Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A festa dos Packers

E assim chegou ao fim a temporada 2010 da NFL

O Super Bowl sempre é um evento importante. Importantíssimo. É o maior evento esportivo nos EUA, e é também o que mais movimenta dinheiro. Ingressos caríssimos (Só o estacionamento do estádio custava de 500 a 900 patacas), comerciais a preço de ouro (A maior parte vale muito a pena conferir, por falar nisso) e transmissões milionárias pra todo mundo (Dos dez programas mais assistidos da história da TV americana, nove foram Super Bowls, e o desse ano está em primeiro. O outro foi o episódio final de M.A.S.H.), sem falar nos shows de artistas famosos, como Paul McCartney, Michael Jackson, The Who e Rolling Stones, entre tantos outros que passaram por lá nos últimos anos. E pra um evento desses, a gente sempre espera um grande jogo. E temos tido grandes jogos nos últimos anos: como esquecer os Giants derrubando os invictos Patriots em 2007? Ou a mágica de Kurt Warner e Larry Fitzgerald sendo superada pela de Ben Roethlisberger e Santonio Holmes um ano depois? Jogos lendários, históricos, e que terminaram como a gente gosta, com viradas no final da partida. O que nós vimos nesse Super Bowl XLV foi um grande jogo entre dois grandes times, mas que infelizmente corre o risco de ter decepcionado alguns justamente por causa do seu final anticlimático. O Packers tinha seis pontos de vantagem, o relógio marcava dois minutos e Big Ben tinha a bola. Era o palco perfeito pra termos uma virada histórica conduzida por um QB que já tem várias viradas históricas no currículo - inclusive uma sobre esses mesmos Packers em 2009 com um touchdown no último segundo - pra terminar a partida um ponto na frente, vencendo pela sétima vez o Super Bowl e coroando uma das melhores franquias da última década. Mas isso não aconteceu, e algumas pessoas ficaram decepcionadas. Uma virada seria mais emocionante, sim, seria, mas só porque ela não aconteceu não quer dizer que a gente deva descartar todo o resto.



O jogo começou difícil e, principalmente, nervoso. Os ataques se mostravam conservadores demais, os QBs passavam a bola com excesso de força ou altura, e vimos erros infantis de ambos os lados. Jordy Nelson dropou um passe lindo, apesar de um tanto forte, que teria sido um ganho de pelo menos 40 jardas, um erro comum pra um jogador jovem, apenas em seu terceiro ano na Liga, no jogo mais importante de sua vida. Esse nervosismo, no entanto, começou a passar, e o mesmo Jordy Nelson que dropou esse passe pegou outro passe de 29 jardas, absolutamente perfeito, pra entrar na end zone e terminar a sétima campanha do Packers nesses playoffs de mais de 80 jardas, um recorde da NFL. Estava aberto o placar e estava, mais uma vez, começando o jogo tático do Packers, aquele time que gosta de abrir uma vantagem rapidamente, contar com sua defesa pra recuperar a bola em boa posição de campo, anotar outro TD, abrir uma vantagem considerável e deixar o ataque adversário à mercê da sua defesa. Porque quando o Steelers recuperou a bola e o Big Ben lançou um passe longo, o DT reserva, Howard Green, acertou o braço do QB e fez a bola sair do seu curso, caindo nas mãos do Nick Collins, que não desperdiçou e levou a bola pra end zone. O Packers começou a impor seu jogo, e abriu 14 a 0 no placar.


O Steelers então começou a tentar impor o seu jogo, até como forma de escapar do jogo que o Packers queria. O time correu bastante com a bola, aproveitou a ótima fase do Rashard Mendenhall, e viveu dos passes curtos. O time, lentamente, foi subindo o campo em direção ao touchdown. Gastou mais de sete minutos na sua campanha e manteve o Aaron Rodgers sentado no banco. O problema foi que, ao final da campanha, Nick Collins fez um excelente tackle evitando a primeira descida, e ai o Steelers teve que se contentar com um field goal do Shaun Suisham. E eu sempre bato nessa tecla: Quando você tem uma defesa boa e enfrenta um ataque forte, controlar o relógio e manter o ataque adversário sentado no banco é uma boa estratégia, mas ela não funciona se a cada posse de bola você anota três pontos e o adversário sete. Por isso, perdendo de 14 a 0, não desesperar, jogar pelo chão e controlar o relógio, confiando na sua defesa, é uma boa idéia, mas pra isso você precisa anotar os sete pontos, e não três. Mas a defesa do Steelers apareceu, e deu um problema pro Packers: Donald Driver, o experiente WR do time, sofreu uma lesão e teve que sair de campo. Alem disso, deu uma nova chance pro Big Ben anotar um touchdown. Mas uma jogada sensacional do cornerback reserva Jarrett Bush resultou numa linda interceptação, e o Rodgers fez questão de levar essa dentro da end zone para mais um touchdown, dessa vez com Greg Jennings, em menos de dois minutos. Mas o Steelers sempre foi um time que respondeu bem à pressão, e Big Ben conduziu ótima campanha campo acima para o touchdown de Hines Ward no finalzinho do primeiro tempo, aproximando o placar. 21 a 10 no intervalo.
O Packers fez, no primeiro tempo, o que sabe fazer de melhor: Pontuou rapidamente, usou e abusou do braço do Rodgers, usou sua defesa pra forçar punts e principalmente turnovers, e transformou esses turnovers em pontos. Foram 14 pontos de turnovers pro Packers, que fizeram a diferença no primeiro tempo. O Steelers teve mais dificuldade por causa da fortíssima defesa do Packers. Apesar da linha ofensiva do Steelers ter segurado bem o pass rush, a cobertura foi muito boa na secundária e os passes longos não saíram. O Big Ben trabalhou menos do que contra o RAvens e o Jets os passes curtos e isso foi problemático, até porque a cobertura próxima da linha de scrimmage - em especial do Charles Woodson - foi sensacional. A defesa do Steelers é boa, mas teve um problema que não é de hoje. O Troy Polamalu está jogando desde o começo dos playoffs no sacrifício, a lesão ainda não deixa ele jogar 100%, e o Steelers sem o Polamalu é outra defesa. Ele foi bem, deu tackles próximo à linha de scrimmage, fez a cobertura e tudo mais, mas a presença dele em campo não foi a de sempre, que lhe rendeu o prêmio de Defensive Player of the Year. Mas o Packers também teve uma séria baixa: O melhor jogador da secundária, Charles Woodson, um monstro no primeiro tempo, quebrou a clavícula e teve que sair de campo no intervalo. E mesmo para os mais fanáticos pelos Packers, aquele jogo do Steelers contra o Ravens ainda tava fresco na cabeça.



E não é a toa, porque o Steelers voltou um time totalmente diferente pro segundo tempo. A defesa foi bem, e contou com outro drop, dessa vez do James Jones, em mais um passe perfeito do Rodgers que, se o WR segurasse, levaria mais umas 30 jardas. O ataque entrou em campo e, sem o Big Ben ter que lançar a bola uma vez sequer, colocou a bola dentro da end zone na marra com o Mendenhall. Foram 50 jardas corridas entre o Mendenhall, Big Ben e Isaac Redman nessa campanha. O Packers voltou pra campo e, com mais um drop do Jordy Nelson, devolveu a bola pra Pittsburgh. O Steelers recebeu a bola e continuou marchando campo acima rumo à end zone. O momento do jogo era do Steelers, que novamente começou a jogar com calma, controlar o relógio e manter a defesa do Packers confusa, explorando muito melhor os passes curtos no espaço que o Woodson fez a cobertura tão bem no primeiro tempo. No entanto, quando o Steelers já estava dentro da linha de 30 jardas do Packers, o momento do jogo mudou novamente, pra um estado neutro. Clay Matthews, discreto o jogo todo, passou como quis pela linha de scrimmage e correu atrás de Big Ben. Ben soltou um passe rápido, mas Matthews desviou e quase interceptou. A jogada terminou como um passe incompleto, mas deu novo ânimo ao time do Packers, que conseguiu mais duas jogadas importantíssimas: um tackle pra perda de 3 jardas e um sack, tirando o Steelers do alcance do Suisham, que tentou o FG mesmo assim e errou.

A partir dai, o jogo acalmou. Os ataques tentavam e não conseguiam converter, e as defesas apertavam o cerco. Foi ai que o que tinha tudo pra ser uma grande polêmica aconteceu. Numa terceira descida, Rodgers lançou a bola pro WR Brett Swain. Swain pegou a bola e virou para correr, quando foi atingido por dois tackles. A bola escapou de sua mão e caiu no chão, onde Jennings a recuperou. Os juízes deram passe incompleto, e o Packers desafiou. No replay, Swain claramente tem controle da bola e coloca seus dois pés no campo, antes de virar e sofrer o tackle. A bola sai do seu controle quando ele estava caindo, e fiquei indeciso quanto a dizer que a bola saiu ao seu controle antes ou depois do seu joelho tocar no chão. Para mim era passe completou ou fumble recuperado por Green Bay. Mas, mesmo depois de ver o replay, os juizes deram passe incompleto. Eu achei a chamada um absurdo, da pra ver claramente no vídeo que o jogador tem controle da bola quando é atingido, e foi um erro grotesco da arbitragem que poderia ter mudado o jogo. Pra piorar, o excelente punt do Packers foi anulado por falta, foi repetido, saiu muito ruim na segunda tentativa e ainda teve uma falta que colocou a bola ainda mais pra frente para o Steelers. O erro da arbitragem parecia que teria sérias conseqüências, quando Clay Matthews, sempre ele, apareceu muito bem pra fazer um tackle em Rashard Mendenhall e atingir, com o capacete, a bola, forçando um fumble que foi recuperado por Desmond Bishop. Pela terceira vez, o Packers aproveitou o turnover e anotou mais um touchdown com Jennings.

Mas, como de costume, era cedo demais pra descartar o Steelers. Big Ben jogou uma excelente campanha com passes curtos e médios, fugindo da pressão, ganhando tempo e explorando a área logo atrás da linha de scrimmage do Packers. Até que, quando a defesa se aproximou demais da linha de scrimmage, ele lançou a bomba de 25 jardas pro Mike Wallace fazer a recepção dentro da end zone. A tentativa de dois pontos foi um sucesso numa linda jogada de option com o Antwan Randle El e ai a diferença estava em apenas 28 a 25 com sete minutos e meio no relógio. Mas a bola era de Green Bay, e o que fez a diferença nesse momento foi a postura do Green Bay de ser dentro de quadra. Ao invés de gastar o relógio, o time fez o que sempre faz: jogou pra fazer o touchdown. O time não tentou correr e confiou no braço do Rodgers, que converteu dificílimas terceiras descidas sempre com passes longos, precisos e arriscados pra Jennings e Nelson, e chegou até a red zone do adversário, não só chegando em condições de marcar pontos como tirando tempo do relógio em conseqüência dessa campanha  longa, e não o contrário, tentar uma campanha longa tendo como conseqüência do controle do relógio. No entanto, a defesa do Steelers apareceu muito bem, as chamadas do técnico do Packers foram conservadoras, e o time não conseguiu o touchdown, e o Field Goal deixou a diferença em apenas seis pontos, uma posse de bola.


Era o cenário que todo mundo sonhava: Big Ben, o grande QB dos momentos decisivos, com dois minutos no relógio, no maior jogo da temporada, e seis pontos atrás, perfeito pra um final dramático por um ponto em caso de touchdown. Mas, infelizmente, veio o anticlímax, e a defesa do Packers foi mais forte que o ataque do Steelers, forçou o Big Ben a lançar a bola rapidamente pra evitar a pressão, cobriu muito bem os recebedores e conseguiu dar os tackles certos nas horas certas. Até que, com um passe incompleto numa 4th and 5, sacramentou o título de Green Bay.



Com 304 jardas, 3 TDs e um Rating de 111, o MVP do jogo foi, merecidamente, Aaron Rodgers, que na minha opinião também foi o MVP desses playoffs como um todo. Ele fez os passes certos nas horas certas, foi imparável quando precisou ser e contou com um excelente conjunto de apoio pra brilhar no maior estágio dos esportes americanos, o Super Bowl. No final das contas, entre dois times tão equilibrados e talentosos, ambos tentaram impor seu estilo de jogo e cada um conseguiu durante algum tempo, quando foi capaz de pontuar e trazer o jogo a seu favor. Quando o outro time começava a impor o seu estilo de jogo, a balança do jogo começava a mudar. Ambos os times tiveram suas lesões, Polamalu sem estar 100% faz uma falta tremenda, o Charles Woodson machucando abriu toda uma nova área do campo pro Steelers, e ambos tiveram que jogar por cima disso. Times que perderam peças importantes e que repuseram como deu, times com defesas fortes e grandes Quarterbacks. No final das contas, o que fez a grande diferença foi simplesmente o fato do Packers ter sido capaz de aproveitar os erros do Steelers. O Steelers, seja por mérito do oponente ou demérito próprio, cometeu três turnovers, e o Packers soube transformar isso em pontos, que no final fizeram toda a diferença da partida. Se ganhou o melhor, eu não sei dizer. Os dois times são excelentes, muito equilibrados e, embora eu apostasse no Packers, era um jogo sem um favorito claro. E, como geralmente acontece nesses casos, o jogo foi decidido nos detalhes.


O Packers foi um time que mereceu muito essa conquista, até por tudo que o time superou recentemente. Desde a derrota para o Giants na prorrogação em 2007, com Brett Favre, o time passou por um período turbulento. Favre quis voltar em 2008 para um contrato de um ano, mas esse também era o último ano do contrato do reserva Aaron Rodgers, e Rodgers disse que queria ser titular e que, se fosse pra ser reserva, não renovaria seu contrato. Assim, o GM do time não quis a volta de Favre, que já tinha provado que gasolina no tanque não era o que faltava, e apostou no garoto Rodgers. Favre não levou o Jets aos playoffs por lesão, e em 2009 transformou o Vikings num timaço, e o GM do Packers teve que escutar muitos gritos de 'burro' daqueles que o David Kahn escuta todo dia. Mas aos poucos Rodgers foi assumindo a liderança do time, foi evoluindo, ganhando confiança, e em 2009 levou os Packers àquele jogo histórico dos playoffs, onde foram eliminados pelo Cardinals, e agora com uma temporada regular muito boa e uma pós temporada sensacional, o Rodgers levou o Packers não só ao Super Bowl como ao seu título, superando muitas dificuldades e obstáculos, como os que eu citei aqui. A aposta que o Packers fez em 2008, e que no começo pareceu loucura, agora tá mostrando seus resultados, e não só deu ao time um título como tem condições de dar muito mais. O time é jovem, talentoso e o Rodgers ainda tem 26 anos apenas, tem muito o que jogar ainda. Alem disso, é assustador pensar que esse time do Packers ainda vai ser melhor ano que vem: Com as voltas de Jermichael Finley, Nick Barnett, Morgan Burnett e Ryan Grant, o time tem tudo pra ser ainda melhor no ano que vem e, como conta com um núcleo de estrelas jovens, como Matthews, Jennings, Nelson, Finley, Trammon Williams e claro, Aaron Rodgers, não vejo porque o Packers não possa não só voltar a ser campeão em breve, como também começar a sua dinastia nessa década. E, por fim, o Vince Lombardi Trophy volta para sua casa. Para Green Bay.

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