Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A ressurreição do Kansas City Chiefs

"Um QB que sabe acertar passes? Tem certeza?"
"Ouvi boatos mas nunca tinha visto um ao vivo em KC"


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Existem poucas coisas no mundo que mudam mais rápido do que a NFL. Muito poucas. A amostra é tão pequena e o jogo tão dependente de pequenos detalhes que jogadores explodem ou deixam de ser eficientes (o mesmo vale para times) sem que a gente perceba, e só perceba quando é tarde demais. Por exemplo, todos sabemos como a NFL está agora em termos de times bons e ruins, times que venceram e times que perderam, e tudo mais. Bom, então vamos dar uma rápida olhada em como a NFL estava um ano atrás, ao final da quarta rodada da temporada regular?

Bom, vejamos... O Saints perdia para o Packers e começava a temporada 0-4... O Titans era massacrado pelo Texans e caia para 1-3... o Cardinals ganhava sua sexta partida seguida (contando a temporada anterior) para começar o ano 4-0... Falcons arrancava uma vitória em casa contra o Panthers na incompetência do Ron Rivera (algumas coisas nunca mudam) para abrir o ano 4-0... o Browns perdia do Ravens para ficar 0-4... o Patriots ganhava do Bills para chegar a 2-2... Seattle perdia do Rams para começar 2-2 e a mídia pedia Matt Flynn de titular e Russell Wilson no banco... e claro, o Kansas City Chiefs perdia em casa para o Chargers e caia para 1-3.

Bom, todos nós sabemos como a temporada terminou para esses times e como a temporada 2013 começou, e é verdadeiramente fascinante imaginar que apenas um ano depois o Falcons estaria começando o ano 1-3, o Saints 4-0, e claro, o Chiefs 4-0 também. Como eu disse, faz parte da natureza da NFL, onde pequenas coisas - que muitas vezes só percebemos quando acontecem - acabam fazendo um mundo de diferença.

E entre todas as grandes mudanças de equipes de 2012 para 2013, nenhuma é mais incrível e ao mesmo tempo menos surpreendente do que a do Kansas City Chiefs, que terminou o ano 2-14 e com a primeira escolha do draft apenas oito meses atrás, e agora está invicto e forte candidato a uma vaga nos playoffs. Então o que exatamente aconteceu entre esses dois pontos para causar tamanha mudança?

Quando eu comecei minha série de previews, cujo foco era procurar em estatísticas diferentes eventuais indicadores de que o record final de uma equipe não refletia o seu verdadeiro nível de performance (usando por exemplo Pythagorean Expectations e jogos decididos por uma posse de bola), o Chiefs era um dos times que mais me interessava e um dos times que eu mais esperava que fosse encontrar um nível de produção que não fosse condizente com seu horrível record final de 2-14. Afinal, apesar da horrível situação de QBs da equipe, o Chiefs ainda contava com seis Pro Bowlers no seu elenco, uma defesa cheia de grandes talentos e um dos melhores RBs da NFL. Não fazia sentido nenhum que a equipe fosse tão ruim tendo tantos jogadores bons. Então eu estava crente que iria encontrar muitos indicadores aleatórios influenciando o record da equipe.

Não foi o caso. Por qualquer métrica usada, o Chiefs foi o time horroroso que pareceu ser: o ataque foi o segundo pior da liga, e a defesa a terceira pior. O time teve a pior eficiência ajustada, o pior saldo de pontos E o menor Pythagorean Wins (2.5) de toda a NFL. Tudo indicava que o time era simplesmente ruim. Mas eu não estava satisfeito com isso, não com tantos grandes talentos dos dois lados da bola na equipe e com o upgrade para Andy Reid e Alex Smith nas posições de HC e QB, respectivamente. Por isso que o preview do Chiefs foi o único que eu ignorei totalmente estatísticas e minhas métricas e fui de acordo com o meu feeling e minha experiência no assunto quando sugeri que seria um bom time e que brigava por uma vaga nos playoffs. Se toda regra tem uma exceção, nesse caso só podia ser o Chiefs.

Agora que a equipe começou o ano 4-0 e com o terceiro melhor saldo de pontos da NFL, posso falar que de fato eu acertei nessa. Ainda assim, é difícil explicar exatamente porque esse time, com apenas algumas poucas mudanças significativas, foi tão ruim em 2012 se o talento estava lá para gerar seis Pro Bowlers. A solução fácil seria atribuir isso ao péssimo desempenho dos QBs da equipe e do ataque que levou para o fundo do poço todo o time, e embora isso tenha uma grande parcela de culpa, não justifica porque a defesa também terminou o ano tão mal mesmo com quatro PBs. Talvez o péssimo desempenho ofensivo tenha desanimado e tirar o esforço dos demais jogadores. Talvez tenha sido apenas uma temporada onde tudo deu errado. Talvez um pouco de todos. Só sei que o talento estava lá, e com a mudança de comando e mesmo de ares lá em Kansas City, era de se esperar que esse talento aflorasse.

A mudança da água para o vinho nesse time começou com a chegada lá do grande (enorme!) Andy Reid. Reid claramente estava com a relação desgastada na Philadelphia, cometendo muitos erros e precisando urgente de uma mudança de ares. Mas ele é também um técnico experiente e inteligente, que sabe como tirar o máximo de seus jogadores. E Reid, desde o primeiro momento, soube exatamente o que ele tinha nas mãos e o que tinha que fazer para o time funcionar. Ele sabia que Alex Smith era um sólido quarterback com um conjunto específico de habilidades, mas que não conseguia desequilibrar jogos sozinho como Drew Brees ou Aaron Rodgers. MAs ele também sabia que, seguindo o manual do Jim Harbaugh em San Francisco, ele tinha as peças exatas para fazer Smith funcionar ao máximo de suas capacidades. Então Andy Reid prosseguiu para montar esse time como uma réplica muito boa do 49ers de 2011 que quase chegou ao Super Bowl.

Os paralelos são bastante precisos nesse aspecto, e é uma tática que tem sido bastante utilizada ultimamente. Alex Smith não tem um braço forte, não tem uma grande precisão nos passes longos e não é particularmente bom acertando passes em janelas apertadas, mas ele é muito bom tomando decisões, cuidando da bola e acertando passes curtos. Ele é um QB pouco explosivo, mas super eficiente. Então para aproveitar ao máximo o que ele sabe fazer e não colocá-lo em situações onde ele seja forçado a fazer o que não é tão bom, é simples: você foca no jogo terrestre e nos passes curtos, você controla o relógio, você move a bola lentamente, encurta as conversões e força a defesa a se preocupar com a corrida para abrir as linhas de passe. É uma forma de manter o ritmo do jogo sob seu controle, ainda que não resulte em muitos pontos.

Claro, a teoria é mais fácil que a prática e para isso você precisa de um conjunto de jogadores bem definidio. Mas a questão é que o Chiefs é um dos times que possuem esse tipo de característica: possuem um RB bom no Jamaal Charles capaz de encurtar as descidas e mover as correntes, e uma boa linha ofensiva. E mais do que isso, Andy Reid tem feito um excelente trabalho usando Alex Smith correndo com a bola tanto em conversões curtas como em jogadas de primeira ou segunda descida. Smith (contando três ajoelhadas) tem 151 jardas e 5 jardas por corrida, e o ataque terrestre como um todo ganha mais do que 4.3 por corrida (tirando ajoelhadas), uma boa marca considerando que o time enfrenta sete ou oito jogadores na linha adversária com frequência. Jamaal Charles já soma mais de 500 jardas (entre corridas e recepções) e 4 TDs, Alex Smith tem sete TDs e cometeu apenas dois turnovers, e o ataque do Chiefs em geral tem cumprido muito bem sua função de evitar turnovers (5.2% das posses terminando em turnovers, terceira melhor marca da NFL) e de aproveitar as suas boas oportunidades (9 TDs contra três turnovers) que eventualmente tiver. O DVOA do Football Outsiders coloca o Chiefs como o 11th melhor da temporada até aqui e ressalta que esse bom número vem justamente da sua capacidade de proteger a bola e converter oportunidades, ainda que tenha dificuldade em campanhas mais longas.

Mas quando você monta seu ataque dessa forma, para ser conservador, tomar conta da bola, evitar turnovers e basicamente converter oportunidades, você não pode esperar que seja seu ataque a vencer jogos para você. É basicamente admitir que seu ataque não conseguiria (ou não seria eficiente o suficiente) jogar em um esquema de profundidade e alto volume, e montar uma forma de esconder essa dificuldade para valorizar aspectos mais conservadores do jogo. Não tem nada errado com isso, é claro - na verdade, acho inteligente quando um técnico reconhece as limitações do seu time e consegue efetivamente esconder isso enquanto explora os seus pontos fortes, é o que faz de um bom técnico um bom técnico. Mas para isso funcionar, você vai precisar de uma outra força no seu time: uma defesa que consiga manter os jogos favoráveis aos placares baixos do ataque, que force turnovers e boas posições de campo para o ataque aproveitar, e que possa vencer jogos uma vez ou outra quando o ataque não funcionar. Ou seja, você precisa de uma defesa dominante que compense e complemente esse ataque conservador.

E nessas quatro semanas, é exatamente o que essa defesa tem sido. Além de ser rankeada como a terceira melhor defesa pelo Football Outsiders (ajustada), a defesa do Chiefs é a segunda que menos cedeu pontos na temporada, nona melhor cedendo jardas e terceira melhor forçando turnovers. Apenas 14.8% das posses de bola adversárisa resultam em turnovers contra essa defesa, a melhor marca da NFL por uma considerável margem, enquanto que ela força turnovers em 20.4% das posses - quinta melhor marca. A defesa tem sido surpreendentemente ruim contra corridas, cedendo 5.4 jardas por corrida (segunda pior marca da liga), mas apresenta a melhor secundária, segurando o adversário a apenas 4.5 jardas por jogada de passe (de longe a melhor marca). 

O segredo para essa defesa, pelo menos até aqui, tem sido seu pass rush: em quatro semanas, nenhuma defesa conseguiu anotar mais sacks (18) e teve mais situações de pressão ou hits do que a linha de frente de Kansas City. A dupla de OLBs do time, Tamba Hali e Justin Houston, em particular, tem sido letal: Hali sempre foi um grande rusher, com temporadas de 14.5 e 12.5 sacks na sua carreira, e esse ano teve mais um começo bom de temporada com 3 sacks nos primeiros quatro jogos, mas a grande surpresa do ano tem sido Houston, que já tinha sido bom em 2012 (10 sacks e uma vaga no Pro Bowl) mas que explodiu em 2013 com 7.5 (!!) sacks em quatro jogos, incluindo um fumble forçado e 9.5 tackles atrás da linha de scrimmage (contando sacks). Esses dois sozinhos somam mais sacks do que 15 times da NFL e mais sacks do que Bears e Giants SOMADOS. Esses números provavelmente não vão continuar assim um ano inteiro, mas é o suficiente para que esse pass rush seja reconhecido como uma força que desestabiliza quarterbacks e força times a ajustarem para sair da sua zona de conforto. Outro jogador que explodiu em 2013 e tem sido fundamental para esse bom começo é o NT Dontari Poe, uma escolha de primeira rodada que decepcionou em 2012 mas que já soma 3.5 sacks em 2013 como um NT de uma defesa 3-4!!! Poe tem sido uma das forças mais destrutivas da NFL pelo meio essa temporada, não só forçando sacks como obrigando ajudes e até mesmo marcações triplas em cima do gradalhão. Então a defesa do time já era boa, com a secundária trazendo Dunta Robinson e Sean Smith para reforçar um grupo já forte que contava com Eric Berry e Brandon Flowers e mais Derrick Johnson e Tamba Hali na frente, e só de se livrar do que quer que já estivesse a atrasando em 2012 já seria o suficiente para fazer dessa uma defesa muito sólida... mas dai Houston e Poe explodiram e colocaram esse grupo um patamar ou dois acima. Não é a toa que os adversários enfrentando o Chiefs tem apenas 53% de aproveitamento nos passes (terceira melhor marca da NFL), um NFL-worst 5.9 jardas por passe (não por jogadas de passe, note bem) e 4.8 jardas ajustadas por passe (segunda melhor). É um pesadelo ter que passar contra esse time.

Claro, não é apenas a questão do ataque mediano, mas eficiente, e da defesa destrutiva. Depende de diversos outros fatores que pouco são observados, mas estão diretamente ligado a capacidade do time de integrar essas duas coisas, funcionar como conjunto e executar seu plano de jogo. E a primeira e talvez mais importante dessas é a questão da posição de campo. Como um time de futebol americano, naturalmente, você quer que seu ataque comece suas campanhas o mais próximo possível da end zone adversária (menos caminho a percorrer para anotar pontos) e que as campanhas de seus adversários comecem o mais longe possível da sua. Isso pode parecer uma questão de special teams (capacidade de retornar chutes, bons punters, etc) e de certa forma é, mas não apenas: depende diretamente da estratégia e da forma como um time atua. Isso envolve tomada de decisões em diversas situações (por exemplo, o chiefs é mais provável que vá para o punt em uma 4th and 4 na linha de 38 do adversário do que o Packers ou Broncos) e também toda sua filosofia de jogo, já que evitar turnovers ofensivos e conseguir forçá-los na defesa é uma forma de conseguir uma vantagem no quesito. Em particular, para um time como o Chiefs que usa essa estratégia de um ataque eficiente mas com dificuldades para longas campanhas e uma defesa absurdamente dominante que é uma ameaça para forçar turnovers a todo instante, a posição de campo é crucial: você quer seu ataque tendo que andar o mínimo possível para anotar pontos já que ele não se da bem em longas campanhas, e você quer oferecer a sua defesa o maior espaço possível para fazer sua mágica e forçar os turnovers que, por sua vez, darão ao ataque boa posição de campo para anotar pontos. É por isso que o Chiefs é um time que não é tão agressivo ofensivamente e não se incomoda em chutar punts quando seu ataque estagna em uma campanha, porque assim eles oferecem boa posição de campo a defesa para conseguir uma eliminação rápida do ataque ou um turnover, e dai o ataque receberá novamente a bola em uma boa posição. Então posição de campo é um ingrediente crucial para o estilo de jogo de KC, e até agora, eles tem sido extremamente  eficientes com isso: as suas campanhas ofensivas começam em média na linha de 37.5 jardas do seu próprio campo, e as suas campanhas defensivas começam com o adversário em sua linha de 20.3 jardas... e ambas as marcas lideram a NFL por uma LARGA margem. Nunca neglicencie o efeito disso sobre uma partida e um time.

E por fim, temos uma questão mais complicada: turnovers. Quando eu escrevi terça sobre o Titans, eu disse que o segredo por trás do seu bom começo de temporada era seu saldo de turnovers de +9, algo que era absolutamente insustentável já que era motivado por uma taxa de recuperação de fumbles de 89% e pelo fato de que seu time ainda não tinha lançado uma interceptação, dois fatores extremamente prováveis a sofrerem regressão indo para frente. Bom, o  Chiefs também é um time que tem beneficiado demais dos turnovers: seu saldo de +9 lidera a NFL junto com o Titans, resultado de 12 takeaways da defesa contra apenas 3 turnovers do ataque. E como esperado, isso também envolve alguma sorte: o Chiefs tem recuperado 71% dos fumbles, terceira melhor marca da liga. Então o normal seria concluir que, assim como o Titans, o Chiefs está sujeito a uma regressão nesse quesito. E não deixa de ser verdade: é impossível que a equipe continue recuperando 71% de seus fumbles, e quando isso regredir, o total de turnovers da equipe também vai regredir. 

Mas a equipe de Kansas City tem uma chance melhor de continuar se dando bem no quesito do que a de Nashville por dois motivos. Primeiro, porque esse bom começo e esse saldo de +9 dependem muito menos de sorte e de fatores absurdos do que seus adversários da AFC. No caso do Titans, isso está vindo de dois fatores absolutamente insustentáveis: recuperação de 89% de seus fumbles e taxa de interceptações de 0% por parte de seus QBs (inclusive duas interceptações dropadas), dois dados que contrariam todas as evidências histórias e que estão sujeitos a violentas regressões que afetarão mais fortemente o seu time do que o Chiefs, que deve diminuir esse saldo mas de um patamar muito menor (entre 71% e 89% tem uma GRANDE diferença) e cujo QB não está tendo particular sorte ou um número estranho ou insustentável com interceptações - então a regressão tende a ser mais fraca em cima do Chiefs. E segundo, porque a batalha dos tunovers é uma consequência direta do plano de jogo da equipe: o ataque do Chiefs é FEITO para segurar a bola e evitar turnovers, composta de passes curtos e seguros que diminuem a chance de uma interceptação, e ainda por cima com o QB que melhor evita turnovers em toda a NFL desde que assumiu a titularidade em 2010. Da mesma forma, a defesa do Chiefs é uma das melhores da liga e extremamente agressiva em busca desses turnovers, então eles vão recuperar mais fumbles (mesmo quando o 71% nivelar) porque eles vão simplesmente forçar mais fumbles do que os outros times. Não que todos os times da liga não busquem também evitar turnovers e produzir os seus, mas no caso do Chiefs, todo o plano de jogo é voltado para essa finalidade, então me parece algo muito mais natural que KC tenha +9 de saldo do que um outro time que não coloque tanta ênfase nesse aspecto do jogo. Eles tem dado alguma sorte, mas também tem executado muito bem seu plano de jogo. E no fundo, é isso que tem feito a grande diferença na equipe, dos dois lados da bola. Não vejo motivo para que o Chiefs não continue sua temporada mágica rumo a uma vaga nos playoffs.


Palpite para o jogo de quinta a noite


BROWNS over Bills
Contra o spread: BROWNS (-3.5) over Bills
Então depois de começar o ano 0-2 e trocar seu (supostamente, porque ele tem sido medíocre a sua carreira inteira) melhor jogador ofensivo E colocar seu QB reserva para jogar, o time está 2-0, venceu supostamente o melhor time da sua divisão no Bengals, e agora lidera a AFC North (empatado, mas enfim). Alias, inesperadamente esse jogo que tinha tudo para ser um fiasco no papel acabou sendo uma disputa entre dois times 2-2 que de repente sonham com uma vaga nos playoffs! Quem teria imaginado no começo da temporada. Enfim, minha aposta vai para o Browns porque eles tem me impressionado bastante desde que trocaram Trent Richardson (a ponto de me fazer questionar se, no final das contas, ele era mais responsável por aquele ataque ruim do que imaginávamos), tem jogado com muita intensidade e jogam em frente a uma torcida que não comemora nada faz seis anos, e enfrentam um Bills que não tem jogado bem fora de casa, joga sem metade da secundária e que quase conseguiram perder do Ravens mesmo com Joe Flacco lançando cinco interceptações. A boa defesa do Browns me parece favorecida por esse jogo ser numa quinta a noite também. Agora se me dão licença, tenho que subir na Cleveland Browns Bandwagon. Volto amanhã.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Distribuindo prêmios na MLB


Clayton Kershaw comemora o prêmio ganho no nosso post


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Com a temporada regular da MLB finalmente no passado e enquanto os playoffs começam a esquentar, é hora de olhar para uma ótima temporada regular e distribuir alguns prêmios. Eu particularmente adoro esses prêmios, especialmente no baseball, porque eles são ao mesmo tempo simples e complexos: temos estatísticas e métricas extremamente avançadas a nossa disposição, mas tem muita gente que insiste em olhar para os números errados e superficiais sem olhar para os que realmente nos trazem a verdadeira performance. Então vamos dar uma passada pelos três prêmios principais da MLB e ver quem deveria (e quem provavelmente vai) levar cada um deles: MVP, Cy Young e Rookie of the Year. Deixo de fora Manager of the Year porque é o prêmio mais subjetivo de todos os tempos e depende demais de termos que não podemos observar e normalmente vai para o time que deu a melhor mudança de record de um ano para outro.

Antes de começarmos, aviso que vamos falar bastante de estatísticas por aqui. Então se não as conhece e quer conhecê-las, recomendo uma passada por esse post antes, onde eu explico praticamente todas as sabermetrics mais usadas (e que usaremos aqui hoje) de forma bastante longa e didática. Então vamos começar, por...

AL MVP: Miguel Cabrera


O AL MVP é um prêmio bastante complicado e polêmico que coloca em debate exatamente o que significa isso de "Mais valioso". O melhor jogador da AL (e da MLB inteira), de longe, é Mike Trout. Vamos chegar nisso, mas basta saber que Trout está jogando em um nível que o último jogador a atingir nessa idade... hm, verdade, ninguém nunca fez isso antes aos 21/22 anos. Mas enquanto Mike Trout é claramente o melhor jogador da MLB, seu time como um todo é um lixo e não vai a lugar nenhum, enquanto que outro jogador tendo uma temporada histórica, Miguel Cabrera, joga em um time que ganhou a sua divisão e foi aos playoffs. Então o debate furioso que acontece a partir dai é: o MVP tem que ser o melhor jogador, ou tem que ser o melhor jogador que conseguiu levar o time aos playoffs? Em outras palavras, quando escolhemos o MVP, deveria importar a campanha coletiva do time em um jogo tão individual?

A diretriz oficial para escolher o prêmio de MVP não nos ajuda em nada. Segundo as regras oficiais da MLB, a interpretação de "mais valioso" depende exclusivamente de quem for votar e não existe uma recomendação clara sobre como interpretar isso. Por esse motivo, acaba sendo algo totalmente pessoal. Você pode acreditar que Trout foi o MVP porque ninguém adicionou mais vitórias ao seu time do que ele, ou você pode acreditar que foi Miguel Cabrera ou Josh Donaldson porque adicionaram menos vitórias mas elas tiveram um impacto maior no resultado final de seus respectivos times. É totalmente aberto a interpretações.

A minha interpretação: o contexto de time deve importar, mas não deve ser absoluto. Existe um conceito de valor absoluto (o total que um jogador contribui para seu time, ou seja, o melhor jogador) e um de valor relativo (aquela contribuição que teve um impacto maior no resultado) que precisam ser levado em conta. Eis o que eu escrevi ano passado sobre isso, justificando meu voto de 2011 para Justin Verlander como MVP da MLB:

Por exemplo, vamos pegar a temporada passada da MLB como exemplo. Os dois melhores jogadores da temporada individualmente foram Jacoby Ellsbury e Jose Bautista, mas tanto Red Sox como Blue Jays perderam os playoffs (O Red Sox depois de um colapso nos jogos finais da temporada regular, o Jays ficou nos 50% a temporada toda). Enquanto isso, você tinha Justin Verlander tendo uma temporada ligeiramente inferior a esses dois, mas sendo o melhor e mais importante jogador de um time do Tigers que arrancou uma vaga na AL Central e chegou nos playoffs com status de candidato ao título. Então individualmente, Bautista e Ellsb foram melhores que Verlander. Mas se tirassemos Ellsb e Bautista dos seus times antes da temporada (ou na metade), o destino de Sox e Jays não teria mudado (e o Red Sox provavelmente não teria sido tão bom a temporada inteira pra ter um colapso histórico pra sofrer em Setembro) e ambos os times continuariam de fora dos playoffs. Mas sem Verlander, o Tigers estaria condenado ao quarto lugar na AL Central e total esquecimento. Por causa de Verlander, o Tigers ganhou a divisão, chamou a atenção da Liga inteira e virou o time que ninguém queria enfrentar em uma série. Pra mim, isso significa que ele foi mais valioso pro Tigers do que Ellsb e Bautista pra Sox e Jays - A presença dele teve um efeito muito maior no destino do seu time na temporada.

Por esse motivo, eu votei em Verlander pra MVP em primeiro, Ellsbury em segundo, e Evan Longoria em terceiro (perdeu boa parte da temporada, mas quando voltou foi o maior responsável por levar o Rays aos playoffs). O que não significa que as temporadas de Ellsbury e Bautista não foram valiosas ou não tiveram valor, é claro. As duas tiveram um grande valor, com certeza, mas a presença de Bautista fazendo o Jays ser 81-81 ao invés de 72-90 fez uma diferença muito menor do que Verlander levando o Tigers de 81-81 a 92-70, ganhando a divisão e transformando o Tigers em uma força na AL. Por mais que dois jogadores valham, digamos, 9 vitórias a mais pros seus respectivos times, essas 9 vitórias fazem uma diferença muito maior em um time que vai de 85 vitórias pra 94 e um que vai de 71 pra 80 vitórias. Por isso pra mim a diferença entre "melhor" e "mais valioso". É injusto "penalizar" um jogador pela performance do seu time, mas essa é minha interpretação, e afinal o que vale no final é aonde o time chegou: Ellsbury foi o "Melhor Jogador da MLB" em 2011... Mas Verlander foi o Jogador Mais Valioso da MLB em 2011.

Em outras palavras, Ellsbury adicionou 9 vitórias (em WAR) ao Red Sox em 2011, enquanto Verlander adicionou pouco mais de sete a Detroit. Mas as sete vitórias de Verlander significaram para o  Tigers a diferença entre o primeiro lugar na conferência e o ostracismo, e as nove de Jacoby Ellsbury só mudariam o número de vitórias mas não o resultado da temporada do Red Sox, e então eu me vi forçado a concluir que as sete vitórias de Verlander tiveram um valor maior para sua equipe que as 9 de Ellsbury.

Eslcarecido isso, minha lógica não quer dizer que um jogador que não foi aos playoffs não possa ganhar o MVP. Ano passado, respondendo a um email do leitor Luciano Diaz, escrevi uma coluna inteira sobre o prêmio de MVP, suas dificuldades e sobre quem deveria ganhar em 2012. Nessa coluna, eu escolhi Mike Trout para ganhar o prêmio de MVP sobre Miguel Cabrera, mesmo Cabrera tendo ido aos playoffs e Trout não. Minha justificativa foi a seguinte: 

Nesse contexto, e ainda de acordo com minha opinião, o MVP pode ir para um jogador de um time que não foi aos playoffs (afinal, sua temporada também teve seu valor) ou um time inferior de acordo com duas situaçōes: a) caso esse jogador tenha sido claramente muito superior  a todo o resto; e b) caso não haja um claro candidato num time que foi aos playoffs e que possa reclamar o prêmio. O peso de cada um desses pontos depende, claro, da situação em questão e é subjetivo a cada pessoa.

E isso definitivamente aconteceu em 2012. Mike Trout foi tão superior a Cabrera, Robinson Cano e ao resto dos candidatos ao prêmio, especialmente considerando que seus dois concorrentes jogavam em times extremamente lotados de talento que poderiam sobreviver com uma lesão a um deles, que não via como não votar no cara que tinha acabado de submeter uma das melhores temporadas da história da MLB... sendo um calouro. 

Mas em 2013, em uma situação bastante semelhante, eu optei por votar em Cabrera e não em Trout dessa vez. O que mudou entre 2012 e 2013 para fazer meu voto mudar?

Em primeiro lugar, Trout continua o melhor jogador da MLB inteira por uma LARGA margem. Isso definitivamente não mudou. Considere o seguinte sobre Mike Trout: ao terminar 2013 com um fWAR de 10.4, ele se tornou o quarto jogador dos últimos 70 anos a ter duas temporadas consecutivas com WAR acima de 10. Os outros três? Willie Mays, Mickey Mantle e Barry Bonds. Trout conseguiu isso com 22 anos. Nenhum jogador na história da MLB chegou aos 22 anos com temporadas melhores, e nenhum jogador estreou na MLB com duas temporadas melhores do que o OF do Angels. Seu WAR de 10.4 também liderou a liga por uma larga margem, com 2.2 de vantagem para o segundo colocado (Andrew McCutchen) e 2.7 e 2.8 sobre os segundo e terceiro colocados na AL (Donaldson e Cabrera, respectivamente).

Hmm, você não gosta ou não confia em WAR? Certo, vamos olhar por outro ângulo então. A slash line de Mike Trout esse ano foi de .323/.432/.557, e ajustando isso para as dimensões favoráveis a arremessadores (e não rebatedores) do estádio onde jogou metade de suas partidas, isso nos dá um wRC+ de 178 - em outras palavras, isso significa que ajustando pelo estádio onde joga, Trout criou 78% a mais de corridas do que um jogador médio da MLB com suas rebatidas. Essa marca é, na verdade, a segunda melhor da liga em 2013, atrás apenas de Miguel Cabrera (e na frente de Chris Davis, Paul Goldschmidt, Joey Votto e companhia). Expandindo o contexto, desde 2000 apenas dois OFs tiveram uma temporada mais produtiva no bastão do que Trout sem a ajuda de esteróides pesados (cof Barry Bonds cof cof): Manny Ramirez em 2000 e 2002, e Jose Bautista em 2011. E isso é apenas considerando o que fez com o seu bastão em mãos, mas Trout também é um dos melhores corredores da MLB, roubando 33 bases em 40 tentativas na temporada. Juntando então sua produtividade incrível no bastão com o estrago que Trout faz com as pernas (roubando bases e conseguindo bases extras em rebatidas de colegas), suas 69.6 corridas geradas no total ofensivamente são a melhor marca de um OF nos últimos 33 anos não chamado Bonds, 0.5 corridas na frente do lendário Rickey Henderson em 1980. 

Sinceramente, não tem nada que Trout não seja praticamente perfeito fazendo. Ele possui incrível disciplina no bastão e chega com facilidade em base, conseguindo walks 15.4% de suas idas ao bastão, terceira melhor marca da MLB depois de Joey Votto e Shin-Soo Choo. Seus HRs caíram em relação a 2012, mas ele rebateu mais doubles e triples do que antes, mantendo sua força no bastão alta. Suas rebatidas tem um grande aproveitamento porque ele consegue um enorme número de line drives e infield singles. Seu tempo correndo do home plate até a primeira base (não oficial) é o menor da MLB, o que é incrível considerando que ele é destro e rebate do lado esquerdo do home plate (e portanto tem caminho maior a percorrer que um canhoto), e ele é um dos mais prolíficos base runners da liga. Sua defesa desceu em relação aos níveis históricos de 2012 mas ainda é acima da média da MLB. O garoto é a coisa mais próxima de um jogador perfeito que você vai ver na MLB, e os números refletem isso: nas suas duas primeiras temporadas de MLB, ele conseguiu um feito que lendas como Mays e Mantle só conseguiram no auge absoluto de suas carreiras. E eu já disse que Trout fez 22 anos DURANTE a temporada? Me parece relevante. Então não é como se Mike Trout fosse apenas um pouco melhor que seus contemporâneos: ele é significantemente melhor do que qualquer outro jogador na Terra nesse momento, e sinceramente, possivelmente melhor do que qualquer jogador da história da MLB foi nessa idade.

Então porque dar o prêmio para Cabrera e não para Trout, se ano passado eu defendi os méritos de Trout? Porque a temporada 2013 de Cabrera foi muito melhor do que a 2012. As pessoas se perdem olhando para estatísticas inúteis como a Triple Crown que Miggy ganhou ano passado e assumem que isso faz dela a melhor temporada do slugger, mas isso passa muito longe da verdade. A temporada 2012 de Cabrera (.330/.393/.606, 166 wRC+) foi inferior, por exemplo, a sua temporada 2011 (.344/.448/.586, 177 wRC+), mas ninguém percebeu porque só ele ganhou a TC um ano depois. E em 2013, Miguelito subiu ainda mais um nível em relação a um patamar já bastante elevado: .348/.442/.638 e um wRC+ de 192 que é absolutamente IMPOSSÍVEL! E isso porque depois da lesão ele não tem sido o mesmo jogador, em Setembro conseguiu apensa duas rebatidas extra-base no mês inteiro, e mesmo assim terminou com um wRC+ de 192, o melhor da MLB de longe (chegou a ter 201 de wRC+ antes de machucar). Colocando em contexto, os únicos jogadores que chegaram a 200 wRC+ sem a ajuda de esteróides foram Ted Williams e Mickey Mantle, e mesmo o seu 192 coloca Miguel Cabrera na companhia de temporadas como 1967 Carl Yaztremski (seu triple crown) e 1980 George Brett, alguma das melhores e mais famosas temporadas de todos os tempos. Desconsiderando as temporadas de 81 e 94 porque não foram jogadas até o final por motivos de greve, esse número é o 20th maior de uma temporada na história da MLB desde 1950, e isso considerando que sete das que estão na sua frente foram de Bonds ou Mark McGwire em seu auge de esteróides. Chamar a temporada do Cabrera de "histórica" não lhe faz justiça.

Claro, Cabrera não tem como ser melhor do que Mike Trout considerando que é um dos piores defensores e um dos piores corredores da MLB, enquanto Trout é um sólido defensor e um dos melhores corredores. E mesmo assim, a diferença entre o bastão dos dois (pelo menos ao final da temporada) não era tão grande assim porque Trout ainda teve uma temporada história ele mesmo, e considerando o tempo perdido com lesões de Miggy e a diferença entre ambos como corredores, Trout acabou tendo uma temporada ofensiva total ainda melhor do que Cabrera gerando corridas (69.6 contra 63.5). Mas eu acho que dessa vez Cabrera é um vencedor digno do prêmio de MVP porque, ao contrário do ano passado, individualmente Cabrera TEVE uma temporada historicamente boa. Trout ainda é o melhor jogador, Cabrera teve um impacto maior no resultado final da temporada por ter ajudado seu time a ir aos playoffs... mas mais importante, a temporada de Cabrera FOI espetacular o suficiente para bater de frente com a de Trout e se manter de pé. Trout é o melhor jogador da MLB, e não é por pouco, mas Cabrera foi o MVP dessa temporada.

Uma última menção honrosa antes de irmos para as menções honrosas: Josh Donaldson, a única estrela de Oakland Athletics. Donaldson acabou a temporada, na verdade, a frente de Cabrera em WAR (7.7 contra 7.6) e jogou em um time que precisava ainda mais de uma estrela (que não tinha um Mark Scherzer). Donaldson definitivamente seria um vencedor merecido desse prêmio, embora eu o coloque em terceiro porque a) seu WAR acima de Cabrera veio por causa de 10 jogos a mais e da grande diferença em defesa, mesmo que Donaldson nunca tenha tido um histórico como um grande defensor e seu UZR provavelmente foi um pequeno outlier; e b) Donaldson não tem os números históricos de Cabrera para justificar ficar a frente de Trout. Mas ainda assim, foi uma temporada brilhante e espetacular sobre todos os aspectos que merece ser reconhecida.

Menções honrosas, em ordem: Mike Trout; Josh Donaldson; Evan Longoria; Chris Davis.


NL MVP: Andrew McCutchen


Se Mike Trout é o jogador mais completo da MLB, Cutch é o segundo colocado. Não tem nada que McCutchen não consiga fazer em um campo de baseball: ele rebate por contato (.317 de AVG) e por força (.508 de SLG), ele chega em base a um ótimo nível (11.5 das idas ao bastão acabando em walk e um OBP de .404), é um baserunner acima da média (5.1 corridas geradas com as pernas, top20 na MLB) e um sólido defensor (6.9 em UZR). O resultado é que, juntando tudo isso, você tem um jogador espetacular: 155 wRC+ (7th na MLB, 4th na NL) já seriam ótimos pelo seu bastão, mas juntando ainda com defesa e baserunning superiores (algo que poucos jogadores possuem junto de um bom bastão) você chega a 8.2 de WAR (segundo na MLB, primeiro na NL) e 46.9 corridas totais geradas ofensivamente, quarto na MLB e primeiro na NL. Em resumo, você não vai encontrar um jogador all-around melhor na NL do que Andrew McCutchen nesse momento.

A vantagem de McCutchen em relação a Mike Trout é que Cutch também é apoiado pela narrativa. Cutchen é o melhor jogador de um time que vai aos playoffs assim como Cabrera, mas não só isso como ele também é o melhor jogador de um time que vai aos playoffs pela primeira vez em 21 fucking anos!!! As pessoas adoram narrativas quando olham para esses jogadores, e o Pirates sem dúvida foi a história mais legal da MLB em 2013. Então não apenas Cutchen foi o melhor jogador da NL em 2013, como jogou em um time que foi aos playoffs E fez parte da melhor história da temporada? Existe alguma chance dele NÃO ganhar esse MVP?

Quando olhamos para sua competição, fica ainda mais fácil lhe dar esse prêmio. Seu perseguidor mais próximo é Carlos Gomes, que explodiu nessa temporada com uma excelente performance ofensiva (24 HRs, 130 de wRC+) para juntar a sua já conhecida capacidade na defesa (24.4 em UZR, terceiro da NL atrás de Gerardo Parra e Andrelton Simmons - créditos do GIF a Michael Baumann da Grantland) e roubando bases (40, sétimo na MLB), de forma que seu valor correndo e na defesa superam até mesmo de McCutchen rumo a um WAR de 7.6. Mas Gomes não tem chance considerando que jogou em um dos piores times da NL. Goldschmidt e Joey Votto tiveram temporadas ofensivas ligeiramente superiores a Cutchen no bastão, mas não conseguem igualar o impacto do OF do Pirates com suas pernas ou na defesa. E embora Matt Carpenter tenha tido uma excelente temporada all-around, ele não foi melhor do que Cutch em um quesito sequer e jogou em um time mais lotado de grandes talentos, não tendo a importância individual de um jogador como Cutch para seu time. Então esse aqui é o mais fácil da coluna.

Menções honrosas, em ordem: Matt Carpenter; Carlos Gomes; Clayton Kershaw; Joey Votto; Paul Goldschmidt.

AL Rookie of the Year: Wil Myers


A corrida para ROY da AL esse ano foi surpreendentemente fraca. Meu candidato durante parte da temporada foi o brasileiro Yan Gomes, que tinha feito menos do que as 130 idas ao bastão para deixar ser considerado rookie pelo Blue Jays e foi listado pelo Fangraphs como calouro o ano inteiro. Mas acontece que, como o Thiago Kayano me lembrou ontem, ele também deixa de ser calouro se tiver passado 45 dias no plantel principal da MLB, e isso de fato aconteceu em 2012. Sem o meu favorito, tive que me voltar para os demais candidatos, e Myers foi o que mais se destacou.

Wil Myers, considerado pela Baseball America o melhor prospect da MLB em 2012, virou notícia quando seu time (Kansas City Royals) decidiu trocá-lo para o Tampa Bay Rays por James Shields, em busca de um arremessador para âncorar sua nova rotação, desastrosa um ano antes. Eu achei que era uma troca ruim na época e ainda acho agora: Myers era considerado um dos melhores prospects da MLB dos últimos anos, um jovem que ainda iria ficar muitos e muitos anos sob o controle da equipe... e o pior, que entraria na posição mais carente (RF) do time em 2012! Em troca, o time ganhou um muito bom mas não espetacular arremessador de 31 anos que estaria sob controle do time por apenas duas temporadas, o que me pareceu um preço alto demais a pagar por um OF que tinha tudo para dominar a AL por mais 10 anos. 

Deixando de lado por um instante os efeitos da troca para o Kansas City Chiefs (que funcionou bem por enquanto, com Shields ancorando uma boa rotação e tendo sua primeira temporada com record positivo em muitos anos), o fato é que Myers tem jogado muito bem desde que subiu, embora por apenas 88 jogos, tendo sido chamado quase na metade da temporada. O que acontece é o seguinte: quando um prospect normal (ou seja, que foi escolhido no draft e assinou um contrato como calouro recém-draftado) sobe para a MLB, seu contrato dura cerca de sete anos a um valor muito pequeno anualmente, um contrato de calouro. No entanto, depois de algum tempo de serviço na MLB, esse jogador pode pedir "arbitration", ou seja, ele pede uma revisão do seu contrato e um mediator independente vai olhar para seus números e determinar qual seria seu novo salário pelo resto da duração do contrato vigente. Claro que um time pode (e muitas vezes de fato o faz) assinar o jogador para um novo contrato antes de chegar até a arbitration, e certamente é o plano do Rays, mas a questão é que o Rays é um time pobre e que quer aproveitar ao máximo esses anos de mão de obra barata antes de chegar na arbitration. Por isso o Rays tinha uma escolha: como Myers era um prospect considerado "Super Two" e com sete anos de contrato pela frente, se ele jogasse mais do que um determinado tempo na MLB esse ano ele teria três anos do seu salário normal e mais quatro após a arbitration, enquanto se ele jogasse menos do que esse certo tempo, ele só entraria em arbitration após quatro anos de salário normal. Por isso o Rays optou por deixá-lo mais tempo nas ligas menores e aproveitar apenas metade da temporada com  Myers, já que isso lhes dava um ano a mais de controle sobre o jogador antes de seu salário subir.

Desde que subiu, Myers tem feito juz ao hype: defesa um pouco abaixo da média (já que a mudança do infield pra RF ainda é recente e está se adaptando a nova posição), mas um ótimo desempenho no bastão, rebatendo .293/.353/.478 e um wRC+ de 131 com 13 HRs em 88 jogos, liderando todos os calouros da AL em OBP, SLG e OPS ( e wRC+). Ele ainda comete muitos strikeouts (24.8%) e seu BABIP certamente vai cair em relação aos .364 dessa temporada, mas foi um começo promissor para um talento promissor que ainda deve se desenvolver com o tempo. Não foi uma grande temporada, foi apenas uma boa e em pouco tempo, mas que lhe gerou um WAR de 2.4. Essa é a melhor marca em um grupo de calouros bastante decepcionante da AL, onde apenas David Lough passou dos 2.0 (os mesmos 2.4 de Myers) mas com mais jogos (96). Não foi uma temporada individualmente brilhante e que talvez não lhe rendesse o ROY em outro ano ou mesmo se ele jogasse na NL, mas esse ano não tem opção melhor.

Mençoes honrosas, em ordem: Jose Iglesias, David Lough, Dan Strailey.

NL Rookie of the Year: Jose Fernandez


Primeiro eu queria tirar logo isso das minhas costas: não tem a menor chance de Yasiel Puig continuar rebatendo .319/.391/.534 (160 wRC+) por muito tempo. Esse número absurdamente alto vem nas costas de um BABIP também absurdamente alto de .383, uma figura que é praticamente impossível de se sustentar. Seu HR/FB Ratio também está na casa dos 21.8% e vai decair muito possivelmente, já que é um nível quase Miguel Cabrera de produção. Desconsiderando por um momento esse provável declínio no seu HR/FB Ratio (ou seja, supondo que mantenha), me parece uma boa hora para usar um modelo que eu desenvolvi a algum tempo. Ele utiliza o perfil de rebatidas de cada jogador (ou seja, pega quantas bolas rebatidas por ele são line drive, fly balls, ground balls ou infield fly balls) e cruza com a com a probabilidade de cada uma dessas rebatidas resultar em uma rebatida válida para projetar um xBABIP, ou Expected BABIP (BABIP esperado), de acordo com a forma calculada pelo ótimo Frangraphs. A partir desse xBABIP meu modelo ajusta a slash line para refletir um cenário mais preciso e menos dependente do acaso, usando o xBABIP para criar um cenário mais "preciso" da habilidade real do jogador e separar o que é sua performance real e do que está sendo influenciado por fatores além do seu controle. Eis o resultado desse modelo para Puig:


Meu modelo ajusta slugging por três fórmulas diferentes, por isso SLG aparece três vezes no modelo. Não vou entrar nos detalhes sobre cada um, mas o meu favorito é o SLGc - sintam-se a vontade para usar o que preferirem. Então a slash line ficaria:

2013 Puig: .319/.391/534
xBABIP Puig: .290/.365/.498

Ainda são bons números, mas nem de longe tão sobre-humanos como os atuais - seu wRC+ estaria na casa dos 130, 132. Isso faz de Puig ainda um bom jogador, especialmente considerando que ele chegou na MLB jovem e cru e ainda tem muito espaço para evoluir (um defensor abaixo da média e corredor muito abaixo dela, duas coisas que provavelmente vão melhorar com tempo e experiência já que as ferramentas estão lá para tal). Isso é só uma maneira de dizer que, mesmo que Puig seja realmente um jogador muito bom e divertido (e ele é), os números dele em 2013 não refletem adequadamente o jogador que ele é pois tiveram influência de fatores que não devem se repetir em uma amostra maior.

Mas não foi por isso que Puig não ganha meu voto para ROY. Influenciado pelo acaso ou não, Puig ainda teve uma temporada espetacular e totalmente vindo do nada, que colocou a MLB em fogo e logo elevou o cubano ao status de "não se atreva a mudar o canal quando ele está no bastão ou em base!". Quando consideramos esse tipo de prêmio, é muito mais importante olhar para o que o jogador fez no passado, não o que vai acontecer no futuro. Em qualquer ano normal, Puig seria não só meu candidato ao ROY, como um candidato sem a menor sombra de dúvida a ganhar o prêmio. A temporada dele foi boa demais, e merece ser reconhecida.

O problema de Puig é que ele deu azar de concorrer a esse prêmio logo na mesma temporada que um calouro chamado Jose Fernandez começou a arremessar pelo Miami Marlins. O calouro de (alegados) 20 anos que surgiu do nada depois de chegar a Miami em uma balsa clandestina - e tendo que voltar e arriscar sua vida nadando para salvar sua mãe que se afogava - logo se estabeleceu como um dos melhores arremessadores - não calouros, arremessadores - da MLB. Ao final da temporada, mesmo com um limite de entradas e não arremessando tanto quanto poderia, Fernandez termina a temporada com o sexto melhor FIP e o segundo melhor ERA de toda a liga. Ele termina a temporada 2013 com o arremesso mais devastador lançado por qualquer arremessador essa temporada (per PITCH f/x), um arremesso bastante particular que parece uma mistura de slider com slurve e que foi simplesmente impossível de se rebater na temporada inteira. Meu tidbit favorito de Jose Fernandez: nos jogos em casa da temporada 2013, Jose Fernandez teve mais strikeouts (108) do que bases totais cedidas MAIS WALKS (105). Nao rebatidas cedidas... bases totais mais walks!! Isso é impossível.

Se você nao acredita, tente isso. Desde 1940, a data que meu computador para de travar para compilar os dados, sabe qual o arremessador que teve o MENOR ERA- da MLB (uma estatística que ajusta o ERA por época, estádio, liga e afins) como calouro? Não foi Hideo Nomo, não foi Dwight Gooden, não foi Fernando Valenzuela. Foi Jose Fernandez. Se você preferir usar -FIP como estatística, ótimo: Gooden assume o topo e Fernandez aparece em quinto na lista, virtualmente empatado com o segundo colocado (mas a uma distância grande de Gooden). E isso considerando apenas calouros, o que é um pouco injusto com Fernandez já que isso aconteceu não apenas como um calouro, mas como um de apenas 20 anos. Considerando apenas arremessadores com 20 anos ou menos (calouros ou não), a única temporada que chega perto de 2013 Jose Fernandez foi a de 1985 por Dwight Gooden... e considerando que essa foi possivelmente a melhor temporada da história de um arremessador não chamado Pedro Martinez, eu diria que Fernandez está em excelente companhia. Ajustando por -FIP ao invés de -ERA, Fernandez cai para terceiro... atrás das temporadas 84 e 85 de Gooden apenas e mais nada. E Gooden nunca gerou um gif tão bom como esse aqui. Acho que deu para ter uma noção do absurdo que foi esse ano do garoto, especialmente quando a única comparação histórica possível é um dos arremessadores mais lendários da MLB.

Colocando de forma mais simples e direta: Puig teve uma temporada espetacular, mas Jose Fernandez teve uma das melhores (talvez a melhor) temporada de um calouro E de um arremessador da sua idade na história da MLB. Não vamos ver outra temporada como essa tão cedo. Tenho certeza disso.

Menções honrosas, em ordem: Yasiel Puig, Shelby Miller, Hyun-Jin Ryu.

AL Cy Young: Felix Hernandez


Max Scherzer provavelmente vai ganhar tranquilamente esse prêmio porque as pessoas, por algum motivo obscuro, ainda valorizam demais a segunda estatística mais estúpida do baseball, "wins". Ela é uma estatística extremamente estúpida por uma diversidade de motivos, mas principalmente porque ela é uma das que mais dependem do contexto do time e menos dizem sobre um jogador individual. Então vamos ver como isso funciona olhando para estatísticas de verdade e que dizem mais sobre o jogador.

Em uma situação normal, Anibal Sanchez seria a escolha fácil desse prêmio. Sanchez lidera a AL em ERA, em FIP e é terceiro em strikeouts por entrada. Quando arremessou, Sanchez foi o arremessador mais dominante da liga e isso deveria ser suficiente para vencer o Cy Young. Eu digo em situações normais porque Sanchez foi para o departamento médico cedo na temporada e passou lá parte do ano, não o suficiente para tirá-lo da disputa mas o suficiente para reduzir seu impacto na temporada. Nas 170 entradas que arremessou, Sanchez foi o melhor da AL, mas eu prefiro um jogador que tenha sido 90% tão dominante quanto mas tenha arremessado 30 entradas a mais, e portanto teve maior impacto no seu time. Sanchez merece ser lembrado, mas é difícil dar o prêmio para alguém que perdeu tanto tempo.

Olhando então em outra direção, e olhando por FIP e não por ERA, só tem quatro candidatos lógicos a esse prêmio: Scherzer, Chris Sale, Yu Darvish, e Felix Hernandez.

Entre eles, meu voto vai para Felix por três motivos. Primeiro, porque ele foi o arremessador individualmente mais dominante dos quatro: seu FIP (2.61) e -FIP (66) são os melhores da AL depois de Sanchez, e seu -xFIP é de longe o melhor da conferência (67), arremessando 30 entradas a mais que Sanchez. Segundo, porque existe no baseball uma estatística chamada SIERA que eu gosto bastante, que é basicamente uma tentativa de criar um FIP menos extremo (FIP considera apenas Ks, walks e HRs cedidos e mais nada) associando algumas jogadas a diferentes efeitos dentro de campo (por exemplo, pitchers com muitos Ks tendem a gerar contato mais fraco e SLG menor, ou groundball pitchers que geral mais queimadas duplas) - eu considero menos confiável do que FIP porque é uma estatística ainda em evolução, mas gosto dela para uma segunda opinião... e depois de Darvish, o SIERA de Felix é o menor da AL. E terceiro porque, junto de Sale, Felix enfrentou o calendário mais difícil desse grupo: Felix joga em uma divisão que lhe fez enfrentar diversas vezes Angels, Athletics e Rangers, três bons ataques, e Chris Sale teve que enfrentar dois dos três melhores da MLB em uma base regular com Tigers e Cleveland na divisão. Enquanto isso, Scherzer substituiu todos os jogos de Sale contra o forte Tigers por jogos contra os horríveis White Sox e Darvish não precisou, naturalmente, enfrentar o ataque do Ragers na divisão. Os adversários enfrentados por Felix somam um OPS de .751, enquanto os de Sanchez e Scherzer somam .730. 

Por isso meu voto vai para Felix. Mas em uma corrida tão apertada e cheia de jogadores dignos e interessantes, qualquer um deles pode fazer um bom caso para o prêmio. 

Menções honrosas, em ordem: Yu Darvish, Max Scherzer, Chris Sale, Anibal Sanchez, Bartolo Colon, Hisashi Iwakuma

NL Cy Young: Clayton Kershaw


Para mim Clayton Kershaw é o melhor arremessador da MLB na atualidade e um jogador historicamente bom. Quando o Vinicius, do Spinballnet, me pediu para fazer meu Top10 de arremessadores da história da MLB, eu terminei com uma nota que dizia "Tem uma boa chance de adicionarmos Clayton Kershaw a essa lista em alguns anos" (eu fiz um adendo na dos Top10 rebatedores também que dizia "tem uma chance de 95% de adicionarmos Mike Trout a ela algum dia"). Eu ADORO Kershaw, ele é a perfeita mistura de eficiência e dominação que eu tanto gostava no auge de Roy "Doc" Halladay, e as comparações com os lendários Sandy Koufax e Greg Maddux parecem menos absurdas a cada dia. 

Dito isso, Kershaw não foi o arremessador mais dominante dessa temporada. Foi Matt Harvey. Harvey terminou o ano com um FIP de exatamente 2.0, se juntando a uma seleta lista de arremessadores que conseguiram terminar uma temporada com 2.0 de FIP ou menos: Pedro Martinez, Sandy Koufax (2x), Doc Gooden, Bob Gibson, Tom Seaver e Tom Newhouser (com Steve Carlton abaixo com 2.01). Brilhante companhia para Harvey, hein? Colocando em termos de -FIP, a temporada de Harvey é a 16th melhor de todos os tempos e virtualmente empatado com até o 11th lugar. Entre os jogadores na frente de Harvey estão Pedro, Randy Johnson, Roger Clemens, Gooden, Curt Schilling e Zach Greinke: dois locks para o Hall da Fama (Pedro e Randy), um que deveria estar não fossem os problemas com PEDs (Clemens), um que algum dia estará lá (Schilling) e um que pode não entrar pela curta duração da carreira mas teve o maior auge de um pitcher fora Pedro Martinez (Gooden). Eu sei que o ERA de Kershaw foi menor (1.83 a 2.27), mas isso se deveu principalmente a uma diferença em BABIP de 3.5% (algo além do controle de ambos) e de um 80% de LOB para Kershaw que nao só é de longe a maior marca da sua carreira como é totalmente insustentável. Os fatores aleatórios favorecem Kershaw na disputa de ERA, mas em termos de pura dominância, ninguém foi mais do que Harvey essa temporada. Eu só não me sinto bem votando em Harvey pelo menos motivo de Sanchez: Harvey machucou e perdeu uma boa parte da temporada e arremessou 60 entradas a menos que Kershaw, então meu voto vai para o fenômeno do Dodgers.

O que não quer dizer, de jeito nenhum, que Kershaw não seja um vencedor digno ou que tenha recebido um prêmio apenas porque alguém melhor não estava na briga. O fato é que a temporada de Kershaw foi também um ano espetacular, que viu o fenômeno arremessar quase 240 IP, liderar a liga com um ERA de 1.83 (com ajuda de fatores aleatórios, mas que seja), terminar com o melhor WAR entre arremessadores com 6.5 e ficar atrás apenas de Harvey em FIP, tudo isso com um repertório de arremessos que inclui a mais valiosa fastball E a mais dominante curveball de toda a MLB. Matt Harvey pode ter sido o arremessador mais dominante de 2013 e ganharia meu voto se jogasse a temporada completa, mas Clayton Kershaw é o melhor arremessador na Terra.

(Gif cortesia do Estefano Souza e SB Nation)

Menções honrosas, em ordem: Adam Wainwright, Matt Harvey, Jose Fernandez, Cliff Lee

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Pontos importantes da semana 4 da NFL

"Pre-para... Que é hora... "



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Mais uma semana na NFL chega ao fim, e mais uma vez uma semana interessante que gerou assunto para nosso recap semanal dos pontos importantes. Para os perdidos de plantão a idéia aqui é a seguinte: isso aqui NÃO é um recap da rodada, e o nosso intuito não é passar por todos os jogos ou falar de todos os jogadores, bons ou não. Outras pessoas podem fazer isso, mais rápido e melhor do que eu, e eu também não acho que isso se enquadre na proposta do blog. A proposta aqui é para dar uma olhada nos fatores, dentro de cada jogo, que são relevantes ao maior cenário da NFL. Vamos olhar a performances que foram importantes mas receberam pouco crédito, fatores pouco observados que estão influenciando alguns pontos importantes, e por ai vai. Então de novo, o objetivo não é passar por todos os jogos e falar alguma coisa relevante: muitas vezes teremos dois ou mais pontos sobre um mesmo jogo, e jogos sem comentário nenhum. 

Hoje vou aproveitar e cumprir minha promessa de falar mais sobre um time que deveria ter falado semana passada e não tive tempo, o Tennessee Titans, que ainda virou notícia graças a lesão do Jake Locker. Mas antes vamos começar por um time um pouco mais interessante...

Em busca da perfeição


Essa é uma pergunta honesta: quando vamos começar a falar sobre a possibilidade do Denver Broncos terminar a temporada com um perfeito 16-0?

Antes que pareça que eu estou colocando a carroça na frente dos bois e contrariando tudo que eu sempre prego por aqui sobre não overreact a amostras pequenas, deixe eu esclarecer: todo ano, eventualmente, as pessoas fazem  um farol sobre os times que permanecem invictos porque, no fundo, todos nós queremos ver um time terminando um ano sem perder um jogo sequer. Esse interesse se intensificou ainda mais depois de 2007, quando o Patriots conseguiu uma temporada perfeita e chegou no limite de fazer história antes de perder o Super Bowl para o Giants de forma dramática (eu assisti o jogo na casa de um amigo patriota. Digamos que eu aprendi muitos xingamentos novos naquele dia). Ver um time chegando t ão perto dessa marca pela primeira vez em 35 anos (o Dolphins de 1972 terminou a temporada invicto, mas em apenas 17 jogos não tão dominantes) reacendeu o interesse em ver alguém repetindo esse feito, e desde então, todo ano temos procurado alguma equipe que pudesse nos levar a terra prometida. E esse ano, o claro candidato a atingir essa marca não pode ser outro que não o Denver Broncos. Por isso estou estranhando que não tenhamos lido mais sobre o assunto.

Isso obviamente não quer dizer que o Denver vá, ou mesmo que tenha grandes chances, de atingir a marca de 16-0. Mesmo para um time tão dominante como Denver tem sido, terminar uma temporada sem uma derrota sequer envolve muito mais do que competência, também passa por sorte em fatores que já dissemos muitas vezes estar além do controle das equipes: os poderosos Patriots de 2007 terminaram o ano abaixo de 14-2 em Pythagorean Expectations e 4-0 em jogos decididos por uma posse de bola, inclusive um jogo contra o Ravens no qual o hail mary da equipe de Baltimore para ganhar o jogo parou na linha de uma jarda antes do TD. Mesmo o Colts de 2009, que começou o ano 14-0 antes de colocar Peyton Manning no banco e perder seus dois últimos jogos com Curtis Painter de titular, teve um Pythagorean Expectations abaixo de 11-5 e começou o ano 7-0 em jogos decididos por uma posse de bola. Então mesmo que eu possa provar empiricamente que o Broncos é um dos melhores times da história da NFL (não se preocupem, não irei por esse caminho) isso não garante que o Broncos já ficar invicto ou mesmo que vá brigar por isso até as últimas rodadas.

Ainda assim, se você quer sonhar com a marca, você precisa de um time dominante e, acima de tudo, de um grande QB. Não é uma coincidência que nos 40 anos antes das mudanças de regras favorecendo o jogo aéreo em meados de 2004 apenas um time conseguiu terminar a temporada invicto, e que desde então tivemos dois em três anos - e que ambos foram liderados por dois dos maiores QBs da história da NFL. O jogo hoje é mais direcionado para o passe do que nunca e um QB tem um impacto em campo maior do que nunca teve, e portanto ter um Peyton Manning ou um Tom Brady hoje em dia te da uma vantagem muito maior do que ter um John Elway ou Joe Montana nos anos 80. E não só o Broncos tem Manning, como tem o Peyton Manning mais dominante de sua carreira: em apenas quatro jogos, claro, mas o camisa 18 está acertando 75% de seus passes e caminha para terminar o ano com 5880 jardas e 64 TDs, ambos recordes absolutos da NFL. Além disso, também não teve nenhuma interceptação e lidera a liga com 11.8 jardas por passe. Se quer um retrato do que "dominante" significa, não precisa olhar mais longe.

Claro que esses números vem de uma amostra pequena e dificilmente se manterão por 16 jogos, mas servem para retratar em parte quão dominante o ataque do Broncos tem sido em 2013. O grande Bill Barnwell fez uma pesquisa sobre os ataques mais dominantes da história da NFL na era Super Bowl, e os resultados são bastante favoráveis: não só os 179 pontos anotados da equipe é a melhor marca desde a fusão entre NFL e AFL por uma grande margem (17 pontos para o segundo colocado), como mesmo ajustando de acordo com a pontuação média de cada ano (por causa das grandes diferenças de jogo e regras ao longo dos anos) o Broncos ainda é o líder em pontos anotados por uma grande margem (vocês podem ler o post completo aqui). Considerando o saldo de pontos e não apenas pontos anotados (desde 1970), o Broncos cai um pouco, mas ainda é excepcional: sexto melhor, e isso considerando que sua defesa que tomou mais de 20 pontos todos os jogos está sem seu melhor jogador em Von Miller.

Claro que isso não significa ou justifica um record 16-0, mas é uma forma de mostrar o quanto dominante está sendo esse time do Broncos nesse começo de temporada, e como eles parecem ser até o momento o time a ser batido na NFL. Até agora nenhum time conseguiu sequer desacelerar esse ataque do Broncos, e realmente fica difícil de ver como: é um dos ataques mais completos que eu já vi, com uma opção fisicamente dominante pelo fundo do campo em Demaryus Thomas, o melhor slot receiver da NFL em Wes Welker, e o extremamente versátil Eric Decker... e como se não fosse suficiente, agora o time achou um TE super atlético em Julius Thomas. Isso são QUATRO alvos que dificilmente podem ser marcados no mano a mano e, como se não fosse o bastante, lançando para eles está um jogador que é historicamente bom lendo e destrinchando defesas e soltando passes precisos e velozes quando o blitz chega. Como você marca esse tipo de ataque? A perda de Ryan Clady provavelmente vai convidar mais blitzes, e um bom time pode explorar a falta de um jogo terrestre da equipe, mas são tantas opções e tantos padrões diferentes para uma equipe se preparar que realmente é difícil ver esse time sendo parado no volume de ataque. Um ataque de elite também poderia tentar vencer controlando a bola e sendo eficiente, mas a defesa de Denver tem sido boa (não ótima, mas boa) mesmo sem Miller e tem sido muito boa contra o jogo terrestre em particular, o que torna ainda mais difícil para um adversário controlar o relógio. Até agora esse me parece de longe o time mais perigoso da NFL.

O único "problema" com esse inicio de temporada do Broncos tão dominante é que o time enfrentou um calendário extremamente favorável. Seus adversários nesses quatro primeiros jogos somam um record de 4-12, sendo eles o desastre que é o Giants, duas das piores defesas do mundo em Eagles e Raiders, e apenas o 2-2 Ravens como um adversário decente (e em Denver). Eles ainda não enfrentaram uma boa defesa em 2013 (Ravens é mediana, pelo menos até aqui) ou um time capaz de disputar no ataque. Naturalmente que isso não quer dizer que o Broncos só venceu porque seus adversários eram ruins, mas ainda não sabemos como se comportará esse time contra um adversário mais forte. Ainda assim, o calendário do time é favorável: os jogos mais difíceis da equipe (no papel) daqui para frente serão Cowboys fora de casa, Colts fora, Chargers fora, Chiefs fora, Patriots fora e Texans fora... e mesmo assim, Cowboys, Colts e Chargers são times medianos e o Texans até agora não tem se mostrado um time muito confiável. Tirando Patriots, Chiefs e TALVEZ Texans, o Broncos vai ser o claro favorito em todos os jogos até o final do ano, com esses três representando a principal ameaça ao sonho do ano perfeito. Imagina se o Broncos chegar na semana 12 com 10-0 para enfrentar o Patriots, fora de casa, com Tom Brady vs Manning E com o time de New England tendo a chance de evitar que seu maior rival (Manning, não o Broncos, que fique claro) repita seu feito de 16 vitórias? Estou tendo calafrios só de pensar nisso.

Então embora esteja muito longe do improvável 16-0, é uma história a se acompanhar durante a temporada. Se não quiser pelo 16-0, faça pelo prazer de acompanhar um dos ataques mais dominantes (em uma amostra pequena, mas whatever) da história da NFL.

Curiosidade histórica do dia: muita gente estava surtando ontem ao ver o Broncos ganhar de 52 a 20 de um time ruim em Setembro. O 49ers de Montana e Jerry Rice ganhou uma vez de 55 a 10... em pleno Super Bowl (ironicamente contra o Broncos de John Elway).


Jake Locker e o segredo do Titans


Essa semana, Jake Locker estava tendo o melhor jogo da sua jovem carreira contra o New York Jets: 18-24, 149 jardas e 3 TDs, fazendo todas as jogadas corretas e dominando a partida. Foi quando, durante uma jogada de pressão, Locker foi atingido duas vezes pelos defensores de verde e caiu de forma esquisita sobre seu quadril, imediatamente gerando grandes preocupações até sair imobilizado em uma maca. Os primeiros exames indicam que a lesão não foi tão séria como se temia e que Locker não deve perder a temporada inteira, mas ainda deve ficar de fora por pelo menos seis semanas (possivelmente mais), e isso levanta a questão do quanto isso vai afetar negativamente a surpreendente campanha de um surpreendentemente decente time do Titans. Para responder a essa pergunta, primeiro temos que perguntar outra coisa: o sucesso do Titans essa temporada está vindo de onde?

Nessa offseason, o Titans investiu pesadamente no seu ataque, trazendo um segundo RB, dois excelentes guards para ajudar o jogo terrestre, e mais dois bons alvos para seu QB-em-desenvolvimento Jake Locker. A expectativa era que o ataque desse um passo a frente e liderasse esse time, agora e no futuro. Então quando o Titans começou bem a temporada, muita gente atribuiu isso a esses gastos ofensivos da equipe que teriam dado ao time uma nova identidade.

Bom, olhando principalmente para os três primeiros jogos (já explicarei porque) que Locker teve inteiros, esse não foi o caso. Em primeiro lugar, o jogo terrestre que deveria explodir em 2013 não só não explodiu como ainda regrediu: depois de conseguir sólidas 4.5 jardas por corrida em 2012, o time viu seus números despencarem para 3.5 Y/C em 2013, um número horrível que é a sétima pior marca da NFL. Isso pode ser um efeito do calendário, que viu a equipe enfrentar algumas boas defesas terrestres (especialmente Jets), mas sozinho não serve para explicar porque esse ataque que no papel melhorou tanto seu jogo terrestre perdeu uma jarda inteira por corrida nesse começo de ano. Então não foi isso que motivou esse bom começo.

Os olhares então se voltam para Jake Locker, cuja narrativa no começo do ano era de que ele finalmente estava dando o "salto" nesse começo de ano. Eu odeio narrativas porque elas sempre envolvem distorcer os fatos para se encaixar na história pré-determinada, como "Joe Flacco se descobriu nos playoffs e agora é um QB de elite!" ou "Tony Romo não consegue ganhar jogos no final!", duas histórias que ganham força porque todo mundo atribuiu as vitórias do Ravens nos playoffs somente a excelente performance de Flacco (desconsiderando todo o resto que aconteceu para chegar no título) e as derrotas do Cowboys somente ao Romo passando por cima de todo o resto. E para variar, as notícias desse "salto" do Locker eram mais um caso de fatos distorcidos para entrar na narrativa pré-determinada. Olhem só esse dado do Barnwell:

2012 Jake Locker: 56.4%, 6.9 jardas por passe, 197.8 jardas por jogo, 0.9 TD por jogo, 26.5 jardas terrestres por jogo, 7.4% sack rate, 48.07 QBR
2013 Locker (três primeiros jogos): 58.3%, 6.9 Y/A, 190.6 YPG, 1 TD por jogo, 27.0 jardas terrestres, 7.4% sack rate, 52.3 QBR

Hmm... praticamente o mesmo jogador, certo? A grande diferença entre os dois são as interceptações, já que Locker não lançou nenhuma nesses três jogos, mas considerando que ele teve duas dropadas pela defesa (inclusive uma que iria perder o jogo contra o Chargers) não é muito exato atribuir isso a uma grande melhora do QB. Não que Locker não tenha melhorado, claro: ele se tornou um pouco mais eficiente com seus passes, mais cuidadoso com a bola e tem tido um aproveitamento um pouquinho melhor convertendo terceiras descidas, o tipo de evolução esperada de um cara jovem e cujo grupo ao seu redor evoluiu tanto em peças. Mas no fundo, o camisa 10 de Tennessee era o mesmo jogador que sempre foi produzindo como sempre produziu, mas dessa vez com todo mundo correndo para criar uma narrativa por trás porque seu time seguia ganhando. Então apesar dos investimentos no ataque, não foi ele que esteve por trás desse bom começo do time - o ataque não está sendo horrível, mas está sendo basicamente o mesmo grupo mediano que foi um ano antes.

Claro, no último jogo não foi bem assim, com Locker tendo seu melhor jogo como profissional contra uma boa defesa do Jets e passando para três TDs e 75% de aproveitamento (apesar das baixas 6.1 Y/A). Os números estão um pouco inflados - em especial o de TDs - por conta dos turnovers do ataque do Jets e Geno Smith que deram ao Titans grande posições de campo: os três TDs de Locker vieram em passes de 1, 4 e 16 jardas em campanhas de 18, 26 e 46 jardas, todas após turnovers do ataque. Então ainda que os números sejam um pouco enganosos e influenciado por fatores externos, eu assisti o jogo e posso falar que Locker jogou muito bem: calma no pocket, preciso nos passes curtos e sempre sabendo a quem achar nas horas certas. Depois do jogo, as pessoas se dividiram em definir se o jogo tinha sido o breakout do Locker como QB ou se tinha sido um outlier contra uma defesa que jogou muito mal. Como sempre, a verdade provavelmente está em algum lugar no meio: foi o melhor jogo que eu vi de Locker em termos de fundamentos e eficiência e que pode indicar uma evolução, mas é prematuro achar que isso representa um novo momento na carreira do garoto porque a defesa do Jets FOI muito mal na partida, de forma que seu reserva, Ryan Fitzpatrick, entrou e lançou para mais 100 jardas e um TD. Então ainda que esse jogo tenha mostrado uma evolução do Locker, levem com um grão de sal sobre o que isso significa para o futuro, tanto por conta da lesão que interrompe a sua sequência como pelo que ele mostrou nos três primeiros jogos.

E como já vimos antes, nos três primeiros jogos Locker foi basicamente o mesmo jogador de antes, e o ataque como um todo foi medíocre (não horrível, mas medíocre) como no ano passado. Então considerando que o segredo desse bom começo não foi o ataque, precisamos procurar em outros lugares as causas, e isso é ao mesmo tempo bom e ruim quando consideramos a lesão de Locker: bom porque, afinal de contas, não era o garoto que estava sendo a pedra fundamental desse começo de temporada e portanto seu substituto tem mais chances de sucesso, mas ruim porque além dos motivos óbvios (lesão grave em um QB jovem e talentoso que precisa de entrosamento com seu novo ataque em um bom momento no ano), alguns deles podem se voltar contra o time no futuro... mas chegaremos lá.

Primeiro, vamos olhar para a defesa. Depois de ser a terceira pior de 2012 e o time que mais cedeu pontos na temporada passada, a diretoria decidiu não investir muito nela nessa offseason, com Bernard Pollard sendo a principal aquisição. Com isso, muitos (eu incluso) esperavam mais uma temporada ruim defensivamente do time de Nashville, enquanto o ataque evoluiria com as contratações. No final, o ataque estagnou e continua praticamente igual, enquanto a defesa deu um salto enorme de produtividade. Nesse começo de ano, a defesa não tem sido elite, mas tem sido bastante sólida, o que já é um enorme avanço em relação ao "mais pontos cedidos" do ano passado. Mesmo considerando que enfrentou uma série de ataques ruins nesse começo de ano (Chargers sendo a exceção), os números são bastante sólidos: 11th em jardas cedidas, 7th em pontos, e oitavo em turnovers com nove. Os números ajustados não serão tão bons assim por conta dos adversários enfrentados, mas da para esperar algo como 12th melhor da NFL nesses quatro primeiros jogos... o que já está bom. A chave para isso veio de um surpreenendente desenvolvimento da jovem linha de frente da equipe: jogadores como Jurrell Casey (3 sacks), Zach Brown (3 sacks) e Ropati Pitoitua (2 sacks) evoluíram muito do ano passado para cá quando pouca gente esperava (Casey foi escolha de meio de terceira rodada, Pitoitua nem draftado foi)  e, junto de Derrick Morgan (1st round) e Brown (2nd round), acabaram montando uma linha de frente que tem sido espetacular atacando o QB adversário e gerando pressão, quinto em sacks na NFL. Essa dominação defensiva provavelmente vai sofrer uma redução quando enfrentar adversários com ataques e linhas ofensivas melhores, mas a evolução dos garotos é real e não vai a lugar nenhum. A defesa tem seus problemas contra a corrida e a secundária ainda pode ser explorada, mas essa linha de frente, em especial o pass rush, é para valer.

Mas agora chegamos ao grande segredo do sucesso do Titans: turnovers. Depois de quatro semanas, o Titans lidera a liga em saldo de turnovers com +9, sendo que seu ataque ainda não cometeu NENHUM em toda a temporada. Mais do que a esperada-que-não-aconteceu-ainda evolução do ataque e da considerável evolução da defesa, esse é o principal fator por trás desse começo 3-1 do Titans. E de certa forma, isso é um problema, porque é um fator altamente sujeito a regressão: para começar, o Titans lidera a NFL recuperando 89% (!!!) dos fumbles que acontecerem em seus jogos, uma marca absurdamente alta que impulsionou esse saldo de +9... e que vai regredir. Já bati nessa tecla 400 vezes aqui, mas recuperar fumbles não é uma habilidade, é pura sorte, e por isso gravita para 50% em uma amostra consideravelmente grande. 89%, eu não preciso dizer, é totalmente insustentável e vai regredir ao longo do ano. O ataque também não vai passar para zero interceptações o ano todo: ainda que Int% não seja uma estatística que converge para um número determinado, como por exemplo BABIP no baseball, ainda é possível identificar algumas aberrações sujeitas a regressões, e o 0% do Titans até agora é o maior candidato. Locker teve um Int% de quase 3.5% ano passado, e mesmo que uma evolução ou mais sorte reduza esse número, ainda é algo que vai piorar e vai afetar o saldo de turnovers da equipe.

Esse é meu maior problema com Locker sendo substituído por Fitzpatrick: o ex-aluno de Harvard é ainda mais sujeito a turnovers, e grande parte do mérito desse começo de temporada da equipe vem do seu bom trabalho (e imensa sorte) com turnovers. Isso não quer dizer que o Titans seja um time horrível que tem dado muita sorte e por isso está ganhando, o Titans tem uma boa defesa e tem feito um bom trabalho em 2013, mas o maior fator desse bom começo de ano é algo que é impossível de se sustentar e que vai regredir e afetar a equipe. Vale citar que o único time pós-fusão da NFL a começar a temporada com 0 turnovers em quatro jogos foi o Rams de 1995, que terminou com um saldo de -3 ao final do ano. Essa regressão provavelmente iria atingir o time mesmo com Locker de QB por conta dos fatores já discutidos, mas considerando que Fitzpatrick é mais descuidado com a bola, isso pode contribuir ainda mais para essa regressão. Mesmo considerando que Locker seja melhor que Fitz, se o time conseguisse hipoteticamente manter essa sorte milagrosa recuperando fumbles, o time teria pouco a perder da mudança de QB pois não estava se apoiando nisso para vencer jogos. Mas se a sorte começar a mudar, e ela vai, então precisamos ficar de olho em como o time vai lidar com isso. A tabela é fraca o suficiente para o Titans conseguir arrancar uma vaga nos playoffs, mas precisamos ver se conseguem fazê-lo quando seus turnovers normalizarem.

Viajando para Londres


Depois de ter aproveitado um jogo surpreendentemente bom em Wembley entre dois times 0-3, jogo esse que acabou com um fumble do Big Ben na linha de 7 jardas tentando o TD para empatar o jogo, as atenções logo se voltaram para o sucesso que tinha sido mais um jogo em Londres. A casa estava cheia, mais de 500 mil pessoas se juntaram antes do jogo, e para variar foi um grande sucesso de mídia e público. Até o jogo, que parecia um fiasco no papel entre dois dos piores times da NFL, foi extremamente divertido e disputado até a última jogada. Foi basicamente tudo que poderíamos esperar de bom, e estávamos prontos para ir para a próxima... quando alguém comentou que ainda tinha mais um jogo em Londres essa temporada, e eu fiquei surpreso com a quantidade de pessoas pegas de surpresa por isso.

Esse segundo jogo em Londres (primeira vez que isso acontece), bem como os times escolhidos para esses jogos, passam por um plano maior por parte da NFL. Não exatamente um plano concreto, mas uma idéia futura: colocar um time na Inglaterra.

Essa ainda é uma idéia em desenvolvimento, mas que já avançou um bocado desde a primeira vez que foi estudada. A idéia óbvia de colocar o time em Londres seria explorar um novo mercado, no caso o mercado europeu (e não apenas o londrino). A NFL tem se expandido consideravelmente fora dos Estados Unidos, mas ainda é um mercado pequeno ou inexplorado em contraste com, por exemplo, a NBA. O futebol americano como um todo, na verdade, tem crescido mas ainda não tem se concretizado com grandes ligas ao redor do mundo ou mesmo um torneio importante como o Mundial da FIBA. Colocar um time em Londres abriria uma nova fronteira para a NFL, não só pela cidade ser um mercado maior do que por exemplo Jacksonville ou Minneapolis como também como uma porta de entrada para todo o mercado europeu. Quem acompanhou a transmissão completa da NFL Network do jogo de Londres alguma vez na vida provavelmente viu que não são apenas os londrinos que lotam o estádio e ocupam a região externa de Wembley, são torcedores de toda a Inglaterra e toda a Europa que fazem a viagem pela oportunidade de acompanhar ou estar próximo do futebol americano. É nesse mercado que a NFL coloca seu olho quando pensa em mudar um time para Londres.

Foi provavelmente o sucesso dessas empreitadas fora dos EUA que levantaram a idéia de mudar uma franquia para lá. E obviamente, isso levanta algumas questões práticas e de logística. Vamos deixar a logística de mudar um time para Londres e se isso seria viável de lado por hoje, porque é uma outra questão muito mais extensa. Mas as questões práticas são mais simples: sim, 500 mil pessoas se mobilizam em toda a Europa para ir a um jogo de NFL e o estádio lota todo santo jogo é um número espetacular. Mas isso é o que acontece quando Londres recebe apenas um jogo por temporada. Todos os torcedores sabem que é a única chance de ver o futebol americano por lá, uma experiência única que acontece a cada ano. Será que seria assim caso tivessem oito? Será que ia ter tanta gente interessada em gastar tanto dinheiro para ir ver os jogos por lá? Será que o estádio ia encher e ia mobilizar tanta gente para compensar financeiramente?

Por isso que a NFL decidiu mudar um segundo jogo para Londres essa temporada: para ver como seria a reação do público ao segundo jogo. Não é mais o único jogo do ano, não é mais a novidade da temporada. Será que o estádio ainda vai lotar? É uma espécie de laboratório da NFL para ver como o público se comporta com esse segundo jogo. Claro que um jogo a mais é totalmente diferente de sete, mas é uma boa forma de ver se toda essa atenção é derivada da raridade de um jogo por lá ou se é uma base de fãs mais fiel e presencial do que isso. Fiquem de olho no segundo jogo, Jaguars e Niners na semana 8, para ver o efeito que a NFL vai analisar. O primeiro jogo foi o sucesso de sempre, mas o que importa é o próximo.

Os times escolhidos para esses jogos em Londres também não são coincidências. Desde que, alguns anos atrás, começaram conversas para sugerir que a NFL deveria mudar um time de volta a Los Angeles para explorar um dos maiores mercados dos EUA, os nomes que mais aparecem nas conversas são Jacksonville Jaguars e Minnesota Vikings... os dois times que estão mandando jogos em Londres. Esses times, em particular o Jaguars, não são times que oferecem opções muito atraentes para a NFL: ambos jogam em mercados pequenos, tem dificuldades para encher o estádio e não oferecem nenhum tipo de vantagem para a NFL atualmente. Não que a NFL tenha tanta necessidade de mercados grandes como a NBA ou a MLB, por exemplo, mas a questão é que Los Angeles e Londres oferecem algumas vantagens específicas (Los Angeles menos, para ser sincero, embora obviamente não ofereça as dificuldades logísticas da Inglaterra) que a NFL poderia tirar proveito, e para tal, Jags e Viks seriam os times que menos prejudicariam a NFL ou mesmo seus donos, que precisam querer a mudança para ela acontecer. Os times não enchem o estádio e não ganham muito dinheiro com venda de ingressos ou camisas para mercados pequenos, e não fariam falta para a liga caso sumissem... especialmente se trouxessem em troca um mercado grande e maior atenção da mídia.

Claro, um time em Londres ainda é improvável, na minha opinião. As dificuldades logísticas de um time tão longe e em um fuso tão diferente são enormes, e no final iria exigir um número enorme de ajustes que acabariam mais prejudicando a unidade da NFL do que ajudando. Ainda assim, considerando o enorme interesse de Roger Goodell em atingir esse objetivo, esses jogos em Londres se tornam mais interessantes a cada ano que passa.