Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Slam Dunk e minha homenagem a temporada 2015 da NBA - Parte 1



Agora que a temporada 2014 da NBA é história, que o Draft já passou e os calouros já jogaram as Summer Leagues por seus novos times, e que o novo CBA - que favorece contratos mais curtos, mais mudanças e maiores espaços salariais - deixou a parte mais maluca do calendário da NBA (a free agency) 467% mais divertida (números aproximados), me parece uma boa hora para olhar para trás e colocar tudo isso em perspectiva. Olhar para alguns pontos interessantes que foram pouco explorados, e dar opiniões em outros mais comuns. Em suma, encerrar essa temporada 2014 e preparar para a próxima.

Mas como eu gosto de fazer colunas que fogem ao lugar-comum, vou aproveitar e copiar uma das minhas colunas favoritas do meu autor favorito (Bill Simmons). As vezes, ao final da temporada, ele iria pegar uma obra que ele gosta (as duas últimas que eu lembro de ter lido: The Wire e Game of Thrones), pegar algumas frases legais, e atribuí-las a jogadores ou eventos da última temporada. Era uma forma criativa de juntar duas coisas que ele gostava, e uma boa desculpa para falar de certos tópicos da temporada que se relacionavam com frases divertidas.

Então eu decidi tentar fazer a mesma coisa, uma coluna que eu queria fazer já ha algum tempo mas nunca tinha sentado para fazer. E já que é minha primeira tentativa de fazer esse tipo de brincadeira, e como o assunto é basquete, a obra escolhida para as frases não poderia ser outra senão minha obra de ficção favorita de esportes, Slam Dunk. 

Para quem não conhece (e se conhece, pode pular esse parágrafo), Slam Dunk é um mangá de basquete criado por Takehiko Inoue nos anos 90. Um dos mangás mais vendidos e idolatrados de todos os tempos, Slam Dunk conta a história de Hanamichi Sakuragi, um delinqüente juvenil que começa a jogar basquete no colegial para impressionar uma garota... só que ele não sabe jogar basquete. E o resto da história se desenrola a partir dai: sua evolução como jogador, sua relação com a garota que gosta, sua convivência com os outros jogadores da equipe (especialmente no começo), e o desenvolvimento da equipe e sua busca pelo título nacional. Se você gosta de basquete, eu fortemente recomendo que você leia em algum momento essa obra. A qualidade é sensacional, e é uma das melhores coisas que você vai ler na sua vida.

Como a coluna ficou particularmente gigante, eu acabei tomando a decisão de dividí-la em duas partes, para tornar mais fácil para o pessoal ler em bloco ou por partes, caso prefiram.

Essa é a Parte 1. Clique aqui para ler a Parte 2. Ou, se preferir, clique aqui para ler a versão completa.

Bom, sem mais demoras, vamos ver o que Slam Dunk tem a nos oferecer, e como isso se relaciona com a temporada 2014 da NBA.


"Você gosta de basquete?"

A pergunta que a Haruko faz ao Sakuragi no primeiro capítulo (e o motiva a entrar no time de basquete) vira um dos pontos centrais da série e do desenvolvimento do protagonista. E algo que eu gosto ainda mais, é um ponto recorrente para muitos outros personagens, independente da história do Sakuragi - Mitsui e Minami, para citar dois, encaram a mesma pergunta em algum momento. De certa forma, essa é a frase mais importante de Slam Dunk, então não vejo como começar essa coluna sem ser por ela.

E eu vou dar essa frase para mim mesmo, porque você precisa gostar MUITO de basquete para escrever uma coluna de 23 mil palavras como essa para um blog sem receber nada em troca.  Não me neguem esse pequeno auto-endeusamento, eu mereço pelo menos a chance de falar bem de mim mesmo no meu próprio blog!

Espero que gostem do resultado da coluna. Agora sentem, relaxem, e aproveitem...





"Professor, eu finalmente entendi o que você quis dizer quando disse 'vocês são fortes'. Quando esses cinco caras fenomenais começassem a funcionar como um grupo, o Shohoku seria um time forte! Foi isso que o senhor disse!"

Sem querer, Slam Dunk retrata um ponto crucial da vida na NBA: como fazer cinco jogadores (na NBA são mais por causa dos reservas) com personalidades diferentes, estilos de jogos próprios e com diferentes forças e fraquezas, funcionarem da melhor forma possível? Ou seja, como todos eles podem estar na mesma página mesmo sendo tão diferentes, como fazer todos eles dedicarem seus esforços para o mesmo objetivo, deixar de lado os números e a glória individual em nome do bem coletivo da equipe, e modificar seu próprio jogo para melhor se encaixar com os companheiros?

Essas são as perguntas mais difíceis de serem respondidas por um time de basquete, mas também as mais importantes. Ao longo da história da NBA, é muito fácil identificar quais os times que foram muito além do esperado porque sabiam como responder a essas questões, sabiam como jogar como um grupo de verdade complementando um ao outro sempre com o mesmo objetivo, deixando de lado ego, números e glória individual pelo bem da equipe... e quais os (muitos!) times que deixaram de lado a chance de conseguir algo maior por causa de mais dinheiro, mais minutos, mais arremessos, mais ego.

Mesmo na NBA de hoje é fácil de ver isso em ação quando você para e observa direito. As duas últimas Finais da NBA foram entre Heat e Spurs, os dois times que mais incorporaram esse tipo de mentalidade na atualidade: Miami tem Wade e Bosh, duas estrelas de altíssimo nível (especialmente em 2010, quando se juntaram) mas que assumiram um papel secundário ao redor de LeBron, sacrificando arremessos e destaque individual, porque sabiam que isso daria ao time e a si mesmos uma maior chance de vencer; sem falar que seus títulos vieram com veteranos como Shane Battier e Ray Allen, jogadores muito experientes e respeitados ao redor da NBA que aceitaram papeis específicos e limitados (salários também, by the way) porque sabiam que era sua melhor chance de contribuir com algo grande e levar um título. Enquanto isso, San Antonio é o time que fez dessas perguntas sua filosofia de vida, ganhando 5 títulos no processo e se tornando a maior franquia pós-Jordan (mais sobre isso daqui a pouco). Não é uma coincidência que esses são os times que parecem tirar o máximo de seus talentos e conseguir os melhores resultados. Talento sempre é muito importante, mas não é tudo quando se quer vencer em um ambiente tão competitivo como a NBA.

Vamos falar mais desse assunto, direta ou indiretamente, ao longo da coluna (quando falarmos de Clippers e Pacers, por exemplo), mas é um ponto importantíssimo que precisa ser destacado. É algo que sempre lembramos na hora de falar dos grandes campeões, mas logo esquecemos quando chega a free agency e é hora de montar um time melhor. Sempre lembrem-se disso. Sempre.


"Ninguém aqui é amigo um do outro, e tudo que vocês fazem só me da dor de cabeça. Mas mesmo assim... Esse time... É o máximo!"

E nenhum time desde o Celtics de Bill Russell compreendeu e incorporou tanto essa parte do basquete como o Spurs de Tim Duncan e Greg Poppovich.

Nos últimos 16 anos, San Antonio venceu cinco títulos, 70% dos seus jogos, e nunca menos do que 50 vitórias em cada uma dessas temporadas (tirando obviamente a temporada da greve de 1999, mas seu aproveitamento ainda foi superior ao de um time que termina 50-32). Tirando Tim Duncan (e posteriormente Tony Parker e Manu Ginobili), ninguém no time ficou do começo ao fim dessa sequência, com os jogadores sempre mudando. Ainda assim, apesar de tudo ao redor da base mudar, entra ano e sai ano e o Spurs continua vencendo 50 jogos, indo aos playoffs e sendo um dos times mais perigosos da conferência. Os jogadores mudam, a era muda, mas o jogo eficiente e coletivo continua o mesmo. 

O maior motivo para isso é algo que eu explorei em uma coluna que eu escrevi um ano atrás sobre o Spurs. Eu recomendo fortemente a leitura da coluna inteira, uma das melhores que eu já escrevi na vida, mas o ponto é simples: o Spurs foi capaz de manter durante tanto tempo a mesma cultura e o mesmo ambiente vencedor porque priorizou esse lado do basquete, esse sentimento de jogo coletivo e de sacrificar números individuais pelo sucesso coletivo, acima de tudo. Eles sempre foram atrás de jogadores com o caráter certo, jogadores trabalhadores que treinassem ao extremo para compensar suas falhas e não se importassem com seu próprio número. San Antonio sabe que é mil vezes mais fácil pegar um jogador assim e ensiná-lo a arremessar ou defender, do que pegar um bom defensor ou arremessador egoísta e ensiná-lo a se importar com o grupo, jogar para seus companheiros e deixar de lado seu individualismo. Eles fizeram isso a perfeição ao longo de tanto tempo, e por isso tantos jogadores pouco considerados se tornaram muito melhores quando jogam pela franquia.

E claro, isso seria impossível se não fosse por um técnico capaz de transmitir isso aos seus jogadores como poucos ao longo da história da NBA (Pop), mas mais importante, sem Tim Duncan, o jogador que é a perfeita representação desse basquete altruísta, o jogador que joga para o time, cobre todos os buracos e não liga a mínima para seus números, somente para a vitória, desde Russell. Quando seu melhor jogador, lenda da NBA e cara da franquia é alguém que faz o passe a mais, está sempre no lugar certo na hora certa, não se importa de ficar no banco ou assumir um papel menor em quadra se for para beneficiar seu time, como pode o recém-chegado ou o jogador secundário do time não se sentir obrigado a fazer o mesmo (e logo todo o time segue a deixa e faz o mesmo)? É a melhor forma que você pode jogar basquete, não só fazendo a diferença individualmente mas influenciando cada um dos seus companheiros mesmo sem encostar na bola (o contrário também é verdade: se sua estrela é um jogador fominha, que faz o que quer e arremessa quando quer sem se preocupar com os companheiros, como esse jogador vai reclamar que os coadjuvantes fazem o mesmo quando ele deu o exemplo?).

E é por isso, acima de tudo, que Tim Duncan é um dos seis melhores jogadores da história da NBA. Talvez alguns outros jogadores tenham tido um auge mais dominante que o de Duncan, como Kareem ou Wilt, mas nenhum deles teria sido capaz de manter essa cultura altruísta por tanto tempo e influenciado tantos jogadores diferentes a jogar basquete de forma coletiva, mantendo a mesma base intacta e a mesma máquina funcionando dessa maneira. Tirando Russell e talvez Magic ou Bird, nenhum outro jogador na história poderia fazer algo igual. É por isso que Tim Duncan é tão bom, e é por isso que o Spurs é tão bom. E como sempre é o caso, eles não recebem o devido crédito por isso. Mas eles não se importam com o crédito, só com as vitórias. E agora eles tem 5.


"O jogo do Sendou mudou um pouco no segundo ano, depois que ele pegou gosto pelas assistências. No primeiro ano ele era um tremendo cestinha. Você deve se lembrar disso, Akagi... Do dia que você tomou 47 pontos só dele" 

Calma ai, ainda não terminei de falar da máquina do Spurs. Um outro motivo muito importante pelo qual o Spurs tem sido tão consistentemente bom dentro de quadra ao longo dos últimos anos é sua capacidade única de se reinventar e adaptar seu jogo as peças que eles tem e a direção que a NBA segue como um todo. 

Quando Duncan surgiu, Pop colocou ele e David Robinson juntos no garrafão para explorar ao máximo o talento de suas duas estrelas e dominar o garrafão. Depois David Robinson envelheceu rapidamente após seu primeiro título e o Spurs não conseguiu achar uma segunda estrela ou pelo menos um segundo jogador capaz de dividir as posses de bola com Timmy, San Antonio se reinventou como uma defesa feroz e um time que jogava em um ritmo extremamente lento, com cada posse de bola passando pelo low post com Duncan e vivendo de jogadas de alto aproveitamento. Quando Parker e Manu surgiram, San Antonio começou a abrir mais as coisas, jogar com mais passes, mais rodagem de bola e foi o primeiro time a descobrir os benefícios do arremesso de 3 da zona mortal. Conforme as regras foram se modificando ainda mais para beneficiar ataques e times que infiltrassem, Pop liberou Parker para atacar mais a cesta e o Spurs aumentou ainda mais seu estilo, ainda eficiente mas agora com mais opções de small ball e ainda mais arremessos de fora - especialmente o slash and kick. Por fim, quando Duncan envelheceu ainda mais e o ritmo da NBA começou a aumentar ainda mais, o time se reinventou como uma máquina de velocidade e bolas de três, eventualmente atingindo seu auge em 2014 com a máquina de passes rápidos e bolas longas que engoliu o Heat nas Finais. Ao longo desses 16 anos, o Spurs nunca parou de evoluir e se adaptar, sempre compreendendo a direção na qual a liga estava indo e se antecipando. Foi um dos primeiros times a aprender a usar o small ball, foi o primeiro a compreender o valor das bolas de 3 da zona morta, e por ai vai. O Spurs que vemos hoje é o resultado final de um time que passou 16 anos se reinventando para tirar o máximo das novas regras, das novas tendências e do talento disponível.

Mas eis o que recebe muito pouco crédito nessa história: o Spurs é tão bom se reinventando porque DUNCAN é excepcional adaptando seu jogo a todo tipo de estilo e esquema tático, sem ligar para números ou "jogar da forma como mais gosta". Foi por causa dele que o Spurs pode fazer isso por tanto tempo. Quando ele entrou na NBA, ele era o PF atlético e extremamente habilidoso que fazia uma dupla imbatível no garrafão com Robinson, e foi assim que ganhou seu primeiro título. Em 2001/2002, quando Robinson decaiu muito e as regras da NBA gravitaram na direção de times defensivos que dominavam posses de bola e o garrafão, Duncan precisou acomodar uma responsabilidade muito maior dos dois lados da quadra, jogar muito mais de costas para a cesta no ataque e trombar com grandalhões na defesa - ele fez isso a perfeição, teve as melhores temporadas da sua carreira (2002-2003 é um dos melhores biênios de um homem de garrafão na história da NBA) e levou o Spurs ao seu segundo título. Durante a era híbrida (2004/2005) quando a NBA estava se adaptando as novas regras que abriam o garrafão para armadores, Duncan começou a jogar mais como um facilitador mais longe do garrafão, usando seu bom arremesso de meia distância para abrir o caminho até o aro e seus bons passes para fazer o ataque fluir bem, ganhando seu terceiro título. Quando essas novas regras foram incorporadas, o Spurs se reinventou mais uma vez com Duncan jogando de pivô, dominando os rebotes e fazendo o papel de facilitador no ataque, um jogador capaz de defender o aro mas rápido o suficiente para defender o perímetro quando necessário. E por fim, mesmo quando o Spurs mudou o foco do garrafão para o perímetro em seu estilo rápido dos últimos anos, isso só foi possível porque Duncan era capaz de ancorar a defesa sozinho mesmo sem outro shot-blocker quando o time jogava mais baixo, e como um fantástico jogador de picks ofensivo (ninguém é tão criativo como ele na NBA inteira fazendo screens) e alguém que é capaz de receber a bola em movimento e partir para uma jogada secundária (um drible ou passe) para manter o ataque fluindo. 

Em outras palavras, o que fez o Spurs ser tão bom se reinventando e adaptando foi a capacidade (e também a aceitação) de Duncan de fazer qualquer função em uma quadra de basquete e jogar em qualquer estilo com quaisquer companheiros, sem se preocupar consigo mesmo. Se você está contando, então, dois dos principais motivos do Spurs e sua incrível consistência e dominação ao longo dos últimos 16 anos (esse e o do tópico anterior) estão diretamente relacionados com Tim Duncan. Se você olha para essa seqüência inacreditável de San Antonio e não ve a enorme responsabilidade e influencia de Tim Duncan nisso, você está precisando rever seus conceitos sobre basquete. Mesmo quando ele está em segundo plano, isso tudo não seria possível sem ele.


"Seu idiota! Ta pensando que já ganhou?! O adversário é forte o suficiente para representar a província de Osaka! Não o subestime! Estamos num campeonato nacional!! Nunca subestime ninguém! Não se descuidem nem por um instante!"

Para uma EXTREMAMENTE divertida primeira rodada dos playoffs que teve cinco jogos 7 (um recorde da NBA) e os quatro times com melhor record da NBA precisando de sete jogos para eliminar seus adversários. 

Até onde eu lembro, foi a primeira rodada de playoffs mais divertida da história da NBA desde que os playoffs expandiram para 16 times. Não só os cinco G7, mas todas as séries foram muito disputadas com uma exceção - Miami varrendo Charlotte, e mesmo essa série deveria ter sido muito mais apertada se Al Jefferson não se machuca no G1. Um disfuncional time do Pacers quase chegou a completar a maior amarelada da história da NBA perdendo para um 8th seed Hawks (sem Al Horford) na primeira rodada antes de vencer em 7, Dallas quase chocou o mundo levando os eventuais campeões para um jogo 7 decisivo (mais sobre isso em um instante), Oklahoma City e Los Angeles Clippers precisaram de grandes performances de suas estrelas para sobreviver a dois banhos de sangue... entretenimento saindo pelo telhado. Sem falar, claro, em um divertido time do Blazers chocando Houston e levando a série em seis jogos com o agora famoso buzzer beater do Damian Lillard. Para um momento dos playoffs que costuma ser marcado por varridas, dominações unilaterais e séries até sem graça, sem dúvida foi muito bem vindo esse tipo de emoção.

Mas meu momento favorito dessa primeira rodada aconteceu dois meses depois, quando durante a Copa do Mundo, um leitor no twitter (foi mal, mas não lembro o nome) comparou as oitavas de final a primeira rodada dos playoffs da NBA: vários jogos apertados indo para prorrogação ou para os penaltis, os principais candidatos ao título sofrendo com times supostamente inferiores, emoção até o último segundo... mas mesmo assim, todos os principais times passando de fase. Na Copa, todos os favoritos venceram seus jogos, e na NBA tivemos apenas um resultado que podia ser classificado como zebra (Blazers over Rockets). A analogia foi tão boa que ainda estou bravo por não ter pensado nela antes.


"É sério que vocês perderam só por um ponto DESSE Ryonan?!"
"Eu... acho que sim..."

Quando a primeira rodada dos playoffs acabou, e todo mundo estava dizendo que Spurs venceria o Blazers em 7 ou até perder a série em 6 na segunda rodada, eu disse no twitter que tinha um time nesses playoffs que estava sendo muito underrated. E esse time era o Dallas Mavericks: muita gente estava prevendo dificuldades para o Spurs (ou até um upset) contra o Blazers porque achava que o fato do Mavericks ter levado a série a 7 - uma série extremamente disputada onde apenas o G7 foi uma surra - mostrava que San Antonio estava fragilizado e não era tão forte quanto aparentava. Eu achava isso um absurdo com Dallas, um excelente time, e que o Spurs ainda ia dar uma surra no Blazers em 5 jogos. Vocês sabem como a história terminou: San Antonio DEU uma surra em 5 jogos no Blazers, passou com propriedade pelo Thunder e simplesmente humilhou os atuais bicampeões nas Finais. E foi nessa hora que todo mundo se tocou que o Spurs de 2014 era um time espetacular, e que o Dallas merecia muito crédito por ter levado sua série a 7. Muito mesmo. 

As pessoas subestimaram o Mavericks em parte porque eles foram "apenas" a 8th seed da sua conferência (esquecendo que o Oeste desse ano foi uma das conferências mais fortes de todos os tempos) e porque elas não prestaram atenção nos sinais: o Mavericks terminou a temporada com o segundo melhor ataque da NBA e o melhor ataque pós-All Star Game (111 pontos por 100 posses, um número absurdo), e apesar de ter sido varrido na série contra SAS na temporada regular, era um matchup complicado porque a presença de Dirk Nowitzki permitia ao time jogar seu melhor basquete ofensivo sem precisar usar uma formação baixa, e ao mesmo tempo a presença do alemão praticamente obrigava o Spurs a jogar com Splitter em quadra (se jogasse com Duncan/Diaw, Timmy teria que marcar Dirk e isso tiraria o único defensor da equipe de perto do aro) e com isso evitava que o Spurs usasse suas melhores formações ofensivas. A série não foi a 7 porque o Spurs era frágil, a série foi a 7 porque o Mavs era um excelente time que com um elenco profundo, um excelente técnico e um legitimo superstar (Dirk) conseguiu surpreender os favoritos e jogar seu melhor basquete na hora certa.

O engraçado é que o Mavs continua fazendo isso usando a formula maluca que lhes deu o título de 2011: Dirk Nowitzki como única estrela, cercado por um monte de jogadores antes rejeitados ou subvalorizados em um esquema tático brilhante que maximiza o jogo de cada componente do time. Esse ano, grande parte da evolução do time veio com Monta Ellis, um jogador muito talentoso mas desmiolado que atrapalhava tanto o time quanto ajudava em suas passagens por Warriors e principalmente BucksRick Carlisle conseguiu tirar o máximo possível de Monta, usando ele como um parceiro de pick and pop para Dirk, canalizando seus esforços para a base do que move a equipe (o pick and pop e a movimentação de bola) e seus arremessos de meia distância apenas para quando eram necessários. Foi um ótimo trabalho de Carlisle, e Monta virou o jogador que sempre quisemos que virasse. O resto do time simplesmente se encaixou em torno disso. Eu assisti jogos suficientes do Dallas nos últimos cinco anos para dizer o seguinte com total confiança: enquanto o time tiver Dirk e Carlisle, eles seriam capazes de montar um ataque espetacular e um time competitivo comigo de armador e a Alinne Moraes de ala.

Por isso acho tão interessante que eles finalmente se convenceram disso nessa offseason, e decidiram tentar aumentar as chances de um novo título ao invés de se contentar em ser só "muito bons". Eles foram muito agressivos com uma oferta de 46M para tirar Chandler Parsons de Houston, um jogador cujos ótimos passes, criatividade a partir do drible e bom arremesso se encaixariam perfeitamente no esquema de Carlisle. E também buscaram reforçar a defesa trazendo de volta Tyson Chandler, o protetor de aro que faltava ao time nas últimas temporadas (quando a defesa foi um problema) e, de quebra, um pivô que já conhece o esquema defensivo do time e que tem ótimo entrosamento com Dirk. Com Monta, Dirk, Parsons e Carlisle, Dallas tem tudo para ter outro ataque Top5, mas agora com a chegada de Chandler, é possível que a equipe volte a ter uma boa defesa também. E se isso acontecer, Dallas vira um perigosissimo time para 2014, um time que não vai ser o favorito mas que sabe que pode vencer qualquer um em uma série de sete jogos se Dirk e Carlisle estiverem inspirados. Eu não apostaria contra o Mavericks.


"Ele colocou no chão...!"
"O número 1 de Kanagawa!!"

Para o grande vencedor individual desses playoffs, o homem que outplayed LeBron James em uma Final de NBA e levou para casa o prêmio de MVP das Finais aos 22 anos - o terceiro jogador mais jovem a receber essa honra depois de Duncan e Magic Johnson. E embora o (ótimo) apelido que ele merecidamente tenha ganho na internet nunca tenha pego - The Kingslayer - Kawhi Leonard não tem motivos para se queixar dessa pós-temporada.

A história das Finais pode ser dividida em "antes de Kawhi" e "depois de Kawhi". Nos primeiros dois jogos das Finais, Spurs e Heat dividiram as vitórias em dois jogos muito apertados e disputados (sim, G1 foi por 15 pontos, mas Miami estava ganhando até LeBron sair de quadra), com Kawhi Leonard jogando mal em ambas as partidas (9 pontos em cada) e em geral mostrando dificuldades para enfrentar LeBron dos dois lados da quadra. Dai chegou o jogo 3, e Kawhi Leonard aconteceu: 29 pontos em 13 arremessos (mais dois tocos e dois roubos) para o ex-jogador de San Diego State, que ainda forçou LeBron a uma noite miserável (22 pontos e 7 turnovers) em uma tranquila vitória do seu time... e a série nunca mais foi a mesma. Leonard teve um 20-14 no G4 e mais um 22-10 no decisivo jogo 5. Nos três jogos finais da série - três vitórias de San Antonio por combinados 57 pontos - Kawhi Leonard superou o melhor jogador do mundo e foi o melhor jogador em quadra em uma série que contava com pelo menos seis futuros Hall of Famers (Duncan, Parker, Manu, Wade, LeBron, Allen). Merecidamente, levou para casa Finals MVP.

O quanto dessa vantagem para Leonard sobre LeBron teve a ver com o fato do King estar jogando praticamente sozinho, tendo que fazer tudo dos dois lados da quadra, assumindo uma responsabilidade ainda maior sem receber nenhuma ajuda dos companheiros? Muita. Mas o fato é que Kawhi Leonard foi um prato cheio demais até para James dos dois lados da quadra. Uma das  primeiras coisas que eu fiz quando acabou o G5 foi ir até o Synergy Sports e assistir os lances que envolviam os dois jogadores diretamente, e eu fiquei impressionado em como Leonard era uma pedra no sapato de LeBron, passando por ele como queria no ataque, forçando-o a acompanhar dezenas de screens e cortes até achar uma bola livre, e fazendo a vida dele miserável na defesa. LeBron conseguia pontuar em grande volume em alguns momentos, e conseguia complicar a vida de Kawhi na defesa em outros, mas em nenhum momento ele conseguiu fazer os dois, e em outros não conseguia fazer nenhum -  com as imensas responsabilidades que o King foi forçado a sustentar ao longo da série, a energia de Leonard foi demais para ele. E isso foi algo decisivo para a série final.

Considerando todos os fatores como cenário (Finais de NBA), adversário (marcando e sendo marcado pelo melhor jogador da atualidade e um dos 10 melhores da história da NBA), idade (22 anos apenas) e atuações em geral, essa tem que ser uma das maiores two-way performances da história da NBA por um não All-Star. Uma série histórica que nos deixou imaginando até onde esse garoto pode chegar.


"Não da nem para imaginar vendo ele agora, mas há cinco anos ele era conhecido como o treinador mais rigoroso das universidades. O apelido que deram para ele nessa época era de 'O demônio dos cabelos brancos'. Mas agora ele é essa pessoa calma que você está vendo.. mais conhecido como 'O Buda dos cabelos brancos'"

Eu queria dar esse quote para o Rick Carlisle - assim como o Prof. Anzai é o personagem mais underrated de Slam Dunk, Carlisle é para mim o personagem mais underrated da NBA na atualidade, um treinador Hall of Famer que todo ano está fazendo trabalhos impressionantes em Dallas e é de longe o segundo melhor técnico da NBA desde que Phil Jackson se aposentou... só que ninguém percebe e ainda reagem com choque quando você fala isso.

Mas acho que da para fazer melhor quando o assunto é técnicos. Eu sempre defendo que não existe uma posição na NBA mais overrated do que os técnicos, principalmente porque é muito difícil você separar o mérito (ou demérito) do técnico dentro de um resultado coletivo, da equipe, e por isso é muito comum um técnico novo receber o crédito por uma melhora que pode ter vindo de diversos outros fatores.

Ainda assim, eu acho que a NBA nunca esteve tão bem servida de técnicos como agora. Ainda que dois times diferentes estejam pagando Mike Brown para não ser técnico deles em 2015, mostrando que ainda temos muito chão pela frente, eis o que temos no momento: um dos cinco melhores técnicos da história da NBA (Pop) ainda no seu auge, ditando os novos rumos da NBA, conquistando seu quinto título que o coloca de vez no topo da história; temos outro futuro Hall of Famer em Carlisle, outro técnico historicamente bom cuja continuidade e consistência do trabalho atualmente só é rivalizada pelo próprio Pop; Tom Thibodeau, um gênio defensivo que praticamente criou o esquema de defesa que a NBA mais usa na atualidade; dois experientes vencedores em Mike D'Antonhy Stan Van Gundy e Erik Spolestra... e isso antes de considerar os técnicos com menos história mas que tem feitos ótimos trabalhos nos últimos anos, como Mike Bud (Atlanta), Terry Stotts (Portland), Dwyane Casey (Toronto) e até mesmo Frank Vogel (Indiana), sem falar dos jovens técnicos que estão começando com boas expectativas (Steve Kerr) ou que vem de um bom primeiro ano (Steve Clifford, Brad Stevens, e meu favorito... Jeff Hornacek).

É uma boa coleção de talento, não é mesmo? 13 técnicos ou com histórico de sucessos, ou jovens talentos com bons trabalhos recentes em uma Liga de 30 times é bastante coisa. Será interessante ver quais desses jovens conseguem manter o ritmo e os bons trabalhos, mas não lembro da última vez que a NBA estivesse tão bem servida de técnicos, ou um ano como 2014 com tantos técnicos merecendo consideração para Coach of the Year pelos bons serviços.


"A partir de hoje, o posto de time #1 de Kanagawa não será mais de vocês!"
"Você não é capaz disso, Uozumi"
"Não vai ser eu. O nosso Sendou que vai cuidar disso"

Apenas pela segunda vez nas últimas seis temporadas, o MVP da NBA não teve duas letras maísculas no seu primeiro nome. Não que, em algum momento dos últimos seis anos, LeBron James tenha deixado de ser o melhor jogador da NBA. Mas em 2014, enfim, pudemos olhar um jogador e dizer com total certeza: esse, e não LeBron, foi o melhor jogador da temporada regular da NBA. Embora eu tenha defendido (e ainda defenda) o MVP de Derrick Rose em 2011, essa foi a primeira vez desde 2009 que alguém teve uma temporada individualmente melhor que LeBron.

Em parte, isso aconteceu porque LeBron - vindo de três Finais de NBA e um título com a seleção americana na offseason, sempre sendo a primeira opção ofensiva E defensiva da sua equipe, jogando minutos insanos cada temporada - finalmente regrediu um pouco. Ele não se dedicou tanto essa temporada como poderia, especialmente na defesa, onde chegou a ser horrível em alguns momentos. Ele frequentemente jogava com menos intensidade e vontade, deixando de vencer alguns jogos ou dominar partidas como poderia. Se eu culpo ele? Nem um pouco. Ele está entrando na segunda parte da sua carreira, sabe que o que importa mesmo é o que acontece nos playoffs, sabe que o time poderia ser #2 em um fraquíssimo Leste mesmo sem jogar para valer, e decidiu que se preservar física e tecnicamente era muito mais importante do que jogar mais uma temporada na quinta marcha e cansar nos playoffs (como aconteceu em 2013, by the way).

Mas em parte, isso também aconteceu porque Kevin Durant subiu ainda mais um nível e se tornou o jogador que todo mundo sonhava que ele pudesse se tornar quando saiu de Texas em 2007. Já faz uns quatro anos que Durant era o melhor pontuador da NBA, mas esse ano ele foi ainda além: terminou o ano com 32 pontos por jogo, a melhor marca da sua carreira por uma considerável margem (30.1 em 20120 era a melhor) e se juntou a Jordan, Kobe, Bernard King, Iverson, McGrady e George Gervin como os únicos jogadores a terem uma temporada com 32+ PPG desde a fusão entre NBA e ABA.

Mas o que fez da temporada 2014 de Durant tão especial não foi sua incrível pontuação apenas, e sim a forma como o resto do seu jogo evoluiu de forma alucinante. Não só apenas ele teve o melhor ano da sua carreira pontuando, mas ele também teve um espetacular ano all-around, conseguindo career high em assistências (5.5), uma boa marca em rebotes (7.4) e jogando defesa em altíssimo nível. Colocando em contexto, apenas Jordan, Elgin Baylor e Wilt Chamberlain na história tiveram uma temporada com 32-7-5, e apenas Jordan desses três conseguiu uma temporada com 5.5 assistências como Durant (para ser justo, Jordan teve um 33-8-8 com 55 FG% que deveria ser impossível e/ou proibido). Durant não é só mais o melhor pontuador da NBA, ele também é o segundo melhor all-around player da NBA. E ele fez tudo isso com seu melhor companheiro (e único All-Star) machucado por boa parte do ano.

Com Durant finalmente atingindo esse nível histórico e com todo seu auge ainda pela frente (com ainda espaço para evoluir), é válido perguntar: quando será a próxima vez que o jogador #1 da NBA não se chamará LeBron James?

E claro, não temos uma resposta para essa pergunta. LeBron é o melhor do mundo e ainda tem apenas 29 anos, então não é como se estivesse enfrentando o final de sua carreira e a erosão de seu incrível atleticismo. Não fazemos essa pergunta porque achamos que LeBron não vai continuar bom. Nós perguntamos porque a NBA é extremamente competitiva, não é nada fácil se manter no topo, especialmente com tanta milhagem como ele (1000 jogos e 40.000 minutos totais). E perguntamos  principalmente porque acabamos de ver um jovem talento que está apenas atingindo seu auge chegar em um patamar tão alto, tão impressionante que nos assusta pensar que ele sequer é o melhor jogador da atualidade. E ficamos imaginando se Durant ainda tem espaço para crescer, e se a leve queda de LeBron em produção em 2014 (sim, nos playoffs também) tem a ver com cansaço ou desgaste físico inevitável depois de tanto tempo jogando em alto nível. E perguntamos porque, como fãs de NBA, estamos sempre em busca da próxima grande estrela, daquele "next big thing" que vai nos levar a um patamar mais alto como fãs do esporte. E o "next big thing" - que já é uma realidade - é Kevin Durant.

Eu não sei quando Durant vai superar LeBron como melhor jogador da NBA. Não sei se algum dia LeBron vai permitir isso, ou se uma jovem estrela (Anthony Davis?) não passará na frente de Durant antes. O que eu sei é que Durant foi tão bom em 2014 que nos fez pensar em fazer essa pergunta. E isso só já é impressionante.


"Desgraçados... Disputando o posto de número 1 sem mim, é?"

Dois jogadores, desde 2009, tiraram um prêmio de MVP das mãos de LeBron James. Apenas dois. Um deles é o segundo melhor jogador da atualidade, uma superestrela jogando em um nível histórico e que já figura entre os grandes de todos os tempos apesar de ter apenas 25 anos. O outro está se recuperando de mais uma cirurgia no joelho e a terceira temporada seguida perdida para lesão, enquanto se torna uma piada do mundo do basquete e um dos "e se?" mais perguntados do esporte: e se Derrick Rose ficar saudável?

Quando Rose foi o MVP em 2011 - uma escolha um tanto criticada, mas que eu apoiei na época e ainda acho que foi a escolha correta - parecia que ele estava caminhando para se tornar uma superestrela. Teve um ano espetacular, com 25-4-8 e sendo o melhor jogador e único capaz de criar o próprio arremesso para o melhor time da NBA, com apenas 23 anos. Quando, um ano depois, Rose estourou o seu joelho ao invés de continuar desenvolvendo seu jogo, a NBA perdeu (espero que apenas por enquanto) um jovem talento excepcional que poderia hoje estar nesse patamar com LeBron e Durant, disputando MVPs e sendo incluído na discussão de melhor jogador da NBA. Nossa perda, porque nunca saberemos o quão bom ele poderia ter sido nesse tempo todo, e se um Chicago Bulls com Rose saudável poderia ter incomodado um Miami Heat que foi soberano no Leste durante esses três anos.

Algum dia Rose vai ficar saudável? Essa é a pergunta, mas para mim uma ainda mais importante é: se ele ficar saudável, ainda vai conseguir ser o mesmo jogador? Ainda vai ter sua velocidade e explosão sobre-humana depois de tantas cirurgias no joelho, ainda vai saltar, mudar de direção e atacar o aro com a mesma ferocidade? Eu não acreito, e esse é um dos motivos pelo qual eu achava tão importante para Chicago conseguir Love ou Carmelo nessa offseason para aliviar a carga de seu armador e ainda aguentar o barco caso Rose nunca mais volte ao nível de 2011.

É triste ver um jogador jovem com tanto potencial acabar assim: imaginem o que aconteceria se Durant tivesse estourado o joelho em 2010 quando foi cestinha da NBA pela primeira vez e perdesse os próximos três anos com cirurgias no joelho. Ele teria em algum momento feito esse incrível 32-7-5 em 2014 e levado um MVP de LeBron? De jeito algum. Claro que os jogadores seriam diferentes, e suas trajetórias de carreiras não necessariamente seriam iguais, mas de um ponto de vista mais amplo, é mais ou menos isso que significou a lesão de Rose. Ele deveria estar hoje disputando o título de melhor da NBA com LeBron e Durant, e ao invés disso, ele possivelmente será lembrado pelo que poderia ter sido, o novo Penny Hardaway, um grande talento que nunca teve a chance de atingir seu auge. A pior coisa quando isso acontece. E claro...


"Sem o Fujima, o Shoyo não passa de um time de segunda... apenas um pouco melhor do que os outros. Mas quando o seu armador entra, eles se tornam o time habituê do intercolegial. Eles só mostram sua verdadeira força quando são comandados pelo Fujima

É impossível não ver os paralelos entre Fujima e Rose (e Shoyo e Bulls) nessa frase. Sem Rose, o Bulls tem sido exatamente isso - um time acima da média, que consegue vitórias com base em um jogo coletivo, um excelente técnico, e uma defesa alucinante (e o muito-underrated-até-esse-ano Joakim Noah), mas que não assusta ninguém nos playoffs e não é de fato uma ameaça a competir pelo título. Mas coloque um saudável Rose na equação, e o Bulls é um time que terminou 2011 com +8.1 de saldo por 100 posses (#2 na NBA) e 62 vitórias. Chicago não é um bom time pontuando, mas com Rose, eles possuem alguém capaz de carregar o ataque por algum tempo, criar seu arremesso, atrair defesas e desmontar esquemas defensivos atacando a cesta... mas sem ele, o time vira só uma boa defesa, incapaz de ser competitivo contra bons times. Por isso o Bulls queria tanto Carmelo, alguém capaz de fazer esse papel ofensivo por Rose, ou mesmo Love, uma estrela capaz de carregar o time na pontuação. Enquanto Noah e Thibodeau estiverem em Chicago, o time terá uma boa defesa, mas não adianta se você não tiver um ataque capaz de acompanhar, e eles não possuem um desde que Rose machucou.

Para essa temporada, Chicago não conseguiu Melo (que preferiu ganhar mais $$ em New York a competir por um título) mas conseguiu reforçar o time mesmo assim: trouxe Doug McDermott, um exímio chutador de fora, Pau Gasol para pontuar no garrafão e aliviar o ataque com seus passes (btw, uma dupla Gasol-Noah fazendo passes rápidos no garrafão? Holy mackrell!), e até Nikola Mirotic que enfim veio da Europa. Isso da uma sólida rotação de garrafão, com dois pontuadores e dois defensores de elite (Taj Gibson incluído), mais McDermott que pode jogar de SF ou PF. É sem dúvida um time melhor do que era ano passado.

Mas isso vai fazer diferença na busca por um título? Sem Rose, provavelmente não. O elenco de apoio sem dúvida melhorou, é capaz de fazer estragos e ser o melhor da NBA se tiver uma estrela como Rose para liderá-lo, mas sem ele? Dificilmente. Vai ser apenas uma versão melhor do Bulls do ano passado, um ferrolho defensivo que não conseguia pontuar o suficiente contra bons times. A diretoria fez um bom trabalho nessa offseason reforçando o time (btw, eu ainda teria pego Gary Harris no Draft), mas se Chicago quiser ir a algum lugar esse ano, vai precisar de Derrick Rose.


"Eu vou derrotar o Yamaoh!! Eu, o gênio Sakuragi!"

Com Derrick Rose machucado segurando o Bulls e o resto do Leste em um estado muito fraco, a única esperança para vencer Miami para essa temporada surgiu nos playoffs de 2013, quando o Pacers levou os campeões a 7 jogos bastante físicos em uma série que muita gente não esperava mais do que 5. Isso colocou o Pacers no mapa como um possível candidato ao título de 2014 e real ameaça a Miami no Leste, e eles começaram a temporada como tal, vencendo 40 de seus primeiros 51 jogos com o melhor saldo por 100 posses da NBA (8.6) e uma defesa que estatisticamente estaria entre as melhores de todos os tempos. Dai o time, que parecia sério candidato ao time, fez algumas trocas, se preparou para a reta final da temporada... e tudo deu errado ao final do ano, com o time sofrendo para ganhar metade das suas perdidas pós-All Star Game com um saldo de pontos negativo e o segundo pior ataque da NBA. Mesmo que tenha chegado nas antecipadas Finais contra Miami (depois de quase perder na primeira rodada para o 8th seed Hawks), o seu status como time forte e favorito já tinha a muito tempo sido destruído, e eles caíram facilmente perante os então campeões. De time destinado a vencer os soberanos do Leste, o Pacers terminou o ano como uma piada e com muitos pontos de interrogação.

"O que aconteceu com o Pacers?", então, virou um dos grandes temas de debate da NBA, um mistério no nível "Quem matou JFK?" ou similares. As teorias mais malucas pipocaram a respeito, a minha favorita ainda sendo (e eu juro que eu li isso de verdade) que um threeway envolvendo Hibbert e Paul George deu errado por causa de um contato visual na hora errada, ficou um clima estranho entre eles, e isso atrapalhou o andamento do time. Para vocês verem a que ponto as coisas (e as especulações chegaram).


"O nosso time está em crise... e eu não sabia..."

Bom, vocês querem saber o que EU acho que aconteceu com o Pacers? A meu ver, foi uma combinação de três fatores:

a) O Pacers foi um time um pouco overrated desde o começo. Eles chegaram até Miami em 2013 sem convencer, com uma temporada sólida mas não espetacular e playoffs um tanto complicados (precisaram de 6 jogos difíceis para vencer Hawks e mais 6 para passar por um time cada vez mais disfuncional do Knicks). A sua fama se fez mesmo naquela série de 7 jogos, mas essa dificuldade imposta aos campeões veio muito mais do fato de serem um PÉSSIMO matchup para Miami, que não estava preparado para isso e estava muito cansado de um final de temporada regular que jogaram na qunta marcha (um fato, by the way). E mesmo assim, a série foi muito menos próxima do que parece - assista as quatro vitórias de Miami de novo, e em nenhuma delas você pensa "wow, o Pacers poderia ter levado esse jogo e não aproveitou!". Quando Miami conseguiu ligar seu basquete hiperativo de verdade, eles foram muito superiores e Indiana não teve resposta. Eles não conseguiram jogar assim por sete jogos e as vezes pareciam despreparados para enfrentar um matchup tão complicado, mas em nenhum momento Indiana mostrou estar a altura do melhor basquete de Miami.

Então todo mundo focou nessa série, e esqueceu o quão não-espetacular Indiana foi no resto do ano, para apontar o Pacers como um favorito. Entre isso e o bom começo de temporada que tiveram, é bem claro que o time era sim um bom time, mas a série contra Miami em 2013 acabou fazendo parecer -erroneamente - que esse time era mais do que realmente era, e as expectativas foram ajustadas como tal. 

b) O time do Pacers cansou. Nenhum time na NBA inteira era mais dependente de seus titulares - nenhum quinteto jogou mais em 2014 do que Hill-Stephenson-George-West-Hibbert. Em parte pela falta de banco e dificuldade de Vogel de achar alternativas, Indiana dependeu demais durante o ano todo desses titulares, então depois de 1468 minutos na temporada regular (nenhum outro lineup chegou a 1375) e mais 395 nos playoffs (nenhuma outra teve mais que 225), sem falar no estilo muito físico que jogavam, esse quinteto (o melhor de 2013 e segundo melhor de 2014 em saldo de pontos por 100 posses, btw) não tinha mais pernas para jogar e acompanhar adversários rápidos e atléticos.

c) Talvez o mais importante de todos, mas o Pacers em nenhum momento era um supertime com grandes estrelas capazes de dominar individualmente uma partida. Era um time muito bem montado, com excelentes defensores, mas que ofensivamente dependia muito do seu coletivo, de cada jogador cumprir seu papel, maximizar seus talentos e contribuir como podia para a equipe. Em outras palavras, uma equipe sem estrelas que dependia muito da sua chemestry, da hierarquia dentro da equipe e de cada jogador contribuindo em seu papel da melhor forma possível.

Durante o começo da temporada, isso funcionou muito bem, mas em certo ponto, esse delicado equilíbrio começou a desmontar por vários motivos. Lance Stephenson, talvez o principal jogador ofensivo de Indiana por ser o único jogador capaz de criar a partir do drible e seu melhor passador, tinha virado uma força nessa temporada jogando de forma precisa e focada, mas quando Steph não foi escolhido para o All-Star Game, parece que ele ficou ofendido, e começou a jogar de forma muito mais ostensiva, mas menos eficiente: passes difíceis que viravam turnovers, jogadas elaboradas ou plásticas ao invés das mais simples, tentativas de atacar a cesta no meio de três jogadores, etc. Em outras palavras, ele esqueceu o jogo pragmático e eficiente que fez dele tão bom no começo da temporada, começou a jogar com outro propósito, e o time sentiu demais como consequência. Paul George também teve um começo quente de temporada e começou a atrair conversas de "Superstar!", mas quando essa conversa se intensificou e George não conseguiu manter os números, ele tentou forçar mais o jogo, fazer demais (e além do que ele normalmente faz) e basicamente jogar como a superestrela que todos diziam que ele devia ser, mesmo que estivesse saindo de suas principais características e atrapalhando o time no processo. 

Considerando que Stephenson e George eram os dois melhores/mais importantes jogadores ofensivos do time, não é a toa que essa mudança de dinâmica acabou com o ataque de Indiana. E talvez igualmente importante, isso significava que um time que derivava seu sucesso de um jogo coletivo e eficiente, de grupo, de repente começou a contar com dois jogadores seguindo suas próprias agendas sem pensar no coletivo. Isso acabou com a dinâmica de grupo da equipe na qual o Pacers foi construído, e digamos que as chegadas de Andrew Bynum e Evan Turner não ajudaram muito a estabilizar o vestiário. 

Essas três coisas - fadiga excessiva pela falta de banco/excesso de uso dos titulares, as duas principais peças da equipe abandonando seu melhor jogo e acabando com a ordem altruísta da equipe, e um time que foi um pouco overrated desde o começo - colocaram Indiana em uma espiral descendente ao final da temporada, da qual eles ainda não saíram direito. A temporada acabou, e acima do teto salarial, ninguém fazia idéia de como a equipe iria fazer para dar o próximo passo, ou pelo menos sair  da crise. Eles acabaram usando o espaço que podiam para adicionar arremessadores em uma tentativa de abrir um pouco o ataque, mas perderam seu melhor criador no processo (Lance Stephenson) em parte porque ele deixou todo mundo lá de saco cheio. E agora, o time que parecia ser "o time do futuro do Leste" parece mais fraco do que esteve nos últimos dois anos, e ninguém sabe ao certo o quanto conseguirão ser competitivos com a elite do Leste. Incrível como as coisas mudam rápido na NBA.

(Paul George sofreu uma lesão assustadora alguns dias depois de eu terminar essa seção e vai perder a temporada? Claro que sim! Só para acabar com o propósito do que eu escrevi antes...)


"Você vai lembrar do jogo de ontem para sempre. Porque foi a primeira vez que Sakuragi, o homem do basquete, deu uma enterrada"

Simplesmente porque eu estava procurando uma desculpa para incluir esse vídeo na coluna. RIP dignidade do Kenneth Faried.





"É o fim dessa era. Agora Kanagawa vai viver uma época de guerra, onde novos heróis surgirão para conquistar seu espaço"

O Leste do ano passado era uma conferência muito, mas muito fraca. Eles possuíam um legítimo juggernault nos duas vezes campeões Heat, um potencial desafiante que virou piada ao final da temporada... e uma penca de times medianos, sólidos mas não espetaculares, todos os quais teriam sofrido uma surra histórica em uma possível final contra San Antonio ou OKC (o juggernault e atual campeão do Leste também sofreu uma surra histórica do Spurs nas Finais, no final das contas). Abaixo disso, você tinha diversos times fracos - KnicksCavs - e vários outros tentando ser pior do que o outro por Andrew Wiggins e Jabari Parker. A diferença entre Miami e os demais times era brutal, e tirando Pacers e Bulls (caso Rose ficasse enfim saudável), nenhum time parecia ter condições de superar o Heat de LeBron tão cedo.

No entanto, algo estranho aconteceu. Miami levou uma surra de um time superior de San Antonio nas Finais, com uma situação que lembrava estranhamente o Cleveland pré-Decision: LeBron tendo que fazer tudo sozinho, carregar a equipe nas costas, sem nenhuma ajuda dos seus companheiros. No segundo tempo do G5 - quando um título do Spurs já era inevitável - LeBron poderia estar usando uma camisa 23 do Cavs nas Finais de Conferência de 2010, jogando sem qualquer ajuda, forçando passes e evitando jogar sozinho, como se implorasse que qualquer um fizesse algo para ajudá-lo. Ninguém fez, e pela primeira vez desde o primeiro título do King em 2012, começou a parecer um cenário realista que LeBron fosse deixar Miami quando virasse free agent. Quando Cleveland ficou com a primeira escolha do Draft, então, todo mundo surtou achando que era a grande chance do King sair do Heat.

A questão é que essa possibilidade significava demais para a conferência Leste. O Leste era um time cheio de mediocridade e um time dominante, muito acima dos demais. Mas se o Heat fosse perder seu melhor jogador, ele iria deixar de ser esse time tão assustador, e de repente a conferência Leste estaria totalmente aberta, sem nenhum grande time dominante ou superior aos demais, só vários times acima da média brigando por um título. E assim, de repente, abria-se um caminho viável até as Finais para diversos times medianos que, até pouco tempo atrás, não tinham nenhuma esperança de chegar até lá.

E os times do Leste começaram a enxergar essa possibilidade, esse caminho aberto até as Finais, e começaram a investir onde antes não teriam tanto incentivo. Por exemplo, o Washington Wizards tinha uma decisão difícil, de gastar acima do que deveria e travar um pouco sua folha salarial para manter junto seu núcleo de 2014, um núcleo sólido, mas não espetacular e que dificilmente seria um time de elite em uma boa conferência. Mas sem o Heat e nenhum outro time dominante no Leste, o Wizards estava em igualdade com seus concorrentes, e sabia que mantendo esse time bom junto, teria uma boa chance de aproveitar esse buraco para tentar chegar nas Finais. E foi o que eles fizeram, gastando muito dinheiro para manter Marcin Gortat por perto, trazendo Humphries e DeJuan Blair para compor o banco, e mesmo gastando 6M no veteraníssimo Paul Pierce. Esse time não seria um candidato ao título no Oeste nem em um milhão de anos. Mas no Leste? Com alguns bons matchups e alguma sorte, esse time pode muito bem chegar a uma final de conferência e quem sabe nas Finais.

E isso que faz o Leste tão interessante entrando em 2014/15. Vários times anteciparam essa janela e decidiram investir no agora, dando contratos caros para manter seus times juntos ou adicionar algumas peças, tentando vencer esse ano. O Wizards trouxe Pierce e deu um contrato milionário para Gortat. O Hornets pagou uma bela grana para Gordon Heyward, e depois Lance StephensonRaptors overpaid alguns jogadores de banco para manter unido o time que foi tão bem em 2014. O Nets sempre esteve em modo win-now mode, e o habitual mão-de-vaca Bulls pagou uma boa grana para Pau Gasol e Nikola Mirotic na esperança de que esse seja o ano que Derrick Rose fique saudável. Até o próprio Heat deu um contrato absurdo para Chris Bosh em uma tentativa de evitar cair na loteria e manter o time competitivo no que eles sabem ser uma conferência fraca. Então ao invés de ter vários times prudentes, preocupados com sua flexibilidade salarial ou talvez tentando vender algumas peças para reconstruir com vistas no futuro, temos diversos times gastando, contratando e se reforçando para brigar por uma chance de ir longe nos playoffs. Isso vai ser muito interessante de acompanhar.


"Vou apostar tudo quando o Uozumi estiver no terceiro ano! Se eu conseguir recrutar o MVP, Hisashi Mitsui, ele formará uma dupla invencível com o Uozumi!"
*Recusado*
"Preciso de um armador que se torne o pilar do time! Esse pode ser baixinho, mas tem que ter uma capacidade física notável! Ryota Miyagi é a escolha certa!"
*Recusado*
"Kaede Rukawa, do Tomigaoka! Ele sim é um talento único, desses que só aparecem a cada 10 anos!!"
*Recusado*
"O que?! Shohoku?! Porque?! Não vai me dizer que também é por causa do Prof. Anzai?!"
"Porque é mais perto de casa"

Mesmo depois que o Rockets trouxe Dwight Howard como free agent, o GM Daryl Morey insistiu que não tinha pressão alguma por um título em 2014, dizendo que enquanto a contratação de Dwight Howard era um passo importante nos planos do time, a construção de um elenco campeão ainda não tinha acabado, e que esse era apenas o primeiro ano de um projeto mais longo. Em parte isso era verdade por dois motivos: primeiro, porque ele viu o que aconteceu com Miami em 2011, e sabia que precisava de mais uma janela para adicionar veteranos para completar o time; e segundo, e talvez mais importante, porque Morey ainda queria adicionar uma terceira estrela ao seu time. O Rockets é um dos times que sempre entendeu o valor das estrelas na NBA, tanto dentro como fora de quadra, e queria trazer outra para complementar a dupla Harden/Dwight enquanto podia.

E eles podiam por um motivo que era ainda muito bom para a equipe: porque o free agent restrito Chandler Parsons, embora fosse um excelente jogador que fosse ganhar um gordo contrato, contava apenas como 1M de "cap hold" na sua folha salarial por ter sido uma escolha de segunda rodada. Então enquanto o Rockets não oferecesse um novo e caro contrato para Parsons - ou outro time não o fizesse e o Rockets igualasse a oferta - Parsons não custaria quase nada no espaço salarial da equipe, e ainda poderia ser renovado posteriormente sem se preocupar com o teto salarial. Em outras palavras, o Rockets poderia liberar algo como 20M de espaço salarial para oferecer um contrato máximo a alguma estrela, e depois de assinar com esse jogador, ainda poderia trazer de volta Parsons  passando do teto salarial por causa de seus Bird Rights.

Sabendo disso, e sabendo que esse espaço salarial acabaria se algum time fizesse uma proposta por Parsons e o Rockets a igualasse, Houston se apressou para trazer essa terceira estrela o quanto antes. Inicialmente, o desejo de Houston era Carmelo Anthony ou Kevin Love. Mas quando o Heat tomou uma surra do Spurs e começou a parecer muito real a possibilidade de LeBron deixar Miami (ou mesmo do Big Three se separar), o Rockets mudou seu foco e foi atrás de Chris Bosh. Em termos de conjunto de habilidades, Bosh era o jogador perfeito para a equipe, um PF exímio arremessador com alcance até a linha dos três pontos, mas também capaz de jogar de C e proteger o aro, e ainda por cima com experiência sendo um jogador de spot-up e uma opção secundária no ataque. Se encaixava tão bem no estilo veloz e espaçado da equipe que fez todo o sentido o Rockets ir atrás dele com tudo que tinha, e sabendo que ele teria que deixar muito dinheiro de lado (algo como 7M por ano ou mais) para ficar em Miami com LeBron, Morey fez a ele uma proposta que ele não podia recusar: um contrato máximo, 88M por 4 anos. Quando LeBron decidiu ir para o Cavs e o Heat de repente pareceu um time frágil, parecia questão de tempo até Bosh aceitar esse contrato máximo e ir para o time que viraria um fortíssimo candidato ao título.

Quando LeBron anunciou sua decisão e o Mavs apressou as coisas oferecendo um contrato de 48M para Parsons, o Rockets parecia na situação perfeita e o grande vencedor da free agency. Se conseguisse abrir espaço salarial a tempo, era só assinar com Bosh e depois igualar a oferta do Mavs, trazendo assim de volta seu melhor não-All Star além da terceira estrela que tanto queriam. Morey correu para conseguir abrir esse espaço, trocando Asik para o Pelicans por uma escolha de primeira rodada, e depois usando uma outra escolha de primeira rodada para mandar Lin e seu contrato para o Lakers, abrindo assim espaço para o contrato de Bosh. Ai tudo foi para o inferno quando Bosh renovou com Miami por um contrato ainda mais absurdo, 116M por 5 anos, um contrato maior e mais longo que só o Heat poderia oferecer para seu próprio free agent, e deixou o Rockets de mãos vazias. Em pânico e com medo de perder seu espaço salarial todo a toa, eles trouxeram Trevor Ariza por 4 anos/32M, mas depois acharam que igualar a oferta por Chandler Parsons iria acabar com sua flexibilidade salarial no curto prazo, e perderam também seu ala. Então o time que sonhou com Parsons e Bosh acabou sem nenhum dos dois e apenas Ariza de consolo.

É difícil não sentir pena do Rockets aqui. Eles foram para o all-in em busca de Bosh ou Carmelo, fizeram tudo que podiam para atrair o jogador que precisavam, mas falharam, e pagaram um preço alto por isso. O Rockets perdeu Lin - um sólido jogador de rotação em uma posição carente da equipe - E uma escolha de primeira rodada só para abrir as pressas um espaço salarial que não usaram, seu C reserva e valioso protetor de aro não está mais lá pelo mesmo motivo (embora eles tenham ganho uma valiosa escolha de primeira rodada em troca), e ainda se viram "forçados" (na visão de Morey) a abrir mão de seu terceiro melhor jogador. Tudo que poderia dar errado deu.

Algumas pessoas atribuem a falta de interesse os jogadores a uma situação teoricamente excelente em Houston - bom clima, sem impostos sobre salário, time forte, etc - a uma percepção negativa que a equipe tem ao redor da Liga, um time que dentro de campo é desinteressado e não joga tão a sério como muitos acham que um time em busca do título deveria (não é difícil ver de onde vem isso, já que a estrela do time - Harden - nem se esforça na defesa, e Dwight Howard é Dwight Howard e sempre foi). É bem possível que seja verdade, mas não da para culpar Morey por isso - ele colocou seu time em boas chances de conseguir ser um grande vencedor, e na última hora deu errado. Eles pelo menos conseguiram Ariza, um bom defensor e arremessador que encaixa bem na equipe, e ainda poderiam ter mantido Parsons se quisessem, mas optaram por manter a flexibilidade salarial no curto e médio prazo. Isso faz algum sentido, considerando que o time ainda tem Dwight e Harden por um bom tempo e que, com alguns ativos interessantes, nada impede que o time faça outra tentativa de conseguir uma outra estrela ou quase-estrela (Rajon Rondo?). Mas perdendo seu melhor defensor reserva, seu melhor PG criador, e um ala extremamente criativo e ativo como Parsons, é inegável que o Houston vai para 2015 como um time inferior ao que era - e muito inferior ao que poderia ter sido.


"Com Mitsui, Miyagi e Rukawa, eu teria montado um time invencível! Mas isso não importa mais. Eu posso derrotar qualquer time dos sonhos com os atletas que tenho agora"

O outro lado da história de Moichi Taoka vai para o Miami Heat. É impossível não ser um perdedor em uma free agency onde seu time perdeu o melhor jogador do mundo, e com LeBron em Cleveland e Bosh recebendo uma oferta excelente do Rockets, o Heat ficou em uma situação complicada. Sem seus dois melhores jogadores, e sem um elenco profundo, jovem ou com boas escolhas de Draft, o Heat parecia destinado a voltar a loteria e passar por uma reconstrução depois do período mais bem-sucedido da sua história.

Só que depois que você ganha, é difícil se contentar com derrotas, e Pat Riley preferiu arriscar e investir alto pra manter sua equipe competitiva a aceitar um período por baixo. A primeira providência foi usar o direito que tinha sobre o free agent Chris Bosh para fazer uma oferta que nenhum outro time poderia, a oferta máxima de 5 anos e 116M que fez Bosh (que supostamente adora a vida em Miami) ficar na equipe ao invés de buscar um novo título em Houston. Mantendo Wade e Bosh, o chefão de Miami também trouxe Luol Deng para o lugar de LeBron e adicionou algumas peças pontuais, como Josh McRoberts e a volta de Birdman. Ao invés de voltar ao que o time era pré-LeBron, Riley preferiu abrir os cofres para manter o time competitivo.

Os negócios foram bons? Independentes, em um vácuo, não. Bosh, em particular, foi um enorme overpay para um jogador de 30 anos que não joga mais no garrafão e não vai mais poder se beneficiar dos passes e dos espaços criados por LeBron. Wade também não vale 16M por ano enquanto jogar como jogou nos últimos dois anos. Mas uma vez que o Heat não tinha um futuro em uma reconstrução e a falta de vontade de Arston e Riley de passar por um período de baixa depois de tanto sucesso, o plano do Heat faz sentido e Riley conseguiu tirar o máximo de uma situação complicada. Napier é um sólido jogador (ou pelo menos assim eles esperam), Deng é um ótimo defensor que vai manter a defesa do time afiada, e Wade/Bosh ainda oferecem um par de estrelas para o time se construir em torno (sim, Wade não tem jogado como uma estrela e parece meio acabado, mas o Heat está apostando que ele ainda possa ser uma, com mais liberdade e espaço agora que LeBron saiu). É um time bom o suficiente para ir aos playoffs no Leste, e com a conferência extremamente em aberto, eles podem até sonhar com uma volta a final de conferência.

É possível que daqui a algum tempo o contrato ruim de Bosh pese, tirando a flexibilidade salarial do time? Certamente. Mas por enquanto, o Heat conseguiu seu objetivo, sobreviveu a saída de LeBron e conseguiu manter o time competitivo no futuro próximo. Um bom trabalho de Riley.


"O que?! O Hisashi Mitsui do ginásio Takeishi?! Como eu nunca vi ele em três anos no Shohoku?!"
"É porque ele tinha virado maloqueiro."

Após os playoffs da NBA, Lance Stephenson era um grande mistério, um jogador extremamente talentoso, ótimo criador e ball handler, sólido defensor, mas que muitas vezes irritava os companheiros por fazer a jogada mais chamativa ao invés da melhor para o time, e em geral jogar para si mesmo. Apesar de talentoso e ainda jovem, apenas 23 anos, muitos times viam o SG como um enorme risco por seus problemas de personalidade e difícil convivência. Uma das grandes dúvidas da offseason era qual exatamente seria o mercado por Stephenson, se prevaleceria o seu talento ou a imagem de problemático.

Aparentemente, seus desagradáveis momentos na série contra Miami e a imagem negativa prevaleceram, já que a informação era que o mercado por Stephenson era bastante restrito. O Pacers ofereceu um contrato de 5 anos e 44M para o jogador, mas não sabemos exatamente a estrutura desse contrato para Stephenson recusá-lo. Parecia que nenhum time iria pagar mais caro.

Entra em cena o Hornets. Depois de anos e anos sofrendo derrotas e humilhações, e ainda assim não conseguindo nenhum grande prêmio na loteria, o time se cansou e decidiu investir em resultados imediatos (e por "resultados" leia-se "não ser o pior time da NBA e quem sabe brigar pelos playoffs no Leste"). O primeiro ano, desse ponto de vista, foi um sucesso: o recém-contratado Al Jefferson foi um monstro em seu primeiro ano, o time se encaixou muito bem, foram aos playoffs, e por ai vai. Então continuando nesse mesmo caminho de sair do buraco, e vendo o buraco que se abriu até o topo do Leste com o Heat se desmontando, o time decidiu continuar investindo, dessa vez trazendo um criador de perímetro. Quando o Jazz acabou com seu plano A (Gordon Heyward), o time foi atrás de Stephenson, assinando com o ala por 3 anos, 27M.

Em termos de basquete, essa contratação faz muito sentido para Charlotte. O seu ataque ano passado passava por Al Jefferson e começava a partir do garrafão, mas muitas vezes (especialmente quando Kemba Walker e Al estavam no banco) o time sentia falta de alguém para criar a partir do perímetro, e o tempo todo sentiu MUITA falta de um criador no contra ataque (só 5 times pontuaram menos em transição em 2014). Stephenson é um excelente ballhandler capaz de fazer ambas as funções, e - talvez tão importante quanto - liderar grupos de reservas por longos períodos, como fez no Pacers temporada passada. Então em termos de basquete ele é exatamente o jogador que o Bobcats precisava para dar o próximo passo. Mas o que eu mais gostei aqui é como o contrato é excelente para a equipe, lhe da segurança caso os problemas com Stephenson superem os benefícios: o contrato só é garantido por dois anos (o terceiro é team option) e a um valor não-proibitivo, então se Stephenson não causar problemas e só contribuir como pode dentro de quadra, o time ganha um excelente jogador a um custo baixo... e se ele começar a ser um problema, o contrato é só de dois anos e pode facilmente ser movido para outro time na qualidade de contrato expirante. Contrataram um ótimo jogador a um bom custo e se protegeram contra seus problemas.

Para Stephenson, parece mais complicado entender o contrato já que o que o Pacers lhe ofereceu pagava quase a mesma coisa anualmente mas durava muito mais. Mas é preciso lembrar que ninguém sabe se a oferta do Pacers ainda estava de pé quando o Hornets entrou na jogada, e ainda por cima, tem incentivos para ele pegar a do Hornets mesmo assim: o contrato paga mais nos primeiros três anos, e com o contrato de Charlotte, ele se tornaria free agent aos 27 anos (supostamente no seu auge) e logo depois de um possível novo CBA e novo salto do teto salarial, o que lhe garantiria um contrato maior se tudo desse certo. É um risco, claro, deixar dois anos (e 17M em dinheiro supostamente garantido) na mesa, mas Stephenson está apostando em si mesmo, e apostando (como muitos outros) que em breve o salary cap vai subir muito mais, e que assim ele pode ganhar mais dinheiro daqui a três anos. É uma aposta, mas uma boa aposta. E o Hornets se beneficia com isso. Grande offseason de um time que dois anos atrás era a grande piada da NBA.


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