Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Slam Dunk e minha homenagem a temporada 2015 da NBA - Parte 2




Essa é a Parte 2 de uma mega-coluna sobre NBA e Slam Dunk. Para ler a Parte 1 (com a introdução), clique aqui. Para ler a versão completa, clique aqui.


"Ei... Você está vendo isso, Yazawa? Encontrei um talento que talvez te supere na quadra..." 

Para uma classe de calouros extremamente divertida e interessante, que inclui quatro potencial Franchise Players (Wiggins, Jabari Parker, Joel Embiid e Dante Exum), uma penca de potenciais All-Stars (Marcus Smart, Elfrid Payton, Aaron Gordon, Julius Randle, Noah Vonleh), Doug McDermott (Doug McDermott), um monte de jogadores interessantes (muitos para listar, mas pense Gary Harris e Nik Stauskas), e até alguns misteriosos jogadores internacionais (Dario Saric, Jusuf Nurkic, Dante Exum mais uma vez).

Eu não vou entrar em detalhes aqui porque já o fiz em duas outras ocasiões: você pode ler meu enorme preview sobre os principais jogadores desse Draft na coluna que escrevi para o Bola Presa, e você também pode ler minhas opiniões sobre cada escolha no nosso Mock Draft retroativo. Tudo que vocês precisam saber está lá. Essa frase é só para mostrar o quão animado eu estou com essa classe de calouros, e francamente, o quão animados vocês DEVERIAM estar com essa classe de calouros. Tem grandes talentos, tem jogadores individualmente interessantes, tem jogadores misteriosos, tem Zach LaVine e Andrew Wiggins dando enterradas impossíveis (e jogarão juntos!!!), tem uma legítima rivalidade entre os dois principais jogadores (Wiggins e Parker)... o que mais você pode pedir dessa classe?! Sente, relaxe, e aproveite.


"Vocês são calouros? O armador do Shoyo também é do primeiro ano. O do Kainan também. Maki e Fujima, sem dúvida Kanagawa vai ser dominada por esses dois"
"Pois lembre bem da minha cara, velho! Daqui a dois anos, eu vou voltar para derrotar esses dois!"

Fujima e Maki são amplamente considerados os dois melhores veteranos de Kanagawa, em parte porque jogam em times grandes que estão todo ano disputando títulos. O grande público acaba deixando jogadores como Akagi em segundo plano porque não jogam em bons times e não ganham nada, embora muitos de seus rivais - inclusive o próprio Maki - considerem Akagi um dos melhores jogadores da província.

O mesmo acontece na NBA. E em particular, eu me pergunto se acontece com Carmelo Anthony. Melo era claramente o segundo melhor free agent no mercado depois de LeBron, e a verdade era que LeBron não ia para nenhum lugar que não fosse Miami ou Cleveland. Então Melo era o melhor jogador que 28 times na Liga tinham esperança de fisgar, e ainda assim, ele acabou ficando em segundo plano para jogadores como Bosh ou Kevin Love, sendo que esse último nem mesmo era um free agent. Então porque Anthony foi tão deixado em segundo plano quando era alguém com muito mais chance de mudar de localidade? É por causa da sua fama (em parte justificada, em parte não) de fominha que não joga para o time? Ou é porque, assim como Akagi, ele joga em um time ruim e não temos a chance de vê-lo jogando nos playoffs?

É uma pergunta legítima, e sem dúvida, o fato dele não ter conseguido levar o Knicks aos playoffs em um fraquíssimo Leste depõe contra ele. Isso é totalmente justo? Em parte não. Ele certamente teve pouquíssima ajuda em New York, em um time sem um técnico ou diretoria competente. Seu time teve um dos piores PGs da NBA em Ray Felton, seu único companheiro que é um bom defensor (Tyson Chandler) perdeu boa parte do ano, e seu time pagou 39M por ano para Amare Stoudamire e Andrea Bargnani jogarem essa temporada, e fazerem coisas como isso e isso. Então ele realmente não teve nenhuma ajuda de seus companheiros.

Por outro lado, alguns podem dizer o papel de uma estrela é justamente carregar nas costas times ruins, especialmente jogando em uma conferência tão fraca como o Leste desse ano - não foi isso que LeBron passou grande parte da sua carreira fazendo no Cavs, ou dadas as devidas proporções, o que Durant fez essa temporada sem Westbrook? É difícil dizer se isso é justo ou não com Melo, afinal basquete não é um jogo individual e, como já foi dito, o seu time era mesmo muito ruim. Ainda assim, o Knicks perdeu a vaga para um time do Hawks que jogou com DEMARRE CARROLL de pivô em alguns jogos. Releia essa última frase.

Claro, isso acaba voltando para um ponto importante, e algo que gera muito dessas dúvidas: Carmelo nunca teve um time bom ao seu redor desde que chegou ao Knicks. Por um lado, ele tem responsabilidade nisso: ele forçou uma troca desnecessária em 2011 quando poderia ter simplesmente ido para lá como free agent, o que custou ao Knicks metade do seu time e valiosos ativos que poderiam ter sido usado posteriormente para reforçar sua equipe. Por outro, não foi ele quem fez erros atrás de erros, incluindo minha sequencia favorita: em 2012, o Knicks optou por não encerrar anteriormente o contrato de Billups, que era não-garantido. Mas logo depois o Knicks começou a namorar com o free agent Tyson Chandler, e para conseguir espaço salarial para ele, tiveram que gastar sua valiosíssima anistia em... claro... Billups, mesmo sendo que a) eles tinha o contrato horrível de Amare atrapalhando todo o time e era mil vezes mais urgente se livrar dele, e b) eles poderiam ter se livrado de Billups sem custo algum duas semanas antes. Não sei se é possível ter sucesso com a diretoria do Knicks, e de fato, Melo não teve.

Esse foi o principal motivo pelo qual tantos - incluindo eu e, ao que tudo indica, seu próprio agente - queriam tanto que Melo deixasse o Knicks e 32M na mesa para ir até Chicago. Era a chance dele finalmente jogar em um time de verdade, competente, com companheiros que o complementariam, e não dependeriam dele para fazer tudo sozinho. A chance de ver o quão bom Melo poderia realmente ser, e a melhor situação possível: um Defensive Player of the Year para proteger suas costas, um dos melhores técnicos da liga, uma segunda estrela para tirar a pressão de suas mãos, bons role players dos dois lados da quadra, e um elenco profundo que poderia jogar COM ele, não atrás dele. Quem sabe imitar o que Dirk fez em 2011 e levar esse time ao título como sua estrela ofensiva.

Mas infelizmente, nós nunca saberemos. Melo aceitou o contrato milionário do Knicks e ficou por lá. Ao invés de ir para uma situação confortável onde poderia brigar por títulos imediatamente e quem sabe mudar o rumo de sua carreira, Melo preferiu ficar e apostar todas as fichas na (remota) possibilidade de que o Knicks consiga atrair várias estrelas com seu espaço salarial nos próximos anos. E quem pode culpar Melo por pegar o dinheiro e continuar jogando na cidade que ele gosta? Eu certamente não jogaria 30M fora se me oferecessem. Melo não tem nada pelo que ser culpado. Mas ele fez sua escolha, e se ele gastar o resto da carreira em times medíocres em NY,  ele ainda vai dormir todas as noites sabendo o quanto sua carreira poderia ter sido diferente. Essa é a pior parte do jogo de "what-if": não saber como o outro caminho poderia ter sido. Nossa perda.


"Esse tipo de lesão pode ser o fim da carreira de jogador... para os simples e comuns (como esse aqui). Mas não misture o gênio com essa ralé!!"

Se você leu essa frase e NÃO pensou em Kobe Bean Bryant, eu não sei qual seu problema. Eu até consigo imaginar Kobe falando isso para alguém enquanto levanta pesos... com o pé enfaixado.

Desde que Kobe rompeu o tendão de Aquiles em 2013, tem sido fascinante acompanhar sua recuperação e especular sobre seu futuro. Nenhum jogador da história da NBA conseguiu se recuperar dessa lesão e retomar seu ritmo - todos viram seu rendimento cair, e em geral encerraram sua carreira em pouco tempo. Ele até voltou a jogar em 2014, mas jogou pouco antes de sofrer uma nova lesão que acabou com sua temporada.

Poderia Kobe ser o primeiro jogador da história a se recuperar dessa lesão? Não é impossível - ele é um maníaco por treinar, e tem acesso a todo tipo de coisa para ajudar que jogadores dos anos 90 para trás não tinham: métodos de treino, tratamento com células troncos, PEDs, etc. Mas as chances estão contra ele, e precisam ter isso em mente.

Mas a pergunta mais relevante aqui é: do ponto de vista estritamente de basquete, faz alguma diferença? É uma pergunta complicada. Seu contrato horrível garante praticamente sozinho que o Lakers não consiga fazer coisa alguma até que ele expire, muito menos montar um time competitivo. O Lakers insiste que quer aproveitar para montar um bom time nos últimos anos da carreira de Kobe... mas eles irão para 2015 com Lin, Kobe, Nick Young, Boozer e Jordan Hill. Se não é o pior time do Oeste, está bem perto, e a não ser que Kobe de repente recupere seu nível de 2006 e carregue o time nas costas até os playoffs. Para o Lakers, de certa forma, não seria melhor se Kobe não voltasse e o time se encontrasse novamente no topo da loteria para buscar jogadores que podem ajudar a equipe na fase pós-Bryant? De certa forma, Kobe é quem está atrasando o Lakers, tanto com seu salário (que impede que o time se reforce) como com sua presença (que faz com que o time tente inutilmente contratar jogadores medíocres para vencer agora ao invés de focar em uma reformulação).

E podem ter certeza que Kobe sabe disso. E vai ser interessante ver como um dos maníacos (no bom sentido) mais competitivos da história do basquete lida com isso, especialmente em um momento onde todos estão praticamente descartando-o para o futuro próximo. Por outro lado, se a realidade finalmente vencer Kobe Bean Bryant, o Lakers pode descobrir que a vida é bem mais difícil sem Jerry Buss.



"Mas se essa fita é do ano passado, quer dizer que vários jogadores já graduaram, certo?"
"É isso ai! Ta ultrapassado, velho!! Mostra algo desse ano!" 

É normal que em Slam Dunk os times estivessem constantemente mudando de um ano a outro - afinal, a competição era colegial apenas, o que significa que os jogadores só faziam parte do time por três anos (sem contar que a grande maioria dos jogadores não jogava no primeiro). A maior parte dos times era formada por veteranos do terceiro ano, que se graduavam e saiam ao fim do ano.

Na NBA, não é tão diferente - os contratos não vão em geral mais do que quatro anos, e a nova tendência é a de contratos menores por causa do novo CBA. Como só um punhado de jogadores são realmente indispensáveis ano-a-ano e até por causa do teto salarial, é comum que times que não tenham ido longe na temporada busquem mudar suas peças, trazer reforços ou se livrar de jogadores velhos que não fazem parte dos planos futuros da equipe. É a natureza do jogo, e se você não é bom o suficiente, a tendência natural é mudar de forma a aumentar suas chances com um novo grupo.

Só que alguém esqueceu de avisar isso para o Toronto Raptors. Ano passado, o time de Toronto foi vítima de uma situação um tanto esquisita: depois de um começo desencorajador, e com uma incrível classe de calouros (com uma estrela canadense) no horizonte, o time decidiu que era hora de vencer seus principais jogadores e entrar em modo de tank. Assim trocaram Rudy Gay para o Kings, mas antes que pudessem trocar também o armador Kyle Lowry, algo estranho e muito incomum em Toronto começou a acontecer: o time começou a ganhar jogos, e jogar realmente bem no processo. E embora o GM Masai Uriji supostamente tenha continuado a tentar trocar Lowry, o time continuou vencendo e logo se estabeleceu como o terceiro melhor do Leste, e por fim, decidiu manter seu time junto e chegar aos playoffs, algo que o time desesperadamente precisava depois de anos de fracasso.

Afinal de contas, tankar tem um preço. Chega um ponto em que perder começa a virar um hábito, e isso pode danificar sua franquia por muito mais tempo. A torcida deixa de acreditar e de ir ao estádio, você não consegue mais atrair free agents, e começa a perder dinheiro fora de quadra. Então não é fácil manter um tank por tanto tempo, e depois de tentar por anos, o Raptors improvavelmente esbarrou em um bom time e uma chance de dar a sua torcida as vitórias que faltavam. E aproveitou a chance, terminando o ano com uma excelente campanha (terceiro no Leste) antes de cair em 7 jogos para o Nets nos playoffs.

Mas ao final do ano, o Raptors tinha decisões a tomar. Kyle Lowry era free agent, e também o eram alguns jogadores do banco da equipe, notavelmente Greivez Vazquez e Patrick Petterson. Tendo caído antes de atingir seu potencial, era um ponto de interesse, ver como o time iria se reforçar para dar o próximo passo em 2015.

E Toronto optou por se reforçar não mudando nada. Abriu o cofre (48M, 4 anos) para Lowry, e overpaid um pouco seus bons reservas. Esses jogadores valiam o que receberam? Com exceção de Lowry, provavelmente não. Mas depois de ficar tankando tantos anos sem conseguir sua estrela, o Raptors achou que valia a pena pagar um pouco a mais para manter junto esse time, o primeiro time vencedor da franquia em anos. O time tinha excelente entrosamento e as peças se encaixaram muito bem, e ainda tem espaço para evoluir: DeMar DeRozan ainda é um jogador jovem que mostrou grande evolução em 2014, Terrence Ross ainda está no seu segundo ano, e Jonas Valanciunas tem condições de ser uma estrela, mostrando grande evolução ano a ano. Uriji apostou em continuidade e no entrosamento de um time que, mesmo sendo "montado" (na falta de um termo melhor) as pressas durante a temporada 2014 depois da troca de Rudy Gay, ainda rendeu muito bem junto. E além disso, é o que eu já disse: muitos times estão farejando um Leste extremamente aberto, especialmente se algo der errado com o Cavs de LeBron, e isso oferece um incentivo a mais para qualquer bom time do Leste de arriscar um pouco mais no curto prazo.

O lado negativo, claro, é que para manter seu time junto o Raptors precisou gastar o espaço salarial que lhe restava apenas para manter seus jogadores por perto, a um custo alto - perdendo assim a chance de usar esse espaço salarial em um veterano ou free agent de impacto para tentar jogar seu time para o próximo nível de fora para dentro. O time trouxe Lucas Nogueira e Bruno Caboclo, mas ainda assim, é difícil ver algum impacto desses jogadores tão crus no curto prazo - devem dar alguma profundidade, mas em geral passar o ano na D-League se desenvolvendo. A limitação salarial que o próprio time se impôs também pode pesar no futuro, já que agora a equipe está "presa" a esses jogadores.

Claro, é um trade-off: Uriji optou por manter junto um núcleo jovem que já teve sucesso jogando junto, e que ainda tinha espaço para crescer, do que arriscar uma contratação ou movimentação de impacto maior com esse espaço salarial que poderia nunca vir, e que custaria estabilidade ao primeiro bom time de Toronto em anos. Foi uma escolha corajosa, e vai ser interessante ver como esse núcleo jovem e talentoso evolui em um Leste cada vez mais aberto. Para a torcida do Raptors, acostumada a derrotas e fracassos, a decisão de Uriji é um grande alívio.



"É melhor tomar cuidado com esses caras... eles são perigosos.
Hanamichi Sakuragi...
Yohei Mito...
E os outros..."
"Quer parar com essa m... de 'os outros'?!"

Do outro lado, temos um time que está muito próximo de um título e já tem uma das melhores bases do basquete na atualidade, mas que insiste na mediocridade. Nos últimos anos, a filosofia do Thunder parece ser exatamente essa: Kevin Durant, Russell Westbrook, Serge Ibaka... e os outros.

Claro, esse é de longe o melhor núcleo da NBA. Durant é o atual MVP, um jogador historicamente excepcional e o melhor jogador não chamado "LeBron" da liga (e a distância vem caindo); Ibaka se tornou uma enorme ameaça dos dois lados da quadra com seus tocos e seus bons arremessos; e Westbrook é um dos jogadores mais destrutivos da liga. É um fantástico grupo para construir seu time ao redor, e enquanto tiver esses três All-Stars, o Thunder vai eternamente competir por títulos.

O problema aqui é que, com esse núcleo, você quer colocar ao redor desses jogadores o máximo de talento possível: um ou dois mid-level free agents, alguns veteranos úteis, algumas contratações ousadas. Mesmo o Heat não conseguiu vencer com apenas seu Big Three, trazendo depois BattierRay Allen e Birdman (entre outros) para conseguir chegar ao título. Você tem que ser ousado, tem que arriscar, e tem que estar disposto a gastar.

E é exatamente isso que o Thunder NÃO está fazendo com seu núcleo desde a fatídica troca de James Harden. Não vou mais insistir falando dessa troca - todo mundo sabe, o Thunder teve a chance de manter aquele que virou um dos 10 melhores jogadores da NBA e o trocou por migalhas - mas essa troca já foi amplamente comentada e criticada, então me permitam olhar isso por outro ponto de vista. O Thunder teve a chance de manter suas quatro estrelas juntas - Harden estava até aceitando ganhar menos que o máximo sob algumas circunstâncias - se comprometesse uma boa parte do seu espaço salarial com elas, e como manter Harden sem um contrato máximo exigiria uma no-trade clause (ou um trade kicker), seria muito difícil mudar de direção e abrir esse espaço posteriormente. Em outras palavras, o Thunder trocou a chance de manter seu núcleo espetacular e juntar três dos 10 jogadores da NBA (mais um eterno candidato a Defensive Player of the Year) para poder ter flexibilidade salarial indo para frente.

O problema é que, apesar de ter sacrificado tanto para ter mais espaço e flexibilidade salarial, o time se recusa a usá-la de qualquer maneira. Eles optaram por não usar sua anistia em Kendrick Perkins, que daria mais alivio salarial do que Harden no curto prazo. E apesar de ter evitado que o contrato do barbudo entrasse na folha salarial, o time se recusa a gastar esse valor em outro lugar, ou mesmo parte dele, para aumentar a qualidade dos coadjuvantes e suas chances de título. O Thunder continua mortalmente assustado pela luxury tax e se recusa a contratar jogadores, e o resultado é que cerca seu núcleo de jogadores medianos, jovens em contratos de calouro, ou jogadores que já passaram em muito do ponto. Quer dizer, Derek Fisher - 39-YEAR OLD DEREK FREAKING FISHER!!! - jogou 17 minutos por jogo na temporada regular e 16 nos playoffs, um jogador que arremessou 39% na temporada regular e 31% nos playoffs, não defende, passa ou cria seu próprio arremesso e que foi extremamente atacado pelo Spurs nas Finais do Oeste (OKC foi +3 pontos/100 posses nos playoffs sem Fisher e -6 pontos /100 posses com ele em quadra). O time tem alguns bons jogadores de rotação, mas tirando Reggie Jackson, nenhum não-Big Three de lá é o tipo de jogador que você quer ter como peça chave de uma equipe. OKC se recusa a gastar dinheiro, jogando tudo nas costas de seu Big Three ao invés de gastar e montar um bom time.

Claro, o Thunder ainda vai brigar por títulos todo ano nas costas de Durant, West, e Ibaka. Mas "chances de título" não é uma variável binária, cuja resposta é "sim" ou "não". Você pode aumentar ou diminuir suas chances de título de acordo com vários parâmetros. San Antonio e Indiana eram ambos times com "chances de título" em 2014, mas ninguém diria que ambos tinham a mesma chance de serem campeões, por exemplo. Então você pode ser candidato ao título mesmo sem investir nada, mas você pode aumentar em muito suas possibilidades se estiver disposto a pagar o preço. O Thunder não está com essa disposição, e se continuar apostando em Reggie Jackson como seu ÚNICO jogador com PER acima da média fora do Big Three (sério), possivelmente vai continuar morrendo na praia e, quem sabe, vai ver Kevin Durant ou Russell Westbrook mudar para um time que ESTEJA disposto a dar a eles uma chance melhor de título. É possível ganhar um título só com os três, mas estão tornando isso cada vez mais difícil.

Além disso, qual a vantagem de comprar um time de NBA se você não vai gastar dinheiro para ele ser campeão? E enquanto estamos no assunto, se está tão preocupado com sua saúde financeira, por que mudar o Sonics de um mercado razoavelmente grande para um tão pequeno quanto Oklahoma City? Um dono ruim pode ser a ruína de qualquer time, e se OKC perder Durant em 2016, não vai ser muito difícil achar o motivo.


"Você quer as fotos, não é mesmo?"
"Quero sim!"
"Então entre para o time de judô!"
"Não quero"
"Mas você não quer as fotos?!"
"Quero"
"Sabia. Então você vai entrar para o time?"
"Não quero"

Um dos diálogos mais aleatórios da série (Aota tentando convencer Sakuragi a abandonar o basquete e lutar judô) vai para um dos momentos mais aleatórios da offseason: a Restricted Free Agency valendo como um bilhete premiado de loteria para alguns (Gordon Heyward, Chandler Parsons) ou uma passagem só de ida para o ostracismo para outros (Eric Bledsoe, Greg Monroe). E o que é pior, os jogadores realmente estão levando para o lado pessoal quando os times usam isso para negociar salários!

Com o novo CBA, mais do que nunca, a RFA virou uma faca de dois gumes. Se você for um jogador  mid-tier cobiçado (especialmente se for de uma posição carente, tiver alguma habilidade muito cobiçada, ou ambos), os times interessados sabem que terão que fazer uma proposta muito mais cara do que o normal para forçar o time original do jogador a não igualar a oferta, o que garante contratos máximos ou simplesmente muito inflados para jogadores como Heyward ou Parsons, jogadores de perímetro com jogos bem avançados e completos. Nesse caso, o CBA serve para fazer esses jogadores serem pagos como estrelas que não são. Do outro lado, jogadores de posições mais profundas ou com claros problemas fazem times pensar duas vezes, já que eles precisariam fazer uma proposta acima do normal para "forçar" a saída desses jogadores, mas nenhum deles quer realmente ter que pagar um salário tão caro para um jogador limitado (no caso de Monroe, ele não defende, e no de Bledsoe, ele é um PG, a posição mais profunda da NBA). E ai, esses jogadores não conseguem ser pagos como gostariam ou mesmo como deveriam. E ai que tem começado o problema.

Claro, no final funciona para alguns e não para outros - apesar de toda a novela e a frustração, Bledsoe garantiu um gordo contrato de 70M/5 anos, um pouco mais do que o Suns poderia pagar dada sua maior força nas negociações, mas que alguns veem como uma manobra de Phoenix para melhorar sua imagem com free agents ao redor da liga. Enquanto isso, Monroe ficou irritado com as ofertas não-máximas que recebeu, e optou por jogar 2015 em um contrato qualificatório de um ano antes de virar free agent irrestrito daqui a um ano - uma grande perda para o jogador, que ganhará menos agora e provavelmente daqui a um ano também. Interessante ver como as novas regras salariais afetaram os RFA, e como os times e agentes estão se adaptando a isso. Sem falar que adiciona um tempero extra a tomada de decisões das equipes: vale a pena usar seus direitos, mas acabar com sua relação com seu jogador no processo? E se você não usar sua vantagem nos negócios e dar mais dinheiro aos seus jogadores, será que outras pessoas ao redor da NBA verão sua equipe como um lugar que valoriza mais seus jogadores? Conforme os times e os agentes vão se acostumando a essa nova realidade, mais e mais a RFA passa a ser ao mesmo tempo uma ótima ferramenta de negociação e possivelmente uma cilada, dependendo de qual a situação na qual você se encontra.



"Desde que comecei nesse trabalho, achei que tinha desenvolvido um olhar clínico para o basquete... mas confesso que nunca vi um jogador como esse Kawata"
"Olhar clínico, sei... então me diz, o que o Kawata tem?"
"Ah, é que ele é grandão e bom de bola"
"Grandão e bom de bola!?"

Desde que Blake Griffin chegou na NBA, ele chamou a atenção do mundo com seus rebotes, números absurdos, e principalmente, suas enterradas fora de série. Foi campeão de enterradas como calouro pulando por cima de um carro (!!), deu uma enterrada antológica em cima do pobre Timofey Mozgov, e só Dwight Howard terminou 2011 com mais cravadas que o calouro do Clippers. Por um lado, isso foi ótimo - ele era um dos calouros mais divertidos de assistir da minha vida, e todo mundo adora boas enterradas. Por outro lado, justamente por ser tão fantástico dando enterradas, ele ganhou uma fama falsa e depreciativa: a de jogador que só sabe enterrar, e só vive da habilidade atlética.

Essa foi uma das piores e mais irritantes "histórias fabricadas" da NBA nos últimos anos. E era particularmente ridícula para quem de fato assistia Blake Griffin jogar: ele era o tipo de monstro forte o suficiente para destruir seres humanos no seu caminho em enterradas mas habilidoso o suficiente para te vencer longe dela, com um domínio de bola excepcional, boas opções de ataque perto do aro e um dos melhores reboteiros ofensivos da liga... e mais importante, sendo um dos melhores passadores da NBA inteira. Desde que entrou na NBA na temporada 2010/11, nenhum jogador de garrafão tem mais assistências que as 1130 de Blake Griffin. Entre não-guards, Griffin é o quarto desde então depois de LeBron, Iguodala e Durant. Entre todos os não-PGs, Blake é o oitavo. Então falar que Griffin "só sabia enterrar" era de uma ignorância sem tamanho.

Mas a narrativa persistia, porque narrativa é um lixo. Não ajudou que Griffin pouco evoluiu do seu jogo ao longo dos dois anos seguintes, embora possa ser dito que um jogador capaz de ter 23-12-4 de média como calouro já está mais do que bom. E assim, Griffin continuou sendo um dos melhores jogadores da NBA, agora com CP3, mas sempre preso a esse rótulo depreciativo que impedia que realmente o apreciássemos.

Mas em 2014, essa narrativa foi finalmente morta, enterrada e deixada para apodrecer em seu lugar. Griffin teve a melhor temporada da sua carreira, de longe, com 24 pontos, 10 rebotes, 4 assistências e 52% nos arremessos, mas o que foi tão impressionante nessa temporada não foram apenas seus números, mas sim o que ele estava fazendo para conseguí-los. Seu arsenal ofensivo mostrou uma variação incrível que não estava lá antes: seu arremesso de meia distância melhorou (37%), ele chutou 44% em um número limitado em bolas de três da zona morta, e manteve seu aproveitamento surreal perto do aro (70%). Além, ele conseguiu acabar também com o estigma de que não era um bom jogador de costas para a cesta: em 2014 ele arremessou excelentes 47.5% em jogadas de post up, anotando 0.95 pontos por posse de bola, uma das melhores marcas da NBA. Então a falsa premissa de que Griffin só sabia enterrar ofensivamente foi pelo espaço quando ele mostrou esse arsenal muito mais completo e agressivo, sendo frequentemente a primeira opção ofensiva da equipe e sofrendo com marcações duplas e até triplas o tempo todo, e mesmo assim tendo sua melhor temporada ofensiva.

Mas talvez mais importante do que isso, Griffin foi forçado a assumir o papel de Alpha Dog do time quando Chris Paul se machucou, e muitos acharam que o Clippers iria cair no Oeste. Mas não: eles venceram 12 dos seus 18 jogos sem Paul superando os adversários por 6.1 pontos por 100 posses (a mesma marca de Miami na temporada regular). Nesse período, Griffin foi o centro das atenções e do time, fazendo de tudo (até começando jogadas como se fosse um armador, no topo do garrafão), enfrentou marcações triplas todas as noites e foi o único All-Star da equipe, e brilhou com 28-8-4.5 e 55% de aproveitamento apesar de tudo. Ele foi tão bom que, até quando CP3 voltou, o time continuou funcionando em torno dele. Foi a temporada perfeita para Blake, em termos de narrativa: sua melhor temporada individual, a mais variada em termos de repertório, manteve o Clippers funcionando perfeitamente sem CP3, e até assumiu de certa forma o papel de Alpha Dog ao final do ano mesmo com o armador de volta. Ao final do ano, era inegável que Blake Griffin tinha sido o terceiro melhor jogador da temporada. E graças a Deus, podemos enfim parar de falar que ele só sabe enterrar.

Outro aspecto importante? Talvez essa lesão de CP3 e a ascensão de Griffin como líder do Clippers pode ter um impacto ainda maior do que o normal, porque...


"Falando assim parece que o Fujima vem trilhando um caminho de sucesso, mas na verdade... ele nunca chegou a ser campeão. Tudo por causa do monstro Maki, o rei do colégio Kainan. Ele que o superou, por quatro vezes seguidas."

Depois de mais um final de temporada relativamente decepcionante para o Clippers de CP3, e com Chris Paul tendo jogado mais um ano sem nunca atingir uma final de conferência, voltou a ficar popular o debate sobre se Chris Paul não é, secretamente, overrated.

Claro, o argumento central a favor é simples, e estúpido: CP3 nunca chegou a uma final de conferência, então ele não é tão bom. Isso é ridículo, você não pode estabelecer um parâmetro arbitrário e dizer que só porque o jogador não esteve em um time que chegou até esse ponto, então o jogador não é bom o bastante.

Mas isso não quer dizer, por outro lado, que CP3 seja um jogador perfeito que só foi atrasado pelos companheiros. Individualmente, ele é um fantástico jogador (talvez o terceiro melhor da NBA) e o melhor armador do mundo, mas ele tem um problema, que acontece frequentemente a grandes armadores jogando em times ruins (o melhor exemplo da história da NBA talvez seja Oscar Robertson, embora por motivos diferentes): ele está acostumado demais a resolver tudo sozinho.

Quando você é um grande armador em um time ruim (como CP3 era no Hornets), você tem uma responsabilidade anormal de carregar seu time o tempo todo. Tudo depende de você, cada jogada precisa que você participe, e o time não vai ganhar a não ser que você concentre tudo nas suas mãos e faça tudo acontecer por conta própria. Mas isso cria uma certa mentalidade no jogador, a de que depende de você fazer as coisas acontecerem, que o time está sempre rodando ao seu redor e você que é a diferença entre o time ir bem ou não. E isso é uma mentalidade que muitos jogadores não conseguem se livrar depois.

Quando falamos em um jogador de basquete egoísta, as pessoas pensam imediatamente em arremessar demais e passar de menos, e apontam para arremessos por jogo e/ou assistências por jogo. Mas no fundo, isso também é uma forma de egoísmo, querer resolver sempre os jogos da sua maneira. Esse foi CP3 quando se mudou para Los Angeles: excelente como sempre, faz coisas com uma bola que ninguém mais faz, mas alguém que estava sempre querendo jogar e resolver tudo da sua maneira, que o time jogasse ao seu redor para ele decidir tudo (quando arremessar, quando passar, como jogar, etc) o tempo todo. Ele estava acostumado demais a ser assim em New Orleans, e não conseguiu se adaptar quando chegou a um time bom de verdade.

E isso foi algo que, a meu ver, sempre atrapalhou o Clippers um pouco. Não que eu, em qualquer momento, ache que o Clippers fosse ser melhor sem CP3. Longe disso, se o Clippers chegou aonde está é por causa dele (e de Blake). Eu só achava que era algo que impedia a equipe de dar o próximo passo. Ele jogava com essa mesma mentalidade de NO, mas não era tão bom para o Clippers - lá ele tinha mais jogadores de alto nível que poderiam (e as vezes queriam) jogar do seu estilo preferido, no estilo que eles também poderiam tirar o máximo de suas habilidades, mas Paul estava sempre controlando tudo, jogando da forma que ELE achava melhor, da forma que ELE poderia tirar o máximo das SUAS habilidades. E não é assim que basquete funciona. Para um time atingir o máximo de sua capacidade todos os jogadores precisam estar na mesma página, todos terem seu papel e poderem jogar a vontade, e é função dos principais jogadores da equipe, justamente por serem melhores, assumirem um papel que permita aos coadjuvantes brilharem dentro de suas capacidades mais limitadas. Essa foi uma lição que CP3 não entendia, queria continuar fazendo tudo do seu jeito, e que atrapalhava o Clippers.

Por isso digo que essa lesão, e a subsequente boa seqüência do time e de Griffin, pode ter sido a melhor coisa a acontecer com o Clippers. Talvez seja o que CP3 precisava para entender que ele não deve ser sempre o ponto central do time, que ele deve confiar mais nos seus jogadores. Talvez agora ele finalmente vá começar a jogar mais para tirar o máximo de seus companheiros do jeito DELES, não do seu. Talvez Blake Griffin assuma agora o papel de Alpha Dog da equipe. Não sei dizer. Mas se CP3 conseguir corrigir essa falha "coletiva" do seu jogo e começar a jogar mais da forma que o time precisa, não da forma como ele acha que deve, o Clippers vem mais perigoso do que nunca para 2015.



"O que acha dele como arremessador, Jin?"
"Ele é muito bom. Está arremessando em um ótimo ritmo e não parece ter a menor chance de errar. Parece o tipo de jogador que começa a acertar e não para mais... assim como eu."

Só um parênteses para falar de um de meus jogadores favoritos, Steph Curry.

A essa altura, a fama de Curry como um dos melhores jogadores da NBA e uma verdadeira estrela já está consolidada, sem dúvida. Ainda assim, acho que poucas pessoas percebem o quão realmente única foi a temporada 2014 de Stephen Curry. Ele sempre teve fama como um grande arremessador, e essa fama só aumentou nos últimos anos, quando ele finalmente esteve saudável e arremessou 45% e 42% 3PT mesmo tentando mais de 7 bolas de três por jogo. São números quase obscenos, especialmente considerando que não é apenas acertas bolas de três, e sim acertar bolas de três de altíssimas dificuldade: step back, em movimento, saindo do drible ou de uma screen, pull up, etc. Manter um dos melhores aproveitamentos mesmo arremessando a maior parte das bolas a partir do drible é inacreditável.

Mas que Steph Curry era o melhor arremessador do basquete a gente já sabia. O que tornou sua temporada 2014 tão mais especial não foi só o que ele fez pontuando e chutando a bola, mas sim o quanto seu jogo se expandiu. Curry começou a usar os espaços que seus arremessos geram para achar mais do que nunca seus companheiros com passes, funcionando como verdadeiro armador e criador de jogadas para complementar suas incríveis habilidades como pontuador - seu passe de canhota a partir do pick and roll é uma das coisas mais bonitas da NBA, e muito eficiente. Ele deu assistência em quase 40% das suas posses em quadra, e sua média de assistências por jogo subiu de 7 para 8.5 por jogo, quinta melhor marca da temporada 2014.

Ter um jogador do calibre de Curry sempre é ótimo, mas hoje em dia, é ainda mais valioso do que parece a primeira vista. No basquete moderno, o mais importante para qualquer ataque do mundo é espaçamento, ser capaz de abrir defesas e força-las a deixar espaços, espaços nos quais as equipes podem passar mais livremente, infiltrar e atacar a cesta, e torna mais difícil marcar todos os jogadores ao mesmo tempo, de forma que alguém sempre fica livre. É a base de qualquer bom ataque moderno. Então nesse caso, ter um jogador como Curry - que precisa ser mercado a partir do momento que passa do meio da quadra - é um ativo fenomenal. Jogadores que conseguem arremessar com a velocidade e precisão de Curry possuem um campo gravitacional próprio para defesas - sempre que eles se movem, não é apenas o marcador correspondente que precisa acompanhar, toda a defesa vai dar um passo a mais para perto dele, de forma que o arremessador não tenha espaço de nenhum lado para soltar o arremesso, independente de onde estiver seu marcador. Isso obviamente é muito importante, porque isso força a defesa a se mover muito mais do que o normal, dobrando a defesa com seu deslocamento e dando todo tipo de espaço para os demais jogadores do ataque.

E claro, a presença de um arremessador desse calibre já é capaz de fazer esse tipo de estrago, mas o que torna Curry um jogador tão mortal é que ele vai muito além disso. Fora da bola, ele consegue trazer esse campo gravitacional individual melhor do que qualquer jogador da NBA, mas com ela ele também aprendeu a usar isso muito bem, especialmente no pick and roll. Quando um big man faz a screen para Curry e lhe da espaço na linha dos três pontos, Curry tem total condições de acertar qualquer bola de três que chutar. Isso obriga seus marcadores a marcá-lo muito de perto - os PGs que o defendem não podem ir por trás de uma screen senão Curry faz chover, então eles precisam acompanhá-lo por cima da screen, e o homem de garrafão que está defendendo quem faz a screen precisa ir mais longe do que gostaria para tirar o espaço do armador... só que Curry é um excelente ballhandler, e pouquíssimos pivô indo na sua direção seria capaz de acompanhá-lo quando ele decide mudar de direção e velocidade. Isso também deixa um espaço enorme atrás dos defensores, que quem fez a screen pode usar para ficar livre perto da cesta. Isso por sua vez atrai outro defensor, deixando algum outro jogador livre, e Curry é um passador muito bom capaz de aproveitar todos esses espaços para achar seus jogadores e fazer a bola rodar.

Em outras palavras, não é só por acertar muitos de seus arremessos que Curry faz a diferença, mas sim todo o seu conjunto de habilidades que força a defesa a se desdobrar muito mais do que o normal em sua direção, deixando espaços que a equipe se aproveita para rodar a bola e achar cestas ou arremessos fáceis. Não é a toa que, com ele em quadra, o Warriors anotou 109.7 pontos por 100 posses de bola em 2014 - uma marca que lideraria a NBA - mas com ele no banco o Warriors anotava apenas 95 por 100 posses, marca que seria a pior da NBA por muito, abaixo até mesmo do Sixers. Curry tem um impacto imenso no jogo só por estar em quadra, e isso faz dele um dos jogadores mais importantes e de maior impacto da NBA.

Para colocar me contexto o quão espetacular foi a temporada 2014 de Stephen Curry, considere o seguinte: Curry terminou o ano com 24 pontos, 8.5 assistências, e 4 rebotes por jogo, arremessando 47% de campo, 42.4% de três, e 88.5% de lances livres. Considere:

a) Os únicos jogadores da história da NBA a ter uma temporada com 24-8-4 (min. 67 jogos) são Oscar Robertson, Wilt Charberlain, Gary Payton, Jerry West, LeBron James, Michael Jordan e agora Stephen Curry. Só LeBron, Curry, Jordan e Payton fizeram na era dos 3 pontos, e só Curry chutou acima de 35% de três.
b) Nenhum outro jogador da história da NBA alguma vez teve uma temporada com 45% de aproveitamento nos arremessos e 44% nos arremessos de três tentando pelo menos 6 arremessos de três por jogo. Stephen Curry tem isso de MÉDIA na CARREIRA.
c) Stephen Curry se tornou o quinto jogador da história da NBA com uma temporada de 21+ pontos e 42% de 3PT%. Os outros? Bird, NowitzkiPeja Stojakovic e Ray Allen. Só Bird e Curry tiveram mais que 5 assistências por jogo.
d) Ele é um dos dois únicos membros do clube de jogadores a conseguir 45 FT%, 45 3PT% e 90 FT% em uma temporada qualificada (como fez em 2013). O outro é Steve Nash.

Caso você não tenha entendido, Stephen Curry teve uma temporada histórica tanto do ponto de vista da produção (pouquíssimos na história da NBA - e todos Hall of Famers - igualaram seu 24-8-4) como de eficiência nos arremessos. Ele manteve números inigualáveis nos arremessos apesar de tentar mais arremessos de três do que qualquer jogador, e arremessos mais difíceis do que qualquer jogador, sem falar em todas suas responsabilidades como ballhandler principal da equipe. Ele é uma legítima estrela, e o tipo de jogador que sozinho é capaz de fazer todo um ataque funcionar de forma brilhante simplesmente porque os adversários não conseguem deixá-lo livre por um segundo. Stephen Curry não é um dos, digamos, três melhores jogadores da NBA, mas não é absurdo pensar que, saudável, ele é um dos três jogadores mais importantes (em termos do quanto afetam o jogo quando estão em quadra) da NBA.



"Se jogássemos amanhã, estaríamos apenas nos envergonhando. Tayou precisa se reconstruir desde o primeiro bloco. Sendo assim, o jogo contra os americanos é cedo demais para nós"
"Mas isso significa que é cedo demais para a gente também..."
"Não tem problema. Nós não vamos ferir nosso orgulho porque nós nunca tivemos nenhum!"

Ok, ok, eu estou trapaceando - essa frase não é de Slam Dunk. Na verdade ela é de Eyeshield 21, uma das (muitas) frases sensacionais que o Hiruma tem ao longo da obra. Mas como ela é sensacional, e como eu queria "homenagear" o Sixers nessa coluna de alguma forma, essa era de longe a frase perfeita para isso.

Eu acho que a NBA nunca viu um projeto de tank tão forte quanto o Sixers dos últimos dois anos. Depois da desastrosa troca por Andrew Bynum, que praticamente assassinou a equipe que vinha até que bem no Leste, o Sixers decidiu chutar o balde e trocar todo e qualquer jogador capaz de jogar basquete competentemente. Foi praticamente um saldão de verão, e no final, sobraram apenas três veteranos minimamente competentes: Thaddeus Young, Evan Turner e Spencer Hawes... sendo que esses dois últimos foram rapidamente trocados por três escolhas de segunda rodada antes da trade deadline. Não foram trocas que o Sixers fez para ganhar ativos, e sim para se livrar de jogadores que poderiam tornar a equipe um pouco melhor.

Mais impressionante do que a forma como o Sixers rapidamente se livrou de todos seus jogadores competentes foi a forma como a equipe evitou ao máximo trazer de volta QUALQUER tipo de jogador que pudesse tornar a equipe melhor. Eles gastaram sua principal escolha de primeira rodada (#6, via Pelicans) trazendo um jogador que ia ficar de fora toda a temporada (Nerlens Noel), e não gastaram um centavo para trazer qualquer jogador útil na free agency, enchendo seu elenco de jogadores que ninguém mais queria, como Tony Wroten, James Anderson, e Brandon Davies (mais conhecido como "o cara do time de BYU do Jimmer Fredette que foi suspenso por engravidar uma jogadora do time de vôlei"). O Sixers acabou o ano com folha salarial de 44M, 12 milhões ABAIXO do piso salarial do novo CBA, se tornando o primeiro time da história a ter que pagar dinheiro por estar tão abaixo do nível estipulado.

Claro, a idéia do Sixers é muito simples: as regras da NBA te incentivam a ser ruim, o máximo que você puder. É muito difícil vencer na NBA sem uma estrela, e se você não tem uma, a melhor forma de consegui-la é sendo o pior possível para ter boas escolhas de Draft e aumentar suas chances de conseguir uma estrela. Além disso, enquanto isso, você está recebendo dinheiro de times que pagam multa salarial enquanto paga o mínimo possível - uma opção muito melhor do que estar preso naquele limbo onde você não tem flexibilidade salarial ou talento suficiente para subir e competir pelo título, nem é ruim o suficiente para ter boas escolhas de Draft. Enquanto as regras incentivarem, times continuarão fazendo isso.

E o Sixers teve algum sucesso na empreitada: eles foram horríveis a temporada inteira, inclusive quebrando o recorde para mais derrotas seguidas da história da NBA. Eles tiveram o pior ataque (por muito) e a quarta pior defesa da temporada, terminando em último em eficiência dois pontos inteiros acima do segundo colocado Bucks. Mas ainda assim, não conseguiram uma escolha Top2 no Draft, ficando com a terceira. E claro, não se contentaram com apenas um ano de tank: eles ainda não contrataram nenhum jogador razoável na free agency, e trocaram o seu melhor jogador (Thad Young) para ficar ainda pior. Eles também gastaram ambas suas escolhas de Draft em jogadores que - pasmem! - não jogarão um minuto sequer essa temporada: Joel Embiid era considerado por muitos (eu!) o melhor jogador do Draft mas deve perder o ano todo por lesão, e Dario Saric é um ótimo jogador que deve ficar mais dois anos (pelo menos) na Europa. A folha de pagamento do Sixers para esse ano está apenas em 41M, de novo 15M abaixo do mínimo possível. É um esforço incrível para ser ruim, de novo jogar o pior e mais ridículo basquete da liga, e tentar enfim pegar uma estrela no Draft.

Tank deveria existir, ou mesmo ser permitido? Esse é o debate da vez. Do ponto de vista do time, eu não vejo o menor problema. As regras da NBA não só permitem como incentivam esse tipo de comportamento, e enquanto for assim, essa continuará sendo a estratégia principal de times para tentar se reerguer (especialmente porque, sendo projetos de média e longa duração, oferecem ao GM da equipe uma mais longa estabilidade no emprego).

Mas para a NBA, e para os torcedores, o tank tem que ser combatido. De forma resumida, o tank enfraquece o produto que a NBA está vendendo. Times como Philly, que estão fazendo o possível para colocar em campo um time ruim, fazem cair a qualidade dos jogos da liga, diminuem o interesse da torcida em assistir e consumir produtos da liga, e por ai vai. É prejudicial para a NBA que times tão ruins assim estejam jogando e piorando a qualidade dos jogos. E como tal, precisa ser combatido.

A melhor forma para combater o tank é diminuir drasticamente os incentivos que cada equipe tem para perder através do Draft - ou seja, diminuir as chances de um time ruim conseguir uma escolha alta - e aumentar os incentivos para os times que se dedicam e investem em times de verdade para tentar chegar nos playoffs. Eu já dei as minhas sugestões sobre o assunto, e muitas outras estão por ai caso você procure, e o assunto ganha força a cada semana - é possivelmente o próximo grande desafio da gestão Adam Silver. Mas parabéns ao Sixers por desgraçar o esporte e seus torcedores dessa forma ao ponto de fazer mais pelo avanço dos debates anti-tanking em meia temporada do que o David Stern fez nos 10 últimos anos de seu mandato.


"Hisashi Mitsui! Vim do ginásio Takeishi! E a minha meta... é conquistar o título nacional para o colégio Shohoku!!"

"Se eu não mostrar serviço agora... terei sido apenas um grande otário"

Isso ai, DOIS quotes do melhor personagem de Slam Dunk para LeBron James e o momento mais importante da NBA desde a fatídica The Decision: o King está de volta em Cleveland.

A decisão de LeBron de voltar a Cleveland fecha, por assim dizer, o seu ciclo pós-The Decision. Depois de uma das mais insensíveis e estúpidas idéias da história do basquete (anunciar na TV sua saída em um especial de duas horas se auto-endeusando), LeBron foi para Miami e logo foi pintado como uma espécie de vilão do basquete, a superestrela covarde demais para carregar um time nas costas e o cara cruel que humilhou a própria torcida em rede nacional (essa é a percepção, não a realidade). E por algum motivo (provavelmente por ser uma estrela desde os 13 anos que nunca tinha enfrentado adversidade na carreira) ele não estava preparado para esse tipo de pressão e ódio vindo de todos os lados, e a solução que ele encontrou foi se fechar em si mesmo e simplesmente assumir a identidade que a mídia tentava lhe forçar, a de um vilão. Logo ele estava provocando adversários, saindo do seu caminho para dar enterradas na cabeça das pessoas, dando declarações polêmicas e em geral jogando para mostrar algo para quem via de fora, não para seu próprio time ou para si. Essa  triste seqüência acabou culminando nas Finais de 2011, uma das piores e mais decepcionantes séries de um jogador desse nível, quando LeBron lentamente foi afundando, jogando a responsabilidade para os outros, e em geral sendo péssimo a partir do G4.

Claro, todo mundo conhece o final feliz dessa história. Depois dessa humilhação histórica, LeBron pareceu retomar o seu jeito anterior. Ele reconheceu que tinha ficado obcecado demais pelas críticas e deixado de jogar o basquete que ele gostava, e voltou a jogar basquete para seus companheiros, como fazia em Cleveland. Ajudou que Miami finalmente cercou seu Big Three com role players úteis (em especial Shane Battier), e o resto é história: LeBron enfim atingiu seu inigualável auge nos playoffs, com três dos mais espetaculares jogos da história dos playoffs (G6 vs Boston, G4 e G5 das Finais) e seu primeiro título, atingindo um nível de dominação que a NBA não via desde Jordan. Ele repetiu isso com mais um MVP e mais um título em 2013, e mesmo sem um título em 2014 por conta do Spurs, serviu para LeBron chegar a sua quarta Final de NBA consecutiva. Pode não ter sido "not one, not two, not three, not four..." como ele disse em sua chegada a Miami, mas dois títulos e quatro Finais de NBA em quatro anos é um enorme sucesso para qualquer time (que não tenham Bill Russell).

Ironicamente, o ciclo de LeBron em Miami se encerrou pelo mesmo motivo que começou. James pode falar o quanto quiser sobre como seu coração sempre esteve em Cleveland, com ele queria voltar para casa, como ele se sentia em dívida com Ohio, como agora ele percebia coisas que não percebia em 2010... mas a verdade é que LeBron deixou Miami pelo mesmo motivo que deixou Cleveland. Depois de quatro anos, LeBron estava mais uma vez tendo que carregar sozinho um time que pouco estava lhe oferecendo de ajuda, que tinha chegado ao seu limite. Ele precisava jogar o tempo todo em quinta marcha, fazer tudo em quadra e jogar por todos seus companheiros juntos, um problema que ficou extremamente exposto nas Finais, quando o Spurs jogou seu melhor basquete e ninguém no Heat foi remotamente capaz de ajudar a parar o sangramento. Com o Spurs comemorando seu título, não consigo imaginar que LeBron não tenha lembrado da situação que se encontrava em 2010, do lado perdedor, tendo que jogar sozinho para um time que não lhe oferecia quase nenhuma ajuda. A janela que ele tanto lutou para criar em Miami parecia estar se fechando, quando o time atingia seu limite, e assim era hora de encerrar seu ciclo e voltar para casa.

LeBron anunciou sua volta para casa em uma linda carta, muito humilde, bem diferente do espetáculo egocêntrico que fez quando saiu de Cleveland. E embora eu tenha certeza que os principais motivos para sua saída de Miami são os explicados no parágrafo anterior, eu também não acho que LeBron em nenhum momento mentiu na sua carta. Sempre achei que LeBron planejava voltar para Ohio, e que ele sabia exatamente a importância de ganhar um título para uma cidade como Cleveland, tão torturada no cenário dos esportes americanos. Além disso, pessoas mudam e evoluem ao longo da sua vida, e tenho certeza que LeBron não é exceção. Ele teve que passar por uma baixa na carreira (as Finais de 2011) que nunca tinha passado antes, e pareceu ter aprendido com isso. A maior prova é que ele conduziu essa mudança de time de forma totalmente oposta ao que fez quatro anos atrás. Em 2010, LeBron fez um show de televisão (de extremo mal gosto) para ele mesmo, anunciando sua decisão no ar, e depois falando que iria ganhar não um, não dois, não três, não quatro, não cinco, mas seis títulos em Miami -  o tipo de coisa imatura e arrogante que poderíamos esperar de alguém que desde jovem sempre teve sucesso demais. Em 2014, foi o oposto, muito mais sensível e inteligente: foi uma carta discreta na SI, na qual ele agradece a todo mundo em Miami (algo que não fez em nenhum momento em 201) e frisa a dificuldade de ganhar títulos, dizendo que não vai prometê-los, que sabe que é um trabalho lento e gradual, mas que fará seu melhor. No conjunto, algo muito mais inteligente, mostrando uma maior compreensão e uma maior humildade por sua parte. Não é a toa que, enquanto The Decision colocou muitas pessoas contra LeBron, The Decision 2.0 parece ter colocado muito mais pessoas do lado dele.

Ainda assim, não cometam nenhum engano: LeBron voltou a Cleveland para ganhar títulos. Ele sabe o quanto ganhar um título em Ohio faria pela cidade e pelo seu legado, sabe que está em seu auge, e sabe do talento ao seu redor. Ao contrário de Miami, o time de Cleveland é muito mais jovem, o que significa que ele deve durar muito mais tempo, especialmente com a maior flexibilidade salarial que se espera que o novo salary cap da NBA proporcione a partir de 2016. E o talento lá, ainda que "desigual" em termos de habilidades (falta um bom defensor, não tem um bom protetor de aro, etc), sem dúvida é de altíssimo nível: Kyrie Irving é um jovem talento que foi MVP do All Star Game e tem um bom arremesso e excelente ball handle; Kevin Love é um dos 10 melhores jogadores da atualidade; Waiters tem algum potencial; Varejão é um ótimo defensor e reboteiro quando saudável; e por ai vai. Junte a isso o melhor jogador do mundo, e você tem um candidato forte ao título, e um time muito melhor e mais completo do que o time que LeBron deixou para trás em 2010.

Em termos de basquete, eu acho que não preciso explicar para ninguém o que significa essa decisão. LeBron é um dos 8 melhores jogadores de basquete de todos os tempos, e aonde quer que ele vá, ele vai mudar o equilíbrio competitivo da NBA. Cleveland foi o melhor time de temporada regular da NBA por dois anos seguidos (2009 e 2010), mas foi só LeBron ir para Miami que o Cavs logo entrou em uma espiral de derrotas, e Miami imediatamente foi a quatro Finais seguidas, vencendo duas. O time que LeBron for é um imediato candidato ao título, não importa qual seja.

Como Cleveland vai render como time em 2015 ainda é uma incógnita. A equipe tem o potencial de ter um dos melhores ataques da história recente da NBA, com Irving, Waiters, Mike Miller, LeBron e Love, uma máquina de infiltrações e arremessos de três que ninguém pode sonhar em realmente parar. Mas ao mesmo tempo, algumas perguntas legítimas precisam ser feitas. Cleveland só tem realmente um bom defensor que é o próprio LeBron (que mesmo assim não foi bem na defesa ano passado) e talvez dois Varejão se ficar saudável,  e apresenta alguns dos piores defensores de toda a NBA, inclusive Irving e Waiters. Como esse time vai se montar defensivamente só com LeBron para defender e nenhum shot-blocker é uma grande questão. Também vale questionar como jogadores como Irving e Waiters, que sempre jogaram com a bola nas mãos, irão render jogando mais em segundo plano, se movimentando sem a bola e funcionando como arremessadores de luxo boa parte do tempo - ou mesmo Love, que pela primeira vez está jogando realmente em um bom time onde tem que se focar em jogar de forma mais inteligente, ao invés de fazer o que lhe da na cabeça. Mesmo o Heat demorou um ano para conseguir realmente achar a melhor forma de jogar.

São questões legítimas, todas elas. Ainda assim, o talento em mãos é grande demais para não imaginar que Cleveland terá um grande time em 2015, sem falar naquela questão mais ou menos importante de "ter o melhor jogador de basquete do mundo", e o potencial - especialmente ofensivo - do time é algo realmente especial. Mas vamos esperar para ver exatamente o que vai sair dessa mistura quando chegar a hora. Por enquanto, o que importa é que LeBron James está de volta, e que o Cleveland Cavaliers voltou a ter esperanças de um futuro brilhante, depois de ter passado tanto tempo na lama.

(Em tempo: eu gosto bastante dos paralelos Mitsui-LeBron, ainda que sejam jogadores totalmente diferentes. Ambos são jogadores extremamente talentosos e ex-MVPs que cometeram erros em seu passado e ficaram "queimados" por isso. E assim como Mitsui, nada que LeBron faz parece ser bom o suficiente para receber a atenção e elogios que merece, ainda que por motivos opostos: LeBron não pode nunca vencer porque ainda tem uma parte muito grande da mídia e dos fãs que não o perdoou por 2010 - e, francamente, simplesmente por ser muito bom - que constantemente vai ficar buscando motivos para diminuí-lo e negar sua grandeza, por mais ridículos que esses motivos e as "histórias" sejam... enquanto que o problema de Mitsui é que quem não consegue perdoá-lo é ele próprio. Mitsui eventualmente encontrou sua redenção, e eu espero que LeBron consiga o mesmo aos olhos do público. Não que ele, em algum momento, precise disso para ser o grande jogador que é, mas ele merece ser tratado como o grande jogador que é e não através de uma imagem falsa criada por pessoas parciais.)


"Eu vou ter um número, sim!! O meu número vai ser o 3!!"
"Nem existe número 3, seu retardado!! A numeração começa a partir do 4!!"

Confesso que adorei que LeBron voltou a usar o número 23, que usou em sua primeira passagem pelo Cavaliers. LeBron deixou sua história em Cleveland incompleta para começar sua nova história em Miami, e nisso mudou seu número para o 6 de seu ídolo, Julius Erving. Depois de concluir com sucesso sua história lá, LeBron volta a Cleveland... e volta a usar o número 23, com o qual vai tentar retomar a história que deixou para trás com The Decision. O número 6 estará associado sempre ao LeBron de Miami, e o 23 ao LeBron de Cleveland, do começo ao fim. Sensacional. Eu adorei tudo relacionado a essa decisão.


"O meu marido fica todo animado quando fala do futuro de vocês dois. Ele diz que vocês tem um potencial que ele nunca viu igual"

Qualquer fã de basquete normal ficou com a imaginação nas alturas quando soube que a primeira escolha do Draft, Andrew Wiggins, iria jogar na mesma equipe que o melhor jogador da NBA, LeBron JamesLeBron e Wiggins no mesmo time?! Essa vai ser a dupla mais atlética da história!! Como qualquer time no mundo poderia competir com essa velocidade e jogo de transição?! E como alguém pode sonhar em sobreviver com essa defesa de perímetro?! E se o melhor prospecto colegial desde Kevin Durant, treinando com LeBron James, conseguir desenvolver todo seu potencial? O potencial dessa dupla é sem limites! É mais ou menos como eu imagino o Prof Anzai falando para a esposa sobre sua própria dupla.

Claro, o sonho durou pouco - logo ficou claro que Wiggins iria para o Wolves em troca de Kevin Love, uma estrela mais velha e já estabelecida para formar uma dupla mais pronta com LeBron James. E a promessa de LeBron James, a lenda do basquete, formando uma dupla com "o novo LeBron", Andrew Wiggins, logo foi esquecida.

Como alguém muito bem disse no twitter, era uma troca que o Cavs não tinha como perder. Eles tinham nas mãos um jogador jovem com potencial quase ilimitado, que contribuía imediatamente com sua excelente defesa de perímetro e capacidade atlética, optaram por trocá-lo por Love, um jogador que não tem as capacidades defensivas de Wiggins, mas é um jogador muito mais desenvolvido e estabelecido, um dos melhores pontuadores E reboteiros de todo o basquete, alguém cujo jogo ofensivo (excelente dentro do garrafão, mortal da linha dos três pontos) casa muito bem com LeBron. Eles tiveram a escolha entre Wiggins, que trazia muita defesa e muito potencial, e Love, que não oferece tanto potencial mas é uma estrela já estabelecida com um jogo ofensivo espetacular. Não era uma escolha fácil, e ambos os jogadores traziam uma coisa diferente a equipe, mas não tinha como escolher errado - ambas as opções eram excelentes.

Eu, pessoalmente, não teria feito a troca. Ou, melhor dizendo, não teria feito a troca ainda. Kevin Love, hoje, é um jogador melhor que Wiggins, uma ameaça a pontuar de qualquer lugar da quadra e um jogador talentoso o suficiente para ter 25-12 de média. Não estou discutindo isso. A questão é que eu acho que as habilidades que Wiggins traziam para a mesa, no papel, eram habilidades extremamente importantes para o futuro do Cavs, ainda mais do que as de Love.

O problema é que, nos últimos dois anos em Miami, LeBron teve um problema: ele visivelmente cansou muito ao final da temporada - em outras palavras, nos playoffs. Não é de se esperar, claro - Miami não tinha um elenco profundo, e Wade muito decaiu depois do primeiro ano do Big Three em South Beach. Isso deixou LeBron com um enorme fardo para o dia-a-dia de Miami - ele era o principal responsável por TODA a defesa de perímetro da equipe, e era a presença hiper-física e hiper-atlética que fazia do contra ataque a base de todo o ataque de Miami. Mas ao longo do ano, sendo obrigado a realizar sempre essa tarefa com pouquíssima ajuda do resto da equipe, LeBron foi chegando ao final do ano cada vez mais cansado e esgotado, não conseguindo manter sempre seu altíssimo nível.

E esse é o risco que eu achava que o Cavs não poderia correr: todo seu presente e futuro dependia de LeBron James, mas ele infelizmente parece prestes a assumir novamente uma função "exagerada" na equipe de forma semelhante. Cleveland não tem um único bom defensor de perímetro além dele (e, se Varejão machucar, nenhum bom defensor, ponto) e nenhum shot-blocker, então para sobreviver defensivamente vai precisar que LeBron assuma praticamente toda a responsabilidade defensiva da equipe, defendendo os melhores jogadores de perímetro e até mesmo trombando no garrafão para impor sua presença defensiva. Junte a isso a falta de jogadores de transição da equipe - o que vai forçar novamente LeBron as assumir as rédeas disso também - e você chega em uma situação ainda pior para LeBron (em termos de desgaste) do que a que ele estava em Miami, responsável por toda a desgastante defesa E jogadas de velocidade do time. Sem um reserva capaz de substituí-lo, ele corre o risco sério de chegar aos playoffs ainda mais cansado do que aconteceu nos últimos anos, o que obviamente seria um grave problema para Cleveland.

É ai que eu acho que Wiggins teria um papel fundamental. Ele é exatamente o tipo de jogador que daria essa "proteção" a LeBron - alguém para defender os melhores e mais físicos jogadores de perímetro adversários, acompanhar cada contra ataque e fazer todas as coisas hiper-atléticas que agora só tem LeBron para fazer. Wiggins faria o trabalho sujo, deixando LeBron descansando sem tantas responsabilidades, jogando apenas como quer e ficando fresco para ser solto na pós-temporada no auge da forma física. Por isso achava que era essencial manter Wiggins na equipe.

O Cavs não pensou assim, e preferiu o maior poder de fogo e o jogo mais "pronto" de Love a defesa e habilidade atlética de Wiggins. A vantagem para o Cavs aqui é óbvia: Love é um dos melhores jogadores da NBA, e um dos melhores pontuadores, o tipo de missmatch ambulante que LeBron é capaz de fazer saltar três níveis com seus passes e atenção extra que atrai. A presença dele aumenta em muito o potencial ofensivo da equipe, sem falar que Wiggins nunca jogou um jogo de NBA, enquanto Love é uma estrela já consagrada. Faz sentido o pensamento do Cavs, sem a menor dúvida.

(Outro ponto interessante é que não tinha muito porque o Cavs apressar a troca. Love não iria a lugar nenhum, já que nenhum time teria uma oferta tão boa pelo jogador. O time poderia usar o começo de temporada e a pré-season para ver como LeBron e Wiggins rendiam juntos e descobrir exatamente o que tinham em mãos antes de, eventualmente, fazer em Dezembro ou Janeiro essa troca que fizeram em Setembro. E, dependendo do resultado, poderia acabar não fazendo a troca por concluir que o que tinham em mãos era mais valioso.)

O maior vencedor dessa troca, provavelmente, é o próprio Andrew Wiggins. Wiggins é um jogador extremamente talentoso e com enorme potencial, mas muitos criticam o ala dizendo que ele não joga como uma estrela, não chama o jogo... é o tipo de cara que precisava passar algum tempo sendo o centro das atenções, jogando com a responsabilidade de uma estrela e sendo o foco da equipe para se acostumar a essa situação. No Cavs, ele nunca iria ter essa oportunidade - Cleveland tem como prioridade vencer imediatamente, e ele claramente seria coadjuvante em um time bem organizado em torno de LeBron, talvez até tendo que disputar minutos, não recebendo assim as repetições necessárias para se desenvolver. Em Minnesota, será exatamente o contrário: ele é o futuro da franquia, então vai ter todo o espaço e os minutos que quiser para jogar com a bola nas mãos, apanhar um pouco, desenvolver seu jogo e aprender a ser o centro das atenções, o foco da equipe. Lá ele terá o espaço necessário para atingir seu ilimitado potencial, um espaço que não teria em Cleveland. Seria lindo vê-lo jogando com LeBron, mas pensando no que Wiggins pode vir a ser um dia, não tenho dúvidas de que Minnesota é melhor para ele.

No fim, é uma troca que provavelmente deixou todo mundo feliz. Love conseguiu sair de Minnesota e finalmente jogará por um time que busca o título, do lado de outra estrela; Wiggins vai ter o espaço que tanto precisa para crescer; Minnesota começa mais uma reconstrução, mas dessa vez com muito mais peças valiosas do que antes, conseguindo a melhor troca que poderia sonhar conseguir por sua estrela descontente; e Cleveland conseguiu a segunda estrela que tanto queria para juntar com LeBron. O tempo dirá se a troca funcionou para todos os envolvidos, mas hoje, ela parece ótima, e além disso, gerou alguns dos times e das histórias mais interessantes de acompanhar nos próximos anos. Todos saem ganhando, inclusive a gente.


"Ei, velho, quando foi o seu momento de glória? Foi quando estava na seleção japonesa? Para mim... o meu momento é agora"

Um dos meus momentos favoritos de toda a série. Eu queria de todo jeito incluí-lo nessa coluna como encerramento, mas infelizmente não achei nada nem ninguém nessa temporada para merecer esse quote. Então para não ter que tirá-lo da coluna, esse quote vai para uma das minhas performances mais underrateds da história da NBA: Kevin McHale em 1987, quando o Power Forward de Boston arruinou o resto da sua carreira jogando os playoffs inteiros com um pé quebrado.

O que, você acha que é um eufemismo? Não é, o pé estava realmente quebrado. McHale quebrou o pé em Janeiro, e ficou de fora por três meses. No entanto, o Celtics estava com problemas no garrafão e não tinha reserva, já que Lenny Bias tinha morrido por overdose de cocaína, Bill Walton estava fora da temporada, e mesmo Robert Parish estava lidando com uma lesão na perna. McHale foi forçado a voltar muito antes do que teria sido ideal por conta da necessidade, e logo quebrou novamente o pé no mesmo local na primeira rodada dos playoffs. Mas o time não tinha reserva, e embora McHale não devesse, ele continuou jogando os playoffs de pé quebrado e tudo, sem um reserva que aliviasse seus minutos. Jogou 39 minutos por jogo, com 21 pontos e 9 rebotes apesar de não conseguir pular, correr ou se mover lateralmente com a agilidade de sempre.

A corajosa performance do ala-pivô ajudou o Celtics a chegar nas Finais, mas não conseguiram vencer o Lakers com seu segundo melhor jogador jogando com a droga de um pé quebrado, e a carreira de McHale nunca mais foi a mesma depois disso. Seu pé nunca se recuperou por causa do excesso de dano gerado naquela pós-temporada, e o resto de sua carreira foi arruinada. Ele nunca recuperou sua explosão e seus saltos fantásticos, ou sua agilidade lateral e seu jogo de pernas no garrafão. Com McHale saudável, o Celtics provavelmente vence em 1987, e teria continuado como um forte concorrente nos anos seguintes, talvez com o atual técnico do Rockets até mesmo fazendo a ponte para a era Reggie Lewis. Para se ter uma noção do quão bom era McHale, em 87 antes de quebrar a perna, ele teve 26 pontos, 10 rebotes, 2.2 tocos de média, 60% de aproveitamento nos arremessos, e dobrava como o melhor defensor da NBA inteira, um jogador ágil o suficiente para marcar jogadores de perímetro e forte e atlético o suficiente para defender o garrafão. Ele teria ido até os 40 anos se não tivesse arruinado o fim de sua carreira em uma das performances mais corajosas e underrateds da história da NBA. Mesmo hoje, quase 30 anos depois, McHale ainda manca visivelmente e tem alguma dificuldade de se manter muito tempo em pé. 

A melhor parte, no entanto? McHale não tem nenhum arrependimento de ter jogado com o pé quebrado, e disse que, se pudesse escolher, faria de novo. Como ele disse, você tem um número limitado de chances de ser campeão na sua vida, de jogar junto com seus companheiros pelo topo, e quando você tem essa chance ao seu alcance, você quer fazer de tudo para aproveitá-la enquanto pode, nunca sabendo quando ela vai acabar. Então ele sacrificou o resto da sua carreira para ir atrás dessa chance, e mesmo sem ter conseguido o título, ele fez o que achava que tinha que fazer e não se arrepende.

Esse, meus amigos, é um verdadeiro campeão. Basquete é um esporte que nos oferece tantas histórias boas que as vezes esquecemos de muitas delas. É muito bom e muito importante aproveitar as grandes estrelas que temos hoje na NBA, mas também é importante não esquecer das que passaram por aqui antes.

Jogadores como Dennis Rodman (Sakuragi), Patrick Ewing (Akagi), Magic Johnson (Maki), Shaquile O'Neal (Morishigue) e Michael Jordan (Rukawa) serviram de inspiração para os personagens da melhor obra de ficção de basquete de todos os tempos. Talvez daqui a alguns anos, seja LeBron, Durant, Blake Griffin e Carmelo Anthony que serão imortalizados dessa maneira. Porque essa é a beleza do basquete, um esporte que se mantém tão bom como sempre desde os anos 1980, mas que nunca para de se reinventar, gerando novos heróis e novas histórias.


Agradecimentos especiais ao Vinicius Veiga (@spinballnet) e ao Marcelo Mazzini (@maecomazzini) pela capa!

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