Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Slam Dunk e minha homenagem a temporada 2015 da NBA



Agora que a temporada 2014 da NBA é história, que o Draft já passou e os calouros já jogaram as Summer Leagues por seus novos times, e que o novo CBA - que favorece contratos mais curtos, mais mudanças e maiores espaços salariais - deixou a parte mais maluca do calendário da NBA (a free agency) 467% mais divertida (números aproximados), me parece uma boa hora para olhar para trás e colocar tudo isso em perspectiva. Olhar para alguns pontos interessantes que foram pouco explorados, e dar opiniões em outros mais comuns. Em suma, encerrar essa temporada 2014 e preparar para a próxima.

Mas como eu gosto de fazer colunas que fogem ao lugar-comum, vou aproveitar e copiar uma das minhas colunas favoritas do meu autor favorito (Bill Simmons). As vezes, ao final da temporada, ele iria pegar uma obra que ele gosta (as duas últimas que eu lembro de ter lido: The Wire e Game of Thrones), pegar algumas frases legais, e atribuí-las a jogadores ou eventos da última temporada. Era uma forma criativa de juntar duas coisas que ele gostava, e uma boa desculpa para falar de certos tópicos da temporada que se relacionavam com frases divertidas.

Então eu decidi tentar fazer a mesma coisa, uma coluna que eu queria fazer já ha algum tempo mas nunca tinha sentado para fazer. E já que é minha primeira tentativa de fazer esse tipo de brincadeira, e como o assunto é basquete, a obra escolhida para as frases não poderia ser outra senão minha obra de ficção favorita de esportes, Slam Dunk. 

Para quem não conhece (e se conhece, pode pular esse parágrafo), Slam Dunk é um mangá de basquete criado por Takehiko Inoue nos anos 90. Um dos mangás mais vendidos e idolatrados de todos os tempos, Slam Dunk conta a história de Hanamichi Sakuragi, um delinqüente juvenil que começa a jogar basquete no colegial para impressionar uma garota... só que ele não sabe jogar basquete. E o resto da história se desenrola a partir dai: sua evolução como jogador, sua relação com a garota que gosta, sua convivência com os outros jogadores da equipe (especialmente no começo), e o desenvolvimento da equipe e sua busca pelo título nacional. Se você gosta de basquete, eu fortemente recomendo que você leia em algum momento essa obra. A qualidade é sensacional, e é uma das melhores coisas que você vai ler na sua vida.

Bom, sem mais demoras, vamos ver o que Slam Dunk tem a nos oferecer, e como isso se relaciona com a temporada 2014 da NBA.


"Você gosta de basquete?"

A pergunta que a Haruko faz ao Sakuragi no primeiro capítulo (e o motiva a entrar no time de basquete) vira um dos pontos centrais da série e do desenvolvimento do protagonista. E algo que eu gosto ainda mais, é um ponto recorrente para muitos outros personagens, independente da história do Sakuragi - Mitsui e Minami, para citar dois, encaram a mesma pergunta em algum momento. De certa forma, essa é a frase mais importante de Slam Dunk, então não vejo como começar essa coluna sem ser por ela.

E eu vou dar essa frase para mim mesmo, porque você precisa gostar MUITO de basquete para escrever uma coluna de 23 mil palavras como essa para um blog sem receber nada em troca.  Não me neguem esse pequeno auto-endeusamento, eu mereço pelo menos a chance de falar bem de mim mesmo no meu próprio blog!

Espero que gostem do resultado da coluna. Agora sentem, relaxem, e aproveitem...





"Professor, eu finalmente entendi o que você quis dizer quando disse 'vocês são fortes'. Quando esses cinco caras fenomenais começassem a funcionar como um grupo, o Shohoku seria um time forte! Foi isso que o senhor disse!"

Sem querer, Slam Dunk retrata um ponto crucial da vida na NBA: como fazer cinco jogadores (na NBA são mais por causa dos reservas) com personalidades diferentes, estilos de jogos próprios e com diferentes forças e fraquezas, funcionarem da melhor forma possível? Ou seja, como todos eles podem estar na mesma página mesmo sendo tão diferentes, como fazer todos eles dedicarem seus esforços para o mesmo objetivo, deixar de lado os números e a glória individual em nome do bem coletivo da equipe, e modificar seu próprio jogo para melhor se encaixar com os companheiros?

Essas são as perguntas mais difíceis de serem respondidas por um time de basquete, mas também as mais importantes. Ao longo da história da NBA, é muito fácil identificar quais os times que foram muito além do esperado porque sabiam como responder a essas questões, sabiam como jogar como um grupo de verdade complementando um ao outro sempre com o mesmo objetivo, deixando de lado ego, números e glória individual pelo bem da equipe... e quais os (muitos!) times que deixaram de lado a chance de conseguir algo maior por causa de mais dinheiro, mais minutos, mais arremessos, mais ego.

Mesmo na NBA de hoje é fácil de ver isso em ação quando você para e observa direito. As duas últimas Finais da NBA foram entre Heat e Spurs, os dois times que mais incorporaram esse tipo de mentalidade na atualidade: Miami tem Wade e Bosh, duas estrelas de altíssimo nível (especialmente em 2010, quando se juntaram) mas que assumiram um papel secundário ao redor de LeBron, sacrificando arremessos e destaque individual, porque sabiam que isso daria ao time e a si mesmos uma maior chance de vencer; sem falar que seus títulos vieram com veteranos como Shane Battier e Ray Allen, jogadores muito experientes e respeitados ao redor da NBA que aceitaram papeis específicos e limitados (salários também, by the way) porque sabiam que era sua melhor chance de contribuir com algo grande e levar um título. Enquanto isso, San Antonio é o time que fez dessas perguntas sua filosofia de vida, ganhando 5 títulos no processo e se tornando a maior franquia pós-Jordan (mais sobre isso daqui a pouco). Não é uma coincidência que esses são os times que parecem tirar o máximo de seus talentos e conseguir os melhores resultados. Talento sempre é muito importante, mas não é tudo quando se quer vencer em um ambiente tão competitivo como a NBA.

Vamos falar mais desse assunto, direta ou indiretamente, ao longo da coluna (quando falarmos de Clippers e Pacers, por exemplo), mas é um ponto importantíssimo que precisa ser destacado. É algo que sempre lembramos na hora de falar dos grandes campeões, mas logo esquecemos quando chega a free agency e é hora de montar um time melhor. Sempre lembrem-se disso. Sempre.


"Ninguém aqui é amigo um do outro, e tudo que vocês fazem só me da dor de cabeça. Mas mesmo assim... Esse time... É o máximo!"

E nenhum time desde o Celtics de Bill Russell compreendeu e incorporou tanto essa parte do basquete como o Spurs de Tim Duncan e Greg Poppovich.

Nos últimos 16 anos, San Antonio venceu cinco títulos, 70% dos seus jogos, e nunca menos do que 50 vitórias em cada uma dessas temporadas (tirando obviamente a temporada da greve de 1999, mas seu aproveitamento ainda foi superior ao de um time que termina 50-32). Tirando Tim Duncan (e posteriormente Tony Parker e Manu Ginobili), ninguém no time ficou do começo ao fim dessa sequência, com os jogadores sempre mudando. Ainda assim, apesar de tudo ao redor da base mudar, entra ano e sai ano e o Spurs continua vencendo 50 jogos, indo aos playoffs e sendo um dos times mais perigosos da conferência. Os jogadores mudam, a era muda, mas o jogo eficiente e coletivo continua o mesmo. 

O maior motivo para isso é algo que eu explorei em uma coluna que eu escrevi um ano atrás sobre o Spurs. Eu recomendo fortemente a leitura da coluna inteira, uma das melhores que eu já escrevi na vida, mas o ponto é simples: o Spurs foi capaz de manter durante tanto tempo a mesma cultura e o mesmo ambiente vencedor porque priorizou esse lado do basquete, esse sentimento de jogo coletivo e de sacrificar números individuais pelo sucesso coletivo, acima de tudo. Eles sempre foram atrás de jogadores com o caráter certo, jogadores trabalhadores que treinassem ao extremo para compensar suas falhas e não se importassem com seu próprio número. San Antonio sabe que é mil vezes mais fácil pegar um jogador assim e ensiná-lo a arremessar ou defender, do que pegar um bom defensor ou arremessador egoísta e ensiná-lo a se importar com o grupo, jogar para seus companheiros e deixar de lado seu individualismo. Eles fizeram isso a perfeição ao longo de tanto tempo, e por isso tantos jogadores pouco considerados se tornaram muito melhores quando jogam pela franquia.

E claro, isso seria impossível se não fosse por um técnico capaz de transmitir isso aos seus jogadores como poucos ao longo da história da NBA (Pop), mas mais importante, sem Tim Duncan, o jogador que é a perfeita representação desse basquete altruísta, o jogador que joga para o time, cobre todos os buracos e não liga a mínima para seus números, somente para a vitória, desde Russell. Quando seu melhor jogador, lenda da NBA e cara da franquia é alguém que faz o passe a mais, está sempre no lugar certo na hora certa, não se importa de ficar no banco ou assumir um papel menor em quadra se for para beneficiar seu time, como pode o recém-chegado ou o jogador secundário do time não se sentir obrigado a fazer o mesmo (e logo todo o time segue a deixa e faz o mesmo)? É a melhor forma que você pode jogar basquete, não só fazendo a diferença individualmente mas influenciando cada um dos seus companheiros mesmo sem encostar na bola (o contrário também é verdade: se sua estrela é um jogador fominha, que faz o que quer e arremessa quando quer sem se preocupar com os companheiros, como esse jogador vai reclamar que os coadjuvantes fazem o mesmo quando ele deu o exemplo?).

E é por isso, acima de tudo, que Tim Duncan é um dos seis melhores jogadores da história da NBA. Talvez alguns outros jogadores tenham tido um auge mais dominante que o de Duncan, como Kareem ou Wilt, mas nenhum deles teria sido capaz de manter essa cultura altruísta por tanto tempo e influenciado tantos jogadores diferentes a jogar basquete de forma coletiva, mantendo a mesma base intacta e a mesma máquina funcionando dessa maneira. Tirando Russell e talvez Magic ou Bird, nenhum outro jogador na história poderia fazer algo igual. É por isso que Tim Duncan é tão bom, e é por isso que o Spurs é tão bom. E como sempre é o caso, eles não recebem o devido crédito por isso. Mas eles não se importam com o crédito, só com as vitórias. E agora eles tem 5.


"O jogo do Sendou mudou um pouco no segundo ano, depois que ele pegou gosto pelas assistências. No primeiro ano ele era um tremendo cestinha. Você deve se lembrar disso, Akagi... Do dia que você tomou 47 pontos só dele" 

Calma ai, ainda não terminei de falar da máquina do Spurs. Um outro motivo muito importante pelo qual o Spurs tem sido tão consistentemente bom dentro de quadra ao longo dos últimos anos é sua capacidade única de se reinventar e adaptar seu jogo as peças que eles tem e a direção que a NBA segue como um todo. 

Quando Duncan surgiu, Pop colocou ele e David Robinson juntos no garrafão para explorar ao máximo o talento de suas duas estrelas e dominar o garrafão. Depois David Robinson envelheceu rapidamente após seu primeiro título e o Spurs não conseguiu achar uma segunda estrela ou pelo menos um segundo jogador capaz de dividir as posses de bola com Timmy, San Antonio se reinventou como uma defesa feroz e um time que jogava em um ritmo extremamente lento, com cada posse de bola passando pelo low post com Duncan e vivendo de jogadas de alto aproveitamento. Quando Parker e Manu surgiram, San Antonio começou a abrir mais as coisas, jogar com mais passes, mais rodagem de bola e foi o primeiro time a descobrir os benefícios do arremesso de 3 da zona mortal. Conforme as regras foram se modificando ainda mais para beneficiar ataques e times que infiltrassem, Pop liberou Parker para atacar mais a cesta e o Spurs aumentou ainda mais seu estilo, ainda eficiente mas agora com mais opções de small ball e ainda mais arremessos de fora - especialmente o slash and kick. Por fim, quando Duncan envelheceu ainda mais e o ritmo da NBA começou a aumentar ainda mais, o time se reinventou como uma máquina de velocidade e bolas de três, eventualmente atingindo seu auge em 2014 com a máquina de passes rápidos e bolas longas que engoliu o Heat nas Finais. Ao longo desses 16 anos, o Spurs nunca parou de evoluir e se adaptar, sempre compreendendo a direção na qual a liga estava indo e se antecipando. Foi um dos primeiros times a aprender a usar o small ball, foi o primeiro a compreender o valor das bolas de 3 da zona morta, e por ai vai. O Spurs que vemos hoje é o resultado final de um time que passou 16 anos se reinventando para tirar o máximo das novas regras, das novas tendências e do talento disponível.

Mas eis o que recebe muito pouco crédito nessa história: o Spurs é tão bom se reinventando porque DUNCAN é excepcional adaptando seu jogo a todo tipo de estilo e esquema tático, sem ligar para números ou "jogar da forma como mais gosta". Foi por causa dele que o Spurs pode fazer isso por tanto tempo. Quando ele entrou na NBA, ele era o PF atlético e extremamente habilidoso que fazia uma dupla imbatível no garrafão com Robinson, e foi assim que ganhou seu primeiro título. Em 2001/2002, quando Robinson decaiu muito e as regras da NBA gravitaram na direção de times defensivos que dominavam posses de bola e o garrafão, Duncan precisou acomodar uma responsabilidade muito maior dos dois lados da quadra, jogar muito mais de costas para a cesta no ataque e trombar com grandalhões na defesa - ele fez isso a perfeição, teve as melhores temporadas da sua carreira (2002-2003 é um dos melhores biênios de um homem de garrafão na história da NBA) e levou o Spurs ao seu segundo título. Durante a era híbrida (2004/2005) quando a NBA estava se adaptando as novas regras que abriam o garrafão para armadores, Duncan começou a jogar mais como um facilitador mais longe do garrafão, usando seu bom arremesso de meia distância para abrir o caminho até o aro e seus bons passes para fazer o ataque fluir bem, ganhando seu terceiro título. Quando essas novas regras foram incorporadas, o Spurs se reinventou mais uma vez com Duncan jogando de pivô, dominando os rebotes e fazendo o papel de facilitador no ataque, um jogador capaz de defender o aro mas rápido o suficiente para defender o perímetro quando necessário. E por fim, mesmo quando o Spurs mudou o foco do garrafão para o perímetro em seu estilo rápido dos últimos anos, isso só foi possível porque Duncan era capaz de ancorar a defesa sozinho mesmo sem outro shot-blocker quando o time jogava mais baixo, e como um fantástico jogador de picks ofensivo (ninguém é tão criativo como ele na NBA inteira fazendo screens) e alguém que é capaz de receber a bola em movimento e partir para uma jogada secundária (um drible ou passe) para manter o ataque fluindo. 

Em outras palavras, o que fez o Spurs ser tão bom se reinventando e adaptando foi a capacidade (e também a aceitação) de Duncan de fazer qualquer função em uma quadra de basquete e jogar em qualquer estilo com quaisquer companheiros, sem se preocupar consigo mesmo. Se você está contando, então, dois dos principais motivos do Spurs e sua incrível consistência e dominação ao longo dos últimos 16 anos (esse e o do tópico anterior) estão diretamente relacionados com Tim Duncan. Se você olha para essa seqüência inacreditável de San Antonio e não ve a enorme responsabilidade e influencia de Tim Duncan nisso, você está precisando rever seus conceitos sobre basquete. Mesmo quando ele está em segundo plano, isso tudo não seria possível sem ele.


"Seu idiota! Ta pensando que já ganhou?! O adversário é forte o suficiente para representar a província de Osaka! Não o subestime! Estamos num campeonato nacional!! Nunca subestime ninguém! Não se descuidem nem por um instante!"

Para uma EXTREMAMENTE divertida primeira rodada dos playoffs que teve cinco jogos 7 (um recorde da NBA) e os quatro times com melhor record da NBA precisando de sete jogos para eliminar seus adversários. 

Até onde eu lembro, foi a primeira rodada de playoffs mais divertida da história da NBA desde que os playoffs expandiram para 16 times. Não só os cinco G7, mas todas as séries foram muito disputadas com uma exceção - Miami varrendo Charlotte, e mesmo essa série deveria ter sido muito mais apertada se Al Jefferson não se machuca no G1. Um disfuncional time do Pacers quase chegou a completar a maior amarelada da história da NBA perdendo para um 8th seed Hawks (sem Al Horford) na primeira rodada antes de vencer em 7, Dallas quase chocou o mundo levando os eventuais campeões para um jogo 7 decisivo (mais sobre isso em um instante), Oklahoma City e Los Angeles Clippers precisaram de grandes performances de suas estrelas para sobreviver a dois banhos de sangue... entretenimento saindo pelo telhado. Sem falar, claro, em um divertido time do Blazers chocando Houston e levando a série em seis jogos com o agora famoso buzzer beater do Damian Lillard. Para um momento dos playoffs que costuma ser marcado por varridas, dominações unilaterais e séries até sem graça, sem dúvida foi muito bem vindo esse tipo de emoção.

Mas meu momento favorito dessa primeira rodada aconteceu dois meses depois, quando durante a Copa do Mundo, um leitor no twitter (foi mal, mas não lembro o nome) comparou as oitavas de final a primeira rodada dos playoffs da NBA: vários jogos apertados indo para prorrogação ou para os penaltis, os principais candidatos ao título sofrendo com times supostamente inferiores, emoção até o último segundo... mas mesmo assim, todos os principais times passando de fase. Na Copa, todos os favoritos venceram seus jogos, e na NBA tivemos apenas um resultado que podia ser classificado como zebra (Blazers over Rockets). A analogia foi tão boa que ainda estou bravo por não ter pensado nela antes.


"É sério que vocês perderam só por um ponto DESSE Ryonan?!"
"Eu... acho que sim..."

Quando a primeira rodada dos playoffs acabou, e todo mundo estava dizendo que Spurs venceria o Blazers em 7 ou até perder a série em 6 na segunda rodada, eu disse no twitter que tinha um time nesses playoffs que estava sendo muito underrated. E esse time era o Dallas Mavericks: muita gente estava prevendo dificuldades para o Spurs (ou até um upset) contra o Blazers porque achava que o fato do Mavericks ter levado a série a 7 - uma série extremamente disputada onde apenas o G7 foi uma surra - mostrava que San Antonio estava fragilizado e não era tão forte quanto aparentava. Eu achava isso um absurdo com Dallas, um excelente time, e que o Spurs ainda ia dar uma surra no Blazers em 5 jogos. Vocês sabem como a história terminou: San Antonio DEU uma surra em 5 jogos no Blazers, passou com propriedade pelo Thunder e simplesmente humilhou os atuais bicampeões nas Finais. E foi nessa hora que todo mundo se tocou que o Spurs de 2014 era um time espetacular, e que o Dallas merecia muito crédito por ter levado sua série a 7. Muito mesmo. 

As pessoas subestimaram o Mavericks em parte porque eles foram "apenas" a 8th seed da sua conferência (esquecendo que o Oeste desse ano foi uma das conferências mais fortes de todos os tempos) e porque elas não prestaram atenção nos sinais: o Mavericks terminou a temporada com o segundo melhor ataque da NBA e o melhor ataque pós-All Star Game (111 pontos por 100 posses, um número absurdo), e apesar de ter sido varrido na série contra SAS na temporada regular, era um matchup complicado porque a presença de Dirk Nowitzki permitia ao time jogar seu melhor basquete ofensivo sem precisar usar uma formação baixa, e ao mesmo tempo a presença do alemão praticamente obrigava o Spurs a jogar com Splitter em quadra (se jogasse com Duncan/Diaw, Timmy teria que marcar Dirk e isso tiraria o único defensor da equipe de perto do aro) e com isso evitava que o Spurs usasse suas melhores formações ofensivas. A série não foi a 7 porque o Spurs era frágil, a série foi a 7 porque o Mavs era um excelente time que com um elenco profundo, um excelente técnico e um legitimo superstar (Dirk) conseguiu surpreender os favoritos e jogar seu melhor basquete na hora certa.

O engraçado é que o Mavs continua fazendo isso usando a formula maluca que lhes deu o título de 2011: Dirk Nowitzki como única estrela, cercado por um monte de jogadores antes rejeitados ou subvalorizados em um esquema tático brilhante que maximiza o jogo de cada componente do time. Esse ano, grande parte da evolução do time veio com Monta Ellis, um jogador muito talentoso mas desmiolado que atrapalhava tanto o time quanto ajudava em suas passagens por Warriors e principalmente Bucks. Rick Carlisle conseguiu tirar o máximo possível de Monta, usando ele como um parceiro de pick and pop para Dirk, canalizando seus esforços para a base do que move a equipe (o pick and pop e a movimentação de bola) e seus arremessos de meia distância apenas para quando eram necessários. Foi um ótimo trabalho de Carlisle, e Monta virou o jogador que sempre quisemos que virasse. O resto do time simplesmente se encaixou em torno disso. Eu assisti jogos suficientes do Dallas nos últimos cinco anos para dizer o seguinte com total confiança: enquanto o time tiver Dirk e Carlisle, eles seriam capazes de montar um ataque espetacular e um time competitivo comigo de armador e a Alinne Moraes de ala.

Por isso acho tão interessante que eles finalmente se convenceram disso nessa offseason, e decidiram tentar aumentar as chances de um novo título ao invés de se contentar em ser só "muito bons". Eles foram muito agressivos com uma oferta de 46M para tirar Chandler Parsons de Houston, um jogador cujos ótimos passes, criatividade a partir do drible e bom arremesso se encaixariam perfeitamente no esquema de Carlisle. E também buscaram reforçar a defesa trazendo de volta Tyson Chandler, o protetor de aro que faltava ao time nas últimas temporadas (quando a defesa foi um problema) e, de quebra, um pivô que já conhece o esquema defensivo do time e que tem ótimo entrosamento com Dirk. Com Monta, Dirk, Parsons e Carlisle, Dallas tem tudo para ter outro ataque Top5, mas agora com a chegada de Chandler, é possível que a equipe volte a ter uma boa defesa também. E se isso acontecer, Dallas vira um perigosissimo time para 2014, um time que não vai ser o favorito mas que sabe que pode vencer qualquer um em uma série de sete jogos se Dirk e Carlisle estiverem inspirados. Eu não apostaria contra o Mavericks.


"Ele colocou no chão...!"
"O número 1 de Kanagawa!!"

Para o grande vencedor individual desses playoffs, o homem que outplayed LeBron James em uma Final de NBA e levou para casa o prêmio de MVP das Finais aos 22 anos - o terceiro jogador mais jovem a receber essa honra depois de Duncan e Magic Johnson. E embora o (ótimo) apelido que ele merecidamente tenha ganho na internet nunca tenha pego - The Kingslayer - Kawhi Leonard não tem motivos para se queixar dessa pós-temporada.

A história das Finais pode ser dividida em "antes de Kawhi" e "depois de Kawhi". Nos primeiros dois jogos das Finais, Spurs e Heat dividiram as vitórias em dois jogos muito apertados e disputados (sim, G1 foi por 15 pontos, mas Miami estava ganhando até LeBron sair de quadra), com Kawhi Leonard jogando mal em ambas as partidas (9 pontos em cada) e em geral mostrando dificuldades para enfrentar LeBron dos dois lados da quadra. Dai chegou o jogo 3, e Kawhi Leonard aconteceu: 29 pontos em 13 arremessos (mais dois tocos e dois roubos) para o ex-jogador de San Diego State, que ainda forçou LeBron a uma noite miserável (22 pontos e 7 turnovers) em uma tranquila vitória do seu time... e a série nunca mais foi a mesma. Leonard teve um 20-14 no G4 e mais um 22-10 no decisivo jogo 5. Nos três jogos finais da série - três vitórias de San Antonio por combinados 57 pontos - Kawhi Leonard superou o melhor jogador do mundo e foi o melhor jogador em quadra em uma série que contava com pelo menos seis futuros Hall of Famers (Duncan, Parker, Manu, Wade, LeBron, Allen). Merecidamente, levou para casa Finals MVP.

O quanto dessa vantagem para Leonard sobre LeBron teve a ver com o fato do King estar jogando praticamente sozinho, tendo que fazer tudo dos dois lados da quadra, assumindo uma responsabilidade ainda maior sem receber nenhuma ajuda dos companheiros? Muita. Mas o fato é que Kawhi Leonard foi um prato cheio demais até para James dos dois lados da quadra. Uma das  primeiras coisas que eu fiz quando acabou o G5 foi ir até o Synergy Sports e assistir os lances que envolviam os dois jogadores diretamente, e eu fiquei impressionado em como Leonard era uma pedra no sapato de LeBron, passando por ele como queria no ataque, forçando-o a acompanhar dezenas de screens e cortes até achar uma bola livre, e fazendo a vida dele miserável na defesa. LeBron conseguia pontuar em grande volume em alguns momentos, e conseguia complicar a vida de Kawhi na defesa em outros, mas em nenhum momento ele conseguiu fazer os dois, e em outros não conseguia fazer nenhum -  com as imensas responsabilidades que o King foi forçado a sustentar ao longo da série, a energia de Leonard foi demais para ele. E isso foi algo decisivo para a série final.

Considerando todos os fatores como cenário (Finais de NBA), adversário (marcando e sendo marcado pelo melhor jogador da atualidade e um dos 10 melhores da história da NBA), idade (22 anos apenas) e atuações em geral, essa tem que ser uma das maiores two-way performances da história da NBA por um não All-Star. Uma série histórica que nos deixou imaginando até onde esse garoto pode chegar.


"Não da nem para imaginar vendo ele agora, mas há cinco anos ele era conhecido como o treinador mais rigoroso das universidades. O apelido que deram para ele nessa época era de 'O demônio dos cabelos brancos'. Mas agora ele é essa pessoa calma que você está vendo.. mais conhecido como 'O Buda dos cabelos brancos'"

Eu queria dar esse quote para o Rick Carlisle - assim como o Prof. Anzai é o personagem mais underrated de Slam Dunk, Carlisle é para mim o personagem mais underrated da NBA na atualidade, um treinador Hall of Famer que todo ano está fazendo trabalhos impressionantes em Dallas e é de longe o segundo melhor técnico da NBA desde que Phil Jackson se aposentou... só que ninguém percebe e ainda reagem com choque quando você fala isso.

Mas acho que da para fazer melhor quando o assunto é técnicos. Eu sempre defendo que não existe uma posição na NBA mais overrated do que os técnicos, principalmente porque é muito difícil você separar o mérito (ou demérito) do técnico dentro de um resultado coletivo, da equipe, e por isso é muito comum um técnico novo receber o crédito por uma melhora que pode ter vindo de diversos outros fatores.

Ainda assim, eu acho que a NBA nunca esteve tão bem servida de técnicos como agora. Ainda que dois times diferentes estejam pagando Mike Brown para não ser técnico deles em 2015, mostrando que ainda temos muito chão pela frente, eis o que temos no momento: um dos cinco melhores técnicos da história da NBA (Pop) ainda no seu auge, ditando os novos rumos da NBA, conquistando seu quinto título que o coloca de vez no topo da história; temos outro futuro Hall of Famer em Carlisle, outro técnico historicamente bom cuja continuidade e consistência do trabalho atualmente só é rivalizada pelo próprio Pop; Tom Thibodeau, um gênio defensivo que praticamente criou o esquema de defesa que a NBA mais usa na atualidade; dois experientes vencedores em Mike D'Antonhy Stan Van Gundy e Erik Spolestra... e isso antes de considerar os técnicos com menos história mas que tem feitos ótimos trabalhos nos últimos anos, como Mike Bud (Atlanta), Terry Stotts (Portland), Dwyane Casey (Toronto) e até mesmo Frank Vogel (Indiana), sem falar dos jovens técnicos que estão começando com boas expectativas (Steve Kerr) ou que vem de um bom primeiro ano (Steve Clifford, Brad Stevens, e meu favorito... Jeff Hornacek).

É uma boa coleção de talento, não é mesmo? 13 técnicos ou com histórico de sucessos, ou jovens talentos com bons trabalhos recentes em uma Liga de 30 times é bastante coisa. Será interessante ver quais desses jovens conseguem manter o ritmo e os bons trabalhos, mas não lembro da última vez que a NBA estivesse tão bem servida de técnicos, ou um ano como 2014 com tantos técnicos merecendo consideração para Coach of the Year pelos bons serviços.


"A partir de hoje, o posto de time #1 de Kanagawa não será mais de vocês!"
"Você não é capaz disso, Uozumi"
"Não vai ser eu. O nosso Sendou que vai cuidar disso"

Apenas pela segunda vez nas últimas seis temporadas, o MVP da NBA não teve duas letras maísculas no seu primeiro nome. Não que, em algum momento dos últimos seis anos, LeBron James tenha deixado de ser o melhor jogador da NBA. Mas em 2014, enfim, pudemos olhar um jogador e dizer com total certeza: esse, e não LeBron, foi o melhor jogador da temporada regular da NBA. Embora eu tenha defendido (e ainda defenda) o MVP de Derrick Rose em 2011, essa foi a primeira vez desde 2009 que alguém teve uma temporada individualmente melhor que LeBron.

Em parte, isso aconteceu porque LeBron - vindo de três Finais de NBA e um título com a seleção americana na offseason, sempre sendo a primeira opção ofensiva E defensiva da sua equipe, jogando minutos insanos cada temporada - finalmente regrediu um pouco. Ele não se dedicou tanto essa temporada como poderia, especialmente na defesa, onde chegou a ser horrível em alguns momentos. Ele frequentemente jogava com menos intensidade e vontade, deixando de vencer alguns jogos ou dominar partidas como poderia. Se eu culpo ele? Nem um pouco. Ele está entrando na segunda parte da sua carreira, sabe que o que importa mesmo é o que acontece nos playoffs, sabe que o time poderia ser #2 em um fraquíssimo Leste mesmo sem jogar para valer, e decidiu que se preservar física e tecnicamente era muito mais importante do que jogar mais uma temporada na quinta marcha e cansar nos playoffs (como aconteceu em 2013, by the way).

Mas em parte, isso também aconteceu porque Kevin Durant subiu ainda mais um nível e se tornou o jogador que todo mundo sonhava que ele pudesse se tornar quando saiu de Texas em 2007. Já faz uns quatro anos que Durant era o melhor pontuador da NBA, mas esse ano ele foi ainda além: terminou o ano com 32 pontos por jogo, a melhor marca da sua carreira por uma considerável margem (30.1 em 20120 era a melhor) e se juntou a Jordan, Kobe, Bernard King, Iverson, McGrady e George Gervin como os únicos jogadores a terem uma temporada com 32+ PPG desde a fusão entre NBA e ABA.

Mas o que fez da temporada 2014 de Durant tão especial não foi sua incrível pontuação apenas, e sim a forma como o resto do seu jogo evoluiu de forma alucinante. Não só apenas ele teve o melhor ano da sua carreira pontuando, mas ele também teve um espetacular ano all-around, conseguindo career high em assistências (5.5), uma boa marca em rebotes (7.4) e jogando defesa em altíssimo nível. Colocando em contexto, apenas Jordan, Elgin Baylor e Wilt Chamberlain na história tiveram uma temporada com 32-7-5, e apenas Jordan desses três conseguiu uma temporada com 5.5 assistências como Durant (para ser justo, Jordan teve um 33-8-8 com 55 FG% que deveria ser impossível e/ou proibido). Durant não é só mais o melhor pontuador da NBA, ele também é o segundo melhor all-around player da NBA. E ele fez tudo isso com seu melhor companheiro (e único All-Star) machucado por boa parte do ano.

Com Durant finalmente atingindo esse nível histórico e com todo seu auge ainda pela frente (com ainda espaço para evoluir), é válido perguntar: quando será a próxima vez que o jogador #1 da NBA não se chamará LeBron James?

E claro, não temos uma resposta para essa pergunta. LeBron é o melhor do mundo e ainda tem apenas 29 anos, então não é como se estivesse enfrentando o final de sua carreira e a erosão de seu incrível atleticismo. Não fazemos essa pergunta porque achamos que LeBron não vai continuar bom. Nós perguntamos porque a NBA é extremamente competitiva, não é nada fácil se manter no topo, especialmente com tanta milhagem como ele (1000 jogos e 40.000 minutos totais). E perguntamos  principalmente porque acabamos de ver um jovem talento que está apenas atingindo seu auge chegar em um patamar tão alto, tão impressionante que nos assusta pensar que ele sequer é o melhor jogador da atualidade. E ficamos imaginando se Durant ainda tem espaço para crescer, e se a leve queda de LeBron em produção em 2014 (sim, nos playoffs também) tem a ver com cansaço ou desgaste físico inevitável depois de tanto tempo jogando em alto nível. E perguntamos porque, como fãs de NBA, estamos sempre em busca da próxima grande estrela, daquele "next big thing" que vai nos levar a um patamar mais alto como fãs do esporte. E o "next big thing" - que já é uma realidade - é Kevin Durant.

Eu não sei quando Durant vai superar LeBron como melhor jogador da NBA. Não sei se algum dia LeBron vai permitir isso, ou se uma jovem estrela (Anthony Davis?) não passará na frente de Durant antes. O que eu sei é que Durant foi tão bom em 2014 que nos fez pensar em fazer essa pergunta. E isso só já é impressionante.


"Desgraçados... Disputando o posto de número 1 sem mim, é?"

Dois jogadores, desde 2009, tiraram um prêmio de MVP das mãos de LeBron James. Apenas dois. Um deles é o segundo melhor jogador da atualidade, uma superestrela jogando em um nível histórico e que já figura entre os grandes de todos os tempos apesar de ter apenas 25 anos. O outro está se recuperando de mais uma cirurgia no joelho e a terceira temporada seguida perdida para lesão, enquanto se torna uma piada do mundo do basquete e um dos "e se?" mais perguntados do esporte: e se Derrick Rose ficar saudável?

Quando Rose foi o MVP em 2011 - uma escolha um tanto criticada, mas que eu apoiei na época e ainda acho que foi a escolha correta - parecia que ele estava caminhando para se tornar uma superestrela. Teve um ano espetacular, com 25-4-8 e sendo o melhor jogador e único capaz de criar o próprio arremesso para o melhor time da NBA, com apenas 23 anos. Quando, um ano depois, Rose estourou o seu joelho ao invés de continuar desenvolvendo seu jogo, a NBA perdeu (espero que apenas por enquanto) um jovem talento excepcional que poderia hoje estar nesse patamar com LeBron e Durant, disputando MVPs e sendo incluído na discussão de melhor jogador da NBA. Nossa perda, porque nunca saberemos o quão bom ele poderia ter sido nesse tempo todo, e se um Chicago Bulls com Rose saudável poderia ter incomodado um Miami Heat que foi soberano no Leste durante esses três anos.

Algum dia Rose vai ficar saudável? Essa é a pergunta, mas para mim uma ainda mais importante é: se ele ficar saudável, ainda vai conseguir ser o mesmo jogador? Ainda vai ter sua velocidade e explosão sobre-humana depois de tantas cirurgias no joelho, ainda vai saltar, mudar de direção e atacar o aro com a mesma ferocidade? Eu não acreito, e esse é um dos motivos pelo qual eu achava tão importante para Chicago conseguir Love ou Carmelo nessa offseason para aliviar a carga de seu armador e ainda aguentar o barco caso Rose nunca mais volte ao nível de 2011.

É triste ver um jogador jovem com tanto potencial acabar assim: imaginem o que aconteceria se Durant tivesse estourado o joelho em 2010 quando foi cestinha da NBA pela primeira vez e perdesse os próximos três anos com cirurgias no joelho. Ele teria em algum momento feito esse incrível 32-7-5 em 2014 e levado um MVP de LeBron? De jeito algum. Claro que os jogadores seriam diferentes, e suas trajetórias de carreiras não necessariamente seriam iguais, mas de um ponto de vista mais amplo, é mais ou menos isso que significou a lesão de Rose. Ele deveria estar hoje disputando o título de melhor da NBA com LeBron e Durant, e ao invés disso, ele possivelmente será lembrado pelo que poderia ter sido, o novo Penny Hardaway, um grande talento que nunca teve a chance de atingir seu auge. A pior coisa quando isso acontece. E claro...


"Sem o Fujima, o Shoyo não passa de um time de segunda... apenas um pouco melhor do que os outros. Mas quando o seu armador entra, eles se tornam o time habituê do intercolegial. Eles só mostram sua verdadeira força quando são comandados pelo Fujima

É impossível não ver os paralelos entre Fujima e Rose (e Shoyo e Bulls) nessa frase. Sem Rose, o Bulls tem sido exatamente isso - um time acima da média, que consegue vitórias com base em um jogo coletivo, um excelente técnico, e uma defesa alucinante (e o muito-underrated-até-esse-ano Joakim Noah), mas que não assusta ninguém nos playoffs e não é de fato uma ameaça a competir pelo título. Mas coloque um saudável Rose na equação, e o Bulls é um time que terminou 2011 com +8.1 de saldo por 100 posses (#2 na NBA) e 62 vitórias. Chicago não é um bom time pontuando, mas com Rose, eles possuem alguém capaz de carregar o ataque por algum tempo, criar seu arremesso, atrair defesas e desmontar esquemas defensivos atacando a cesta... mas sem ele, o time vira só uma boa defesa, incapaz de ser competitivo contra bons times. Por isso o Bulls queria tanto Carmelo, alguém capaz de fazer esse papel ofensivo por Rose, ou mesmo Love, uma estrela capaz de carregar o time na pontuação. Enquanto Noah e Thibodeau estiverem em Chicago, o time terá uma boa defesa, mas não adianta se você não tiver um ataque capaz de acompanhar, e eles não possuem um desde que Rose machucou.

Para essa temporada, Chicago não conseguiu Melo (que preferiu ganhar mais $$ em New York a competir por um título) mas conseguiu reforçar o time mesmo assim: trouxe Doug McDermott, um exímio chutador de fora, Pau Gasol para pontuar no garrafão e aliviar o ataque com seus passes (btw, uma dupla Gasol-Noah fazendo passes rápidos no garrafão? Holy mackrell!), e até Nikola Mirotic que enfim veio da Europa. Isso da uma sólida rotação de garrafão, com dois pontuadores e dois defensores de elite (Taj Gibson incluído), mais McDermott que pode jogar de SF ou PF. É sem dúvida um time melhor do que era ano passado.

Mas isso vai fazer diferença na busca por um título? Sem Rose, provavelmente não. O elenco de apoio sem dúvida melhorou, é capaz de fazer estragos e ser o melhor da NBA se tiver uma estrela como Rose para liderá-lo, mas sem ele? Dificilmente. Vai ser apenas uma versão melhor do Bulls do ano passado, um ferrolho defensivo que não conseguia pontuar o suficiente contra bons times. A diretoria fez um bom trabalho nessa offseason reforçando o time (btw, eu ainda teria pego Gary Harris no Draft), mas se Chicago quiser ir a algum lugar esse ano, vai precisar de Derrick Rose.


"Eu vou derrotar o Yamaoh!! Eu, o gênio Sakuragi!"

Com Derrick Rose machucado segurando o Bulls e o resto do Leste em um estado muito fraco, a única esperança para vencer Miami para essa temporada surgiu nos playoffs de 2013, quando o Pacers levou os campeões a 7 jogos bastante físicos em uma série que muita gente não esperava mais do que 5. Isso colocou o Pacers no mapa como um possível candidato ao título de 2014 e real ameaça a Miami no Leste, e eles começaram a temporada como tal, vencendo 40 de seus primeiros 51 jogos com o melhor saldo por 100 posses da NBA (8.6) e uma defesa que estatisticamente estaria entre as melhores de todos os tempos. Dai o time, que parecia sério candidato ao time, fez algumas trocas, se preparou para a reta final da temporada... e tudo deu errado ao final do ano, com o time sofrendo para ganhar metade das suas perdidas pós-All Star Game com um saldo de pontos negativo e o segundo pior ataque da NBA. Mesmo que tenha chegado nas antecipadas Finais contra Miami (depois de quase perder na primeira rodada para o 8th seed Hawks), o seu status como time forte e favorito já tinha a muito tempo sido destruído, e eles caíram facilmente perante os então campeões. De time destinado a vencer os soberanos do Leste, o Pacers terminou o ano como uma piada e com muitos pontos de interrogação.

"O que aconteceu com o Pacers?", então, virou um dos grandes temas de debate da NBA, um mistério no nível "Quem matou JFK?" ou similares. As teorias mais malucas pipocaram a respeito, a minha favorita ainda sendo (e eu juro que eu li isso de verdade) que um threeway envolvendo Hibbert e Paul George deu errado por causa de um contato visual na hora errada, ficou um clima estranho entre eles, e isso atrapalhou o andamento do time. Para vocês verem a que ponto as coisas (e as especulações chegaram).


"O nosso time está em crise... e eu não sabia..."

Bom, vocês querem saber o que EU acho que aconteceu com o Pacers? A meu ver, foi uma combinação de três fatores:

a) O Pacers foi um time um pouco overrated desde o começo. Eles chegaram até Miami em 2013 sem convencer, com uma temporada sólida mas não espetacular e playoffs um tanto complicados (precisaram de 6 jogos difíceis para vencer Hawks e mais 6 para passar por um time cada vez mais disfuncional do Knicks). A sua fama se fez mesmo naquela série de 7 jogos, mas essa dificuldade imposta aos campeões veio muito mais do fato de serem um PÉSSIMO matchup para Miami, que não estava preparado para isso e estava muito cansado de um final de temporada regular que jogaram na qunta marcha (um fato, by the way). E mesmo assim, a série foi muito menos próxima do que parece - assista as quatro vitórias de Miami de novo, e em nenhuma delas você pensa "wow, o Pacers poderia ter levado esse jogo e não aproveitou!". Quando Miami conseguiu ligar seu basquete hiperativo de verdade, eles foram muito superiores e Indiana não teve resposta. Eles não conseguiram jogar assim por sete jogos e as vezes pareciam despreparados para enfrentar um matchup tão complicado, mas em nenhum momento Indiana mostrou estar a altura do melhor basquete de Miami.

Então todo mundo focou nessa série, e esqueceu o quão não-espetacular Indiana foi no resto do ano, para apontar o Pacers como um favorito. Entre isso e o bom começo de temporada que tiveram, é bem claro que o time era sim um bom time, mas a série contra Miami em 2013 acabou fazendo parecer -erroneamente - que esse time era mais do que realmente era, e as expectativas foram ajustadas como tal. 

b) O time do Pacers cansou. Nenhum time na NBA inteira era mais dependente de seus titulares - nenhum quinteto jogou mais em 2014 do que Hill-Stephenson-George-West-Hibbert. Em parte pela falta de banco e dificuldade de Vogel de achar alternativas, Indiana dependeu demais durante o ano todo desses titulares, então depois de 1468 minutos na temporada regular (nenhum outro lineup chegou a 1375) e mais 395 nos playoffs (nenhuma outra teve mais que 225), sem falar no estilo muito físico que jogavam, esse quinteto (o melhor de 2013 e segundo melhor de 2014 em saldo de pontos por 100 posses, btw) não tinha mais pernas para jogar e acompanhar adversários rápidos e atléticos.

c) Talvez o mais importante de todos, mas o Pacers em nenhum momento era um supertime com grandes estrelas capazes de dominar individualmente uma partida. Era um time muito bem montado, com excelentes defensores, mas que ofensivamente dependia muito do seu coletivo, de cada jogador cumprir seu papel, maximizar seus talentos e contribuir como podia para a equipe. Em outras palavras, uma equipe sem estrelas que dependia muito da sua chemestry, da hierarquia dentro da equipe e de cada jogador contribuindo em seu papel da melhor forma possível.

Durante o começo da temporada, isso funcionou muito bem, mas em certo ponto, esse delicado equilíbrio começou a desmontar por vários motivos. Lance Stephenson, talvez o principal jogador ofensivo de Indiana por ser o único jogador capaz de criar a partir do drible e seu melhor passador, tinha virado uma força nessa temporada jogando de forma precisa e focada, mas quando Steph não foi escolhido para o All-Star Game, parece que ele ficou ofendido, e começou a jogar de forma muito mais ostensiva, mas menos eficiente: passes difíceis que viravam turnovers, jogadas elaboradas ou plásticas ao invés das mais simples, tentativas de atacar a cesta no meio de três jogadores, etc. Em outras palavras, ele esqueceu o jogo pragmático e eficiente que fez dele tão bom no começo da temporada, começou a jogar com outro propósito, e o time sentiu demais como consequência. Paul George também teve um começo quente de temporada e começou a atrair conversas de "Superstar!", mas quando essa conversa se intensificou e George não conseguiu manter os números, ele tentou forçar mais o jogo, fazer demais (e além do que ele normalmente faz) e basicamente jogar como a superestrela que todos diziam que ele devia ser, mesmo que estivesse saindo de suas principais características e atrapalhando o time no processo. 

Considerando que Stephenson e George eram os dois melhores/mais importantes jogadores ofensivos do time, não é a toa que essa mudança de dinâmica acabou com o ataque de Indiana. E talvez igualmente importante, isso significava que um time que derivava seu sucesso de um jogo coletivo e eficiente, de grupo, de repente começou a contar com dois jogadores seguindo suas próprias agendas sem pensar no coletivo. Isso acabou com a dinâmica de grupo da equipe na qual o Pacers foi construído, e digamos que as chegadas de Andrew Bynum e Evan Turner não ajudaram muito a estabilizar o vestiário. 

Essas três coisas - fadiga excessiva pela falta de banco/excesso de uso dos titulares, as duas principais peças da equipe abandonando seu melhor jogo e acabando com a ordem altruísta da equipe, e um time que foi um pouco overrated desde o começo - colocaram Indiana em uma espiral descendente ao final da temporada, da qual eles ainda não saíram direito. A temporada acabou, e acima do teto salarial, ninguém fazia idéia de como a equipe iria fazer para dar o próximo passo, ou pelo menos sair  da crise. Eles acabaram usando o espaço que podiam para adicionar arremessadores em uma tentativa de abrir um pouco o ataque, mas perderam seu melhor criador no processo (Lance Stephenson) em parte porque ele deixou todo mundo lá de saco cheio. E agora, o time que parecia ser "o time do futuro do Leste" parece mais fraco do que esteve nos últimos dois anos, e ninguém sabe ao certo o quanto conseguirão ser competitivos com a elite do Leste. Incrível como as coisas mudam rápido na NBA.

(Paul George sofreu uma lesão assustadora alguns dias depois de eu terminar essa seção e vai perder a temporada? Claro que sim! Só para acabar com o propósito do que eu escrevi antes...)


"Você vai lembrar do jogo de ontem para sempre. Porque foi a primeira vez que Sakuragi, o homem do basquete, deu uma enterrada"

Simplesmente porque eu estava procurando uma desculpa para incluir esse vídeo na coluna. RIP dignidade do Kenneth Faried.



"É o fim dessa era. Agora Kanagawa vai viver uma época de guerra, onde novos heróis surgirão para conquistar seu espaço"

O Leste do ano passado era uma conferência muito, mas muito fraca. Eles possuíam um legítimo juggernault nos duas vezes campeões Heat, um potencial desafiante que virou piada ao final da temporada... e uma penca de times medianos, sólidos mas não espetaculares, todos os quais teriam sofrido uma surra histórica em uma possível final contra San Antonio ou OKC (o juggernault e atual campeão do Leste também sofreu uma surra histórica do Spurs nas Finais, no final das contas). Abaixo disso, você tinha diversos times fracos - Knicks, Cavs - e vários outros tentando ser pior do que o outro por Andrew Wiggins e Jabari Parker. A diferença entre Miami e os demais times era brutal, e tirando Pacers e Bulls (caso Rose ficasse enfim saudável), nenhum time parecia ter condições de superar o Heat de LeBron tão cedo.

No entanto, algo estranho aconteceu. Miami levou uma surra de um time superior de San Antonio nas Finais, com uma situação que lembrava estranhamente o Cleveland pré-Decision: LeBron tendo que fazer tudo sozinho, carregar a equipe nas costas, sem nenhuma ajuda dos seus companheiros. No segundo tempo do G5 - quando um título do Spurs já era inevitável - LeBron poderia estar usando uma camisa 23 do Cavs nas Finais de Conferência de 2010, jogando sem qualquer ajuda, forçando passes e evitando jogar sozinho, como se implorasse que qualquer um fizesse algo para ajudá-lo. Ninguém fez, e pela primeira vez desde o primeiro título do King em 2012, começou a parecer um cenário realista que LeBron fosse deixar Miami quando virasse free agent. Quando Cleveland ficou com a primeira escolha do Draft, então, todo mundo surtou achando que era a grande chance do King sair do Heat.

A questão é que essa possibilidade significava demais para a conferência Leste. O Leste era um time cheio de mediocridade e um time dominante, muito acima dos demais. Mas se o Heat fosse perder seu melhor jogador, ele iria deixar de ser esse time tão assustador, e de repente a conferência Leste estaria totalmente aberta, sem nenhum grande time dominante ou superior aos demais, só vários times acima da média brigando por um título. E assim, de repente, abria-se um caminho viável até as Finais para diversos times medianos que, até pouco tempo atrás, não tinham nenhuma esperança de chegar até lá.

E os times do Leste começaram a enxergar essa possibilidade, esse caminho aberto até as Finais, e começaram a investir onde antes não teriam tanto incentivo. Por exemplo, o Washington Wizards tinha uma decisão difícil, de gastar acima do que deveria e travar um pouco sua folha salarial para manter junto seu núcleo de 2014, um núcleo sólido, mas não espetacular e que dificilmente seria um time de elite em uma boa conferência. Mas sem o Heat e nenhum outro time dominante no Leste, o Wizards estava em igualdade com seus concorrentes, e sabia que mantendo esse time bom junto, teria uma boa chance de aproveitar esse buraco para tentar chegar nas Finais. E foi o que eles fizeram, gastando muito dinheiro para manter Marcin Gortat por perto, trazendo Humphries e DeJuan Blair para compor o banco, e mesmo gastando 6M no veteraníssimo Paul Pierce. Esse time não seria um candidato ao título no Oeste nem em um milhão de anos. Mas no Leste? Com alguns bons matchups e alguma sorte, esse time pode muito bem chegar a uma final de conferência e quem sabe nas Finais.

E isso que faz o Leste tão interessante entrando em 2014/15. Vários times anteciparam essa janela e decidiram investir no agora, dando contratos caros para manter seus times juntos ou adicionar algumas peças, tentando vencer esse ano. O Wizards trouxe Pierce e deu um contrato milionário para Gortat. O Hornets pagou uma bela grana para Gordon Heyward, e depois Lance Stephenson. Raptors overpaid alguns jogadores de banco para manter unido o time que foi tão bem em 2014. O Nets sempre esteve em modo win-now mode, e o habitual mão-de-vaca Bulls pagou uma boa grana para Pau Gasol e Nikola Mirotic na esperança de que esse seja o ano que Derrick Rose fique saudável. Até o próprio Heat deu um contrato absurdo para Chris Bosh em uma tentativa de evitar cair na loteria e manter o time competitivo no que eles sabem ser uma conferência fraca. Então ao invés de ter vários times prudentes, preocupados com sua flexibilidade salarial ou talvez tentando vender algumas peças para reconstruir com vistas no futuro, temos diversos times gastando, contratando e se reforçando para brigar por uma chance de ir longe nos playoffs. Isso vai ser muito interessante de acompanhar.


"Vou apostar tudo quando o Uozumi estiver no terceiro ano! Se eu conseguir recrutar o MVP, Hisashi Mitsui, ele formará uma dupla invencível com o Uozumi!"
*Recusado*
"Preciso de um armador que se torne o pilar do time! Esse pode ser baixinho, mas tem que ter uma capacidade física notável! Ryota Miyagi é a escolha certa!"
*Recusado*
"Kaede Rukawa, do Tomigaoka! Ele sim é um talento único, desses que só aparecem a cada 10 anos!!"
*Recusado*
"O que?! Shohoku?! Porque?! Não vai me dizer que também é por causa do Prof. Anzai?!"
"Porque é mais perto de casa"

Mesmo depois que o Rockets trouxe Dwight Howard como free agent, o GM Daryl Morey insistiu que não tinha pressão alguma por um título em 2014, dizendo que enquanto a contratação de Dwight Howard era um passo importante nos planos do time, a construção de um elenco campeão ainda não tinha acabado, e que esse era apenas o primeiro ano de um projeto mais longo. Em parte isso era verdade por dois motivos: primeiro, porque ele viu o que aconteceu com Miami em 2011, e sabia que precisava de mais uma janela para adicionar veteranos para completar o time; e segundo, e talvez mais importante, porque Morey ainda queria adicionar uma terceira estrela ao seu time. O Rockets é um dos times que sempre entendeu o valor das estrelas na NBA, tanto dentro como fora de quadra, e queria trazer outra para complementar a dupla Harden/Dwight enquanto podia.

E eles podiam por um motivo que era ainda muito bom para a equipe: porque o free agent restrito Chandler Parsons, embora fosse um excelente jogador que fosse ganhar um gordo contrato, contava apenas como 1M de "cap hold" na sua folha salarial por ter sido uma escolha de segunda rodada. Então enquanto o Rockets não oferecesse um novo e caro contrato para Parsons - ou outro time não o fizesse e o Rockets igualasse a oferta - Parsons não custaria quase nada no espaço salarial da equipe, e ainda poderia ser renovado posteriormente sem se preocupar com o teto salarial. Em outras palavras, o Rockets poderia liberar algo como 20M de espaço salarial para oferecer um contrato máximo a alguma estrela, e depois de assinar com esse jogador, ainda poderia trazer de volta Parsons  passando do teto salarial por causa de seus Bird Rights.

Sabendo disso, e sabendo que esse espaço salarial acabaria se algum time fizesse uma proposta por Parsons e o Rockets a igualasse, Houston se apressou para trazer essa terceira estrela o quanto antes. Inicialmente, o desejo de Houston era Carmelo Anthony ou Kevin Love. Mas quando o Heat tomou uma surra do Spurs e começou a parecer muito real a possibilidade de LeBron deixar Miami (ou mesmo do Big Three se separar), o Rockets mudou seu foco e foi atrás de Chris Bosh. Em termos de conjunto de habilidades, Bosh era o jogador perfeito para a equipe, um PF exímio arremessador com alcance até a linha dos três pontos, mas também capaz de jogar de C e proteger o aro, e ainda por cima com experiência sendo um jogador de spot-up e uma opção secundária no ataque. Se encaixava tão bem no estilo veloz e espaçado da equipe que fez todo o sentido o Rockets ir atrás dele com tudo que tinha, e sabendo que ele teria que deixar muito dinheiro de lado (algo como 7M por ano ou mais) para ficar em Miami com LeBron, Morey fez a ele uma proposta que ele não podia recusar: um contrato máximo, 88M por 4 anos. Quando LeBron decidiu ir para o Cavs e o Heat de repente pareceu um time frágil, parecia questão de tempo até Bosh aceitar esse contrato máximo e ir para o time que viraria um fortíssimo candidato ao título.

Quando LeBron anunciou sua decisão e o Mavs apressou as coisas oferecendo um contrato de 48M para Parsons, o Rockets parecia na situação perfeita e o grande vencedor da free agency. Se conseguisse abrir espaço salarial a tempo, era só assinar com Bosh e depois igualar a oferta do Mavs, trazendo assim de volta seu melhor não-All Star além da terceira estrela que tanto queriam. Morey correu para conseguir abrir esse espaço, trocando Asik para o Pelicans por uma escolha de primeira rodada, e depois usando uma outra escolha de primeira rodada para mandar Lin e seu contrato para o Lakers, abrindo assim espaço para o contrato de Bosh. Ai tudo foi para o inferno quando Bosh renovou com Miami por um contrato ainda mais absurdo, 116M por 5 anos, um contrato maior e mais longo que só o Heat poderia oferecer para seu próprio free agent, e deixou o Rockets de mãos vazias. Em pânico e com medo de perder seu espaço salarial todo a toa, eles trouxeram Trevor Ariza por 4 anos/32M, mas depois acharam que igualar a oferta por Chandler Parsons iria acabar com sua flexibilidade salarial no curto prazo, e perderam também seu ala. Então o time que sonhou com Parsons e Bosh acabou sem nenhum dos dois e apenas Ariza de consolo.

É difícil não sentir pena do Rockets aqui. Eles foram para o all-in em busca de Bosh ou Carmelo, fizeram tudo que podiam para atrair o jogador que precisavam, mas falharam, e pagaram um preço alto por isso. O Rockets perdeu Lin - um sólido jogador de rotação em uma posição carente da equipe - E uma escolha de primeira rodada só para abrir as pressas um espaço salarial que não usaram, seu C reserva e valioso protetor de aro não está mais lá pelo mesmo motivo (embora eles tenham ganho uma valiosa escolha de primeira rodada em troca), e ainda se viram "forçados" (na visão de Morey) a abrir mão de seu terceiro melhor jogador. Tudo que poderia dar errado deu.

Algumas pessoas atribuem a falta de interesse os jogadores a uma situação teoricamente excelente em Houston - bom clima, sem impostos sobre salário, time forte, etc - a uma percepção negativa que a equipe tem ao redor da Liga, um time que dentro de campo é desinteressado e não joga tão a sério como muitos acham que um time em busca do título deveria (não é difícil ver de onde vem isso, já que a estrela do time - Harden - nem se esforça na defesa, e Dwight Howard é Dwight Howard e sempre foi). É bem possível que seja verdade, mas não da para culpar Morey por isso - ele colocou seu time em boas chances de conseguir ser um grande vencedor, e na última hora deu errado. Eles pelo menos conseguiram Ariza, um bom defensor e arremessador que encaixa bem na equipe, e ainda poderiam ter mantido Parsons se quisessem, mas optaram por manter a flexibilidade salarial no curto e médio prazo. Isso faz algum sentido, considerando que o time ainda tem Dwight e Harden por um bom tempo e que, com alguns ativos interessantes, nada impede que o time faça outra tentativa de conseguir uma outra estrela ou quase-estrela (Rajon Rondo?). Mas perdendo seu melhor defensor reserva, seu melhor PG criador, e um ala extremamente criativo e ativo como Parsons, é inegável que o Houston vai para 2015 como um time inferior ao que era - e muito inferior ao que poderia ter sido.


"Com Mitsui, Miyagi e Rukawa, eu teria montado um time invencível! Mas isso não importa mais. Eu posso derrotar qualquer time dos sonhos com os atletas que tenho agora"

O outro lado da história de Moichi Taoka vai para o Miami Heat. É impossível não ser um perdedor em uma free agency onde seu time perdeu o melhor jogador do mundo, e com LeBron em Cleveland e Bosh recebendo uma oferta excelente do Rockets, o Heat ficou em uma situação complicada. Sem seus dois melhores jogadores, e sem um elenco profundo, jovem ou com boas escolhas de Draft, o Heat parecia destinado a voltar a loteria e passar por uma reconstrução depois do período mais bem-sucedido da sua história.

Só que depois que você ganha, é difícil se contentar com derrotas, e Pat Riley preferiu arriscar e investir alto pra manter sua equipe competitiva a aceitar um período por baixo. A primeira providência foi usar o direito que tinha sobre o free agent Chris Bosh para fazer uma oferta que nenhum outro time poderia, a oferta máxima de 5 anos e 116M que fez Bosh (que supostamente adora a vida em Miami) ficar na equipe ao invés de buscar um novo título em Houston. Mantendo Wade e Bosh, o chefão de Miami também trouxe Luol Deng para o lugar de LeBron e adicionou algumas peças pontuais, como Josh McRoberts e a volta de Birdman. Ao invés de voltar ao que o time era pré-LeBron, Riley preferiu abrir os cofres para manter o time competitivo.

Os negócios foram bons? Independentes, em um vácuo, não. Bosh, em particular, foi um enorme overpay para um jogador de 30 anos que não joga mais no garrafão e não vai mais poder se beneficiar dos passes e dos espaços criados por LeBron. Wade também não vale 16M por ano enquanto jogar como jogou nos últimos dois anos. Mas uma vez que o Heat não tinha um futuro em uma reconstrução e a falta de vontade de Arston e Riley de passar por um período de baixa depois de tanto sucesso, o plano do Heat faz sentido e Riley conseguiu tirar o máximo de uma situação complicada. Napier é um sólido jogador (ou pelo menos assim eles esperam), Deng é um ótimo defensor que vai manter a defesa do time afiada, e Wade/Bosh ainda oferecem um par de estrelas para o time se construir em torno (sim, Wade não tem jogado como uma estrela e parece meio acabado, mas o Heat está apostando que ele ainda possa ser uma, com mais liberdade e espaço agora que LeBron saiu). É um time bom o suficiente para ir aos playoffs no Leste, e com a conferência extremamente em aberto, eles podem até sonhar com uma volta a final de conferência.

É possível que daqui a algum tempo o contrato ruim de Bosh pese, tirando a flexibilidade salarial do time? Certamente. Mas por enquanto, o Heat conseguiu seu objetivo, sobreviveu a saída de LeBron e conseguiu manter o time competitivo no futuro próximo. Um bom trabalho de Riley.


"O que?! O Hisashi Mitsui do ginásio Takeishi?! Como eu nunca vi ele em três anos no Shohoku?!"
"É porque ele tinha virado maloqueiro."

Após os playoffs da NBA, Lance Stephenson era um grande mistério, um jogador extremamente talentoso, ótimo criador e ball handler, sólido defensor, mas que muitas vezes irritava os companheiros por fazer a jogada mais chamativa ao invés da melhor para o time, e em geral jogar para si mesmo. Apesar de talentoso e ainda jovem, apenas 23 anos, muitos times viam o SG como um enorme risco por seus problemas de personalidade e difícil convivência. Uma das grandes dúvidas da offseason era qual exatamente seria o mercado por Stephenson, se prevaleceria o seu talento ou a imagem de problemático.

Aparentemente, seus desagradáveis momentos na série contra Miami e a imagem negativa prevaleceram, já que a informação era que o mercado por Stephenson era bastante restrito. O Pacers ofereceu um contrato de 5 anos e 44M para o jogador, mas não sabemos exatamente a estrutura desse contrato para Stephenson recusá-lo. Parecia que nenhum time iria pagar mais caro.

Entra em cena o Hornets. Depois de anos e anos sofrendo derrotas e humilhações, e ainda assim não conseguindo nenhum grande prêmio na loteria, o time se cansou e decidiu investir em resultados imediatos (e por "resultados" leia-se "não ser o pior time da NBA e quem sabe brigar pelos playoffs no Leste"). O primeiro ano, desse ponto de vista, foi um sucesso: o recém-contratado Al Jefferson foi um monstro em seu primeiro ano, o time se encaixou muito bem, foram aos playoffs, e por ai vai. Então continuando nesse mesmo caminho de sair do buraco, e vendo o buraco que se abriu até o topo do Leste com o Heat se desmontando, o time decidiu continuar investindo, dessa vez trazendo um criador de perímetro. Quando o Jazz acabou com seu plano A (Gordon Heyward), o time foi atrás de Stephenson, assinando com o ala por 3 anos, 27M.

Em termos de basquete, essa contratação faz muito sentido para Charlotte. O seu ataque ano passado passava por Al Jefferson e começava a partir do garrafão, mas muitas vezes (especialmente quando Kemba Walker e Al estavam no banco) o time sentia falta de alguém para criar a partir do perímetro, e o tempo todo sentiu MUITA falta de um criador no contra ataque (só 5 times pontuaram menos em transição em 2014). Stephenson é um excelente ballhandler capaz de fazer ambas as funções, e - talvez tão importante quanto - liderar grupos de reservas por longos períodos, como fez no Pacers temporada passada. Então em termos de basquete ele é exatamente o jogador que o Bobcats precisava para dar o próximo passo. Mas o que eu mais gostei aqui é como o contrato é excelente para a equipe, lhe da segurança caso os problemas com Stephenson superem os benefícios: o contrato só é garantido por dois anos (o terceiro é team option) e a um valor não-proibitivo, então se Stephenson não causar problemas e só contribuir como pode dentro de quadra, o time ganha um excelente jogador a um custo baixo... e se ele começar a ser um problema, o contrato é só de dois anos e pode facilmente ser movido para outro time na qualidade de contrato expirante. Contrataram um ótimo jogador a um bom custo e se protegeram contra seus problemas.

Para Stephenson, parece mais complicado entender o contrato já que o que o Pacers lhe ofereceu pagava quase a mesma coisa anualmente mas durava muito mais. Mas é preciso lembrar que ninguém sabe se a oferta do Pacers ainda estava de pé quando o Hornets entrou na jogada, e ainda por cima, tem incentivos para ele pegar a do Hornets mesmo assim: o contrato paga mais nos primeiros três anos, e com o contrato de Charlotte, ele se tornaria free agent aos 27 anos (supostamente no seu auge) e logo depois de um possível novo CBA e novo salto do teto salarial, o que lhe garantiria um contrato maior se tudo desse certo. É um risco, claro, deixar dois anos (e 17M em dinheiro supostamente garantido) na mesa, mas Stephenson está apostando em si mesmo, e apostando (como muitos outros) que em breve o salary cap vai subir muito mais, e que assim ele pode ganhar mais dinheiro daqui a três anos. É uma aposta, mas uma boa aposta. E o Hornets se beneficia com isso. Grande offseason de um time que dois anos atrás era a grande piada da NBA.


"Ei... Você está vendo isso, Yazawa? Encontrei um talento que talvez te supere na quadra..." 

Para uma classe de calouros extremamente divertida e interessante, que inclui quatro potencial Franchise Players (Wiggins, Jabari Parker, Joel Embiid e Dante Exum), uma penca de potenciais All-Stars (Marcus Smart, Elfrid Payton, Aaron Gordon, Julius Randle, Noah Vonleh), Doug McDermott (Doug McDermott), um monte de jogadores interessantes (muitos para listar, mas pense Gary Harris e Nik Stauskas), e até alguns misteriosos jogadores internacionais (Dario Saric, Jusuf Nurkic, Dante Exum mais uma vez).

Eu não vou entrar em detalhes aqui porque já o fiz em duas outras ocasiões: você pode ler meu enorme preview sobre os principais jogadores desse Draft na coluna que escrevi para o Bola Presa, e você também pode ler minhas opiniões sobre cada escolha no nosso Mock Draft retroativo. Tudo que vocês precisam saber está lá. Essa frase é só para mostrar o quão animado eu estou com essa classe de calouros, e francamente, o quão animados vocês DEVERIAM estar com essa classe de calouros. Tem grandes talentos, tem jogadores individualmente interessantes, tem jogadores misteriosos, tem Zach LaVine e Andrew Wiggins dando enterradas impossíveis (e jogarão juntos!!!), tem uma legítima rivalidade entre os dois principais jogadores (Wiggins e Parker)... o que mais você pode pedir dessa classe?! Sente, relaxe, e aproveite.


"Vocês são calouros? O armador do Shoyo também é do primeiro ano. O do Kainan também. Maki e Fujima, sem dúvida Kanagawa vai ser dominada por esses dois"
"Pois lembre bem da minha cara, velho! Daqui a dois anos, eu vou voltar para derrotar esses dois!"

Fujima e Maki são amplamente considerados os dois melhores veteranos de Kanagawa, em parte porque jogam em times grandes que estão todo ano disputando títulos. O grande público acaba deixando jogadores como Akagi em segundo plano porque não jogam em bons times e não ganham nada, embora muitos de seus rivais - inclusive o próprio Maki - considerem Akagi um dos melhores jogadores da província.

O mesmo acontece na NBA. E em particular, eu me pergunto se acontece com Carmelo Anthony. Melo era claramente o segundo melhor free agent no mercado depois de LeBron, e a verdade era que LeBron não ia para nenhum lugar que não fosse Miami ou Cleveland. Então Melo era o melhor jogador que 28 times na Liga tinham esperança de fisgar, e ainda assim, ele acabou ficando em segundo plano para jogadores como Bosh ou Kevin Love, sendo que esse último nem mesmo era um free agent. Então porque Anthony foi tão deixado em segundo plano quando era alguém com muito mais chance de mudar de localidade? É por causa da sua fama (em parte justificada, em parte não) de fominha que não joga para o time? Ou é porque, assim como Akagi, ele joga em um time ruim e não temos a chance de vê-lo jogando nos playoffs?

É uma pergunta legítima, e sem dúvida, o fato dele não ter conseguido levar o Knicks aos playoffs em um fraquíssimo Leste depõe contra ele. Isso é totalmente justo? Em parte não. Ele certamente teve pouquíssima ajuda em New York, em um time sem um técnico ou diretoria competente. Seu time teve um dos piores PGs da NBA em Ray Felton, seu único companheiro que é um bom defensor (Tyson Chandler) perdeu boa parte do ano, e seu time pagou 39M por ano para Amare Stoudamire e Andrea Bargnani jogarem essa temporada, e fazerem coisas como isso e isso. Então ele realmente não teve nenhuma ajuda de seus companheiros.

Por outro lado, alguns podem dizer o papel de uma estrela é justamente carregar nas costas times ruins, especialmente jogando em uma conferência tão fraca como o Leste desse ano - não foi isso que LeBron passou grande parte da sua carreira fazendo no Cavs, ou dadas as devidas proporções, o que Durant fez essa temporada sem Westbrook? É difícil dizer se isso é justo ou não com Melo, afinal basquete não é um jogo individual e, como já foi dito, o seu time era mesmo muito ruim. Ainda assim, o Knicks perdeu a vaga para um time do Hawks que jogou com DEMARRE CARROLL de pivô em alguns jogos. Releia essa última frase.

Claro, isso acaba voltando para um ponto importante, e algo que gera muito dessas dúvidas: Carmelo nunca teve um time bom ao seu redor desde que chegou ao Knicks. Por um lado, ele tem responsabilidade nisso: ele forçou uma troca desnecessária em 2011 quando poderia ter simplesmente ido para lá como free agent, o que custou ao Knicks metade do seu time e valiosos ativos que poderiam ter sido usado posteriormente para reforçar sua equipe. Por outro, não foi ele quem fez erros atrás de erros, incluindo minha sequencia favorita: em 2012, o Knicks optou por não encerrar anteriormente o contrato de Billups, que era não-garantido. Mas logo depois o Knicks começou a namorar com o free agent Tyson Chandler, e para conseguir espaço salarial para ele, tiveram que gastar sua valiosíssima anistia em... claro... Billups, mesmo sendo que a) eles tinha o contrato horrível de Amare atrapalhando todo o time e era mil vezes mais urgente se livrar dele, e b) eles poderiam ter se livrado de Billups sem custo algum duas semanas antes. Não sei se é possível ter sucesso com a diretoria do Knicks, e de fato, Melo não teve.

Esse foi o principal motivo pelo qual tantos - incluindo eu e, ao que tudo indica, seu próprio agente - queriam tanto que Melo deixasse o Knicks e 32M na mesa para ir até Chicago. Era a chance dele finalmente jogar em um time de verdade, competente, com companheiros que o complementariam, e não dependeriam dele para fazer tudo sozinho. A chance de ver o quão bom Melo poderia realmente ser, e a melhor situação possível: um Defensive Player of the Year para proteger suas costas, um dos melhores técnicos da liga, uma segunda estrela para tirar a pressão de suas mãos, bons role players dos dois lados da quadra, e um elenco profundo que poderia jogar COM ele, não atrás dele. Quem sabe imitar o que Dirk fez em 2011 e levar esse time ao título como sua estrela ofensiva.

Mas infelizmente, nós nunca saberemos. Melo aceitou o contrato milionário do Knicks e ficou por lá. Ao invés de ir para uma situação confortável onde poderia brigar por títulos imediatamente e quem sabe mudar o rumo de sua carreira, Melo preferiu ficar e apostar todas as fichas na (remota) possibilidade de que o Knicks consiga atrair várias estrelas com seu espaço salarial nos próximos anos. E quem pode culpar Melo por pegar o dinheiro e continuar jogando na cidade que ele gosta? Eu certamente não jogaria 30M fora se me oferecessem. Melo não tem nada pelo que ser culpado. Mas ele fez sua escolha, e se ele gastar o resto da carreira em times medíocres em NY,  ele ainda vai dormir todas as noites sabendo o quanto sua carreira poderia ter sido diferente. Essa é a pior parte do jogo de "what-if": não saber como o outro caminho poderia ter sido. Nossa perda.


"Esse tipo de lesão pode ser o fim da carreira de jogador... para os simples e comuns (como esse aqui). Mas não misture o gênio com essa ralé!!"

Se você leu essa frase e NÃO pensou em Kobe Bean Bryant, eu não sei qual seu problema. Eu até consigo imaginar Kobe falando isso para alguém enquanto levanta pesos... com o pé enfaixado.

Desde que Kobe rompeu o tendão de Aquiles em 2013, tem sido fascinante acompanhar sua recuperação e especular sobre seu futuro. Nenhum jogador da história da NBA conseguiu se recuperar dessa lesão e retomar seu ritmo - todos viram seu rendimento cair, e em geral encerraram sua carreira em pouco tempo. Ele até voltou a jogar em 2014, mas jogou pouco antes de sofrer uma nova lesão que acabou com sua temporada.

Poderia Kobe ser o primeiro jogador da história a se recuperar dessa lesão? Não é impossível - ele é um maníaco por treinar, e tem acesso a todo tipo de coisa para ajudar que jogadores dos anos 90 para trás não tinham: métodos de treino, tratamento com células troncos, PEDs, etc. Mas as chances estão contra ele, e precisam ter isso em mente.

Mas a pergunta mais relevante aqui é: do ponto de vista estritamente de basquete, faz alguma diferença? É uma pergunta complicada. Seu contrato horrível garante praticamente sozinho que o Lakers não consiga fazer coisa alguma até que ele expire, muito menos montar um time competitivo. O Lakers insiste que quer aproveitar para montar um bom time nos últimos anos da carreira de Kobe... mas eles irão para 2015 com Lin, Kobe, Nick Young, Boozer e Jordan Hill. Se não é o pior time do Oeste, está bem perto, e a não ser que Kobe de repente recupere seu nível de 2006 e carregue o time nas costas até os playoffs. Para o Lakers, de certa forma, não seria melhor se Kobe não voltasse e o time se encontrasse novamente no topo da loteria para buscar jogadores que podem ajudar a equipe na fase pós-Bryant? De certa forma, Kobe é quem está atrasando o Lakers, tanto com seu salário (que impede que o time se reforce) como com sua presença (que faz com que o time tente inutilmente contratar jogadores medíocres para vencer agora ao invés de focar em uma reformulação).

E podem ter certeza que Kobe sabe disso. E vai ser interessante ver como um dos maníacos (no bom sentido) mais competitivos da história do basquete lida com isso, especialmente em um momento onde todos estão praticamente descartando-o para o futuro próximo. Por outro lado, se a realidade finalmente vencer Kobe Bean Bryant, o Lakers pode descobrir que a vida é bem mais difícil sem Jerry Buss.



"Mas se essa fita é do ano passado, quer dizer que vários jogadores já graduaram, certo?"
"É isso ai! Ta ultrapassado, velho!! Mostra algo desse ano!" 

É normal que em Slam Dunk os times estivessem constantemente mudando de um ano a outro - afinal, a competição era colegial apenas, o que significa que os jogadores só faziam parte do time por três anos (sem contar que a grande maioria dos jogadores não jogava no primeiro). A maior parte dos times era formada por veteranos do terceiro ano, que se graduavam e saiam ao fim do ano.

Na NBA, não é tão diferente - os contratos não vão em geral mais do que quatro anos, e a nova tendência é a de contratos menores por causa do novo CBA. Como só um punhado de jogadores são realmente indispensáveis ano-a-ano e até por causa do teto salarial, é comum que times que não tenham ido longe na temporada busquem mudar suas peças, trazer reforços ou se livrar de jogadores velhos que não fazem parte dos planos futuros da equipe. É a natureza do jogo, e se você não é bom o suficiente, a tendência natural é mudar de forma a aumentar suas chances com um novo grupo.

Só que alguém esqueceu de avisar isso para o Toronto Raptors. Ano passado, o time de Toronto foi vítima de uma situação um tanto esquisita: depois de um começo desencorajador, e com uma incrível classe de calouros (com uma estrela canadense) no horizonte, o time decidiu que era hora de vencer seus principais jogadores e entrar em modo de tank. Assim trocaram Rudy Gay para o Kings, mas antes que pudessem trocar também o armador Kyle Lowry, algo estranho e muito incomum em Toronto começou a acontecer: o time começou a ganhar jogos, e jogar realmente bem no processo. E embora o GM Masai Uriji supostamente tenha continuado a tentar trocar Lowry, o time continuou vencendo e logo se estabeleceu como o terceiro melhor do Leste, e por fim, decidiu manter seu time junto e chegar aos playoffs, algo que o time desesperadamente precisava depois de anos de fracasso.

Afinal de contas, tankar tem um preço. Chega um ponto em que perder começa a virar um hábito, e isso pode danificar sua franquia por muito mais tempo. A torcida deixa de acreditar e de ir ao estádio, você não consegue mais atrair free agents, e começa a perder dinheiro fora de quadra. Então não é fácil manter um tank por tanto tempo, e depois de tentar por anos, o Raptors improvavelmente esbarrou em um bom time e uma chance de dar a sua torcida as vitórias que faltavam. E aproveitou a chance, terminando o ano com uma excelente campanha (terceiro no Leste) antes de cair em 7 jogos para o Nets nos playoffs.

Mas ao final do ano, o Raptors tinha decisões a tomar. Kyle Lowry era free agent, e também o eram alguns jogadores do banco da equipe, notavelmente Greivez Vazquez e Patrick Petterson. Tendo caído antes de atingir seu potencial, era um ponto de interesse, ver como o time iria se reforçar para dar o próximo passo em 2015.

E Toronto optou por se reforçar não mudando nada. Abriu o cofre (48M, 4 anos) para Lowry, e overpaid um pouco seus bons reservas. Esses jogadores valiam o que receberam? Com exceção de Lowry, provavelmente não. Mas depois de ficar tankando tantos anos sem conseguir sua estrela, o Raptors achou que valia a pena pagar um pouco a mais para manter junto esse time, o primeiro time vencedor da franquia em anos. O time tinha excelente entrosamento e as peças se encaixaram muito bem, e ainda tem espaço para evoluir: DeMar DeRozan ainda é um jogador jovem que mostrou grande evolução em 2014, Terrence Ross ainda está no seu segundo ano, e Jonas Valanciunas tem condições de ser uma estrela, mostrando grande evolução ano a ano. Uriji apostou em continuidade e no entrosamento de um time que, mesmo sendo "montado" (na falta de um termo melhor) as pressas durante a temporada 2014 depois da troca de Rudy Gay, ainda rendeu muito bem junto. E além disso, é o que eu já disse: muitos times estão farejando um Leste extremamente aberto, especialmente se algo der errado com o Cavs de LeBron, e isso oferece um incentivo a mais para qualquer bom time do Leste de arriscar um pouco mais no curto prazo.

O lado negativo, claro, é que para manter seu time junto o Raptors precisou gastar o espaço salarial que lhe restava apenas para manter seus jogadores por perto, a um custo alto - perdendo assim a chance de usar esse espaço salarial em um veterano ou free agent de impacto para tentar jogar seu time para o próximo nível de fora para dentro. O time trouxe Lucas Nogueira e Bruno Caboclo, mas ainda assim, é difícil ver algum impacto desses jogadores tão crus no curto prazo - devem dar alguma profundidade, mas em geral passar o ano na D-League se desenvolvendo. A limitação salarial que o próprio time se impôs também pode pesar no futuro, já que agora a equipe está "presa" a esses jogadores.

Claro, é um trade-off: Uriji optou por manter junto um núcleo jovem que já teve sucesso jogando junto, e que ainda tinha espaço para crescer, do que arriscar uma contratação ou movimentação de impacto maior com esse espaço salarial que poderia nunca vir, e que custaria estabilidade ao primeiro bom time de Toronto em anos. Foi uma escolha corajosa, e vai ser interessante ver como esse núcleo jovem e talentoso evolui em um Leste cada vez mais aberto. Para a torcida do Raptors, acostumada a derrotas e fracassos, a decisão de Uriji é um grande alívio.



"É melhor tomar cuidado com esses caras... eles são perigosos.
Hanamichi Sakuragi...
Yohei Mito...
E os outros..."
"Quer parar com essa m... de 'os outros'?!"

Do outro lado, temos um time que está muito próximo de um título e já tem uma das melhores bases do basquete na atualidade, mas que insiste na mediocridade. Nos últimos anos, a filosofia do Thunder parece ser exatamente essa: Kevin Durant, Russell Westbrook, Serge Ibaka... e os outros.

Claro, esse é de longe o melhor núcleo da NBA. Durant é o atual MVP, um jogador historicamente excepcional e o melhor jogador não chamado "LeBron" da liga (e a distância vem caindo); Ibaka se tornou uma enorme ameaça dos dois lados da quadra com seus tocos e seus bons arremessos; e Westbrook é um dos jogadores mais destrutivos da liga. É um fantástico grupo para construir seu time ao redor, e enquanto tiver esses três All-Stars, o Thunder vai eternamente competir por títulos.

O problema aqui é que, com esse núcleo, você quer colocar ao redor desses jogadores o máximo de talento possível: um ou dois mid-level free agents, alguns veteranos úteis, algumas contratações ousadas. Mesmo o Heat não conseguiu vencer com apenas seu Big Three, trazendo depois Battier, Ray Allen e Birdman (entre outros) para conseguir chegar ao título. Você tem que ser ousado, tem que arriscar, e tem que estar disposto a gastar.

E é exatamente isso que o Thunder NÃO está fazendo com seu núcleo desde a fatídica troca de James Harden. Não vou mais insistir falando dessa troca - todo mundo sabe, o Thunder teve a chance de manter aquele que virou um dos 10 melhores jogadores da NBA e o trocou por migalhas - mas essa troca já foi amplamente comentada e criticada, então me permitam olhar isso por outro ponto de vista. O Thunder teve a chance de manter suas quatro estrelas juntas - Harden estava até aceitando ganhar menos que o máximo sob algumas circunstâncias - se comprometesse uma boa parte do seu espaço salarial com elas, e como manter Harden sem um contrato máximo exigiria uma no-trade clause (ou um trade kicker), seria muito difícil mudar de direção e abrir esse espaço posteriormente. Em outras palavras, o Thunder trocou a chance de manter seu núcleo espetacular e juntar três dos 10 jogadores da NBA (mais um eterno candidato a Defensive Player of the Year) para poder ter flexibilidade salarial indo para frente.

O problema é que, apesar de ter sacrificado tanto para ter mais espaço e flexibilidade salarial, o time se recusa a usá-la de qualquer maneira. Eles optaram por não usar sua anistia em Kendrick Perkins, que daria mais alivio salarial do que Harden no curto prazo. E apesar de ter evitado que o contrato do barbudo entrasse na folha salarial, o time se recusa a gastar esse valor em outro lugar, ou mesmo parte dele, para aumentar a qualidade dos coadjuvantes e suas chances de título. O Thunder continua mortalmente assustado pela luxury tax e se recusa a contratar jogadores, e o resultado é que cerca seu núcleo de jogadores medianos, jovens em contratos de calouro, ou jogadores que já passaram em muito do ponto. Quer dizer, Derek Fisher - 39-YEAR OLD DEREK FREAKING FISHER!!! - jogou 17 minutos por jogo na temporada regular e 16 nos playoffs, um jogador que arremessou 39% na temporada regular e 31% nos playoffs, não defende, passa ou cria seu próprio arremesso e que foi extremamente atacado pelo Spurs nas Finais do Oeste (OKC foi +3 pontos/100 posses nos playoffs sem Fisher e -6 pontos /100 posses com ele em quadra). O time tem alguns bons jogadores de rotação, mas tirando Reggie Jackson, nenhum não-Big Three de lá é o tipo de jogador que você quer ter como peça chave de uma equipe. OKC se recusa a gastar dinheiro, jogando tudo nas costas de seu Big Three ao invés de gastar e montar um bom time.

Claro, o Thunder ainda vai brigar por títulos todo ano nas costas de Durant, West, e Ibaka. Mas "chances de título" não é uma variável binária, cuja resposta é "sim" ou "não". Você pode aumentar ou diminuir suas chances de título de acordo com vários parâmetros. San Antonio e Indiana eram ambos times com "chances de título" em 2014, mas ninguém diria que ambos tinham a mesma chance de serem campeões, por exemplo. Então você pode ser candidato ao título mesmo sem investir nada, mas você pode aumentar em muito suas possibilidades se estiver disposto a pagar o preço. O Thunder não está com essa disposição, e se continuar apostando em Reggie Jackson como seu ÚNICO jogador com PER acima da média fora do Big Three (sério), possivelmente vai continuar morrendo na praia e, quem sabe, vai ver Kevin Durant ou Russell Westbrook mudar para um time que ESTEJA disposto a dar a eles uma chance melhor de título. É possível ganhar um título só com os três, mas estão tornando isso cada vez mais difícil.

Além disso, qual a vantagem de comprar um time de NBA se você não vai gastar dinheiro para ele ser campeão? E enquanto estamos no assunto, se está tão preocupado com sua saúde financeira, por que mudar o Sonics de um mercado razoavelmente grande para um tão pequeno quanto Oklahoma City? Um dono ruim pode ser a ruína de qualquer time, e se OKC perder Durant em 2016, não vai ser muito difícil achar o motivo.


"Você quer as fotos, não é mesmo?"
"Quero sim!"
"Então entre para o time de judô!"
"Não quero"
"Mas você não quer as fotos?!"
"Quero"
"Sabia. Então você vai entrar para o time?"
"Não quero"

Um dos diálogos mais aleatórios da série (Aota tentando convencer Sakuragi a abandonar o basquete e lutar judô) vai para um dos momentos mais aleatórios da offseason: a Restricted Free Agency valendo como um bilhete premiado de loteria para alguns (Gordon Heyward, Chandler Parsons) ou uma passagem só de ida para o ostracismo para outros (Eric Bledsoe, Greg Monroe). E o que é pior, os jogadores realmente estão levando para o lado pessoal quando os times usam isso para negociar salários!

Com o novo CBA, mais do que nunca, a RFA virou uma faca de dois gumes. Se você for um jogador  mid-tier cobiçado (especialmente se for de uma posição carente, tiver alguma habilidade muito cobiçada, ou ambos), os times interessados sabem que terão que fazer uma proposta muito mais cara do que o normal para forçar o time original do jogador a não igualar a oferta, o que garante contratos máximos ou simplesmente muito inflados para jogadores como Heyward ou Parsons, jogadores de perímetro com jogos bem avançados e completos. Nesse caso, o CBA serve para fazer esses jogadores serem pagos como estrelas que não são. Do outro lado, jogadores de posições mais profundas ou com claros problemas fazem times pensar duas vezes, já que eles precisariam fazer uma proposta acima do normal para "forçar" a saída desses jogadores, mas nenhum deles quer realmente ter que pagar um salário tão caro para um jogador limitado (no caso de Monroe, ele não defende, e no de Bledsoe, ele é um PG, a posição mais profunda da NBA). E ai, esses jogadores não conseguem ser pagos como gostariam ou mesmo como deveriam. E ai que tem começado o problema.

Claro, no final funciona para alguns e não para outros - apesar de toda a novela e a frustração, Bledsoe garantiu um gordo contrato de 70M/5 anos, um pouco mais do que o Suns poderia pagar dada sua maior força nas negociações, mas que alguns veem como uma manobra de Phoenix para melhorar sua imagem com free agents ao redor da liga. Enquanto isso, Monroe ficou irritado com as ofertas não-máximas que recebeu, e optou por jogar 2015 em um contrato qualificatório de um ano antes de virar free agent irrestrito daqui a um ano - uma grande perda para o jogador, que ganhará menos agora e provavelmente daqui a um ano também. Interessante ver como as novas regras salariais afetaram os RFA, e como os times e agentes estão se adaptando a isso. Sem falar que adiciona um tempero extra a tomada de decisões das equipes: vale a pena usar seus direitos, mas acabar com sua relação com seu jogador no processo? E se você não usar sua vantagem nos negócios e dar mais dinheiro aos seus jogadores, será que outras pessoas ao redor da NBA verão sua equipe como um lugar que valoriza mais seus jogadores? Conforme os times e os agentes vão se acostumando a essa nova realidade, mais e mais a RFA passa a ser ao mesmo tempo uma ótima ferramenta de negociação e possivelmente uma cilada, dependendo de qual a situação na qual você se encontra.



"Desde que comecei nesse trabalho, achei que tinha desenvolvido um olhar clínico para o basquete... mas confesso que nunca vi um jogador como esse Kawata"
"Olhar clínico, sei... então me diz, o que o Kawata tem?"
"Ah, é que ele é grandão e bom de bola"
"Grandão e bom de bola!?"

Desde que Blake Griffin chegou na NBA, ele chamou a atenção do mundo com seus rebotes, números absurdos, e principalmente, suas enterradas fora de série. Foi campeão de enterradas como calouro pulando por cima de um carro (!!), deu uma enterrada antológica em cima do pobre Timofey Mozgov, e só Dwight Howard terminou 2011 com mais cravadas que o calouro do Clippers. Por um lado, isso foi ótimo - ele era um dos calouros mais divertidos de assistir da minha vida, e todo mundo adora boas enterradas. Por outro lado, justamente por ser tão fantástico dando enterradas, ele ganhou uma fama falsa e depreciativa: a de jogador que só sabe enterrar, e só vive da habilidade atlética.

Essa foi uma das piores e mais irritantes "histórias fabricadas" da NBA nos últimos anos. E era particularmente ridícula para quem de fato assistia Blake Griffin jogar: ele era o tipo de monstro forte o suficiente para destruir seres humanos no seu caminho em enterradas mas habilidoso o suficiente para te vencer longe dela, com um domínio de bola excepcional, boas opções de ataque perto do aro e um dos melhores reboteiros ofensivos da liga... e mais importante, sendo um dos melhores passadores da NBA inteira. Desde que entrou na NBA na temporada 2010/11, nenhum jogador de garrafão tem mais assistências que as 1130 de Blake Griffin. Entre não-guards, Griffin é o quarto desde então depois de LeBron, Iguodala e Durant. Entre todos os não-PGs, Blake é o oitavo. Então falar que Griffin "só sabia enterrar" era de uma ignorância sem tamanho.

Mas a narrativa persistia, porque narrativa é um lixo. Não ajudou que Griffin pouco evoluiu do seu jogo ao longo dos dois anos seguintes, embora possa ser dito que um jogador capaz de ter 23-12-4 de média como calouro já está mais do que bom. E assim, Griffin continuou sendo um dos melhores jogadores da NBA, agora com CP3, mas sempre preso a esse rótulo depreciativo que impedia que realmente o apreciássemos.

Mas em 2014, essa narrativa foi finalmente morta, enterrada e deixada para apodrecer em seu lugar. Griffin teve a melhor temporada da sua carreira, de longe, com 24 pontos, 10 rebotes, 4 assistências e 52% nos arremessos, mas o que foi tão impressionante nessa temporada não foram apenas seus números, mas sim o que ele estava fazendo para conseguí-los. Seu arsenal ofensivo mostrou uma variação incrível que não estava lá antes: seu arremesso de meia distância melhorou (37%), ele chutou 44% em um número limitado em bolas de três da zona morta, e manteve seu aproveitamento surreal perto do aro (70%). Além, ele conseguiu acabar também com o estigma de que não era um bom jogador de costas para a cesta: em 2014 ele arremessou excelentes 47.5% em jogadas de post up, anotando 0.95 pontos por posse de bola, uma das melhores marcas da NBA. Então a falsa premissa de que Griffin só sabia enterrar ofensivamente foi pelo espaço quando ele mostrou esse arsenal muito mais completo e agressivo, sendo frequentemente a primeira opção ofensiva da equipe e sofrendo com marcações duplas e até triplas o tempo todo, e mesmo assim tendo sua melhor temporada ofensiva.

Mas talvez mais importante do que isso, Griffin foi forçado a assumir o papel de Alpha Dog do time quando Chris Paul se machucou, e muitos acharam que o Clippers iria cair no Oeste. Mas não: eles venceram 12 dos seus 18 jogos sem Paul superando os adversários por 6.1 pontos por 100 posses (a mesma marca de Miami na temporada regular). Nesse período, Griffin foi o centro das atenções e do time, fazendo de tudo (até começando jogadas como se fosse um armador, no topo do garrafão), enfrentou marcações triplas todas as noites e foi o único All-Star da equipe, e brilhou com 28-8-4.5 e 55% de aproveitamento apesar de tudo. Ele foi tão bom que, até quando CP3 voltou, o time continuou funcionando em torno dele. Foi a temporada perfeita para Blake, em termos de narrativa: sua melhor temporada individual, a mais variada em termos de repertório, manteve o Clippers funcionando perfeitamente sem CP3, e até assumiu de certa forma o papel de Alpha Dog ao final do ano mesmo com o armador de volta. Ao final do ano, era inegável que Blake Griffin tinha sido o terceiro melhor jogador da temporada. E graças a Deus, podemos enfim parar de falar que ele só sabe enterrar.

Outro aspecto importante? Talvez essa lesão de CP3 e a ascensão de Griffin como líder do Clippers pode ter um impacto ainda maior do que o normal, porque...


"Falando assim parece que o Fujima vem trilhando um caminho de sucesso, mas na verdade... ele nunca chegou a ser campeão. Tudo por causa do monstro Maki, o rei do colégio Kainan. Ele que o superou, por quatro vezes seguidas."

Depois de mais um final de temporada relativamente decepcionante para o Clippers de CP3, e com Chris Paul tendo jogado mais um ano sem nunca atingir uma final de conferência, voltou a ficar popular o debate sobre se Chris Paul não é, secretamente, overrated.

Claro, o argumento central a favor é simples, e estúpido: CP3 nunca chegou a uma final de conferência, então ele não é tão bom. Isso é ridículo, você não pode estabelecer um parâmetro arbitrário e dizer que só porque o jogador não esteve em um time que chegou até esse ponto, então o jogador não é bom o bastante.

Mas isso não quer dizer, por outro lado, que CP3 seja um jogador perfeito que só foi atrasado pelos companheiros. Individualmente, ele é um fantástico jogador (talvez o terceiro melhor da NBA) e o melhor armador do mundo, mas ele tem um problema, que acontece frequentemente a grandes armadores jogando em times ruins (o melhor exemplo da história da NBA talvez seja Oscar Robertson, embora por motivos diferentes): ele está acostumado demais a resolver tudo sozinho.

Quando você é um grande armador em um time ruim (como CP3 era no Hornets), você tem uma responsabilidade anormal de carregar seu time o tempo todo. Tudo depende de você, cada jogada precisa que você participe, e o time não vai ganhar a não ser que você concentre tudo nas suas mãos e faça tudo acontecer por conta própria. Mas isso cria uma certa mentalidade no jogador, a de que depende de você fazer as coisas acontecerem, que o time está sempre rodando ao seu redor e você que é a diferença entre o time ir bem ou não. E isso é uma mentalidade que muitos jogadores não conseguem se livrar depois.

Quando falamos em um jogador de basquete egoísta, as pessoas pensam imediatamente em arremessar demais e passar de menos, e apontam para arremessos por jogo e/ou assistências por jogo. Mas no fundo, isso também é uma forma de egoísmo, querer resolver sempre os jogos da sua maneira. Esse foi CP3 quando se mudou para Los Angeles: excelente como sempre, faz coisas com uma bola que ninguém mais faz, mas alguém que estava sempre querendo jogar e resolver tudo da sua maneira, que o time jogasse ao seu redor para ele decidir tudo (quando arremessar, quando passar, como jogar, etc) o tempo todo. Ele estava acostumado demais a ser assim em New Orleans, e não conseguiu se adaptar quando chegou a um time bom de verdade.

E isso foi algo que, a meu ver, sempre atrapalhou o Clippers um pouco. Não que eu, em qualquer momento, ache que o Clippers fosse ser melhor sem CP3. Longe disso, se o Clippers chegou aonde está é por causa dele (e de Blake). Eu só achava que era algo que impedia a equipe de dar o próximo passo. Ele jogava com essa mesma mentalidade de NO, mas não era tão bom para o Clippers - lá ele tinha mais jogadores de alto nível que poderiam (e as vezes queriam) jogar do seu estilo preferido, no estilo que eles também poderiam tirar o máximo de suas habilidades, mas Paul estava sempre controlando tudo, jogando da forma que ELE achava melhor, da forma que ELE poderia tirar o máximo das SUAS habilidades. E não é assim que basquete funciona. Para um time atingir o máximo de sua capacidade todos os jogadores precisam estar na mesma página, todos terem seu papel e poderem jogar a vontade, e é função dos principais jogadores da equipe, justamente por serem melhores, assumirem um papel que permita aos coadjuvantes brilharem dentro de suas capacidades mais limitadas. Essa foi uma lição que CP3 não entendia, queria continuar fazendo tudo do seu jeito, e que atrapalhava o Clippers.

Por isso digo que essa lesão, e a subsequente boa seqüência do time e de Griffin, pode ter sido a melhor coisa a acontecer com o Clippers. Talvez seja o que CP3 precisava para entender que ele não deve ser sempre o ponto central do time, que ele deve confiar mais nos seus jogadores. Talvez agora ele finalmente vá começar a jogar mais para tirar o máximo de seus companheiros do jeito DELES, não do seu. Talvez Blake Griffin assuma agora o papel de Alpha Dog da equipe. Não sei dizer. Mas se CP3 conseguir corrigir essa falha "coletiva" do seu jogo e começar a jogar mais da forma que o time precisa, não da forma como ele acha que deve, o Clippers vem mais perigoso do que nunca para 2015.



"O que acha dele como arremessador, Jin?"
"Ele é muito bom. Está arremessando em um ótimo ritmo e não parece ter a menor chance de errar. Parece o tipo de jogador que começa a acertar e não para mais... assim como eu."

Só um parênteses para falar de um de meus jogadores favoritos, Steph Curry.

A essa altura, a fama de Curry como um dos melhores jogadores da NBA e uma verdadeira estrela já está consolidada, sem dúvida. Ainda assim, acho que poucas pessoas percebem o quão realmente única foi a temporada 2014 de Stephen Curry. Ele sempre teve fama como um grande arremessador, e essa fama só aumentou nos últimos anos, quando ele finalmente esteve saudável e arremessou 45% e 42% 3PT mesmo tentando mais de 7 bolas de três por jogo. São números quase obscenos, especialmente considerando que não é apenas acertas bolas de três, e sim acertar bolas de três de altíssimas dificuldade: step back, em movimento, saindo do drible ou de uma screen, pull up, etc. Manter um dos melhores aproveitamentos mesmo arremessando a maior parte das bolas a partir do drible é inacreditável.

Mas que Steph Curry era o melhor arremessador do basquete a gente já sabia. O que tornou sua temporada 2014 tão mais especial não foi só o que ele fez pontuando e chutando a bola, mas sim o quanto seu jogo se expandiu. Curry começou a usar os espaços que seus arremessos geram para achar mais do que nunca seus companheiros com passes, funcionando como verdadeiro armador e criador de jogadas para complementar suas incríveis habilidades como pontuador - seu passe de canhota a partir do pick and roll é uma das coisas mais bonitas da NBA, e muito eficiente. Ele deu assistência em quase 40% das suas posses em quadra, e sua média de assistências por jogo subiu de 7 para 8.5 por jogo, quinta melhor marca da temporada 2014.

Ter um jogador do calibre de Curry sempre é ótimo, mas hoje em dia, é ainda mais valioso do que parece a primeira vista. No basquete moderno, o mais importante para qualquer ataque do mundo é espaçamento, ser capaz de abrir defesas e força-las a deixar espaços, espaços nos quais as equipes podem passar mais livremente, infiltrar e atacar a cesta, e torna mais difícil marcar todos os jogadores ao mesmo tempo, de forma que alguém sempre fica livre. É a base de qualquer bom ataque moderno. Então nesse caso, ter um jogador como Curry - que precisa ser mercado a partir do momento que passa do meio da quadra - é um ativo fenomenal. Jogadores que conseguem arremessar com a velocidade e precisão de Curry possuem um campo gravitacional próprio para defesas - sempre que eles se movem, não é apenas o marcador correspondente que precisa acompanhar, toda a defesa vai dar um passo a mais para perto dele, de forma que o arremessador não tenha espaço de nenhum lado para soltar o arremesso, independente de onde estiver seu marcador. Isso obviamente é muito importante, porque isso força a defesa a se mover muito mais do que o normal, dobrando a defesa com seu deslocamento e dando todo tipo de espaço para os demais jogadores do ataque.

E claro, a presença de um arremessador desse calibre já é capaz de fazer esse tipo de estrago, mas o que torna Curry um jogador tão mortal é que ele vai muito além disso. Fora da bola, ele consegue trazer esse campo gravitacional individual melhor do que qualquer jogador da NBA, mas com ela ele também aprendeu a usar isso muito bem, especialmente no pick and roll. Quando um big man faz a screen para Curry e lhe da espaço na linha dos três pontos, Curry tem total condições de acertar qualquer bola de três que chutar. Isso obriga seus marcadores a marcá-lo muito de perto - os PGs que o defendem não podem ir por trás de uma screen senão Curry faz chover, então eles precisam acompanhá-lo por cima da screen, e o homem de garrafão que está defendendo quem faz a screen precisa ir mais longe do que gostaria para tirar o espaço do armador... só que Curry é um excelente ballhandler, e pouquíssimos pivô indo na sua direção seria capaz de acompanhá-lo quando ele decide mudar de direção e velocidade. Isso também deixa um espaço enorme atrás dos defensores, que quem fez a screen pode usar para ficar livre perto da cesta. Isso por sua vez atrai outro defensor, deixando algum outro jogador livre, e Curry é um passador muito bom capaz de aproveitar todos esses espaços para achar seus jogadores e fazer a bola rodar.

Em outras palavras, não é só por acertar muitos de seus arremessos que Curry faz a diferença, mas sim todo o seu conjunto de habilidades que força a defesa a se desdobrar muito mais do que o normal em sua direção, deixando espaços que a equipe se aproveita para rodar a bola e achar cestas ou arremessos fáceis. Não é a toa que, com ele em quadra, o Warriors anotou 109.7 pontos por 100 posses de bola em 2014 - uma marca que lideraria a NBA - mas com ele no banco o Warriors anotava apenas 95 por 100 posses, marca que seria a pior da NBA por muito, abaixo até mesmo do Sixers. Curry tem um impacto imenso no jogo só por estar em quadra, e isso faz dele um dos jogadores mais importantes e de maior impacto da NBA.

Para colocar me contexto o quão espetacular foi a temporada 2014 de Stephen Curry, considere o seguinte: Curry terminou o ano com 24 pontos, 8.5 assistências, e 4 rebotes por jogo, arremessando 47% de campo, 42.4% de três, e 88.5% de lances livres. Considere:

a) Os únicos jogadores da história da NBA a ter uma temporada com 24-8-4 (min. 67 jogos) são Oscar Robertson, Wilt Charberlain, Gary Payton, Jerry West, LeBron James, Michael Jordan e agora Stephen Curry. Só LeBron, Curry, Jordan e Payton fizeram na era dos 3 pontos, e só Curry chutou acima de 35% de três.
b) Nenhum outro jogador da história da NBA alguma vez teve uma temporada com 45% de aproveitamento nos arremessos e 44% nos arremessos de três tentando pelo menos 6 arremessos de três por jogo. Stephen Curry tem isso de MÉDIA na CARREIRA.
c) Stephen Curry se tornou o quinto jogador da história da NBA com uma temporada de 21+ pontos e 42% de 3PT%. Os outros? Bird, Nowitzki, Peja Stojakovic e Ray Allen. Só Bird e Curry tiveram mais que 5 assistências por jogo.
d) Ele é um dos dois únicos membros do clube de jogadores a conseguir 45 FT%, 45 3PT% e 90 FT% em uma temporada qualificada (como fez em 2013). O outro é Steve Nash.

Caso você não tenha entendido, Stephen Curry teve uma temporada histórica tanto do ponto de vista da produção (pouquíssimos na história da NBA - e todos Hall of Famers - igualaram seu 24-8-4) como de eficiência nos arremessos. Ele manteve números inigualáveis nos arremessos apesar de tentar mais arremessos de três do que qualquer jogador, e arremessos mais difíceis do que qualquer jogador, sem falar em todas suas responsabilidades como ballhandler principal da equipe. Ele é uma legítima estrela, e o tipo de jogador que sozinho é capaz de fazer todo um ataque funcionar de forma brilhante simplesmente porque os adversários não conseguem deixá-lo livre por um segundo. Stephen Curry não é um dos, digamos, três melhores jogadores da NBA, mas não é absurdo pensar que, saudável, ele é um dos três jogadores mais importantes (em termos do quanto afetam o jogo quando estão em quadra) da NBA.



"Se jogássemos amanhã, estaríamos apenas nos envergonhando. Tayou precisa se reconstruir desde o primeiro bloco. Sendo assim, o jogo contra os americanos é cedo demais para nós"
"Mas isso significa que é cedo demais para a gente também..."
"Não tem problema. Nós não vamos ferir nosso orgulho porque nós nunca tivemos nenhum!"

Ok, ok, eu estou trapaceando - essa frase não é de Slam Dunk. Na verdade ela é de Eyeshield 21, uma das (muitas) frases sensacionais que o Hiruma tem ao longo da obra. Mas como ela é sensacional, e como eu queria "homenagear" o Sixers nessa coluna de alguma forma, essa era de longe a frase perfeita para isso.

Eu acho que a NBA nunca viu um projeto de tank tão forte quanto o Sixers dos últimos dois anos. Depois da desastrosa troca por Andrew Bynum, que praticamente assassinou a equipe que vinha até que bem no Leste, o Sixers decidiu chutar o balde e trocar todo e qualquer jogador capaz de jogar basquete competentemente. Foi praticamente um saldão de verão, e no final, sobraram apenas três veteranos minimamente competentes: Thaddeus Young, Evan Turner e Spencer Hawes... sendo que esses dois últimos foram rapidamente trocados por três escolhas de segunda rodada antes da trade deadline. Não foram trocas que o Sixers fez para ganhar ativos, e sim para se livrar de jogadores que poderiam tornar a equipe um pouco melhor.

Mais impressionante do que a forma como o Sixers rapidamente se livrou de todos seus jogadores competentes foi a forma como a equipe evitou ao máximo trazer de volta QUALQUER tipo de jogador que pudesse tornar a equipe melhor. Eles gastaram sua principal escolha de primeira rodada (#6, via Pelicans) trazendo um jogador que ia ficar de fora toda a temporada (Nerlens Noel), e não gastaram um centavo para trazer qualquer jogador útil na free agency, enchendo seu elenco de jogadores que ninguém mais queria, como Tony Wroten, James Anderson, e Brandon Davies (mais conhecido como "o cara do time de BYU do Jimmer Fredette que foi suspenso por engravidar uma jogadora do time de vôlei"). O Sixers acabou o ano com folha salarial de 44M, 12 milhões ABAIXO do piso salarial do novo CBA, se tornando o primeiro time da história a ter que pagar dinheiro por estar tão abaixo do nível estipulado.

Claro, a idéia do Sixers é muito simples: as regras da NBA te incentivam a ser ruim, o máximo que você puder. É muito difícil vencer na NBA sem uma estrela, e se você não tem uma, a melhor forma de consegui-la é sendo o pior possível para ter boas escolhas de Draft e aumentar suas chances de conseguir uma estrela. Além disso, enquanto isso, você está recebendo dinheiro de times que pagam multa salarial enquanto paga o mínimo possível - uma opção muito melhor do que estar preso naquele limbo onde você não tem flexibilidade salarial ou talento suficiente para subir e competir pelo título, nem é ruim o suficiente para ter boas escolhas de Draft. Enquanto as regras incentivarem, times continuarão fazendo isso.

E o Sixers teve algum sucesso na empreitada: eles foram horríveis a temporada inteira, inclusive quebrando o recorde para mais derrotas seguidas da história da NBA. Eles tiveram o pior ataque (por muito) e a quarta pior defesa da temporada, terminando em último em eficiência dois pontos inteiros acima do segundo colocado Bucks. Mas ainda assim, não conseguiram uma escolha Top2 no Draft, ficando com a terceira. E claro, não se contentaram com apenas um ano de tank: eles ainda não contrataram nenhum jogador razoável na free agency, e trocaram o seu melhor jogador (Thad Young) para ficar ainda pior. Eles também gastaram ambas suas escolhas de Draft em jogadores que - pasmem! - não jogarão um minuto sequer essa temporada: Joel Embiid era considerado por muitos (eu!) o melhor jogador do Draft mas deve perder o ano todo por lesão, e Dario Saric é um ótimo jogador que deve ficar mais dois anos (pelo menos) na Europa. A folha de pagamento do Sixers para esse ano está apenas em 41M, de novo 15M abaixo do mínimo possível. É um esforço incrível para ser ruim, de novo jogar o pior e mais ridículo basquete da liga, e tentar enfim pegar uma estrela no Draft.

Tank deveria existir, ou mesmo ser permitido? Esse é o debate da vez. Do ponto de vista do time, eu não vejo o menor problema. As regras da NBA não só permitem como incentivam esse tipo de comportamento, e enquanto for assim, essa continuará sendo a estratégia principal de times para tentar se reerguer (especialmente porque, sendo projetos de média e longa duração, oferecem ao GM da equipe uma mais longa estabilidade no emprego).

Mas para a NBA, e para os torcedores, o tank tem que ser combatido. De forma resumida, o tank enfraquece o produto que a NBA está vendendo. Times como Philly, que estão fazendo o possível para colocar em campo um time ruim, fazem cair a qualidade dos jogos da liga, diminuem o interesse da torcida em assistir e consumir produtos da liga, e por ai vai. É prejudicial para a NBA que times tão ruins assim estejam jogando e piorando a qualidade dos jogos. E como tal, precisa ser combatido.

A melhor forma para combater o tank é diminuir drasticamente os incentivos que cada equipe tem para perder através do Draft - ou seja, diminuir as chances de um time ruim conseguir uma escolha alta - e aumentar os incentivos para os times que se dedicam e investem em times de verdade para tentar chegar nos playoffs. Eu já dei as minhas sugestões sobre o assunto, e muitas outras estão por ai caso você procure, e o assunto ganha força a cada semana - é possivelmente o próximo grande desafio da gestão Adam Silver. Mas parabéns ao Sixers por desgraçar o esporte e seus torcedores dessa forma ao ponto de fazer mais pelo avanço dos debates anti-tanking em meia temporada do que o David Stern fez nos 10 últimos anos de seu mandato.


"Hisashi Mitsui! Vim do ginásio Takeishi! E a minha meta... é conquistar o título nacional para o colégio Shohoku!!"

"Se eu não mostrar serviço agora... terei sido apenas um grande otário"

Isso ai, DOIS quotes do melhor personagem de Slam Dunk para LeBron James e o momento mais importante da NBA desde a fatídica The Decision: o King está de volta em Cleveland.

A decisão de LeBron de voltar a Cleveland fecha, por assim dizer, o seu ciclo pós-The Decision. Depois de uma das mais insensíveis e estúpidas idéias da história do basquete (anunciar na TV sua saída em um especial de duas horas se auto-endeusando), LeBron foi para Miami e logo foi pintado como uma espécie de vilão do basquete, a superestrela covarde demais para carregar um time nas costas e o cara cruel que humilhou a própria torcida em rede nacional (essa é a percepção, não a realidade). E por algum motivo (provavelmente por ser uma estrela desde os 13 anos que nunca tinha enfrentado adversidade na carreira) ele não estava preparado para esse tipo de pressão e ódio vindo de todos os lados, e a solução que ele encontrou foi se fechar em si mesmo e simplesmente assumir a identidade que a mídia tentava lhe forçar, a de um vilão. Logo ele estava provocando adversários, saindo do seu caminho para dar enterradas na cabeça das pessoas, dando declarações polêmicas e em geral jogando para mostrar algo para quem via de fora, não para seu próprio time ou para si. Essa  triste seqüência acabou culminando nas Finais de 2011, uma das piores e mais decepcionantes séries de um jogador desse nível, quando LeBron lentamente foi afundando, jogando a responsabilidade para os outros, e em geral sendo péssimo a partir do G4.

Claro, todo mundo conhece o final feliz dessa história. Depois dessa humilhação histórica, LeBron pareceu retomar o seu jeito anterior. Ele reconheceu que tinha ficado obcecado demais pelas críticas e deixado de jogar o basquete que ele gostava, e voltou a jogar basquete para seus companheiros, como fazia em Cleveland. Ajudou que Miami finalmente cercou seu Big Three com role players úteis (em especial Shane Battier), e o resto é história: LeBron enfim atingiu seu inigualável auge nos playoffs, com três dos mais espetaculares jogos da história dos playoffs (G6 vs Boston, G4 e G5 das Finais) e seu primeiro título, atingindo um nível de dominação que a NBA não via desde Jordan. Ele repetiu isso com mais um MVP e mais um título em 2013, e mesmo sem um título em 2014 por conta do Spurs, serviu para LeBron chegar a sua quarta Final de NBA consecutiva. Pode não ter sido "not one, not two, not three, not four..." como ele disse em sua chegada a Miami, mas dois títulos e quatro Finais de NBA em quatro anos é um enorme sucesso para qualquer time (que não tenham Bill Russell).

Ironicamente, o ciclo de LeBron em Miami se encerrou pelo mesmo motivo que começou. James pode falar o quanto quiser sobre como seu coração sempre esteve em Cleveland, com ele queria voltar para casa, como ele se sentia em dívida com Ohio, como agora ele percebia coisas que não percebia em 2010... mas a verdade é que LeBron deixou Miami pelo mesmo motivo que deixou Cleveland. Depois de quatro anos, LeBron estava mais uma vez tendo que carregar sozinho um time que pouco estava lhe oferecendo de ajuda, que tinha chegado ao seu limite. Ele precisava jogar o tempo todo em quinta marcha, fazer tudo em quadra e jogar por todos seus companheiros juntos, um problema que ficou extremamente exposto nas Finais, quando o Spurs jogou seu melhor basquete e ninguém no Heat foi remotamente capaz de ajudar a parar o sangramento. Com o Spurs comemorando seu título, não consigo imaginar que LeBron não tenha lembrado da situação que se encontrava em 2010, do lado perdedor, tendo que jogar sozinho para um time que não lhe oferecia quase nenhuma ajuda. A janela que ele tanto lutou para criar em Miami parecia estar se fechando, quando o time atingia seu limite, e assim era hora de encerrar seu ciclo e voltar para casa.

LeBron anunciou sua volta para casa em uma linda carta, muito humilde, bem diferente do espetáculo egocêntrico que fez quando saiu de Cleveland. E embora eu tenha certeza que os principais motivos para sua saída de Miami são os explicados no parágrafo anterior, eu também não acho que LeBron em nenhum momento mentiu na sua carta. Sempre achei que LeBron planejava voltar para Ohio, e que ele sabia exatamente a importância de ganhar um título para uma cidade como Cleveland, tão torturada no cenário dos esportes americanos. Além disso, pessoas mudam e evoluem ao longo da sua vida, e tenho certeza que LeBron não é exceção. Ele teve que passar por uma baixa na carreira (as Finais de 2011) que nunca tinha passado antes, e pareceu ter aprendido com isso. A maior prova é que ele conduziu essa mudança de time de forma totalmente oposta ao que fez quatro anos atrás. Em 2010, LeBron fez um show de televisão (de extremo mal gosto) para ele mesmo, anunciando sua decisão no ar, e depois falando que iria ganhar não um, não dois, não três, não quatro, não cinco, mas seis títulos em Miami -  o tipo de coisa imatura e arrogante que poderíamos esperar de alguém que desde jovem sempre teve sucesso demais. Em 2014, foi o oposto, muito mais sensível e inteligente: foi uma carta discreta na SI, na qual ele agradece a todo mundo em Miami (algo que não fez em nenhum momento em 201) e frisa a dificuldade de ganhar títulos, dizendo que não vai prometê-los, que sabe que é um trabalho lento e gradual, mas que fará seu melhor. No conjunto, algo muito mais inteligente, mostrando uma maior compreensão e uma maior humildade por sua parte. Não é a toa que, enquanto The Decision colocou muitas pessoas contra LeBron, The Decision 2.0 parece ter colocado muito mais pessoas do lado dele.

Ainda assim, não cometam nenhum engano: LeBron voltou a Cleveland para ganhar títulos. Ele sabe o quanto ganhar um título em Ohio faria pela cidade e pelo seu legado, sabe que está em seu auge, e sabe do talento ao seu redor. Ao contrário de Miami, o time de Cleveland é muito mais jovem, o que significa que ele deve durar muito mais tempo, especialmente com a maior flexibilidade salarial que se espera que o novo salary cap da NBA proporcione a partir de 2016. E o talento lá, ainda que "desigual" em termos de habilidades (falta um bom defensor, não tem um bom protetor de aro, etc), sem dúvida é de altíssimo nível: Kyrie Irving é um jovem talento que foi MVP do All Star Game e tem um bom arremesso e excelente ball handle; Kevin Love é um dos 10 melhores jogadores da atualidade; Waiters tem algum potencial; Varejão é um ótimo defensor e reboteiro quando saudável; e por ai vai. Junte a isso o melhor jogador do mundo, e você tem um candidato forte ao título, e um time muito melhor e mais completo do que o time que LeBron deixou para trás em 2010.

Em termos de basquete, eu acho que não preciso explicar para ninguém o que significa essa decisão. LeBron é um dos 8 melhores jogadores de basquete de todos os tempos, e aonde quer que ele vá, ele vai mudar o equilíbrio competitivo da NBA. Cleveland foi o melhor time de temporada regular da NBA por dois anos seguidos (2009 e 2010), mas foi só LeBron ir para Miami que o Cavs logo entrou em uma espiral de derrotas, e Miami imediatamente foi a quatro Finais seguidas, vencendo duas. O time que LeBron for é um imediato candidato ao título, não importa qual seja.

Como Cleveland vai render como time em 2015 ainda é uma incógnita. A equipe tem o potencial de ter um dos melhores ataques da história recente da NBA, com Irving, Waiters, Mike Miller, LeBron e Love, uma máquina de infiltrações e arremessos de três que ninguém pode sonhar em realmente parar. Mas ao mesmo tempo, algumas perguntas legítimas precisam ser feitas. Cleveland só tem realmente um bom defensor que é o próprio LeBron (que mesmo assim não foi bem na defesa ano passado) e talvez dois Varejão se ficar saudável,  e apresenta alguns dos piores defensores de toda a NBA, inclusive Irving e Waiters. Como esse time vai se montar defensivamente só com LeBron para defender e nenhum shot-blocker é uma grande questão. Também vale questionar como jogadores como Irving e Waiters, que sempre jogaram com a bola nas mãos, irão render jogando mais em segundo plano, se movimentando sem a bola e funcionando como arremessadores de luxo boa parte do tempo - ou mesmo Love, que pela primeira vez está jogando realmente em um bom time onde tem que se focar em jogar de forma mais inteligente, ao invés de fazer o que lhe da na cabeça. Mesmo o Heat demorou um ano para conseguir realmente achar a melhor forma de jogar.

São questões legítimas, todas elas. Ainda assim, o talento em mãos é grande demais para não imaginar que Cleveland terá um grande time em 2015, sem falar naquela questão mais ou menos importante de "ter o melhor jogador de basquete do mundo", e o potencial - especialmente ofensivo - do time é algo realmente especial. Mas vamos esperar para ver exatamente o que vai sair dessa mistura quando chegar a hora. Por enquanto, o que importa é que LeBron James está de volta, e que o Cleveland Cavaliers voltou a ter esperanças de um futuro brilhante, depois de ter passado tanto tempo na lama.

(Em tempo: eu gosto bastante dos paralelos Mitsui-LeBron, ainda que sejam jogadores totalmente diferentes. Ambos são jogadores extremamente talentosos e ex-MVPs que cometeram erros em seu passado e ficaram "queimados" por isso. E assim como Mitsui, nada que LeBron faz parece ser bom o suficiente para receber a atenção e elogios que merece, ainda que por motivos opostos: LeBron não pode nunca vencer porque ainda tem uma parte muito grande da mídia e dos fãs que não o perdoou por 2010 - e, francamente, simplesmente por ser muito bom - que constantemente vai ficar buscando motivos para diminuí-lo e negar sua grandeza, por mais ridículos que esses motivos e as "histórias" sejam... enquanto que o problema de Mitsui é que quem não consegue perdoá-lo é ele próprio. Mitsui eventualmente encontrou sua redenção, e eu espero que LeBron consiga o mesmo aos olhos do público. Não que ele, em algum momento, precise disso para ser o grande jogador que é, mas ele merece ser tratado como o grande jogador que é e não através de uma imagem falsa criada por pessoas parciais.)


"Eu vou ter um número, sim!! O meu número vai ser o 3!!"
"Nem existe número 3, seu retardado!! A numeração começa a partir do 4!!"

Confesso que adorei que LeBron voltou a usar o número 23, que usou em sua primeira passagem pelo Cavaliers. LeBron deixou sua história em Cleveland incompleta para começar sua nova história em Miami, e nisso mudou seu número para o 6 de seu ídolo, Julius Erving. Depois de concluir com sucesso sua história lá, LeBron volta a Cleveland... e volta a usar o número 23, com o qual vai tentar retomar a história que deixou para trás com The Decision. O número 6 estará associado sempre ao LeBron de Miami, e o 23 ao LeBron de Cleveland, do começo ao fim. Sensacional. Eu adorei tudo relacionado a essa decisão.


"O meu marido fica todo animado quando fala do futuro de vocês dois. Ele diz que vocês tem um potencial que ele nunca viu igual"

Qualquer fã de basquete normal ficou com a imaginação nas alturas quando soube que a primeira escolha do Draft, Andrew Wiggins, iria jogar na mesma equipe que o melhor jogador da NBA, LeBron James. LeBron e Wiggins no mesmo time?! Essa vai ser a dupla mais atlética da história!! Como qualquer time no mundo poderia competir com essa velocidade e jogo de transição?! E como alguém pode sonhar em sobreviver com essa defesa de perímetro?! E se o melhor prospecto colegial desde Kevin Durant, treinando com LeBron James, conseguir desenvolver todo seu potencial? O potencial dessa dupla é sem limites! É mais ou menos como eu imagino o Prof Anzai falando para a esposa sobre sua própria dupla.

Claro, o sonho durou pouco - logo ficou claro que Wiggins iria para o Wolves em troca de Kevin Love, uma estrela mais velha e já estabelecida para formar uma dupla mais pronta com LeBron James. E a promessa de LeBron James, a lenda do basquete, formando uma dupla com "o novo LeBron", Andrew Wiggins, logo foi esquecida.

Como alguém muito bem disse no twitter, era uma troca que o Cavs não tinha como perder. Eles tinham nas mãos um jogador jovem com potencial quase ilimitado, que contribuía imediatamente com sua excelente defesa de perímetro e capacidade atlética, optaram por trocá-lo por Love, um jogador que não tem as capacidades defensivas de Wiggins, mas é um jogador muito mais desenvolvido e estabelecido, um dos melhores pontuadores E reboteiros de todo o basquete, alguém cujo jogo ofensivo (excelente dentro do garrafão, mortal da linha dos três pontos) casa muito bem com LeBron. Eles tiveram a escolha entre Wiggins, que trazia muita defesa e muito potencial, e Love, que não oferece tanto potencial mas é uma estrela já estabelecida com um jogo ofensivo espetacular. Não era uma escolha fácil, e ambos os jogadores traziam uma coisa diferente a equipe, mas não tinha como escolher errado - ambas as opções eram excelentes.

Eu, pessoalmente, não teria feito a troca. Ou, melhor dizendo, não teria feito a troca ainda. Kevin Love, hoje, é um jogador melhor que Wiggins, uma ameaça a pontuar de qualquer lugar da quadra e um jogador talentoso o suficiente para ter 25-12 de média. Não estou discutindo isso. A questão é que eu acho que as habilidades que Wiggins traziam para a mesa, no papel, eram habilidades extremamente importantes para o futuro do Cavs, ainda mais do que as de Love.

O problema é que, nos últimos dois anos em Miami, LeBron teve um problema: ele visivelmente cansou muito ao final da temporada - em outras palavras, nos playoffs. Não é de se esperar, claro - Miami não tinha um elenco profundo, e Wade muito decaiu depois do primeiro ano do Big Three em South Beach. Isso deixou LeBron com um enorme fardo para o dia-a-dia de Miami - ele era o principal responsável por TODA a defesa de perímetro da equipe, e era a presença hiper-física e hiper-atlética que fazia do contra ataque a base de todo o ataque de Miami. Mas ao longo do ano, sendo obrigado a realizar sempre essa tarefa com pouquíssima ajuda do resto da equipe, LeBron foi chegando ao final do ano cada vez mais cansado e esgotado, não conseguindo manter sempre seu altíssimo nível.

E esse é o risco que eu achava que o Cavs não poderia correr: todo seu presente e futuro dependia de LeBron James, mas ele infelizmente parece prestes a assumir novamente uma função "exagerada" na equipe de forma semelhante. Cleveland não tem um único bom defensor de perímetro além dele (e, se Varejão machucar, nenhum bom defensor, ponto) e nenhum shot-blocker, então para sobreviver defensivamente vai precisar que LeBron assuma praticamente toda a responsabilidade defensiva da equipe, defendendo os melhores jogadores de perímetro e até mesmo trombando no garrafão para impor sua presença defensiva. Junte a isso a falta de jogadores de transição da equipe - o que vai forçar novamente LeBron as assumir as rédeas disso também - e você chega em uma situação ainda pior para LeBron (em termos de desgaste) do que a que ele estava em Miami, responsável por toda a desgastante defesa E jogadas de velocidade do time. Sem um reserva capaz de substituí-lo, ele corre o risco sério de chegar aos playoffs ainda mais cansado do que aconteceu nos últimos anos, o que obviamente seria um grave problema para Cleveland.

É ai que eu acho que Wiggins teria um papel fundamental. Ele é exatamente o tipo de jogador que daria essa "proteção" a LeBron - alguém para defender os melhores e mais físicos jogadores de perímetro adversários, acompanhar cada contra ataque e fazer todas as coisas hiper-atléticas que agora só tem LeBron para fazer. Wiggins faria o trabalho sujo, deixando LeBron descansando sem tantas responsabilidades, jogando apenas como quer e ficando fresco para ser solto na pós-temporada no auge da forma física. Por isso achava que era essencial manter Wiggins na equipe.

O Cavs não pensou assim, e preferiu o maior poder de fogo e o jogo mais "pronto" de Love a defesa e habilidade atlética de Wiggins. A vantagem para o Cavs aqui é óbvia: Love é um dos melhores jogadores da NBA, e um dos melhores pontuadores, o tipo de missmatch ambulante que LeBron é capaz de fazer saltar três níveis com seus passes e atenção extra que atrai. A presença dele aumenta em muito o potencial ofensivo da equipe, sem falar que Wiggins nunca jogou um jogo de NBA, enquanto Love é uma estrela já consagrada. Faz sentido o pensamento do Cavs, sem a menor dúvida.

(Outro ponto interessante é que não tinha muito porque o Cavs apressar a troca. Love não iria a lugar nenhum, já que nenhum time teria uma oferta tão boa pelo jogador. O time poderia usar o começo de temporada e a pré-season para ver como LeBron e Wiggins rendiam juntos e descobrir exatamente o que tinham em mãos antes de, eventualmente, fazer em Dezembro ou Janeiro essa troca que fizeram em Setembro. E, dependendo do resultado, poderia acabar não fazendo a troca por concluir que o que tinham em mãos era mais valioso.)

O maior vencedor dessa troca, provavelmente, é o próprio Andrew Wiggins. Wiggins é um jogador extremamente talentoso e com enorme potencial, mas muitos criticam o ala dizendo que ele não joga como uma estrela, não chama o jogo... é o tipo de cara que precisava passar algum tempo sendo o centro das atenções, jogando com a responsabilidade de uma estrela e sendo o foco da equipe para se acostumar a essa situação. No Cavs, ele nunca iria ter essa oportunidade - Cleveland tem como prioridade vencer imediatamente, e ele claramente seria coadjuvante em um time bem organizado em torno de LeBron, talvez até tendo que disputar minutos, não recebendo assim as repetições necessárias para se desenvolver. Em Minnesota, será exatamente o contrário: ele é o futuro da franquia, então vai ter todo o espaço e os minutos que quiser para jogar com a bola nas mãos, apanhar um pouco, desenvolver seu jogo e aprender a ser o centro das atenções, o foco da equipe. Lá ele terá o espaço necessário para atingir seu ilimitado potencial, um espaço que não teria em Cleveland. Seria lindo vê-lo jogando com LeBron, mas pensando no que Wiggins pode vir a ser um dia, não tenho dúvidas de que Minnesota é melhor para ele.

No fim, é uma troca que provavelmente deixou todo mundo feliz. Love conseguiu sair de Minnesota e finalmente jogará por um time que busca o título, do lado de outra estrela; Wiggins vai ter o espaço que tanto precisa para crescer; Minnesota começa mais uma reconstrução, mas dessa vez com muito mais peças valiosas do que antes, conseguindo a melhor troca que poderia sonhar conseguir por sua estrela descontente; e Cleveland conseguiu a segunda estrela que tanto queria para juntar com LeBron. O tempo dirá se a troca funcionou para todos os envolvidos, mas hoje, ela parece ótima, e além disso, gerou alguns dos times e das histórias mais interessantes de acompanhar nos próximos anos. Todos saem ganhando, inclusive a gente.


"Ei, velho, quando foi o seu momento de glória? Foi quando estava na seleção japonesa? Para mim... o meu momento é agora"

Um dos meus momentos favoritos de toda a série. Eu queria de todo jeito incluí-lo nessa coluna como encerramento, mas infelizmente não achei nada nem ninguém nessa temporada para merecer esse quote. Então para não ter que tirá-lo da coluna, esse quote vai para uma das minhas performances mais underrateds da história da NBA: Kevin McHale em 1987, quando o Power Forward de Boston arruinou o resto da sua carreira jogando os playoffs inteiros com um pé quebrado.

O que, você acha que é um eufemismo? Não é, o pé estava realmente quebrado. McHale quebrou o pé em Janeiro, e ficou de fora por três meses. No entanto, o Celtics estava com problemas no garrafão e não tinha reserva, já que Lenny Bias tinha morrido por overdose de cocaína, Bill Walton estava fora da temporada, e mesmo Robert Parish estava lidando com uma lesão na perna. McHale foi forçado a voltar muito antes do que teria sido ideal por conta da necessidade, e logo quebrou novamente o pé no mesmo local na primeira rodada dos playoffs. Mas o time não tinha reserva, e embora McHale não devesse, ele continuou jogando os playoffs de pé quebrado e tudo, sem um reserva que aliviasse seus minutos. Jogou 39 minutos por jogo, com 21 pontos e 9 rebotes apesar de não conseguir pular, correr ou se mover lateralmente com a agilidade de sempre.

A corajosa performance do ala-pivô ajudou o Celtics a chegar nas Finais, mas não conseguiram vencer o Lakers com seu segundo melhor jogador jogando com a droga de um pé quebrado, e a carreira de McHale nunca mais foi a mesma depois disso. Seu pé nunca se recuperou por causa do excesso de dano gerado naquela pós-temporada, e o resto de sua carreira foi arruinada. Ele nunca recuperou sua explosão e seus saltos fantásticos, ou sua agilidade lateral e seu jogo de pernas no garrafão. Com McHale saudável, o Celtics provavelmente vence em 1987, e teria continuado como um forte concorrente nos anos seguintes, talvez com o atual técnico do Rockets até mesmo fazendo a ponte para a era Reggie Lewis. Para se ter uma noção do quão bom era McHale, em 87 antes de quebrar a perna, ele teve 26 pontos, 10 rebotes, 2.2 tocos de média, 60% de aproveitamento nos arremessos, e dobrava como o melhor defensor da NBA inteira, um jogador ágil o suficiente para marcar jogadores de perímetro e forte e atlético o suficiente para defender o garrafão. Ele teria ido até os 40 anos se não tivesse arruinado o fim de sua carreira em uma das performances mais corajosas e underrateds da história da NBA. Mesmo hoje, quase 30 anos depois, McHale ainda manca visivelmente e tem alguma dificuldade de se manter muito tempo em pé. 

A melhor parte, no entanto? McHale não tem nenhum arrependimento de ter jogado com o pé quebrado, e disse que, se pudesse escolher, faria de novo. Como ele disse, você tem um número limitado de chances de ser campeão na sua vida, de jogar junto com seus companheiros pelo topo, e quando você tem essa chance ao seu alcance, você quer fazer de tudo para aproveitá-la enquanto pode, nunca sabendo quando ela vai acabar. Então ele sacrificou o resto da sua carreira para ir atrás dessa chance, e mesmo sem ter conseguido o título, ele fez o que achava que tinha que fazer e não se arrepende.

Esse, meus amigos, é um verdadeiro campeão. Basquete é um esporte que nos oferece tantas histórias boas que as vezes esquecemos de muitas delas. É muito bom e muito importante aproveitar as grandes estrelas que temos hoje na NBA, mas também é importante não esquecer das que passaram por aqui antes.

Jogadores como Dennis Rodman (Sakuragi), Patrick Ewing (Akagi), Magic Johnson (Maki), Shaquile O'Neal (Morishigue) e Michael Jordan (Rukawa) serviram de inspiração para os personagens da melhor obra de ficção de basquete de todos os tempos. Talvez daqui a alguns anos, seja LeBron, Durant, Blake Griffin e Carmelo Anthony que serão imortalizados dessa maneira. Porque essa é a beleza do basquete, um esporte que se mantém tão bom como sempre desde os anos 1980, mas que nunca para de se reinventar, gerando novos heróis e novas histórias.


Agradecimentos especiais ao Vinicius Veiga (@spinballnet) e ao Marcelo Mazzini (@maecomazzini) pela capa!

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