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Normalmente eu nem iria escrever essa coluna sobre a ALCS e a NLCS, apesar de todo meu amor pelos playoffs da MLB. Infelizmente, é NFL e não MLB/NBA que eu tenho que produzir semanalmente para o Esporte Interativo, então falta tempo para sentar e escrever direito de baseball. Mas como um número surpreendentemente grande de leitores veio pedir essa coluna e falar que gostam do que eu escrevo de baseball, então acabei escrevendo esse post para falar um pouco sobre alguns fatores interessantes dessas finais de liga na MLB. Considerando que peguei o bonde andando, não vou fazer um preview ou uma previsão, só comentar alguns pontos interessantes e como eles podem ou não influenciar a série daqui para frente. Então vamos começar pela ALCS, onde o Red Sox abriu 2-1 de vantagem na série ontem.
ALCS: Boston Red Sox vs Detroit Tigers
- O show de strikeouts do Detroit Tigers
Nesses três primeiros jogos da ALCS, uma das coisas que mais chamou a atenção foi o show de strikeouts que os titulares do Detroit Tigers estavam conseguindo. Em três jogos, os três principais arremessadores do Tigers (Justin Verlander, Max Scherzer e Anibal Sanchez) arremessaram juntos 21 entradas e conseguiram 35 strikeouts, um números basicamente absurdo e impossível que deveria ser proibido. Basicamente, os titulares do Tigers enfrentaram 77 batedores e conseguiram 35 strikeouts, um índice de strikeouts de 45.4%. O recorde de uma única temporada para um arremessador é 37.5%, Pedro Martinez em sua lendária temporada de 1999. Então por ai da para ver o quão dominante tem sido esse trio na série, e também o quão é absurdo o que eles estão fazendo, especialmente contra um time que teve o melhor ataque da MLB durante a temporada regular.
Como geralmente acontece nesses casos, algumas pessoas perguntaram se isso mostrava uma grande performance dos arremessadores de Detroit ou uma sequência muito ruim dos rebatedores de Boston, que não conseguiriam acertar uma pinhata a essa altura. E como normalmente é o caso, a resposta é que um pouco dos dois casos. Quando você tem uma dominação muito grande, geralmente é uma história de dois lados. Yu Darvish é um arremessador espetacular, mas não é uma coincidência que alguns de seus melhores resultados na carreira vieram contra os horríveis Astros, por exemplo. Também não é uma coincidência que o Seattle Mariners tenha sido uma fonte constante de no-hitters nos últimos anos para seus adversários.
Essa série não tem sido diferente. O Tigers tem um conjunto de arremessadores que é monstruoso com Scherzer, Verlander e Sanchez, três pitchers que conseguem uma tonelada de strikeouts e que possuem um repertório devastador. Durante a temporada regular, Scherzer foi o segundo colocado na MLB em K% com 28.7% (atrás dos 32.4% de Darvish) e Sanchez foi o quinto colocado com 27.1%, enquanto que Verlander vinha na 15th posição (23.5%) mas subia para o Top5 pegando apenas no mês de Setembro. Scherzer também possuía a quarta melhor fastball de 2013 (atrás de atrás de Harvey, Kershaw e Cliff Lee) e o terceiro melhor slider (atrás de Darvish e Jose Fernandez), enquanto Sanchez aparece no Top10 com seu changeup e seu slider e Verlander é Justin freaking Verlander, 2011 MVP e o melhor pitcher da MLB entre 2009 e 2012. Então não é nenhuma surpresa ver esse trio conseguindo dominar adversários, acumulando strikeouts e usando seus arremessos dominantes em situações favoráveis (mais sobre isso daqui a pouco). O problema é que essa dominação é um pouco absurda demais mesmo para os altos padrões dessa rotação, e para isso é só olhar do outro lado, para os at bats que o Red Sox está tendo nessa série, e eles tem sido realmente atrozes: tirando os seis walks conseguidos contra o Anibal Sanchez, o que temos visto é uma sequência enorme de jogadores indo para swings fora da zona de strike, com pouco controle sobre a zona e que estão tendo dificuldades em fazer contato de maneira geral.
Algumas pessoas se perguntam se essa sequência realmente muito ruim do Red Sox no bastão tem a ver com o tipo de abordagem da equipe durante toda a temporada. Ao longo do ano, o Red Sox foi de longe o melhor time da MLB trabalhando as contagens e os at bats em seu favor, um time extremamente paciente, que via muitos arremessos a cada passagem pelo bastão e via, como consequência, um grande número de contagens altas. Uma das consequências desse tipo de abordagem, naturalmente, é que você vai cometer muitos strikeouts, já que vai se ver muito em situações de dois strikes - e de fato, o REd Sox foi o nono time que mais sofreu strikeouts em 2013, 20.5%. Mas esse tipo de abordagem também trás outras vantagens. A primeira é que você tamb ém vai conseguir muitos walks, já que vai se colocar em muitas contagens de três bolas, e de fato o Red Sox foi o quarto melhor time conseguindo walks, 9.1% das passagens no bastão. E segundo e talvez mais importante, ver um grande número de arremessos significa que tem mais chances, a cada passagem no bastão, de receber aquele arremesso que você mais gosta ou é mais eficiente rebatendo, aquele arremesso sob o qual você tem o maior controle, e isso o Red Sox fez a perfeição: apenas dois times rebateram mais LDs do que o Red Sox, e Boston terminou o ano com o maior BABIP e o maior xBABIP de toda a liga, uma mostra de que eles realmente controlaram muito bem as bolas que colocavam em jogo. Mas nessa série, isso pode estar atuando contra a equipe: os rebatedores do Sox estão se colocando muito cedo em situações de 1-2 ou 0-2, mas dessa vez estão fazendo isso contra uma equipe que tem arremessadores com arremessos muito mais perigosos do que o comum para conseguir esse strikeout. Esse trio do Tigers foi particularmente brutal enfrentando arremessadores em contagens de dois strikes, pois podiam usar seus melhores arremessos nesses momentos, e é muito mais complicado sobreviver quando jogadores desse calibre estão usando suas melhores bolas. E isso é um dos fatores que tem levado tanto aos strikeouts.
A pergunta que isso levanta, naturalmente, é se o Red Sox deveria mudar sua abordagem, indo para o swing mais cedo nas contagens ao invés de se colocar nessas situações favoráveis aos arremessadores adversários. Essa é uma questão mais difícil do que parece a primeira vista. Fazer isso provavelmente vai diminuir os strikeouts e vai levar o time a colocar mais bolas em jogo, sem dúvida, mas também possui alguns poréns. Primeiro, porque torna mais difícil para o time chegar em base através de walks (uma das suas grandes forças) e ver os arremessos mais favoráveis para rebater. Mas segundo e talvez mais importante, porque não gasta o braço dos arremessadores. Esse é um benefício menos comentado de trabalhar muito a contagem, mas quando você obriga o pitcher a arremessar mais vezes, você encurta o tempo que ele fica em campo e as entradas que ele arremessa, forçando o titular (e provavelmente um jogador melhor) a sair e entrar o bullpen (e seus jogadores inferiores). Isso é particularmente importante em uma série onde os titulares de Detroit estão sendo tão dominantes, porque obriga eles a saírem mais cedo da partida e colocar os relievers, que estão sendo muito pouco confiáveis nesses playoffs (a começar pelo Grand Slam de David Ortiz no G2, com cinco relievers diferente colocando um jogador em base). Então é uma faca de dois gumes ir para o swing antes: você diminui os strikeouts, mas você se arrisca a ver jogadores como Scherzer e Verlander - jogadores que você normalmente iria querer ver o mínimo possível - por mais entradas. Achar esse balanço - o time tentou contra Justin Verlander e não teve muito sucesso, apesar da vitória - vai ser chave quando Sanchez e Scherzer voltarem ao montinho para uma segunda chance.
- Historicamente bom
Claro, você está lendo isso numa quarta feira a tarde sabendo que o Red Sox está vencendo a série por 2-1 nesse momento. E isso aconteceu por dois motivos, principalmente: porque o Red Sox possui David Ortiz, e porque eles conseguiram vencer Detroit em seu próprio jogo no G3.
A história do G2, passando um instante pelo final histórico e mais um home run monumental nos playoffs de David Ortiz (uma mistura de Dave Henderson e Roy Hobbes a esse momento), é de algo que eu já falei dois parágrafos atrás. Contra Scherzer, o provável Cy Young da AL, o Red Sox foi, novamente, inútil: em sete entradas, o time conseguiu duas rebatidas e dois walks, mas sofreu 13 (!!) strikeouts e anotou apenas uma corrida, números muito ruins para um ataque tão potente. Mas pelo menos, a abordagem de muitos arremessos e trabalhar contagens fez com que Scherzer chegasse aos 108 arremessos nesse ponto, fazendo Jim Leyland tirá-lo e confiar no seu bullpen, muito menos confiável desde a série contra Oakland. O resto foi história: Jose Veras cedeu um double para Will Middlebrooks e saiu para a entrada de Drew Smily com o canhoto Jacoby Ellsbury indo ao bastão. Smily cedeu o walk para Ellsbury e foi tirado por Al Albuquerque, que conseguiu o strikeout em cima de Shane Victorino mas cedeu a rebatida simples para Dustin Pedroia para lotar as bases. Leyland trouxe então seu closer Joaquin Benoit para enfrentar David Hobbes Ortiz, que imediatamente mandou o primeiro arremesso que ele viu (83 MPH changeup) para o outro lado do muro empatando o jogo com um grand slam. Uma entrada depois, contra um confuso Rick Porcello, Jarod Salty venceu a partida com um walk-off single no que deveria ter sido uma confortável vitória do Tigers para praticamente selar a série. Então é fácil se maravilhar com David Ortiz aparecendo em um momento crucial em Outubro mais uma vez - ele possivelmente vai entrar no Hall da Fama pelo seu currículo de playoffs sozinho - e possivelmente salvando a temporada de Boston com um dos HRs mais importantes e incríveis dos últimos anos, mas não foi nada fácil, e precisou de Scherzer sentado no banco e um improvável rally contra o fraco bullpen de Detroit para chegar nesse ponto... e digamos que ter um dos maiores monstros em playoffs da história recente (deixando de lado o inútil debate sobre clutchness ou não, você vai ter trabalho achando um jogador que teve mais desses momentos em playoffs nos últimos anos do que Ortiz) ajuda.
No G3, o Sox bateu o Tigers no seu próprio jogo: pitching. Justin Verlander foi magistral com 8IP, 10K, 1 BB e 1 ER, mas de alguma forma John Lackey - experimentando uma temporada de volta por cima absolutamente assombrosa - conseguiu ser ainda melhor, striking out 8 em 6.2 entradas sem ceder walks ou corridas. De fato, a vitória veio por um quesito em que o Tigers tinha chamado mais a atenção: strikeouts. Entre Verlander e o bullpen, o Tigers conseguiu 11 strikeouts na partida, um bom número... mas entre Lackey e o bullpen do Sox, o time combinou para 12 Ks na partida. Se o Tigers estava vencendo por conta de seus arremessadores, dessa vez Boston deu o troco, dominando do começo ao fim o bom (mas baleado) lineup de Detroit. Mas mais importante do que a quantidade de strikeouts, foi como os arremessadores conseguiram esses strikeouts em momentos cruciais da partida. O primeiro aconteceu na quinta entrada, quando Jhonny Peralta começou a entrada com uma rebatida dupla e avançou para a terceira base no groundout de Alex Avila. Era uma situação clara de sac fly, e com Lackey e Verlander jogando como estavam, uma corrida poderia se provar decisiva (como aconteceu)... mas Lackey trabalhou a contagem completa contra Omar Infante, conseguindo o strikeout com um cutter obsceno que Infante não chegou nem perto de rebater.
O segundo momento de perigo - e um perigo bem maior - aconteceu na oitava entrada, pouco depois do HR de Mike Napoli dar a vantagem ao Sox. Depois de uma série de decisões questionáveis de John Farrell (chegaremos nela) fez o Tigers colocar homens na primeira e terceira base com apenas ume liminado, e o que era pior, com o coração da ordem do time vindo para o bastão - Miguel Cabrera, Prince Fielder e, eventualmente, Victor Martinez. Junichi Tazawa enfrentou o provável MVP da MLB com artilharia pesada: quatro fastballs, 94, 95, 94 e 94 MPH, todas altas desafiando Cabrera a ir para o swing... e ele foi em todas, somando três swinging strikes e um foul ball, sendo enfim eliminado por strikeout. Tazawa nunca teria feito isso se Cabrera tivesse 100% - durante a temporada regular ele foi obsceno rebatendo fastballs, especialmente altas ou na parte de dentro da zona - mas ele está claramente limitado até aqui e não está conseguindo gerar o mesmo tipo de poder com seu swing, então Tazawa aproveitou isso (e o fato de que Cabrera foi um dos jogadores da MLB que mais rebateu em DPs) para atacar o 3B, e conseguiu o strikeout. Fielder subiu ao bastão ainda em uma situação delicada, mas Farrell trouxe Koji Uehara para enfrentar o gordinho: Fastball, fastball, splitter, strikeout, e o resto é história, com Boston assumindo a vantagem 2-1 na série apesar de suas dificuldades contra os titulares de Detroit.
Uehara, inclusive, é um personagem extremamente importante nesse time do Red Sox que não tem recebido o devido crédito por seu brilhantismo em 2013. Quando Uehara conseguiu o strikeout para cima de Prince Fielder, eu coloquei no twitter do blog que "Não vou mais chamar Koji Uehara de Mariano Rivera japonês. Agora Rivera é o Koji Uehara latino". Era obviamente uma brincadeira, mas um número surpreendentemente grande de pessoas achou que eu estava falando sério e me criticou por dizer isso. Então só para ser do contra, que tal isso...
2013 Koji Uehara: 1.09 ERA, 1.61 FIP, 2.08 xFIP, 0.57 WHIP
Melhores marcas da carreira de Mariano Rivera: 1.38 ERA (2005), 1.88 FIP (1996), 2.28 xFIP (2008), 0.67 WHIP (2008)
Impressionante, não é mesmo? E isso sem nem falar que esse 0.57 de WHIP é a melhor marca da história da MLB para um jogador com pelo menos 50 IP. Então em nenhum momento eu acho que Koji Uehara chega perto de Mariano Rivera - o maior closer da história do baseball - como jogador, mas o fato é que 2013 Koji Uehara foi mais dominante do que Rivera, Joe Nathan, Joakim Soria ou qualquer outro grande closer moderno (tirando TALVEZ 2012 Craig Kimbrel) foram em algum ponto específico de suas carreiras. E sinceramente, isso é mais do que suficiente.
- Decisões de um técnico
Um dos momentos mais polêmicos da partida de ontem foi a decisão do John Farrell de tirar Lackey - que estava espetacular - depois de 6.2 entradas e colocar Craig Breslow para enfrentar Alex Avila. O narrador da partida, Romulo Mendonça (de quem eu gosto) disse que era uma decisão controversa e difícil, e que só saberiam se ela foi certa ou não dependendo do resultado da entrada. Com todo o respeito, essa é a PIOR forma de se avaliar qualquer tipo de decisão durante o jogo. O resultado de qualquer decisão é influenciado por inúmeros fatores além do controle ou do conhecimento do técnico, fatores esses que muitas vezes são aleatórios, em particular em um esporte como baseball. Avaliar uma decisão com base no resultado final é a forma mais pobre possível. Ontem eu comentei sobre um caso semelhante na NFL e expliquei, passo a passo, como devemos olhar para o processo da tomada de decisão na hora de julgar um técnico, e não o resultado final. Embora o esporte seja outro, o raciocínio ainda vale: o técnico não tem como saber qual vai ser o resultado de sua ação, está além do seu controle muitas vezes, a questão é que ele precisa tomar a decisão que de ao seu time a melhor chance de sucesso, ainda que as vezes a melhor decisão nem sempre de no melhor resultado, e vice versa. Então ignorando essa besteira de "a decisão foi boa se o resultado foi bom", vamos olhar o processo de tomada de decisões de Farrell e ver aonde ele acertou e aonde ele errou.
Primeiro, Lackey estava dominando a lineup do Tigers, como já dissemos: 8Ks, nenhum walk e apenas uma rebatida multibase (o double de Peralta). Até que Farrell decidiu, com 2 outs, nenhum homem em base e Alex Avila no bastão, tirar Lackey e trazer Craig Breslow para enfrentar o catcher de Detroit. Bom, para avaliar essa decisão, primeiro precisamos partir de um simples fato: Lackey não iria voltar para a oitava entrada de qualquer forma. O RHP já estava se aproximando dos 100 arremessos, e Farrell disse que não queria exagerar na carga de seu titular de um eventual G7, então ele não iria voltar de qualquer forma. Nesse caso, a única questão que fica na sétima entrada é simples: quem teria maior chance de conseguir a eliminação sobre o canhoto Avila, Lackey ou Breslow?
A resposta para essa questão é fácil. Avila é um rebatedor muito bom contra destros, na verdade. Em 2013, ele rebateu .255/.345/.422 contra destros, para um wRC+ de 112 (ou seja, rebatendo contra destros ele gera 12% a mais de corridas que um jogador médio). Enquanto isso, contra canhotos Avila rebateu apenas .139/.227/.228 para um wRC+ de 25 (ou seja, 75% pior do que um jogador médio rebatendo contra canhotos). Mesmo com alguma influência de BABIP, os periféricos sustentam essa visão: Avila consegue walks a uma taxa 3.1 pontos percentuais maior contra destros e comete strikeouts a uma taxa 9 pontos percentuais maior contra canhotos, sem falar nas diferenças rebatendo por força (20% FB/HR ratio contra destros, 6.4% contra canhotos). Então me diga, considerando a enorme diferença de Avila rebatendo contra destros e canhotos, e que Lackey iria sair ao final da entrada de qualquer forma, me diga: quem você acha que, enfrentando Avila, teria maior chance de eliminá-lo, o destro ou o canhoto? Claro que o canhoto, e por isso foi uma decisão inteligente trazer Breslow.
Mas ai chegou a oitava entrada, com Jose Iglesias (pinch hitting no lugar do Andy Dirks por algum motivo obscuro) e o começo da ordem de Detroit (Austin Jackson, Tori Hunter e Miguel Cabrera) logo depois. Bom, antes de mais nada, sabe o que esses quatro jogadores tem em comum? Eles são todos destros, e Farrell tinha a sua disposição Junichi Tazawa - um destro - aquecendo no bullpen e que poderia entrar e enfrentar essa sequência de RHH. Ao invés disso, Farrell optou por manter Breslow. Então vamos olhar o que tem por trás dessa decisão.
Vocês provavelmente já ouviram ou ainda ouvirão um comentarista profissional de MLB falar que Breslow é mais eficiente contra destros do que contra canhoto apesar de ser um LHP, o que justificaria a decisão de Farrell de usar Breslow contra uma sequência de destros. Mas isso está totalmente errado. É o tipo de conclusão superficial que você vai chegar se olhar somente os números dos jogadores rebatendo contra Breslow: .205 quando são destros, e .253 quando são canhotos. Mas ai você começa a olhar mais a fundo, e você vai perceber que isso não vem da capacidade de Breslow e sim do puro acaso. Em baseball, existe uma estatística chamada BABIP, que significa Batting Average for Ball In Play. Em outras palavras, ela mede quantas das bolas que foram colocadas em jogo contra um dado arremessador viram rebatidas válidas. E a questão é a seguinte: arremessadores não tem quase NENHUM controle sobre seus BABIPs, é uma estatística que depende totalmente do acaso e da defesa, e que tende a um patamar próximo de .295 para todos os arremessadores quando colocados em uma amostra grande o suficiente. Por isso que quando analisamos um arremessador, o certo é olhar apenas para os fatores que ele controla diretamente: strikeouts, walks, e home runs. A diferença em aproveitamento dos rebatedores contra Breslow vem do fato de que seu BABIP contra canhotos está EXATAMENTE em .295 e contra canhotos está em .225, algo totalmente aleatório e fora do seu controle. Olhando para os valores que Breslow de fato controla, vemos que ele consegue mais strikeouts contra canhotos (1.35 por 9IP a mais) e cede muito mais walks (1 por 9IP a mais) e HRs (0.2 por 9IP a mais) contra destros - de fato, seu FIP contra canhotos é de 3.1 e seu FIP contra destros é de 4.01. Infelizmente algumas pessoas só sabem olhar nos dados superficiais ao invés de analisar a fundo cada aspecto do baseball, mas o fato é que Breslow não é e nunca foi um arremessador melhor contra destros, então não mencionem isso mais como sendo verdade... porque não é.
Por isso Farrell cometeu um erro ao deixar Breslow para enfrentar o topo destro da ordem do Tigers, espcialmente Jackson (que consegue 4.3% a mais de walks contra canhotos e strike out 1.4% a mais contra destros) e Tori Hunter (127 wRC+ contra canhotos, 112 wRC+ contra destros), dois jogadores que rebatem melhor ainda contra LHP. Breslow eliminou Iglesias mas logo andou Jackson em cinco arremessos, e Farrell enfim tirou seu arremessador, que não deveria ter começado arremessando em primeiro lugar com um destro como Tazawa pronto para entrar. Eu também questionei a decisão de trazer Tazawa e não Uehara para tentar um save de 5 outs, pois como já dissemos Uehara teve uma temporada absurdamente dominante e já tinha tido quatro 5-out saves e diversos 4-out saves na temporada, então não é como se estivesse fazendo algo novo para ele. Mas isso provavelmente envolve uma questão um pouco mais relacionada a rotina de bullpen que Farrell sabe melhor que eu, então não tem como avaliar qual dos dois deveria ter entrado: Uehara era o melhor jogador e me parecia mais indicado para entrar e tirar o time de uma encrenca, mas ai os dados ficam mais difíceis. Tazawa cedeu a rebatida para Hunter mas depois conseguiu um strikeout crucial em Cabrera (btw, preciso defender Farrell aqui: inteligente da parte dele deixar Tazawa e sua fastball mais veloz para enfrentar Cabrera, que está com dificuldades para rebater bolas muito rápidas desde a lesão) e Uehara entrou para começar seu 4-out save com um K em cima de Prince Fielder. No final tudo deu certo para Sox e Farrell, mas não quer dizer que ele tenha tomado as decisões corretas: ele acertou na sétima entrada, e errou no começo da oitava.
NLCS: Saint Louis Cardinals vs Los Angeles Dodgers
- O segredo do Saint Louis Cardinals
Na temporada regular, depois de 162 excruciantes jogos, o Cardinals tinha anotado o terceiro maior número de corridas de qualquer time da MLB, com 183 - 13 corridas atrás do Tigers e 70 atrás do Red Sox. Considerando que o Cardinals joga na National League, onde não existe a figura do rebatedor designado e portanto os placares costumam ser menores, a expectativa inicial era que usando uma ferramenta como wRC+ - que ajusta pela diferença de regras entre as duas ligas - o ataque do Cardinals parecesse ainda melhor, certo?
Acontece que esse não é o caso. Utilizando as estatísticas avançadas, mesmo as que ajustam pela diferença entre as ligas, o Cardinals cai um pouco na tabela para o sétimo lugar, pouco a frente de Dodgers e Braves. Isso pode parecer um pouco contra-senso, já que o Cardinals foi tão bom anotando corridas em uma liga menos favorável a isso, então esperava-se que o ataque do time fosse melhor do que os da AL. Mas esse não é o caso por um simples motivo: as estatísticas avançadas para times desconsideram alguns fatores de sorte ou acaso, considerando apenas o mérito individual dos rebatedores e suas slash lines (average, OBP e slugging) para ver um valor mais "preciso" do quão bom é o ataque de um time sem as influências aleatórias. Então qual era o fator que contribuiu para o Cardinals anotar tantas corridas mas cair quando desconsideramos influências externas?
E esse é o segredo do Cardinals: seu ataque foi impulsionado demais pelos seus números extraordinários rebatendo com jogadores em posição de anotar corridas. Como um time durante toda a temporada, o Saint Louis rebateu .269 (desconsiderando por um momento OBP e SLG), mas quando tinha jogadores na segunda e/ou terceira base, o time rebateu .330, a melhor marca da liga por uma milha. Naturalmente, quando você rebate mais com RISP (Runner In Scoring Position, ou jogadores em posição de anotar corridas), você vai anotar mais corridas, um raciocínio bem simples. Isso, é claro, levou um número enorme de pessoas a concluir (erroneamente) que isso acontecia porque o Cardinals "sabia rebater com RISP", que o forte deles era sua "habilidade de rebater com RISP", ou mesmo que o Cardinals era um time "clutch" cujos jogadores misticamente ficavam melhores quando tinha um companheiro pisando na segunda ou na terceira base.
Claro, isso é um monte de besteira. Times que rebatem melhor em geral vão rebater melhor com RISP por uma simples questão de lógica, mas não existe, nos 130 anos de história da Major League Baseball, nenhum tipo de evidência de que alguns times tenham uma habilidade ou talento especial para fazer isso (ano passado o Cardinals foi nono no quesito, btw). Isso acontece porque a amostra de rebatidas com RISP em uma dada temporada é uma amostra pequena, e como toda amostra pequena, sujeita a todo tipo de viés ou influências aleatórias, e portanto não são estatisticamente significativas. Colocando isso em uma amostra maior ao longo da história, NENHUM TIME mostrou um desvio significativo entre sua média de rebatidas e sua média de rebatidas com RISP, e entre as dezenas de milhares de jogadores que já jogaram na MLB, um número ridiculamente pequeno deles (algo como nove) podem dizer que nas suas médias na carreira foram melhores (de forma significante) com RISP em relação ao resto, e nenhum deles é uma grande estrela - todos são jogadores menores com uma amostra relativamente pequena, e apenas um em atividade. Então não, essa habilidade de rebater com RISP do Cardinals não existe, é um mito vindo dos números insustentáveis da equipe. E caso já tenha esquecido, o Cardinals tem a quarta pior marca dos playoffs rebatendo com RISP com 0.196. So there.
Então uma vez tirado essa influência do acaso que não se sustenta em uma amostra maior, o que sobra é um ataque ainda bom, mas nem de longe tão devastador como se parecia olhando apenas suas corridas anotadas, o que explica um pouco suas dificuldades de anotar corridas nesses playoffs. Isso é particularmente preocupante contra canhotos, contra os quais o Cardinals rebateu apenas .238/.301/.371 na temporada, um número horrível... e isso era COM Allen Craig (um cara que eu descobri que não sei escrever o nome quando fui procurar seus dados) na lineup, um bom RHP e um dos melhores jogadores do time. Então se um ataque dominante é exposto com apenas um ataque bom quando tiramos a influência do acaso nesses números com RISP (e tiramos Craig do lineup), esses números ficam genuinamente preocupantes contra arremessadores canhotos, especialmente com o LHH Matt Adams na 1B. Considerando que o Dodgers, se vencer hoje, tem dois canhotos para fechar a série (Kershaw e Ryu) e eventualmente o Boston Red Sox pode jogar duas vezes com Jon Lester nos playoffs, é algo a ser observado (para sorte do Cardinals, o Detroit usa quatro destros na rotação, embora seu melhor jogador de bullpen seja o canhoto Drew Smyly). Claro que as forças do Cardinals vão muito além disso - Adam Wainwright e Michael Wacha, alguém? - mas ainda é algo que precisa ser monitorado.
-As lesões que afetam a NLCS
E não foram poucas! O Dodgers em particular foi um time que sofreu bastante com lesões ao longo de toda a temporada, e embora a boa fase do time na segunda metade da temporada tenha sido amplamente atribuída a chegada de Yasiel Puig, na verdade outros fatores contribuiram até mais do que o cubano, e muitos deles tiveram a ver com lesões, em especial as voltas de Hanley Ramirez (que foi melhor do que Puig na temporada regular, inclusive) e Zack Greinke do DL. O Dodgers ainda sofreu bastante com lesões mesmo depois disso, com Chad Billingsley indo fazer Tommy John, Andre Eithier batalhando todo tipo de lesão (mas sendo efetivo no final da temporada) e Matt Kemp tendo uma temporada decepcionante e marcada por lesões. Ainda assim, o time conseguiu se estabelecer mesmo apesar de tudo isso e ter um excelente final de temporada, chegando nos playoffs com grande favoritismo e derrubando o Braves em quatro jogos na NLDS.
Agora, contra o poderoso Cardinals na ALCS, o problema das lesões tem voltado para assombrar o Dodgers mais uma vez. Tirando os jogadores que já estão fora dos playoffs como Billigsley e Kemp, o time viu uma série de lesões afetar as opções da equipe para enfrentar a boa rotação de St Louis. Um deles acontece no CF, onde o titular (com Kemp fora) deveria ser Andre Ethier. No entanto, Ethier está batalhando algumas lesões, o que tiram sua mobilidade e velocidade no OF, comprometendo a equipe defensivamente (especialmente sendo um jogador que já não era tão bom nesse aspecto). Idealmente, Ethier - um especialista rebatendo contra RHP (140 wRC+ contra canhotos e 77 wRC+ contra destros) - seria a escolha, especialmente considerando o problema do Dodgers com seu lineup (já chego lá), mas sua eficiência reduzida e falta de valor defensivo fazem ele ser um risco, com algumas pessoas pedindo Skip Schumaker no seu lugar, um defensor melhor mas que tem um bastão muito fraco. Então enquanto o ideal seria ter o abaixo da média defendendo/ótimo rebatedor Ethier jogando ali, agora a decisão é o horrível defendendo/acima da média rebatendo Ethier ou o bom defensor/rebatedor ruim Schumaker.
Se esse fosse o único grande problema em termos de saúde do Dodgers, não seria o maior problema, mas infelizmente um muito mais significativo apareceu. Esse outro problema aconteceu no G1, quando logo na primeira entrada Joe Kelly acertou uma fastball de 95 MPH nas costelas de Hanley Ramirez. Hanley terminou o jogo, mas a lesão piorou com o tempo e Hanley acabou perdendo o jogo dois, e não tem sido nem sombra do mesmo Hanley nas últimas duas partidas. O quão prejudicial isso é para o Dodgers? Para começar, o time perdeu seu melhor jogador: Ramirez teve um wRC+ de 191 (sim, com muitos fatores totalmente insustentáveis desde BABIP até HR%, mas enfim) que teria sido o segundo melhor da MLB atrás de Cabrera se Hanley tivesse partidas suficientes, e foi de longe o melhor rebatedor das LDS com uma tonelada de rebatidas multibase. Ele também é o jogador que rebatia atrás do fraco Mark Ellis, que rebate no #2 só porque é bom fazendo bunts, então o rebatedor #3 desse time tem que ser alguém que tenha boas chances de impulsionar o corredor em uma eventual RISP - ou seja, o rebatedor mais capacitado do seu time - ou pelo menos alguém capaz de atrair um walk intencional e colocar um homem a mais em base para o perigoso Adrian Gonzales, mas agora que Hanley está jogando no sacrifício e não é nem um rebatedor tão perigoso para impulsionar a corrida nem para atrair um walk intencional, é uma arma perigosa (a mais perigosa de todas) que o Dodgers está perdendo para talvez o resto dos playoffs.
Isso é particularmente problemático considerando o funcionamento do lineup do Dodgers. Atualmente, o Dodgers é um time cujo lineup depende demais da produção do seu topo, já que falta a profundidade é um pouco escassa. Então o time tem para produzir consistentemente Carl Crawford, Adrian Gonzales, Ramirez e Puig, mas também usa AJ Ellis, Mark Ellis, Juan Uribe (bom poder, mas fraco no resto) e Ethier-no-sacrifício/Schumaker, então não é como o Red Sox, onde o lineup é recheado de bons rebatedores e qualquer um pode te castigar. É um time que conta com a ocasional produção da base do seu lineup, mas que depende muito desse topo e de seus quatro melhores rebatedores produzindo o máximo possível. Não ajuda o fato de que Don Mattingly, inexplicavelmente, usa o horrível Ellis (92 wRC+, .323 OBP) como rebatedor número dois porque ele é bom fazendo bunts, apesar das estatísticas indicarem que o #2 é o lugar onde você deveria usar seu melhor rebatedor. Então a existência de um peso morto no começo do seu lineup, ainda mais em uma posição tão importante quanto a #2, torna ainda mais importante que os demais jogadores desse topo produzam em alto nível para compensar esas burrice. Então a lesão de Hanley, que prejudica o melhor rebatedor dessa equipe, pode ser o golpe final nesse ataque do Dodgers que tinha tudo para ser muito melhor.
Mas claro, não é só o Dodgers que viu uma lesão atrapalhar seus planos para a NLCS. No caso do Cardinals, a lesão não é tão grande como Ramirez, mas é bastante significante por outro motivo. Allen Craig, que teve um 135 wRC+ durante a temporada regular, foi o terceiro melhor jogador ofensivo da equipe (depois de Matt Carpenter e Matt Holiday - curiosamente o quarto também foi um Matt, Matt Adams), mas talvez mais do que isso, Craig é um daqueles nove jogadores da história da MLB cuja diferença rebatendo com RISP é significativa (embora sua base amostral seja pequena ainda). Então se existe um jogador nesse time que pode se gabar de (amostra pequena, mas enfim) ajudar nesses dados do time rebatendo com RISP por habilidade e não por sorte, é Craig, mas ele possivelmente não vai jogar (e se jogar, não estará 100%) mesmo em caso de World Series. Então para um time que depende tanto das rebatidas com RISP, jogar sem o único jogador que realmente fez uma diferença consistente ao longo de sua curta carreira nesse aspecto é um golpe importante. A ausência de Craig também é importante enfrentando LHP, que como já dissemos é um problema desse lineup: ainda que Craig seja melhor rebatendo contra RHP do que LHP, seu substituto na 1B é Matt Adams, que rebate 79 wRC+ contra canhotos, então é um downgrade significativo.
Mas talvez ainda mais importante, a lesão de Craig força Adams a entrar na lineup titular, o que é um problema considerando que Adams era o único pinch hitter decente do elenco do time para usar ao longo do jogo. Com Adams fora (ou melhor, dentro), o time fica sem nenhuma boa opção para trazer do banco e rebater em um momento chave, com seus melhores PHs sendo Daniel Descalso (um mau rebatedor), Shane Robinson (que conseguiu HR no G4 mas teve um wRC+ de 93 na temporada) e Kolten Wong, um calouro promissor mas no qual o manager não confia para entrar e rebater. Então essa falta de banco e a desconfiança do time nos calouros Wong e Oscar Taveras (que passou o ano todo nas ligas menores e não chegou a subir apesar de ser o #1 prospect que sobrou na AAA) deixa o time sem opções estratégicas para vir do banco e rebater, o que é um problema ainda maior na NL onde você precisa que seu rebatedor rebata.
Claro, que desses dois, quem perde mais é o Dodgers com Ramirez - ele é (ou tem sido) um rebatedor melhor, e tem uma importância maior nesse time que depende muito de seus quatro melhores jogadores ofensivos. Mas pensando nos últimos (talvez no último) jogo dessa série e também em uma eventual World Series, são dois problemas significativos que o campeão da NL vai ter que enfrentar indo para frente.
(Infelizmente tinha muito mais coisas que eu queria escrever, mas fiquei sem tempo. Se alguém quiser me procure no twitter ou mande email para tmwarning@hotmail.com e conversamos mais sobre o assunto. Aproveitem!)
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