O cabelo do Trent Richardson é mais longo que suas corridas
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Antes da temporada começar, eu fiz um preview para cada um dos 32 times da NFL. Esses previews em geral seguiam a mesma fórmula: eu olhava para o que esses times fizeram em 2012, para seu nível de performance verdadeiro, para alguns fatores que tiveram influência no processo e que estavam ou não além do controle da equipe, alguns fatores que poderiam regredir (positivamente ou não), para chegar em uma imagem mais limpa sobre o quão bom um dado time foi em 2012 e o que disso deveria se carregar para o futuro (e o que era aleatório). Depois, juntando um pouco de lógica ao processo quando consideramos as mudanças pelos quais esses times passaram (perdas de jogadores, voltas de lesões, calouros, chegada de free agents, etc), tentamos dar uma previsão ou um palpite sobre como esses times iriam se comportar. Obviamente esses palpites eram embasados em uma sólida lógica e muitos dados analisados, mas qualquer tipo de previsão para o futuro vai carregar uma grande dose de incerteza, e por isso não da para esperar 100% de precisão. Já dizia o grande Yogi Berra, "é difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro".
Até agora, eu até tenho tido um bom índice de acertos na temporada, um motivo de orgulho. Alguns times (Ravens, por exemplo), eu acertei na mosca com uma precisão impressionante. Outros, como Falcons, eu acertei alguns detalhes importantes (em particular, a falta de defesa da equipe) mas não tinha como prever as inúmeras lesões que destruíram a equipe que todo mundo esperava antes do ano. Outros até acertei a direção geral mas não que o time ia ser tão ruim/bom, como o Vikings. E em alguns casos - quatro, na verdade - eu errei feio. Dois deles eram times que eu via brigando pelos playoffs e que hoje estão entre os piores da NFL, Giants e Bucs. Um era um time ruim que eu achei que estava no caminho certo mas que está a caminho de se tornar o pior time da história da NFL, o Jaguars. E por fim, temos o Indianapolis Colts, um time que eu achei que ia regredir... e vocês sabem o resto.
Antes da temporada, no preview da equipe, eu destaque como o Colts tinha tido uma das temporadas mais sortudas da história da NFL, algo que inflou seu record final e serviu para esconder um time consideravelmente fraco por trás, e que muitos dos fatores além do seu controle que serviram para seu record final não iriam se sustentar, e portanto o time deveria cair (em record) para 2013 - que o time iria melhorar, sem dúvida, mas que sem esses fatores aleatórios o time não iria se sustentar. Bom, em parte eu acertei: os fatores aleatórios realmente regrediram e pararam de agir em torno da equipe (mantenho 100% o que falei sobre o time de 2012, btw), mas enquanto isso, o Colts conseguiu evoluir o suficiente para tornar essa "ajuda" desnecessária e se estabelecer como um candidato ao título. Como eles conseguiram? Bom, é o que vamos ver agora. Vendo vídeos, observando números e tudo mais, separo quatro motivos principais pela boa campanha que o time tem feito até aqui...
Andrew Luck está substituindo seu antecessor a altura
E eu não me refiro a Dan Orlovsky.
Quando Andrew Luck entrou na NFL no draft de 2012, muita gente dizia que ele era o melhor QB a entrar na NFL desde Peyton Manning em 1998. Outros, que era o melhor a entrar desde John Elway em 1983. O hype e a expectativa em torno do QB de Stanford era imensa, e o Colts pareceu estar ganhando um bilhete premiado de loteria quando terminou com a pior campanha em 2011. E embora os números a primeira vista não mostrem, Luck teve uma grande temporada de estréia, passando para 4374 jardas, sendo o QB mais valioso da NFL correndo com a bola depois de Cam Newton e (com uma forcinha da sorte, mas whatever) foi o melhor jogador da equipe que acabou indo aos playoffs um ano depois de terminar 3-13, fazendo o time até esquecer da excelente temporada que Manning teve em Denver. Luck ficou em segundo na votação para calouro do ano atrás de Robert Griffin, e em uma feroz disputa com Griffin, Colin Kaepernick e Russell Wilson pelo título de "melhor jovem QB da NFL".
Mas em 2013, Luck - que talvez por seus números primários não tão bons acabou o ano como o menos baladado desses quatro - está mostrando de uma vez por todas porque ele era considerado o melhor QB dos últimos anos. Eu já escrevi um pouco sobre como Luck foi o único da Gang of Four a evitar, até aqui no ano, uma certa Sophomore Slump, e tudo que eu escrevi então é verdade. Claro que isso não significa que Wilson e Kaepernick estão tendo anos ruins, apenas que eles estão encontrando dificuldades que não tiveram em suas primeiras temporadas (tanto em forma de adversários mais preparados como limitações em suas próprias equipes, com lesões entre os linemen e os receivers, respectivamente) e não estão tendo o mesmo sucesso do ano passado. Em contraste, Luck tem sido ainda melhor: ele está completando passes a um ritmo maior (54.7% contra 60.3% esse ano) sem sacrificar seus ganhos por passe (7.0), embora ele tenha evoluído imensamente ganhando tempo no pocket, escapando de sacks e mantendo jogadas vivas, como sua figura de jardas por passe ajustadas indica (6.4 para 7.3). Seus touchdowns por passe aumentaram (5.3% de 4.5%) e suas interceptações caíram absurdamente (2.9% para 1.3%). E Luck continua sendo o segundo QB mais eficiente correndo com a bola, atrás dessa vez de Michael Vick. É realmente difícil achar uma área onde ele não tenha tido uma notável evolução.
E isso vai muito além dos números. É só assistir duas partidas para perceber a diferença, e eu assisti sete delas. No começo do ano, minha preocupação era a mesma de 2012: Luck jogava atrás de uma linha ofensiva que permitia mais pancadas ao seu QB do que qualquer outra na NFL. O começo do ano - em particular os dois primeiros jogos contra Oakland e Miami - mostraram que 2013 também seria assim. Mas Luck se adaptou magistralmente, começou a se movimentar mais no pocket para ganhar tempo, escapar pela lateral e usar sua incrível habilidade de fazer qualquer tipo de passe em movimento (rivalizada apenas pela do Aaron Rodgers) para estender jogadas e transformar o que normalmente seriam perdas de jardas em jogadas positivas. Ele também não tem tido medo de correr, especialmente em terceiras descidas, e aos poucos ele vai começando a comandar respeito da defesa contra suas pernas. E seu braço é um dos melhores da NFL, fazendo jus ao eterno clichê de "ele consegue fazer todos os arremessos do jogo". 2012' Andrew Luck era um bom QB com um grande futuro, mas 2013' Luck está em outro nível: sua experiência com a velocidade e as leituras do jogo profissional estão obviamente mais maduras e evoluídas, mas ao mesmo tempo ele parece estar aprendendo aos poucos a melhor forma de usar seus talentos consideráveis, como se adaptar para completar da melhor forma o talento dos seus companheiros e as fraquezas do seu time, e como tirar vantagem disso. Por isso ele é o único QB que começou sua carreira como titular em 2012 e que viu seu QBR aumentar, de 64.99 para um sólido 71.49 em 2013. E embora ainda tenhamos três categorias para cobrir em relação a boa fase do Colts, não se enganem, a principal delas todas é que agora eles tem um dos cinco melhores QBs da NFL, o melhor jogador em um time 5-2 que tem vitórias contra os três times considerados os melhores da NFL antes da temporada começar (49ers, Seahawks e Broncos). Se eu tivesse um voto para o prêmio de MVP, eu daria para Manning ou Andrew Luck nesse momento.
O jogo terrestre ganhou vida - embora isso possa ser uma armadilha
Em 2012, o ataque terrestre do Colts não foi exatamente horrível, terminando 18th geral em números ajustados (produção total). O que não significa que foi um ataque bom: o que alavancou em parte esses números foi a presença de Andrew Luck no time, que como já dissemos foi o segundo melhor e mais eficiente QB correndo com a bola em 2012. Tirando Luck e suas corridas da equação, o Colts correu para apenas 3.7 jardas por corrida, sexta pior marca da NFL, e nenhum dos seus três RBs teve mais de 4.0. Em parte isso se deu a uma linha ofensiva que foi a sétima pior da NFL em jogadas de corrida, e era uma questão que a diretoria do time queria solucionar para continuar com sua busca por um time competitivo o quanto antes.
Isso motivou a horrível troca por Trent Richardson, que já me parece um dos maiores roubos da NFL nos últimos anos, em que o Colts mandou uma 1st round pick por um RB que é rankeado como o sexto pior (entre 55 qualificados) pelo Pro Football Focus na temporada, que vai ganhar uma boa fortuna por mais dois anos, e que em dois anos na NFL não mostrou nada para nos fazer pensar que seja mais do que um jogador ruim. Mas passando desse ponto, o fato é que o jogo terrestre do Colts tem sido muito mais eficiente em 2013: amostra pequena e tudo mais, ele é o terceiro melhor da NFL em DVOA. Mesmo descontando a grande diferença que faz Luck correndo com a bola (6.5 jardas por corrida), o time ainda tem um sólido 4.3 jardas por corrida. E isso é considerando que o time perdeu seus dois RBs titulares no começo da temporada, Ahmad Bradshaw e Vick Ballard, para o resto do ano. Ainda assim, os números são muito promissores: entre os RBs do time (ou seja, desconsiderando as corridas de Darius Heyward-Bey, Reggie Wayne e Luck), três jogadores possuem médias acima de 4.5 jardas por corrida - Bradshaw tinha 4.5 quando se machucou, Ballard terminou o seu ano com 4.8, e Donald Browl (RB #2 da equipe atualmente) tem 5.9 por corrida. Considerando as 6.5 de Luck, esse é um número incrivelmente bom, certo? E isso praticamente com os mesmos jogadores do ano passado, mais algumas partidas de Bradshaw, que foi mandado embora do Giants por estar velho e ineficiente.
O segredo está na forma como a linha ofensiva vem jogado. A chegada de Gosder Cherilus não teve um grande impacto na proteção (ainda sofrível) a Luck, mas a sua chegada e a evolução dos jogadores que já lá estavam fez o jogo terrestre melhorar exponencialmente: antes a sétima pior OL em jogadas de corrida, em 2013 esse grupo pulou para o sétimo melhor, se aproveitando do maior respeito ao braço de Luck para abrir avenidas e manter defensores longe dos RBs. Talvez esse seja o efeito de um ano a mais (e muito menos conturbado) sob o comando de Chuck Pagano, mas fato é que a linha ofensiva (correndo com a bola, pelo menos) mudou da água para o vinho e os running backs estão tendo um espaço muito maior para correr, o que se reflete nos bons números da equipe, 7th na NFL em jardas por corrida.
O lado ruim é que o Colts está se criando dois problemas com isso. Ter um bom jogo terrestre nunca é uma coisa ruim, é uma forma de manter a defesa honesta, abrir linhas de passe, e controlar o relógio especialmente no final das partidas. E em vários jogos (e especialmente contra o 49ers), foi esse jogo terrestre que reverteu a partida em favor da equipe, e é uma arma poderosa para um time com um QB como Luck. Ainda assim, dois problemas persistem. O primeiro, é que o Colts fez uma troca de alto risco e de alto valor (uma escolha de primeira rodada) para trazer Richardson, e parece ter uma necessidade de colocar o jogador o máximo possível até ele render e vindicar a troca feita da equipe, desperdiçando jogadas demais com um jogador que até agora não produziu absolutamente nada ao invés de colocar a bola nas mãos do mais produtivo Brown (ou mesmo, sabe, do QB que foi a 1st pick do draft de 2012). Você sabia que o Colts, que tem uma boa média de 4.5 jardas por corrida, tem média de 5.46 jardas por corridas que não são de Trent Richardson? 5.46!!! Eu entendo que o Colts tenha muito interesse em que Richardson vire seu Franchise RB, e entendo eu queiram mostrar que a troca foi boa, mas em algum momento eles vão ter que aceitar sua falta de produção e parar de sacrificar jogadas infrutíferas com ele.
O segundo é mais complicado. Em geral, você quer ter um bom balanço entre jogo terrestre e aéreo. A força das suas corridas força a defesa a se aproximar, encurta as defesas e abre linhas de passe, e normalmente é uma boa forma de abrir o mais explosivo jogo aéreo. Mas em geral, times não tem um jogador como Andrew Luck recebendo os snaps. Até aqui o Colts tem tentado dividir bem as jogadas, mas acho que isso acaba subaproveitando o braço do seu melhor jogador. Se o QB fosse Matt Schaub (nos bons tempos) ou mesmo Matthew Stafford, eu até entenderia, mas considerando o estrago que Luck tem feito esse ano, acho que é hora de colocar o passe como a opção inicial e a corrida como um complemento. Contra o Broncos (falaremos mais disso daqui a pouco) o time, na metade do jogo, abandonou a postura de correr com a bola antes e começou a colocar mais ênfase nos passes cedo nas descidas, e teve muito sucesso. No final do jogo, o time voltou a correr mais do que passar, e quase tomou a virada. Algo me diz que não é uma coincidência, e é algo que o time vai precisar ajustar indo para frente.
A melhora da defesa
Em qualquer esporte, eu sempre fui um grande crente na famosa máxima de que do fundo do poço, só se pode ir para cima. Essa era a máxima do Colts em 2013: depois de ter a segunda pior defesa da NFL (em DVOA) em 2012, algumas pequenas adições (Jean-Ricky François, LaRon Landry, etc) e um pouco mais de saúde já ajudariam o time a ganhar algumas posições e sair desse fundo do poço que estava. Mas o que eu e nem ninguém esperava era ver o time em 11th em DVOA, e embora esse número provavelmente esteja inflável (saltou de 18th para 11th em uma semana). Ainda assim, o ponto permanece: o Colts saltou de um time horrível defensivamente para um time pelo menos decente, se não competente, um ano depois.
Olhando mais de perto, vemos que o Colts ainda é bem vulnerável contra corridas (7th pior, 4.5 YPC), mas deu um salto imenso contra o jogo aéreo. O que não quer dizer que o Colts seja uma fortaleza como Seattle ou Tampa Bay, mas a evolução é nítida: são 6.2 jardas ajustadas (ou seja, incluindo sacks) por passe, bom para a 14th melhor marca da NFL (também é 14th em jardas por passe). E esse número provavelmente é viesado, considerando que o Colts enfrentou Seahawks, 49ers, Broncos e Chargers, o que faz desse número ainda mais impressionante. Essa secundária foi ajudada pela chegada de Landry (que perdeu vários jogos) e Vontae Davis voltando a sua forma como um sólido cornerback, mas ainda mais importante, está a capacidade do Colts de colocar pressão nos seus adversários. O time de Indianapolis soma 21 sacks na temporada, a sexta melhor marca da NFL, o que da uma marca de 8.2%. Em outras palavras, em 8.2% das jogadas de passe do adversário acabam em um sack. Isso é importante não só pelas jardas que tira do ataque com os sacks, mas também por apressar as jogadas, diminuir o tempo do QB de achar um recebedor livre e forçar arremessos piores. Por esse motivo, apesar de não ter uma grande secundária (12.3 jardas por passe completo, sexta pior marca da NFL), o Colts segura os QBs adversários ao oitavo pior aproveitamento da NFL, oitavo menor número de TDs aéreos e é o décimo que mais conseguiu interceptações, marcas ainda melhores considerando os adversários enfrentados.
O Colts ainda tem uma defesa vulnerável, mas está contando com um número de jogadores que estão fazendo a diferença e surgindo. Robert Matthis está tendo a melhor temporada da sua carreira, com 11.5 sacks em sete jogos e sendo uma das forças defensivas mais destrutivas da temporada, Davis voltou a ser um Pro Bowler-caliber CB, e Jerell Freeman acabou se mostrando um muito sólido LB tanto na cobertura como contra a corrida. Então mesmo que a defesa tenha suas fraquezas e não seja exatamente um grupo cheio de talentos e opções como Seahawks ou Chiefs, eles fazem algumas coisas muito bem feito e isso tem sido suficiente para colocar a defesa como sendo pelo menos acima da média. E considerando a enorme diferença entre "segunda pior da NFL" e "decente/acima da média", é uma evolução que definitivamente não estava nos planos de ninguém. Eu esperava a evolução do ataque, e em especial de Andrew Luck, e por isso disse que o time ainda tinha capacidade de chegar em algo como 8-8 ou até melhor, mas essa evolução da defesa foi uma surpresa bem vinda que teve um impacto importante na temporada.
O Colts tem explorado perfeitamente os seus adversários
E esse é o ponto que eu mais me interessei assistindo vídeos do Colts: Indianapolis tem feito um trabalho excelente se preparando para enfrentar seus adversários, tirando vantagens das suas fraquezas e explorando cada missmatch possível. É o tipo de coisa que não aparece em estatísticas, mas que é fácil de ver em vídeo: especialmente nos seus três jogos mais difíceis (49ers, Seahawks, Broncos), me impressionou como o Colts sabia exatamente como ele queria que o adversário jogasse e como se preparou para realizar seu plano de jogo. As vezes com ajuda da sorte, claro, mas funcionou muito bem.
Primeiro, contra o 49ers, o Colts entrou tendo um conhecimento que o Packers não tinha na abertura: o 49ers só tinha um WR capaz de criar separação consistentemente e ser uma alvo regular para Kaepernick, e este era Anquan Boldin. Os outros WRs da equipe poderiam eventualmente conseguir espaço para uma jogada ou duas, mas é o tipo de risco que você aceitaria tomar tranquilamente. Então aproveitando também que o melhor recebedor do 49ers - o TE Vernon Davis, irmão de Vontae Davis - estava fora da partida, o plano de jogo da equipe foi bastante simples: colocar uma marcação dupla ou até mesmo tripla em cima de Boldin para tirá-lo do jogo, e pressionar bastante os demais recebedores do time na linha de scrimage. O 49ers não possui jogadores com a agilidade ou a força física para furar facilmente essa pressão logo na linha, eles acabam optando por se movimentarem lateralmente ao invés de em direção ao campo aberto, e o Colts inteligentemente colocou sua defesa mais perto da linha para evitar os passes curtos. Isso significava que, sem Vernon Davis para as rotas longas (isso foi sorte do Colts, btw, não seria possível executar esse plano com o TE saudável e jogando), o 49ers precisava que um WR quebrasse essa pressão e corresse em direção ao espaço deixado atrás pela defesa (nenhum conseguiu), que a linha ofensiva segurasse a boa pressão do Colts por tempo suficiente para que os recebedores conseguissem voltar a suas rotas (não aconteceu), ou então viver com passes super curtos em uma parte congestionada do campo. Isso tirou o 49ers do seu plano de jogo, forçando-os a correr (com algum sucesso) mais do que queriam, mas foi suficiente para evitar que o time da casa controlasse o jogo.
Contra o Seahawks, o Colts teve algum sucesso e alguns fracassos no jogo como um todo defensivamente (time colocou um spy no Russell Wilson ainda no primeiro tempo e teve sucesso contendo o QB nas corridas, depois tirou para reforçar a secundária e Russell correu a vontade), mas montou um excelente plano de jogo para atacar Richard Sherman. Sherman é considerado um dos melhores CBs da Liga, mas um dos motivos dele ser tão dominante é que o Seahawks usa um esquema que maximiza suas qualidades e esconde suas fraquezas: o camisa 25 é extremamente dominante perto da linha de scrimage, onde usa seu tamanho e sua força física para conter o movimento dos adversários, e ainda possui um jogo de pernas extremamente ágil que lhe permite acompanhar rotas próximas da linha. Mas ele não tem velocidade (o que lhe fez cair até a sexta rodada, btw) para acompanhar jogadores velozes, e por isso o time gosta de mantê-lo em uma defesa por zona na parte lateral do campo próximo a linha, com o safety cobrindo sua retaguarda já que se Sherman for forçado a sair em perseguição profunda em um mano-a-mano ele vai ficar para trás (foi assim que o Falcons venceu o Seattle nos playoffs, inclusive). O que o Colts fez então foi tirar o CB da sua zona de conforto, colocando o extremamente veloz TY Hilton naquela parte do campo e o fez correr rotas de velocidade pelas costas de Sherman, forçando o lento defensor a acompanhá-lo (o que tira sua principal característica) ou então deixá-lo passar para o safety acompanhar, o que gerou algumas falhas de comunicação (como na bomba de Luck para Hilton no primeiro TD do time) e as vezes forçou o safety a se deslocar demais e abriu o meio do campo para os passes precisos do QB. O Seahawks não estava acostumado a ver um time atacar Sherman dessa maneira nem a direcionar tanta ajuda aquele local, o que causou um colapso ocasional na defesa aérea que Luck conseguiu explorar com sua genialidade por 60 minutos.
Por fim, contra o Broncos, o time fez duas coisas diferentes e que funcionaram muito bem. A primeira foi, como eu já disse, confiar mais em Luck para lançar cedo na contagem: o Broncos tem uma defesa terrestre boa e uma secundária horrível, então é muito mais vantajoso que seu All-World QB passe a bola o máximo possível. Depois de manter sua abordagem tradicional no começo do jogo, o time entregou a bola nas mãos de Luck com maior frequência quando o Broncos abriu o placar, o que resultou em uma dominação ofensiva do Colts e a virada. No final da partida, o Colts decidiu voltar a ser conservador e voltou a dar a bola nas mãos de Trent Richardson, que não só falhou ao controlar o jogo e manter o ataque de Denver no banco como ainda sofreu um fumble que quase custou o jogo ao time.
Mas foi defensivamente que a equipe ganhou a partida, aproveitando a única coisa que Manning não tem nesse momento: força no braço. Desde que voltou de cirurgia, Manning não tem a mesma competência e precisão nos lançamentos mais fortes, algo que inclusive o incomodou bastante no começo da temporada passada. Depois, o camisa 18 se acostumou e modificou seu jogo para se adaptar melhor a essa falta de força e aproveitar ao máximo sua inigualável precisão e toque na bola, e não precisou mais tanto disso. Mas o Colts, com seu pass rush levando a melhor sobre a linha ofensiva de Denver (esse matchup foi crucial na partida, btw: Manning foi sackado quatro vezes - seu maior número desde 2009 - e conseguiu derrubar o QB 7 vezes, também um recorde desde que chegou a Denver), decidiu explorar essa característica: novamente eles congestionaram o meio do campo e pressionaram os adversários na linha de scrimmage, obrigando os recebedores a criarem separações em rotas verticais e obrigando Peyton a acertar esses jogadores em profundidade. As vezes ele acertou, porque ele é Peyton freaking Manning e é isso que ele faz, mas foi o risco que o Colts aceitou para tirar o ataque veloz e de passes curtos do Broncos de sintonia com seus defensores fisicamente agressivos. A estratégia funcionou muito bem, em parte porque Manning não foi tão preciso nas bolas longas e deixou várias oportunidades na mesa, e em outra parte porque tirando os passes curtos e com a linha ofensiva fraca de Denver sucumbindo, muitas vezes Manning não teve o tempo para seus WRs atingirem o local ideal ou mesmo para que ele conseguisse fazer a leitura adequada da jogada. Foi uma aposta, mas que pagou dividendos.
Os três jogos mais difíceis do Colts na temporada, e três estratégias arriscadas mas que funcionaram a perfeição e levou o time a três vitórias cruciais. Não se pode pedir mais que isso de uma comissão técnica.
Para onde o Colts vai daqui para frente?
Antes da temporada, eu achei que com a evolução esperada de Luck, a chegada de Bradshaw e alguma evolução normal da defesa, o Colts ia ser um time melhor, mas regredindo em relação a Pythagorean Wins, jogos decididos por uma posse de bola e sorte nos fumbles (o Colts realmente voltou a normalidade nos três, btw), achei que o time ia no máximo ficar 9-7 e chegar em um Wild Card sem uma chance real de título. Esse eu admito que errei feio: o Colts era um time de verdade que tinha tudo para sonhar com um eventual Super Bowl, com um sólido ataque, um dos melhores QBs da NFL, e uma defesa que conseguia pressionar o QB...
... até que Reggie Wayne rompeu o ligamento, tirando o segundo melhor jogador desse ataque da temporada. Quão grande é essa perda para o Colts? Bom, Wayne liderava o time com 503 jardas e 38 recepções, o que é um fator importante. Wayne também era o alvo favorito e mais confiável de Luck: dos 227 passes do segundo-anista, 26% foram para Reggie Wayne, sem descontar os passes desses que foram ele se livrando da bola (o que deve colocar esse número em quase 30% dos alvos). Wayne também consegue recepções em 66% das vezes que é o alvo do passe, muito superior a Hilton e Bey (51% cada) - Luck completa 66% de seus passes para Wayne para 8.6 jardas por passe, enquanto completa 59% com 6.5 jardas por passe para todos os outros jogadores. O camisa 87 é o único jogador do time que consegue também ocupar aquela posição de possession WR pelo meio, fazendo as rotas mais seguras pelo meio e sendo uma garantia nas conversões: Hilton e Bey são jogadores de velocidade, que estão sendo mais úteis fazendo rotas longas e não tem as mãos firmes e a precisão nas rotas intermediárias (nem o físico para jogar em tal área), e Coby Fleener não está pronto para executar esse papel de forma mais regular e contra defesas mais preparadas. É realmente um golpe extremamente duro para esse ataque, e ninguém lá pode tentar substituir Wayne.
Isso abre três possibilidades para o Colts indo para frente. A primeira é tentar substituir o papel de Wayne com os jogadores do elenco e seguir em frente, mas pelos motivos que já expliquei, não acredito nisso funcionando. A segunda seria mudar o funcionamento ofensivo do time para envolver menos passes e se basear ainda mais no jogo terrestre, mas também não me agrada, pois você sub-aproveita o melhor jogador do seu time e entrega a bola para um jogador ruim como Richardson. E a terceira, que também é a mais interessante: entrar no mercado de trocas em busca de um novo WR para substituir Wayne essa temporada e eventualmente formar uma dupla para o futuro. O Colts já mostrou que não tem nenhum problema em gastar escolhas de draft e ativos futuros para reforçar seu time e aumentar as chances de título agora, então eles são um candidato muito interessante a arrumar uma troca por um jovem WR que possa continuar no time no futuro. Os três candidatos mais fortes seriam Hakeem Nicks (por todos esses motivos), Josh Gordon (o Browns não quer trocar o jogador mas vai escutar ofertas, e o Colts me parece o tipo de time que trocaria uma 2nd round pick por um jogador que complementaria muito bem Wayne no futuro) ou talvez Justin Blackmon, que está apenas no segundo ano de seu contrato mas que o Jaguars poderia se aventurar a trocar por uma boa proposta. Opções não faltam no mercado de troca, e se o Colts estava sério quanto a trocar escolhas por ativos imediatos e brigar pelo título, esse é o caminho de maior recompensa possível e pode manter o time no caminho dos playoffs - e até do Super Bowl - esse ano. Uma pena, porque o Colts tinha tudo para ir longe com essa nova formação e um técnico inteligente e o melhor jovem QB da NFL.
Palpite para o jogo de quinta feira
Panthers over BUCS
Contra o spread: Panthers (-4) over BUCS
De repente o Panthers parece mais e mais com o time que eu esperava antes da temporada, com Cam Newton em evolução e uma forte linha de frente. E o Bucs parece cada menos com o time que eu disse que iria levar a última vaga no wild card.
No caso se o Colts fizerem uma troca por um WR, não seria buscar um para eventualmente substituir Wayne? Quanto tempo mais vc acha que ele vai durar em alto nivel? Compensaria trocar por Hakeem Nicks? Ele não está jogando muito bem esse ano, que é o ano que ele deveria estar em melhor forma para um contrato grande.
ResponderExcluirOs outros 2 eu não vejo a troca acontecendo, principalmente o Jaguars, seria muito bom para o Jaguars segurar o blackmon para fazer uma ótima dupla com o QB que trouxerem ano que vem no draft. A melhor coisa a se fazer é ter um Bom WR para ajudar na transição do college pra nfl. Wayne está ai comprovando que ter um bom alvo ajuda bastante nisso, no inicio da temporada passada era só passe pra ele.
Eventualmente substituir Wayne, mas ele ainda tem uns dois anos em alto nível, acredito. Pode também assumir o papel de WR #1 e deixar o Wayne como secundário. Acho que com um cara versátil como Wayne isso não seria um problema, os dois poderiam jogar juntos antes do Wayne aposentar.
ExcluirO Browns já admitiu trocar o Gordon se a oferta for boa, e tem algum barulho sobre o Jaguars trocando o Blackmon. Seus argumentos são válidos, mas o Blackmon tem um contrato razoavelmente caro por ter sido Top10 pick e o Jaguars ainda está a mais de um ano de brigar por alguma coisa - pode simplesmente concluir que preferem ter uma futura escolha de draft e manter Cecil Shorts (Em um contrato muito mais barato) como o principal WR pro futuro do que Blackmon virar Free Agent antes do time estar pronto e comandar um salário imenso ou perder o jogador por nada. Acho que depende muito do retorno que conseguirem pelo Blackmon e do que esperam dele quando virar FA em dois anos. Acho um sleeper interessante.
Sobre o Nicks, ele está mal esse ano, mas supostamente está jogando machucado (todo mundo que vai pro Giants machuca, alguns se perguntam se é culpa dos treinos supostamente insanos do Tom Coughlin) e já provou ser um WR #1 na sua carreira. Ele é jovem, então não tem motivos para acreditar que está na decadência. Talvez agora seja o momento de comprar barato nele.