Agora nós sabemos o resultado da mistura do Hines Ward com o Troy Polamalu
O Pittsburgh Steelers é a franquia mais vitoriosa da história da NFL, ou pelo menos o é na Era Super Bowl, contabilizando seis títulos, um a mais que Cowboys e 49ers. Desses seis títulos, dois vieram na última década, em 2005 e 2008. O Steelers tem sido um dos grandes times da AFC nessa década, junto com Patriots e Colts, e não só chegou a esses dois Super Bowls como chegou a uma castanhada de finais de conferência e quase sempre aos playoffs. Curiosamente, aliás, nas duas vezes que não foi aos playoffs foi justamente quando tinha acabado de ser campeão, em 2006 e 2009. Mas o que mais impressiona nessa dominação do Steelers ao longo da década é a defesa que o time tem. Desde o time de 2005, que tinha como astros no ataque Jerome Betts em fim de carreira, o RB mais forte que eu vi jogar, e o Willie Parker, além de contar com o Hines Ward e dois jogadores muito jovens, Ben Roethlisberger e Heath Miller, o time tinha como principal âncora a defesa, liderada por Troy Polamalu, James Farrior e Joey Porter. Era uma defesa sufocante, que vivia dando sacks e forçando turnovers, colocando pressão no QB adversário e colocando seu jovem QB em boas situações de campo. Foi assim que o time se tornou o primeiro time da história a ser 6th seed (Pior time do wild card a se classificar) nos playoffs e ser campeão do Super Bowl. Em 2008, mais do mesmo: classificando com uma defesa fortíssima e tendo o Defensive Player of the Year do ano, James Harrison, o Steelers forçou com aquela defesa sufocante seu caminho até o Super Bowl contra o Cardinals. Apesar de ter sido um jogo ofensivo de ambos os lados, a jogada que definiu a partida veio na defesa, e justamente de Harrison, que interceptou um passe dentro da end zone de Kurt Warner no final do primeiro tempo pra levar pra touchdown do outro lado, uma jogada de no mínimo 10 pontos e que fez toda a diferença no final, e também foi o retorno de TD mais longo da história do Super Bowl.
A situação, esse ano, também é muito parecida. O Steelers também conta com o atual Defensive Player of the Year, Troy Polamalu, e também com o terceiro colocado na votação, Harrison, além de possuir a melhor defesa da temporada regular e que tem sido excelente nos playoffs, uma defesa que coloca muita pressão no QB adversário, da sacks, força turnovers e é ótima colocando o ataque em boas posições de campo. E o ataque, embora secundário, é uma unidade bem forte, com um jogo terrestre liderado pelo Rashard Mendenhall e com o Big Ben controlando o jogo nas horas decisivas. O time perdeu seu melhor WR de 2008, o MVP do Super Bowl Santonio Holmes, mas achou no Mike Wallace um ótimo substituto, rápido, inteligente e excelente em abrir espaços rapidamente. O Hines Ward ta mais velho, é verdade, mas ainda é um excelente WR, o jogador de confiança do Ben e que ainda é muito bom achando espaços pelo meio e bloqueando para corridas ou jardas após a recepção. É uma unidade que conta com a incrível mobilidade e inteligência do Big Ben Roethlisberger e com seu braço de canhão pra conseguir mesclar bolas longas com jogadas curtas, corridas que controlam o relógio e mantém o jogo com o placar baixo, como eles fizeram tão bem contra o Jets no primeiro tempo.
Acontece que o adversário é, novamente, um time muito parecido com o Steelers. Não tão parecido como o Baltimore Ravens, eles parecem cópias roxas e amarelas um do outro, é incrível, mas ainda assim são dois times que tem como âncora uma excelente defesa, que coloca muita pressão no quarterback e que tem um ataque competente pra ganhar as partidas. Analisando mais de perto, percebemos várias pequenas diferenças, mas a silhueta é a mesma: uma defesa fortíssima, mais de um jogador que é capaz de desequilibrar uma partida a qualquer momento (Clay Matthews também ficou em segundo na votação pra Defensive Player of the Year, Charles Woodson ganhou ano passado) que lidera e um ataque que também é capaz de colocar pontos no placar rapidamente pra depois segurar a vantagem. A diferença principal é que enquanto o Steelers usa seu ataque como um complemento pra sua defesa, pra colocar pontos no placar e ai segurar o ataque adversário na sua defesa e administrar o relógio quando tiver a bola, o Packers usa os dois de forma cooperativa, ele pontua rapidamente, abre o placar, usa sua defesa pra forçar turnovers ou chutes rápidos, usa seu poder de fogo pra pontuar novamente, e ai você vai colocando o adversário num buraco do qual ele vão ter que escapar jogando com mais pressa e unidimensionalmente, tornando-se ai uma presa mais fácil pra forte defesa de Green Bay.
O que o Steelers tem que fazer, portanto, é impor o seu estilo de jogo e limitar ao máximo o do Packers. E pra isso ele tem que, antes de tudo, evitar turnovers. A secundária do Packers é excelente em interceptações e o Steelers pode contar ainda a ausência do C calouro Maurkice Pouncey, que tava tendo uma ótima temporada. Além disso, a dupla de tackles do Steelers é a reserva, os titulares ambos lesionados. Ou seja, o Steelers ta jogando praticamente com uma linha ofensiva reserva, e se a titular já não era muito confiável, a atual está totalmente vulnerável ao BJ Raji pelo meio da defesa e ao Matthews pelas laterais. E o Big Ben é excelente fugindo do sacks, mas até ele é humano e tem um limite, e evitar sacks e lançamentos apressados que possam acabar em interceptações é fundamental. A linha ofensiva vai ter que jogar o melhor que puder, dados os desfalques, mas é importantíssimo que o Big Ben se livre rápido da bola. Às vezes ele segura a bola demais esperando os WRs se desmarcarem, porque o time tem vários jogadores que conseguem abrir distância bem rápido, mas nesse jogo é importantíssimo que o Big Ben solte a bola rápido, em rotas curtas, de preferência com os alvos ainda em movimento pra aproveitar a velocidade do Wallace e os bloqueios do Hines Ward. Isso é essencial pra evitar que o Big Ben apanhe mais do que já vem apanhando e acabe soltando a bola ou force o passe e acabe nas mãos da perigosíssima secundária do Packers. Também é importante estabelecer o jogo terrestre, se o Mendenhall correr o que correu contra o Jets será ótimo, porque como eu já disse o Steelers gosta de usar o ataque pra pontuar lentamente e controlar o relógio pra deixar sua defesa fazendo o trabalho sujo, e usando ele com mais força quando necessário, e pra isso é importante que o jogo terrestre funcione. Mas o próprio Mendenhall vai ter trabalho, ele que vem sofrendo com fumbles já faz algum tempo, é fundamental que ele tome cuidado e segure a bola. Executando esses dois com eficiência, o Steelers já faz uma parte do que se propõe: Controlar a bola, evitar turnovers e avançar lentamente pra converter pontos e contar com sua defesa.
O problema é que o ataque do Packers é infernal e o Aaron Rodgers é um dos melhores QBs do mundo. A defesa do Steelers é excelente, conta com um número enorme de grandes jogadores, e é excelente em todas as áreas do jogo, mas parar o Aaron Rodgers é algo impossível. O Steelers vai, lógico, evitar ao máximo levar pontos, tentar fazer o que puder pra parar o QB de Green Bay e forçar turnovers, mas pontos vão acontecer. O Packers não tem um jogo terrestre confiável, mas sua linha ofensiva tem jogado bem nesses playoffs e é melhor do que a desfalcada linha do Steelers. É ai que a defesa do Steelers vai jogar, colocando pressão de todos os lados possíveis, forçar o Rodgers a ficar no pocket ao invés de fazer o bootleg e tentar caçar ao máximo o QB de Green Bay pra deixar ele preocupado e desconfortável dentro do pocket. Nesses playoffs foi a única coisa que deu resultado, e foi o que limitou a produção dele contra o Bears, com o Jullius Peppers fungando na nuca dele o jogo todo. E o que da certo, você tenta imitar. Não é só uma questão de sackar o Rodgers sempre, você tem que fazer ele ter medo, se preocupar com a pressão, não conseguir se concentrar no passe tão bem como gostaria, e pra isso você tem que constantemente colocar alguém pra forçar um deslocamento ou apressar o seu passe. É um jogo onde as linhas vão ter um papel fundamental, e como a linha ofensiva do Steelers deve vir mais desfalcada e fraca do que no resto dos playoffs, a linha defensiva vai ter que equilibrar essa balança, também parando a corrida, mas mais do que tudo impedir que o Rodgers entre no seu modo assassino, porque ai ninguém consegue segurar.
Mas caso o plano não funcione tão bem, ou até se funcionar na medida do possível, o Rodgers e o ataque do Packers vai conseguir anotar pontos, vários pontos, e ai o ataque do Steelers, além de proteger a bola, vai ter que correr atrás. De nada adianta você controlar o relógio se a cada posse de bola você anota três pontos e o adversário anota sete. Por isso que o Steelers tem que evitar ao máximo que a vantagem do Packers se abra, porque ai você vai ter que começar a acelerar o ataque, jogar mais pesado pelo ar, e vai tornar o Big Ben um alvo muito mais fácil pro sistema criativo de blitzes do Dom Capers, e jogar dessa forma contra a defesa do Packers é pedir pra perder o jogo. Por isso o ataque do Steelers vai ter que se preparar pra jogar de forma mais agressiva, pra campanhas sem se preocupar com relógio ou outra coisa alem do touchdown. Você não pode abandonar o jogo terrestre, mas você tem que contar com a inteligência do Big Ben pra achar, quando tiver tempo pra isso, um passe longo, uma corrida pela lateral ou até um passe na velocidade pro Mendenhall quando a defesa não tiver esperando. O time tem que estar pronto pra variar seu repertório antes que a situação chegue num ponto crítico, controlar o relógio mas não pode perder a chance pra uma jogada longa quando a oportunidade aparecer. O problema é saber identificar essas situações, e saber diferenciar das situações onde jogar com segurança, passes curtos e rápidos ou corridas. E ai, está nas suas mãos, Big Ben. De certa forma, você é a chave da partida para o Steelers.
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