano, e basicamente tomar nossas primeiras impressões — baseadas em uma amostra minúscula e insignificante — como verdades. E, munidos dessas primeiras impressões, nós vamos para a semana 2… onde essas primeiras impressões se repetem (e, nesse caso, achamos que elas se confirmaram!) ou são destruídas (e nesse caso achamos que elas eram completas fraudes). Ou a Semana 2 já nos destrói as ilusões, ou reforça-as para que possivelmente sejam destruídas depois. Um trabalho lindo.
Por isso é sempre importante lembrar que NADA está definido ou confirmado em duas semanas. Muitas das primeiras impressões “destruídas” na Semana 2 estavam corretas, e muitas “confirmadas” estão longe de ser verdade. O maior erro que pode ser cometido nesse momento é ler demais em duas semanas e ignorar todo o resto de informação que temos à nossa disposição. Analogamente, o ideal é ter criticidade na hora de separar as informações: nós tínhamos uma opinião formada de cada time, e agora estamos lentamente ganhando novas informações a respeito de cada um deles para tornar o cenário mais completo. Não podemos jogar fora nossas ideias iniciais, mas não podemos ignorar também o que tem acontecido — o certo é colocar essas primeiras impressões em contexto, tentar separar o que é verdade e o que não é, e usar isso para ajustar nossas impressões originais. E assim vamos construindo uma imagem cada vez mais completa de cada time.

E então é isso que vamos fazer essa semana: ver quais foram as primeiras impressões de cada time na semana 1, como elas foram confirmadas ou não na semana 2, e o que esperar delas daqui para frente.


PARA LER O RESTO DA COLUNA, ACESSE O MEDIUM DO CANAL ZONA FA CLICANDO AQUI.