Sloan e Williams combinam uma briga pra ambos darem o fora de Utah
Para quem não sabe, hoje é a Trade Deadline da NBA, ou seja, a data limite para que os times possam trocar jogadores e escolhas do draft entre si. Os times ainda têm algumas horas pra terminar suas trocas antes que o mercado se feche e só abra novamente ao fim da temporada, e geralmente é perto dessa data (ou nela) que acontece o maior número de trocas dentro da própria temporada, sem contar a offseason. A troca mais esperada e que causou maior rebuliço a gente já comentou ontem, foi a ida do Carmelo Anthony pro Knicks, Carmelo que aliás estreou fazendo 27 pontos e pegando 10 rebotes contra o Bucks. Bom? Sim, ótimo, mas o Knicks conseguiu tomar 108 pontos desse mesmo Bucks, o que mostra que a idéia do Knicks é realmente atacar muito e não defender ninguém, aposto que o Bucks só não fez mais porque os jogadores estavam num dia ruim, eles tem o ataque mais triste da Liga. Mas acontece que ontem o Nets também fez uma troca megalômana e conseguiu trazer uma estrela: Deron Williams.
A primeira reação de muita gente deve ter sido "Cacete, mais uma grande estrela mudando de time, ta na moda!", e a segunda talvez seja algo como 'Cadê o amor à camisa, a identificação com a franquia que draftou e onde o jogador cresceu??'. Mas a verdade é que existe uma diferença fundamental nessa troca em relação à do Carmelo Anthony: Williams não queria ser trocado. Ele gosta do Jazz, gosta de morar em Salt Lake City, e sempre deixou claro que o time era sua prioridade. Queria ir longe, ser campeão com o Jazz. Ele não fez lobby pra ser trocado, e mesmo seu contrato acabando no final da próxima temporada, ele não declarou sua intenção de sair do time explicitamente. Mas ele é uma estrela, é um grande jogador e é muito competitivo, quer ser campeão, como todo mundo quer. E ele sempre cobrou isso do time de Utah, queria um elenco que fosse capaz de chegar longe, ir para as Finais, ganhar um troféu. E isso sempre foi uma causa de enorme descontentamento por parte do Deron, porque o Jazz nunca conseguiu isso e nem tentou, pra ser sincero. O Jazz é um time que vive preocupado com dinheiro, e que não sente vergonha em mandar jogadores embora apenas para economizar o salário. Foi o que o time fez com o Ronnie Brewer, que foi mandado pro Grizzlies e que gerou muita revolta no Deron, que até comentou que 'Os outros times fazem trocas pra ficarem melhores, só o nosso faz trocas pra ficar pior'. O Jazz também mandou o Eric Maynor, PG calouro e muito promissor, a preço de banana para o Thunder, novamente para economizar. Também não igualou a proposta do Blazers pelo Wesley Matthews. Tudo bem, a proposta era enorme e absurda até, mas o Matthews ta fazendo muita falta por lá e ta destruindo tudo e todos em Portland. Ou seja, o Jazz é uma franquia que não está disposta a grandes gastos, quer economizar seu dinheiro, e pra você montar um time vencedor você tem que gastar, pagar salários altos, manter vários jogadores caros. O Jazz não tem esse perfil de equipe vencedora, e isso sempre incomodou o Deron Williams.
Mas o Deron Williams sempre deu tempo ao tempo. Disse que tinha até o final do seu contrato pra jogar em um time competitivo, ou seja, deixou bem claro que só ia sair se não houvesse uma condição de melhora. O Jazz sentiu o perigo de perder sua grande estrela, como o Nuggets sentiu, por exemplo, mas o time ainda tinha um ano pra conseguir contratar jogadores e convencer o Williams a ficar, pra daí trocar ele se desse errado. Mas o Jazz não era um time que faria isso, não faria grandes gastos elevados, e portanto sabia que o Deron iria querer dar o fora dali quando visse que não ia ter chances de títulos dessa forma. E o Deron não é burro e sabia disso, e começou a pensar em jogar em NY, mas no Knicks, junto com a recém formada dupla Melo - Amare Stoudamire. Mas o Jazz trocou o armador pro primo pobre de NY, algo como flertar com o Lakers e ir parar no Clippers. Mandou o Deron para o Nets, uma franquia decadente e com remotíssimas chances de playoffs.
O Nets é uma das franquias mais fracassadas nos últimos anos e ano passado quase teve o pior recorde da NBA em todos os tempos. Esse ano, no entanto, o Nets tem um novo dono, o bilionário russo Mikhail Prokhorov, que é daqueles donos que está afim de gastar e gastar pra tornar seu time um grande time, no melhor estilo Mark Cuban. As motivações podem ser diferentes, mas a vontade é parecida. E o Prokhorov, que vai levar o Nets para o Brooklin daqui a dois anos, queria trazer uma grande estrela para dar novo ânimo para a franquia, ser o símbolo do time nessa ida para New York e liderar uma volta por cima. Eles queriam mesmo o Carmelo, mas o Melo sempre deixou claro que queria ir para o Knicks e o Nuggets não aceitou as propostas do Nets. O Melo acabou indo pra onde queria, e ai o Nets juntou tudo que tinha oferecido pelo Carmelo - Devin Harris, o calouro e terceira escolha do draft Derrick Favors, uma escolha de primeira rodada deles mesmos em 2011 e uma escolha do Warriors de primeira rodada de 2012 - e mandou tudo isso para Utah em troca do Deron Williams. O Jazz não está disposto a grandes gastos, sabia que não iria conseguir montar um grande time e que por isso corria o risco de perder o Deron Williams a troco de nada no final da próxima temporada. Assim, o Jazz apenas antecipou o que seria inevitável, trocar o Deron pra não sair de mãos abanando, e preferiu fazer isso agora pra não ter que pagar o salário de 16 milhões pro armador na próxima temporada, mais as multas por estar acima do teto salarial. E o Nets conseguiu sua estrela, que fará um ótimo núcleo jovem com o Brook Lopez, e que será o centro da reconstrução que o Nets vai fazer agora, e o Prokhorov não vai economizar, vai gastar seus centavos pra contratar jogadores, encher o ginásio, vender camisetas e fazer uma transição de sucesso pro Brooklin. O time vai agora se entrosar um pouco, esperar o final da temporada, pra ai atacar todo jogador que estiver sem contrato pra montar um time forte em volta desses dois. Não é uma proposta tão segura, talvez uma reformulação a longo prazo fosse melhor, mas com tudo em consideração, foi a escolha que eles preferiram.
E o Deron Williams ficou bravo, ele preferia ter ficado no Jazz ao invés de ir parar o Nets, mas de certa forma, a troca foi boa pra ele. Se antes ele tava num time que não estava afim de gastar, montar um super time e dar ao Deron o time competitivo capaz de buscar um título que ele tanto queria, agora ele está num que tem como plano gastar até as calças pra montar esse time, e ele tem muito mais chances de ganhar um título no Nets nos próximos anos do que ele iria ter no Jazz. É a diferença entre o time disposto a gastar muito dinheiro pra ser campeão e um que troca seus jogadores a troco de nada apenas para economizar dinheiro.
E o Jazz agora finalmente está com os bolsos limpos, mas está sem um time competitivo também. Perderam seu melhor jogador e um dos melhores da NBA, e agora vão ter que recomeçar tudo do zero. O Andrei Kirilenko e seu contrato de 17 milhões vão embora ao final dessa temporada, o Mehmet Okur deve ser mandado de volta pra Turquia via Sedex, e o elenco vai ficar limpinho e sem nenhum jogador que preste também além do Al Jefferson e do Paul Millsap, que também ganham contratos longos mas são jovens ainda, ambos tem 26 anos, e um deles pode ser trocado pra liberar espaço pro Favors jogar de titular, ganhar minutos e desenvolver seu jogo. Ele não tem sido grande coisa na temporada até aqui, até porque não tem tido muito espaço no Nets e claramente não estava nos planos deles, mas tem talento, bom defensor e que precisa de paciência, tempo, investimento e minutos pra crescer, pode chegar a ser um bom jogador. Além disso, o Jazz deve ter duas escolhas de draft relativamente altas em cada um dos próximos dois drafts, possivelmente as quatro da loteria e talvez até no top 3. Agora é a hora que o Jazz escolheu pra jogar tudo pra cima e recomeçar do zero. Com a saída do Jerry Sloan e agora do Deron Williams, o Jazz vai começar tudo de novo, um técnico novo, um elenco novo, novas estrelas, e dessa vez gastando bem menos em salários. O time vai ser ruim, ter escolhas altas no draft, montar um time com novos jogadores e novas estrelas, e tentar ser campeão antes que elas fiquem mais velhas, mais famosas e o time não queira mais pagar o salário delas. Mas a chance de recomeçar está ai, tem bons jogadores jovens, tem boas escolhas nos próximos drafts. Foi a decisão deles de sair do estado estacionário e caro onde o time se encontrava, dentro da proposta do próprio time de não gastar. Agora vamos esperar e ver como o time se sai nessa proposta de reconstrução.
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Como hoje é a trade deadline, nosso post sobre o Draft da NFL e sobre o All Star Game vai atrasar mais um pouco. Amanha a gente trás todas as trocas que aconteceram e nós não comentamos.
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