Ware e Spencer correm para abraçar seu amigo
Para saber do que estamos falando aqui e dessas estatísticas, recomendo a leitura desse post antes
Se quiser opinioes e analises sobre o Draft, voces podem ler o Running Diary da primeira rodada ou o manual de como avaliar um Draft na NFL
Depois de terminar a série de previews da AFC East para a temporada 2013 da NFL, começamos ontem a falar da NFC East, começando pelo atual campeão dela, Washington Redskins. Hoje, vamos continuar falando da divisão com um dos times mais populares no Brasil, o Dallas Cowboys. Se você não tem ideia do que estou falando, recomendo que leia esse post introdutório. Btw, a falta de crases nesse texto é porque esse teclado não tem crase, então não reparem, ok?
Dallas Cowboys
2012 Record: 8-8
Ataque ajustado: 11th
Defesa ajustada: 23rd
Desde 2008, quando eu apostei no Dallas para ser campeão do Super Bowl antes da temporada e me lasquei faltando uns quatro jogos ainda para terminar a temporada regular, o Cowboys parece ser um time que sempre chega na temporada com bom potencial e boas expectativas, e dai falha em alcançá-las. E mesmo assim, isso pode ser traçado desde 2006, quando o time perdeu nos playoffs porque Tony Romo não dominou o snap para um game-winning field goal nos segundos finais da partida contra o Seahawks, uma das jogadas mais bizarras da sua carreira. Em 2007, a equipe terminou a temporada como a melhor da NFC mas foi derrotada em casa pelo Giants na semifinal de conferência. E desde então, apesar de um bom time, um grande estádio, uma torcida fanática e as melhores cheerleaders da NFL, o time viveu com apenas uma aparição nos playoffs (2009, perdendo para um superior time do Vikings por 34 a 3) e diversas temporadas decepcionantes.
Nessas temporadas decepcionantes, aliás, o padrão parece ser sempre o mesmo: um bom começo, chegando na reta final da temporada em boa posição de ir para a pós-temporada, e algumas derrotas decisivas nas partidas finais terminaram por tirar o Dallas dos playoffs. Em 2008, a equipe começou 8-4 antes de perder três das quatro partidas decisivas. Em 2011, o Dallas estava 7-4 e perdeu quatro dos último cinco jogos. Em 2012, estavam 8-6, perderam em casa para o Saints, depois perderam o jogo final decisivo para o Redskins quando uma vitória os colocaria nos playoffs. Tudo isso, aliado a falta de sucesso na pós-temporada (apenas uma vitória desde 2006), serviu para criar a ideia hoje muito conhecida e difundida de que o Cowboys é um time amarelão e que não ganha os jogos importantes.
Acho que eu não preciso dizer para vocês que isso é um mito. Por algum motivo, temos uma vontade irresistível de dar rótulos para tudo e para todos no esporte, especialmente se isso for depreciativo para alguém, e isso acontece com o Dallas, onde toda essa falta de sucesso acabou encontrando a explicação mais fácil e superficial possível. Mas depois de seis posts explicando longa e demoradamente como amostras de poucos jogos estão sujeitas a enormes flutuações e acasos, como elas tem pouco valor estatístico e como tem dezenas de fatores que influenciam o record dos times nesses casos, eu espero que tenhamos mostrado o suficiente que não existe nenhum tipo de fator mostrando que o Cowboys seja de fato amarelão ou incompetente. E dai que na reta final de 2008 (aqueles quatro jogos) o Dallas enfrentou dois melhores times da NFL (Steelers e Ravens), mais um superior time do Eagles, recuperando apenas 30% dos fumbles totais desses jogos (foram três dos quatro finalistas de conferência, btw)? E quem vai reparar que em 2011 eles perderam dois jogos por uma posse de bola nos cinco finais, e terminaram perdendo fora de casa para os eventuais campeões? E em 2012, onde a temporada foi decidida num jogo fora de casa, contra um time superior do Redskins? O que importa que nessas três sequências decisivas o Dallas perdeu todos os quatro jogos que teve decididos por uma posse de bola? As pessoas só se preocupam com os resultados, e não com os processos que levam a eles, e por isso que o rótulo de "time amarelão" pegou.
Dito isso, e apesar do fato de que não existe qualquer estatística que comprove que o Dallas não consiga produzir normalmente em jogos decisivos, é fato também que a franquia recentemente tem falhado ao cumprir as expectativas colocadas na equipe antes das temporadas. E embora, é claro, isso possa ser sempre um problema com as expectativas sendo irrealistas, também é possível identificar alguns fatores que tem atrapalhado uma equipe cheia de talento a produzir no nível que podem.
O primeiro problema, e talvez o maior de todos, seja o que eu chamo de "Síndrome de New York". Quem acompanha o NY Knicks e até mesmo o NY Jets (Giants ta salvo por enquanto porque ganhou dois Super Bowls) sabe que jogar em um mercado grande e rico para uma torcida fanática tem seus problemas: a torcida e a diretoria sempre espera mais produção, a mídia cai matando todo fracasso possível, as expectativas estão sempre lá em cima, e isso tudo forma uma pressão muito grande em cima dos atlétas. Dallas não é um mercado tão grande, mas tem um dono bilionário, enorme torcida e muita atenção da mídia. E isso é piorado pelo dono da equipe, Jerry Jones. Jones é um bilionário apaixonado por NFL que comprou um time para vê-lo vencer, e portanto está sempre injetando seu dinheiro no que puder, contratações, estádio novo, etc. Não a toa eu o chamo de "Mark Cuban da NFL", mas Jones tem um problema: ele não só quer vencer como quer construir ele o time, quer mandar e desmandar no time, e sempre que alguma coisa da errada ele corre para achar um bode espiatório e mudar alguma coisa. Jones sempre acha que ele faria tudo melhor do que todo mundo, criticando abertamente as decisões de seus técnicos e simplesmente criando um clima ruim na equipe e muita confusão.
Um bom exemplo de como Jones afeta diretamente a situação da comissão técnica da equipe é a história do atual técnico do time, Jason Garrett. Garrett era coordenador ofensivo da equipe em 2010, e quando Wade Phillips foi demitido, Garrett assumiu as funções de técnico e coordenador ofensivo para 2011. Depois de uma campanha de 8-8 e perder os playoffs (já comentamos dela acima), Jones se declarou insatisfeito com o trabalho de Garrett e contratou um novo coordenador ofensivo para a equipe, com Garrett mantendo as funções de técnico. Durante a temporada 2012, Jones criticou a chamada de jogadas de seu técnico, e ao final da temporada, anunciou que para 2013 ele não chamaria mais as jogadas, quem o faria seria o coordenador ofensivo Bill Callahan. Juntando esse circo a constante interferência de Jones nas decisões técnicas da equipe e a falta de estabilidade e sequência que esses técnicos tem que aguentar, e não me surpreende que os head coaches de Dallas tenham tido problemas nos empregos. Eu achava Phillips um HC muito ruim, e não acho Garrett bom, mas me pergunto se é possível ter sucesso no emprego com Jones reclamando, interferindo e mudando tudo que você faz. E na NFL, falta de consistência na comissão técnica é uma coisa que atrapalha demais a equipe a desenvolver.
Então isso é um problema. O outro é que nossos indicadores não apontam uma grande melhora esperada para 2012: o Pythagorean Expectation do time foi bem próximo de seu record (7.5 vitórias) e eles foram acima do esperado com um 7-5 (!!) em jogos decididos por uma posse de bola. A taxa de recuperação de fumble da equipe foi próxima da média (48,5%), também. Então juntando um time mediano em 2012, sem grandes indicadores de mudança, com um dono que não para de interferir no trabalho da comissão técnica e com nenhuma contratação de impacto junto de um Draft bem fraquinho (pegaram um C que devia cair para terceira rodada do Draft ao invés de ir atrás da grande necessidade do time e pegar um safety como Matt Elam), e é difícil se sentir tão otimista assim com o Cowboys.
A parte otimista fica por conta de dois fatores. O primeiro é o calendário. Depois de ter o sétimo calendário mais difícil de 2012, o Cowboys projeta para ter o sétimo mais fácil de 2013, então é um ponto positivo. O segundo fica por conta das lesões: Dallas tem um elenco cheio de grandes jogadores, mas com alguma falta de profundidade, e essa dependência dos seus melhores jogadores torna a equipe muito vulnerável a lesões a esses jogadores. Foi o que aconteceu em 2012: Bruce Carter perdeu os últimos seis jogos, Sean Lee perdeu os últimos 10, Jay Ratliff perdeu os últimos três e jogou a segunda metade da temporada baleado, DeMarco Murray perdeu seis jogos e jogou o resto machucado. Foi um festival de lesões nos jogadores chaves da equipe, especialmente mais para o final da temporada, onde as estatísticas da equipe pioraram. Mesmo que alguns desses jogadores (em especial Murray) já tenham se mostrado propensos a lesões, perder todos eles por tanto tempo e de uma vez só foi realmente um golpe duro que atrapalhou a temporada da equipe.
E tem o seguinte: o Dallas tem muito talento no seu time. Tem um dos melhores NTs da Liga (Ratliff), dois fantásticos LBs (Carter e Lee), dois excelentes DE/OLBs (Demarcus Ware e Spencer), e mesmo a secundária da equipe está bem mais forte com Brandon Carr e Morris Clayborne (embora precise de safeties... Elam cadê?). A defesa foi o grande problema da equipe em 2012, a décima pior da NFL, mas esse grupo tem talento demais para ser tão ruim assim. As lesões atrapalharam em parte, a indefinição tática atrapalhou bastante, mas não é absurdo esperar que com um pouco de saúde esse grupo possa voltar a ser uma boa unidade. Talvez não elite, mas pelo menos melhor do que o fiasco do ano passado. E mesmo que eu não ache Rob Ryan um péssimo coordenador defensivo, eu acho que as constantes mudanças de esquema, as reclamações na mídia e a personalidade forte dele (associada a todos os problemas já citados) contribuiram bastante para agravar o problema, e acho que é um grupo que se beneficiaria de uma mudança de ares.
Ofensivamente, ironicamente, as pessoas adoram atribuir os problemas do Cowboys ao Tony Romo e ao ataque aéreo da equipe. Até entendo que Romo não seja um QB de elite, e que isso frustre alguns torcedores, mas por algum motivo os torcedores adoram atribuir a ele a culpa de todos os problemas do time e todos os "quase" da equipe a ele. Talvez por ter começado sua carreira com aquele fumble bizarro no FG em 2006, talvez por ter ido passar um final de semana com a Jessica Simpson antes dos playoffs de 2007 (o que pegou mal), talvez porque ele tem alguns casos de errar em momentos cruciais das partidas (embora seus números gerais em situações apertadas de fim de jogo sejam bem próximos dos seus normais), ou talvez simplesmente porque é muito fácil culpar o QB quando as coisas dão errado na NFL. Mas o fato é que Romo é um Quarterback muito bom: ele foi o sexto melhor QB da NFL em 2012 em produção total, nono em produção por jogo, e 13th em QBR. Um pouco mais de maturidade e evolução por parte do talentosíssimo Dez Bryant e mais saúde do Miles Austin realmente ajudam ou ajudariam, mas Romo fez um trabalho muito bom em 2012. Embora o ataque da equipe tenha ficado em 11th na NFL, o ataque aéreo da equipe foi o sétimo melhor da Liga (atrás das potências Patriots, Broncos, 49ers, Packers, Seattle e mais o Redskins) inteira. Então mesmo que Romo não seja Aaron Rodgers, como a torcida adoraria que fosse, colocar a culpa dos problemas do time nele é um absurdo: Romo é um QB muito bom que tem produzido bem acima da média da NFL, e com boa eficiência mesmo com pouca ajuda do jogo terrestre (já chegaremos lá), e ele mereceu a extensão que recebeu quando lembramos que QBs menos provados já ganharam mais (embora a duração me incomode). E se você acha que o time perde porque ele não produz nos momentos chaves, lembre de Peyton Manning nos playoffs. Sim, ele perdeu o jogo porque lançou uma interceptação, mas só chegou a aquele ponto por causa da defesa que foi repetidamente queimada e do seu safety que cometeu um erro crucial nos segundos finais (e do seu técnico bundão que quis ajoelhar com 40 segundos, 3 tempos para pedir e Peyton Freaking Manning de QB). Culpar o QB sozinho pelas derrotas em jogos apertados é ridículo.
O problema do ataque, então, é o jogo terrestre. Foi a nona pior unidade de 2012 e isso se deveu a um conjunto de fatores: Murray perdeu algum tempo machucado (e quando jogou, esteve limitado), o time não teve profundidade em substituí-lo, e a linha ofensiva foi uma das piores da NFL em jogadas de corrida. Murray aqui, em particular, é o que mais preocupa, porque ele já perdeu 10 jogos por lesão em sua curta carreira, e talvez mais importante, a idéia de que ele é um grande RB se deveu apenas a uma temporada em 2011 e mais nada. Como podemos saber se o Murray de 2011 não foi uma aberração e na verdade o nível de 2012 é mais próximo do seu verdadeiro potencial? E se não for o caso, podemos esperar que ele se livre das lesões e jogue uma temporada inteira em alto nível pela primeira vez?
O problema da linha ofensiva talvez seja ainda pior para o ataque. Ainda que fosse uma unidade muito sólida protegendo o QB, ela mostrou muita dificuldade para bloquear em sincronia, especialmente passando da linha de scrimmage e chegando nos LBs. Talvez a mudança de quem está chamando jogadas ajude um pouco, mas o problema aqui é a situação salarial da equipe. Poucos times estavam tão estourados no teto salarial como o Cowboys, que precisou fazer algumas mudanças nesse sentido só para conseguir acomodar os novatos e ficar abaixo do novo teto. Nesse contexto o time não pode fazer nenhum movimento atrás de um bom OL, o que provavelmente explica porque o time foi com tanta pressa pegar o center Travis Frederick bem antes do que ele era esperado para sair, era a unica chance do time de mehorar esse problema. Mesmo que Frederick entre bem nessa posição (reconhecidamente carente) da equipe, difícil que seja o suficiente para voltar a dar vida a esse jogo terrestre se Murray não estiver no mesmo nível de 2011. O que PODE significar uma melhora é o fato de que a linha do Dallas foi na verdade muito boa forçando passagem pelas linhas adversárias, tendo mais problemas com a segunda linha de defesa dos adversários. Ainda que isso seja, claro, um problema, é um problema que pode ser contornado um pouco se Murray retomar sua explosão anterior, visto que o tempo de exposição aos LBs adversários se torna menor. Mas ainda vai existir muita desconfiança em relação a esse jogo terrestre, e isso só dificulta as coisas para o ataque aéreo e para Tony Romo. Então esse provavelmente é o calcanhar de Aquiles do time, por ora.
Eu adoraria poder dizer aqui que o Dallas vai terminar 10-6 e ir aos playoffs (ou pelo menos Wild Card), que eu acho mais de acordo com o nível de talento que essa equipe tem, mas a desconfiança é grande demais. Foram muitos anos apostando em boas campanhas do Dallas e quebrando a cara, e toda a incerteza e as mudanças na comissão técnica vão cobrar um preço da equipe (que precisa, mais que uma linha ofensiva, que o Jerry Jones pare de se meter tanto nas decisões da equipe dentro de campo). Mas a equipe tem muito talento dos dois lados da bola e um pouco de saúde deve fazer maravilhas por essa defesa, assim como um ano a mais de entrosamento para algumas peças. A chegada de um novo coordenador defensivo pode fazer a defesa demorar para engrenar, mas se o trabalho for bem feito, essa unidade tem tudo para ser um bom grupo a médio prazo. Então apesar de todo o talento e toda a incerteza, eu acredito em uma boa campanha do Dallas acima de 8-8, 9-7 sendo o mais provável mas com potencial para cair ou subir dependendo de diversos fatores. Mas eu ainda não estou pronto para colocar o time nos playoffs, não por causa de Romo, mas por causa do circo que esse time virou nos últimos anos. Pena, porque o talento está ai, e se as peças encaixarem, esse time tem condições de terminar 11-5 e assustar. Mas não aposto nisso. Não ainda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário