Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

terça-feira, 17 de junho de 2014

As estrelas da offseason, parte II - Carmelo Anthony

"Renovar com o Knicks?! Ta maluco?!"


(Essa é a segunda parte da coluna que começou sábado, quando falei de Kevin Love. A introdução é a mesma, então se já tiver lido, pode ir direto aos finalmentes).

Com o Miami Heat chegando na sua quarta final de NBA consecutiva (primeiro time a fazer isso em 25 anos) e dois títulos na estante, tem ganhado cada vez mais força a narrativa de que, para vencer um título na NBA, você precisa de uma superestrela, um dos 10 ou 15 melhores jogadores da Liga, capaz de vencer jogos sozinhos e desequilibrar uma série. É uma teoria que sempre foi repetida nos círculos da NBA, e que ganhou ainda mais força dada a dominação do Miami Heat nos últimos anos e a ascensão de times como Thunder e Clippers.

E certamente existe muito que sustenta essa teoria ao longo da história da NBA, tanto mais antiga como recente. É DIFICÍLIMO vencer um título na NBA sem uma grande estrela, quase impossível. Desde que Magic e Bird entraram na NBA em 1980, com apenas UMA exceção, os times campeões contavam sempre com uma grande estrela: Kareem, Bird, Moses Malone, Magic, Isiah ThomasJordan, Hakeem, Duncan, Shaq, Wade, Garnett, Kobe, Nowitzki e LeBron James - todos jogadores que estariam alto em uma lista dos maiores de todos os tempos. A exceção é o Pistons de 2004, um time sem estrelas que é praticamente a exceção para tudo na história da NBA, uma equipe que se aproveitou de uma época onde as regras ficaram excessivamente a favor de times ultra-defensivos e de um Leste bastante fraco. Ainda assim, fato é que a história nos mostra diversas vezes que sim, você realmente precisa de um jogador Top10 ou Top15 para ter chance de vencer um título.

O problema é que cada vez mais parece que só uma estrela não basta, e que você também precisa de uma segunda estrela - ou talvez até uma terceira - se quiser ser campeão. Não é essencial como sua primeira estrela, mas sem dúvida aumenta muito suas chances. LeBron só foi vencer um título em Miami cercado por Wade e BoshKevin Garnett aceitou ir para o Celtics porque lá tinha Ray Allen e Paul Pierce, que tirariam a responsabilidade da pontuação das suas mãos; Kobe foi as Finais como coadjuvante de Shaquille O'Neal, e só voltou lá cinco anos depois quando lhe deram Pau Gasol embrulhado em papel de presente; Duncan teve primeiro David Robinson, depois Parker e Manu, e sempre teve talvez a mais importante delas fora de quadra, Popovich. Mesmo Kareem precisou de Magic Johnson, e Jordan de Scottie Pippen. E mesmo entre os não-campeões da atualidade, OKC tem Durant, Westbrook e Ibaka, e o Clippers tem Chris Paul e Blake Griffin - junto de Spurs e Heat, esses são os quatro melhores times da NBA (o quinto, pelo menos em eficiência total? O Rockets de Harden e Dwight Howard).

Você provavelmente já entendeu o ponto: a NBA é uma Liga de estrelas, onde as estrelas são as maiores comodidades que você pode ter na sua equipe. Se você não tem, você está em um patamar muito abaixo dos times que as possuem, e quanto mais você tiver, melhor. O óbvio problema aqui é que existe um número limitados de jogadores assim na NBA. Então, é claro, não é nada fácil ter a sua estrela, e todos os times que não tem estão desesperadamente a procura de uma, seja por Draft, seja pela Free Agency, seja por trocas. 

Portanto, não é de se surpreender o enorme interesse que é gerado toda vez que uma estrela fica disponível para mudar de time. É a chance de vários times que não tem estrelas adquirirem uma, ou então de times que já tem uma base adicionarem o talento excepcional em busca do próximo passo (ver: Rockets, Houston). E por esse motivo, parece que dois jogadores - duas estrelas - dominarão a mídia na NBA quando as Finais acabarem: Kevin Love, e Carmelo Anthony, duas estrelas que podem mudar de time nessa offseason.

A situação dos dois, claro, é diferente. Carmelo Anthony é um Free Agent, cujo contrato com o Knicks vai expirar e que está livre para ir aonde bem entender. Kevin Love, por outro lado, ainda tem mais um ano no seu contrato (e uma opção para 2015/16 se quiser), mas joga para um time de mercado pequeno com o qual ele está bastante insatisfeito, e podendo sair depois de 2015, e criou uma situação na qual o Wolves se arrisca a perder o jogador por nada caso não se antecipe e troque seu craque. Então Carmelo e Love tem isso em comum: ambos são estrelas, e ambos estão disponíveis a ir para o seu time nessa offseason. Isso é, se você puder pagar.

Com a offseason se aproximando, previsivelmente, as histórias e os boatos em torno de Melo e Love já começaram a aparecer. Então eu estou aqui para analisar exatamente a situação de cada um, quais são os potenciais interessados (e destinos factíveis), quais as opções dos jogadores, e o que os seus times atuais podem fazer para manter suas estrelas. Lembrando que estou analisando principalmente as possibilidades e probabilidades de cada evento acontecer, não levando em conta os rumores e boatos que surgem por ai.

Sábado, falamos sobre a situação de Kevin Love. Hoje é hora de falar das questões envolvendo Carmelo Anthony.


Carmelo Anthony


Ao contrário de Kevin Love, um jogador mais jovem com uma ascensão relativamente recente e menor rodagem na NBA, Carmelo Anthony já é uma estrela antiga e consagrada. Melo tem 11 anos de NBA no currículo, 6 All-NBA Teams (dois 2nd Team, quatro 3rd Team) e uma merecida fama como um dos melhores pontuadores da NBA nesse período: 21 ppg como calouro pelo Nuggets e nunca abaixo de 20, atingindo seu auge em 2007 (29-6-4) e 2010 (28-7-3 para um bom time de Denver que foi para as Finais de Conferência) e liderando a NBA em pontos em 2013. No entanto, esse sucesso individual nunca se transferiu para sucessos coletivos: Melo chegou apenas uma vez nas Finais de conferência (2010) por Denver antes de forçar uma troca para New York, um mercado maior que já tinha uma primeira "estrela" no lugar e aparentava estar em boa situação para atrair uma terceira (lembrem-se que CP3 e Deron Williams estavam para se tornar free agents).

O motivo para forçar essa troca nunca foi bem esclarecido, mas pareceu uma mistura de três coisas: um entendimento do valor que um mercado grande como NY poderia ter sobre uma superestrela como Melo (e para sua mulher, claro); uma componente pessoal (Melo simplesmente queria o glamour de jogar no Knicks); e por fim, uma decisão de basquete em busca de um título. Sobre esse último, é simples: o Big Three de Miami tinha acabado de se juntar e tinha lançado as bases para os times de muitas estrelas construídos via free agency, e com Deron Williams e CP3 prestes a se tornarem free agents, a idéia era de que Melo, Amare e um dos dois poderiam se juntar no seu próprio Big Three em New York. Claro, nunca aconteceu: CP3 foi para Los Angeles, Deron para o rival Brooklyn, os joelhos de Amare foram para o saco, e o Knicks ganhou apenas uma série de playoffs em quatro anos mesmo jogando no Leste. E um abraço para a melhor chance de vencer um título.

Agora o contrato de Melo vai chegando ao fim, e sua situação é muito mais simples que a de Love: não tem nenhuma troca para forçar, nenhuma complicação quanto a extensão a ser assinada nem nada. Melo tem uma opção para 2015 que ele ainda pode exercer, mas também pode encerrar seu contrato agora e entrar para a free agency. Por alguns motivos, eu acredito que ele vai preferir encerrar seu contrato agora: tem algumas opções interessantes para ele se transferir se seu objetivo é realmente vencer, e sair agora lhe da a opção de assinar talvez seu último contrato máximo da carreira o quanto antes - chegando perto dos 30, você vai querer garantir o máximo de dinheiro possível enquanto pode.

Então assumindo que Melo opte por terminar seu contrato e virar Free Agent, quais são as opções realistas que Melo tem nessa free agent, como cada uma pode atrair Melo, e qual a vantagem para ele em cada uma delas?


Quais as chances dele continuar no New York Knicks?

O caso a favor do Melo continuar no Knicks é bem simples: pelo novo CBA da NBA, o Knicks pode oferecer um ano a mais de contrato e mais dinheiro do que qualquer outro time da liga - NYK pode lhe oferecer um contrato máximo de aproximadamente 5 anos, 130M (26M por ano), enquanto que no mercado ele não poderia ganhar mais do que 4 anos, 96M (24M por ano). Isso é motivo suficiente para convencer muita gente, não só pelo dinheiro extra como pela garantia de um ano a mais de salário - lembrando que Melo já tem 30 anos, então dificilmente vai ter um próximo contrato máximo e é uma diferença considerável ganhar um contrato máximo por um ano extra (só pra constar, esses valores podem variar conforme o salary cap para o ano que vem mudar).

Claro, não é só isso que vai pesar na hora da decisão. New York ainda é o maior mercado dos EUA, e Melo sabe perfeitamente o valor de jogar nele - aumenta o valor da sua "marca" (e, vale ser dito, é onde sua mulher que adora os holofotes quer morar), por exemplo, algo que é cada vez mais importante para atletas hoje em dia. Morar em New York por si só já é um atrativo imenso, uma cidade onde você pode agir como uma celebridade perto de outras celebridades e desfrutar de um certo status.

Além disso, tem outro motivo que certamente Melo sabe: jogar no Knicks tem um peso que nenhuma outra franquia trás. Os torcedores do Knicks são os mais refinados e fanáticos dos EUA (acredite, eu conheço uma família deles) e acompanham uma das franquias mais tradicionais da liga, mas não tem a história de sucesso como os do Lakers ou Celtics e em geral estão "carentes" por uma estrela, alguém para conectar e acompanhar com paixão como faziam com Bernard King, Clyde Frazier e tantos outros. Enquanto ele for o franchise player do Knicks, ele sabe que suas ações em quadra terão um peso maior, que o impacto dos seus jogos de 60 pontos serão ainda maiores, e que sempre terá uma torcida inteira lotando a Meca do basquete (MSG) para gritar o seu nome. A importância que vem em jogar para o Knicks é ímpar, e algumas pessoas valorizam muito isso. E vale citar que, embora o impacto ainda seja muito difícil de dizer a essa altura, o Knicks acabou de fazer uma oferta monstruosa para Phil Jackson assumir o comando da equipe na esperança de que o carisma o currículo de Phil mudem o rumo da franquia e exerçam uma forte influença sobre Melo. É possível que a idéia de jogar para o maior vencedor da história recente dos esportes americanos seja a carta na manga do Knicks.

O caso a favor de Carmelo deixar o Knicks é ainda mais simples: no século 21, você vai ter trabalho para achar uma franquia mais consistentemente fracassada e incompetente do que o Knicks, um time que gastou os últimos 14 anos em trocas péssimas, elencos caros e muitas derrotas. Um dos motivos por trás da vontade de Melo ir para o Knicks era achar uma situação com boa chance de vencer, em parte porque acreditavam poder montar um novo Big Three por lá, mas essa esperança já acabou faz muito tempo. Amare não é nem sombra do que já foi um dia, CP3 foi para o Clippers, e as esperanças de atrair mais uma estrela ficam menores a cada dia. Esse sonho acabou.

Além disso, Melo sabe que ficar no Knicks é praticamente desistir da idéia de competir por um título no futuro próximo. O time é muito fraco para 2015 - a mesma base que sequer conseguiu ir aos playoffs em 2014 no fraquíssimo Leste e muito acima do salary cap - e, embora em 2016 quase todos os salários saiam da folha da equipe dando possivelmente lugar a um contrato máximo, é uma aposta distante demais e arriscada demais que o Knicks possa atrair alguma outra estrela para se aliar a Melo. New York não oferece uma situação de briga por título imediata, e nenhum plano para o futuro além de "teremos cap space para 2016 se não estragarmos tudo antes e TALVEZ possamos trazer alguns bons jogadores!" pela falta de ativos. E além disso, vale lembrar que o Knicks tem um dos piores donos de todos os esportes americanos (James Dolan) e uma diretoria que tem sido horrível por anos a fio (a esperança é que Phil mude isso, mas o histórico é bem negativo). Ficar no Knicks praticamente significa diminuir drasticamente as perspectivas de título que, supostamente, era algo importante para ele em 2011.

Qual dos dois casos é mais forte? Hmm... eu realmente não sei dizer. Depende muito do quanto valor Carmelo atribui (e atribuirá) a diferentes fatores: dinheiro, estabilidade, vencer títulos, glamour, etc. Ficar no Knicks significa ganhar mais dinheiro (por um ano a mais), continuar sendo um ícone de New York e jogar para Phil Jackson, mas também significa que as chances dele ganhar um título caem drasticamente. Sair pode colocá-lo em uma situação melhor, desde que esteja disposto a abrir mão do dinheiro e das vantagens de jogar em NY. E isso depende MUITO da ordem de prioridades para Carmelo, algo que nem eu nem você podemos dizer no momento. Mas a situação é muito menos confortável do que parecia em 2011.


Los Angeles Lakers

Porque aparentemente existe uma lei na liga que diz que o Lakers tem que estar envolvido em todos os rumores de troca ou free agent da NBA.

Em termos salariáis, é possível: o Lakers tem só 37M de salário para 2015, e isso considerando as propostas qualificatórias de Bazemore e Ryan Kelly e o contrato não garantido de Kendall Marshall. Recusando as propostas, todos os direitos sobre free agents (gente a beça - o total dos cap holds do Lakers chega a 56M) e dispensando Marshall, o Lakers tem apenas 33M garantido para 2015, bem abaixo do projetado teto salarial de 63M e com espaço para dar um contrato máximo a Melo. Então certamente é possível que Carmelo vá para o Lakers.

A questão aqui é, porque ele o faria? Porque deixaria na mesa mais dinheiro e mais um ano de contrato para trocar o Knicks pelo Lakers? O Lakers também não oferece a ele uma situação para vencer logo, com o contrato mastodôntico de Kobe tapando quase toda a folha salarial da equipe e impedindo a contratação de outros bons jogadores (e lembrem-se, eles não podem reassinar seus free agents usando Bird Rights se renunciarem a seus direitos para abrir espaço na folha salarial anteriormente). Porque ir de uma situação onde ele não vai vencer no curto prazo para outra, sendo que a atual oferece mais dinheiro, uma relação mais próxima com a torcida, mais status como "jogador leal e salvador" com a torcida mais fanática do planeta, e que é um mercado ainda maior que Los Angeles, sendo que na segunda ele ainda teria que aguentar Kobe por dois anos? Não faz nenhum sentido. E se você quer usar a carta do "o contrato do Kobe expira em dois anos e o Lakers terá espaço máximo para atrair outras estrelas!", lembre que no Knicks isso acontece um ano antes, e que agora que Jerry Buss morreu, o Lakers tem um dono tão incompetente quanto Dolan. Não tem vantagem alguma em Melo ir para o Lakers. Não vai acontecer.


Houston Rockets

Indo para um terreno mais realista, o Rockets é um time que desde o começo chamou alguma atenção por sua abordagem recente de ir atrás de estrelas e da sua compreensão do valor desse tipo de jogadores. Primeiro eles trocaram por James Harden, depois usaram sua presença para atrair Dwight Howard na free agency e montar um time bem competitivo que terminou 2014 quinto em eficiência total. Então entre sua atratividade para estrelas e a presença de outras duas, o fato de que em Houston não tem impostos sobre o salário (o que diminui o impacto econômico de sair do Knicks) e sua boa posição para competir por títulos no futuro próximo, é fácil de ver porque o Rockets é considerado um destino possível para Carmelo.

A logística, no entanto, é um pouco mais complicada. Mesmo recusando os direitos sobre seus FAs, dispensando Covington e Casspi e recusando as ofertas qualificatórias de todos os jogadores que não sejam Chandler Parsons, o Rockets ainda vai ter bem pouco espaço salarial nessa offseason, algo como 1 ou 2 milhões abaixo do salary cap apenas. Considerando que precisariam abrir mais de 20M para encaixar um contrato máximo para Carmelo (sim, ele poderia optar por ganhar menos, mas vamos trabalhar com os cenários extremos aqui), isso exigiria alguma criatividade por parte da equipe - especialmente quando você lembra que o time já tem quase 39M comprometidos com apenas Harden e Dwight.

Os dois maiores candidatos a trocas para liberar o teto salarial seriam, é claro, Omer Asik e Jeremy Lin. Cada um conta como 8.4M na folha salarial, então se o time conseguisse se livrar de ambos liberaria algo como 18M totais na folha salarial. Trocar Asik e Lin não deve ser tão difícil se o time precisar - ambos são jogadores úteis, em contratos expirantes, e que possuem um bom valor de troca e que muitos times estariam dispostos a aceitar de bom grado, tanto um time que tenha toneladas de salary cap para aceitar ambos (Sixers?), um time que possa mandar de volta um contrato não garantido (Cavs com Varejão?), ou mesmo trocas separadas. Mesmo que o seu salário nominal de 11M seja um problema, não é algo que o Rockets não possa contornar com uma ou outra escolha futura bem protegida. Muitos times estariam dispostos a aceitar Asik e/ou Lin em contratos expirantes. Mas isso liberaria ainda apenas 18M de espaço salarial, então a não ser que Melo aceite um desconto para se juntar ao Rockets (lembrando que ele já estará deixando dinheiro na mesa por sair do Knicks), o time ainda terá que trocar algumas peças como Motiejunas, Terrence Jones ou Isiah Canaan (3.9M somados) ou mesmo dispensar o contrato não-garantido de Patrick Beverley (900k) para chegar perto dos 22M de folha salarial (e isso sem contar os cap holds dos outros lugares do time). Com alguma criatividade, o Rockets pode chegar no espaço para um contrato máximo para Melo, mas vai ser muito difícil e vai exigir uma eliminação total do seu elenco.

No entanto, isso exigiria que o Rockets dispensasse quase seu time inteiro que não fosse Harden e Howard, e Melo sabe muito bem as consequências desse tipo de all-in porque foi o que o Knicks fez para adquiri-lo. Mas Houston abriu uma outra opção possível. Algum tempo atrás, o time declinou a opção que tinha para 2015 no contrato de Chandler Parsons, tornando-o um free agent restrito imediatamente. Muita gente atribuiu isso a uma tentativa de controlar o destino do jogador (Houston poderá igualar qualquer oferta por ele, sendo que ele seria um free agent irrestrito em 2015) caso um acordo com Melo saísse pela janela, e certamente é um fator importante. Mas tem outra coisa a ser levada em conta: a possibilidade de usar Parsons em um sign-and-trade por Carmelo. Essa possibilidade não faz sentido para Minnesota porque Parsons nunca iria querer ir para Minesota, mas New York?! É outra história. O seu status restrito facilita para o Houston, que poderia fazer um sign-and-trade (Parsons e Linsanity de volta a NY por Melo?) ou, caso perca a chance de sair com o All-Star, pode simplesmente renovar com Parsons e usá-lo futuramente como moeda de troca ou mesmo continuar com a mesma base dos últimos anos.

São duas possibilidades um pouco complicadas que exigirão algumas manobras, mas ainda são possibilidades reais. E como já foi dito, se Melo decidir deixar o dinheiro na mesa para sair do Knicks, é porque ele quer uma opção para vencer imediatamente e mais ajuda, e vai encontrar uma ótima opção dessas em Houston: Dwight Howard para proteger suas costas, James Harden para ficar com a bola nas mãos a maior parte do tempo, e muito menos defesas com dois ou três jogadores designados para pará-lo - sem falar, claro, que é um time que briga imediatamente por títulos com a formação do seu Big Three. E se Melo aceitar ganhar menos dinheiro para assinar (algo na casa dos 18M) com Houston, eles podem conseguir esse dinheiro trocando apenas Lin e Asik e ainda podem manter Chandler Parsons (já que não precisariam desistir de seus direitos). Seria um time incrível. Se a opção é vencer um título, essa é uma das duas melhores opções para Carmelo.


Chicago Bulls

Já escrevemos muito sobre a necessidade do Bulls por uma nova estrela na parte sobre Kevin Love. Se você está com preguiça, um rápido resumo:

"Chicago está desesperado atrás de uma nova estrela (tanto que aparecerão duas vezes nessas colunas), em parte para colocar junto de Derrick Rose e Joakim Noah, e em ainda maior parte para assumir o controle da equipe de Rose caso ele não volte o mesmo (ou até para diminuir as responsabilidades de Rose quando voltar)"

As vantagens e possibilidades (e dificuldades) de uma troca por Kevin Love já foram exploradas. Mas no caso de Melo, é mais simples: liberar espaço salarial o suficiente, porque o encaixe também faz muito sentido. Melo é um pontuador nato que é criticado por não defender bem, que tem bom alcance na linha de três pontos, bom jogo no garrafão e que é capaz de criar seu próprio arremesso. Coloque ele no Bulls e de repente Melo tem um Defensive Player of the Year e um dos melhores técnicos defensivos da NBA para protegê-lo na defesa, um pivô que é um exímio passador e gosta de jogar na cabeça do garrafão que vai fornecer muitas boas oportunidades de pontuação perto do aro, e possivelmente uma outra estrela (Rose) para assumir um pouco das responsabilidades de pontuação/ball handle e tirar aqueles double e até triple-teams de Melo. Ao mesmo tempo, o Bulls ganha alguém capaz de atrair defesas e abrir a quadra, um ótimo pontuador inside-out que pode jogar de SF ou de PF, aliviar a carga de Rose conforme ele se recupera, e criar arremessos do nada quando o ataque fica estagnado. Junte a isso o terceiro maior mercado dos EUA e um Leste historicamente fraco, e essa opção fica ainda mais interessante para uma mudança.

Em termos práticos, vai exigir alguns malabarismos por parte do Bulls, mas é muito factível. O Bulls estaria mais ou menos na linha do salary cap de 2015 recusando seus cap holds (menos DJ Augustin e Nikola Mirotic), não fazendo oferta qualificatória a Shengeila e dispensando Troy Murphy e seu contrato não-garantido (em torno de 63M). Mas eles tem ainda sua anistia por usar, e Carlos Boozer é um enorme candidato - usar a anistia no PF significa liberar 16.8M de dólares de uma tacada só do espaço salarial da equipe.

Claro, 16.8M não seria suficiente para assinar Melo a não ser que ele aceite um grande desconto, e isso dificilmente vai acontecer considerando que a) ele já deixou dinheiro para sair do Knicks e b) esse é provavelmente sua última chance de contrato máximo. Nesse caso, o Bulls também teria que mover Taj Gibson e seus 8M para algum time com muito cap space. Não acho que será tão fácil mover esse contrato já que ele se estende até 2017, mas Gibson é um excelente jogador e um dos melhores defensores da NBA, alguém que se desenvolveu muito bem essa temporada, e certamente terá algum interesse - e se o contrato for demais para alguns times, o Bulls tem duas escolhas de primeira rodada para tornar a troca mais "atraente". De um jeito de outro é factível. Se o Bulls fizer essas duas coisas - anistiar Boozer e trocar Gibson sem receber salários garantidos de volta - então estamos olhando para 25M de espaço salarial, espaço de sobra para assinar uma ou duas escolhas de Draft e oferecer o contrato máximo que Melo tanto quer.

O saldo: um núcleo Rose/Noah/Melo com bons role players como Jimmy Butler, Mike Dunleavy, Tony Snell; a chance de trazer de volta DJ Augustin ou Jimmer Fredette; Thibodeau; uma ou duas escolhas de primeira rodada... e talvez mais importante, ainda tem condições de trazer Mirotic para a NBA se os fortes rumores de que ele quer vir se comprovem. Você pode montar então um time Rose/Butler/Melo/Mirotic/Noah, ou até mesmo Rose/Butler/Dunleavy/Melo/Noah com Mirotic vindo do banco. Esse é um núcleo muito bom - a defesa deve continuar boa, tem mais opções no ataque e para espaçar a quadra, tem habilidade atlética, profundidade, pode jogar alto ou baixo, versatilidade... é um time fantástico, e se Rose conseguir se manter minimamente saudável, é um time para brigar com títulos desde o primeiro minuto em uma conferência fraca.

É uma ótima possibilidade para Melo. Por um lado, é uma oferta mais arriscada que a de Houston já que depende da saúde de Derrick Rose para funcionar direito, mas por outro é muito mais fácil de ser realizada (não depende de grandes movimentações menores ou de um sign and trade incerto) e, se Rose ficar saudável, oferece um caminho muito mais fácil para as Finais em um Leste fraco (e com um Miami Heat com futuro incerto) do que em um Oeste com San Antonio, Clippers e Oklahoma City - sem falar em Portland, Dallas, Golden State e todos os times que sempre geram problemas por lá. Também oferece um time muito mais profundo do que Houston, em parte porque Mirotic ainda não está na NBA ganhando milhões e Noah não está em um contrato máximo. É uma opção mais arriscada, mas entre probabilidade de acontecer, o mercado maior e o time mais profundo, me parece a melhor situação para Carmelo.

O que nos leva a uma pergunta muito interessante: se Chicago tiver condições de trazer tanto Love (por troca) como Melo (por free agency), qual dos dois o Bulls deveria ir atrás?? É uma pergunta muito difícil. Em um vácuo, seria preferível Love a Melo - ele é bem mais jovem, em um contrato menor que atulha menos a folha salarial (e o Bulls, por algum motivo, é bem avesso a gastar dinheiro), e trás talvez a habilidade mais valiosa da NBA na atualidade (um big man capaz de chutar de três). Mas por outro lado, trocar por Love significaria perder ativos valiosos - Butler, Mirotic e suas escolhas de Draft - deixando um time com menos recursos e tendo que completar o resto do seu time com jogadores inferiores, enquanto que Melo viria de graça (e 95M, mas isso é irrelevante) e portanto o Bulls poderia manter sua profundidade e jovens talentos. É uma escolha bem difícil, mas acho que se chegar a isso e Chicago tiver de escolher, eles não estarão muito chateados. Na verdade, tenho quase certeza de que os cartolas estariam assim:





Miami Heat

Uma opção um tanto quanto irreal que ganhou surpreendente força nas últimas semanas, quando alguns boatos começaram a surgir de que LeBron e Carmelo (que são bons amigos e já jogaram juntos na seleção americana) gostariam de unir forças na NBA, e que ganhou ainda mais quando Miami começou a levar a surra da sua vida contra San Antonio e ficou claro que eles precisavam de ajuda para 2015 (embora como exatamente Melo ajude a defender o ataque de San Antonio não está claro). Então precisa ser incluída pelo potencial e pelo impacto que causou nas redes sociais - em pleno dia de G4 das Finais estava todo mundo discutindo sobre como seria esse time com Melo (o coitado do salary cap foi ignorado 95% do tempo).

O problema dessa situação é que é muito difícil saber exatamente em que patamar o Miami Heat vai se encontrar, porque é um cenário que envolve muitas variáveis e decisões difíceis de se prever. Explicar exatamente a situação na qual Miami se encontra iria exigir muita linguagem técnica de salary cap, então vou dar uma versão resumida e o mais direta possível.

Basicamente, Miami tem só um salário garantido para um jogador em 2015 (Norris Cole, 2M), além de duas opções de jogadores (4.6M do Haslem, 1.3M do Birdman). Todo o Big Three tem a opção de terminar mais cedo seu contrato e virar free agent, senão receberão 20M em 2015. E basicamente todo o resto do time é free agent ou vai aposentar.

A primeira vista, parece que o Heat então tem cap space quase máximo para 2015, mas não é bem o caso, porque free agents carregam uma coisa chamada "cap hold", que é um certo valor que eles comem do seu salary cap enquanto você mantiver os direitos deles como free agents (como Bird Rights). Então considerando que Haslem deve aceitar sua opção para 2015 (ele já aceitou menos dinheiro para ficar em Miami em 2011, e não vai mais ter nenhuma oferta tão boa quanto essa na carreira) e Anderson deve recusar (ele já disse que vai), isso da 6.6M em salários para 2015. No entanto, mesmo que Miami renuncie aos direitos sobre todos seus free agents menos o Big Three, o cap hold dos três totaliza 59.5M... o que significa que só com Haslem, Cole e o cap hold de Wade, LeBron e Bosh o time do Heat já está 3M aproximadamente acima do salary cap. Boa sorte encaixando Melo ai. Claro que Miami pode renunciar aos direitos sobre algum dos três, mas isso significa que depois não pode reassinar o mesmo jogador depois usando seus Bird Rights (ou seja, passando do salary cap).

O argumento, claro, é que o Big Three iria aceitar contratos menores para continuar juntos e assinar Melo. Isso já passa, antes de mais nada, pela idéia de que todos os jogadores iriam abdicar do resto de seus contratos, o que não me parece garantido. Wade, por exemplo, tem 41.6M restantes no seu contrato (dois anos), não vem jogando bem e tem tido repetidos problemas físicos... não valeria mais a pena financeiramente jogar até o final desse contrato já que não deve ganhar esses 42M no mercado? Não me parece claro para ele, embora para LeBron e Bosh faça mais sentido terminar o contrato agora e assinar o próximo.

Supondo que todos optem para encerrar seu contrato, que tipo de mágica tornaria possível assinar Melo? Bom, antes de mais nada, todos os três teriam que aceitar enormes descontos para isso, ou assinando antes de Melo ou com Miami renunciando aos Bird Rights. Não vou entrar tanto no mérito de se eles vão ou não aceitar descontos - lembrando que para Wade e Bosh essa é provavelmente sua última chance de garantir um contrato máximo e que eles já diminuíram o salário em 2010 para jogarem juntos - porque é simples, se eles não aceitarem, não tem como assinar Melo e ponto. O que eu quero ver agora é o quanto teria que ser feito para trazer Melo a bordo.

Primeiro, Miami já tem 6.6M garantidos para Cole/Haslem (de novo, acho extremamente improvável que Haslem recuse sua opção). Esses dois mais o Big Three formam apenas 6 jogadores de 12 obrigatórios, então temos que incluir mais 3M pelos outros seis lugares no time, ou seja, 9.6M garantidos (isso considerando que Miami não use sua escolha de primeira rodada, senão são mais 2M em salários garantidos). Então sobra 53.4M para distribuir entre Bosh, LeBron, Wade e Melo, lembrando que sob hipótese alguma o Heat pode passar do salary cap para reassinar algum deles por causa do cap hold. Isso da 13.3M para cada um dos jogadores (supondo que eles ganhem igualmente).

Hmm eu poderia ver Wade aceitando isso em troca de um contrato longo (cujo valor total superaria os 42M que restam no seu contrato), mas será que LeBron, Bosh e Melo topam esse tipo de valor (especialmente sabendo que o resto do time teria que ser composto de jogadores em salários mínimos)? Eu não vejo acontecendo especialmente para Bosh (que não vai querer perder tanto dinheiro na sua última chance de assinar um contrato máximo) e Melo (que tem outras ótimas chances de ganhar em outros lugares COM um contrato máximo ou quase máximo, já deixou de ganhar dinheiro saindo de NY, e também está entrando no seu último contrato máximo). Miami poderia usar sua 1st round pick para mandar o salário de Haslem para algum outro time, mas ainda assim não poderia dar mais do que 14M para cada um dos quatro. Me parece muito exagerado, e isso antes de entrar no mérito se isso é de fato o que daria a Miami a maior chance de voltar ao título, adicionando mais um pontuador de perímetro que tem dificuldade na defesa e cercando-o de jogadores em contratos mínimos.

Além disso, como Melo tornaria Miami melhor? Eles já tem um alpha dog para jogar com a bola nas mãos no perímetro, e Melo não é um jogador que se encaixe bem na defesa attack-and-recover de Miami nem um jogador que se adapte bem ao estilo de movimentação ofensiva rápida da equipe. E os maiores problemas da equipe tem sido ball handling, defesa inside-out, e falta de proteção ao aro. Hmm em qual desses Melo ajuda? Em nenhum deles. Adicionar Melo seria muito mais um capricho do que uma solução real para os problemas da equipe.

Não vou falar que é impossível, mas me parece uma sequência bastante improvável de acontecimentos, que passa por diversas fases de altruísmo diferentes: Wade desistindo do resto do contrato (difícil), QUATRO jogadores diferentes aceitando ganhar algo como 8M a menos do que poderiam (ainda mais difícil), LeBron não desistindo de Miami depois de ver a péssima ajuda que recebeu nas Finais... etc. Não me surpreenderia se o Big Three aceitasse um pequeno desconto nos contratos para manter parte do salary cap em aberto para reforçar a equipe (Miller saiu, Birdman vai sair, Battier aposentando, Allen deve sair...) ou mesmo um free agent de nível médio como Kyle Lowry (um encaixe muito melhor que Melo, by the way), mas não para liberar o suficiente para Melo e nem que ele aceite. Nunca duvido de nada em South Beach, mas não me parece realista.

(By the way, isso não tem nada a ver com a decisão de Miami, mas é preciso ser dito: se Melo for para Miami formar um Big Four tem 100% de chance de termos um novo lockout em 2017. Garantido.)


Veredito

Francamente, não vejo o menor motivo para Melo ir para Los Angeles ganhar menos dinheiro, jogar em um mercado menor, jogar a lealdade de NY no lixo e ter chances igualmente fracas de ganhar um título. Miami também não me parece uma opção realista por todos os motivos que eu citei, e porque não me parece que Melo é o tipo de jogador que encaixaria tão bem na equipe. Então a decisão me parece entre ficar em New York, ou ir para Houston ou Chicago.

Como já disse, a decisão sair ou ficar depende principalmente de lealdade + dinheiro vs chance de título, embora tenha outros fatores no meio, claro. Ninguém pode dizer isso por ele com certeza. Mas na minha opinião - e isso, repito, é apenas a minha opinião - Melo vai virar FA e deixar o Knicks se receber uma oferta tentadora o suficiente, o lugar com melhor chance de atraí-lo é Chicago, um mercado maior que vai precisar ir a menos extremos para abrir cap space, oferece um time mais profundo e faz mais sentido do ponto de vista de encaixe em termos de basquete. Melo já ganhou bastante dinheiro na carreira e ainda assinaria um contrato máximo com Chicago, e ele sabe que precisa de um anel - ou pelo menos de uma Final - para completar seu currículo. E eu acho que Chicago oferece a ele a melhor chance de vencer nesse momento. Então acho que ele deve testar o mercado e, se Houston e principalmente Chicago jogarem pesado atrás dele, ele muda de time nessa offseason.


Para ler sobre a situação e as possíveis trocas envolvendo Kevin Love, clique aqui para ir para a Parte I

sábado, 14 de junho de 2014

As estrelas da offseason, parte I - Kevin Love

"Eu fui trocado pra QUEM?!?!?!"


Com o Miami Heat em sua quarta final de NBA consecutiva, e talvez a alguns jogos de se tornar o primeiro time da NBA a conseguir três títulos seguidos nos últimos 12 anos, ganha cada vez mais força a narrativa de que, para vencer um título na NBA, você precisa de uma superestrela, um dos 10 ou 15 melhores jogadores da Liga, capaz de vencer jogos sozinhos e desequilibrar uma série. É uma teoria que sempre foi repetida nos círculos da NBA, e que ganhou ainda mais força dada a dominação do Miami Heat nos últimos anos e a ascensão de times como Thunder e Clippers.

E certamente existe muito que sustenta essa teoria ao longo da história da NBA, tanto mais antiga como recente. É DIFICÍLIMO vencer um título na NBA sem uma grande estrela, quase impossível. Desde que Magic e Bird entraram na NBA em 1980, com apenas UMA exceção, os times campeões contavam sempre com uma grande estrela: Kareem, Bird, Moses Malone, Magic, Isiah Thomas, Jordan, Hakeem, Duncan, Shaq, Wade, Garnett, Kobe, Nowitzki e LeBron James - todos jogadores que estariam alto em uma lista dos maiores de todos os tempos. A exceção é o Pistons de 2004, um time sem estrelas que é praticamente a exceção para tudo na história da NBA, uma equipe que se aproveitou de uma época onde as regras ficaram excessivamente a favor de times ultra-defensivos e de um Leste bastante fraco. Ainda assim, fato é que a história nos mostra diversas vezes que sim, você realmente precisa de um jogador Top10 ou Top15 para ter chance de vencer um título.

O problema é que cada vez mais parece que só uma estrela não basta, e que você também precisa de uma segunda estrela - ou talvez até uma terceira - se quiser ser campeão. Não é essencial como sua primeira estrela, mas sem dúvida aumenta muito suas chances. LeBron só foi vencer um título em Miami cercado por Wade e Bosh; Kevin Garnett aceitou ir para o Celtics porque lá tinha Ray Allen e Paul Pierce, que tirariam a responsabilidade da pontuação das suas mãos; Kobe foi as Finais como coadjuvante de Shaquille O'Neal, e só voltou lá cinco anos depois quando lhe deram Pau Gasol embrulhado em papel de presente; Duncan teve primeiro David Robinson, depois Parker e Manu, e sempre teve talvez a mais importante delas fora de quadra, Popovich. Mesmo Kareem precisou de Magic Johnson, e Jordan de Scottie Pippen. E mesmo entre os não-campeões da atualidade, OKC tem Durant, Westbrook e Ibaka, e o Clippers tem Chris Paul e Blake Griffin - junto de Spurs e Heat, esses são os quatro melhores times da NBA (o quinto, pelo menos em eficiência total? O Rockets de Harden e Dwight Howard).

Você provavelmente já entendeu o ponto: a NBA é uma Liga de estrelas, onde as estrelas são as maiores comodidades que você pode ter na sua equipe. Se você não tem, você está em um patamar muito abaixo dos times que as possuem, e quanto mais você tiver, melhor. O óbvio problema aqui é que existe um número limitados de jogadores assim na NBA. Então, é claro, não é nada fácil ter a sua estrela, e todos os times que não tem estão desesperadamente a procura de uma, seja por Draft, seja pela Free Agency, seja por trocas. 

Portanto, não é de se surpreender o enorme interesse que é gerado toda vez que uma estrela fica disponível para mudar de time. É a chance de vários times que não tem estrelas adquirirem uma, ou então de times que já tem uma base adicionarem o talento excepcional em busca do próximo passo (ver: Rockets, Houston). E por esse motivo, parece que dois jogadores - duas estrelas - dominarão a mídia na NBA quando as Finais acabarem: Kevin Love, e Carmelo Anthony, duas estrelas que podem mudar de time nessa offseason.

A situação dos dois, claro, é diferente. Carmelo Anthony é um Free Agent, cujo contrato com o Knicks vai expirar e que está livre para ir aonde bem entender. Kevin Love, por outro lado, ainda tem mais um ano no seu contrato (e uma opção para 2015/16 se quiser), mas joga para um time de mercado pequeno com o qual ele está bastante insatisfeito, e podendo sair depois de 2015, e criou uma situação na qual o Wolves se arrisca a perder o jogador por nada caso não se antecipe e troque seu craque. Então Carmelo e Love tem isso em comum: ambos são estrelas, e ambos estão disponíveis a ir para o seu time nessa offseason. Isso é, se você puder pagar.

Com a offseason se aproximando, previsivelmente, as histórias e os boatos em torno de Melo e Love já começaram a aparecer. Então eu estou aqui para analisar exatamente a situação de cada um, quais são os potenciais interessados (e destinos factíveis), quais as opções dos jogadores, e o que os seus times atuais podem fazer para manter suas estrelas. Lembrando que estou analisando principalmente as possibilidades e probabilidades de cada evento acontecer, não levando em conta os rumores e boatos que surgem por ai.

Hoje começamos com Kevin Love, e terça feira falamos de Carmelo Anthony. 


Kevin Love


A situação de Kevin Love é um pouco complicada. Já faz algum tempo que Love é considerado um dos melhores PFs da NBA, uma máquina de rebotes que parece melhorar seu jogo a cada ano que passa. Ele explodiu em 2011 como reboteiro e arremessador de três, mas logo começou a arremessar (muito bem) a partir do drible, desenvolveu um sólido jogo no garrafão e de costas para a cesta, e é um jogador muito completo, tendo ótimos números em 2012 (26-13) e 2014 (26-12.5-4.5) e indo a dois 2nd Team All-NBA (e provavelmente teria ido a dois 1st Team All-NBA se não fosse contemporâneo de LeBron e Durant). Hoje, Love é sem dúvida alguma um dos melhores jogadores da liga.

O problema é que, mesmo sendo um dos melhores jogadores do mundo, Love nunca conseguiu chegar aos playoffs junto de um irregular time do Timberwolves. E isso em parte se deve a dificuldade da diretoria de Minnesota de conseguir colocar ao seu redor um time funcional, -dificuldade essa notada principalmente na noite do Draft (Jonny Flynn sobre Stephen Curry, e Wesley Johnson #4 overall, alguém?) - e em parte também ao azar que o Wolves tem de jogar no fortíssimo Oeste e não no fraco Leste.

Mas a questão é que poucos jogadores gostam de jogar em Minnesota sem um bom motivo (cidade fria, sem atrativos e de mercado pequeno), e Love já se disse insatisfeito com a falta de competitividade da equipe, não querendo passar o resto da sua carreira jogando em uma cidade que não lhe agrada a e em um time que só perde. E como o Wolves foi burro o suficiente para dar a ele um contrato que lhe permitia sair depois de apenas três anos (e não quatro, como poderia ter feito), Love pode terminar seu contrato ao final da temporada 2015 e virar um Free Agent, deixando Minnesota sem nenhuma compensação. 

A opção de Minny, caso não queira perder seu All-Star por nada, seria seguir o exemplo de Jazz (com Deron Williams) e Nuggets (com Carmelo), que se anteciparam a isso e trocaram o jogador antes dele acabar seu contrato, recebendo assim um retorno em troca e acelerando seu processo de reconstrução. Vários times estão fazendo fila atrás de Love (falaremos deles já já), e cabe ao Wolves  tirar o melhor retorno possível desse tipo de investimento. Vamos olhar agora para algumas das opções possíveis para Love e o Wolves.

O que o Wolves pode fazer para tentar manter Kevin Love?

Primeiro, rezar. Muito.

Se o Wolves não quiser trocar Love ou então não receber nenhuma proposta que achem digna (lembrando que eles teriam até a trade deadline de 2015 para empurrar caso não consigam uma troca satisfatória agora, embora o valor dele provavelmente cairia com a demora), a alternativa para Minny seria tentar de alguma forma convencer Love de que eles podem oferecer uma chance de vitória no futuro não tão distante, convencendo o jogador a renovar seu contrato ou pelo menos exercer sua opção para 2016 (dando ao time um ano a mais para montar a equipe ou achar uma troca a altura). 

Ironicamente, o Wolves tem um exemplo recente muito semelhante para se basear. Ano passado, antes da temporada começar, os boatos eram de que LaMarcus Aldridge - também na reta final de seu contrato - estava insatisfeito em um time em reconstrução do Blazers, e uma troca foi explorada. Não se concretizou, e o Blazers apostou que conseguiria montar um bom time para manter sua estrela. E eles conseguiram: reforçaram seu banco (o grande ponto fraco um ano antes), algumas trocas tornaram o time mais forte, Damian Lillard deu um salto e se tornou um excelente jogador, tudo se encaixou para o Blazers e eles foram aos playoffs, até vencendo uma série contra Houston. Agora Portland é o time do futuro, Aldridge está satisfeito e ninguém mais fala nele saindo da equipe. E esse é o caminho para o Wolves, caso queiram manter Love: montar um time bom o suficiente em 2015 que convença Love de que o time está evoluindo rumo aos playoffs, o suficiente para fazê-lo pelo menos aceitar pegar sua opção para 2015/16.

E isso é possível? Bom, talvez. Para começar que o Wolves não foi  tão ruim em 2014 quanto seu record de 40-42 indica. Na verdade eles terminaram o ano 13th em eficiência total, melhor do que Grizzlies (e suas 50 vitórias), Wizards e Nets. Seu saldo de pontos também indica que o Wolves deveria ter terminado o ano 48-34 - uma vitória abaixo do oitavo colocado no Oeste (Mavs). Então o Wolves não foi tão mal quanto pareceu a primeira vista.

Mas ainda assim não é suficiente para chegar aos playoffs no forte Oeste, e as chances do time se reforçar para 2015 não são das maiores. O Wolves precisa principalmente reforçar seu banco de reservas e de bons arremessadores na equipe, mas terá dificuldades para tal: o time já tem 66M de salários comprometidos para 2015, acima do salary cap (projetado) de 63M, e isso antes de contar os cap holds para seus free agents ou o salário de sua escolha de primeira rodada. O time pode usar a mid-level exception inteira nessa offseason, mas se arrisca a chegar perto demais da luxury tax. Então a free agency não deve trazer muita ajuda.

O Draft é uma fonte melhor, e Minny está em boa posição para adicionar o arremessador que tanto precisa (Stauskas, James Young/Rodney Hood, talvez Gary Harris, Adreian Payne) com sua escolha. Outra fonte importante para Minny é o desenvolvimento de seus jovens jogadores, em especial Rubio (deu alguns passos importantes em 2014 mas ainda não se desenvolveu em um pontuador útil) e Gorgui Dieng (teve 11 pontos e 10.5 rebotes de média nos últimos 20 jogos da temporada, em apenas 27 minutos). Idealmente o time acharia um bom SG no Draft, passaria Kevin Martin para o banco e montaria uma segunda unidade com Dieng, Martin e algum free agent, torcendo para Dieng conseguir ancorar essa segunda unidade.

Parece um time de playoffs no Oeste? Hmm... eu não sei! Eu realmente não sei, as coisas mudam muito rápido por lá e, como eu disse, o Wolves FOI um bom time em 2014 que esbarrou em muito azar, dificuldade em jogos apertados, um banco horrível e falta de bolas de três. Normalizando o azar, com alguma evolução de seus jogadores mais jovens e uma ou duas peças pontuais, é possível que o Wolves consiga uma boa arrancada no começo da temporada... e também é bem possível que continue naquela "bolha" do Oeste de ótimos times que não conseguem ir a pós temporada.

Por isso a decisão de Minnesota não é nada fácil. Sim, o time tem uma chance de chegar nos playoffs, mas é um risco e também não sabem se isso seria suficiente para manter sua estrela. E ai o time fica pressionado para tomar uma decisão que vai mudar o futuro da franquia: Tentar manter Love na temporada, torcer para o sucesso desse plano, e arriscar diminuir seu valor no mercado? Desistir da sua estrela e tentar tirar o máximo de valor possível agora, adiantando o processo de reconstrução? Essas são as perguntas, e por enquanto, não temos respostas.

Mas se Minny fosse trocar Love o quanto antes, quais seriam os principais candidatos? Vamos ver, um por um, sem ordem definida.


Los Angeles Lakers

É impossível não falar de uma troca de Kevin Love sem falar no Lakers. Os boatos de Love-para-o-Lakers começaram quando ele ASSINOU sua extensão com o Wolves, e todo mundo achava que esse opt-out cedo de Love era uma forma dele fugir para Los Angeles assim que a primeira janela abrisse. Então quando começaram os boatos de que o Wolves estaria disposto a trocar seu All-Star, todo mundo logo correu para fazer a conexão com o Lakers.

Então deixa eu tirar isso logo do caminho: KEVIN LOVE NÃO VAI SER TROCADO PARA O LAKERS!! Pronto!

Se o Wolves trocar Love, vai ser para conseguir o melhor retorno possível antes de perder seu jogador de graça. Sendo assim, o que o Lakers tem a oferecer? Não podem trocar uma escolha de primeira rodada de Draft até 2017, não tem NENHUM ativo a ser trocado no seu elenco (expirante de Nash? Não vai rolar), e sua escolha de Draft de 2014 só pode ser trocada APÓS o Draft. Sob hipótese alguma o Lakers teria condições de fazer uma oferta que o Wolves fosse favorecer no lugar de outras que vamos citar daqui a pouco. A única forma do Lakers trocar por Love seria se o PF batesse o pé e dissesse que só assinaria uma extensão contratual com Los Angeles, matando seu valor de troca... e mesmo assim, nesse caso era muito mais fácil esperar o final do ano para o seu contrato acabar e assinar com o Lakers de graça. Não tem como uma troca acontecer. E não vai.

By the way, um cenário interessante. Se Love realmente só for aceitar uma troca pra LA, ele poderia dizer ao Wolves que iria exercer sua opção para 2016. Isso daria um ano a mais para o Wolves montar um time competitivo para ir aos playoffs, e se falhar, ele se torna free agent ao mesmo tempo que o contrato absurdo do Kobe expira - em outras palavras, o ano que o Lakers deve ter cap quase máximo para a free agency e pode trazer Love E mais uma estrela (Durant?) de uma vez sem nenhum contrato ruim para atrapalhar - ao invés de Love ir para lá de FA em 2015 e jogar em mais um time ruim que não deve ir aos playoffs enquanto tem que aguentar o Kobe.


Phoenix Suns

O Phoenix Suns é um time interessante, uma equipe que supostamente entrou na temporada para tankar, e que de repente explodiu com boas atuações de jogadores aleatórios (PJ Tucker, Markieff Morris, Miles Plumlee), a chegada de Eric Bledsoe, a evolução de Gerald Green, e a temporada da carreira de Goran Dragic. O Suns terminou a temporada com 49 vitórias - uma atrás do Mavericks que levou San Antonio a 7 jogos nos playoffs - e 10th em eficiência total. Então de repente o Suns é um jovem time em ascensão com uma identidade de um time que joga em alta velocidade e arremessa bastante de fora, e com um grande número de jovens jogadores e escolhas de Draft (três de primeira rodada em 2014 e duas em 2015), começaram a surgir boatos de que o Suns pode acelerar sua reconstrução trocando por um jogador já estabelecido. E Love faria muito sentido, tanto pela disponibilidade como por se encaixar no estilo de jogo da equipe (e digamos que Phoenix é um pouco mais quente que Minneapolis).

O Suns tem muitos ativos que pode enviar em uma eventual troca: escolhas de Draft até dizer chega, Marcus e Markieff Morris, o contrato expirante do Channing Frye, Goran Dragic ou Eric Bledsoe, e sem dúvida pode colocar um bom pacote na mesa do Wolves. O problema é que falta ao Suns aquela peça central da oferta que desequilibre uma troca, uma escolha muito alta de Draft (a do Suns é a #14) ou um jovem jogador com potencial de All-Star para pesar na mente do Wolves. A última coisa que você quer fazer é trocar um All-Star por vários role players - por melhores que sejam - e é basicamente isso que o Suns teria a oferecer. A única peça que eles poderiam oferecer que seria um potencial All-Star seria Goran Dragic, mas isso dependeria de como Minny ve o PG (foi apenas sua primeira temporada jogando nesse nível) e ainda tem que levar em conta que Dragic pode se tornar um free agent em 2015, e o Wolves não vai querer arriscar perdê-lo por nada. SE Dragic se comprometer a assinar uma extensão, então uma troca Dragic, Markieff Morris, o expirante de Channing Frye, #14 pick e a escolha de 2015 do Lakers passa a ser interessante.

Mas depende de muitos fatores, e é um fato que Dragic foi o melhor jogador na equipe em 2014 e o terceiro melhor PG da NBA - não é claro que Phoenix vá querer envolvê-lo em uma troca. Além disso, ele só tem uma temporada fora de série (btw, Dragic foi ASSALTADO por ter caído para o 3rd-Team All NBA para Tony Parker entrar no 2nd Team), e o Wolves pode não achar que é uma peça boa o suficiente, e ai tudo volta para aquela falta de ativos de elite. É mais provável que o Suns vá atrás de outros veteranos estabelecidos (Al Horford, talvez?) a um preço mais modesto e que não forcem a equipe a desmontar seu combo de armadores.


Houston Rockets

Essa é difícil de acontecer. O Rockets já está no limite do salary cap da NBA para 2015, e isso antes de lembrar que tem em Chandler Parsons um free agent restrito. Além disso, o Rockets não tem praticamente nenhum ativo valioso (tirando talvez Terrence Jones e Asik, e não tão valiosos assim) ou escolhas de Draft interessantes. Para essa troca funcionar teria que mandar Asik e uma sign and trade por Parsons junto de muitas escolhas de Draft, mas duvido que Parsons fosse querer jogar em Minnesota e duvido que Minny veria isso como um valor decente. Melhor o Rockets se focar em outra direção. Espere até a Parte II...


Sacramento Kings

Um dos problemas com os potenciais trocadores (?) por Kevin Love é que, como Love é um free agent ao final do ano, o time que gastar valiosos ativos para trazê-lo não vai querer correr o risco de perder o jogador por nada ao final do ano. Qualquer time que o fizer vai querer ter certeza que Love vai assinar uma extensão com a equipe - talvez até com um acordo apalavrado antes da troca. Por isso é tão difícil imaginar o Kings - um time fraco no meio de um período de reconstrução que joga em um mercado pequeno sem nenhum atrativo - fazendo essas troca.

Mas algumas fontes dizem que o Kings pode arriscar a troca mesmo assim, e eles merecem ser incluídos porque são capazes de fazer uma proposta muito interessante: Ben McLemore (escolha Top6 do Draft passado), o contrato expirante do Rudy Gay, sua escolha de Draft (#8) e talvez uma escolha futura protegida por Love e um ou dois contratos ruins dos quais o Wolves queira se livrar (Buddinger e Mbah-a-Moute, ou talvez Kevin Martin). Essa é uma excelente proposta!! Você ganha uma escolha alta de um bom Draft, um bom SG com potencial, ganha uma potencial escolha de Draft valiosa para o futuro e limpa toda sua folha salarial para 2015. De novo, é uma troca espetacular! Com uma exceção (Cavs - chegaremos lá), é talvez a melhor proposta que o Wolves vai receber por Kevin Love, e uma que eles muito possivelmente aceitariam.

O problema é que o Kings não ficaria com um grande time com essa troca, e teriam que aceitar o enorme risco de jogar sua reconstrução no lixo e ainda perder Love por nada no final do ano - e eu acho que eles não farão isso. Ainda assim, é algo que precisa ser levado em conta: Sacramento tem um novo grupo no comando, e um grupo que já falou diversas vezes que não vai poupar esforços para tornar o Kings uma franquia vencedora e acabar com a cultura que lá impera. Trocar por Love seria o tipo de golpe que teria a chance de mudar tudo isso de uma só vez...  e um garrafão Love-Cousins seria um dos mais interessantes da NBA. Eu só duvido que, quando chegar na hora H, o Kings arrisque - porque, caso de errado, você atrasa a franquia em mais cinco anos. Para o azar do Wolves.


Chicago Bulls

Ok, agora começa a ficar realmente interessante. Chicago está desesperado atrás de uma nova estrela (tanto que aparecerão duas vezes nessas colunas), em parte para colocar junto de Derrick Rose e Joakim Noah, e em ainda maior parte para assumir o controle da equipe de Rose caso ele não volte o mesmo (ou até para diminuir as responsabilidades de Rose quando voltar). Love e Chicago também seria o casamento ideal: a defesa de Chicago vai ser muito boa para Love, Noah pode proteger o aro que Love não consegue e jogar tanto dentro ou fora do garrafão, e Love da a Chicago uma legítima opção na meia quadra e alguém para chutar de três e fazer o pick and pop com DJ Augustin Rose. Sem falar, claro, que levaria Love para o time competitivo e o mercado grande que ele tanto quer (supostamente) Seria um encaixe perfeito.

O problema com a troca é que, ainda que factível, ela é difícil de acontecer. Chicago pode entrar algo como 10 milhões em cap space anistiando Boozer e renunciando aos direitos sobre alguns free agents (mais sobre isso na seção do Melo), então salários não seria um problema. O difícil seria o que mandar em troca. A melhor troca possível seria algo como Nikola Mirotic, Taj Gibson/Jimmy Butler, e as duas escolhas de primeira rodada de 2013 (#16 e #19) em troca de Love. Ou em uma outra alternativa, não anistiar Boozer e trocar seu contrato expirante mais Butler e Mirotic (com as escolhas de Draft) por Love e um contrato ruim do Wolves. São as duas opções mais realistas.

Alguma parece uma escolha boa o suficiente para fazer o Wolves se separar de seu All-Star? Hmm... para mim não, a não ser que eles estejam muito convencidos de que Mirotic vai ser um grande jogador. As escolhas 16 e 19 são valiosas em acordos menores, mas não vão mexer com a cabeça de Flip Saunders (GM e agora técnico do Wolves). Mirotic é o jogador mais importante, mas eles não vão querer trocar Love por uma incógnita e três role players. Não me parece que o Bulls teria o suficiente para isso, embora não de para descartar de todo porque é o melhor lugar para Love e o PF pode muito bem se comprometer a assinar uma extensão apenas com Chicago, forçando a mão do Wolves. Nesse caso, Minny teria que morder essa oferta, e como já disse, não é uma situação a ser descartada porque é de longe a melhor troca possível para Love. Mas com tão poucos recursos disponíveis, Chicago pode optar por seguir em outra direção (wait for it).


Golden State Warriors

O Warriors é um time muito interessante, que tem um certo buraco na posição de PF (embora eu seja pró-David Lee) e que adora chutar de três, e que já mostrou em 2013 (quando fez várias trocas para limpar a folha salarial para Dwight Howard) que está disposto a se arriscar por mais uma grande estrela para juntar com Steph Curry. E Kevin Love faria muito sentido nessa equipe, um jogador ofensivo de elite para ancorar o ataque quando Curry vai para o banco e que formaria a dupla de pick and pop mais mortal da história do jogo com o PG. Eles também tem muitos jovens jogadores para oferecer em uma eventual troca, o que torna factível esse tipo de especulação.

De fato, Harrison Barnes (#5th pick dois anos atrás) e Klay Thompson (um dos melhores arremessadores da NBA e um sólido - e jovem - two-way SG) seria um excelente pacote para o Wolves junto de um contrato caro (provavelmente David Lee) em troca de Kevin Love e alguns contratos ruins (Kevin Martin, Mbah a Moute e Chase Buddinger - escolha dois de três). Barnes e Thompson são dois jogadores comprovados na NBA que ainda apresentam bom potencial, e que podem FACILMENTE ser utilizados pelo Wolves como ativos em futuras trocas, dois jogadores com alto valor de troca.

O problema aqui é que o Warriors não tem escolhas de Draft para "adoçar" a troca, não tendo escolhas trocáveis até 2019 (!!!), o que limita a uma troca de jogadores por jogadores. Barnes e Thompson é uma ótima dupla e Lee é um bom jogador que ainda pode ser trocado na deadline, mas ainda é uma troca de 70 centavos no dólar sem uma peça com potencial maior. Sem escolhas de Draft ou um grande contrato expirante, não é a troca que o Wolves preferiria... mas talvez seja a melhor que consigam. Afinal, o Wolves é quem menos tem poder de barganha nessa questão toda.


Boston Celtics

Se o Warriors tem bons jogadores a oferecer mas não escolhas de Draft, o Celtics é exatamente o oposto: não tem bons jovens jogadores para enviar em troca de Love, mas tem uma cacetada de escolhas de Draft nos próximos anos, principalmente a #6 desse ano. E é nisso que o Celtics vai ter que confiar para tentar atrair Love.

O pacote de jogadores por Love seria o expirante de Brandon Bass, Jeff Green e Jared Sullinger - definitivamente não o melhor dos pacotes, já que Green é apenas um jogador útil (idealmente um 6th man em um time de playoffs) e Sullinger seria o melhor valor na troca (e ninguém sabe exatamente o que ele pode vir a ser). Mas o Celtics tem uma gama infinita de escolhas de Draft para Minnesota escolher: a #6 desse ano (obrigatória em qualquer troca), mais a do Nets desse ano, a do Nets de 2016, a do Nets de 2018, a do Clippers de 2015 (possivelmente valiosa se o problema com Donald Sterling se arrastar), e o direito de trocar de picks com o Nets em 2015 (além, claro, das suas próprias escolhas futuras). Então Sully/Green/Bass não é a coisa mais atraente do mundo, mas quando você inclui a #6, a #17 (do Nets) e uma futura escolha do Nets e/ou do próprio Celtics... começa a ficar mais interessante, não é mesmo?

É claro, dificilmente o Wolves seria capaz de pegar um do Top4 e potencial Franchise Player desse Draft no #6 (Exum, Wiggins, Embiid e Parker), mas ainda da para pegar um potencial All-Star - se isso é uma coisa boa ou não eu deixo para vocês decidirem. Sully pode vir a ser um bom jogador, mas é uma aposta de caráter bem diferente da oferta do Warriors: você recebe menos talento realizado, mas recebe alguns ativos de maior volatilidade que podem eventualmente dar um retorno maior no médio prazo. Claro que depende também de quais escolhas o Celtics estaria disposto a mandar, mas é um pacote extremamente interessante que pode sair de Boston.

Essa oferta é melhor do que a do Warriors? Eu realmente não sei, e depende de qual a visão do Wolves no momento. Mas me parecem, no momento, as duas melhores ofertas que o Wolves vai receber (a não ser que o Kings decida arriscar, e dependendo do que o próximo time vai fazer). Claro, tudo depende de...


Cleveland Cavaliers

O Cavs é o time mais difícil de prever e antecipar da NBA, porque ninguém faz idéia do que eles querem - nem eles mesmos. Apesar de saírem com quatro escolhas Top4 nos últimos três anos (inclusive duas #1), o time não conseguiu montar uma equipe competitiva, e apesar do ênfase que seu dono deu recentemente a vencer o quanto antes, eles não conseguiram alcançar os playoffs mesmo em um Leste historicamente fraco. E isso é um problema, em parte porque não sabemos o quanto essa política recente vai influenciar a direção do Cavs aqui.

Para começar, parece que o Cavs ainda está seriamente tentando atrair LeBron James na crença de que ele vai deixar Miami, e para isso quer montar o elenco mais forte e atraente possível. Trazer uma estrela do nível de Kevin Love sem dúvida ajudaria o caso para seduzir James, e mesmo que não consiga atrair o melhor jogador do mundo, ainda é um excelente jogador para ajudar Kyrie Irving e o Cavs na sua busca por vitórias imediatas. Então faz sentido o Cavs ir atrás de Love, especialmente tendo em mente "LeBron James" e "Vencer agora".

Claro que, em típico modo Cavs, vazou a notícia de que a idéia do time era trazer Love SEM trocar sua #1 pick, mantendo o seu maior valor e trazendo ainda a grande estrela disponível. Hmm, claro, porque não pedir Durant e Chris Paul junto? Quem sabe Greg Popovich de técnico também? É ridícula a noção de que o Wolves trocaria Love sem receber sua #1 pick de volta, não tem a MENOR chance disso acontecer. Não que me surpreenda, claro, os torcedores do Cavs são absurdos por natureza - essa semana mesmo vi um sugerindo que o Cavs podia trocar Dion Waiters, Sergei Karasev e Spencer Hawes com o Bucks pela #2 pick para pegar Embiid e Wiggins 1-2. Quase tão realista como trocar por Love sem envolver a #1 pick.

Mas deixando de lado os cenários impossíveis, aqui começa a ficar realmente interessante. Se o Cavs REALMENTE quiser Kevin Love (pelos motivos já ressaltados), acho que ninguém é capaz de fazer uma oferta melhor: a #1 pick, Waiters ou Bennett, e talvez o contrato não garantido/expirante de Varejão ou futuras picks por Love.

Para o Wolves, é perfeita: um potencial Franchise Player na #1, um jovem jogador com potencial em Bennett ou Waiters, e limpa seu salary cap para o futuro próximo. Considerando o jogador recebido, a #1 pick e sua própria escolha, o Wolves pode entrar ano que vem com Rubio, Stauskas, Wiggins, Bennett, Pekovic e Gorgui Dieng (ou então talvez Adreian Payne na #13 e Waiters de SG, ou mesmo algo como Embiid na #1 e Rodney Hood na #13). Esse é um fantástico núcleo! Você tem um potencial franchise player, sólidos titulares com potencial, defesa, 3pt shooting e uma folha salarial controlada, talvez uma escolha extra futura. Se o Cavs estiver disposto a fazer essa oferta para adquirir sua estrela (e Love aceitar uma extensão por lá), então Love é deles - nenhum time em toda a NBA é capaz de fazer uma proposta tão boa pelo jogador.

Para o Cavs, essa é uma oferta de altíssimo risco e alta recompensa. Com duas estrelas a bordo e ainda algo como 18M de cap space (sem contar cap holds), o Cavs estaria em ótima posição para atrair mais jogadores de alto nível, mesmo se não for LeBron (Chris Bosh?). E em último caso, o Cavs ainda pode trazer de volta alguém como Luol Deng e Spencer Hawes, ou simplesmente completar o time com contratos de um ano em busca de uma vaga nos playoffs do Leste (com Irving e Love, é quase uma certeza) e rolar o seu bom espaço salarial para 2015. De qualquer forma, com duas estrelas a bordo é muito mais fácil atrair uma terceira (como Celtics e Heat logo concordarão) ou juntar um time ao seu redor (Rockets, alguém?). Resta ver se Love topa e se o Cavs vai querer seguir por esse caminho - de novo, é uma troca de alto risco visando atrair LeBron e em vencer imediatamente, que parece ser a prioridade do Cavs - mas se quiserem, seria a melhor opção para ambos os times.


Veredito

Só pra deixar claro, o que analisamos acima eram os cenários possíveis de cada time que poderia trocar por Love de forma realista. Agora, no "Veredito", eu vou dar apenas minha opinião educada em como eu vejo a situação, algo bem mais subjetivo do que as análises até aqui.

Ainda que eu ache que o Wolves seja um time bom e que tem boas chances de ser competitivo no futuro próximo com Love e algumas decisões inteligentes, eu acho dificílimo que eles consigam convencer Love a ficar. Os incentivos contra são muitos: um péssimo dono e uma diretoria bem incompetente (não ajuda que Flip Saunders, o GM do time, acabou de se colocar como técnico também), uma cidade que não lhe atrai, e um time que nunca foi aos playoffs. Ainda que com um Draft inteligente o time possa ficar forte, vai ser difícil ter uma arrancada boa o suficiente para começar 2015 a ponto de convencer Love que os playoffs estão garantidos - lembre-se que o Oeste é ridiculamente forte, que o 8th seed de 2014 (Mavs) provavelmente ganharia o Leste se o trocassem com o Heat, e que times como Suns, Wolves e Pelicans ainda ficaram fora dos offs. Eu não vejo acontecendo, e por isso o Wolves deve acabar não tendo opção.

Sobre as propostas, as propostas de Kings e Cavs são de longe as melhores possíveis para o Wolves, duas trocas que lhes garantes escolhas altas, jovens ativos, e alívio salarial. A do Kings oferece um alivio salarial bem maior (e permite que Minny se livre de seus piores contratos), mas a do Cavs tem a peça mais valiosa e por isso tem prioridade. O problema é que são duas propostas incertas: a do Kings envolveria assumir um altíssimo risco e não está claro que a franquia realmente vá fazer essa proposta, e o Cavs é uma incógnita que pode seguir em diferentes direções e talvez veja a escolha #1 como valor demais a ser dado. Em outras palavras, são de longe as melhores propostas, mas que podem acabar nunca se materializando.

Se for o caso, as melhores propostas que sobram são as de Warriors e Celtics, embora ache que nenhuma das duas seja o que o Wolves tinha em mente: Celtics oferece incerteza demais, e Warriors potencial de menos. Mas ainda são as duas melhores que sobram. Ainda acho que nenhuma das ofertas de Chicago seria boa o suficiente para Minnesota, mas não pode ser descartada porque é a melhor para Love, a única oferta que lhe ofereceria um mercado grande E uma chance imediata para vencer no time que seria perfeito para ele. Então considerando que dificilmente um time trocaria por Love sem uma promessa de extensão - e portanto sem seu consentimento - é muito possível conceber um cenário no qual o jogador só iria possibilitar uma troca para Chicago. Nesse caso, deixaria de ser um leilão pela melhor oferta para ser uma oferta única, e Minnesota provavelmente morderia depois de empurrar um pouco com a barriga. A contragosto. Não se pode deixar também de levar em conta as preferências de Love, embora elas também não me pareçam tão definidas a esse ponto.

Ainda que uma oferta Godfather do Cavs ou do Kings possa ainda ser a melhor solução, eu não gostaria de estar na pele do Flip Saunders nesse momento.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Entrevista exclusiva: Jonah Keri




Uma das melhores coisas de se ter um blog, é o contato que você tem com as outras pessoas que também gostam e/ou entendem do assunto. Não só conversar e interagir com os leitores (um dos motivos pelos quais adoro o twitter e escrever mailbags), mas também de conhecer pessoas que vieram antes de mim nessa vida de blogs e colunas esportivas, muita delas pessoas que eu admiro e me inspiro nesse "trabalho". O melhor exemplo provavelmente é o do meu blog brasileiro favorito (e que me fez criar o TMW), o Bola Presa, cujos donos eu conheci por causa do blog. Mas recentemente, eu tive a oportunidade que para mim é o ponto mais alto desses quase cinco anos de blog: conversar sobre baseball com um dos meus maiores ídolos do meio, o grande Jonah Keri.

Se você gosta de baseball e não conhece Jonah Keri, está perdendo o seu tempo. Ele é, na minha opinião, o melhor escritor de baseball na atualidade. Keri é o principal colunista de baseball para o portal Grantland, da ESPN; host de um podcast muito bom sobre o assunto; e autor de dois best-sellers: o excelente "The Extra 2%: How Wall Street Strategies Took a Major League Baseball Team from Worst to First", e o recém-lançado "Up, Up and Away" (falaremos mais dele daqui a pouco). E claro, um dos meus escritores favoritos da atualidade.

Eu pedi a Keri se ele não poderia me dar uma rápida entrevista. O objetivo, como eu expliquei a ele, era a chance de oferecer ao público brasileiro alguns insights sobre baseball a partir do ponto de vista de um especialista que trabalha com o assunto. Eu e muitos outros aqui no Brasil fazemos nossa parte para tentar difundir o baseball no país, mas ainda vejo muito preconceito e desconfiança, pessoas que não estão muito dispostas a aceitar a palavra de um brasileiro sobre o assunto que não cresceu e viveu o esporte como um americano. Mesmo não sendo americano - Keri é canadense - ele trabalha para uma grande empresa americana, mora em Denver, escreve e vive a realidade da MLB e é ultra-qualificado para falar sobre o assunto. Achei que talvez ter uma pessoa do nível dele falando sobre o assunto pudesse atingir um número maior de pessoas.

Para nossa sorte, ele topou uma conversa sobre o assunto, e falar um pouco sobre a MLB, o baseball no Brasil, estatísticas avançadas, Montreal Expos e seu novo livro, "Up, Up and Away: The Kid, the Hawk, Rock, Vladi, Pedro, le Grand Orange, Youppi!, the Crazy Business of Baseball, and the Ill-fated but Unforgetable Montreal Expos"!

(Livro esse que estarei sorteando entre meus seguidores para comemorar essa entrevista e o lançamento do Especial Top100 Prospectos do Baseball. É só mandar um email para tmwarning@hotmail.com para participar do sorteio! Aproveite!)

Abaixo está a entrevista traduzida. Se quiser ler a entrevista em inglês, como ela foi feita, você também pode: é só clicar aqui. Os comentários entre chaves e sem formatação são meus adendos posteriores.


Two-Minute Warning: Jonah, quando alguém pensa no Canadá e em esportes, o primeiro que nos vem a mente é hockey, e depois lacrosse. Não é exatamente igual ao Brasil, que era basicamente um país de um esporte só (com futebol), e Montreal TINHA um time profissional de baseball na época, é claro. Mas como foi que você acabou trabalhando com baseball? Você também teve a experiência de crescer gostando de um esporte que não era tão popular ao seu redor, ou Montreal era uma cidade envolvida o suficiente com o esporte na época? 

Jonah Keri: Montreal na verdade era uma cidade bastante envolvida com baseball quando eu comecei a acompanhar o esporte no começo dos anos 80. Os Expos [Montreal Expos, o time da MLB local que anos depois virou o Washington Nationals] terminaram em segundo ou terceiro em público na liga por vários anos nesse período, e até chegou a superar o Yankees nisso por alguns anos. Não era no nível do hockey, mas eles certamente tinham o apoio popular quando eu era criança.

TMW: Baseball tem experimentado um crescimento recente aqui no Brasil, com mais jogos na TV transmitidos em mais canais, dois jogadores nas ligas maiores e cobertura mais acessível, tanto da mídia profissional como da amadora. O que você acha que poderia nos ajudar a dar o próximo passo? Talvez um jogo de pré-temporada no Brasil? Você acha que existe alguma chance disso acontecer em um futuro próximo?

JK: Eu diria que isso ainda está um pouco distante no futuro, já que a MLB provavelmente tem outros países que gostaria de visitar primeiro. Mas é bom ver o esporte sendo abraçado por um país tão grande e vibrante, com certeza.

TMW: Uma coisa que inegavelmente ajudou a aumentar o interesse por baseball aqui no Brasil foi a chegada de dois jogadores brasileiros na MLB, Yan Gomes e Andre Rienzo. O que você acha deles como jogadores? Você acha que algum deles pode se tornar grande o suficiente para atrair ainda mais atenção para o esporte?

JK: Gomes é um catcher titular nas ligas maiores, algo que somente 30 pessoas no mundo todo podem dizer que são, então isso algo bem grande. Ele é jovem o suficiente para continuar por perto por mais um bom tempo, também. Rienzo não é um jogador tão bom, e seus números até agora não necessariamente sugerem um grande futuro. Mas ele ainda é um arremessador titular pelo White Sox, e isso é algo do que se orgulhar.

TMW: Uma das grandes reclamações das pessoas que estão sendo apresentadas ao baseball é que o jogo é muito longo e para demais (especialmente em contraste com o futebol, um jogo que nunca para). Você ve isso como um problema a expansão para novos mercados?

JK: Não só novos mercados, eu gostaria de ver isso ser melhorado até para pessoas que estão acostumadas ao ritmo do jogo. Mas é difícil imaginar uma melhora significativa, a não ser que os juízes comecem a pressionar os arremessadores para lançar mais rapidamente.

TMW: Se você estivesse apresentando baseball para alguém, quais são as principais coisas que você diria a ele? Em outras palavras, o que você acha que, no baseball, é o mais interessante para alguém que está apenas começando a conhecer o jogo?

JK: Bom, o ritmo lento - desde que não seja lento demais - pode ser ótimo. Como um fã, você tem a oportunidade de acompanhar o pensamento dos rebatedores e arremessadores, ao contrário de um esporte de ritmo acelerado (digamos, basquete ou hockey) onde tudo acontece rápido demais e você não tem tempo para pensar. E claro, baseball tem muitos feitos atléticos incríveis, como futebol ou qualquer outro esporte. É um grande prazer assistir a alguém como Miguel Cabrera, Mike Trout ou Yasiel Puig jogar.

TMW: Qual a sua opinião sobre sabermetrics (estatísticas avançadas)? Você acha que elas podem fazer um trabalho muito bom capturando o efeito do que acontece em um dado jogo ou temporada (dada uma amostra suficientemente grande), ou você fica do lado da abordagem "tradicional"? Por que?

JK: Eu estou profundamente imerso em sabermetrics, tanto pelo meu trabalho como sendo um fã do esporte. Mas essa não precisa ser uma situação de um ou outro. Você pode assistir e apreciar o jogo em um nível básico, mas ao mesmo tempo apreciar métodos mais completos de se acompanhar o esporte. Eu nunca entendi porque algumas pessoas acham que tem que ser de um jeito ou de outro.

TMW: Uma coisa que eu percebi aqui no Brasil é que os fãs em geral estão muito interessados em estatísticas avançadas, é o principal assunto de pedidos que eu recebo por email, e meu post explicando sabermetrics é O post mais lido em quase cinco anos de Two-Minute Warning. No entanto, tem um grande obstáculo: muitas pessoas - inclusive da mídia tradicional - simplesmente as odeiam e fazem de tudo para desmerecê-las. Você não pode usar uma estatística para ilustrar um pouco ou mesmo uma curiosidade que elas começam a reclamar, mesmo sem ter nenhuma evidência para provar o contrário. Você provavelmente lida com esse tipo de coisa com muito mais freqüência, e em uma escala muito maior. O que acha disso?

JK: As pessoas se sentem ameaçadas por conceitos que elas não entendem. Seu trabalho, meu trabalho... o nosso trabalho é escrever de uma forma que convide as pessoas para o debate. Escrever de forma elaborada e inteligente mas respeitosa, escutando as opiniões dos outros, mas sem ter medo de defender nossas posições. Se mesmo assim algumas pessoas ainda não querem escutar, bom, elas que estão perdendo.

TMW: Uma vez eu estava assistindo a um jogo de baseball, e durante um momento parado (troca de pitchers), o comentarista começou a explicar uma estatística avançada. Não era nem algo complicado, era FIP. Mas o narrador imediatamente o cortou, dizendo que "essas coisas não são úteis e fazem as pessoas perder o interesse no esporte". Eu achei ridículo. Eu entendo se alguém disser que não confia totalmente em uma estatística como WAR ou VORP, ou que estatísticas não cobrem todas as partes do jogo, mas ignorar totalmente qualquer tipo de estatística e dizer que só sua opinião visual vale mais do que décadas de desenvolvimento de estatísticas, é outra coisa. Uma pessoas uma vez chegou até a dizer que "nenhum sabermetrista nunca ganhou um título". Na sua opinião, por que isso ocorre?

JK: É o mesmo que na resposta anterior. Quando sua profissão depende do valor que a sua opinião tem, e você não sabe nada sobre estatísticas, então você vai ter um interesse pessoal para desmerecer essas estatísticas. Como eu disse, pessoas inteligentes e de cabeça aberta são perfeitamente capazes de processar e mesmo aproveitar os dois lados.

TMW: Você, é claro, é um grande fã dos Expos. Estranhamente, os Expos são razoavelmente populares por aqui, um time carismático que se foi cedo demais, muitas vezes atraindo comparações com os Seattle Supersonics. Você pode comentar um pouco sobre essa popularidade do time?

JK: Era um time cheio de jogadores de nível Hall da Fama, mas que também eram grandes personalidades. Montreal foi o único time canadense da MLB por alguns anos, e mesmo depois que Toronto entrou na liga, os Expos continuaram sendo um time único, porque Montreal é a única grande cidade na liga que realmente parece européia (Toronto é uma Chicago mais limpa, digamos). O Expos também era o único time que fazia tudo em duas linguagens (inglês e francês), o que os diferenciava. Montreal é uma cidade muito agitada que gosta de festa, então quando o time era bom (final dos anos 70 até começo dos anos 80, e depois de novo nos anos 90), as pessoas se sentiam atraídas ao estádio e adoravam vê-los jogar.

TMW: Finalmente, você pode nos falar um pouco mais sobre o seu novo livro, "Up, Up and Away: The Kid, the Hawk, Rock, Vladi, Pedro, le Grand Orange, Youppi!, the Crazy Business of Baseball, and the Ill-fated but Unforgetable Montreal Expos" (isso que é um título!!), que inclusive eu vou sortear como um presente para comemorar o lançamento do nosso projeto especial de baseball?

JK: Foi muito divertido. Eu falei com cada um dos grandes jogadores da história da franquia - Pedro Martinez, Gary Carter, Tim Raines, Andre Dawson, Dennis Martinez, Rusty Staub, Steve Rogers... 130 entrevistas no total. Então o que você tem são respostas muito divertidas e genuínas de pessoas que estiveram lá, e que você não iria obter de jogadores atuais que precisam tomar cuidado em proteger sua imagem. Também tem muito material sobre a história da cidade, sobre as mudanças nas finanças do baseball, histórias da vida de muitos fãs e de mim mesmo... e dos bastidores. É provavelmente a melhor coisa que eu algum dia vou escrever na minha vida, e fico muito feliz que outras pessoas venham a ler!


(Lembrando que se você quer concorrer a uma cópia de Up, Up and Away, é só mandar um email para tmwarning@hotmail.com!)

Special interview: Jonah Keri




One of the best things of having a sportsblog is the opportunity to interact with other people, who enjoy or have a good knowledge on the subject. Not just the interaction with readers (one of the reasons I love twitter and writing mailbags), but also getting to know people who came before me in this world of sportswriting, many of them people I admire and who have inspired me, and even influenced me when I started doing this - like Bola Presa, the Brazilian basketball blog that made me create Two-Minute Warning. But recently, I had an opportunity that doubles as the highest point in almost five years of writing: talking about baseball with one of my favorite writers, the great Jonah Keri.

If you like baseball and don't know Jonah Keri, you are wasting your time. He is, on my opinion, the best baseball writer right now. He is the main baseball writer for ESPN's Grantland; the host of a very good podcast on the subject; and author of two best-sellers: the excellent "The Extra 2%: How Wall Street Strategies Took a Major League Baseball Team from Worst to First", and the recently released "Up, Up and Away" (more about it in on a minute). And of course, one of my favorite writers on baseball and any other subject.

I asked Keri if he could give me a quick interview. The objective, as I explained to him, was to give the Brazilian public some insights about baseball from the standpoint of a specialist, someone who works daily with the subject. Many people (including myself) here in Brazil do a good job of spreading baseball in our native country, but I still see a lot of prejudice, many people unwilling to list to a Brazilian words on the subject, someone who didn't grew up with and lived the sport as someone in North America would. And even if Keri is Canadian and not American, he works for a big american company, he lives in Denver, lives and write about the MLB reality, and is overqualified to discuss this subject. I thought maybe having someone of that caliber talking about baseball could reach a much bigger number of people.

Luckily for us, he agreed to a quick interview, to talk a little about MLB, baseball in Brazil, sabermetrics, Montreal Expos and his new book, "Up, Up and Away: The Kid, the Hawk, Rock, Vladi, Pedro, le Grand Orange, Youppi!, the Crazy Business of Baseball, and the Ill-fated but Unforgetable Montreal Expos"!

(By the way, that's the book I will be raffling to celebrate this interview and the launching of our baseball special: The Top 100 Prospects in Baseball. If you want a chance to win the book, just send an email to tmwarning@hotmail.com.)

Below you find the original interview, in english. I hope you enjoy it as much as I did.

Você também pode ler a versão traduzida para o português clicando aqui. 


Two-Minute Warning: Jonah, when someone think about Canada and sports, the first one that comes to your mind is Hockey, then Lacrosse. It's not exactly the same as Brazil, that was basically a one-sport country (with soccer), and Montreal DID have a baseball team at the time, of course. But how was that you ended up working with baseball? Did you also have the experience of growing up in love with a sport that wasn't all that popular around you (if so, could you please tell us a little about it), or was Montreal enough of a baseball town back then?

Jonah Keri: Montreal was actually quite a significant baseball town when I first started following the sport in the early 80s. The Expos ranked 2nd or 3rd in the league in attendance for a few years in that span, they even outdrew the Yankees for a couple of years. It wasn't quite at the level of hockey, but they certainly had support when I was a kid. 

TMW: Baseball has experienced a recent growth here in Brazil, with more games on TV on a bigger number of channels, two players at the Majors and more accessible coverage, both from professional and amateur media. It's still small, of course, but it's growing. What do you think could help us take the next step? Maybe a preseason game in Brazil? Do you think there is any chance of this happening any time soon?

JK: I'd say that's some time off in the future, since they'll likely have other countries they'd want to go to first. But it's nice to see the sport being embraced in such a big, vibrant country, for sure.

TMW: One thing that undeniably helped push the interest in Baseball here in Brazil was the arriving at the MLB of two brazilian players, Yan Gomes and Andre Rienzo. What's your take on them as players? Do you think any of them can get big enough to get even more attention?

JK: Gomes is a starting catcher in the big leagues, which is something only 30 other people on Earth can say, so that's a big deal. He's young enough to stick for a while too. Rienzo isn't as good a player, and his track record doesn't necessarily suggest big things in the future. But he's still pitching for the White Sox, and that's something to be proud of.

TMW: One of the biggest complaints of people that just got introduced to baseball is that the game is too long and stops too much (specially when compared to soccer, one that never stops). Do you see this as a problem to the expansion of baseball to new markets?

JK: Not just new markets, I'd like to see that addressed even for people who are used to the game's rhythms. Tough to imagine it improving much, though, unless umpires start forcing pitchers to throw faster.

TMW: If you were introducing someone to baseball, what are the main things you would tell him? In other words, what do you think that, in baseball, is more interesting to someone who's just getting acquainted to the game? 

JK: Well the deliberate pace -- as long as it's not TOO deliberate -- can be great. As a fan you get to think along with the hitters and pitchers, as opposed to in a faster-moving sport (say, basketball or hockey) where everything is moving so fast that there isn't any time to think. And of course baseball has many tremendous athletic feats, just like soccer and other sports. It's a big treat to watch someone like Miguel Cabrera, Mike Trout, or Yasiel Puig play.

TMW: What is your opinion on sabermetrics? Do you think they can do a very good job of capturing the impact of what happen in a game or a season (given enough sample size), or do you stand by the tradition and old ways? Why?

JK: I am immersed in sabermetrics, both in my job and as a fan. This doesn't have to be an either/or situation. You can watch the game and enjoy it on a basic level, but also appreciate more nuanced ways to look at the game. I never understand why people want to make it about one or the other.

TMW: One thing I noticed here in Brazil is that the overall baseball fan base is very interested in advanced stats, it's the main focus of requests and emails I receive, and my post explaining sabermetrics is THE most read in four years of TMW. However, there is a big obstacle: many people - including ones from mainstream media - simply hate them and do whatever they can to dismiss them. You can't use a stat to make a point or even a curiosity that they will start complaining - once a friend casually said on twitter Jeter was a poor defender and three or four of them started going nuts claiming the stats were wrong without pointing to any other kind of evidence. You probably dealt with this kind of thing all the time, and probably in a much larger scale. What's your take on this kind of thing?

JK: People are threatened by concepts they don't understand. Your job, my job...our job is to write in a way that invites them into the conversation. Write crisply and intelligently and also respectfully, listen to others' opinions, but also don't be afraid to defend your position -- again, with respect. If at that point people still don't want to hear it, well, they're the ones missing out.

TMW: Once, I was watching a baseball game and, during a dead moment (a pitching change), the commentator started explaining some sabermetric. It wasn't even anything too complicated, it was FIP. The play by play guy promptly asked him to stop, because he claimed "those things aren't useful and turn people off the game". I thought this was ridiculous. I can understand if a guy tell me he don't fully trust a stat like WAR or VORP, or that stats don't tell the whole story, but to totally ignore all kind of stats and claim his visual opinion is more trustworthy of decades of stat development, it's a whole other thing. Once a guy even went as far as to say "No sabermetrician has ever won a title".In your opinion, why does that still happen? 

JK: See above. When your livelihood depends on your opinion being valued, and you know nothing about stats, you have a vested interest in shutting out stats. Like I said, intelligent, open-minded people are perfectly capable of processing and even ENJOYING both.

TMW: You are, of course, a big Expos fan. Strangely enough, the Expos are pretty popular around here, a charismatic team that was gone too soon, frequently drawing comparisons to the Sonics. Can you tell us a little about the team and their popularity?

JK: They were a team full of Hall of Fame-caliber players, and also great characters. Montreal was the only Canadian team for a few years, and even after Toronto joined the league, the Expos remained unique, because Montreal is the only major league city that truly feels European (Toronto is like a cleaner Chicago, basically). The Expos were also the only team that had everything take place in two languages (English and French) which set them apart. Montreal is very much a party city, so when the team was good (late 70s-early 80s, then again early-to-mid 90s), people gravitated to the stadium and loved to watch them play.

TMW: Finally, can you tell us a little about your new book, "Up, Up and Away: The Kid, the Hawk, Rock, Vladi, Pedro, le Grand Orange, Youppi!, the Crazy Business of Baseball, and the Ill-fated but Unforgetable Montreal Expos" (Now that's a title!), that I will be given as a gif to celebrate the launch of our new baseball project?

JK: It's tons of fun. I talked to every major player in the franchise's history -- Pedro Martinez, Gary Carter, Tim Raines, Andre Dawson, Dennis Martinez, Rusty Staub, Steve Rogers...130 interviews in all. So what you're getting are very candid and fun responses from the people that were there, in a way that you wouldn't from a current player who has to be cautious and guard his reputation. There's also material about the city's history, about changes in the economics of baseball, slice of life stories from myself and other fans...the works. It's probably the best thing I'll ever write in my life, and I'll be delighted to have others read it.