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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A evolução do Colts e a estrela de Andrew Luck

O cabelo do Trent Richardson é mais longo que suas corridas



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Antes da temporada começar, eu fiz um preview para cada um dos 32 times da NFL. Esses previews em geral seguiam a mesma fórmula: eu olhava para o que esses times fizeram em 2012, para seu nível de performance verdadeiro, para alguns fatores que tiveram influência no processo e que estavam ou não além do controle da equipe, alguns fatores que poderiam regredir (positivamente ou não), para chegar em uma imagem mais limpa sobre o quão bom um dado time foi em 2012 e o que disso deveria se carregar para o futuro (e o que era aleatório). Depois, juntando um pouco de lógica ao processo quando consideramos as mudanças pelos quais esses times passaram (perdas de jogadores, voltas de lesões, calouros, chegada de free agents, etc), tentamos dar uma previsão ou um palpite sobre como esses times iriam se comportar. Obviamente esses palpites eram embasados em uma sólida lógica e muitos dados analisados, mas qualquer tipo de previsão para o futuro vai carregar uma grande dose de incerteza, e por isso não da para esperar 100% de precisão. Já dizia o grande Yogi Berra, "é difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro".

Até agora, eu até tenho tido um bom índice de acertos na temporada, um motivo de orgulho. Alguns times (Ravens, por exemplo), eu acertei na mosca com uma precisão impressionante. Outros, como Falcons, eu acertei alguns detalhes importantes (em particular, a falta de defesa da equipe) mas não tinha como prever as inúmeras lesões que destruíram a equipe que todo mundo esperava antes do ano. Outros até acertei a direção geral mas não que o time ia ser tão ruim/bom, como o Vikings. E em alguns casos - quatro, na verdade - eu errei feio. Dois deles eram times que eu via brigando pelos playoffs e que hoje estão entre os piores da NFL, Giants e Bucs. Um era um time ruim que eu achei que estava no caminho certo mas que está a caminho de se tornar o pior time da história da NFL, o Jaguars. E por fim, temos o Indianapolis Colts, um time que eu achei que ia regredir... e vocês sabem o resto.

Antes da temporada, no preview da equipe, eu destaque como o Colts tinha tido uma das temporadas mais sortudas da história da NFL, algo que inflou seu record final e serviu para esconder um time consideravelmente fraco por trás, e que muitos dos fatores além do seu controle que serviram para seu record final não iriam se sustentar, e portanto o time deveria cair (em record) para 2013 - que o time iria melhorar, sem dúvida, mas que sem esses fatores aleatórios o time não iria se sustentar. Bom, em parte eu acertei: os fatores aleatórios realmente regrediram e pararam de agir em torno da equipe (mantenho 100% o que falei sobre o time de 2012, btw), mas enquanto isso, o Colts conseguiu evoluir o suficiente para tornar essa "ajuda" desnecessária e se estabelecer como um candidato ao título. Como eles conseguiram? Bom, é o que vamos ver agora. Vendo vídeos, observando números e tudo mais, separo quatro motivos principais pela boa campanha que o time tem feito até aqui...

Andrew Luck está substituindo seu antecessor a altura


E eu não me refiro a Dan Orlovsky.

Quando Andrew Luck entrou na NFL no draft de 2012, muita gente dizia que ele era o melhor QB a entrar na NFL desde Peyton Manning em 1998. Outros, que era o melhor a entrar desde John Elway em 1983. O hype e a expectativa em torno do QB de Stanford era imensa, e o Colts pareceu estar ganhando um bilhete premiado de loteria quando terminou com a pior campanha em 2011. E embora os números a primeira vista não mostrem, Luck teve uma grande temporada de estréia, passando para 4374 jardas, sendo o QB mais valioso da NFL correndo com a bola depois de Cam Newton e (com uma forcinha da sorte, mas whatever) foi o melhor jogador da equipe que acabou indo aos playoffs um ano depois de terminar 3-13, fazendo o time até esquecer da excelente temporada que Manning teve em Denver. Luck ficou em segundo na votação para calouro do ano atrás de Robert Griffin, e em uma feroz disputa com Griffin, Colin Kaepernick e Russell Wilson pelo título de "melhor jovem QB da NFL".

Mas em 2013, Luck - que talvez por seus números primários não tão bons acabou o ano como o menos baladado desses quatro - está mostrando de uma vez por todas porque ele era considerado o melhor QB dos últimos anos. Eu já escrevi um pouco sobre como Luck foi o único da Gang of Four a evitar, até aqui no ano, uma certa Sophomore Slump, e tudo que eu escrevi então é verdade. Claro que isso não significa que Wilson e Kaepernick estão tendo anos ruins, apenas que eles estão encontrando dificuldades que não tiveram em suas primeiras temporadas (tanto em forma de adversários mais preparados como limitações em suas próprias equipes, com lesões entre os linemen e os receivers, respectivamente) e não estão tendo o mesmo sucesso do ano passado. Em contraste, Luck tem sido ainda melhor: ele está completando passes a um ritmo maior (54.7% contra 60.3% esse ano) sem sacrificar seus ganhos por passe (7.0), embora ele tenha evoluído imensamente ganhando tempo no pocket, escapando de sacks e mantendo jogadas vivas, como sua figura de jardas por passe ajustadas indica (6.4 para 7.3). Seus touchdowns por passe aumentaram (5.3% de 4.5%) e suas interceptações caíram absurdamente (2.9% para 1.3%). E Luck continua sendo o segundo QB mais eficiente correndo com a bola, atrás dessa vez de Michael Vick. É realmente difícil achar uma área onde ele não tenha tido uma notável evolução.

E isso vai muito além dos números. É só assistir duas partidas para perceber a diferença, e eu assisti sete delas. No começo do ano, minha preocupação era a mesma de 2012: Luck jogava atrás de uma linha ofensiva que permitia mais pancadas ao seu QB do que qualquer outra na NFL. O começo do ano - em particular os dois primeiros jogos contra Oakland e Miami - mostraram que 2013 também seria assim. Mas Luck se adaptou magistralmente, começou a se movimentar mais no pocket para ganhar tempo, escapar pela lateral e usar sua incrível habilidade de fazer qualquer tipo de passe em movimento (rivalizada apenas pela do Aaron Rodgers) para estender jogadas e transformar o que normalmente seriam perdas de jardas em jogadas positivas. Ele também não tem tido medo de correr, especialmente em terceiras descidas, e aos poucos ele vai começando a comandar respeito da defesa contra suas pernas. E seu braço é um dos melhores da NFL, fazendo jus ao eterno clichê de "ele consegue fazer todos os arremessos do jogo". 2012' Andrew Luck era um bom QB com um grande futuro, mas 2013' Luck está em outro nível: sua experiência com a velocidade e as leituras do jogo profissional estão obviamente mais maduras e evoluídas, mas ao mesmo tempo ele parece estar aprendendo aos poucos a melhor forma de usar seus talentos consideráveis, como se adaptar para completar da melhor forma o talento dos seus companheiros e as fraquezas do seu time, e como tirar vantagem disso. Por isso ele é o único QB que começou sua carreira como titular em 2012 e que viu seu QBR aumentar, de 64.99 para um sólido 71.49 em 2013. E embora ainda tenhamos três categorias para cobrir em relação a boa fase do Colts, não se enganem, a principal delas todas é que agora eles tem um dos cinco melhores QBs da NFL, o melhor jogador em um time 5-2 que tem vitórias contra os três times considerados os melhores da NFL antes da temporada começar (49ers, Seahawks e Broncos). Se eu tivesse um voto para o prêmio de MVP, eu daria para Manning ou Andrew Luck nesse momento.

O jogo terrestre ganhou vida - embora isso possa ser uma armadilha


Em 2012, o ataque terrestre do Colts não foi exatamente horrível, terminando 18th geral em números ajustados (produção total). O que não significa que foi um ataque bom: o que alavancou em parte esses números foi a presença de Andrew Luck no time, que como já dissemos foi o segundo melhor e mais eficiente QB correndo com a bola em 2012. Tirando Luck e suas corridas da equação, o Colts correu para apenas 3.7 jardas por corrida, sexta pior marca da NFL, e nenhum dos seus três RBs teve mais de 4.0. Em parte isso se deu a uma linha ofensiva que foi a sétima pior da NFL em jogadas de corrida, e era uma questão que a diretoria do time queria solucionar para continuar com sua busca por um time competitivo o quanto antes.

Isso motivou a horrível troca por Trent Richardson, que já me parece um dos maiores roubos da NFL nos últimos anos, em que o Colts mandou uma 1st round pick por um RB que é rankeado como o sexto pior (entre 55 qualificados) pelo Pro Football Focus na temporada, que vai ganhar uma boa fortuna por mais dois anos, e que em dois anos na NFL não mostrou nada para nos fazer pensar que seja mais do que um jogador ruim. Mas passando desse ponto, o fato é que o jogo terrestre do Colts tem sido muito mais eficiente em 2013: amostra pequena e tudo mais, ele é o terceiro melhor da NFL em DVOA. Mesmo descontando a grande diferença que faz Luck correndo com a bola (6.5 jardas por corrida), o time ainda tem um sólido 4.3 jardas por corrida. E isso é considerando que o time perdeu seus dois RBs titulares no começo da temporada, Ahmad Bradshaw e Vick Ballard, para o resto do ano. Ainda assim, os números são muito promissores: entre os RBs do time (ou seja, desconsiderando as corridas de Darius Heyward-Bey, Reggie Wayne e Luck), três jogadores possuem médias acima de 4.5 jardas por corrida - Bradshaw tinha 4.5 quando se machucou, Ballard terminou o seu ano com 4.8, e Donald Browl (RB #2 da equipe atualmente) tem 5.9 por corrida. Considerando as 6.5 de Luck, esse é um número incrivelmente bom, certo? E isso praticamente com os mesmos jogadores do ano passado, mais algumas partidas de Bradshaw, que foi mandado embora do Giants por estar velho e ineficiente. 

O segredo está na forma como a linha ofensiva vem jogado. A chegada de Gosder Cherilus não teve um grande impacto na proteção (ainda sofrível) a Luck, mas a sua chegada e a evolução dos jogadores que já lá estavam fez o jogo terrestre melhorar exponencialmente: antes a sétima pior OL em jogadas de corrida, em 2013 esse grupo pulou para o sétimo melhor, se aproveitando do maior respeito ao braço de Luck para abrir avenidas e manter defensores longe dos RBs. Talvez esse seja o efeito de um ano a mais (e muito menos conturbado) sob o comando de Chuck Pagano, mas fato é que a linha ofensiva (correndo com a bola, pelo menos) mudou da água para o vinho e os running backs estão tendo um espaço muito maior para correr, o que se reflete nos bons números da equipe, 7th na NFL em jardas por corrida.

O lado ruim é que o Colts está se criando dois problemas com isso. Ter um bom jogo terrestre nunca é uma coisa ruim, é uma forma de manter a defesa honesta, abrir linhas de passe, e controlar o relógio especialmente no final das partidas. E em vários jogos (e especialmente contra o 49ers), foi esse jogo terrestre que reverteu a partida em favor da equipe, e é uma arma poderosa para um time com um QB como Luck. Ainda assim, dois problemas persistem. O primeiro, é que o Colts fez uma troca de alto risco e de alto valor (uma escolha de primeira rodada) para trazer Richardson, e parece ter uma necessidade de colocar o jogador o máximo possível até ele render e vindicar a troca feita da equipe, desperdiçando jogadas demais com um jogador que até agora não produziu absolutamente nada ao invés de colocar a bola nas mãos do mais produtivo Brown (ou mesmo, sabe, do QB que foi a 1st pick do draft de 2012). Você sabia que o Colts, que tem uma boa média de 4.5 jardas por corrida, tem média de 5.46 jardas por corridas que não são de Trent Richardson? 5.46!!! Eu entendo que o Colts tenha muito interesse em que Richardson vire seu Franchise RB, e entendo eu queiram mostrar que a troca foi boa, mas em algum momento eles vão ter que aceitar sua falta de produção e parar de sacrificar jogadas infrutíferas com ele.

O segundo é mais complicado. Em geral, você quer ter um bom balanço entre jogo terrestre e aéreo. A força das suas corridas força a defesa a se aproximar, encurta as defesas e abre linhas de passe, e normalmente é uma boa forma de abrir o mais explosivo jogo aéreo. Mas em geral, times não tem um jogador como Andrew Luck recebendo os snaps. Até aqui o Colts tem tentado dividir bem as jogadas, mas acho que isso acaba subaproveitando o braço do seu melhor jogador. Se o QB fosse Matt Schaub (nos bons tempos) ou mesmo Matthew Stafford, eu até entenderia, mas considerando o estrago que Luck tem feito esse ano, acho que é hora de colocar o passe como a opção inicial e a corrida como um complemento. Contra o Broncos (falaremos mais disso daqui a pouco) o time, na metade do jogo, abandonou a postura de correr com a bola antes e começou a colocar mais ênfase nos passes cedo nas descidas, e teve muito sucesso. No final do jogo, o time voltou a correr mais do que passar, e quase tomou a virada. Algo me diz que não é uma coincidência, e é algo que o time vai precisar ajustar indo para frente.

A melhora da defesa


Em qualquer esporte, eu sempre fui um grande crente na famosa máxima de que do fundo do poço, só se pode ir para cima. Essa era a máxima do Colts em 2013: depois de ter a segunda pior defesa da NFL (em DVOA) em 2012, algumas pequenas adições (Jean-Ricky François, LaRon Landry, etc) e um pouco mais de saúde já ajudariam o time a ganhar algumas posições e sair desse fundo do poço que estava. Mas o que eu e nem ninguém esperava era ver o time em 11th em DVOA, e embora esse número provavelmente esteja inflável (saltou de 18th para 11th em uma semana). Ainda assim, o ponto permanece: o Colts saltou de um time horrível defensivamente para um time pelo menos decente, se não competente, um ano depois.

Olhando mais de perto, vemos que o Colts ainda é bem vulnerável contra corridas (7th pior, 4.5 YPC), mas deu um salto imenso contra o jogo aéreo. O que não quer dizer que o Colts seja uma fortaleza como Seattle ou Tampa Bay, mas a evolução é nítida: são 6.2 jardas ajustadas (ou seja, incluindo sacks)  por passe, bom para a 14th melhor marca da NFL (também é 14th em jardas por passe). E esse número provavelmente é viesado, considerando que o Colts enfrentou Seahawks, 49ers, Broncos e Chargers, o que faz desse número ainda mais impressionante. Essa secundária foi ajudada pela chegada de Landry (que perdeu vários jogos) e Vontae Davis voltando a sua forma como um sólido cornerback, mas ainda mais importante, está a capacidade do Colts de colocar pressão nos seus adversários. O time de Indianapolis soma 21 sacks na temporada, a sexta melhor marca da NFL, o que da uma marca de 8.2%. Em outras palavras, em 8.2% das jogadas de passe do adversário acabam em um sack. Isso é importante não só pelas jardas que tira do ataque com os sacks, mas também por apressar as jogadas, diminuir o tempo do QB de achar um recebedor livre e forçar arremessos piores. Por esse motivo, apesar de não ter uma grande secundária (12.3 jardas por passe completo, sexta pior marca da NFL), o Colts segura os QBs adversários ao oitavo pior aproveitamento da NFL, oitavo menor número de TDs aéreos e é o décimo que mais conseguiu interceptações, marcas ainda melhores considerando os adversários enfrentados.

O Colts ainda tem uma defesa vulnerável, mas está contando com um número de jogadores que estão fazendo a diferença e surgindo. Robert Matthis está tendo a melhor temporada da sua carreira, com 11.5 sacks em sete jogos e sendo uma das forças defensivas mais destrutivas da temporada, Davis voltou a ser um Pro Bowler-caliber CB, e Jerell Freeman acabou se mostrando um muito sólido LB tanto na cobertura como contra a corrida. Então mesmo que a defesa tenha suas fraquezas e não seja exatamente um grupo cheio de talentos e opções como Seahawks ou Chiefs, eles fazem algumas coisas muito bem feito e isso tem sido suficiente para colocar a defesa como sendo pelo menos acima da média. E considerando a enorme diferença entre "segunda pior da NFL" e "decente/acima da média", é uma evolução que definitivamente não estava nos planos de ninguém. Eu esperava a evolução do ataque, e em especial de Andrew Luck, e por isso disse que o time ainda tinha capacidade de chegar em algo como 8-8 ou até melhor, mas essa evolução da defesa foi uma surpresa bem vinda que teve um impacto importante na temporada.

O Colts tem explorado perfeitamente os seus adversários


E esse é o ponto que eu mais me interessei assistindo vídeos do Colts: Indianapolis tem feito um trabalho excelente se preparando para enfrentar seus adversários, tirando vantagens das suas fraquezas e explorando cada missmatch possível. É o tipo de coisa que não aparece em estatísticas, mas que é fácil de ver em vídeo: especialmente nos seus três jogos mais difíceis (49ers, Seahawks, Broncos), me impressionou como o Colts sabia exatamente como ele queria que o adversário jogasse e como se preparou para realizar seu plano de jogo. As vezes com ajuda da sorte, claro, mas funcionou muito bem.

Primeiro, contra o 49ers, o Colts entrou tendo um conhecimento que o Packers não tinha na abertura: o 49ers só tinha um WR capaz de criar separação consistentemente e ser uma alvo regular para Kaepernick, e este era Anquan Boldin. Os outros WRs da equipe poderiam eventualmente conseguir espaço para uma jogada ou duas, mas é o tipo de risco que você aceitaria tomar tranquilamente. Então aproveitando também que o melhor recebedor do 49ers - o TE Vernon Davis, irmão de Vontae Davis - estava fora da partida, o plano de jogo da equipe foi bastante simples: colocar uma marcação dupla ou até mesmo tripla em cima de Boldin para tirá-lo do jogo, e pressionar bastante os demais recebedores do time na linha de scrimage. O 49ers não possui jogadores com a agilidade ou a força física para furar facilmente essa pressão logo na linha, eles acabam optando por se movimentarem lateralmente ao invés de em direção ao campo aberto, e o Colts inteligentemente colocou sua defesa mais perto da linha para evitar os passes curtos. Isso significava que, sem Vernon Davis para as rotas longas (isso foi sorte do Colts, btw, não seria possível executar esse plano com o TE saudável e jogando), o 49ers precisava que  um WR quebrasse essa pressão e corresse em direção ao espaço deixado atrás pela defesa (nenhum conseguiu), que a linha ofensiva segurasse a boa pressão do Colts por tempo suficiente para que os recebedores conseguissem voltar a suas rotas (não aconteceu), ou então viver com passes super curtos em uma parte congestionada do campo. Isso tirou o 49ers do seu plano de jogo, forçando-os a correr (com algum sucesso) mais do que queriam, mas foi suficiente para evitar que o time da casa controlasse o jogo.

Contra o Seahawks, o Colts teve algum sucesso e alguns fracassos no jogo como um todo defensivamente (time colocou um spy no Russell Wilson ainda no primeiro tempo e teve sucesso contendo o QB nas corridas, depois tirou para reforçar a secundária e Russell correu a vontade), mas montou um excelente plano de jogo para atacar Richard Sherman. Sherman é considerado um dos melhores CBs da Liga, mas um dos motivos dele ser tão dominante é que o Seahawks usa um esquema que maximiza suas qualidades e esconde suas fraquezas: o camisa 25 é extremamente dominante perto da linha de scrimage, onde usa seu tamanho e sua força física para conter o movimento dos adversários, e ainda possui um jogo de pernas extremamente ágil que lhe permite acompanhar rotas próximas da linha. Mas ele não tem velocidade (o que lhe fez cair até a sexta rodada, btw) para acompanhar jogadores velozes, e por isso o time gosta de mantê-lo em uma defesa por zona na parte lateral do campo próximo a linha, com o safety cobrindo sua retaguarda já que se Sherman for forçado a sair em perseguição profunda em um mano-a-mano ele vai ficar para trás (foi assim que o Falcons venceu o Seattle nos playoffs, inclusive). O que o Colts fez então foi tirar o CB da sua zona de conforto, colocando o extremamente veloz TY Hilton naquela parte do campo e o fez correr rotas de velocidade pelas costas de Sherman, forçando o lento defensor a acompanhá-lo (o que tira sua principal característica) ou então deixá-lo passar para o safety acompanhar, o que gerou algumas falhas de comunicação (como na bomba de Luck para Hilton no primeiro TD do time) e as vezes forçou o safety a se deslocar demais e abriu o meio do campo para os passes precisos do QB. O Seahawks não estava acostumado a ver um time atacar Sherman dessa maneira nem a direcionar tanta ajuda aquele local, o que causou um colapso ocasional na defesa aérea que Luck conseguiu explorar com sua genialidade por 60 minutos.

Por fim, contra o Broncos, o time fez duas coisas diferentes e que funcionaram muito bem. A primeira foi, como eu já disse, confiar mais em Luck para lançar cedo na contagem: o Broncos tem uma defesa terrestre boa e uma secundária horrível, então é muito mais vantajoso que seu All-World QB passe a bola o máximo possível. Depois de manter sua abordagem tradicional no começo do jogo, o time entregou a bola nas mãos de Luck com maior frequência quando o Broncos abriu o placar, o que resultou em uma dominação ofensiva do Colts e a virada. No final da partida, o Colts decidiu voltar a ser conservador e voltou a dar a bola nas mãos de Trent Richardson, que não só falhou ao controlar o jogo e manter o ataque de Denver no banco como ainda sofreu um fumble que quase custou o jogo ao time. 

Mas foi defensivamente que a equipe ganhou a partida, aproveitando a única coisa que Manning não tem nesse momento: força no braço. Desde que voltou de cirurgia, Manning não tem a mesma competência e precisão nos lançamentos mais fortes, algo que inclusive o incomodou bastante no começo da temporada passada. Depois, o camisa 18 se acostumou e modificou seu jogo para se adaptar melhor a essa falta de força e aproveitar ao máximo sua inigualável precisão e toque na bola, e não precisou mais tanto disso. Mas o Colts, com seu pass rush levando a melhor sobre a linha ofensiva de Denver (esse matchup foi crucial na partida, btw: Manning foi sackado quatro vezes - seu maior número desde 2009 - e conseguiu derrubar o QB 7 vezes, também um recorde desde que chegou a Denver), decidiu explorar essa característica: novamente eles congestionaram o meio do campo e pressionaram os adversários na linha de scrimmage, obrigando os recebedores a criarem separações em rotas verticais e obrigando Peyton a acertar esses jogadores em profundidade. As vezes ele acertou, porque ele é Peyton freaking Manning e é isso que ele faz, mas foi o risco que o Colts aceitou para tirar o ataque veloz e de passes curtos do Broncos de sintonia com seus defensores fisicamente agressivos. A estratégia funcionou muito bem, em parte porque Manning não foi tão preciso nas bolas longas e deixou várias oportunidades na mesa, e em outra parte porque tirando os passes curtos e com a linha ofensiva fraca de Denver sucumbindo, muitas vezes Manning não teve o tempo para seus WRs atingirem o local ideal ou mesmo para que ele conseguisse fazer a leitura adequada da jogada. Foi uma aposta, mas que pagou dividendos.

Os três jogos mais difíceis do Colts na temporada, e três estratégias arriscadas mas que funcionaram a perfeição e levou o time a três vitórias cruciais. Não se pode pedir mais que isso de uma comissão técnica.

Para onde o Colts vai daqui para frente?


Antes da temporada, eu achei que com a evolução esperada de Luck, a chegada de Bradshaw e alguma evolução normal da defesa, o Colts ia ser um time melhor, mas regredindo em relação a Pythagorean Wins, jogos decididos por uma posse de bola e sorte nos fumbles (o Colts realmente voltou a normalidade nos três, btw), achei que o time ia no máximo ficar 9-7 e chegar em um Wild Card sem uma chance real de título. Esse eu admito que errei feio: o Colts era um time de verdade que tinha tudo para sonhar com um eventual Super Bowl, com um sólido ataque, um dos melhores QBs da NFL, e uma defesa que conseguia pressionar o QB...

... até que Reggie Wayne rompeu o ligamento, tirando o segundo melhor jogador desse ataque da temporada. Quão grande é essa perda para o Colts? Bom, Wayne liderava o time com 503 jardas e 38 recepções, o que é um fator importante. Wayne também era o alvo favorito e mais confiável de Luck: dos 227 passes do segundo-anista, 26% foram para Reggie Wayne, sem descontar os passes desses que foram ele se livrando da bola (o que deve colocar esse número em quase 30% dos alvos). Wayne também consegue recepções em 66% das vezes que é o alvo do passe, muito superior a Hilton e Bey (51% cada) - Luck completa 66% de seus passes para Wayne para 8.6 jardas por passe, enquanto completa 59% com 6.5 jardas por passe para todos os outros jogadores. O camisa 87 é o único jogador do time que consegue também ocupar aquela posição de possession WR pelo meio, fazendo as rotas mais seguras pelo meio e sendo uma garantia nas conversões: Hilton e Bey são jogadores de velocidade, que estão sendo mais úteis fazendo rotas longas e não tem as mãos firmes e a precisão nas rotas intermediárias (nem o físico para jogar em tal área), e Coby Fleener não está pronto para executar esse papel de forma mais regular e contra defesas mais preparadas. É realmente um golpe extremamente duro para esse ataque, e ninguém lá pode tentar substituir Wayne.

Isso abre três possibilidades para o Colts indo para frente. A primeira é tentar substituir o papel de Wayne com os jogadores do elenco e seguir em frente, mas pelos motivos que já expliquei, não acredito nisso funcionando. A segunda seria mudar o funcionamento ofensivo do time para envolver menos passes e se basear ainda mais no jogo terrestre, mas também não me agrada, pois você sub-aproveita o melhor jogador do seu time e entrega a bola para um jogador ruim como Richardson. E a terceira, que também é a mais interessante: entrar no mercado de trocas em busca de um novo WR para substituir Wayne essa temporada e eventualmente formar uma dupla para o futuro. O Colts já mostrou que não tem nenhum problema em gastar escolhas de draft e ativos futuros para reforçar seu time e aumentar as chances de título agora, então eles são um candidato muito interessante a arrumar uma troca por um jovem WR que possa continuar no time no futuro. Os três candidatos mais fortes seriam Hakeem Nicks (por todos esses motivos), Josh Gordon (o Browns não quer trocar o jogador mas vai escutar ofertas, e o Colts me parece o tipo de time que trocaria uma 2nd round pick por um jogador que complementaria muito bem Wayne no futuro) ou talvez Justin Blackmon, que está apenas no segundo ano de seu contrato mas que o Jaguars poderia se aventurar a trocar por uma boa proposta. Opções não faltam no mercado de troca, e se o Colts estava sério quanto a trocar escolhas por ativos imediatos e brigar pelo título, esse é o caminho de maior recompensa possível e pode manter o time no caminho dos playoffs - e até do Super Bowl - esse ano. Uma pena, porque o Colts tinha tudo para ir longe com essa nova formação e um técnico inteligente e o melhor jovem QB da NFL.


Palpite para o jogo de quinta feira

Panthers over BUCS
Contra o spread: Panthers (-4) over BUCS
De repente o Panthers parece mais e mais com o time que eu esperava antes da temporada, com Cam Newton em evolução e uma forte linha de frente. E o Bucs parece cada menos com o time que eu disse que iria levar a última vaga no wild card.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Pontos importantes da semana 3 da NFL



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Acabou a semana 3 da NFL, uma das mais cheias de surpresas dos últimos tempos, e é hora de fazer nosso tradicional giro pelo que de importante aconteceu nos últimos dias. Para os perdidos de plantão a idéia aqui é a seguinte: isso aqui NÃO é um recap da rodada, e o nosso intuito não é passar por todos os jogos ou falar de todos os jogadores, bons ou não. Outras pessoas podem fazer isso, mais rápido e melhor do que eu, e eu também não acho que isso se enquadre na proposta do blog. A proposta aqui é para dar uma olhada nos fatores, dentro de cada jogo, que são relevantes ao maior cenário da NFL. Vamos olhar a performances que foram importantes mas receberam pouco crédito, fatores pouco observados que estão influenciando alguns pontos importantes, e por ai vai. Então de novo, o objetivo não é passar por todos os jogos e falar alguma coisa relevante: muitas vezes teremos dois ou mais pontos sobre um mesmo jogo, e jogos sem comentário nenhum. 

Curiosamente, em uma rodada cheia de "zebras" e a primeira vitória de um time "underdog" por 10 ou mais pontos na temporada, os dois pontos de maior interesse da semana vieram fora de campo.


A troca mais corajosa da história recente da NFL


Eu confesso que adoro quando trocas acontecem na NFL, especialmente se forem trocas importantes, bombásticas ou polêmicas como essa. Porque? Elas nunca acontecem na NFL, por isso! Em termos de futebol americano, 95% das trocas acontecem no draft e envolvem basicamente só escolhas de draft, algo que é divertido de julgar mas ao mesmo tempo é totalmente insosso e até mesmo desinteressante. Mesmo a maior dos últimos anos, a troca do Redskins para subir e pegar Robert Griffin ano passado (a escolha de primeira rodada dos 0-3 Redskins desse ano pertence ao Rams, btw) foi assunto por algumas horas e depois sumiu. Quando jogadores são trocado, geralmente são jogadores menores e por escolhas menores, que não atraem interesse. Marshawn Lynch foi o melhor RB de 2012 não chamado Adrian Peterson, mas você provavelmente não lembra que ele foi trocado para o Seattle alguns anos atrás por uma escolha de quarta e uma de quinta rodada quando esquentava o banco de Buffalo. Talvez pelo impacto limitado que um único jogador que não seja QB possa ter sozinho hoje em dia, talvez pelos enormes elencos de um time de NFL, ou talvez até mesmo porque na NFL não existe um motivador financeiro relacionado ao tamanho do mercado (como é o caso da NBA ou da MLB), mas fato é que grandes trocas envolvendo jogadores simplesmente não fazem parte da cultura da NFL. Por isso que, quando temos uma, é um grande acontecimento. Especialmente uma envolvendo um jogador que foi a terceira escolha de um draft menos de 18 meses atrás.

A essa altura, você provavelmente já sabe o que aconteceu. Jim Irsay, o meio bizarro dono do Colts que adora chamar a atenção, disse que tinha uma troca "monstro" para anunciar. Da última vez que Irsay fez farol sobre uma contratação, sua equipe trouxe Darius Heyward-Bey, então todo mundo estava realmente cético quanto ao grande anúncio do Colts. Então todo mundo ficou realmente de boca aberta quando Adam Schefter anunciou antes dele que de fato era uma troca importante, com o Colts trocando uma escolha de primeira rodada de draft por Trent Richardson, o RB de Alabama que o Browns tinha escolhido em terceiro lugar no draft de 2012 (logo depois de Andrew Luck e Robert Griffin). Eu não consigo lembrar da última vez que uma escolha tão alta foi trocada tão rápido (tirando claro trocas no próprio dia do draft, como Eli Manning), e realmente foi inesperado: ninguém esperava que Cleveland fosse se livrar tão rápido do que muitos projetavam como seu Franchise RB, e foi um pouco surpreendente um time como o Colts que não parecia ter grandes pretensões para a temporada fazer uma aposta com valores tão altos dessa maneira. Foi sob todos os aspectos uma troca fora do comum, e por isso temos que analisar ela de forma um pouco diferente também. Em uma troca como essa, temos que olhar para mais coisas do que somente ver o impacto disso na prática, envolve todo um processo incomum de tomada de decisões. Então temos que olhar para três pontos diferentes nessa cadeia: primeiro, temos que olhar no que motivou o Browns a querer trocar Richardson, já que sabemos hoje que eles que iniciaram as conversas; depois, olhar para porque o Colts ofereceu essa troca; e por fim, porque o Browns aceitou e aonde isso os deixa.

No primeiro ponto, sobre porque o Browns quis trocar seu RB, a reação mais comum que eu encontrei por ai era de choque. Porque o Browns trocou um jogador tão bom em apenas um ano de time?? Mas a pergunta mais relevante aqui para mim é outra: porque nós temos tanta certeza de que o Trent Richardson é um bom/grande jogador?

A verdade é que o único motivo para acharmos Trent Richardson um bom RB é o fato dele ter sido draftado em terceiro ano passado. Só por causa disso ainda achamos que ele é um jogador valioso como foi dito por ai depois da troca. Abstraindo isso por um instante, quem é Trent Richardson? Um RB que teve uma temporada de calouro mediana, com 3.6 jardas por corrida (Doug Martin, escolhido 28 picks depois, correu para 4.6. Alfred Morris, escolhido seis rodadas e 170 picks depois, teve 4.8), cuja corrida mais longa da carreira foi para 28 jardas e que, desde que estreou na NFL, tem apenas QUATRO corridas de mais de 20 jardas e 16 de mais de 10 jardas. Algumas pessoas tentam defender Richardson culpando a linha ofensiva de Cleveland, o que não é bem verdade: antes da temporada passada, a linha do Browns era considerada sólida e terminou o ano na média ou acima em boa parte das estatísticas avançadas. Se esquecermos de quem estavamos falando e de sua posição no draft, esses são os números e o histórico (curto, claro) de um RB bastante medíocre. E se quiser ir além dos números, é só ver três jogos de Richardson: ele até agora ele não mostrou nem perto da explosão que se esperava, e tem dificuldade de identificar espaços e tomar decisões sobre qual buraco atacar na linha de scrimmage. Ignorando seu status na noite do draft, a amostra (pequena) que temos até aqui indicam que Richardson é apenas um RB mediano.

A decisão do Browns de trocar Richardson claramente indica que, por algum motivo, a diretoria atual (que não foi a mesma que o draftou) não acredita que ele seja o pilar ofensivo que se esperava para o futuro, e que eles queriam aproveitar e conseguir o máximo de valor possível por ele agora (já chegaremos nisso). E talvez esse tenha sido o motivo: eles assistiram e observaram Richardson jogar por tempo suficiente (principalmente em treinos e workouts, algo que eu, você e o Jim Irsay não vimos) para concluir que como RB ele é mediano e que não traria futuro para a equipe. Talvez eles tenham alguma preocupação quanto as lesões que supostamente o incomodaram ano passado, talvez tenham problemas com sua atitude e personalidade, talvez seja um encaixe ruim no que a organização está tentando implementar em termos de jogo, mas fato é que os cabeças da organização concluíram dentro do que eles sabem (e eles possuem muito mais informações sobre Richardson do que o resto da NFL) que Richardson não era o jogador que prometia ser e que levaria esse time para o futuro. De certa forma, eles estão tentando corrigir um erro da organização anterior (que ainda subiu no draft para pegar Richardson sem a menor necessidade), mas não estariam fazendo isso se não tivessem certeza de que conseguiriam por ele muito mais do que ele realmente vale.

(Um ponto interessante levantado pelo Bill Simmons: o atual GM do Browns, Mike Lombardi, escreveu em sua coluna antes do draft daquele ano que Richardson era o terceiro melhor jogador depois de Andrew Luck e Robert Griffin. Então não é como se ele tivesse algum preconceito contra o jogo de Richardson ou simplesmente quisesse se livrar de um jogador importante da organização anterior. Claramente alguma coisa chamou a atenção de Lombardi que o fez acreditar que Richardson não era tudo isso, mas só podemos especular o que.)

Entra o Colts, que imediatamente ofereceu uma escolha de primeira rodada ao Browns quando oferecido o camisa 33. A idéia do Colts era adquirir um talento de primeira rodada imediatamente para ajudar seu time a brigar pelo Super Bowl (sim, essa é a idéia de Irsay), e para isso eles estavam dispostos a abrir mão do seu segundo maior ativo, a escolha de primeira rodada de 2014. O problema com isso é o seguinte: a não ser que seja um talento fora de série como Adrian Peterson, é uma estupidez usar escolhas tão altas de draft em um RB nessa época onde o passe é muito mais valioso do que qualquer outra coisa em um campo de futebol americano. A grande maioria dos times tem tido grande sucesso achando RBs entre o finalzinho da primeira rodada e o começo da terceira, especialmente hoje em dia que os times em geral preferem ter múltiplos RBs com características complementares - ou seja, você simplesmente não usa escolhas altas assim (a do Colts deve cair em torno da metade da primeira rodada, mais ou menos) em um RB que não seja de elite. E Richardson não é, pelo menos até agora, elite. Meu problema com a decisão do Colts é menos com a troca por Trent (afinal, o Colts está em parte pensando também no futuro e que ele possa evoluir, não apenas no que ele mostrou até agora) e mais no preço a ser pago. Hoje em dia, com tantos backfields revezando jogadores, é mais vantajoso buscar RBs na segunda ou terceira rodada e usar suas escolhas mais valiosas em posição de maior impacto, especialmente um com tantos buracos como Indianapolis.

Claro, a impaciência de Indianapolis (que ao invés de esperar o próximo draft saiu trocando valores altíssimos agora) para achar um RB vem da política de Irsay que quer/acredita na capacidade de seu time de competir imediatamente, seja por um título ou só por playoffs. Em outras palavras, esse valor "a mais" pago por Richardson é porque Irsay acredita que com a chegada do seu Franchise RB o time esteja pronto para brigar por coisas maiores. O Colts vem de uma grande vitória fora de casa contra o 49ers, mas também é o time que perdeu em casa do Miami (um bom time) e quase não vence o Raiders, então é difícil acreditar que o Colts esteja de fato a chegada de um RB de competir com times como Broncos, Patriots ou mesmo Bengals pela supremacia da AFC, pelo menos no curto prazo. Então sua opinião sobre a troca do lado do Colts depende da sua crença em duas coisas: se Richardson pode evoluir e se tornar um RB de elite que justifique uma escolha de primeira rodada como Lynch ou Peterson (ou mesmo seja capaz de ser algo semelhante logo de cara) ; e o quão perto o Colts está de realmente competir por grandes coisas só com a chegada de um novo RB. Eu não confio muito em nenhuma das duas coisas no momento, acho que Richardson não mostrou nada que me faça crer que ele seja um RB superior (tanto com seus números como com seu jogo) e não acho que Indianapolis esteja tão perto assim de brigar por grandeza na AFC enquanto não resolver diversos outros problemas (provavelmente ficando naquele 8-8/9-7 que briga pela última vaga dos playoffs), e por isso eu não achei uma boa troca, achei que pagaram caro demais com base numa ilusão. Se trouxeram Richardson e suas 3.6 YPC a esse preço proibitivo, porque não trazer um RB como Willis McGahee (4.4 YPC em 2012) a um valor muito menor para dar uma produção semelhante em 2013, e dai usar uma escolha de segunda ou terceira rodada em um RB (e sua 1st round em um jogador muito melhor que tape uma necessidade muito maior)? A não ser que Richardson acabe se transformando fora de Cleveland (em 2013 e no futuro) para virar um Franchise RB, eu não gosto da forma como o Colts lidou com essa questão - o que não quer dizer que a franquia não seja melhor agora do que era antes. Eu só acho que erraram totalmente na avaliação de valor da posição de RB e da sua escolha de draft.

E para o Browns, aceitar essa oferta foi fácil pelo mesmo motivo: ninguém hoje em dia usa uma escolha tão alta em um RB tão questionável, o que significa que nenhum time iria trocar uma escolha de primeira rodada... até que o Colts aceitou, o que facilitou muito a tomada de decisão. Uma vez que eles concluíram que Richardson não valia o trabalho e que preferiam adquirir mais ativos, o fato de que alguém realmente lhes ofereceu uma escolha de primeira rodada foi praticamente um presente de natal antecipado. Se o Browns esperasse até a trade deadline, o Colts provavelmente não estaria tão desesperado atrás de um RB para vencer agora e o valor de Richardson teria caído ainda mais depois de (supostamente) mais um ano fraco. Então se a idéia era se livrar de Richardson e maximizar o retorno pensando em um draft de 2014 extremamente carregado, eles conseguiram o grande prêmio: nenhum time além do Colts estava tão desesperado a ponto de pagar tanto por Trent, e agora eles conseguiram "de volta" uma escolha de primeira rodada sabendo que poderiam substituir a produção de Richardson em campo com uma escolha de segunda ou terceira rodada. Para o Cleveland, o importante é conseguir finalmente seu QB do futuro, algo que eles tem tido um enorme insucesso conseguindo, e agora - na véspera de um draft particularmente profundo - eles tem duas chances de conseguir atingir seu objetivo. Eles podem montar um pacote muito bom com seu alto número de escolhas de draft para subir até as duas primeiras e pegar Teddy Bridgewater, ou pelo menos ter uma escolha ruim o suficiente para pegar um Aaron Murray ou mesmo Johnny Manziel (e ainda ter uma segunda escolha de primeira rodada para adereçar outras necessidades). Como um time muito jovem e talentoso mas que possui uma fraqueza na posição mais importante de todas, foi uma decisão extremamente corajosa para maximizar suas chances de sair do draft de 2014 com o jogador que iria solucionar esse problema de uma vez por todas.

E por isso ela faz dessa a troca mais corajosa da história recente da NFL: a nova diretoria do Browns (e esperança de um futuro melhor para essa torturada franquia) acabou de trocar o jogador que muitos tinham encarado como a "salvação" do ataque do time para os próximos anos, e o trocou por uma tentativa no futuro de adquirir um Franchise QB que ninguém sabe se virá ou se será realmente bom. Foi basicamente um all-in: se o Browns sair do próximo draft com Manziel ou Bridgewater, tem tudo para voltar a disputar uma vaga nos playoffs e solidificar a posição de QB pelos próximos 10 anos e finalmente colocar esse time cheio de fracassos de volta no bom caminho da NFL; mas se fracassar nessa empreitada ou sair de lá com um QB decepcionante, vai ter jogado fora todo seu moral e apoio da torcida de uma vez por todas e o resultado pode ser irrecuperável. E sinceramente, para uma franquia que há tanto busca sair da lama, eu adorei a coragem de Lombardi e da nova diretoria da equipe! Isso provavelmente significará mais um ano de sofrimento e mediocridade, mas vai ser o time mais interessante da NFL chegando Março.

(Ps. Algumas pessoas me falaram que a troca foi ruim porque o Browns tem errado em suas decisões no draft e tem saido de lá sem bons QBs. Esse é um argumento bem fraco, considerando que é uma diretoria totalmente nova da que trouxe Brandon Weeden e Brady Quinn e que ainda não temos um histórico no draft para nos basearmos)

Nas manchetes, pelo motivo errado


A classe defensiva do draft de 2011 parecia pronta para entrar para a história da NFL em apenas dois anos. Ao final da temporada 2012, esse draft já tinha gerado o melhor pass rusher da NFL inteira (Aldon Smith), o melhor LB da liga (Von Miller) E o melhor jogador defensivo da liga (JJ Watt), sem falar em jogadores como Justin Houston, Ryan Kerrigan, Richard Sherman e Patrick Peterson. Se tudo continuasse como estava, essa classe tinha tudo para ser lembrada como a lendária classe de QBs de 1983, que nos trouxe Jim Kelly, Dan Marino E John Elway de uma só vez. Mas essa semana, dois jogadores dessa classe algum-dia-será-lendária viraram notícia e foco de polêmica pelos motivos errados. E o pior, aconteceu em um espaço de 24h.

A primeira e talvez mais triste notícia envolveu Aldon Smith, OLB do San Francisco 49ers. Smith foi preso após um acidente bizarro, no qual ele teria batido seu carro contra uma árvore na madrugada de sexta feira, sozinho e completamente bêbado. Smith foi preso por dirigir embriagado, e uma busca no seu carro revelou também diversos remédios não revelados para os quais o jogador não teria receita. Considerando que foi o segundo DUI de Smith e mais um problema extra-campo para o talentoso jogador, isso imediatamente chamou a atenção da mídia e da própria NFL para seus problemas, inclusive com muitos comentários chamando a atenção da necessidade de ajuda profissional para o jogador, dado o grande risco que Smith colocou a si mesmo (afinal, ele bateu o carro contra uma árvore!). Depois da partida contra o Colts (na qual Smith jogou mas não teve impacto significante), o 49ers emitiu uma nota dizendo que seu OLB estava entrando em uma clínica de reabilitação para resolver seus problemas de abuso de substâncias e que seria colocado na NFI, ou Non-Football Injury, ficando fora do time por tempo indeterminado. Como isso resultou em um número surpreendentemente grande de perguntas sobre o que isso significa, e um número lamentavelmente grande de pessoas passando informações errôneas ou precipitadas, e portanto acho importante esclarecer essa situação para todo mundo.

Em primeiro lugar, é importante frisar o papel da equipe nessa situação. Pelo novo CBA, o 49ers não tem o direito de suspender (e portanto suspender também os pagamentos) um jogador do seu time por questões fora da organização, uma tarefa que cabe somente a NFL. Da mesma forma, a NFL tem um comitê para monitorar e disciplinar jogadores por conta de problemas com abuso de substâncias (o que aconteceu, por exemplo, com Von Miller nessa offseason), mas nesse aspecto ele era réu primário e não foi pego em um exame antidoping, o que tornava a tarefa da NFL bem mais delicada e difícil. Uma suspensão era provável em algum ponto, mas não era uma situação comum e portanto não tinha exatamente uma solução clara ou "tabelada" para a liga, era o tipo de coisa que precisava ser considerada sob diversos aspectos, inclusive os legais (ou seja, o que a NFL teria ou não legitimidade para usar como base na suspensão, de acordo com o CBA). Foi quando o 49ers indicou que Smith deveria entrar em reabilitação segunda feira, o que de fato aconteceu.

Nesses casos, sempre tem o aspecto humano da questão: Aldon Smith é um ser humano com um problema sério e que precisa de tratamento, aquilo que cansamos de ouvir toda vez que o Adriano fazia uma besteira aqui no Brasil. A questão é que Smith admitiu seu problema e aceitou a internação, um ponto importante pois o time não pode "forçar" o jogador a isso. Com isso, Smith foi colocado na NFI, o que significa que ele continua recebendo salário, mas não conta entre o limite de 53 jogadores do time (o que permite a equipe buscar alguém para ocupar seu lugar no plantel). Vamos falar mais da NFI mais para frente, mas por enquanto a questão é que Smith só pode ser colocado na NFI se for confirmada sua internação, então já é oficial que ele está nesse momento nessa clínica. A idéia, naturalmente, é que Aldon Smith possa tratar da melhor forma possível seu problema e retornar ao time quando os médicos e os cartolas do 49ers acharem que ele está pronto, o que pode demorar um mês ou um ano. Mas de certa forma, o fato de Smith ter aceitado a internação de admitido seu problema já é um avanço tanto na situação pessoal do jogador como na questão burocrática da NFL, já que agora o 49ers pode adquirir um novo jogador e manter Smith no seu time enquanto ele se trata. Isso também provavelmente significa uma vida mais fácil para a NFL, que agora não precisa mais se preocupar tanto em dar uma suspensão ao jogador. O fato dele já perder algumas semanas e ter se internado voluntariamente vai contar a seu favor, e considerando as dificuldades legais da NFL em definir a punição (como dito anteriormente), é menos problemático para a liga também não precisar tomar nenhuma atitude drástica. Uma pequena punição ainda pode acontecer para estabelecer um precedente, mas não será nada muito volumoso ou complexo dadas as circunstâncias atuais.

Por fim, as pessoas perguntam quando Smith pode voltar, agora que está na NFI. A NFI é uma de várias listas que um time pode colocar um jogador para tirá-lo da contagem de 53 jogadores do elenco, mas ela tem uma diferença em relação as outras. Algumas mais famosas como o IR (quando o jogador não volta mais a jogar nessa temporada), IR designated for return (apenas um jogador por time, esse jogador precisa ficar de fora até pelo menos a semana 11 e pode ou não voltar depois), ou PUP (o jogador é obrigado a perder seis semanas, e dai o time tem três semanas para decidir se ativa o jogador ou o coloca na IR) possuem todos um tempo "mínimo" de permanência e possuem regras ditando quando e como o jogador pode voltar a ser ativado, mas no caso da NFI, isso não acontece: o 49ers pode trazer de volta o jogador a qualquer momento que quiser, sem qualquer regra ou consequência. Naturalmente, para o time e para o jogador a questão é que isso seja quando ele estiver apto a voltar para sua vida (pelo menos até o final da temporada), então é totalmente imprevisível: pode ser que em um mês ele faça progressos para voltar, pode ser que não faça até o final da temporada, ninguém sabe, é algo muito pessoal do jogador. As expectativas são de pelo menos um mês fora, mas depende 100% do jogador, nenhuma regra que o impeça de voltar antes ou depois.

Infelizmente, esse caso Aldon Smith acabou obscurecendo um caso ainda mais grave envolvendo outro OLB desse draft, Von Miller. Miller foi suspenso por quatro jogos antes da temporada começar por ter sido pego em um exame antidoping por uso de substâncias proibidas (importante: no caso de Smith e Miller, quando falamos de substâncias proibídas estamos falando de drogas ou de medicamentos, não PEDs como foi o caso de metade do time do Seahawks ano passado), pois já tinha passagem pelo comitê de abuso de substâncias da NFL. O jogador do Broncos decidiu apelar da suspensão, e muita gente ficou surpresa quando ao invés de reduzida, sua pena foi aumentada para seis jogos. Claro que logo começaram as piadas com os advogados do Broncos, mas ninguém entendeu exatamente os motivos que levaram a NFL a aumentar em dois jogos a pena de Miller.

Pelo menos até essa semana, quando foi revelado que Miller tinha conspirado com um coletor oficial de amostras da NFL para adulterar seu exame. Obviamente, essa é uma acusação extremamente séria por dois motivos. Primeiro, enquanto basicamente é uma admissão de culpa no antidoping que levou a esses dois jogos a mais de suspensão, também é um evento criminoso contra as regras da NFL que pode levar a uma nova punição ainda mais severa. Ninguém sabe dizer ao certo se essa nova punição já está imbutida nesses seis jogos de suspensão, ou se estavam apenas juntando evidências para depois iniciar um novo processo contra o jogador, mas se for esse segundo caso a situação pode ficar dramática para um forte candidato ao Super Bowl desse ano. Se for aberto um novo processo dentro da NFL contra Miller, isso provavelmente lhe custaria o resto da temporada dada a gravidade dessa ofensa, então o Broncos pode perder seu segundo melhor jogador durante uma das últimas temporadas da carreira de Peyton Manning. Em outras palavras, Broncos fans, torçam para sua pena já estar incluída naqueles seis jogos.

O segundo problema é bem maior: isso cria uma enorme desconfiança sobre o atual sistema de testes da NFL, já que temos evidências de que um dos supervisores gerais dos testes estavam em conluio com um acusado, obviamente levantando enormes dúvidas sobre a credibilidade dessas pessoas e desses testes. Algumas pessoas insinuam que isso pode levar a NFL a mudar seu sistema de coleta de amostras, enquanto outras acreditam que uma nova investigação pode colocar em xeque diversas amostras anteriores de jogadores acusados (sim, estamos olhando para você, Richard Sherman). Por algum motivo, isso tudo acabou sumindo da mídia que mostrou um interesse muito maior na história de Aldon Smith, talvez porque a NFL prefere assim. Mas enquanto algo a esse respeito não for esclarecido, fica a dúvida sobre o quão significativo foi o impacto dessa descoberta e quais as consequências, tanto para Miller como para uma liga que parecia estar dando passos importantes na direção de apertar o controle de substâncias proibidas, incluindo PEDs.

E além disso, agora temos dois dos melhores jovens jogadores da NFL que podem perder o resto da temporada por conta dessas questões extra-campo, e talvez mesmo até mais tempo depois. Espero que possamos ver os dois de volta aos campos o quanto antes, pois nada é mais triste do que ver esse tipo de coisa minando a carreira de dois talentos fora de série.