Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Dança dos Quarterbacks

Quarterback por profissão, maestro nas horas vagas


Devido a dois problemas (falta de tempo, e falta de um computador, que finalmente foi resolvida!), não deu pra esperar mais pra falar do período doido de Free Agency que tivemos recentemente. E embora algumas contratações mereçam algum destaque, de longe o que mais chamou a atenção foi a grande movimentação envolvendo Quarterbacks... Que, sabe, são os jogadores mais importantes de um time. Quem liderou a bagunça, é claro, foi o Peyton Manning decidindo por Denver, e dai pra frente foi um efeito dominó no mercado.


Num dos nossos últimos posts, comentamos sobre o adeus do Manning ao Colts e como ele e a escolha de Draft do Rams (2ª geral) estavam sendo os principais pontos de uma mudança de cenário na Liga. E de certa forma, o Manning na Free Agency dava uma opção a mais para os times que estavam atrás do QB Robert Griffin Jr através da escolha de Draft do Rams, o que tirava do time de Saint Louis um certo poder de barganha (Além do Free Agent Matt Flynn).  A questão era quem escolheria seu destino primeiro, Manning ou o Rams. E quem deu o primeiro passo desesperado foi o Redskins, trocando sua escolha de Draft desse ano (6th overall), as primeiras escolhas de 2013 e 2014 e mais uma escolha de segunda rodada pela escolha do Rams e ou Robert Griffin (que teve um Pro Day espetacular e mostrou que tem talento pra ser um monstro) ou então até mesmo Andrew Luck (Que teve um Pro Day pra colocar Griffin definitivamente na segunda escolha, sem discussão).

Pro Redskins, a questão era simples. Matt Flynn não queria ir pra lá, e Washington tinha sido descartada pelo Manning como um destino. O Redskins tinha duas opções: Ou fazer uma oferta Godfather pela escolha do Rams antes que os demais candidatos à escolha (Dolphins, Seahawks) fossem descartados pelo Manning e a disputa pela escolha ficasse mais acirrada e arriscada, ou se contentar com mais um ano de Rex Grossman. Decisão difícil (ta, nem tanto), mas o Redskins preferiu oferecer a casa pelo Griffin do que aguentar mais Sexy Rexy. De certa forma, a decisão faz sentido, o Griffin é muito atlético e tem um braço muito forte, é bem maduro e treina feito desgraçado (e tem péssimo gosto pra meias). Tipo de jogador que tem tudo pra dar certo, e talento ele tem de sobra. Ainda tem alguns vícios e falhas no seu jogo (Falta precisão em lançamentos curtos e médios, ainda tem alguns problemas lendo defesas e toma algumas decisões apressadas) mas são coisas que ele deve evoluir com o tempo. O Redskins preferiu pagar muito alto do que arriscar ficar sem, o Rams agradeceu, e agora temos um time a mais com um bom QB.

O problema do Redskins era que o resto do ataque era uma piada. A linha ofensiva era boa, mas não conseguia ficar saudável de jeito nenhum. O corpo de recebedores era de chorar e ninguém sabe o que esperar dos RBs porque o Mike Shanahan parece ter um prazer mórbido e destruir todo o valor dos seus corredores. Tocando quatro escolhas de Draft, você vai melhorar o seu QB - e bastante - mas tem um outro lado, que é perder a chance de conseguir bons jogadores para as áreas carentes da equipe. A defesa do time é muito boa (Ainda que tenha perdido um jogador muito importante no Laron Landry), mas poderia usar algumas peças a mais, e o ataque precisava urgente de jogadores. O que o Redskins fez então foi sair caçando Wide Receivers no mercado. Ao invés de ir em WRs nº1 provados como Reggie Wayne ou Vincent Jackson, o time pagou uma fortuna pro Pierre Garçon - um jogador mediano que teve seu valor absurdamente inflado pelo Manning e que tem um dos piores índices de recepções da Liga - ser um jogador que ele não é, e uma grana moderada pro Eddie Royal e pro Josh Morgan... Sabe, dois slot receivers com características parecidas. Ou seja, torraram o Salary Cap (Que já vai ser muito reduzido por causa de uma punição por parte da Liga por causa de gastos excessivos nas temporadas recentes) em recebedores jovens pra compensar o fato de que o time não vai ter boas escolhas de Draft nos próximos anos e mesmo assim dar alguns alvos pro seu Quarterback. O resultado é que pegaram bons role players, mas nenhum alvo realmente confiável, e pagaram muito mais do que deviam no Garçon. O Redskins fez o que tinha que fazer, trocou pelo jogador que a franquia precisava pra se reerguer (e manter seu técnico no cargo), só que o resto do ataque foi montado muito às pressas e sem o tipo de jogador que mais vai ajudar seu QB. Quem saiu perdendo, na verdade, foi o próprio Griffin.

Com Redskins então fora da briga pelos Free Agents Flynn e Manning, o camisa 18 continuou seu tour pela América limitando suas opções. Com o tempo, ele discretamente descartou Seattle e Miami, que foram atrás de alternativas - leia-se Flynn. A briga por Manning então ficou restrita a Denver, Tennessee e o time que entrou de última hora: 49ers

Entrar na briga pelo Manning pode ter sido a pior decisão de um time que tem feito tudo certo nos últimos dois anos por um simples motivo: Alex Smith, o QB do time em 2011 e um Free Agent que não se preocupou em procurar um time porque tinha certeza que reassinaria, se sentiu traído quando o time buscou outro jogador para seu lugar, e colocou em risco a chance do QB voltar para o time (Em defesa do 49ers, o Smith teve um contrato de três anos na sua frente e não assinou, queria um maior, e aí quando Manning virou Free Agent o Niners foi atrás dele. Defensável) graças também a um espetáculo lamentável de mídia: Smith foi pra Miami visitar sua irmã, e lá o Dolphins foi atrás dele para uma entrevista. Um jornalista de Seattle imediatamente soltou na imprensa que a viagem de Smith pra lá tinha sido pra realizar um treino com o Dolphins e que em seguida ele iria pra Seattle (o Seahawks foi rejeitado por ele muito antes disso), e de repente toda a mídia esportiva tinha certeza que ele estava saindo do Niners.

Mas pra infelicidade do Dolphins, Flynn assinou com Seattle e o time de Miami - que tinha trocado seu melhor jogador ofensivo, Brandon Marshall, pro Bears em troca de um Trakinas velho - ficou chupando o dedo mais uma vez. O time sonhou com Flynn, Griffin ou Manning e saiu sem nenhum deles. Entre as possibilidades restaram Alex Smith (um bom QB mas que dificilmente repetiria seu 2011 fora de San Francisco, e muito pouco pra ser o centro de uma reconstrução), David Garrard (Quebra um galho, mas dificilmente vai levar um time longe sozinho) ou arriscar o Ryan Tanerhill no Draft (mais disso no nosso Mock Draft). Como disse - cruelmente, mas com muita razão - o Ryan Clark, do Steelers, ninguém quer jogar em Miami. Só o Lebron, mas depois a gente fala disso.

Pro Seattle, isso faz todo o sentido. O Seahawks não é uma potência defensiva, mas tem uma unidade sólida com bons jogadores, e o ataque conta com um bom RB (Marshawn Lynch, que dificilmente vai manter a produtividade) e vários bons alvos (Sidney Rice, Zach Miller, Golden Tate, Mike Williams, Doug Baldwin) pra um QB... Só que seu QB se chamava Tarvaris Jackson e ele é muito ruim. O Flynn se destacou como reserva do Aaron Rodgers em Green Bay (Os últimos dois reservas do Packers a virarem titulares? Matt Hasselback e Rodgers) contra o Patriots em 2010 quando o Rodgers machucou e ano passado contra o Lions. Ele jogou muito bem nos dois jogos (480 jardas e 6 TDs contra o bom time do Lions lhe garantiram um gordo contrato e foram recordes da Franquia, num jogo que nao valia quase nada e ninguem quis defender) e muita gente já projeta como ele vai render de QB.

Essa situação lembra muito a do Kevin Kolb ano passado. Kolb teve alguns poucos e bons jogos como titular do Eagles antes de se machucar e do Michael Vick despontar. Acabou sendo considerado um futuro Franchise QB e o Cardinals abriu até demais o cofre por ele, sem considerar que ele só tinha jogado seis jogos como titular! Acabou que o Kolb ficou no banco do John Skelton ano passado, e agora ninguém mas leva ele a sério. Nas poucas chances que teve, Flynn jogou muitíssimo bem, melhor do que Kolb, mas ainda vale lembrar que são só dois jogos e com um ataque fantástico que nem o do Packers, é uma amostra muito pequena em apenas uma situação. Não tem como garantir que ele vá render num esquema ofensivo novo, sem o espetacular corpo de recebedores do Packers, e a amostra é muito pequena pra avaliar totalmente o quanto ele é bom pra render no outro esquema tático. Ele mostrou várias habilidades e algumas limitações - mais ou menos como Kolb - mas ninguém pode garantir quais dessas vão ser as determinantes daqui pra frente. A diferença é que ao contrário do Cardinals, o Seahawks não teve que trocar nada pelo seu QB (O Cardinals trocou um CB Pro-Bowler e uma escolha de segunda rodada) e deu um contrato de apenas 30 milhões, e não 60. Ou seja, o custo foi baixo e o risco não é muito grande, o Flynn já mostrou mais futebol do que o Kolb e por isso da pra entender que o Seahawks fez a coisa certa. O Flynn surpreendeu recusando o mercado maior, um pouco mais de dinheiro, a chance de voltar a trabalhar com o Joe Phibin e o bom clima de Miami, mas a decisão na verdade faz todo o sentido pra ele: O Seahawks é um time melhor que o Dolphins e que com um bom QB pode brigar pelos playoffs - vocês lembram do que eles fizeram com o Saints quando tinham o Matt Hasselback em 2009. Ninguém sabe se ele É um bom QB, mas o Seahawks fez sua aposta. Dificilmente vai ser pior que o Tarvaris Jackson, e o risco não foi dos mais altos.


E foi ai que finalmente Peyton Manning anunciou sua decisão, e eu até agora estou triste que ele não soltou um "I'm taking my talents to the Rocky Mountains" quando disse que iria para o Broncos. Sendo que a decisão estava entre Broncos, 49ers e Titans, o que me chocou foi que ele escolheu o PIOR time pra ir. Pra um QB de 36 anos saído de quatro cirurgias no pescoço, que claramente não tem mais muito tempo pela frente, era de se esperar que o foco do Manning fosse ganhar títulos imediatamente, e portanto que ele escolhesse o melhor time disponível. Mas o Broncos é um time com uma defesa mediana (não se enganem, eles tem bons jogadores, mas como uma unidade - e sem o Brian Dawkins - eles são bem medianos), um ataque com uma linha ofensiva muito fraca protegendo o QB e razoável correndo com a bola (O ataque do Broncos ano passado só funcionou com Tim Tebow, e quando foi a última vez que um time do Manning correu com a bola? 2004?), e sem bons alvos no ataque (o melhor WR do time, Demaryus Thomas, é atlético, bom em disputas pelo ar e fraco correndo rotas precisas, exatamente o tipo de WR que funciona melhor com Tebow que com Manning). Claramente o Manning não procurou o melhor time pra ir jogar. Nesse caso, o que fez ele escolher Denver??

O Denver até faz sentido por alguns fatores menores, que com certeza pesaram na decisão: É um time da AFC (Onde o Manning pode realizar o sonho de enfrentar o irmão num Super Bowl), não enfrenta o Colts duas vezes por ano como o Titans, joga na altitude (onde a bola viaja mais no ar, facilitando suas bolas longas) e o GM do time é o grande John Elway, um dos maiores QBs de todos os tempos e que ganhou Super Bowls com 37 e 38 anos, quase o que Manning quer fazer (Vale lembrar que o Broncos daquela época, ao contrário da atual, tinha um grande time. E mesmo assim tomou de 55-10 no Super Bowl do Niners de Joe Montana e Jerry Rice. Só pra lembrar).

Mas o Broncos também tem alguns fatores que eram desestimulantes (clima muito frio, costa Oeste, ele fez faculdade no Tennessee) e, mais uma vez, era o pior time dos três!! Porque voce iria pra uma Franquia que está no meio, se tanto, de uma fase de reconstrução?? Essa é a pergunta que todo mundo estava se perguntando. Jogar para o Elway faz sentido? Faz. Jogar num time da AFC (e fora da divisão do Colts) faz sentido? Faz. Mas o que o Broncos realmente tinha pra oferecer pro Manning que Titans e Niners não tinham  eram duas, e que com certeza foram os fatores determinantes da sua decisão: Dinheiro, e poder. O Broncos era de longe o time que mais estava abaixo do Salary Cap (mais de 40 milhões de patacas) e pode oferecer imediatamente ao QB o contrato que ele tinha com o Colts (5 anos, 98 milhões) e ainda manter algum espaço pra contratar "ajuda" (Jacob Tamme e Andre Caldwell, uma tremenda ajuda, mas ainda assim...). O Broncos era basicamente quem mais podia pagar e quem mais estava disposto a pagar. Com certeza o 49ers - apesar de ter o cap pra isso - não iria pagar esse salário todo com tantos jogadores chave na equipe com salários de calouros, e o Titans - embora disposto a oferecer um salário quase igual - iria limitar totalmente seu cap e seria incapaz de manter a equipe junta num futuro próximo, então teria que oferecer um contrato menor. Manning optou pelo dinheiro do Broncos.

O segundo motivo foi provavelmente ainda mais importante: Poder. No 49ers ou o no Titans, Manning ia ser um jogador dentro de um grupo, um jogador extremamente importante, mas ainda assim mais um no grupo, no mesmo patamar de todos os outros, sem tratamento preferencial. O Niners e o Titans tem vários líderes no elenco e na comissão técnica, e embora Manning provavelmente se tornasse um deles, ele não seria superior a qualquer um deles. Manning estaria lá pelo time, pra entrar na equipe, melhorá-la e pronto. Ele iria ter um papel no grupo. Mas o que o Broncos ofereceu pra ele foi diferente: O time estaria lá pra ele, um time pra levá-lo longe. Ele teria poder total dentro do grupo pra reconstruir o ataque como ele bem entendesse, a ponto de ser praticamente o coordenador ofensivo do técnico. Ele tem um controle maior sobre o time em Denver do que ele teria em San Fran ou no Tennessee, e era isso que ele queria. Ele não queria ser apenas mais um num time cheio de líderes, ele queria ser o que era no Colts, o soberano da equipe, em torno da qual tudo gravita. E só Denver estava disposto a oferecer isso. Ele optou pelo seu ego, sua vontade de ser o centro de uma equipe, sobre sua vontade de ser campeão num time forte. Ou então seu ego está dizendo que ele sozinho é suficiente pra transformar a equipe do Denver em mediana num supertime.

Será que isso é verdade? Será que só um QB Hall of Famer, top 10, pode sozinho levar um time mediano ao Super Bowl? A resposta é que sim. Se Peyton Manning estiver a 100%, ele é capaz de pegar uma defesa mediana e um ataque fraco e transformar esse time num candidato ao título. A defesa do Colts de 2009, por exemplo, era um pouco pior que a do Broncos  e o ataque era significantemente melhor - ou seja, em geral um time melhor, mas não era um time de elite tirando o QB, muito inferior a times como Patriots, Steelers, Jets ou Chargers nesse quesito. E mesmo assim ganhou 14 jogos seguidos, só não foi 16-0 porque não quis, e chegou ao Super Bowl. Então sim, Manning a 100% é capaz de pegar esse time e pelo menos torná-lo um sério candidato (Afinal, Manning teve times fantásticos entre 2002 e 2007 e só chegou a um SB, nada é garantido).

Mas aqui está o grande segredo da Free Agency da temporada 2012 da NFL: Manning não vai voltar pra NFL a 100%. Ele já tem 36 anos e acabou de vir de quatro cirurgias muito sérias no pescoço, e mesmo nos últimos anos (alguns anos mais jovem e antes da lesão), apesar do altíssimo nível, ele já vinha apresentando uma certa decadência natural no seu jogo. Dois anos mais velho e vindo de QUATRO CIRURGIAS NO PESCOÇO, a chance dele voltar a 100% do seu jogo em Denver é zero. E essa é a questão: Manning a 100% é capaz de transformar esse time mediano num candidato ao título, mas... Qual a chance dele conseguir isso jogando a 60, 70%? Muito menor, certo? Ele é plenamente capaz de ser campeão a 70% no Titans ou a 50% em San Francisco. Mas no Denver, um time que vai depender totalmente do seu QB e que vai montar todo o time em torno dele? Eles esperam que ele jogue como jogava anos atrás, o que é impossível. Eu não sei se já falei isso, mas ele é um QB de 36 anos vindo de QUATRO CIRURGIAS NO PESCOÇO (e tratamentos por célula tronco). Mesmo que aconteça a remota possibilidade dele aguentar uma temporada inteira saudável jogando atrás de uma linha ofensiva esburacada, ele dificilmente vai jogar como jogava quando era MVP todo ano. O Broncos esperava ele a 100% quando o contratou, ele deve esperar que vá jogar 100% pra aceitar... Mas não vai acontecer.

O Denver de 2011 é um time muito mais complexo do que isso. A lógica de "Wow, chegamos às semifinais de conferência com Tim Tebow, se conseguirmos um QB melhores seremos campeões!" não faz sentido em nenhum esporte, especialmente no Broncos. O time de 2011 chegou onde chegou por uma combinação de três fatores: Sorte (tabela fraca, sorte em alguns jogos específicos, divisão com problemas demais em 2011), imprevisibilidade (um time que ganhou jogos valiosos quando mudou radicalmente seu estilo de jogo, pegando muitos times desprevinidos sem saber como enfrentá-lo), e porque o Tim Tebow levou todo mundo a um nível acima. O primeiro ponto ninguém garante, o segundo não vai voltar, e o terceiro - e mais importante - também não. Tebow não levou o time a um novo nível pelo seu talento dentro de campo, e sim pela sua liderança fora de campo. O time compreendeu que não tinha um QB que iria ganhar os jogos sozinhos, mas que faria o que fosse necessário pra que isso acontecesse... E abraçou essa mentalidade. A equipe jogou seus jogos com uma raça e confiança que dizia "Vamos fazer o impossível pra deixar esse jogo apertado, porque se isso acontecer o Tebow vai ganhar o jogo". Os jogadores se desdobraram, jogadores medianos começaram a jogar como se sua vida dependesse disso, o time jogou em equipe, todo mundo jogava pelo coletivo e nao pelo individual, e conseguiu bater os adversários que pareciam desnorteados com tanta intensidade. O sucesso do Denver não aconteceu porque Tebow era um QB dominante dentro de campo, aconteceu porque ele passou sua mentalidade ultra-competitiva pros seus companheiros, fez eles se importarem tanto quanto ele com a vitória, jogarem em equipe, não ligarem pros seus próprios números e feitos e jogassem em equipe. No fundo, esse é o verdadeiro segredo sobre esportes coletivos, não o que voce faz individualmente mas como você afeta os seus companheiros, como voce faz eles chegarem num nível maior ao seu redor. Tebow fez isso melhor do que ninguém na NFL em muitos anos, e por isso que o Broncos foi tão competitivo ano passado mesmo com tantas limitações.

Manning? Ele é muito melhor que Tebow como QB, com certeza vai tornar o jogo aéreo do Denver melhor. Isso nunca esteve em questão - supondo que fique saudável. Mas eu duvido muito que ele consiga afetar os companheiros da mesma forma que Tebow. Ele é um líder, mas um líder com uma certa superioridade, aquele cara bom pra cacete em quem você confia que vai ganhar o jogo pra você. É um tipo diferente de liderança, mas que dificilmente vai ter o mesmo efeito. Quem leu as declarações do jogadores do Denver desde a contratação viu claramente a mensagem implícita: "Conseguimos alguém que vai ganhar os jogos pra gente!". Exatamente o oposto da mentalidade "Nenhum de nós vai conseguir ganhar o jogo, então vamos ganhar juntos, um cobrindo o outro!" que fez o time ser bom ano passado. Pro Denver, era muito mais importante aquela mentalidade competitiva do que a relaxada que parece ter tomado conta do time, como quem espera que o Manning sempre vá resolver desde que eles façam sua parte. Eles tem que fazer MAIS do que sua parte pro time vencer. Se o Broncos não perceber isso e continuar achando que só porque o QB melhorou eles vão conseguir ganhar jogos mais facilmente, então eles vão fracassar grosseiramente. Quer saber porque o Tebow foi trocado, quando deixar ele no banco do Manning, treinando e desenvolvendo seus passes com um dos melhores (E provavelmente o mais técnico) QBs da história até pra ter um substituto pro caso do Manning se lesionar novamente ou precisar de uma folga (muito provável) faz todo o sentido do mundo? Porque eles não querem um segundo líder no elenco, um jogador que era o oposto do Manning, não um líder por talento mas um líder por exemplo. A franquia tinha que ser toda do Manning, e a sombra do Tebow no vestiário e em campo estaria lá o tempo todo. Não em surpreenderia nem um pouco que a troca do Tebow fosse uma condição do Manning pra assinar com Denver (Assim como Kobe renovou com o Lakers em 2004 sob a condição que o Shaq seria trocado), porque ele não queria o garoto por lá. E nem Elway. E por isso que um time que estava em uma reconstrução bem encaminhada está de repente com um QB veterano e quebrado em busca de um sonho de um título que é muito improvável com o time atual. DAqui a três anos no máximo, Manning vai aposentar, e o Denver vai ter perdido a chance de continuar sua reconstrução em busca de um sonho improvável. E vai ter que recomeçar, tudo de novo. E só por curiosidade, alguém sabe quem é o reserva do Manning? Caleb Hanie. Aquele que afundou um time do Bears muito bom (e bem melhor que o Broncos) ano passado quando Jay Cutler machucou.

Um último comentário sobre a escolha do Manning: Ele declarou depois que nao escolheu o 49ers porque "Nao queria ter a pressão de ganhar um Super Bowl". Sério?? Você é um dos dois melhores QBs da década na NFL, um dos maiores de todos os tempos... E voce ta com medo da pressaão de ganhar um titulo no melhor time da Liga? Sério? Que confiança incrível ele deve ter passado com essa frase.

Enquanto isso, Tebow foi pra New York numa troca por algumas migalhas que gritava "Queremos trocar o cara e aceitamos qualquer birosca em troca!" pelos motivos que já discutimos antes. Pro Jets, tudo que você precisa saber é que isso acontece semanas depois do Jets ter dado ao fraquíssimo Mark Sanchez uma extensão de contrato de 3 anos com 20 milhões garantidos... Sabe, tanto quanto Matt Flynn e Alex Smith juntos. E ai eles trocam por um cara que é melhor que o Sanchez e que é um líder muito mais expressivo. Claro.

A questão que fica é se o Tebow chega pra ser titular. Por mais que ele tenha feito com um elenco limitado em Denver ano passado, ele ainda é um QB mediano, que tem dificuldade passando a bola e que vai se adaptar a um novo playbook (O terceiro em tres anos). Eu disse que Denver é um encaixe ruim para o Peyton Manning, mas por outro lado era o encaixe perfeito para Tebow: Jogadores que aceitaram a mentalidade que ele estava passando, um time que sabia suas limitaçōes e que tinha sempre um jogador cobrindo o outro, e principalmente um time onde todos estavam dispostos a sacrificar brilho individual pelo coletivo. O Jets, por outro lado, eé um pessimo encaixe: Muitos jogadores fominhas que só querem saber de si mesmos, clima pesado no vestiário, jogadores que não confiam uns nos outros... Enfim, o oposto do Denver, e o oposto do Tebow. Somando tudo isso ao fato de que o Sanchez acabou de receber uma extensão ridicula do Jets, e provavelmente teremos o Sanchez de titular e o Tebow vindo do banco.

Mesmo assim, será que o Jets é um time melhor com Sanchez do que com Tebow? O Jets chegou na final de conferência duas vezes com o mesmo remédio: Defesa forte e agressiva, um bom jogo terrestre e um QB que evitava erros e fazia as jogadas pontuais nos quartos periodos. Mas espera... Nao foi exatamente assim que o Broncos superou todas as expectativas ano passado? O Jets dos ultimos dois anos teve problemas no ataque porque o jogo terrestre (força que movia o time ofensivamente) nao conseguiu ser dominante e isso exigiu que o Sanchez tivesse mais responsabilidades no ataque. E aqui estaá o segredinho da temporada 2011 do Denver Broncos: O Willis McGahee, que recebeu boa parte do crédito pelo sucesso da equipe, estava tendo media de 3.2 jardas por carregada antes do TEbow assumir como titular, e teve média de 5,3 depois. A presença de um scrambler como Tebow faz toda a diferença, e esse pode ser o ingrediente que faltava pro jogo terrestre do Jets voltar a ser forte o suficiente pra deixar o QB do time com um papel de minimizar os erros. E Tebow eé o QB que tem as caracteristicas pra fazer isso dar certo. Ele também tem um elenco muito melhor à disposição do que em Denver (A linha ofensiva eé muito melhor, e Santonio Holmes-Dustin Keller dao uma surra em todo o corpo de recebedores do Denver - e sim, o Shonne Greene é melhor que o McGahee). Se o Jets eé um encaixe ruim para o Tebow por causa do excesso de jogadores individualistas e de uma mentalidade coletiva - e tambem um certo numero de caras problematicos - o Tebow é um bom encaixe para o Jets, porque ele é capaz de fazer um papel que ele sabe muito bem e o Sanchez nao. Dificilmente ele vai influenciar o vestiaário e os companheiros como fez em Denver, mas mesmo assim ele eé um lider infinitamente melhor que Sanchez e que lidera entrando em campo e dando tudo de si pelo time, e o Jets desesperadamente precisa de um jogador assim. Entao sim, faz muito mais sentido pro Jets ter o Tebow de titular (ou faria antes de dar 20 milhoes pro Sanchez). Pra mim, o Jets eé um time mais perigoso com Tebow em campo.

Por fim, pra coroar o fracasso de contrataçōes que tem sido o Dolphins, o Alex Smith nem quis saber do time da Flórida e voltou pra San Francisco, onde ele saiu de "Bust histórico" pra "300 jardas, 4 TDs e a vitória nos playoffs contra o melhor time da NFL". Eu confesso que preferia Smith ao Manning por dois motivos: Primeiro, saude, eu nao confio na saude do Manning. Segundo porque, diabos, o Alex Smith pode ser mediano, mas ele sempre foi leal ao time e à franquia. Ele foi o líder desse time mesmo quando era uma piada, nunca reclamou, sempre fez o possível pra ajudar a equipe, nao liga pros seus numeros e so se importa em fazer o time melhor. Eu disse isso no twitter e repito: Eu prefiro ganhar um titulo com Alex Smith do que dois com Peyton Manning. Quando ele engoliu o Saints com farinha nos playoffs, a alegria nao foi só porque tinhamos vencido um jogo historico de playoffs, mas tambem porque foi sensacional ver o Smith ganhando do Drew Brees! O problema aqui é que nao da pra saber o que esperar do Smith: Foram 6 anos fracos, e um ano bom (seguido de playoffs excelentes - ele superou Brees e jogou de igual pra igual com Eli Manning). Embora ele claramente tenha mostrado uma evolução em fundamentos sob a tutela do Jim Harbaugh, é dificil dizer com certeza que 2011 será o parâmetro daqui pra frente. Eu pessoalmente acho que a evolução que ele mostrou foi real e que ele tem tudo pra continuar melhorando e se tornar um QB top 10 da Liga (Ele jogou como um top5 nos playoffs com metade do ataque - que ja era mediano - machucado), mas é dificil afirmar isso porque a amostra de anos ruins é bem maior. Mas vou guardar esse assunto pra outro dia, especialmente com o Draft chegando ai. Por enquanto, vale destacar que o 49ers trouxe de volta toda sua defesa, e reforçou consideravelmente seu ataque. Pra mim, é o melhor time da Liga - se o Alex Smith conseguir manter o nivel dos playoffs.

Aproveitem a volta do TM Warning, e peço desculpas pela ausencia forçada!


4 comentários:

  1. Bom post de retorno! Tava sentindo falta das análises mais profundas aqui do TMW!
    Tb ficou claro pra mim que Peyton deu preferência ao poder de praticamente coordenar o ataque do Broncos (como fazia no Cols) e ao contrato longo...
    Quanto à Tebow, Elway sempre deixou claro que não gostava do estilo dele, ele pode dar ao Jets o que o time mais precisa: um líder fora de campo, que possa unir os jogadores... (além de colocar Sanchez no banco, claro...)

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  2. VAleu! Problemas demais com computador, espero que agora melhore. Olhe, dois posts em tres dias, estamos recuperando!

    Pra mim o Elway queria mesmo era se livrar do Tebow. Se ele quisesse manter o Tebow seria facil... A nao ser que o Manning tenha objetado (provavel). Acho que se o Ryan quiser se comprometer com o Tebow, ele consegue fazer os jogadores respeitarem um pocuo o Tebow, e a vontade dele faz o resto. Adoraria ver o Jets ganhando do Broncos nos playoffs hehe

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  3. O Jets ganhando em Denver seria espetacular mesmo... Mas Manning (e Manning mesmo! Lendo defesas, mudando o ataque no último segundo... Como nos velhos tempos - ainda que só por um jogo) ganhando do Colts pra mim seria ainda melhor! hehe

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  4. Mas esse ai é ainda mais improvavel de chegar nos playoffs hehehe

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