Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O fim de uma Era

Nunca uma Era teve um símbolo com mãos tão grandes

Semana passada, quando Jerry Sloan assinou uma extensão contratual com Utah, um analista da ESPN americana colocou no twitter: Jerry Sloan acabou de assinar uma extensão com o Jazz. Prova que o mundo está rodando normalmente. Agora, no entanto, é hora de ficar preocupado. Jerry Sloan não é mais técnico do Utah Jazz.

O Jerry Sloan foi, como a maioria dos técnicos de basquete na atualidade, um jogador. Jogou no Baltimore Bullets por apenas uma temporada, e depois foi draftado pelo Chicago Bulls no seu draft de expansão, em 1966, onde ganhou o apelido de 'The Original Bull' por ter sido o primeiro escolhido. Lá jogou o resto da sua carreira, foi pro All Star Game, levou o Bulls ao seu primeiro título de divisão (único até a chegada daquele moleque chamado Michael Jordan), fez sua história na Liga e, por fim, teve sua camisa 4 aposentada pelo Chicago Bulls. Uma vez aposentado das quadras, trabalhou como olheiro para o Bulls, depois assistente e por fim chegou a técnico do time, lugar que ocupou por três temporadas. Foi demitido no seu terceiro ano após um começo ruim de temporada e foi trabalhar no Jazz. Por fim, em 1988, assumiu o posto de técnico do time de Utah, um time que contava com dois dos maiores jogadores de todos os tempos, John Stockton e Karl Malone. Durante dezesseis temporadas consecutivas, Sloan levou o time, liderado por esses dois craques, aos playoffs, e duas vezes ganhou a conferência Oeste e chegou à final da NBA, onde foi derrotado, ironicamente, pelo Chicago Bulls líderado por aquele cara chamado Jordan. Em 2004, com a saída de Malone e Stockton, Sloan finalmente ficou de fora dos playoffs. O time era jovem e contava com jogadores como Carlos Boozer, Andrei Kirilenko e, futuramente, Deron Williams. Conforme esse time foi amadurecendo, o Jazz foi voltando aos playoffs e se transformando num time a ser considerado novamente.

O esquema de jogo do Sloan é bem conhecido. Ele prega o jogo cadenciado e lento, usando e abusando do pick and roll, uma das jogadas mais básicas e mais mortais do basquete. Pra isso, o Sloan contava com o Stockton, que era um armador com uma visão de jogo e passe fora de série (é até hoje o recordista da NBA em assistências), e o Malone, um ala de força que era um pontuador sensacional (segundo da história da NBA em pontos totais) e que tinha ótima infiltração e arremesso de meia distancia. Esses dois eram os principais responsáveis por fazer o pick and roll e 90% das jogadas do time começavam com eles, enquanto o resto do time executava suas funções, como abrir espaço, atrair a marcação, se posicionar pra um chute de três ou cortar em direção à cesta pra receber um passe. Com a aposentadoria de Stockton e a ida de Malone pro Lakers, o time ficou sem as duas peças principais pro esquema de Sloan, até que ele as conseguiu novamente com Boozer e Deron Williams. E ai o time se montou novamente em volta deles, com os vários pick and rolls que o esquema fazia e os coadjuvantes executando os papeis certos nas horas certas.

Mas essa temporada, o Carlos Boozer virou Free Agent e decidiu dar o fora por conta própria, e o Jazz perdeu seu segundo principal jogador. Pro seu lugar, o time conseguiu um presente do Wolves e trouxe o Al Jefferson. Mas na prática, a mudança não foi de Boozer pro Jefferson, e sim de Boozer pro Paul Millsap. Millsap foi um ótimo sexto homem para o Jazz na reserva do Boozer, quebrando até um galho como pivô, mas com a saída do Boozer e a chegada do Jefferson, ele herdou a vaga na posição 4 e o Jefferson foi deslocado pra jogar de pivô, onde ele joga já faz algum tempo mas não é sua posição de origem, e pra mim também não é onde ele mais rende. Mas o problema é que, embora Millsap, Jefferson e Mehmet Okur formem um garrafão com características mais completas do que com o Boozer, as lesões do Okur limitaram muito as opções de garrafão do time - agravadas pela falta de um pivô reserva, ou até mesmo de um PF confiável. Além disso, o Boozer tinha um ótimo arremesso de meia distância, algo que nem o Millsap nem o Jefferson fazem com naturalidade. Eles podem acertar, mas preferem jogar próximos à cesta, e o time sentiu falta disso, tanto na forma de pontos quanto abrindo a defesa. E embora o time tenha tido ótimos jogos, o time não conseguiu desenvolver nenhuma consistência. É verdade que isso não devia ter preocupado mais do que o normal a franquia, ha anos que o Jazz consegue ir de um time totalmente medíocre pro melhor time da Liga e vice versa em questão de um mês. Mas o fato é que o time não conseguiu manter um padrão, e ultimamente vinha numa decadência acentuada. Dos últimos 10 jogos, o time perdeu seis. Os jogadores pareciam desinteressados, boatos pipocavam falando do clima no vestiário, e hoje, três dias depois de ter assinado uma extensão contratual, o Jerry Sloan disse que estava saindo do comando do time.

O que motivou a saída do Sloan, aparentemente, foi o Deron Williams. O Williams vinha reclamando já faz algum tempo do esquema tático do Sloan, que era muito restritivo, que não estava mais fazendo ele render da mesma forma (a meu ver, sem o Carlos Boozer). E não ajudou o fato do Deron Williams estar em vias de se tornar um Free Agent em duas temporadas. Depois do carnaval de free agents dessa temporada e do The Decision do Lebron James, seguido pela marca histórica de 26 derrotas consecutivas do Cleveland Cavaliers, e da pequena novela no começo da temporada envolvendo o Chris Paul, os times estão morrendo de medo de perderem seus jogadores na free agency. O Williams reclamou e o time do Jazz não quer dar o menor motivo de ele ficar insatisfeito, ele que já reclamou bastante publicamente quando o time trocou o Ronnie Brewer ano passado apenas pra economizar a grana do seu salário, dizendo que enquanto os times faziam trocas para ficarem melhores, o time dele fazia para ficar pior. Ele já disse que não quer fazer um grande carnaval na sua free agency, como fez o Lebron, mas isso não quer dizer que ele vai ficar em Utah. E por isso, a reclamação do Deron causou preocupação em Utah, ele que é um dos grandes armadores da NBA na atualidade, e muitos até o consideram O melhor armador da NBA, e se ninguém quer perder o melhor jogador a troco de nada, imagina quando seu melhor jogador é tão bom quanto o Deron (Imagina o Cavs perdendo o melhor jogador no fim dessa temporada, não seria tão ruim. Pera, quem é o melhor jogador do Cavs?). Dizem até que a reclamação não era só do Williams, que tinha mais gente no elenco que achava que o esquema tático não tava rendendo mais, mas de longe quem tem mais voz no time é o Williams e portanto quem teve o maior impacto (ou quem levou a maior parcela da culpa) foi o armador.

E pro Jerry Sloan, a situação simplesmente encheu o saco. Ele cansou disso tudo, dessas reclamações, e decidiu se aposentar. Ele e o assistente Phil Johnson saíram do time, e quem assumiu foi o assistente técnico Tyrone Corbin. O Sloan disse que não teve nada a ver com os problemas com o Deron Williams, que ele mesmo que cansou, esgotou o que ele tinha a oferecer e saiu do time. Pode até ser verdade, e é lógico que o problema com o Deron piorou, mas se realmente ele achou que esgotou o tempo dele em Utah, ele fez em sair fora. O Sloan já está na história, já está no Hall da Fama, e embora nunca tenha ganho um título ou mesmo um Coach of the Year numa Liga onde prêmios falam mais alto do que deveriam, ele foi o primeiro técnico (e único até agora) a ganhar 1000 jogos em um único time, tem seu lugar assegurado entre os grandes técnicos de todos os tempos, e agora que sentiu que era hora de tirar o time de campo, ele fez as malas e se aposentou.

A NBA viu recentemente dois times crescerem de rendimento com trocas de técnicos cujo esquema tático não estava rendendo e que estavam perdendo o controle do elenco, o Bobcats e o Pacers. Em ambos os casos os jogadores estavam bem descontentes com o técnico por qualquer que fosse o motivo, e claramente se notavam sinais de desgaste dentro de quadra, esquemas que não estavam conseguindo extrair o máximo de seus jogadores. Embora eu seja um fã de carteirinha do Sloan, talvez seja a hora de ele realmente sair de cena, pra ele e pro Jazz. Deixa outro técnico assumir, dar ao Deron a liberdade que ele quer, envolver mais o Jefferson de costas pra cesta e o Millsap atacando o aro, motivar o Kirilenko, que quando quer é um excelente jogador, e ver aonde isso pode levar o time. Pode não levar a lugar nenhum, mas com o Sloan o time também parecia estacionado numa região intermediária do forte Oeste. Agora com o Corbin o time vai ter a chance de ver se essa troca de ambiente e esquema tático é o suficiente pra fazer o time voltar a vencer e convencer e trazer de volta o melhor basquete do Deron Williams ou se o buraco é mais embaixo. Além disso, um ambiente favorável, um técnico com quem o jogador se identifique e respeite e um esquema tático onde ele fique feliz são condições importantes pra um free agent de impacto sentir vontade de renovar seu contrato, porque o Jazz tem um elenco bom capaz de ir longe nos playoffs. E o Sloan vai poder sentar em casa, relaxar e assistir a tudo isso de longe. Mas é um técnico que vai deixar saudade, com seus pick and rolls, seus esquemas táticos sempre iguais e sempre eficientes, e também com suas mãos gigantes. E vamos ver aonde o Jazz pode chegar, sob nova direção.

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