Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

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Carmelo fez biquinho e acabou sendo trocado

Eu sei que eu ia falar sobre o All Star Game, mas isso fica pra hoje a noite, porque temos um assunto mais importante em mãos. Finalmente acabou a novela, terminou a enrolação, as negociações chegaram ao fim e Carmelo Anthony conseguiu o que tanto queria: foi trocado. O Denver Nuggets anunciou hoje que o ala foi mandado junto com Chauncey Billups, Renaldo Balkman, Anthony Carter e Sheldon Williams para o New York Knicks em troca de Raymond Felton, Danilo Gallinari, Wilson Chandler, Timofey Mozgov e mais um pacote de escolhas de draft, incluindo uma escolha de primeira rodada e duas de segunda.

Para entender essa troca e porque o Carmelo não simplesmente esperou seu contrato acabar ao fim da temporada pra mudar de time, primeiro a gente tem que entender a situação em que está a NBA. Eu falei recentemente sobre o CBA da NFL, o acordo entre a Liga e a união dos jogadores, que está em negociações para a próxima temporada e que é o acordo responsável por estabelecer vários fatores, inclusive o teto salarial das próximas temporadas. Pra ler mais é só clicar no link. Mas acontece que a NBA vive uma situação parecida. Vou falar mais dela num post específico, mas em essência a questão é muito parecida com a da NFL, o acordo atual está pra vencer (no caso da NFL ele já venceu) e as negociações entre Liga e união dos jogadores não está avançando com a velocidade necessária, e isso está causando uma enorme incerteza para a próxima temporada. Em particular, está causando uma incerteza com relação aos salários. Na NBA, existe um teto salarial que é um 'soft cap', ou seja, ele pode ser ultrapassado em certas situações e seguindo certas regras, desde que o time que ultrapasse esse teto pague uma multa. Além dele, existe um hard cap, um teto salarial que nenhum time pode ultrapassar, em nenhuma circunstância. E uma das pautas desse novo acordo entre Liga e união é a diminuição desse teto salarial, sob o argumento da NBA de que quase nenhuma franquia anda tendo lucro recentemente.

E essa diminuição do teto salarial é o que tem assustado os jogadores. Um jogador que assinou um contrato no começo dessa temporada teve seu contrato calculado com base no teto salarial vigente, mas um jogador que assinar um contrato ao final dessa temporada assinará com valores calculados com base no novo teto salarial, que possivelmente será menor, e assim ele irá ganhar bem menos dinheiro. Isso, lógico, supondo que se chegue a um acordo e que a redução do teto realmente aconteça. Essa é a razão pela qual jogadores como Paul Pierce, Dirk Nowitzky e até o Richard Jefferson optaram por sair antes do último ano de seus contratos ao final da temporada passada para assinar novos contratos. Os contratos novos pagam menos dinheiro do que eles iriam ganhar no último ano do contrato anterior, mas assinando esses contratos eles garantiram que ele durasse mais tempo, ao invés de ganhar mais dinheiro no último ano e ficar correndo o risco de assinar um contrato muito menor e mais curto sob o novo CBA. E também foi esse o motivo que levou o Carmelo Anthony a querer sair agora do Nuggets, ao invés de terminar seu contrato ao final do ano e fazer um anúncio em rede nacional indicando pra onde ele levaria seus talentos. Se terminar o contrato ao final do ano, ele assinará um contrato de free agent com o time que ele quiser, mas corre o risco de ser um contrato com um valor menor por causa do novo CBA. Ao invés disso, ele queria assinar agora uma extensão contratual nos moldes do acordo atual, que vai lhe garantir mais dinheiro.

Quanto a sair do Nuggets, o motivo é simples. Ele quer vencer títulos e jogar em algum lugar de muita visibilidade. O Nuggets era um ótimo time, chegou até as finais do Oeste em 2009, quando deu uma bela canseira no Lakers, mas em 2010 o time se perdeu quando o técnico George Karl se ausentou durante os playoffs pra tratar de um câncer. O time, então, ficou muito enfraquecido e foi massacrado pelo Deron Williams e o Utah Jazz nos playoffs. E vendo os seus amiguinhos do draft de 2003 se juntarem em Miami, formarem um super time e estarem muito fortes na briga por um título, o Melo também quer ir para um time com estrelas, onde ele seria capaz de brigar por muitos títulos e ser reconhecido por isso. O Melo é um superstar, um dos melhores pontuadores da Liga, mas ele é um jogador que até que recebe pouco reconhecimento pra alguém que é isso tudo. E por isso ele ficou tentado com a idéia de jogar em NY, onde ele cresceu e onde fez faculdade. E a idéia começou a parecer ainda mais tentadora quando o Knicks trouxe o Amare Stoudamire e falou em trazer o Chris Paul. O Nuggets tem um bom time, o Billups é um tremendo armador, o Aaron Afflalo é um dos melhores carregadores de piano da NBA, o Nenê é um ótimo pivô, mas a verdade é que esse time depende muito de dois jogadores velhos, o próprio Billups e do Kenyon Martin. E ambos já estão claramente na descendente da carreira, não vão durar muito mais tempo e o Nuggets pode voltar a ser um time mediano, sem defesa de garrafão e sem organização ofensiva, e portanto sem chances de título. E não é o que o Carmelo quer, então ele pediu pra sair.

Pro Nuggets, foi um bom negócio. Eles ofereceram quinhentas extensões muito valiosas pro Carmelo, que foram recusadas quinhentas vezes, ficou bem claro que ele não ia continuar em Denver. Então, pra não ficarem de mãos abanando ao final da temporada como ficaram Cavaliers e Raptors, eles trataram de buscar trocas para seu All Star. A primeira proposta que apareceu foi do Nets, que envolvia o calouro Derrick Favors e uma cacetada de escolhas de draft. Quando a negociação esfriou, veio o Knicks, e depois de muita enrolação, pentelhação e negociações, o Knicks ofereceu Chandler, Galinari, Felton e uma escolha de primeira rodada. O Nuggets pediu Felton, Chandler, Landry Fields e Timofey Mozgov, alem da escolha de draft. No final, Fields ficou e Galinari foi pra Denver. Pro Nuggets, foi um sucesso, na medida do possível. Perder um All Star como o Melo nunca é um sucesso, mas a situação seria pior se não trocassem, e conseguiram muita coisa em troca. Ao trocar seus dois melhores jogadores, o Nuggets deixou bem claro que vai reconstruir o elenco.

O time trouxe Raymond Felton, em ótima fase, para a posição que era do Billups. É verdade que o Billups era o jogador mais importante do ataque do Nuggets porque era quem cadenciava o jogo, ditava o ritmo e organizava as ações ofensivas. O Felton não tem essa habilidade nesse grau, mas ele já mostrou que sabe jogar um basquete cadenciado quando era armador do Bobcats e tem jogado ainda melhor na velocidade do Knicks, e o Karl vai ter que saber como extrair o máximo dos dois lados do jogo do Felton. Além disso, o armador sophomore Ty Lawson é outro que é muito bom, um jogador que imprime muita velocidade, sabe pontuar e é excelente pra entrar no banco pra trazer energia e colocar os reservas do time naquele ritmo alucinante que nenhum time reserva na Liga consegue acompanhar. De acompanhamento, o time ainda tem o ótimo Afflalo, que é um role player excelente, defende muito bem, ótimo arremessador e que desde que começou a ter mais a bola nas mãos também tem correspondido muito melhor do que a encomenda, e o JR Smith, que tem um QI próximo da Luciana Gimenez mas que é talentoso e atlético pro diabo, da umas enterradas muito boas e que é ótimo pra vir do banco arremessar de três, principalmente se o seu time está na frente no placar. A posição três, de ala, ficou vaga com a saída do Carmelo, mas ganhou dois bons jogadores pra posição. O Wilson Chandler vinha tendo uma temporada sensacional no Nuggets, é um ótimo jogador e era candidatíssimo ao prêmio de melhor sexto homem da temporada até começar a jogar de titular. E também trouxe o Gallinari, que não é um jogador dos mais completos que já se viu mas que arremessa muito bem de três, sabe bater pra dentro e da umas enterradas bem maneiras também. Também pode quebrar um galho na posição de ala-pivô pela sua altura, mas quando ele fazia isso no Knicks o garrafão era vergonhoso, é um recurso limitado a ser usado. E o melhor, o Gallinari tem 22 anos, e o Chandler 23. O time ainda conta com o Nenê, que também é um jogador eficientíssimo no garrafão. Agora sem o Melo o Nenê provavelmente vai ter mais bolas pra arremessar e uma maior responsabilidade, o que pode ser até bom para o pivô. E o Timofey Mozgov é um pivô cru mas que teve recentemente uns jogos muito bons, inclusive um jogo de 23 pontos e 14 rebotes contra o Pistons e deixou todo mundo com um gostinho de quero mais. Não acho que ele vai ser um grande jogador, mas com os minutos necessários pode evoluir e virar um bom reserva. E detalhe que, tirando o Nenê e seus 28 anos, o jogador mais jovem de todos os outros é o Felton com 26 anos!

Ou seja, o time trocou seu All Star por uma cambada de jogadores jovens, talentosos e com um futuro muito promissor. O time agora precisa terminar sua reconstrução e se livrar do contrato monstruoso do Al Harrington que o time assinou numa esperança de manter o Carmelo, e esperar o Martin aposentar. O Nuggets fez sua reconstrução usando o Melo e mantendo uma base de jogadores talentosos no time, e mesmo perdendo o Melo é um time muito melhor que o Cavs, Raptors e metade do Leste. Mas pra coroar essa reconstrução, o time precisa de uma coisa. E o que o time perdeu é exatamente o que ele precisa: uma estrela. Um time com cinco ótimos role players pode ganhar alguns jogos, o Rockets já mostrou isso pra gente, mas não vão conseguir ganhar um título. Eles precisam de uma estrela, de um jogador capaz de vencer jogos sozinho e decidir jogos apertados no final. E isso eles não tem no momento, e também não tem uma escolha alta no próximo draft o suficiente pra conseguir um. Como eles vão atrair esse marquee player eu não sei, mas é o que o Nuggets precisa pra finalizar sua reconstrução.

Pro Knicks, eu confesso que, a curto prazo, não achei um bom negócio. O Carmelo é um ótimo jogador, já falei isso antes, mas o time titular do Knicks foi totalmente desmontado para isso, três titulares foram embora, e esse era o melhor time que o Knicks tinha em muito tempo. O Knicks ganha um jogador capaz de fazer uma combinação mortal com o Stoudamire, mas nenhum dos dois defende porcaria nenhuma e agora eles vão sofrer pra colocar gente em volta desses dois. Também tem o fato do Billups ser um armador que tinha como principal característica ser um jogador que controla o jogo, diminui o ritmo, cadencia, mantém a calma, toma um chazinho e aciona os jogadores nas horas certas. Foi essa característica dele que botou ordem no ataque do Nuggets e revolucionou o time quando ele foi trocado pelo Allen Iverson. Mas eu estou muito curioso pra ver como isso vai funcionar no Knicks. Não sei como o Mike D'Anthony pretende usar o Billups, se pretende usá-lo da mesma forma, desacelerar o ataque e deixar o controle do jogo em suas mãos, ou se ele vai continuar usando sua filosofia dos "Sete segundos ou menos" e correndo como um louco, desperdiçando a principal característica que fez do Billups um dos melhores armadores ao longo da última década. Portanto, o Knicks que já era um time confuso ficou ainda mais e, além de duas estrelas sensacionais, o time não tem mais nada, nem sequer um plano de jogo definido.

Mas o plano do Knicks é outro, e bem maior. O Knicks é uma das franquias mais tradicionais da NBA, a segunda mais valiosa atrás só do Lakers e um time que movimenta muito dinheiro. Mas também é a franquia mais fracassada dos últimos tempos e que busca desesperadamente se reerguer. Eles não conseguiram isso nessa free agency com o Lebron James, como sonhavam, então buscaram o Stoudamire como prêmio de consolação e começaram a sonhar com Carmelo e Chris Paul. E esse é o plano por trás da troca: Trazer mais craques ainda, satisfazer seus sonhos megalômanos e fazer um Big Three versão 3.0. Se a troca for simplesmente porque acharam que melhoraram o time por hora, eles estão totalmente errados, o Knicks é um time ainda mais longe do título. Mas se o plano é aproveitar que no final do ano os contratos expiram, e ai montar um novo time em volta das suas duas grandes estrelas, pode dar muito certo. Esperar o CP3 e o Dwight Howard terminarem seus contratos pra se juntarem ao time é arriscado, já deu bem errado com o Lebron, mas pelo menos eles tem algum atrativo, que são seus dois All Stars.

Aliás, essa tendência de concentração está cada vez maior na NBA. De certa forma ela começou e não começou com o Big Three do Boston, em 2008. Inegável que essa foi a primeira vez que três grandes jogadores sem um título se juntaram pra finalmente conseguir nos tempos recentes, mas também tem uma diferença fundamental, que é o fato dos três jogadores do Boston, apesar de futuros Hall of Famers, também eram jogadores que já tinham passado seu auge, velhos, em decadência, apesar de ótimos. Já os que andam se juntando no Heat, Knicks e cia são jogadores que estão no auge, jovens, com muitos anos pra ganharem títulos pela frente. E essa concentração é outra coisa que a NBA quer impedir com sua redução do teto salarial, pra evitar que os times possam oferecer contratos gigantescos pra vários jogadores e montem um time só com craques. Não que a NBA não goste desses times, mas se isso virar uma grande tendência pode causar um grande desequilíbrio na Liga, e isso pode começar a ter o efeito negativo, ninguém vai querer ver 95% dos jogos da NBA se todos os grandes jogadores se concentrarem em cinco times. Mas essa discussão é outra, e vai durar muito mais ainda, um novo CBA ainda está bem distante. Por hora, vamos nos divertir com a nova dupla de All Stars da NBA e ver como o Nuggets continua sua reconstrução com esse time de pirralhos talentosos.


Como TM Warning também é cultura, o título do post de hoje é parte de uma famosa música de Frank Sinatra chamada New York, New York: "Start spreading the news, I'm leaving today, I'm gonna be a part of New York, New York"

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